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RIO DE JANEIRO
OUTUBRO/2014
1
APRESENTAÇÃO:
Nestes anos de contato com o ensino básico pude perceber que há uma metodologia de
ensino comum a cada área de ensino, como uma formula, tanto para ensino fundamental
quanto para o ensino médio. Tal constatação gerou a impressão de que o ensino é feito para
formar humanos semelhantes na forma de pensar, e isso leva a crer que não há
possibilidade de formar algo diferente do que já é formado pelo sistema educacional atual.
No pré-vestibular social eu busquei ensinar de modo diferente ao que encontrei nas escolas
de ensino fundamental e médio, procurei fomentar a autonomia e o pensamento crítico,
fazendo com que os vestibulandos, sob a incapacidade de aprender toda a história da
filosofia para uma única prova de vestibular, pudessem desenvolver mais do que apenas
um conhecimento estático, no sentido de conhecimento estéril aprendido com a única
finalidade de reprodução, mas sim um conhecimento que pudesse ser desenvolvido e
aplicado a toda e qualquer questão filosófica que encontrassem dentro de uma prova como
a que teriam pela frente.
2
conhecimento adquirido. Dai surgiu a questão que era sobre a possibilidade de transmitir
um conhecimento que não habita a memória, que seria a memória do esquecimento 1, que
para Sto. Agostinho é a causa da verdadeira felicidade, tema do segundo trabalho
mencionado.
Também participei do programa de iniciação cientifica pela PUC-Rio orientado pelo Dr.
Ludovic Soutif, com projeto, de minha autoria, intitulado “Identidade e valor cognitivo em
Frege”. Nesta pequena dissertação trabalhei para analisar e apresentar as principais
soluções para o chamado Frege’s Puzzle, que consiste em responder como se dá o
conhecimento através do principio de identidade entre dois objetos com nomes distintos,
que, porém, possuem a mesma referência.
Todas as pesquisas que conclui tinham como ponto final sua inserção como teoria do
ensino, bem vistas como pesquisas de cunho epistemológico. Tanto Agostinho de Hipona,
quanto Frege, em suas teorias que trabalhavam a linguagem com seus fins distintos, tinham
como ponto de interseção a possibilidade do conhecimento, a forma como o humano capta
e transforma um conhecimento livre no mundo em sua propriedade.
O projeto que apresento nesta ocasião tem pontos em comum com os projetos trabalhados
posteriormente, pretendo, assim como quando feito com o filosofo medieval, buscar
formas onde o éthos e o páthos possam trabalhar em conjunto para o melhor desempenho
do desenvolvimento humano. Relacionado a Frege, busco neste projeto um
desenvolvimento que me permita compreender melhor o devir, o que naturalmente gera
uma descontinuidade ao projeto baseado no filosofo alemão, pois a formalização
trabalhada pelo matemático gera algo semelhante à esterilização do devir como uma forma
de adestrar as possibilidades do conhecimento 2.
1
As Confissões, livro X, capítulos XVII ao XXIII.
2
“Sobre o Sentido e a Referencia”.
3
visa desenvolver uma pedagogia para o desenvolvimento singular do ensino, como prática
de encorajamento a um autodesenvolvimento, poderia ser desenvolvido com o Dr. Miguel
Angel Barrenechea.
INTRODUÇÃO
Essa felicidade que se dispõe a encontrar solução para as forças que agem no mundo,
tentando controla-las todas de uma única vez, mesmo que com a promessa de uma vida
vindoura perfeita e feliz 4, foi o que Nietzsche atacou. A vontade diante de tal perspectiva é
direcionada para um mundo, que mesmo que existisse, não teria o que caracteriza a vida, o
movimento a efemeridade. Esta enganação aprisiona o que de fato é a vida com soluções
simples, praticas, igualitárias e ressentidas 5. Diante do ideal cristão, da universalização da
ideia e das ciências, se cria o apequenamento do mundo e o torna superável. Para esses
ideias se cria mecanismos que homogeneízem o humano, que o guie para um ideal de
valores para além de si, "para manter a vida em coletividade, todos os membros do grupo
viram-se obrigados a empregar as designações usuais convencionalmente estabelecidas” 6.
Das forças que tal sistema se dispõe a controlar está a vontade do homem. Aprisionado em
tal crença, coagido a ser contra sua própria natureza o homem perde o que lhe torna único e
inegavelmente notável em todo ser vivente. Há, inerente à condição humana, o caráter
trágico, o devir, a singularidade natural garantida pelo movimento e que nos permite a
3
ZA, Prologo, 3.
4
Miguel A. de Barrenechea, 2001.
5
Miguel A. de Barrenechea, 2012.
6
Scarlett Marton, 2000.
4
liberdade, a liberdade da vontade. Giacoia afirma que “a liberdade da vontade humana só
pode significar a propriedade ou condição de tornar-se causa adequada das próprias
volições e ações” 7, diante de uma existência que não se repete, única e contingente em si.
Nietzsche reconhece que diante da multiplicidade infinita há no amago de cada ser
argumentos que sugerem não haver repetição da existência de um ser único 8. E isso nada
mais é que caráter essencial à vida. O devir nos faz únicos.
A negação à vida é a negação ao devir, compreender que a vontade é guia para a formação
do individuo em sua singularidade foi parte da obra de Nietzsche, que anuncia a liberdade
da vontade no prologo de Assim falou Zaratustra. Como preservar a vontade para que se
mantenha singular? Zaratustra após conseguir seguidores, os abandona para seguir pelo
caminho da solidão 9. A vontade precisa da solidão para se manter singular, para que não se
torne a vontade do mestre e o caminho para purifica-la é a solidão. Nietzsche reconhece tal
pratica como essencial para o desenvolvimento de Schopenhauer 10.
Mas então vejo bem que vocês não sabem o que é a solidão. Em todo lugar onde
houve poderosas sociedades, governos, religiões, opiniões públicas, em suma,
em todo lugar onde houve tirania, execrou-se o filosofo solitário, pois a filosofia
oferece ao homem um asilo onde nenhum tirano pode penetrar, a caverna da
interioridade, o labirinto do coração: e isto deixa enfurecido os tiranos. (SE, III)
Diante dos valores vigentes é possível ver que há um encarceramento das vontades em
função das instituições que criam e prosperam esses valores. A vontade do homem, nesta
sociedade, serve a uma vontade maior que o castra de suas próprias volições em pró de
estabilidade e homogeneidade. O sistema educacional é isso, uma fabrica que repete o
discurso, perpetuando valores e que se caracteriza pela primazia de formar cidadãos,
legitimado pelo Estado 11.
OBJETIVO
7
Giacoia Jr., Oswaldo. 2011.
8
SE, I.
9
ZA, II, Da Virtude Dadivosa, III.
10
SE, III.
11
Lei de Diretrizes e Bases.
5
buscar: 1) Propostas teóricas sobre a liberdade da vontade, com isto entender melhor os
conceitos acerca do tema, como vontade, poder e liberdade, com isso permitir que o ser
possa direcionar suas forças para tornar a si mesmo 12. Para isso será necessário outra
investigação, 2) a genealogia da má consciência, tendo esta como ponto de partida para o
diagnostico de existência de traços que nos permita reconhecer a existência da vontade.
Tendo em vista que os “últimos homens” caracterizam se pela ausência de vontade,
analisar 3) como se dá a “morte” da vontade. Após conseguir definir as forças que agem
sobre a liberdade da alma trabalharei para descrever a 4) educação superior, a fim de
libertar a vontade, buscando argumentos na solidão, proposta por Zaratustra, para traçar
um perfil educacional.
ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA
Este projeto irá, invariavelmente, discutir teses propostas por autores de maior relevância
neste cenário. Para isso será feito o levantamento de uma bibliografia capaz de responder
todas as questões, pretendo cumprir este primeiro estágio nos primeiros 6 meses, com a
inclusão os exclusão de referências, se houver necessidade, ao decorrer do projeto.
O ultimo ano será reservado para a elaboração da dissertação, este período extenso se dá
por minha preferência em escrever, revisar e reescrever o objeto proposto, tendo em vista
todas as apropriações possíveis da obra de Nietzsche, também é necessário algum tempo
12
Heidegger; 2007.
6
para meditar sobre o tema de forma mais profunda. A dissertação será de cunho teórico,
totalmente dentro da obra do autor alemão
BIBLIOGRAFIA INCIAL:
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Tradução: Alex Marins. São Paulo:
Martin Claret. 2010.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Tradução: Jean Melville. São Paulo: Martin
Claret. 2010.
NIETZSCHE, Ecce Homo. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret. 2007.
BARRENECHEA, Miguel Angel de. “Nietzsche: Para uma nova era trágica.” In: Assim
falou Nietzsche III: Para uma filosofia do futuro. Rio de Janeiro: 7Letras. 2001. P. 116 –
125.
DELEUZE, Gilles. Nietzsche. Tradução: Alberto Campos. Lisboa: Edições 70. São Paulo:
Martins Fontes. 1981.
7
DELEUZE, Gilles. Nietzsche e a Filosofia. Coleção: SEMEION. Tradução: Edmundo
Fernandes Dias e Ruth Joffily Dias. Rio de Janeiro: Ed. Rio. 1976.
GIANCOIA Jr., Oswaldo. “Amor dei e amor fati”. In: Revista Trágica: estudos sobre
Nietzsche. Rio de Janeiro, Vol. 4, nº 2, 2011. P. 75 – 94.
SCARLETT, Marton. “Só acreditaria num deus que soubesse dançar”. In: Assim falou
Nietzsche II: Memória, tragédia e cultura. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 2000. P. 143 –
154.