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provar que tinha o poder de
fazer, diz procurador da Lava
Jato
Carlos Fernando defende delações, mas diz que há acordos que
são mais benéficos aos réus
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30.jul.2018 às 2h00
EDIÇÃO IMPRESSA
Ana Luiza Albuquerque
A primeira fase ostensiva da Lava Jato foi em
março de 2014. Em agosto do mesmo ano, foi
fechado o primeiro acordo de colaboração, com o
exdiretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A
investigação e as delações sempre andaram lado
a lado?
Um dos pilares da Lava Jato é a colaboração, uma técnica
que nós criamos em 2003, [sendo] a primeira com o
Alberto Youssef no Banestado. É a única forma de você
compreender como uma investigação sai de uma Range
Rover presenteada a um ex-diretor da Petrobras para
chegar na situação atual. Economiza muito do dinheiro
público em relação a investigações complexas.
Como seria a Lava Jato sem as colaborações?
Nós mal teríamos chegado à conclusão de que houve
corrupção na Petrobras. Na primeira vez em que a
Petrobras veio aqui, veio para nos dizer que era
impossível ter corrupção na Petrobras, que todos os
esquemas de controle funcionavam perfeitamente. Mas
vem Paulo Roberto Costa e diz: "Não, existia". Ele explica
tudo. Estaríamos nos batendo hoje, ainda, com uma
discussão se houve ou não corrupção.
Isso torna a operação dependente dos acordos?
É uma técnica moderna que tem que ser usada. Todas as
investigações de crime organizado hoje vão depender da
colaboração. Quando você tem uma organização
criminosa, você tem uma confiança entre os membros.
Eles estão todos ganhando, não tem por que derrubar o
esquema.
O senhor pode citar algumas?
O caso do Delcídio [do Amaral], do Sérgio Machado, por
exemplo. Quando você faz com excesso de rapidez, corre
o risco de fazer colaborações mal feitas. Delcídio, na
minha opinião, quase nem se autoincrimina. A primeira
coisa é o colaborador falar os crimes que cometeu.
Nestes casos o acordo foi mais benéfico para o
colaborador do que para o Estado?
Eu acho que sim. No caso do Sérgio Machado, no final
das contas, o principal sequer foi denunciado. Aquelas
conversas supostamente com membros do Congresso e
ex-parlamentares, que geraram até pedido de prisão no
Supremo, sequer movimentaram uma denúncia. Aquela
gravação era um bom início de negociação, mas não era
um fim em si mesma. A gente tem que tomar muito
cuidado com excesso de vontade de conseguir certos
documentos, provas, gravações.
Há afobação às vezes?
É natural, acho que até o jornalista compreende bem isso.
Você está diante de uma situação de ter aquela
reportagem, aquela denúncia, mas talvez não seja aquela
[ênfase] que poderia ser, se tivesse um pouco mais de
cuidado. O grande problema são colaborações mal feitas,
não ilegais, e que geram uma crítica ao instituto.
O acordo dos irmãos Batista, da JBS, arranhou o
instituto perante a opinião pública?
Acho que sim. É uma confusão, um ataque ao instituto, e
não ao acordo em si. O instituto é bom. Nós, em Curitiba,
não damos imunidade, por princípio. Marcelo Odebrecht
era até uma figura mais importante que Joesley, mas nós
exigimos que ele ficasse um ano preso depois de assinado
o acordo. Ficou três anos no regime fechado. Você precisa
explicar para a população por que você fez o acordo. Vou
dar o exemplo também do acordo do [Antônio] Palocci,
celebrado pela PF depois que o Ministério Público
recusou.
Foi uma queda de braço?
Foi uma queda de braço talvez conosco, mas a porta da
frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A
porta dos fundos é da PF. As pessoas irão à PF se não
tiverem acordo conosco. Não recusamos porque não
gosto da cara do cidadão, mas porque vamos ter
dificuldade para explicar por que fizemos. Acordo não é
favor.
Por que o senhor acha que o Supremo autorizou
a PF a firmar os acordos?
Acho que a interpretação do Supremo deu excessivo
poder ao juiz. A PF faz o acordo: você me entrega e depois
o juiz vai te dar o benefício. Nosso acordo diz assim: você
me entrega isso e vamos oferecer esse benefício. Se o juiz
negar, vamos recorrer. Isso dá mais segurança jurídica.
Tenho a impressão que houve excesso de
empoderamento do Judiciário.
No início do ano a Folha publicou uma
reportagem relatando que a delação da
Odebrecht havia gerado, até então, poucos
resultados práticos.
Depende do ponto de vista. Ela gerou inúmeras
investigações. O problema é o foro privilegiado. O que
estamos vendo nos arquivamentos no Supremo é a
incapacidade de investigar adequadamente no foro
privilegiado. No foro o ministro participa de cada decisão,
vai e vem. Às vezes aqui uma coisa que é feita em uma
tarde lá demora uma semana.
A Procuradoria do Paraná colocou um freio no
firmamento de novos acordos?
Estamos voltando para o básico. Em vez de termos
grandes acordos, estamos optando por pequenos acordos
pontuais, que têm muita utilidade no desdobramento de
investigações. Toda vez que faço um grande acordo
esbarro no foro. É preferível fazer um acordo com
pessoas menores que resolvo aqui no Moro.
Para o senhor, qual foi a delação do fim do
mundo?
Diria que do Paulo Roberto Costa porque dela decorre
todo o restante. [Pedro] Barusco foi importante. O
Alberto Youssef é a colaboração que deu origem à 7ª fase,
das empreiteiras, o momento de virada da Lava Jato. Não
existe acordo do fim do mundo. Ainda mais no mundo
em que os aspectos políticos acabam abafando as
investigações. Palocci é dito que vai ser do fim do mundo.
Não vai ser. Existem colaborações boas, que se justificam,
e as que, infelizmente, não se justificam.
RAIOX