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ARQUTVO

O DEBATE EINSTEIN _ BOHR SOBR"E A MECÂNICA QUÂNTICAT


HARVEY R. BROWN

Universidade Estaduøl de &mPinas

r. TNTRODUçÃO
rr. o QUADRO HISTÖRICO 1905-1927
ü.OS CONGRESSOS SOLVAY DE 1927 E 1930
IV.ELEMENTOS DE REALIDADE VERSUS FENÔMENO QUÂNTTCO (1935)
v. CoNSIDERAçÕES PÔS-193s E CONCLUSÕES

Sinto que a última palavra ainda não foi dita sobre a relação entre
ondas e partfculas. Quando for dita, se¡ão dife¡entes as idéias das
I
pessoas sobre complementaridade. (Di¡ac) .

I. INTRODUçÃO

O objetivo deste artigo é o de fornecer uma introdução histórica e analítica, de


acordo com o espírito da æcção Arquivo desta revista, à leitura do texto clássico
publicado em 1935 por Einstein, Podolsky e Rosen, sobre os fundamentos da
mecánica quântica, e da resposta de Niels Bohr, do mesmo ano.
Encontram-se, nestes célebres trabalhos, os elementos essenciais de duas posições
radicalmente opostas em relação à questão do significado ffsico do formalismo
quântico não-relativfstico. Ambos, Einstein e Bohr, reconheceram no microfenômeno
extraordinário da dualidade onda-partlcula um desafio às formas tradicionais do
racioclnio flsico. O conflito entre os dois sobre eSsa questão talvez represente o debate
do Sculo na ffsica. Seguramente, assume uma posição ao lado do debate læibniz-Clarke,
por exemplo, como marco na histórica de idéias físicas.
Pode-se perguntar hoje em dia, quaæ meio século depois da sua publicação, qual
o interesæ desses textos, além daquele puramente histórico. Uma resposta adequada
teria de incorporar várias considerações. Primeiro, no que vem sendo desenvolvido
nos fundamentos da mecánica quántica (M.a.) desde 1935, existem conseqüências

* Este attigo é uma tentativa de organizar algumas idéias que discutimos em uma conferéncia
dada no segundo semestre de 1980 no Instituto de Flsica da USP, da qual uma versão mais
curta foi apresentada anteriormente no Seminário do Departamento de Filosofîa da UNICAMP.
Gostaríamos de agradecer ao P¡of. H. NussenzwelC (USP) e, em particular, ao Prof.
V. Buonomano (UNICAMP) (que forneceu as referências de vá¡ias publicações relevantes), por
discussões úteis relacionadas com os assuntos tratados aqui, embora quaisquer erros sejam
exclusivamente de nossa responsabilidade. Muitas deficiências no português deste texto
foram corrigidas gr&ç¿ts às leitu¡as de vá¡ios colegas e amigos. Estamos gratos a todos eles.
1 Cit"do por J. Mehra em Salam e Wigner 197 2, p.41.
Cadernos de História e Fílosofio do Ciência 2 (1981), pp' 51-89.
52 Hørvey R. Brown

notáveis de certas intuições de Bohr e Einstein, particuiarmente nos resultarlos formais


de Gleason e Bcll, e na discussÍlo correlata subseqüente. É necesMrio hoje apreciar as
corrtribuições dos dol's teôricos, apesar do abismo entre as suas posições e do fato de
que, atd recentemente, a história convencional tenha sidc mais favorável a lìohr do
que a Einstein. Em segundo lugar, clo ponto de vista dos interessados em questões
epistemológicas e metodológicas nas teorias físicas em geral, os textos servem de
maneira excepcional para indicar os graus de liberdade com os quais poderia atuar
a intuição física enquadrada dentro de uln formalismo tal conto o da M.e. .
Além disso, é nossa crença que, embora a literatura em torno do assunto seja
extensa2, e continue a crescer3, ainda nãr¡ foi escrito o último capítulo sob¡e o debate
Einstein-Bohr. Referimo-nos, ern particular, ao que diz respeito ao papel desempenhado
por Einstein. É altamente defensável a tese de que a "oposição" deste à nova mecânica
era mais coerente e menos volúvel do que comumente se pensa.
Pretendernos, então, neste trabalho, delinear os falores históricos centrais no
deænvolvime,nto das posições de Einstein e Bohr até 1935. salientar e comentar os
argumentos-chaves nos textos citados, e situar esses argutnentos dentro de resultados
mais recentes na área. Em relação a questões ou detalhes releva¡rtes que vão além
do alcance deste trabalho, tentaremos indicar referências adequadas.

II. O QUADRO TTTSTORICO t9O5-1927

ll.a Albert Einstein


iso. A dualidade onda-paÉfcula, que
começamos com Einstein , e há razão para
do estudo da radiação eletromagnética, e que foi estendida à matdria
nasceu
consideravelmente mais tarde, é essencìalmente fruto do seu trabalhoa. Einstein
foi o primeiro físico a reconhecer a natureza dual da radiação e o primeiro a aplicar
signifìcativamente a hipótese de de Broglie cle ondas de matéria. Entretanto, ao morrer
em 1955, ainda buscava um tratamento teórico satisfatório daquela dualidade, que era
para ele o mistério central da flsicas.

2 Para uma análise da literatura alé, l974,veja-se Jammer 19?4.


3
Ver, por exemplo, McCrath 1979 e as refe¡ências lá citadas.
4 Para discussões detalhadas sob¡e Einstein e a dualidade, o leitor poderia consulta¡ M.Klein
1964, 1967, 1970, 19'17; Pais 1979; Hendry 1980. euando Einstein levantou-se para falar
no Quinto Congresso Solvay, em 1927 , perante uma assembléia que inclula os fundadores da

5
otto ste¡n lemb¡¡-¡e de Ein¡tein dizendo "Tonho pensado c€m vezes mais sobre os pre
blemas quânticos do que sobre a teo¡ia da relatividade geral". citado em pais, op.ctt.,pþlo.
O Debate Eìnsten - Bohr sob¡e ø Mecânica Qu&ttica 53

Em 1905, Binstein introduziu nos quanta de luz parcelæ discretas de energia


no campo da radiação (uma hipótese que se desenvolveu com base não na lei da
radiaçlo do corpo negro de 1900 de Planck, mas naquela de Wien de 1896); contudo,
foi apenas em 1909 que se tomou evidente para ele a dualidade fundamental na
natureza da luz. A expressão obtida por Einstein em 1909 para as flutuaçóes de energia
na radiaçilo do corpo negro, baseando-æ na lei de Planck, é a chave p¡ua s€ entender
a sua posição em relação à dualidadeó.
A expressão para a flutuação da energia em torno de seu valor médio é a soma
de dois termos, um dos quais sairia naturalmente do tratamento clássico ondulatório
(sendo esæncialmente um termo relacionado com interferência). O outro seria
esperado æ a radiação consistisse de uma coleção de portículas independentes.
O termo ondulatório domina no limite (de Rayleigh) de baixa frequência do espectro,
enquanto o termo corpuscular domina no limite (de Wien) de alta frequência. Mas o
fato de que os dois estão presentes na expressão levou Einstein a esperar qus
deænvolvimentos teóricos futuros viessem a incorporar uma 'tsffcie de fusão" da
teoria de ondas e da teoria de "emissão" (no sentido da teoria de emissão de
Newton)?. Para uma comparação (ver mais adiante) com a posiçlo de Bohr, as seguintes
passagens dos artigos de Einstein de 1909 têm grande sþificância: "a estrutura
ondulatória e a estrutura quântica... nÍo devem ser consideradas como mutr¡amente
incompatíveis... parece segu.ir-se... qu€ vamos ter de modificar nossas teorias correntes,
nÍo abandoná-las completamente".
Assim, em 1909 e depois, as características de onda e de partícula daradiação não
eram, para Einstein, mutuamente exclusivæ, mas, em princlpio, reconciliáveis dentro
de uma linguagem ffsica integral ainda a ær deænvolvida. Isso sublinha um dos
elementos centrais e permanentes do seu pensamento. Outro elemento crucial e
mais bem conhecido apareceu plenamente logo depois de sua descoberta (entre 1916
e l9l7) das leis estatísticas que regem as transições radiativæ espontáneas e induzidas,

6
Einstein 1909. Ver, neste sentido, Klein 1970, Nussenzweþ 1979, Whittaker 1973,
pp. l0l,102.
7 Como foi notado, tanto por Pais 1979 como pot Hendry 1980, essa conclusão de Einstein,
apesar da aceitação geral da raltdade emplrica da lei de Planck, produziu pouco impacto em
1909. Planck, como no caso da maioria dos ffsicos, não aceitava a hipótese do quantum de
luz. At¡ibuiu o temo "corpuscular", na expresâo cit¡d¿, a um fenômeno de ressonância
na matéria que acompanha a radiaçlo. A evidência emplrica em favor dos quanta de luz
ainda e¡a escæsa, embora rd¡ios flsicos trabalhando com raios-X tivessem, independentemente,
defìnido modelos corpusculares na Á¡ea, Por volta de 1912, Ieans, Ehrenfest e Poincaréjá
tinham mostrado que o eq)ectto discæto da energia de radiação é uma condição necesMria
para a validade da lel de Planck, mas essps res¡ltados nõo eram influentes, Como Hendry
op.cít, nola, a maio¡la dos ffslcos da época recusåya-se a abandonar a teoria clCssica da luz,
porque nlfo existia nenhuma altemativ¿ teórba coe¡ente, (Isso é consistente com a obserração
de Lakatos de que um '?¡ogruîs dc pequisa cientlfica" näo lica falsiflcado, no sentido de
rejeitado, até que zurja um programa rlval). Volta¡emos a este ponto quando discutimos as
idéias de Bohr.
54 Haney R. Brown

na interação entre matéria e radiação. No caso da emissão (espontânea ou induzida),


a radiação emitida por cada molécula é direcionada, embora não se possa prever a
direção na teoria. A presença de um elemento fundamental de acaso nos microprocessos
nÍÍo era, é claro, uma novidade. Transformações radiativas tinham desafìado uma
análise causal desde o começo do Sculo. O próprio Einstein notou gue a sua lei
estatfstica de emissão espontlinea é idêntica à lei de Rutherford de decaimento
radiativo. NÍio obstante, Einstein foi, talvez, o primeiro teórico a reconhecer, mestno
relutando, as implicações profundas da irideterminação na teoria quântica. Maís tarde,
em urna carta enviada a Böhr em 1920, escreveu: "Serií que a absorção e emissão
quântica da luz podem ser compreendidas'no sentido da exigência (requirement)
causal completa, ou será que permanece um resfduo estatístico? Devo admitir que
me falta a coragem de uma convicção. Mas eu ficaria muito infeliz renunciando à
6
causalidade completa" .
Para Einstein, como para Planck, I-arcntz e laue, a probabilidade fìgura em uma
teoria ffsica satisfatória somente como um termo redutível, no sentido de refletir
a ignorância contingente das condições iniciais, como no caso da mecânica estatfstica
cldssicae. Assim, até o começo dos anos vinte, Einstein tinha explicitado a
sua metaffsica.
Antes de dar atenção a Bohr, talvez valha a pena sublinhar em que medida Einstein
se envolveu e seguiu os deænvolvimentos da teoria quântica antes que a disputa
preliminar (phony twr) entre ele e Bohr se tornasse frontal en l%Ðro. Já mencionamos
sua hipóteæ do quantum de luz de 1905 (o tratamento einsteiniano do efeito
fotoelétrico foi fìnalmente confirmado nas experiências de Millikan entre 1914 e 1915,
pafa a surpresa e consternação do próprio Millikan) e as leis de transição radiativa
de 1916-1917. Pode-æ citar também, como parte do legado de Einstein para a teoria
quántica, a explicação em 1907 das notórias anomalias do calor especffico na ffsica
clássica, a derivaçÍio elegante da lei da radiação de Planck, em 1917, com base na
teoria de transições (derivação essa que tanto impressionou Bohr) a estatfstica
Bose-Einstein de 1924-1925, e o primeiro modelo teórico, de 1925, de um gás
quântico de comportamento consistente com a terceira lei da termodinâmica de
Nemst. I-¿nczosll faz referência ainda a uma sistematização de Einstein, datada
de 1917, das regras de quantização Wilson-Sommerfeld. (Ianczos nota que, se

I Einstein 1920.
e É bem conhecido que Einstein era um mestre da mecânica estatfstica cldssica, tendo. indepen-
dentemente, derivado um número de resuitados fundamentais de Gil¡bs antes de 1905. Além
do mais, o racioclnio da mecânica estatfstica foi a base das descobe¡tas de Einstein em relação
ao fóton (ver Klein 1967, Pais 1979, p.888). Um artþo recente de Byme (Byrne 1980) trat¿
da ligaçífo entre esses primeiros t¡abalhos estatfsticos de Einstein e seu princlpio causal,
to Em Pais (op.cit.), encontra-se um excelente ¡es¡mo das contribuições de Einstein para a
teoria quântica.
ll Lanczoslg74
O Debate Einsten - Boh¡ sobre ø Mecllnica Qutlntico 55

Einstein tivesse conhecido a teoria óptica de Hamilton e a analogia óptica para os


problemas mecÍinicos, ele poderia, talvez, ter previsto naquele ano a nec€ssidade de
introduzir ondas de matéria.)
Em 1925, Einstein foi, como notamos acima, o primeiro a utilizar efetivamente as

ondas de fase.,de'de Brogliel? Signifïcativarnente, forneceu um argumento independente


em favor da existéncia das caracterfsticas ondulatórias da matéria. Einstein mostrou
que a expfessão para flutuações de energia em torno do equillbrio térmico_ do gás
na sr¡a forma, à
egro em l9O9r3.
q¡lar místerioso.
No caso do gás de moléculas de 1925,havia um termo corpuscular e um termo ondula-
tório misterioso! Considerando+e as conclusões de Ein$ein em 1909, não é então de
estranhar que Einstein levasæ a sério a dualidade com respeito à matéria,em 1925.
Como na analogia do campo da radiação, Einstein formaria a opinião, em 1925,
de que uma nova teoria quântica satisfatória da matéria teria de fornecer uma
descrição causal espaço-temporal, dentro da qual as características corpusculares e
ondulatórias aparecessem naturalmente, urna ao lado da outra, de maneira harmoniosa.
Assim, æguiu com interesse redobrado os des€nvolvimentos teóricos de Heisenberg e
Schrtidingerra, embora com dúvidas cfescentes por não terem fomecido a base da
t2 A ímportância do apoio de Einstein pan a diwlgação e aceitação (especlalmente pot parte
de Sch¡iidinger) da tese de deBroglie podc ser julgada a partir do estudo de Raman e Forman
Teria Einstein
de de Broglie?
est60 compila-
da por Pais com informações relevantes encontradas em lamme¡ 1966,9.248. Segu¡anrènte,
precisamos mals pesquisa hlstórica para obtermos a resposta definitiva à pergrrnta.
13 A expressÍfo de 1909 para a radiaçÍo ¡eduz-se à express6o de 1925 para o gás se a freqüência
na primeira é zubstitulda pela energia (cindtica), dividida pelo consante de Planck.
t4 Einstein escreveu em 1926 que "os conceitos de Helnænberg-Bo¡n têm deixado todos nós
atônitos (breothless), e têm produzido uma impressÍo profunda em toda a gente teoricamente
orientada". (Einstein 1926 a).
Inicialmente, contudo, ele pensava que a mecânica de matrizes n¿Io era reconciliável com a
abordagem tte Schröttinger, a qual preferiu. Em outro tugar, escreveu: "Schrödinger produziu
um par de artigosmaravilhosos sobre as regrasquânticas". (Einstein 1926b).
Cabe lembra¡ que em uma tentativa, em abril de 1926,de fo¡necer a equaçäo de onda correta
para as ondas de deBroglie, Einstein derivou independentemente a equaçäo (independente
de tempo) de Schrödinger!
Um pouco anteriotmente, Planck tinha delineado para Elnstein a vergo da equaçfo desenvol-
vida por Schrödinger. Logo depois dessa discussflo com Planck, Einstein, apaæntemente
esqueceu alguns detalhes da apresentação de Planck e pensou, etradamente, que Schrödinger
tinha de¡ivado uma equação não ¡ad¡fatóri¿ Aseim, em abril, ercroveu pora Sduädlngor uma
ca¡1a contendo uma rederivaç{Io da equação certa, A resposta de Schrädinger (que chegou
quando Einsteinjdtinha reconhecido seu er¡o) era exultante, Escæveu que "a confiançaem
uma formulação sempre aumenta se alguém - e especialmente se vocé - constrói a mesrna
coila novsÍient€ apartir ile algunsrequisitorfrrnd¡ment¡i¡".(Sch¡ijilingrr 1926).Ve¡Fine 19?6'
56 Harvey R. Brown

nova ordem definida por ele

ll.b. Niels Bohr

Agora, concentraremos a nossa atenção sobre Niels Bolrr, que, por volta do fim
dos anos vinte, era o autor e porta-voz da nova ortodoxia na fìlosofìa natural associada
com a M.Q..
A intensidade da intuição de Bohr. era motivo de espanto e respeito p¡lra a
comunidade físicar s . Seu modelo de 1913 para o átomo de hidrogênio, e a explicação
das linhas espectrais, eram reconhecidos como uma mìstura miraculosa de intuição e
ousadiar6. Enquanto Einstein tinha quarrtizado a radiação, Bohr tinha introduzido a
quantização dentro da estrutura do dtomo de matéria. Mas, como a maioria dos ffsicos,
até os meados dos anos vinte Bohr rejeitava a hipóteæ do quanturn de luz.
O pensamento convencional parece sugerir que a maior mudança dentro do debate
Einstein-Bohr foi por parte de Einstein, por volta de 1930 (uma posição que
discutimos mais adiante). Seja como for, pode-se constatar que a reconsideração de
Bohr, nos anos vinte, no que diz respeito ao stutus da dualidade onda-partlcula,
representa uma ruptura de grandes conseqüências no debate.
A oposição inicial de Bohr ao quantum da luz baseava-se em três considerações
fundunentais. Em prirneiro lugar, havia o fato óbvio de que a teoria clássica da
radiação explica, de maneira brilhante, efeitos ópticos corriqueiros, tais como a
interferéncia. Como anatureza discreta da radiação poderia ser reconciliada com tais
efeitos? Ern segundo lugar, e de maior interesæ do ponto de vista conceitual, a idéia
de um qrtanturn de luz cuja energia é associada com uma freqüência característica
parecia, para Bohr, incongruente, até auto-contraditória, A referência a uma
freqü6ncia sugere a presença de um fenômeno ondulatório. como é possfvel que o
quantum seja partfcula e onda ao mesmo ternpo? 1? Finalmente, Bohr pensava que os
quanta de laz não podiam fornecer a base de urna "generalização racional" da
eletrodinâmica clássica. Portanto, eram contra o seu princípio heurfstico de
correspondéncia, que eta,paÍa ele, a única chave segura para a nova ffsicals.
Não obstante, a evidência empírica em favor do quantum dehtz, fornecida pelos
efeitos de fotoeletricidade e o de compton, era, é claro, patente para todo mundo.

l5 Isso não quer dizer, evidentemente, gue suas intuições er¿rm sempte sujeitas a aceitação univer-
sal. Boh¡ admitiu que sentia frequentemente solidâo como cientista, pot caus:r da falta de
compreens¿lo nas su¿s tentativas de descnvolver sistematicamente a teoria quântica (Rosenfeld
e Rädinger 196Q), Em 1925, Pauli disse que a teoria de Bohr, K¡ame¡s e Slate¡ (ver abaixo)
teria sido rrm impedimento para L ffsica, se fosse (contrafatualmente) confirmada empirica-
mente, especlalmente para os ffsicos cujo senso da ¡ealidade nâo era tão forte quanto o de
Bohr ! Ve¡ M.Klein t91O,p .36 .
t6
Ver, por exemplo, Einstein t949a.
t7
ver Bohr 1949, e o. Klein 1968, p. 77. o termo "fóton" foi somente int¡oduzido em 1926.
18
Para detalhes, ver M. Klein op. clt,,pp.24-25.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mectlnícø Qwânticø 57

Mas tal evidência tinha a ver com a interação radiação'matéria, e assim Bohr tentou
desesperadamente mostrar como o comportamento não'Clássico associado com a
interação æ baseava nos aspectos nlfo-clássicos da matéria, deixando a teoria clássica
da radiação essencialmente intacta. O preço a ser pago, como é bem sabido, era o
abandono do princlpio de conservagão de energia e quantidade de movimento
(e, em segundo plano, a introdução de um curioso campo virtual de radiação). Esse
passoradicalforneceuabasedateoriade lg24deBohr,KramerseSlaterre.Defato,
vários físicos, antes de 1924, tinham investigado a possibilidade de abandonar, nesse
sentido, o princfpio de conservação2o. Um deles, Einstein, havia rejeitado esse
caminho em 1912, e apres€ntou uma lista devastadora de objeções à teoria de Bohr
et al2t, antes mesmo da sua refutação empírica em 1925, pelas experiências de
Compton e Simon, e Bothe e Geiger'
Bohr foi, então, forçado a aceitar e a dar sentido ao dualismo aparentemente
impossfvel presente nos fenômenos de radiação. O mesmo aconteceu em relação à
matéria, despois que Schödinger, a partir do trabalho de de Brogfie'e Einstein,
desenvolveu a mecânica de ondas.
A solução do paradoxo onda-partícula era uma componente essencial dentro do
programa bohriano mais amplo de fornecer uma descrição "inequívoca" de fenômenos
atômicos22. Enquanto Heisenberg embarcava na busca de uma interpretação ffsica
satisfatória de certos elementos de signifìcado obscuro do novo formalismo, Bohr
tendia a considerar o formalismo, em si, Como um mero algoritmo. O que a1¡zla z
sua atenção era a possibilidade de especifìcar com precisão a lógica dos limites da
descrição física convencional para processos atômicos, de um modo consistente com
o seu princípio de que a física cldssica fornece å linguagem necessária para a descrição
dos resultados de qualquer ptocesso de medida23. Contudo, enfie 1926 e 1930,eraa
reconciliação de onda e partícula que dominava s€u pensamento e motivava as versões
iniciais da sua celebre doutrina de "complementaridade". Neste sentido, afirmar a
complementaridade era fazet da necessidade, virtude'
A nova doutrina sofreu modifìcações significativæ entre a conferência de Como de
Bohr em 1927, que representa efetivamente a sua primeira divulgação pública, e sua
resposta eni 1935 ao desafìo de Einstein, Podolsky e Rosen2a. Versões iniciais, em
particular, incorporaram alusões freqüentes, e às vezes obscuras, a dificuldades
inerentes à distinção sujeito-objeto, e às suas implicações em certos estudos psicológicos.
Bm determinados lugares, a mera introdução do quantum de ação parecia, para Bohr,
19 Para detalhes históricos, ver M. Klein op. cìt.,Pzisop.cit..
n Ver Pais op. clf., p. 891'
2t Ve¡ M Klein op. clt.,p' 32'33.
z¿ Para mais detalhes, ver o estudo do pensamento de Boh¡ em Sheibe 1973, especialmente
pp. 16-18.
I ïoltaremos mais tarde a analisa¡ em maiores detalhes esses princípios bohrianos.
a para tratamentos abrangentes do desenvolvimento de complementaridade, ver por exemplo,
Scheibe 1973, Jamme¡ 1974,Petersen 1968, Hooke¡ 1972'
58 Harvey R. Brown

eliminar qualquer estrutura causal para microprocessos. Essa tendência, de chegar a


conclusões dramáticas a partir de raciocínios e princlpios bætante gerais e vagos,
cedeu lugar, nos anos trinta, a uma linguagem mais coerente e rigorosa, como veremos
mais adiante. E claro, contudo, que certos princípios bdsicos do pensamento de Bohr
permaneciam inalterados.
o ponto essencial para Bohr, depois de 1925-1926, era o de que as descrições
ondulatória e corpuscular, embora representassem dois æpectos mutuamente
exclusivos da realidade, eram, ambas, neóesMrias pafa um tratamento completo dos
fenômenos. Neste sentido, elas são antagônicas, mas complementafes. A análise simples
nto com as relações Einsteinde Broglie, era
onto2s .
troduzido pacotes de extensão finita, com a
de grupo é rgual à velocidade da partícula
o campo. Bohr salientou que qualquer pacote de ondas necessariamente
associada com
introduz uma certa indeterminação nas próprias definições da freqüência e do
comprimento da onda. Portanto, no casc do pacote de de Broglie, existe uma certa
indeierminação nas definições da energia e do momento26, respectivarnente' A medida
quantitativa da incompatibilidade mútua das definições de variáveis tais como Posição
e momento é dada pela relação-padrão de indeterminação de Heisenberg. Para o grupo
de ondas de de Broglie, isso segue diretamente da relação clássica para o produto dos
desvios da posição e do número de onda.
Note-se que, nessa interpretação, a indeterminação em uma variável não é causada
por algum tipo de perturbação mecânica incontrolável, sofrida pelo sistema devido à
medida de uma variável complementar (como argumentaria Heisenberg2T). As
indeterminações quânticas demarcam os limites da definibilidade das variáveis clássicas,
para um dado estado quiîntico do sistema. Ora, a escolha do tipo de medida a ser feito
determina quais propriedades (compatfveis entre si) recebem defìnição, e quais
propriedades (complementares às
primeiras) tomam'se corresPondentemente
mal-definidas. (O papel preciso do ato de medida e a questão da "totalidade do
fenômeno quántico" na filosofia de Bohr, contudo, foram plenamente clarifìcados
apenas como resultado do debate específico com Einstein em 1935.) Além do mais,
procedimentos de medida prra determinar propriedades complementares são
incOmpatíveis operacionalmente, como Heiænberg mostçou' assegurando assim a
consistência da solução bohriana do paradoxo onda-partícula'
2s A confer€ncia de Como,Bohr 1934; ver também Jammer 1974,pp.90-93.
x Neste t¡abalho, utilizamos o termo "momento" para denotar "quantidade de movimento",
seguindo assim uma convençâo adotada emKltlalet.al. 1970, p'169'
n Talvez a ilust¡ação mais forte da divergência entre Heisenberg e Bohr, neste sentido, seja
exibida pela discordância entre eles sobre o sþnificado do microscopio de raios-7 de
Heisenberg. Para detalhes, ver Jamme¡ 1974. (Uma análise da teoria de perturbaçäo de
Heisenberg encontra-se em B¡own e Redhe¿d 1981). Como veremos, a posição de Bohr não
era sempre consistente neste sentido.
O Debøte Eínsten - Bohr sobre a Mecônica Quôntica 59

Bohr tinha a tendência de considerar as quatro relações de indeterminação de


Heisenberg como uma expressão formal para a natureza complementar da descrição
espaço-temporal e das exigências (the claims) da causalidade. Esse tipo de linguagem
parece ter surgido da luta teórica de Bohr com a natureza dzluz; as conclusões dessa
luta foram então aplicadas ao andlogo material. BOhr mantinha, como antes, que
a radiação livre é susceptível de uma descriçeo (ondulatória) bem-definida em
espaço-tempo, como é fornecida pela teoria clissica do eletromagretismo. Contudo,
no tratamento da interação radiação-matéria em telmos da troca de energia e
momento troca essa que obedece ao princípio de conservação (as exigências de
causalidade)
- tem-se que introduzir a natufeza corpuscular einsteiniana da radiação.
-
Assim, no sentido de que os aq)ectos de onda e partícula na radiaçÍo são elementos
complementares de uma realidade só, as variáveis espaço-temporais e as variáveis
de momento+nergia são elementos complementares no formalismo2E.
Ora, é uma questão discutfvel se as relações generalizadas de indeterminação para
pares quaisquer de obærváveis incompatfveis na M.Q. de fato apóiam fìelmente a
essênciä da teæ de complementaridade2e. Essa questão é de importância considerável
na æcção seguinte deste artigo.
Notamos, para terminar, que Oskar Klein3o lembra do entusiasmo de Bohr ao
ir a Bruxelas , em 1927, para participar do Quinto Congresso Solvay, com a perspectiva
de comunicar a Einstein os elementos de sua nova filosofia quântica. Bohr estava
convencido de que Einstein receberia as suas idéias com simpatia, especialmente na
medida em que, na sua teoria, os limites de definibilidade dos termos flsicos coincidem
com os limites operacionais correspondentes supostamente estabelecidos por Heisenberg.
(Não reconheceria Einstein ecos do seu råciocínio 'bperacionalista positivista" no
desenvolvimento da teoria da relatividade restrita?) Presumivelmente, Bohr acreditava
que a discordância entre os dois estava chegando ao final. Na verdade, a batalha estava
apenas começando.

uI.os CoNGRESSOS SOLVAY DE 1927 E 1930

O Quinto Congresso Solvay de 1927 não representa nem o primeiro encontro entre
Einstein e Bohr, nem mesmo a primeira discussão substancial entre os dois sobre os

a Cook 19?9 incottetamente associa as varidveis (x, f) às caracterfsticas corpusculares e as variá-


E) às ondulatô¡ias, no seu resumo da complementa¡idade de Boh¡. Para uma análise
veis (p,
melhor desse aspecto de pensâmento de Bohr, ver Scheibe op.cit. ,pp ,3233 .
8) Neste sentido, ver as reações iniciais de Wigner, von Neumann e outtos à conferência de Como
de Bohr, como ¡eco¡dadas em Jamme¡ t974,p.94, Pa¡a nós não é claro, inclusive' que a
interpretação de Boh¡ das relações de indeterminação que acabamos de delinear seja facil-
mente reconciliável com a outra interpretaçalo bohriana, discutida acima, bæeada na análise
do grupo de deBroglie.
æ o. Klein r968.
60 Haney R. Brown

I
fundamentos da teoria quântica3 . Porém, sendo dedicado ao tema "Eletrons e F'ótons".
forneceu o prirneiro fórum para os grandes nomes da ffsica debaierem juntos o status
da nova mecânica. Além disso, testemunhou o começo do debate aberto entre a
ortodoxia crescente, liderada por Bohr, e a oposição bastante inesperada da parte
de Einstein.
Antes de 1927, Einstein devotou energia considerável a uma tentativa de reconciliar
as condições quánticas com a descrição causal da teoria dos campos, ou seja, com a
utilização de equações diferenciais para as equações de movimento. A idéia era de
"sobredeterminação" das equações, ou de deixar o núr,nero das equações exceder o
número de variáveis do campot 2 . A tentativa falhou, mas testemunha o deæjo de
Einstein de basear a teoria quântica em uma linguagem teórica causal do campo.
Em abril de 7927 , Einstein recebeu uma carta de Bohr contendo uma copia da análise
de Heisenberg das relações de indeterminação, na qual este tinha introduzido a
a primeira das suas famosas experiências gedanken, o microscópio de raios-7. Bohr
enfatizou, na sua nota, o ponto já mencionado de que os limites operacionais impostos
pelas relações asseguram a consciência da dualidade, pois "os aspectos diferentes do
problema nunca s€ manifestam sirnultaneamente".
Ora, é um dos dois temas essenciais da "oposição" de Einstein que esses "aspectos
diferentes do problema", ou seja, as considerações espaço-temporais e caus¿ris, não
devenr ær encarados na M.Q. corno necessariamente incompatíveis entre si, segundo
alegava Bohr33. Iæmbremos o raciocínio de Einstein delineado na secção II. Se Bohr
tivesæ razão, o programa da teoria causal do campo æria fútil. A chamada tentativa
de Einstein de "desacreditar" a nova mecânica a partir de 1927 era primordialmente
motivada por essa corisideração central.
Depois da carta de Bohr, Einstein entrou em correspondência direta comHeisenberg.
Parece que tentava questionar a interpretação de Heisenberg das relações formais de
incerteza como limites na mensurabilidade simultfurea de aspecots complemehtarês
para sistemas individuais, bem como questionar a necessidade de não-casualidade
na descrição de microeventos3{. Nessa altura, Einstein não estava colocando em
dhvida, pelo menos explicitamente, a própria consistência do formalismo Heiænberg.
Schrödinger, junto com a, regta probabillstica de Born, A preocupação com a incom-
pletude do formalismo parece ter sido o fator dominante no pensamento de Einstein
na época3s.

3l Einstein e Bohr se encontra¡am pela primein vez em Be¡lim, em 1920, uma época na qual
Einstein procurava uma teo¡ia unificatla da radiaçlto, combínando as características ondula-
tórias e corpusculares, e Bohr ainda se opunha ao quantum de luz.Apesar de suas diferenças,
os dois se impressionaram mutuamente, Encontraram+e noy¿mente em Leiden em 1925,
quando Bohr já havia se convertido à hipótese do quantum da luz. Pouco se sabe da natureza
detalhada das zuas discussões naquela ¡eunião.
t2 Para alguns detalhes e referências, ver Jammer, op. cit., p,
123,
30
Outro tema que discutiremo.s em breve, trata de implicações ffsicas inaceitáVeis dentro da
interpretação de Copenhagen,
A YetPais,op.cít, p.901.
O Debate Einstm - Bohr sobre a Meúnica Qu¡lntico 6l

no pensamento de Einstein na época3s


É notável que os únicos comentários de Einstein nas secções oftciois do Congresm
Solvay em outubro daquele ano tenham sido relacionados justamente com essa
preocupação. Ele observou, através de um exemplo extremamente simpless, qr¡e uma
perturbação ondulatória associada a uma partícula na mecânica de ondas parece levar
a um efeito do tipo ação-à-distância durante o procesvl de localização da partícula,
se considerafmos que onda representa (como constatariam Bohr e Heisenberg)
uma descrição completa da partícula individual. Por outro lado, o problema desaparece
se a descrição descreve meramente as probabilidades (segundo a regla de Born) em
relação a um "ensemble" de pafículas independentes com posições bem definidas em
cada instante. Nessa segunda interpretação, a mecänica de ondas representa uma
descrição incompleta ou "estatística"31 de um sistema só. deixando aberta a questfo
da possibilidade de um mecanismo causal que govefne o comportamento do sistema
individual. Era este ponto de vista que Einstein adotava constantemente a partir de
792':.. Jammer menciona ligeiramente3E que Einstein também proclamou, na mesrna
ocasião, a sua crença de que o tratamento no espaço multi-dimensional de configurações,
necessário na mecânica de ondas de Schrödinger para coleções de sistemas, leva a
interações nãolocais entre os sitemas3e - (Essa posição foi logo depois adotada também
por Ehrenfest.) O ponto importante aqui é que os comentários de Einstein constituem
uma critica à escola de Copenhagen, e que não questionam a consistência do
formalismo da M.Q.ao (e a crítica não diz respeito diretamente às relações de
indeterminação). Além do mais, os pontos levantados por Einstein claramente já
ttazem em germe seus argumentos mais detalhados e mais constrangedores de 1935.
Ora, foi durante as discussões fora das secç'ões oficiais do Simpósio que Einstein
introduziu aS famosas experiências de pensamento4r. Paia nossos fins, os pontos

3s Em maio de 1927 ,Einstein submeteu à Academia Prussiana de ßerlim unr trabalho cujo título
era "Serd que a mecánica de ondas de Schröringer dete¡mina completamente o movimento
de um sistema, ou apenas em um sentido estatístico?" lngo depois pedirl para retirar o
trabalho.
36 Omitimos os detalhes. Para ttatamentos mais conrpletos, ver Ballentine 1972, e Jamrner,
op.cit.,pp.115-l 17.
31 No sentido encontrado em Ballentine 1970.
38 J anme¡, íhtd.
39 Seria descjdvel ter um relato desse argumento de l']instein mais cornpleto do que o oferpcido
por Jammer.
rrc Tem-se notado corretamente que é implícita na crftica de Einstein a questão do colapso da
t'unçf,o da onda em uma medida na M.Q. Isto é uma inconsistência no formalismo,nnsess:t
questflo não pode ser atribulda exclusivanente a lìinstein. Além do mais, nãq representa
um aspecto fundamental de sua crltica de 192'l e 1935, como veremos.
41 Segundo Otto Stern (ver Pais, op.cit., p.901) Irinstein vinha ao café da manhã no hotel
(onde ficavam os participantes do Simpósio) com suas objeções, e no jantar Bohr comunica
sua lesposta. O pobre Bohr nÍo deve ter'prestado muita atenção às secções oficiais durante
o dia.
62 Hamey R. Brown

essenciais do debate zubseqüente entre Einstein e BÖ'hr em 1927 estão contidos no


exemplo da experiência das duas fendas. Sendo assim, omitirnos aqui o exemplo de
difração de uma só fenda.

A experiênciø das ùtas fendasa2

(i) Primeiro.trataremos do argumento de Einstein. (Jm ,'ensemble" de partlculas


(fótons ou elétrons) encontra-æ com um diafragma D1 de uma única fenda.F¡ (ver
diagrama), e as partículas se deslocam para um segundo diafragmaD2 com duas fendas

F;

Fr

F;,

F;, F;'.Finalmente, as partfculas colidem oom uma placa detectora P. Se D 1,D2 e p


são fixos rigidamente, espera-se que franjas caracterfsticas de interferência apareçam
gradativamente sobre P, mostrando
as caracterfsticas ondulatórias do sistema em
questão. Segundo a
c.omplementaridade, nesæ arranjo experimental perdemos
necessariamente os aspectos corpusculares. Em particular, nõo æ pode saber através
de qual fenda, F) ou F)', uma partlcula qualquer chegaaP, poiJtal conhecimento
levaria â introdução da idéia de uma trajetória defïnida para aquela partfcula. Além
disso,.em uma experiência na qual em cada rnomento uma e uma so das fendas
F;, F;' está aberta, sabe-se que as franjas de interferêncra não são obtidas emp.
A conclusão óbvia disso é que, se as partlculas possulsæm trajetórias defìnidas, que
atravessassem uma sé fenda, então o com¡lortamento da partlcula, ao atravessar a
fenda em questão, pareceria depender do fato de a outra fenda estar aberta ou
fechada! Bohr chamaria essa conclusão "paradoxal", e a evitou por meio da
leæ de cornplementaridade
Ora, Einstein não parece ter-æ preocupado muito com esse 'þaradoxo" (que,
42 Nossa desculpa por levantar, de manei¡a detalhada, esse episódio tão bem conhecido e citado,
é que a nossa análise diverge do t¡atamento ortodoxo em alguns pontos e ler¡a em coliside¡a-
ção aþns resultados relevant€s obtidos bem ¡ecentemenie, Restringi¡emos os detalhes
técnicos ao mfnimo.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mecônica Quântica 63

note-se bem, não se trata de uma inconsistência lógica. Por estranhas que pareçam tais
implicações ffsicas da teoria, Einstein tinha a intenção de most¡ar a possibilidade,
ou melhor, a desejabilidade, de tal abordagem. Assim, sugeriu que D2 fosse
desconectado do suporte rígido, para permitir-lhe movimento (minúsculo) translacional
de recuo no eixovertical,como resultado da colisão da partfcula com as fendas. Para as
partículas que são registrados por P em pontos não remotos do eixo de simetria do
arranjo, um rechaço para cima por parte de D2 indica que a partfcula veio de Fl ,etc.
Podemos, então, demonstrar operacionalmente aspectos ondulatórios e corpusculares!
(De vez em quando, escreve-s€ que foi intenção de Einstein refutar a relação de
indeterminação de posiçfÍo e nromentoa3 . Pode-æ calcular com precisão arbitrária
a componente vertical do momento da partfcula eml)2, a partir do padrão de difração
em P. Também, a largura das fendas defìne a posição da partlcula em D2. Não obstante,
isso repreænta um cdlculo para uma só parlfcula, que se refere ao passado. Por isso,
não refuta as relações formais de indeterminação interpretadas como limitações sobre
o processo de preparação de estado para "ensembles" de sistemasaa . Além disso, essa
versão do argumento de Einsteinas esconde parcialmente a essência do seu racioclnio,
que era o de mostrar a natureza insatisfatória da complementaridade.)
(ii) A resposta consagrada de Bolrra6 pode ser delineada rapidamente. Bohr
considera D2, apesar do seu tamanho macroscópico, como um objeto quântico, sujeito
também às relações de indeterminação. (Essa estratégia é algo controvertida na
filosofia de Buhr, como veremos mais adiante.) Ora, para que a inforrrìação com
respeito ao deslocamento de D2 seja relevante no sentido mencionado, existe um
limite superior, facilmente calculável , para a indeterminação no momento inicial
(no sentido vertical) de D2 . Por conæguinte, existe um certo mínimo de indeterminação
na posição inicial (neste sentido) de Dz, e portanto deFlefj'.So¡rmostrouque
tal indeterminação na posição é sufìciente para obliterar as franjas de interferência
em P. Assim, as relações de indeterminação fazem parte integral da "conspiração
quântica" de reforçar a complementaridade.
Na verdade, não importa, nem para o argumento de Einstein, nem para a resposta

¿l¡l
Ver, por exemplo, Jamm er, op.clt.,g.l29.
4 Ver Ballentine, op.cft.,Park e Margenau 1968-
45
Note-se que essa versão nâo existe no céleb¡e relato do próprio Bohr sob¡e o debate. (Bohr
r949).
4 Boh¡. låid.
64 Hartey R. Brown

de Bohr, que seja Dt,Dz, ou mesmoP, que sofra o moYimento de rechaçoa?. Além
disso, como é sabido, as conclusões de Bohr são co¡roboradas èm outros casos de
tentativas de estabelecer operacionalmente as trajetórias das partfculasaE.
Não se pode negar que a defesa de Bohr ao ataque de Einstein é brilhante na sua
simplicidade. Mas ærá que os argumentos de Böhr (e suas corroborações em outros
casos) demonstram conclusivamente a impossibilidade de trajetórias coexistirem
com franjas? Voltaremos a essa pergunta ¡nais tarde.
(iii) Bohr escreveu no seu relato que ". . . é somente a circunstância de que se nos
apresenta a escolha, ou de æguir a caminho de uma partícula, oU de observar efeitos
de interferência, que nos permite escapar da necessidade paradoxal [descrita acima]".
Atualmente, poderíamos dizer que o ponto realmente infeliz do argumento de
Einstein foi a escolha do tipo de experiência, pois deixou BOhr chamar atenção para
a exclusividade total dos aspectos complementares, nas dadas crrcunstâncias. Será
que não existem outros arranjos experìmentais possfveis que, embora consistente
com a M.Q., manifestem aspectos corpusculares e ondulatórios? A resposta é um
'sim' com restrições. A experiência de Einstein é apenas o caso limite, dentro de
uma classe de experiências de interfer€ncia, que, em um sentido a ær explicado,
permitem que os dois aspectos complementares se manifestem. Vamos imaginar,
por exemplo, que uma das fendasF j ,Fi'seia consideravelmente maior do que a outra,
ou que o mecanismo para determinar a trajetória não seja cem por cento efìciente.
Em tais situações, poderlamos dizer apenas que uma dada partfcula, se fosse
definitivamente localizada antes de chegar à placa P, tetia uma probabilidade x de
estar em uma das duas trajetórias definidas por F), F)'. Ora, em uma análise
rigorosa e importante'da experiência das duas fendas, Wootters e Zurek mostrat'am
recentementeot qu*, para um arranjo particular, o valor de x de 0,99 é consistente
com propriedades ondulatórias fortes em P. Ou seja, podemosTer 99% de esperança
de que uma ¡nedida (hipotética) acharia qualquer partícula do "ensemble" passando,
digamos, pela fenda Fi, mas ainda assim podemos obter para o "ensemble" efeitos
de interferência! (É claro que, se Bohr temrazão, para obter as franjas a medida de
localização não pode ser executada, mas este não é o ponto.)
{, Nestesentido,ve¡Marsh 1975.O¡a,ofatodequeess¡rsexperiênciassäo,naverdade,depensa-
mento (Gedonkenexperimente), é enfatnado por um cllculo l'eito por Whecler, em uma
andlise da experiência das duas fendas, à qual nos referiremos novamente mais adiante
(lVheele¡ 1978). Wheeler conside¡ou o caso de fotons, onde é a placa P que estd livre para se
desloca¡. Ele calculou que agitações térmicas aleatórias em P ¡ão maio¡es, por um fator de 1012,
do que as flutuações produzidas pelo impacto do foton,para a menorplaca capaz de registrar
interferência! Uma versão ergenhosa recente da experiéncia de Einstein, que é em princfpio
ptrticável,encontra-se em Woottors e Zurek 1979,
ß Ver Feynman 1965 e Bohm 195 1. No caso de fotons, talvez a evidência mais constrangedora
da conspiraçiÍo bohriana encontra-se nas experiências dnmáticas de Pfleegor e Ma¡rdel (L96'l),
de interferência de duas fontes independentes da luz, e de Wykes com feixes modulados.
Para um bom resumo desses resultados, ver Sillitto 1971172.
49 Wootters e Zurek,op.cit..
O Debate Einsten - Bohr sobre a Meclìnicø Quôntica 65

Este resultado certamente exige que reavaliemos o domfnio de validade da


complementaridade, O fato é que caracterfsticas complementares são capazes de æ
manifesta¡ em experiéncias praticáveiss, embora no sentido lalvezfraco de qræ ainda
se pode evitar o "paradoxo" de Bohr. (Os resultados de Wootters e Zurek não implicam
que, necessariamente, as partículas atravessem uma só fenda.) A "exclusividade'i de
aspectos complementares da realidade na filosofia de Bohr é algo exageradasl .
(iv) Em 1978, Wheeler publicou uma análise da experiência das duas fendas de
uma perspectiva intrigante. Será que de algurn modo podemos decidir medir aspectos
ondulatórios (franjas) ou corpusculares (não-franjas\ depois que as partfculas pa$¡am
pelo diafragma D2 (uma experiência de "escolha demorada")?s2 \{heeler mostrou
que, em princftio, a resposta é sim, tanto no caso das duas fendas como em outras
experiências ideais familiares na M.Q. Ora, não é nada óbvio que esse resultado crie
difìculdades do ponto de vista de Einstein, além daquelas já existentes. Mas as
repercussões no caso de Bohr merecem alguns comentários.
Já vimos como Bohr evitou o "paradoxo" para partículas com trajetórias bem
defìnidas. Contudo, se a sua solução implica que a partícula necessariamente passa
pelas duas fendas (no caso de obter franjas), como é a infe¡ência padrãos3, então
a experiência de Wheeler é inegavelmente problemática. A decisão das partfculas
de passar pelas duas fendas, ou por uma só, parece s€r uma função do capricho futuro
do experimentalista. Entretanto, notamos que Bohr não îez essa inferéncia. Na verdade,
paø.a fazer justiça à sua posição, temos que esperar a discussão nas secções seguintes
da idéia bohriana da totalidade do "fenomeno quántico". Nessa altura, podemos nos
antecipar e dizer que, para BÒhr, a questão do tipo de comportamento real do sistema
antes do estabelecimento de um arranjo defìnido (seja nesse momento, ou,
presumivelmente, no futuro) é uma questão æm sentido. Não se pode falar, æm cair
em ambigüidade, das propriedades ondulatórias ou corpusculares do sistema antes de
escolher o arranjo experimental. Ora, isso poderia sigtifìcar, para alguns, uma mera
manobra para não considerar o problema, mas se quisermos evitar o caminho duro de

s0 Seguindo o trabalho de Wootters e Z;urck, Bartell recentemente (Bartell 1980) sugeriu


vários arranjos experimentais praticáveis para observar o comportamento "intermédiário
partícula-onda".
sl O fato de que nâo hd uma linha rfgida que separc onda e partícula na M.Q. é óbvio na idéia
de um pacote de ondas, e na natureza das relações de indeterminação. O mérito do trabalho
de Wootters e Zu¡ek é que ele most¡a as implicações operacionais deste ponto de maneira
orþinal e marcante. O trabalho também contém uma formulaçÍio quantitativa interessante
da complementariedade na linguagem da teoria de informaçÍIo.
s2 Wheeler 1978. lilheeler considerou isso uma 'nova questão', para o caso das duas fendas. Pelo
que sabemos, Wheeler foi o primeiro a examiná-la em detalhe, mas a possibilidade jd havia sido
mencionada em Moller e Pihl 1968. Além disso, a idéiaem sidemedidacom "escolhademo-
rud.a" faz parte integral do fenômeno de Einstein,Podolsky e Rosen de 1935, como veremos.
s3 Ver, por exemplo, Feynman, op.clt.,Wheele¡ op.clt., p. 9. Esra infe¡ênci¡ é evidentemente
muito plauslvel se quisermos dar sentido flsico à aparência das franjas de "interferência".
66 HaneY R. Brown

Einstein, seremos forçados a aceitar algo assim. Não obstante, é diflcil livrarmonos
do sentimento incômodo, mesmo adotando a linha de pensamento de Bohr, de
que
ou fóton passa pof
o que está realmente acontecendo nas fendas quando um elétron
por parte de um agente
D2, potleria depender do exercfcio futuro da vontade livre
---iulfinuf-ente,
humano.
vo etse os argumentos de Bohr excluem
categoricamente a po junte trajetórias e franjas de
agen-l que
inter-ferência. Para ab amos a Teoria da Solução Dupla de de

como
trajetórias de de Broglie como algo mais do que possibilidades metafísicas. Sela
for-, essa acusação solene não consegue, é claro, dissuadir os "realistas" de continuar a

fendas zté, P, cntza o eixo de simetria do arranjo, o que irnplica que as partículas que
chegarn à placa acima (abaixo) do eixo vierarn da fenda de cima (de baixo). Este
..rriltudo sai diretamente das pressuposições teóricas na base das teorias' Aqui, o
processo de loczlizagão na placa rígida é, ao mesmo tempo, unn medida de trajetória,

s De Broglie 1964,PP.6168.
ss Uma outra tentàtiva intêiessante e orþinal de reconclliar trajetórias com efeitos de interfe-
rência encontra-se em Buonomano 1978 e 1980, embora esta teoriâ esteja em conflito com
a M.Q. em certæ ci¡cunstâncias.
# Bohr¡ 1952.
s7 Prosser 1976.
s8 Philippidus, Dervdney e Hiley 1979 '
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mecllnicø Ouânticu 67

o que não é o cæo para Einstein e muito menos para Bohr. Claramente, o fato de
haver uma medida depende da teoriase-
Essasteorias de Bohm e Prosser salientam as limitações da resposta de Bohr e
Einstein. Complementaridade não é a única interpretação da M.Q' consistente com os
fatos6o. Ao estabelecer esse Ponto, as novas teorias de trajetórias conseguiram o que
Einstein não conseguiu em 1927, quando subestimou o papel deæmpenhado pelas
relações de indeterminação na conspiraçlo quântica6l .

*l{t

O debate entre Einstein e Bohr assumiu novas proPorçtþs três anos mais tarde'
no Sexto Congresso Solvay de 1930. Mais uma vez, fora das secções ofìciais, Einstein
e os representantes da linha de Copenhagen envolveram-se profundamente em
discussões sobre os fundamentos da M.Q. Já vimos que em 1927 Einstein adotava uma
interpretação incompleta do estado de um sistema individual. E mencionamos acima
que, segundo essa linha, pode-se imaginar mecanismos determinísticos que controlam
o comporta¡nento de cada sistema, mas que não são elevados em conta pela nova
mecánica, exceto no sentido estatlstico para "ensembles" de sistemas. (Vamos chamar
a isso incompletude I.) Tais mecanismos eram, é claro, rejeitados pela escola de
Copenhagen, por s€rem inconsistentes com a solução coreta da questão da dualidade
onta-partícula e, além disso, por não ser possfvel demonstrar experimentalmente
a sua existência, àluz das relações de indeterminação.
Em 1930, Einstein fa¡ia, efetivamente, a pergunta que estava impllcita no seu
pensamento desde 1927. Será que a M.Q. é também, em certos casos, uma descrição
incompleta de "ensembles" (incompletude II)? Ou seja, é possível que em certos casos
existam "ensembles" de sistemas, dentro dos quais sabe-se que a dispersão dos valores
de certos observáveis é menor do que aquela permitida pelas relações de indeterminação
de Heisenberg?
Estamos nos referindo à experiência do fóton na caixa, a experiência de pensamento
na qual Einstein tentou, através de considerações relativfsticas (a relação entre energia

59 Uma outra exemplificaçlo disso vêse no caso da experiência da "escolhademorada" das duas
fendas de ìrVheele¡ para fotons (op.cil.\. Uma das escolhas é posicionar simet¡icamente dois
fotodetectores separados,em um plano vertical afastado suficientemente do diafragmaD2 eue
contém as fendas. Para Wheeler, se o fotodetector de acima registra, a conclusão é que o foton
veio da fenda de baixo. Na teoria de Prosser, a conclusão pa¡ece serque o foton veio da fenda
de cima.
@ No comegò do t¡abalho já citado, Ma¡sh constata: "Uma conseqüência bem conhecida do
princípio de incerteza de Heisenberg é que não se pode produzir uma padrão bem desenvol-
vido de difração de elet¡ons das duas fendas, enquanto se determina simultaneamente a fenda
pela qual cada elet¡o passou". Bem conhecida ou n¿io, essa conseqüência, se tomada no
sentido geral ou indqrendente da interpretação da M.Q,, é falsa.
61
Einstein não estaria, contudo, muito interessado nos detalhes das teorias em si, como veremos.
68 Hamey R. Brown

e massa)62, mostrar como preparar um "ensemble" de fótons cuja energia e tempo


de chegada são simultaneamente fixados. Isto é inconsistente com a rélação de energia
e tempo de Heisenberg63. Novamente, a resposta de Bohr foi dramática6a. Mostrou
que a relatividade geral de Einstein indica que existe uma certa indeterminação no
instante da produção do fóton,no arranjo, que é diretamente ligada à indeterminaçffo
na medida de energia. E o produto das lndeterminações é consistente com a relação
de Heisenberg! @ara detalhes, o leito¡ pode consultar as referências abaixo6s.)
Notamos que hoje sabe-se que a validade das relações E-t para o arranjo de Einstein
pode ser demonstrada independentemente da relatividade geral66, e lnesmo
independentemente da relatividade restrita6 7.
Essa nova experiência de Einstein representou um ataque mais radical à posição
ortodoxa A questão, em 1930, era a demonstração
do <¡ue seus Írrgumentos de 192768.
da incompletude II, ou
seja, de que as relações de indeterminação não são obedecidas
por todos os arranjos de preparação de sistemas6e. Ora, praticamente em todas as
discussões da experiência de EinsteinTo, considera-se que ele pretendia demonstrar
a inconsistência interna da M.Q. Mas uma outra maneira de interpretar o episódio é

62 Pode ser, como constata Jammer, op. ct.,p, l32,que Einstein tenha tido a intenção de
emprega¡ a relatividade restrita como apoio à sua posiçâo;Bohr, em uma pub licação de 1929,
havia feito o mesmo em relação à complementaridade.
ó3

I
L¿ LnÞ L l1çqB - BA)>l
2
a a respeito do problema da <lerivação e interpretação correta
8-f encontra-se em Jammer op,cit.,pp.140-152. Para contri-
excmplo, Bauer e MellqÍ1978) Cook, op. cif., de la peña 1980.
ø pu¡¿ ur¡ a ,lreryriçlio de desespero iniciai de B olrr ao nllo poder
lefrutar o atgumento de Einstein,
ve¡ Rosenfeld 1968, também citado em Pais,op.cir.,p.9o2, Bohr passou uma noite sem
dormir formulando a sua resposta.
6s Bohr, op-cít., J ammer, op.ciî.,pp. 132-136.
6 Unruhe Opat1979.
61 Treder 19?1.
ß ida, no relato de Boh¡
iscussões sofreram uma
desafio sdrio . . ." (pp.
æ de Einstein de 1927
intenção,ver cook,op.cít..
69 O argumento explícito de Einstein tratou da possibilidade de mcdida simultânea, com preci-
são arb¡itária, da energia e do instante de salda da caixa, p¿ua urn foton índividual. Mas a
Datureza do arranjo também a de um preparador de um ..ensemble" de fotons.
æ Duas exceções encontramse em Hooker 2,p.78, e Hoffnran n
L97 197 9 ,pp.lg7 ,190.
O Debøte Einsten - Bohr sobre a Mecânica Quânticø g9

dizer que este representa apenas uma extensão do argumento da incompletude (como
sugere a terminologia adotada aqui). Demonstrar um arranjo experimental que possa
produzir um "ensemble" de sistemas livre de dispersão em obærváveis complementares,
não é necessariamente demonstrar a inconsistência do formalismo quántico. Pode-se
simplesmente dizer, para salvar a consisténcia, que nem todos os "ensembles" em
natureza são descritos, de maneira completa, por uma função de onda de schrödinger,
ou, mais abstratamente, por um raio no espaço de Hilbert (ou por "misturas"
desses)71
O próximo ataque substancial por parte de Einstein foi lançado no artigo de 1935,
escrito juntamente com os æus colegas Podolsky e Roæn. Analisaremos esse artigo
e a resposta dada por Bohr na secção æguinte deste trabalho. A visão convencional
constata que, depois dos fracassos de 1927 e 1930, Einstein abandonou a tentativa
de demonstra¡ a inconsistência inerente ao formalismo quántico e, daí em diante,
concentrou æus esforços em refutar a linha de copenhagen ægundo a qual a M.e.
fomece uma descrição completa da realidade associada a microprocessos individuaisT2.
ora, nosso objetivo nessa parte do trabalho, como deve ser evidente, foi o de oferecer
um ponto de vista altemativo. É que a incompletude da nova mecânica, em alguma
das formæ, era o fator esencial na bæe da "oposição" de Einstein, nÍfo apenas depois
de 1930, mas desde o princípio da disputaß. Talvez o enquadramento dá experiência
de pensamento de 1930 em nosso esquema seja mais questionável, mas tentamos
mostrar
houve, n
opinião,
da tese
incompletude I.

7t Es de vista de um seguidor da interpretação da M.e. de


'T es, ver Belinfante 1973), que acredita quê, em
princfpio,
as nt¡oldveis.
72 Ver, por exemplo, Pais,op.clt.,p .903 e, especialmente Jammer, o p,cit.
73 ,p. 156 ,
?0) a mesma posiçato, (Contudo, eSes
e o ponto para as discussões entre 1927
cìma, Jammer, em certos lugares(op.clt.,

74 ada a Popper em 1935, Einstein diz explicit


produzir um ensemble de fotons .que nos
um fóton com precisão .inadmisslvel'[i.e. in
r 1968, p. 457.
7O Haney R. Brown

IV.ELEMENTOS DA REALIDADE VERSUS FENÔMENO QUÃNTICo EM I935

Chegamos, agora, ao capítulo crucial na história da disputa. O artigo de 1935 de


Einstein, Podolsky e RosenTs (EPR) é a versão mais articulada e rigorosa da posição
de Einstein em favor da incompletude da M.Q.. Ao fazer face ao novo desafio, Bohr
chegou também a deænvolver uma formulação da sua fílosofia que, embora não se
constituindo na versão final da doutrina da complementaridade, certamente foi a base
dos aperfeiçoamentos futuros.
A pré-história do argumento de EPR entre 1930 e 1935 já, foi bem contada por
Jamme¡7ó;não cabe repetiJa em detalhe aqui. Mencionaremos apenas que em 1931
e 1932 Einstein voltou à experiência do fóton-na-caixa, para investigar o que
considerava um eleniento esquisito?T no tratamento ortodoxo. Trata-se do fato de
se ter a escolha de medir um dos aspectos complementares (energia ou tempo de
chegada) do fóton depois que este deixou a caixa (o que é um exemplo de experiência
de tipo "escolha demorada" de Wheeler). O único elemento necessário que restava
para completar a essência do argumento de EPR era introduzir pares de sistemas
correlatos, o que Einstein começou afazer em 1933.
Jammer nota que os aspectos físicos cruciais do fenômeno de EPR haviam sido
estudados por von Weizsäcker em 193178, como exercício no novo formalismo.
Notamos também que von Neumann, por volta de 1930, provavelmente entendeu a
atureza do fenômeno, pelo menos conlo uma possibilidade formal?e. Contudo,
nenhum dos dois reconheceu, antes de 1935, as suas conseqüências para a questão
da interpretação da M.Q.. Para isso, eram necessários o olho crítico e as motivações
preestabelecidas de Eiristein.
(i) A natureza geral do argumento EPR não é intrinsecamente difícil, nem
obscurecida pelo texto técnic<¡, mas em certos pontos a lógica do racioclnio detalhado
não é totalmente satisfatória. De qualquer forma, apareceu subseqüentemente uma
literatura repleta de idéias bastante divergentes sobre as intenções originais de Einstein.
Como Krips8o observou ironicamente cerlavez, a discussão do argumento temlevado
fìlósofos a recorrer à matemática, e ffsicos à filosofìa.

7s Einstein, Potlolsky e Rosen 1935.


76 Jammet,çp.cít.,pp.166-181.
17 lbíd.,p.172.
78 Ibid.,pp.178-180.
79 Ver o apêndice deste artigo.
80 Krips 1969, tambdm citado em McCrath, op.cif, Neste rfltimo trabalho, o autor desenvolve
uma versão formal do argumento que tenta mostra¡ sua estrutura lógica, para furicionar como
uma base em futuras discuss6es e polêmicas. É uma tentativa corajosa, mas o ¡esultado é tão
complicado, que nos faz perguntar se não seria mais frutlfero simplesmente ler o texto
orþinal cuidadosamente.
O Debate Einsten - Boht þbre a Mecânica Qwântica'71

Apresentamos no Apêndice um tratamento quântico semi-rigoroso de pares de


sistemas com correlação do
tipo EPR, no formalismo de espaços de Hilbert, como um
auxflio e complementação à leitura do texto originai. Por enquanto, pretendemos
esboçar a lógica e a fìnalidade do argumento.
Os autores consideram dois sistemas I, II bem æparados espacialmente, que
interagiram no passado. É possível na M.Q. que o estado do sistema composto I + II
seja tal que o resultado de uma posslvel medida de posição em I permitisse inferir
a posição precisa de II, e que o rnesmo vale para os momentos dos dois sistemassl .
Evidentemente, há uma escolha entre a medida de posição e a medida de momento
em I, sendo que as duas medidas são operacionalmente incompatíveis. Por conseguinte,
há uma escolha em relação à informação que se poderia obte¡ sobre o sistema distante
II, através de uma medida executada em I82.
Para os autores, esses fenômenos de sistemas correlatos e distantes na M.Q. bastam
para demonstrar a incompletude da descrição da realidade na teoria. Primeiro, eles
fornecem uma condição sufìciente (mas não necessária) para a existência de um
elemento da realidade física. "Se, sem de modo algum perturbar urn sistema, pudermos
preyer coln certeza (ou æja, com probabilidade igual à unidade) o valor de uma
quantidade ffsica, então existe um elemento da realidade flsica correspondente a essa
magnitude física". Segundo esse critério, devem existir elementos simultâneos da
realidade flsica associados à posição e ao momento para o sistema II. Se isso não é
imediatamente óbvio, vale mencionar que um elemento da realidade em II não pode
depender da livre escolha, por parte do experimentalista, entre uma medida de posiçÍIo
em I e uma de momento. O contrdrio implicaria um efeito do tipo ação-à-distância
entre I e II, o que não é permitido por'inenhuma defìnição razoável de realidade".
Ora, essa conclusão já é sufìciente para colocar em dúvida a linha ortodoxa, segundo
a qual "quando o momento de uma partícula é conhecido, a sua coordenada não tem
realidade". Essa tentativa plausfvel de refutar o pensamento ortodoxo, através do
caso de sistemas correlatos, é o núcleo e o iegado desse trabalhott. o leitor pode
julgar o poder de persuæão do argumento ao ler mais adiante a resposta de Bohr.

El Os autores notam que tal correlação ent¡e I e II pode existir para outros obse¡'Jveis, aldm de
posição e momento.
a2 Note'se que-não há nada, a priori, de misterioso ou paradoxal nesse tipo de correlaçâo entre
os sistemas I,II. Voltaremos a este ponto mais ta¡de.
83 A existência de elementos símr¡ltâneos de ¡ealidade associados à posição e ao momento r¡fo
rcfiita Qtoce Clauser e Shimony 1978, p.1885) as relações de indeterminação de Heisenberg,
mæ sim a interprctação de Bohr-Heisenberg das mesmas.
72 Hantey R. Brown

Seguramente, o raciocínio é por enquanto convincente, se for considerado plausível


o critério de realidade acimae.
ilesta, porém, o argumento específico em favor da teæ da incompletude.
Evidentemente, para que uma teoria flsica seja completa, "todo elemento da realidade
física precisa ter um correspondente fcountepartl na teoria física". O problema é:
o que significa um "cÆrrespondente" neste sentido? Em certo pontoss, os autores
dizem que, existindo dois elementos da realidade associados a dois observáveis
incompatlveis (como acontece para o sistema II), então, para que a teoria seja
completa, os valores em questão deverão ær previslveis a partir do estado inicial do
sistema inteiro (o que não é o caso para I + II). Em um outro pontos, os autores
rnostram, utilizando o princfpio do colapso da função da onda no ato de medida,
que, dependendo do tipo de medida feita em I, o estado fìnal de II pode ser repre-
æntado por uma autofunção do momento, ou por uma autofunção da posição.
Tendo em vista que a "realidade" de II não é, por hipóteæ, alterada pela medida
(æja qual for) no sistema distante I, conclui-æ que a realidade singular de II pode
s€r representada por duæ funções de onda distintas. Por conseguinte, a M.Q. não
pode ser uma descrição completa da realidade associada a II. Mas lembramos que o
princípio do colapso da função da onda em medida é um axioma em conflito com
os demais axiomas, e o argumento em favor de incompletude æria mais satisfatório
æ fosse posslvel formr¡lá-lo sem referéncia ao princfpioE?. Na verdade, como veremos
no Apendice, a demonstraçäo da correlação caracterfstica entre sistemas tipo EPR
não depende do princípio.
Essas dúvidas em relação aos argumentÒs em favor da incompletude por parte dos
autores não diminuem em nada o resultado central do trabalho. Isto é, a partir de um
critério plausível de realidade na ffsica, pode-æ constatar que há casos nos quais
obærváveis complementares de um sistema tém valores simultâneos bem defìnidos

84 Estd cla¡o que o argumento de EPR é um exemplo de uma experiéncia do tipo "escolhademo-
¡ada" de lüheeler. Lembramos que Wheeler int¡oduziu a idéia para a experiência das duas
fendas, Para fecha¡ o clrculo notamos que lVootters e Zurek (op.cit.) most¡aram que a própria
experiência de Einstein das duas fendas jC contém a essência do fenômeno de correlação
tþo EPR.
8i P.178.
s6 P.780.
87 A hipótese de que o estado de I + II colapsa, fndependentemenle do medìda, em uma mistura
de estados fatorizáveis, uma vez que os sistemas I e II estlfo bem separados e que termina a
interaçifo mrftua, foi levantada por Furry 1936 e Schrödinger 1935, Com base na evidência
encontrada em Bohm e Aharonov 1957, Kasday 19?1 e Clauser 1972e 1977,acredita*e hoje
queahipóteseéfalsa.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mecânica Quântica 73

na realidade. Para os autores, aparentemente, a única maneira de evitar esta conclusão


contra a linha ortodoxa seria admitir a existência de um curioso fenômeno não-local
de comunicação instantânea entre os sistemas I e II. Para o descobridor da relatividade
restrita, esta última opção, pelo menos por ressuscitar o fantasma de simultaneidade
absoluta impllcita na noção de açflo-âdistÍincia, teria sido altamente desagradável8E.
O trabalho provocou um dilúvio de comentários, dúvidas, desentendimentos e
refutações8e. Mas nenhuma resposta feita logo depois da publicação do trabalho foi
mais sþnificativa do que a esperada retaliação do pai da linha de Copenhagem.
A publicação da resposta de Bohr surgiu apenas cinco meses depois do aparecimento
do artigo EPReo.
(ii) O artigo de Bohrel não é de fácil compreensão (como, mais tarde, ele mesmo
admitiria)e2, em parte porque foi escrito em um perlodo de transição do seu
pensamento. O trabalho contém uma mistura de elementos do seu pensamento pré-1935,
com indicações do seu princípio da totalidade de "fenômeno quântico", o qual seria
explicitado plenamente apenas mais adiante.
O trabalho começa com uma reiteração da sua análise de 1927 da experiência de
difração de uma só fenda, e daquela das duas fendas. Bohr repete que (ao contrário
da posição de Einstein) a escolha entre a demonstração experimental de características
ondulatórias e corpusculares nessas experiências não é uma escolha entre aspectos
incompletos de uma.mesma realidade. Para Bohr, trata-se de uma "discriminação
racional entre arranjos e procedimentos experimentais essencialmente diferentes,
adequadas seja para uma utilização inequívoca da idéia de localização espacial, æja
para uma aplicação legítima do teorema da conservação do momento (...). A
renûncia, em um dado arranjo experimental, a um ou outro de dois aspectos da
descrição de fenômenos físicos - cuja combinação caracteiza o método da flsica
clássica, e que portanto podem, nesse sentido, ser considerados como complementares
um ao outro - depende essencialmente da impossibilidade, no terreno da teo¡ia
quântica, de controlar com precisão'a reação do objeto sobre os instrumentos de
medida, ou seja, a transferência de quantidade de movimento, no caso de medidas
de posição, e o deslocamento, no caso de medidæ de momento (...) De fato, em

88 Ver os comentdrios de Einstein sobre açãoàdistância em Einstein 1949a,p.61.


89 Para detalhes, ver Jammer, op.cit.,capíttlo 6, Em uma ocasião, Einstein considerou divertido
o fato de tantos flsicos haverem discordado do seu argumento, mas em cada caso por razões
diferentes.'(1áíd. , p. 187) . (Um sinal cla¡o da homogeneidade d a escola ortodoxa) .
s De fato, dois meses depois da publicação do artþo de EPR, Bohr havia escrito para o edito¡
da revista Nature rcjeltando as conclusões do artigo e anunciando que um exame detalhado
seria publicado em b¡eve no Physical Review. Jammer,op.cll. ,p .I94 .
el Boh¡ 1935.
c2 Bohr 1949,p.234.
74 Hantey R. Brown

todos os arranjos experimentais adequados ao estudo de fenômenos quânticos


propriamente ditos, temos não apenas simplesmente de lidar com uma ignorância
acerca dos valores de certas quantidades físicas, mas com a impossibilidade de definir
tais quantidades de modo inequívoco".
Neste trecho signifìcativo pode-se perceber não apenas o estilo caracterfstico de
Bohr, mas também a natureza diversifìcada (senão inconsistente) do seu racioclnio
na época. Introduz-se a idéia de um "fenômeno quântico" que é, propriamente dito
o funcionamento de um arranjo experimental inteiro. Apenas em relação a este
podemos defìnir, para o sistema em questão, certas grandezas flsicas. (Iæmbramos da
ênfase que Bohr dava em 1927 aos limites de defìnibilidade dos observáveis em dadas
situações.) Ao mesmo tempo, Bohr constata que o próprio processo mecânico de
medida de uma grandeza inevitavelmente produz uma flutuação incontrolável em
grandezas complementares no sistema. Esta consideração pfrece explicar a
incompatibilidade de medidas simultilneas de aspectos complementares do sistema,
e também a questão mencionada dos limites de definibilidade de certos obærváveis
em um dado "fenômeno".
Em primeiro lugar, notamos que essa origem dos ditos limites, em termos de uma
perda incontrolável de certa informação no ato de medida, é radicalmente diferente
da explicação dos mesmos (delineada na æcção 2 acima) baæada na análise de 1927
de pacotes de ondas de de Broglie. Naquela análise, os limites de definibilidade sflo
intrlnsecos ao e3tado do sistema, e nada têm a ver com possíveis medidas. Em ægundo
lugar, dizer que no ato de medida de, digamos, posição, existe inevitavelmente um
intercámbio incontrolável de momento entre o sistema e o instrumento,é dizer apenas
que o valor do momento fìnal do sistema é desconhecido. Não se pode concluir disso
que o momento fìnal não tem definição. Muito pelo contrário, esse raciocínio
simplesmente pressupõe a existência de valores de momento por parte do objeto e
do instrumento.
Seja como for, Bohr agora constata que as mesmas considerações são aplicáveis
para o fenômeno de EPR.. Elè enfatiza que medidas de posição e momento de um
sub-sistema (sistema I de EPR) requerem procedimentos experimentais mutuamente
exclusivose3, utilizando novamente a descrição relacionada à interação incontrolável
entre objeto e instrumento. Assim, segundo Bohr, pode-se notar uma "ambigüidade"
no critério de realidade de EPR a respeito da restrição "sem perturbar de maneira
nenhuma um sistema". Bohr admite explicitamente que não há nenhuma perturbação
mec¡înica sofrida pelo sistema II durante a medida em l, mas há a questão "dø
influência sobre as prôprias condições que definem os tipos possíveis de previsões

93 Bohr tipicamente ¡eduz as considerações gerais ao caso de um arraqio especfhco mecânico


corn diafragna, fendas, etc. (op, cit., p. 699). Corno Hooker, op. cÍt., pp. 218-9, nota, Boh¡
costumava da¡ ênfase a demonstrações da conspiraçÍfo quântica em um nrlmero pequeno de
arranjos especlhcos de medida, desprczando a necessidade de demonstrações gerais formais.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mecônica Quôntica 75

reløtivas ao comportamentofuturo do sístema. Como tais condições constituem um


elemento inerente à descrição de qualquer fe¡rômeno ao qual s€ possa atribuir
adequadamente o termo 'realidade flsica', percebemos que a argumenlação dos autores
mencionados não justihca sua conclusÍio de que a descrição quântica é essencialmente
incompleta. Ao contrário, tal descriçøo (..) pode ser caracleiz.ada como uma
utilizaçâ'o racional de todas as possibilidades de interpretações inequívocas de medidas,
cornpatfvel com a interação finita e incontrolável entre os objetos e os instrumentos
de medida no termo da teoria quântica".
Essa resposta mostra na nossa opinião que Bohr ainda não havia achado uma
linguagem totalmente coerente para a realidade quântica, que substitufsæ o critério
plauslvel de Einstein. Ao contrário da constatação de Bohr, há uma diferença
fundamental entre as experiências de pensamento de 1927 e o fenômeno de EPR.
Fara o sistema II, as implicações da "interação fìnita e incontrolável" entre o sistema I
e o instrumento escolhido de medida são inteiramente diferentes daquelas dos
exemplos anteriores. Além disso, como mencionamos há pouco, a própria descrição
em termos da interação incontrolável inerente à medida levanta a questão de valores
reais para os observáveis complementares no sistema I, e presumivelmente no sistema II.
Isso apenas pode reforçar a linha geral de pensamento de EPR.

Por outro lado vê-se no r¡ltimo trecho uma ênfaæ renovada na idéia da ligação
entre a própria defìnição de atributos ffsicos do sistema e o contexto experimental
de preparação e medida, ou seja, do "fenômeno quântico"' Na parte final de nossa
reænha, analisaremos a evolução apos 1935 deste princfpio bohriano. Basta dizer
agora que a esséncia da posição de Bohr, em,relação a sistemas com correlação tipo
EPR, é de que a possibilidade de definição de atributos de realidade do sistema II
deve ser considerada inextricavelmente associada com o "fenômeno" definido para
a unidade I + ll pela medida escolhida em L A medida, digamos, da posição de I,
define um "fenômeno quântico" para o sistema composto que permite, na
terminologia tfpica de Bt¡hr, o legítimo emprego futuro da noção da coordenada
espacial de II, mas nlfo do momento. Em suma, falar sem cuidado sobre conjuntos de
propriedodes objetivas de microssistemas leva, na opinilo de Bohr, à ambigüidade.
Portanto, a teoria quântica, enquanto uma linguagem de realidade flsica independente,
trata essencialmente de processos flsicos inteiros. (Voltaremos mais adiante a discutir,
embora de uma perspectiva menos descritiva e neutra, essa tentativa de Bohr de
reconciliar a física intrigante de pares de microssistemas correlatos com os princfpios
da complementaridade.)
Na última parte do artigo, Bohr levanta questões mais gerais dentro da sua fìlosofìa
qrântica, O elemento mais importante dessa discusão é a énfase na utilização
indispensável da linguagem da flsica clássica para a 'Interpretação" de todos os
processos de medida. Tivemos pouca oportunidade, até a$ora, de comentar esse
segundo princfpio bdsico do pensamento de Bohr, que pode ser considerado uma
espécie de axioma epistemológico, cuja primeira expressão encontra-se no s€u
76 Hamey R. Brown

princlpio heurfstico de correspondência, na velha teoria quântica. Essa questão vai


da rlltima æcção do trabalho.'
iorn..rr um dos temas de discussão
Terminamos n<¡so relato dos acontecimentos de 1935 levantando uma dúvida em
relação à nova defesa da completude por parte de Bohr. Suponhamos que tenhamos
decidido medir o momento do sistema lI simultaneamente à medida de posição do
o e gozam de correlação

; ;:,i:.'rn:ff.i:if:
BOhr teria analisado essa situação, mas isso nos levaria longe demais. Diremos apenas
que, na nosa opinião, a maneira de tratar esta posibilidade dentro da linha bohriana
seria, no mínimo, tortuosa.

v. coNsrDERAçõES PÕS-1935 E CONCLUSoES

Y.¡. Boh¡ e a Anti-Tco¡io da Realídode Quiintí.ca

Como Scheibe nota no seu estudo admirável do desenvolvimento do pensamento


de Bohr5, foi apenas depois de 1935 que as implicações totais da noção de "fenômeno
quântico" foram enfatizadas nos seus trabalhos sobre os fundamentos da M.Q. Cada
vez mais, a idéia da totalidade e indivisibilidade do processo inteiro de preparação e
medida de um sistelna tomava uma posição central na filosofia de Bohr. Paralelamente,
a linguagem problemática de "perturbação" no ato de medida, que, como- já vimos,
ainda era atraente para Bohr em 1935, começava a ser repudiadas. É ruzoâvel
concluir que essas mudanças se deveram às lições aprendidas no debate com Einstein
em 1935e7.
A totalidade (wholeness) do fenômeno quântico aponta, então, o primeiro
princípio básico na filosofìa (pós1935) de Bohr. "Bssas condições [definidas pelo
arranjo experimental inteiro], que levam em consideração as propriedades e a
manipulação de todos os instrumentos de medida relevantes, constituem, de fato,
a única base para a definição dos conceitos pelos quais o fenômeno é descrito"eE
O papel do processo de preparação e medida não é apenas de fornecer dados
experimentais, mas também, para Bohr, é o de fìxar limites da utilização legítima,
dos conceitos flsicos convencionais, tais como posição, momento, energia etc.

s Nâo nos lembramos sê essa possibfidade jd foi lerrantada na literatura. Custa-nos ac¡edita¡
que não.
s S.h"ibu, op . cÍt., p. 21.
5 Ver, por exemplo, Bohr 1949.
t Assim, é diffcil ac€¡taf a opinião de Hooker (op. clt., p. la9) de que o dobate de 1935 em
nada alterou o pensamento básico de Boh¡.
s Boh¡ 1939.
O Debøte Einsten - Bohr sobre a Meúnica Quântica 77

Agora podemos reconsiderar a análise bohriana da experiência de Einstein das


duas fendas. læmbramos que Bohr eyita as conclusões indesejáveis do seu antagonista,
por considerar as propriedades quânticas do diafragma que contém as fendas. Portanto
tem-æ de considerar as suas propriedades ffsicas como dependentes de um "fenômeno
quântico" que inclui o diafragma dentro do sistema objeto. Se escolhermos medir
o seu momento, com um arranjo experimental adequado, temos de concluir que
a posição é um conceito ilegítimo, sem definição na circunstância. Ora, essa conclusão
é um pouco difícil de aceitar no caso de um sistema macroscópico, tal como
um diafragma.
Dito isso, poderíamos agora considerar o segundo princípio perene na fìlosofia
bohriana, ao qual já fìzemos várias referências ligeiras. É que há, apesar da totalidade
do "fenômepo quântico", uma distinçtfo fundamental entre o objeto e o instrumento
de medida. "Enquanto (...) na física clássica a distinção entre o objeto e agências
de medida não requer nenhuma diferença no caráter da descrição dos fenômenos
em questÍo, a sua importância fundamental na teoria qurîntica (...) tem as suas raízes
no uso indispensável de conceitos clássicos na interpretação de todas as medidas
próprias, mesmo que as teorias clássicas não sejam suficientes para explicar os
tipos de regularidades (...) na ffsica atômicane . A tese é, entfo, que a descriçlto do
funcionamento do instrumental e dos resultados de obsewação tem de ser expressada
na linguagem da ffsica clássica.
Voltando para a experiência das duas fendas, conclui-se que o diafragma tem
caracterlsticas quânticas quando faz parte do objeto de medida (i.e., quando se mede
o seu movimento de recuo), mas necessariamente tem características clássicas quando
fazparte do instrumental (no caso de obter franJas).
O que levou Böhr chegar a uma conclusão tão surpreendente? A razão pela qual
introduziu o segundo princípio sobre a indispensibilidade da física clássica está contida
em vários dos seus trabalhoslm, e tentamos agora resumir a essência do ponto.
A prôpria noção de medida pressupõe uma demarcação defïnida entre o observado
(o arranjo experimental inteiro) e o observador (agente humano)' O observado deve
possuir propriedades flsicas objetivas e independentes (o que não é o caso para
sistemas quânticos) para que a informação obtida pelo observador seja não-ambígu
e intersubjetiva. Ora, a física clássica cumpre a exigência de uma linguagem física
objetiva neste sentido, e, além disso, é a teoria correta para sistemæ para os quais
o quantum de ação nfo tem relevância (sistemæ macroscópicos com comportamento
irreversfvel, necessário para registro de eventos). Logo, para que medidas feitæ com

ee Bohr 1935.
tæ Boht 1929,9p.5, l5 e 94, 1939, 1949, 1958 e 1960.
78 Harttey R. Brown

arranjos macroscópicos sejam possfveis mesmo em princípio, a linguagem da medid


é necessariamente a da física clássicalor.
A idéia é simples, mas o argumento deixa a desejar. O problema que queremos
apontar é que Bohr coloca como princípio justamente o que tem de set demonstrado
a partir de considerações baseadæ na teoria quântica. Iævando em conta que cada
elemento do arranjo macroscôpico de medida é composto de componentes
microscópicos, a própria possibilidade de medida objetiva tem de ser derivável
dos princípios da microteoria. E isso é, evidentemente, fora de questão se adotarmos
,a interpretação bohriana da M.Q.. Assim, Bohr transformou em axioma justamente
aquilo que constituía uma das principais fragilidades de sua posição.
É ¿ificil evitar a conclusão de que, na verdade, Bohr não tinha uma teoria da
realidade quântica. Como vimos no caso do diafragma, na experiência das duas
fendas a possibilidade do sistema ter valores simultâneos bem definidos e reais para
posição e momento depende d.o que o experimentalista decide fazer com o sistema.
No caso de pares de sistemæ tipo EPR, o sistema II, isolado, repentinamente
poderia adquirir um momento bem definido (que não tinha antes), mas não se
permite dizer que houve qualquer modificaçlo lísica no sistema. E, finalmente,
repetimos que na experiência de tipo "escolha demorada" de lVheeler para as duas
fendas, o que está acontecendo ftsicamente, quando um fóton passa pelas fendas,
é uma questão sem sentido. Os princípios de Bohr fornecem, em última análise,
apenas regras lingüísticas de restiição, para o uso de um conjunto de conceitos
físicos "convencionais" (i.e. clássicos) de uma forma que evita a inconsistência. Þara
Bohr, os problemas de linguagem na física eram, aparentemente, mais significativos
do que as questões em relação aos contomos da realidade objetiva. Petersen¡@ recorda
a seguinte declaração de Bohr: "Não há um mundo quântico. Há apenas uma
descrição mecânica quântica abstrata. É errado pensar que a tarefa da ffsica é
descobrir como ê a natvreza. A flsica trata do que podemos dizer sobre a natureza."
E talvez tenha sido essa a única razão pela qual Einstein nunca conseguiu entender
a sua filosofia.
Somente os desenvolvimentos futuros da física poderão estabelecer a necessidade
de pagar um custo tão alto para poder falar significativamente, e sem inconsistência,
sobre a natureza de microprocessos. Não obstante, existem indicações recentes em
certos estudos nos fundamentos da M.Q. de que o princípio da totalidade do
"fenômeno quântico" é pelo mellos prciølmente correto. O espaço não permite

lol Err" reconstruçäo curta tem elementos em comum com as interpretações de Pete¡sen
(op. cit.) e Scheibe (op. cit.). Na primeira, a propriedade de "fechamento" (clo$re) de
sistemas clássicos está enfatizada. Na última, o princípio em questão é visto como proteção
(buller) contra o princípio da totalidade do fenômeno quântico , evitando um regresso
de dependência de contexto na definiçifo de conceitos físicos.
lo' cit"do em Pete¡sen 1963.
O Debate Einsten - Bohr sobre ø Mecânica Quilntica 79

uma descrição detalhada desses rezultados, mas tenteremos delinear os fatores


essenciais.
As teorias de variáveis escondidæ (TVE)103 na M.Q' são divididas em dois tipos:
contextuais e não-contextuais. Em uma TVE não-contextual, dado o ætado À do

a versão correta do famoso "teorema" de von Neumann contra variáveis escondidas')


Porém, o corolário depende de uma pressuposição forte: para cada operador
autoadjunto no espaço de Hilbert corresponde um observável físico do sistema.
A questao dessa pressuposição ær correta é bætante delicada. Mas em 1967, Kochen
e Speckert6 mostraram a imposibilidade de uma TVE nãocontextual para um
sistema quântico particular, sem recorrer à pressuposição.
Assim, o valor de um observável em uma TVE não pode depender apenas do
estado À do sistemalo?. De fato, várias TVE já foram construídas nas quais os valores
dos observáveis dependem, em utn sentido a ser explicado, também do estado
do instrumento de medida. Vamos considerar'o caso de um sistema com momento
ros. Com um arranjo experimental especffico, podemos medir
angrrta, totú J2 "I2
simultâneamente com ,/*, e com vm outro arranjo podemos medir lI2 com J,
(lembramos que "Ir, ./, são incompatfveis). Em uma TVE não-contextual, o resr¡ltado
da medida de J2 (¡rz (Àl) seria o mesmo nos dois cÍil¡os. Mas podemos imaginar uma
iVB nu qual o resultado é diferente nos dois casos, ou seja, o resultado depende
do "contexto" da medida. Tais teorias contextuais pressupõem uma ligação íntima
entre as propriedades do sistema objeto e o arranjo experimental'

r@ Er*r teorias podem ser determinísticas ou estocásticas. Por simplicidade, consideraremos


apenas teorias determinísticas.
loa Gleason 195?.
tot U." prova simples do corolário, sem uså¡ o teorema de Gleason, foi dada por Bell (Bell 1966'
ver também Belinfante, op. cit.) e em t974 uma prova geométrica, relativamente elementar,
do teorema de Gleason para as funções de medida "puras", foi fornecida por Dorling
(ver lGips l9??).
16 Kochen e Specker 196?.

'107 Para mais detalhes ver Fine e Teller 19?8.


108 D"v"-os este exemplo a Shimony 1973.
8O Hamey R. Brown

Não deveria ser necessário dizer que o espírito do programa de variáveis


escondidas na M.Q. é diametricamente oposto à fìlosofia de Bohl. Entretanto, como
vimos, uma certa infiltração de elementos bohrianos no progrÍtma mostrou-se
obrigatória para salvar a consistência. De fato, a ironia da situação é bem ilust¡ada
no argumento de Bell de 1966 roe em favor da plausibilidade da TVE contextual,
baseando-se na lição de Bohr sobre a relevância do arranjo experimental para questões
de realidade flsica-

Y.b. Einstein ea Ndo-Locølidade

Seria surpreendente, é claro, encontrar o nome de Albert Einstein no grupo


majoritário dos flsicos que, logo depois da publicaçlfo de Boh¡ de 1935, acreditavam
que o "paradoxo" de EPR tivesse sido resolvido de uma vez. De fato, Einstein
considerava que o argumento de Bohr havía reforçado o seu receio, manifestado
em 1927 e 1935, em relação a um certo odor de não-localidade, para ele desagradável,
que emanava da linha ortodoxa na M.Q. E, de fato, desenvolveu em seguida mais
argumentos ainda em favor da incompletude I.
Estes novos argumentos pós-1935 foram comentados por Ballentinerlo, e não
repetiremos os detalhes aqui. O tema dos argr¡mentos não é o da não-localidade,
mæ eles apontam situações na M.Q. em que uma certa incongruência na linha
ortodoxa pode ser comparada com uma interpretação mais natural bæeada no ponto
de vista da incompletuderrl.

1o9 B"ll, op. cit. É, importante enfatiza¡ que Bell não aceita o papel bohriano do arranjo intefuo
como definindo os limites de definibilidade das propriedades do mic¡osistema. Bell, como
veremos, explorou brilhantemente as implicações do fenômeno EPR, e recentemente
escreveu em um "preprint" de Cern que a resposta de Boh¡ ao artigo de EPR é, para ele,
incompreensível. (Bell 1980). (Somos gratos ao Prof. Klaus Tausk por nos ter fornecido
uma côpia do t¡abalho).
t ro Ballentine 1972.
tll Not"*o* que ha versão que Ballentine (op. cit.) dá do argumento específico de Einstein,
em relação ao efeito de uma perturbação dependente do tempo sobre um sistema, um ponto
importânte é omitido. Isto é, que no estado superposto final do sistema,Einstein originalmente
constatou que um dos coeficientes da expansÍio tem um valor absoluto quadrado muito maior
do que os outros. Menciona¡nos esse ponto porque aid,éia deEinstein éanálogaaoresultado
de lilootters e Zu¡ek (op. cit.) comentado na página 10 acima.
O Defute Einsten - Bohr sobre a Mecânica Quôntica 8l

Éinteressante notar que Einstein nunca mostrou grande entusiasmo - para


com os resultados dos pesquisadores nas teorias do tipo TVE (ver acima)rl2. Ele
simplesmente pensava que o futuro trabalho nos fundamentos da microfísica
deveria ser devotado ao desenvolvimento de uma nova estrutura teórica causal'
e não a exames das possíveis reinterpretações de formalismo estatístico de
Heisenberg e Schrödinger. "Não há dúvida de que a mecânica quântica captou um
lindo elemento de verdade, e que será uma pedra de toque para a futura base
teórica, no sentido em que ela tem de ser dedutível como um cïso limite dessa
base, exatamente como a eletrostática é dedutível das equações de Maxwell do
campo eletromagnético, ou como a termodinâmica é dedutfvel da mecânica
estatística (...). tMasl não cfeio que a mecânica quântica venha a ser o ponto de partida
na busca para essa base (...):"t'
Mas voltemos à questlfo de EPR. Aí, Einstein deu a César o que é de César.
Ele escreveu: "Dos teóricos quânticos 'ortodoxos' cuja posição eu conheço, a de
Niels Bohr me parece a mais lróxima a fazer justiça ao problema"lr4. Vale a Pena
citar a "tradução" de Einstein do complexo argumento de Bohr:
..se os sistemas I e lI (...) formam um sistema total (...), nãohâ¡azão pela qual aþuma
existência mutuamente independente (estado da realidade) deveria se¡ atribuída
aos sistemas parciais (...) vistos individualmente, nem rnesmo que os sistemas parcbis
esteium seporatlos espacialmenle (...) no instante particular em consideraçEo. A.
asserção de que, neste último caso, a situaç¿fo real de II (...) não poderia ser
influenciada (diretamente) por nenhuma medida executada sobre I (...) é, portanto,
dent¡o da estrutura da teoria quântica, sem baæ e (como mostla o paradoxo)
r r s.
inaceitável"

Então Einstein conclui que Bohr aceitava, na sua resPosta' uma influência
nãolocal em II, originada na medida em I. Como Hooker notal¡6, essa é uma
deturpação grosseira da posição de Bohr, que (como já notamos) rejeitava
enfaticamente uma influência ffsica'entre I e II. Mas embora Hooker castigue
Eínsteín por est¡a falha em penetru nas sutilezas do pensamento bohriano, nossa
posição é de que essa interpretação da parte de Einstein é nada m€nos do que o que
se deve esperar. Afinal de contas, Einstein iludia-se ao pensar que Bohr tinha uma
teoria da realidade, e não meramente (como vimos acima) uma teoria da linguagem
sobre a realidade. Ao nosso ver, a veñ6o de Einstein representa a û¡ica interpretação
viável da posiçÍo de Bohr, se se ptessuPõe que Bohr levava a sério a questão da

I 12 Ver Ballenline,op. cit., p, 1770.


l13 binrt"itt 1936. Tambem citado em Pais, op. cit., p. 908.
l14 Einstein 1949b, p. 681. Ênfase no texto ortginal.
rrs lbid",pp. 681{82.
r16 Hooker, op. cit., p. I47.
82 Hamey R. Brown

realidade independente. Não era esta questão a motivação central do arfryo de EPR?
Não é de estranhat, pois, que Einstein de novo tenha escolhido a única opção restante
para evitar a não-localidaderll isto é, a conclusão de que a descrição fornecida pela
teoria é incompleta.
Assim, o mérito pertence a Einstein de chamar a atenção às possíveis ocorrências
de fenômenos não-locais na M.Q..Embora em 1927 ele sugerisse que tais efeitos são
inerentes ao formalismo de Schrödinger (i.e. independente de interpretação), em
1935 e depois Einstein ac'reditava que, pelo menos no caso de sistemas com correlação
tipo EPR, a nãoJocalidade poderia ser evitada na sua inte¡pretação não-ortodoxa.
Em relação ao fenõmeno de EPR, em certo sentido ele tinha razão. Mas em outro
sentido muito mais interessante Einstein estava completamente errado. Para sistemas
correlatos, se considerarmos apenas casos de observáveis de I e II que têm correlação
absoluta (como era o caso de posição e momento no argumento original de EPR),
o comportamento é facilmente entendido, na teoria 'realista' de Einstein, em tetmos
exclusivamente locaisll8. Mas, em geral, há casos de observáveis de I que são correlatos
apenas estatisticamente com outros observáveis de II. ora, sabe-se hoje que tais
correlações, previstas na M.Q., não podem ser reconciliadas com uma interpretação
"realista" local do formalismo, seja determinista, seja estocástica. (Tais teorias seriam
exemplos de TVE contextual mencionada acima.) Este resuitado, devido
essencialmente a Belllle, é objeto de grande atenção nos dias de hoje. Em particular,
acredita-se agora que tais correlações estatísticas previstas na M.Q. têm sido
experimentalmente verificadæ 120.
Este golpe no programa de Einstein é consideravelmente mais du¡o do que qualquer
"fracasso" sofrido dentro dos debates com Boh¡. A arma mais forte de Einstein
construída em 1935 contra a linha ortodoxa representou trinta anos depois um tiro
pela culatra e os danos, em grande parte, foram relutantemente inflingidos por
seguidores da sua linha realista.

117 Para mais detalhes sobre a atitude de Einstein em relaçÍio a nâolooalidade,


ver Bohni
e Hiley 1980.
r18 O agradável personagem do D¡. Bertlmann (ver Bell 1980) costuma vestir duas meias de
co¡ei diferentes, mas umâ sempre é cor de ¡osa. Mesmo esquecendo qual pé tem qual meia,
o venerável doutor sabe imediatamente se a meia esque;da é cor de losa ou não, quando
examina'seu pé direito.
rre Bril L965 e 1971; Clauser, Horne, Shimony e Holt 1969, Clauser e Horne 1974' rrVþer
1970, D'Espagnat 1980,
r2o P^ru resenhas de experiências feitas recentemente neste sentido, ver Oauser e Shimony,
op. cit., Pipkin 1978, D'Espagnat,op. cit.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Mecânicø Qwânticø 83

Y.c. Commtóríos ftnais


Muito mais pode idéias mais
gerais de Einstein em ntos do seu
pensamento fìlosófìco rá, também,
comentar a tìatureza Passou fora
das linlras convencionais de pesquisa na física, depois de 1925,part solucionar, àsua
maneira característica, os mistérios da matéria e da radiaçãot23. Essas considerações
nos levariam além do alcance deste trabalho, mas acreditamos que reforçariam a linha
geral adotada aqui em relação à natureza da sua oposição às correntes ortodoxas
da M.Q..
Se demos relativamente mais espaço à filosofia de Bohr, é porque esta é menos
suscetível de um resumo sucinto. (O perigo inevitável para o comentarista do
pensamento de Bohr, dado o grau de complexidade - alguns diriam obscuridade - do
ãssunto, é sentir que, tendo dito algo, tem que discorrer sobre tudo.) Todavia,
tentamos salientar as forças e fraquezas dos argumentos dos dois protagonistas
em es do debate.
começamos, com Einstein. Poucos físicos durante sua
vid a zua posiçÍo quanto â MQ', e Max Bom' apesar da longa
arnizade com Einstein, certamente não era urn deles. Em 1948, Einstein escfeveu

,.Posso entender bastante bem por que você me considera um velho pecador obstinado'
mas sinto clafamente que você näo compreende como é que acabei viajando neste
para você
meu caminho solitário. Certamente o divertiria, embora fosse impossível
atitudc. Eu teria grande prazer em rasgar em pedaços o seu ponto
apreciar a minha
dc vista tilosófrco-positivista. Mas nesta vida é improvável que aþo lesultasse daí"124

t" V"r, por exemplo, Einstein 1936 e 1949.

"' V., Holton 1966 e L973, secção IL8' Fite, op' cít'
rB Þuro aþuns detalhes, ver Pais, op. cit-, pp' 909-910'
124 F,io*t"in 1948. Também citado em Jarnmer, op- cit.,p. 188
84 Haney R. Brown

APÈNDICE - Formalismo da Correlação entre Pøres de Sistem.as euânticos

Aqui apresentaremos uma descrição semi-rigorosa no formalismo de espaços


de Hilbert, para pares de sistemas que interagiram no pæsado.
O ponto de partida é um teorema importante de von Neumannr2s. Sejamlt¡,le¡
dois espaços de Hilbert (com dimensõesm, n, resp., não necessariamente iguais nem
finitas). segundo o teorema, para qualquer elemento ú que pertence ao produto
tensorial l(l Ø ltu, desses espaços, existe pelo menos um par de bases ortonormais,
{å¡} em lt¡ (i : l, ..., m),e{4¡} em ltn (i : l, ..., n),tal que se pode escrever V na
fo¡ma canônica:

v- k=l> r.
/or t* @nr (r)

onde os números c¿ são reais, c¿ à O, e g 4 min (m, n). Iæmbramos que dado um
par qualquer de bases ortonormais {ú¡} em lQ e {ó¡} eml(¡¡ podemos escrever

v: ,?¡î¡¡
úi@þ¡ (2)

onde os fi¡ sto números complexos. A diferença importante entre (l) e (2) é que
em (l) existe uma correspondência I I entre os elementos das bases, o que não é
o caso em (2),
Em quais condições é o par {Ei}, {n¡l em (l) único para ú?
Acontece que se todos os qk são distintos e não nulos, então o par é único
para !Ir. Caso contrário, o par não é único e, em particular, quando m : n (
-, e
todos os eñ são iguais, existe uma expansão canônica para v em termos de qualquer
par de bases ortonormais em lt¡ e l(ilt26.

r2t Von Neumann 1955, p. M2 e segs. Ver também Ba:llcca,et oI. l974,Bergiaet ol (1979)
t6
No caso de & !P: Ð Ct hØh onde os C¡ são complexos, e
satisfazer a express![o
onde {r/¡} e {@¿} øo bases em lQ e Xty (*rp.¡, . onde todos o, lc¿l; são þais, enrão,
como acima, a "expansão biortogonal" de V pode ser escrita em número infinito de
manei¡as. Ver Furry 1966, p. 50.
O Debste Einsten - Bolir sobre a Mecônica Qu/lnticø 85

Agora, vamos examinar as implicações deste resultado. Consideramos dois sisternas


quânticos I, II afastados entre si, mas que interagiram durante algum intervalo no
passado. O sistema I é associado ao espaço de Hilbert 7f¡, o sistema II ao ltfi, e
vamos pressupor que dim (ltÐ = dim (Ít¡¡). Geralmente, o elemento norrnalizado
Úl + n em ff¡@lt¡¡,que representa o estado puro do sistema composto I * II em
um dado instante depois da interação, não é fatorizável em um produto tensorial
de um elemento de ÍC¡ com um elemento delt¡¡. Mas, seTiz qualfor o estado út+ il
no instante em consideração, existem bæes ortonormais {f¡} emlt¡ e{r¡l emlt¡¡
tais que podemos expandir út * n çanonicamente:

út, tI s n*
E*@n* (3)
k

onde os coeficientes n¡ são reais e zk ) 0. Agora, se a história fiîica de I * II é tal


que nem todos os r¿ não-nulos são distintos, sabemos que existe pelo menos uma
outra expansã'o canônica :

úr+il: Ðr n*út@Q* (4)

onde { ú¡}, {Qil são bases ortonormaisen 1Q, ff¡¡ (resp.).


Ora, as bases {{r}, {ú¡} em lÇ e In*I, {Øl} em lt¡¡ sã.o os conjuntos de
autovetores de operadores autoadjuntos A, C, em lt¡ e B, D em lt¡¡ (resp.).
Podemos sempre achar tais operadores (com espectros puramente discretos) æm
degeneraçâ'o, e suponhamos que cada tal operador represente uma magritude ffsica
do sub-sistema em questãottt, qu" denotamos pela mesma letra.
Todo operador em Xt¡ comuta com todo operador em lt¡¡, no sentido de que,
por exemplo, [A@ l, I @B]:0 emlt¡@K¡¡ (l sendo o operador de identidade
nos dois espaços). Mas em geral, [4, C] + 0 em lt,¡, e [8, D] * 0 em K¡¡. Então,
os observáveis A e C não podem ser medidos simultâneamente em I, etc.

t27 Isso poderia ser questionável em alguns casos. Mas este problema não surge no caso EPR.
No argumento EPR, desenvolvido na linguagem da mecânica de ondas, A e C para I (e B e D
para II) representam posição e morlento, que säo operadores com espectÌos contínuos, e
portânto os somató¡ios acima aparecem como integrais. Nota-se que a funçlio cla onda
"biortogonal" no argumento de EPR não é normalizável. (Ve¡ Fvry, op. cit.).
86 Hamey R. Brown

Suponhamos que fazemos uma medida de A em I, e o resultado é a¡, onde


AËt = qëi. A equação (3) implica neste caso que o resrftado de uma medida
de B em II, feita imediatamente depois da medida em I, daria o resultado corelato
D¡, onde Bni = å¡ ?i. Geralmente, a maneira adotada para mostrar isso é através
instantâneo de lr¡.,¡¡ como'resr¡ltado da medida de A em 1
ür"#"ltöiî;iTrrï;,
medida r€d
úr*il: Ì nrE¡@nr út*rr: E¡Øn¡

Evidentemente, o estado reduzido *# ,, nos diz que o valor de B em II é o autovalor


ö¡ de B correspondente à autofiurção 4¡.
Contudo, vale a pena enfatizar que, na dada situação, a correlação entre A e B
(e portanto, utilizando a equação 4, entre C e D) pode ær estabelecida s€m recorrer
ao princfpio do colapso da função de onda no alto da medida. Basta calcular, utilizan-
Ao ì regra generalizada de Born, a probabilidade de obter, na medida de A @ B em
I + II, o resultado (a¡ b¡) a partir da expresão de ú¡ a ¡¡ em (3). Essa probabilidade
é dadl por nf ô¡¡, de modo que a correlação entre A e B é estabelecida rígorosa-
r29
mentel2!
l2t Este resultado depende da não degeneração dos operadores A, B, C, D. Para mais detalhes,

t2e ve¡ van Fraassen 1976.

J"J;ik:i fiil,:Í'##;
pa¡a um dado Ú þ.436), Po
demo¡ conclui¡ que, por volta de 193O von Neumann esteva familiarizado com os elemento¡
c¡ænci¡l¡ do fcnômcno atc EPR.
O Debate Einsten - Bohr sobre a Meaûnica Quôntica 87

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