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ARTIGO ARTICLE S419

Paradoxos da humanização
em uma maternidade no Brasil

The paradoxes of humanized childbirth care


in a public maternity ward in Brazil

Carmen Susana Tornquist 1,2

1 Departamento de Abstract The maternity ward of the University Hospital in Florianópolis, Santa Catarina,
Fundamentos da Educação,
Brazil, attempts to follow World Health Organization guidelines for humanized childbirth care,
Universidade do Estado
de Santa Catarina. including the encouragement of non-surgical delivery, breastfeeding, rooming-in, extended fam-
Av. Madre Benvenuta 2007, ily visitation, and reduction of excessive technological intervention in the delivery process. The
Florianópolis, SC
study focuses specifically on the choice of delivery procedure and on family presence during la-
88035-001, Brasil.
2 Programa de Pós-graduação bor/childbirth, as well as women’s experience with labor and breastfeeding.
em Antropologia Social, Key words Childbirth; Ethnography; Motherhood; Humane Assistance
Universidade Federal
de Santa Catarina. C. P. 476,
Campus Universitário, Resumo A Maternidade do Hospital Universitário em Florianópolis, Santa Catarina, Brasil,
Florianópolis, SC procura seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde no sentido da humaniza-
88040-900, Brasil.
carmentornquist@hotmail.com
ção da assistência ao parto, entre elas: o incentivo ao parto vaginal, ao aleitamento materno, ao
alojamento conjunto, à presença de acompanhante e à redução do excessivo intervencionismo
tecnológico no processo do parto. Neste artigo, são analisadas as diferenças relativas ao público
que a ela acorre: mulheres de classes médias e de grupos populares. A análise busca observar as
diferenças entre estas usuárias no que tange à escolha de acompanhante e experiências de dor e
de amamentação.
Palavras-chave Maternidade; Etnografia; Parto; Humanização da Assistência

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(Sup. 2):S419-S427, 2003


S420 TORNQUIST, C. S.

Introdução Metodologia

O modelo de atenção ao parto hegemônico no Trabalhou-se basicamente com observação


Brasil tem sido denunciado crescentemente por participante, realizada dentro da Maternidade,
profissionais e movimentos sociais, articulados fundamentalmente no Centro Obstétrico (CO)
em torno de um conjunto de valores e práticas e Alojamento Conjunto (AC), e seguindo as exi-
identificadas pela noção de humanização da gências da Resolução 196/1996, incluindo o
assistência ao parto e ao nascimento. Entende- Consentimento Informado das parturientes,
se aqui por ideário da humanização o conjunto que aqui são referidas por meio de nomes fictí-
de recomendações que a Organização Mun- cios. Observamos também as normas do Códi-
dial da Saúde vem adotando nas últimas déca- go de Ética da Associação Brasileira da Antro-
das, subscrito por organizações civis, como por pologia. A observação participante seguiu as
exemplo, a Rede de Humanização do Parto e do diretrizes de Gilberto Velho (1987) e Roberto
Nascimento. Segundo Diniz (2001), estas dire- Da Matta (1974), ou seja, adaptando o método
trizes sintetizam um conjunto importante de antropológico clássico para as sociedades ur-
pesquisas sobre parto no mundo inteiro e es- banas modernas. Foram feitas entrevistas se-
tão contidas em diversos documentos, entre midiretivas com estas parturientes, já no AC,
eles: Care in Normal Birth: A Pratical Guide além de duas entrevistas na perspectiva da his-
(WHO, 1996) e World Health Day: Safe Mother- tória oral, estas realizadas fora da Maternidade
hood (WHO, 1998), e fazem uma importante e depois do puerpério, todas analisadas com
crítica à excessiva medicalização do parto, base em análise de conteúdo temática, segun-
orientado pelo modelo tecnocrático da assis- do Blanchet & Gotman (1992).
tência, no sentido que lhe atribui Davis-Floyd Foram considerados 27 casos, desde o tra-
(1992). Este modelo é apontado como um dos balho de parto até o pós-parto. A observação
responsáveis pelas altas taxas de mortalidade participante foi feita durante nove meses no
materno-infantil em vários países, pelo desres- ano 2000, sendo que nos primeiros meses fo-
peito aos direitos reprodutivos e sexuais das ram feitas observações gerais, abarcando múl-
mulheres, e pela redução de um evento social, tiplos aspectos do cotidiano da Maternidade, a
cultural e de saúde a um fenômeno patológico, partir do quais foram selecionados os princi-
médico e fragmentado. No bojo desta crítica, a pais tópicos que no campo vinham ao encontro
epidemia de cesárea aparece como exemplo das indagações teóricas acima citadas. Procu-
paradigmático da excessiva intervenção tecno- rou-se observar mulheres de diferentes origens
lógica sobre corpo e dinâmicas das mulheres. sociais, com vistas a perceber em que medida a
No Sul do Brasil, uma das experiências vis- proposta da Maternidade atendia às expectati-
tas pelo movimento em prol da humanização vas de diferentes classes sociais que acorrem a
como bem-sucedida é a Maternidade do Hos- este Hospital, notadamente camadas médias e
pital Universitário (HU) da Universidade Fede- classes populares, uma vez que a literatura an-
ral de Santa Catarina, situada em Florianópo- tropológica tem apontado para significativas
lis. Fundada em 1995, acumula dois títulos im- diferenças culturais entre estes setores, parti-
portantes, indicados pelo Ministério da Saúde: cularmente no que tange aos significados que
Hospital Amigo da Criança e Prêmio Galba atribuem à maternidade, à família e às crian-
Araújo, conferido àquelas Maternidades que ças, à gravidez e parto, à saúde e à doença. Fo-
prestam uma assistência humanizada, em fun- ram estabelecidos quatro temas centrais para
ção de critérios tais como: estímulo à amamen- comparar estes grupos: representações de ma-
tação e ao vínculo precoce, incentivo ao parto ternidade, escolha do tipo de parto, escolha de
normal e vertical, presença de acompanhante acompanhante, e experiência e manifestações
escolhido pela mulher para o processo do par- da dor.
to, entre outros.
Foi nesta Maternidade-escola que realiza-
mos a presente pesquisa, tendo como eixo as A Maternidade
seguintes indagações: até que ponto a humani-
zação da assistência garante os direitos huma- A Maternidade conta com 22 leitos e atende
nos às mulheres, direitos que são sexuais e re- uma média de 1.700 partos por ano, sendo que,
produtivos? Como a instituição trata as diferen- em 2000, ano em que realizamos a pesquisa, de
ças culturais e sociais das suas usuárias? E, fi- um total de 1.767 partos, 31% foram cesáreas e
nalmente, será realmente possível, num hospi- 69% foram normais. Nesse ano, em que rece-
tal público, marcado pelo peso da tradição hi- beu o Prêmio Galba Araújo, a média de partos
gienista, efetivamente humanizar a assistência? verticais (em cadeira de cócoras) atingiu 50%.

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Nesta maternidade estão institucionaliza- e um equipamento que permite fazer uma ce-
das várias rotinas que fazem parte do ideário sárea de emergência. Ao lado desta, situa-se a
da humanização: cursos de preparação para o sala de neonatologia, que pode ser vista atra-
parto, direito da parturiente a um acompanhan- vés de uma grande vidraça que a separa da sala
te de sua escolha (durante todo o processo do de parto. A Sala de Cirurgia é apenas indicada,
parto), opção de parto de cócoras, alojamento uma vez que o recurso à cesárea é limitado às
conjunto, estímulo a técnicas mecânicas de alí- situações excepcionais. A apresentação do es-
vio da dor (massagens, banhos, deambulação), paço físico é acompanhada de explicações por
uso cauteloso de indução intravenosa (ocitoci- vezes detalhadas dos procedimentos e de algu-
na), analgesia e episiotomia, bem como aboli- mas de suas razões. É o caso da cadeira de par-
ção da prática de enema e tricotomia. to de cócoras, sobre a qual é feita, em geral,
Não entraremos aqui nas complexas ques- franca publicidade, visando a incentivar sua
tões que envolvem a organização do serviço, as escolha. É importante destacar que ainda que
diferenças relativas à formação profissional e nem todos os profissionais, particularmente
às relações de poder e de gênero que atraves- médicos, sejam adeptos do parto vertical (de
sam a equipe de atendimento, uma vez que o cócoras, na acepção das enfermeiras e das par-
foco deste artigo é tratar das experiências das turientes), há uma adesão crescente a esta al-
parturientes e das diferenças culturais que se ternativa. O número de partos verticais, um
fazem presentes nas interações com a equipe. dos importantes critérios de humanização, tem
Deve-se registrar que, apesar da institucionali- crescido significativamente: de 5,5% do total
zação de práticas humanizadoras, persistem de partos em 1996, passou para 28,30% em
heterogeneidades no atendimento, havendo 1998, chegou a 50% em 1999, atingindo 60,52%
significativas variações sobretudo entre o cor- em 2001. Os médicos argumentam que a posi-
po médico, dotado de maior margem de auto- ção vertical é a mais fisiológica e facilitadora
nomia e poder do que a equipe de enferma- do período expulsivo, mas é efetivamente a
gem, esta mais permeável às modificações de equipe de enfermagem que traduz esta versão
tipo humanizador. para a linguagem cotidiana, tradução esta que
A organização do HU onde se situa esta Ma- é feita de forma muito convincente, articulan-
ternidade insere-se no padrão moderno da clí- do razões médicas, metáforas e exemplos do
nica médica, analisada por Foucault (1988), senso comum, facilmente compreendidas pe-
com sua hierarquia e divisão do trabalho, seu las mulheres. Dos 18 partos verticais observa-
afã pela observação, pelo registro, pelo esqua- dos nesta pesquisa, nove foram fruto de esco-
drinhamento de mentes e de corpos. Também lha prévia e a outra metade feita após a visita-
para Foucault (1985), a Clínica Médica é um lu- ção da sala de parto.
gar central do biopoder, lugar onde se produ- As mulheres de classes populares não de-
zem discursos sobre a sexualidade e o compor- monstram maior preocupação quanto ao tipo
tamento da população, com forte imbricação de parto mesmo quando acatam a sugestão da
com os dispositivos de poder estatal na socie- equipe. Já as mulheres de classes médias, ao
dade moderna. contrário; a forma de parir tem uma importân-
cia grande: o parto de cócoras aparece para elas
como um ponto central no planejamento do
Diferentes escolhas: parto, sendo um das razões mais referidas pela
tipo de parto e acompanhante escolha pelo HU, como é o caso de Júlia: “quan-
do eu soube que tinha a tal cadeira, decidi: vai
A admissão da parturiente no CO obedece a ser no HU de qualquer jeito”.
um ritual bem demarcado: após a colocação do O parto e cócoras é visto tanto pela equipe
avental na nova hóspede e seu acompanhante, quanto pelas mulheres de camadas médias co-
uma enfermeira ou auxiliar se encarrega de mo um ideal a ser atingido, um signo da mu-
despi-los de suas roupas e paramentá-los com lher valente ou da boa parideira: suas protago-
aventais, pró-pés e toucas apropriadas para en- nistas são congratuladas pela equipe pelo seu
tão, iniciar o chamado “tour pelo Centro Obsté- feito. Este parto é chamado pela equipe de saú-
trico”, onde serão mostrados espaços e proce- de de “parto de livro”, e corresponde ao que
dimentos dos quais a parturiente será, em bre- Fonseca (1997), denomina de “belo parto”, um
ve, protagonista. A visita começa nos quartos parto tido como exemplar. No entanto, nem
do Pré-parto e segue para a Área Restrita, onde sempre a escolha corresponde à realidade: não
existem duas salas de parto; em uma delas ha- raro, em função de complicações diversas, a
vendo apenas a mesa de parto normal, na ou- adepta do belo parto vê-se diante da urgência
tra, a cadeira de cócoras, a mesa convencional de uma cesárea, experiência que resulta inva-

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riavelmente em expressões de frustração e in- Para as mulheres populares, o acompa-


capacidade: “ela não conseguiu ter de cócoras”, nhante escolhido nem sempre é o pai do bebê,
lamenta, por exemplo, um acompanhante cuja sendo preferida com freqüência uma mulher
mulher participara do curso de gestantes ofe- da rede de parentesco: mãe, cunhada, irmã, e,
recido pelo HU. É o caso de Fabiana e de Zilda, eventualmente, uma amiga. Do universo obser-
que, apesar de terem se preparado ao longo da vado na pesquisa, e considerando as 18 partu-
gestação para um parto de cócoras, viram-se rientes de classes populares, encontramos 11
surpreendidas pela urgência de um parto ci- acompanhantes mulheres, mas também a pre-
rúrgico, o que lhes provocou muita frustração. sença dos companheiros (sete casos). Estas
Para as mulheres de camadas médias, a cesá- acompanhantes costumam estar presentes em
rea significa o revés do belo parto, um fracasso todo o período do pré-parto e parto, permane-
a ser lamentado, observação que aparece tam- cendo menos tempo e de forma descontínua no
bém nas etnografias feitas por Fonseca (1997), alojamento conjunto, tal como acontece quan-
na França e por MacCallum (1997), na Bahia. do o acompanhante é o companheiro.
Entre as mulheres de classes populares, o re- O recurso à troca de lugar do acompanhan-
curso à cesárea apenas é malvisto em função te homem com outra mulher da rede de paren-
do medo e desconfiança da cirurgia e pelas di- tesco é muito comum entre as famílias popula-
ficuldades que acarreta no pós-parto. res ainda quando se está no Pré-parto. Em vá-
Outro direito das parturientes é a livre es- rias ocasiões ele entra com a mulher, e depois
colha de um acompanhante, institucionalizada de um tempo, no Pré-parto, procuram se au-
desde sua inauguração, e que atende às reco- sentar, alegando ter de ir buscar a sacola de
mendações da Organização Mundial da Saúde roupas do bebê em casa, ou de cumprir com al-
(OMS): “uma parturiente deve ser acompanha- guma tarefa ligada ao trabalho. Os homens ar-
da pelas pessoas em quem confia e com quem se gumentam não ter “estômago” para coisas de
sinta à vontade: seu parceiro, sua amiga, uma hospital, não suportar ver dor e sangue, admi-
doula ou enfermeira-obstétrica” (WHO, 1998:13). tindo ter medo e ficarem nervosos no ambien-
Se inicialmente esta iniciativa foi vista com te hospitalar, depositando plena confiança nos
reservas por parte dos profissionais, esta resis- médicos e nos procedimentos adotados pela
tência foi rapidamente desfeita e hoje a pre- equipe. Neste universo, gravidez, parto e bebês
sença do acompanhante leigo no cotidiano da são um assunto de mulheres, como observam
Maternidade é mesmo incentivada pela equi- estudos sobre famílias populares no Brasil ur-
pe, que vê neste personagem uma fonte segura bano atual. No entanto, percebe-se que mesmo
de suporte emocional e apoio na facilitação do neste universo popular, há casais mais identifi-
trabalho de parto (massagens, banhos, respira- cados com o universo moral das camadas mé-
ção), muitas vezes assumindo pequenas tare- dias, particularmente aqueles que apresentam
fas que caberiam às auxiliares. Na sala de par- maior escolaridade.
to, sua atuação é menor, porém, não inexisten- É importante sublinhar o papel que têm as
te, particularmente após o nascimento do be- auxiliares de enfermagem, a quem cabem os
bê, quando é convocado a participar dos pri- encaminhamentos relativos ao acompanhante.
meiros cuidados, incluindo aqueles relativos à Estas compreendem bem as dificuldades do co-
amamentação, que já se iniciam no pós-parto tidiano das famílias, com quem parecem com-
imediato e se estendem até o AC. partilhar experiências e modos de vida simila-
Percebemos diferenças quanto ao significa- res: sensíveis às dificuldades de permanência
do atribuído ao parto: entre os casais de clas- do acompanhante oficial e suas desistências,
ses médias é usual o costume de registrar foto- por exemplo, colocam em prática a idéia de
graficamente o parto, ou mesmo filmá-lo. A ên- “flexibilizar rotinas quando necessário”, pre-
fase no registro do parto é expressão de uma sente na filosofia da Maternidade. Esta flexibi-
centralidade do momento do nascimento co- lidade é o que permite a saída dos companhei-
mo início de uma trajetória biográfica do bebê. ros que, diante da iminência do parto, não raro
Seu sexo já é conhecido e o nome está definido solicitam a troca de acompanhante, apoiados
antes do parto, reforçando a idéia de que o feto pelas mulheres. O caso de Silvana é exemplar
já é uma pessoa com uma individualidade, o neste sentido: sua mãe substituiu o marido,
que não acontece senão como exceção entre as que subitamente decidiu buscar a sacola de
mulheres das classes populares. Dada uma con- roupas do bebê em sua casa, distante cerca de
cepção outra que não a do pai grávido, circuns- 30km dali, sem levar em consideração as insis-
critos entre as classes médias e entre os profis- tentes informações da equipe de que a mater-
sionais. Aqui, é quase sempre o homem, pai do nidade costumava oferecer as primeiras mudas
bebê, o acompanhante eleito. de roupa aos recém-nascidos. Mas esta flexibi-

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lidade prática não altera a concepção idealiza- 50, postulava-se o parto sem dor viabilizado
da de quem deve ser o acompanhante, que é, pelo método psicoprofilático do Dr. Lamaze;
sempre, o pai da criança. Quando um destes nos anos 70, entraram em cena técnicas orien-
abandona seu posto, é alvo de comentários, pia- tais, místicas e psicológicas de preparo para
das e chacotas: “diz pro teu marido que ele é que o bebê nascesse sorrindo e para que a mu-
um frouxo, não vir assistir um parto lindo des- lher sentisse prazer no momento de dar à luz.
tes”, ou ainda “teu marido fugiu da raia, é?” e Dar à luz de uma forma não-violenta ficou co-
“O pai ficou com medo de ver o filho nascer, é?”. nhecida pelos livros de Frederik Leboyer, mé-
Mas as mulheres destes homens não espe- dico que escreveu livros sobre o tema, até hoje
ram que eles assistam ao parto, manifestando referenciados pelos adeptos da humanização
estranheza quanto à excessiva preocupação da da assistência.
equipe com a presença do marido. Lisiane, por As propostas de humanização do parto re-
exemplo, explica à equipe porque não insiste cuperam uma parte do repertório de técnicas
para que o marido entre: “ele não ia agüentar, de alívio da dor, sobretudo aquelas considera-
deixa ele esperando lá fora”. Outro caso é o de das mais naturais e menos invasivas: as pro-
Ana, que diante da pergunta da equipe sobre postas técnicas (mecânicas, psicológicas, espi-
onde está o marido, explica: “deixa a mãe en- rituais) indicam o reconhecimento desta dor
trar, que isto não é coisa para homem”. inerente ao processo fisiológico, e a necessida-
Se as classes populares não compartilham de da mulher saber enfrentá-la. A presença do
da idéia de que o marido deva acompanhar o acompanhante, o suporte emocional, as técni-
momento do parto, não significa que não espe- cas de alívio, o apoio da equipe, não são, con-
rem dele um outro tipo de envolvimento: bus- tudo, suficientes para eliminar a experiência da
car e levar a parturiente (e bebê) para casa, tra- dor, experiência esta que não apenas se rela-
zer visitas à Maternidade, buscar roupas, avi- ciona com a subjetividade de cada mulher,
sar os parentes. Já a escolha do acompanhante mas, mais ainda, com a própria forma como
para o parto recai sobre mulheres da rede de pa- esta dor é construída pela cultura.
rentesco, envolvendo a valorização da identi- Sabemos que a dor, como as doenças, não
dade de gênero e a experiência: são escolhidas são apenas manifestações universais de pro-
mulheres que já tiveram filhos, experiência que cessos orgânicos, mas construções simbólicas
é invocada e respeitada na hora do trabalho de que variam conforme os contextos sociocultu-
parto e do parto. rais e a própria subjetividade do doente, con-
Pesquisas socioantropológicas com classes forme sugere Le Breton (1995), entre outros. Se
populares urbanas como as de Sarti (1997), Fon- não é possível separar os aspectos culturais da
seca (1996) e Paim (1998), mostram que neste dor dos aspectos orgânicos, também não se po-
universo a maternidade é um elemento decisi- de falar em uma mensuração universal da dor.
vo de identidade feminina, o parto sendo um Muitos antropólogos argumentam que se trata
rito de passagem para a condição de adulta, no de uma expressão obrigatória dos sentimentos,
qual a mulher é investida de poder e autorida- no sentido proposto por Mauss (1979), um con-
de, em função de ter adquirido um saber res- junto de expectativas sociais que constróem a
peitável e inacessível aos homens. Dados simi- própria forma com que cada indivíduo viven-
lares aos encontrados nesta Maternidade apa- cia a morte, a surpresa, a guerra, o sofrimento,
recem em estudo recente sobre os partos am- a alegria e as dores. Se partimos da concepção
bulatoriais realizados na Favela Monte Azul, de que as manifestações das emoções são cons-
em São Paulo: lá, as acompanhantes preferidas truções culturais, percebemos que, também na
pelas parturientes eram outras mulheres do seu instituição hospitalar, diferentes concepções
círculo de parentesco, em contraste ao desejo de dor estão em jogo, sendo que a parturiente
das mulheres de camadas médias, que invaria- está em estado liminar, pois é ela (e seu corpo)
velmente escolhiam o companheiro para esta que atravessa esta experiência. No entanto, es-
função (Hotimski & Alvarenga, 2002). ta concepção da doença enquanto expressão
sociocultural e variável das doenças (illness)
não é compartilhada pela biomedicina, que
Expressões da dor tende a sublinhar as manifestações orgânicas,
universais e quantificáveis, e esta é a concep-
Tentativas de diminuir as dores do parto não ção predominante entre a equipe de saúde da
são novidade na obstetrícia: no século XIX, não Maternidade.
raro se recorria ao ópio; já no século XX, à anal- Este estado é vivido no hospital, em geral,
gesia ou à cesariana. No campo das correntes de forma bastante controlada: as mulheres de-
críticas da obstetrícia convencional, nos anos monstram uma grande preocupação com sua

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performance em termos do controle das emo- cuta desta dor, se estabelece uma negociação
ções, procurando expressar sua dor dentro de em torno do seu sentido. A legitimação da dor
parâmetros considerados adequados, que con- num contexto que a princípio lhe é adverso, es-
sistem em: não gritar, não entrar em desespe- tabelece uma comunicação de mão dupla, re-
ro, obedecer às ordens médicas, acatar os con- verso do que acontece quando o profissional
selhos da equipe. A expressão de certas emo- reduz a dor à sua dimensão orgânica, univer-
ções relativas ao parto tem contornos bem de- sal; não há negociação possível, mas sim, im-
finidos dentro do CO: enfrentamento adequa- posição e violência. O caso de Mariana é exem-
do da dor supõe a evitação do escândalo, da plar da ausência de uma negociação de sentido
gritaria, das expressões de desespero, descon- para as dores.
trole e descompensação, este último sendo o Após olhar o resultado da cardiotocografia,
termo preferido pela equipe. Este comporta- o médico o informa à parturiente:
mento ideal é compartilhado pela equipe e pa- “– Mas eu estou morrendo de dor! Não posso
cientes, no entanto nem sempre estas man- mais! Elas são fortes!” (Mariana).
têm-se nos limites destas expectativas. É o caso “– Não, não são, é só olhar no aparelho que
de Camila, primípara, 23 anos, acompanhada está tudo escrito aqui” (médico).
da mãe: ela grita cada vez mais fortemente com Logo depois, o médico anuncia à equipe:
o avanço das contrações, para, a cada intervalo “vamos ter que fazer uma cesárea”.
entre uma dor e outra e diante dos olhares aten- “– Mas ... Doutor!” (Mariana).
tos e assustados da equipe, pedir perdão pelo “– Tu quer saber o quê?” (médico).
seu descontrole: “Gente, vocês me desculpem, tá, “– Queria fazer uma pergunta...” (Mariana).
eu sei que não devo gritar, desculpem, mas dói “– Tu quer saber o tamanho do corte?” (mé-
demais. Desculpem, desculpem!” (grifos meus). dico).
Uma mulher que ultrapassa os limites do “– Não, não, eu não queria saber nada,
comportamento esperado será chamada de não...” (Mariana).
descompensada e responsabilizada pela pro- “– Eu te avisei que ia doer, lembra?” (médico).
moção de estresse no ambiente. Estas situações A desconsideração do médico pelo relato
geram forte tensão entre os profissionais e le- da dor desta parturiente revela a ausência da
vam, não raro, a mudanças no andamento do negociação da dor. É bem verdade que o médi-
parto: são tomadas decisões imprevistas, tanto co em questão – assim como outros na mesma
em termos de aceleração do trabalho de parto, equipe – aceitam as particularidade da institui-
quanto ao tipo de parto. A descompensação re- ção, sem no entanto aderir totalmente a ela. O
mete a este estado de desequilíbrio e perda da importante a reter aqui é que as situações de
consciência, fazendo eco a outra das categorias descompensação são justamente aquelas nas
muito utilizadas pela equipe médica, que é o quais o respeito ao processo fisiológico da mu-
termo mãezinha. Este termo somente é utiliza- lher e a suas decisões é substituído pela deci-
do nos momentos da tensão gerada pela des- são médica convencional: sem explicações, sem
compensação, não sendo comum em outras si- margem de negociação, com desqualificações
tuações, à exceção do AC, onde aparece como e infantilização das parturientes. São sempre
categoria comum no discurso da amamentação. as situações nevrálgicas que suscitam desres-
Entre a equipe de enfermagem, majorita- peito aos diretos e violência simbólica.
riamente composta por mulheres, comenta-se As dificuldades de enfrentar as situações de
bastante a situação de dor e acerca do que é ser descompensação (ou de expressões inusitadas
uma mulher: “a mulher tem que ter uma certa de dor e de sofrimento) por parte da equipe, a
idade para poder passar por esta dor”, “dizem dificuldade de reconhecimento das mesmas e
que a mulher regride, volta a ser criança na ho- a tomada de decisões precipitadas por dificul-
ra do parto”. Também circula a idéia, bem co- dades de negociação entre os sujeitos envolvi-
nhecida entre grupos onde o catolicismo é for- dos, não é de modo algum insignificante para
te, de que as dores do parto são parte intrínse- uma instituição que pretende respeitar os di-
ca de sua identidade de gênero, e que seu en- reitos das mulheres. Percebe-se o quão mais
frentamento resignado é parte das atribuições complexo do que mensurar o tipo de partos e
femininas. Alzira, auxiliar que costuma prestar as rotinas institucionalizadas é a avaliação qua-
muito apoio às mulheres no trabalho de parto, litativa da assistência oferecida: a escuta da dor
diz para a paciente: “eu não vou dizer que não – ou seja, o respeito às suas expressões, certa-
dói que é mentira, mas é dor que logo se esquece mente variáveis, é um dos pontos muito impor-
(...) Mulher é que sabe o que é sofrer”. tantes da humanização da assistência, e que
Quando a parturiente e profissionais parti- implica o respeito aos direitos sexuais e repro-
lham da idéia de que a dor é legítima, e há es- dutivos das mulheres.

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HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO S425

Mãe que amamenta amamentar, sendo esta uma das suas piores
lembranças da Maternidade, destacando os es-
Nos corredores e salas da maternidade encon- forços da equipe para que ela amamentasse e
tramos uma profusão de cartazes e painéis re- envolvendo o marido ativamente no processo:
lativos aos direitos da mãe de amamentar e ao “se eu não quero passar por aquilo de novo, que
direito da criança de mamar ao peito. A ima- dirá o meu marido”.
gem recorrente é a de um bebê mamando ao Outra experiência dramática é a de Marta,
seio da mãe, na qual se destaca a presença ati- cujo leite empedrou após uma cesárea impre-
va do pai e a participação de um irmão ou ir- vista: “(...) Ninguém queria ouvir minha dor, eu
mã, retratando uma família nuclear branca, ti- urrava de dor para dar ao meu filho leite de
picamente de classes médias e o ideal do casal conta-gotas, ao lado de uma camponesa que fa-
grávido e do pai cuidador, pautado por valores zia jorrar leite seios abaixo. Era obrigada a fazer
da família nuclear e moderna, de moral indivi- isto, e não tinha conversa.(...) o que me salvou
dualista, como sustenta Salem (1987). foi uma mulher, enfermeira, uma anja do ban-
Entre todas as parturientes o desejo de ama- co de leite, que me viu ali, acabada, desespera-
mentar está presente, ficando clara a satisfação da, era uma anja, entendeu a minha dor. – Ei,
diante da rotina de iniciar o processo ainda no calma, tu pensa que tu é uma Joana Darc? Per-
CO. Em apenas dois casos observou-se um de- guntou o que eu tinha. – Eu só quero sossego, 15
sinteresse inicial, no pós-parto, quanto a esta minutos de sossego, por favor. Ela fechou o ban-
tarefa. Mas é no AC que se instaura definitiva- co de leite eu fiquei ali, quietinha, dormi, me re-
mente o tempo de amamentar; lá, enfermeiras cuperei”.
e auxiliares serão incansáveis no ensino e no Estes depoimentos chamam a atenção a va-
auxílio no manejo dos seios e mamilos, na orde- lores centrais do ideário do parto humanizado:
nha, na posição adequada e nos cuidados adi- as noções de amamentação natural e vínculo
cionais quando há dificuldades na amamenta- mãe/bebê/pai. Desde o século XIX, a amamen-
ção. Muitas dessas profissionais usam camise- tação foi vista como ponto crucial no processo
tas onde estão estampados “Os Dez Passos da de constituição da figura higiênica da mãe, e
Amamentação”, presentes nos inúmeros pai- não foram poupados esforços de autoridades
néis e cartazes ao longo dos corredores, reple- para viabilizar o aprendizado e o exercício des-
tos de recomendações e conselhos no mesmo te dever cívico da mulher. No entanto, em que
sentido. A alta da mãe e do bebê estará condi- pesem os argumentos em contrário, a amamen-
cionada, entre outras coisas, a um bom enca- tação não é um instinto nem um ato puramen-
minhamento da amamentação. te biológico, é também, e sempre, um processo
Mas se boa parte das mulheres observadas social. As situações de dificuldades e conflitos
compartilham do ideal da amamentação e fa- na amamentação remetem a uma reflexão im-
zem questão de mostrar sua concordância com portante: se tomado como uma norma rígida,
as iniciativas da instituição nesta espécie de o incentivo à amamentação deixa de ser um di-
pedagogia da amamentação, nem sempre este reito da mulher, tornando-se um dever norma-
desejo resulta numa experiência bem-sucedi- tivo e disciplinador. Estamos diante de dois su-
da ou prazerosa: não raro se vê mulheres atra- jeitos de direitos: o bebê, que tem direito à ama-
vessando problemas no aleitamento, que se mentação, e a mulher, que tem direito de deci-
transformam em verdadeiros dramas pessoais, dir sobre seu próprio corpo. Como apontam
como o caso de Zilda, que relata, um ano depois França Júnior & Ayres (2000), não se pode per-
de seu parto: “eu estava cheia de dores e fissu- der de vista que a amamentação envolve pelo
ras, não poderia suportar, os dias passavam, menos dois sujeitos de direito, o que é obscu-
passava tudo que era coisa em mim para ver se recido pela ótica que privilegia a criança e vê a
vinha o leite, e nada. Um hospital não pode ter mãe como a única responsável pelo bom suces-
a pretensão de querer ensinar uma mulher a so da amamentação.
ser mãe e mamífera em três dias, não pode ser Há que se considerar também que a valori-
o doutrinador da mulher que pariu. Eu já não zação do leite materno como alimento ideal pa-
tinha conseguido parir de cócoras, agora não ra os bebês também não é compartilhada por
conseguia amamentar, e sempre aquela enfer- todas as culturas, nem por todos os grupos so-
meira passando na porta, me chamando de ciais. Na Ilha de Santa Catarina, onde se situa a
mãezinha, e dizendo banco de leite, banco de Maternidade, o costume de oferecer outros ali-
leite!” (grifos meus). mentos ao recém-nascido, ou mesmo substi-
Maria, que prepara-se para um segundo tuir ou complementar o leite materno era ob-
parto nesta Maternidade, conta às colegas do servado até recentemente, como em muitas ou-
Curso de Gestantes a dificuldade que teve em tras regiões do país, não tendo desaparecido to-

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talmente com o processo recente de medicali- associada à maternidade, ao cuidado com os


zação, conforme pesquisa de Pinheiro et al., filhos e ao aleitamento. O peso da herança hi-
(1992). Não raro este costume se faz presente gienista se faz presente hoje, nas rotinas hospi-
ainda hoje entre as mulheres, nas conversas de talares e, sobretudo, nas práticas dos profissio-
corredores da Maternidade, longe dos olhares nais, ainda que articulados com valores de mu-
vigilantes das enfermeiras, através da memória dança e de humanização. A questão da ama-
de uma mãe ou parente mais antiga. Se o alei- mentação e da negociação de dor nos coloca
tamento materno, visto como um dos indica- diante de um valor fulcral de nossa cultura: o
dores da humanização e recomendado por seus mito da maternidade, tão bem analisado por
defensores se torna uma regra rígida e genera- Badinter (1980), no plano teórico, que segue
lizada, sem mediações, a todas as mulheres, pulsante no cotidiano e nas instituições cen-
acaba sendo o revés do que pretende. trais da sociedade moderna, como o hospital.
Normatizações bem-intencionadas, se im-
plementadas de forma descuidada e descon-
textualizadas, não raro acabam ferindo os pró- Considerações finais
prios princípios relativos aos direitos huma-
nos, como argumentam França Júnior & Ayres As observações desta pesquisa pretendem so-
(2000), e isto se pôde observar nesta Materni- bretudo refinar o debate já em curso acerca da
dade. A obsessão em fazer toda mulher ama- urgente modificação no modelo de atenção ao
mentar seu bebê, fruto da apropriação buro- parto e puerpério, trazendo algumas pondera-
crática de normas e rotinas, quando se amal- ções que coloquem em perspectiva os próprios
gama à persistência de um imaginário que ain- valores e representações que sustentam as ini-
da não livrou as mães do peso da herança hi- ciativas humanizadoras. Se as mulheres não
gienista, pode facilmente transformar gestos são vistas como sujeitos, sujeitos estes que ad-
aparentemente humanizadores em atos de vio- vêm de culturas diferentes e que têm emoções
lência simbólica, e, no limite, física. As rotinas, e desejos que não são universais nem mera-
quando flexibilizadas diante de variantes so- mente mensuráveis, as medidas humanizado-
cioculturais e pessoais, como também reco- ras poderiam resultar em meros procedimen-
menda a filosofia da Maternidade, podem, en- tos técnicos, produzindo efeitos tão deletérios
tão sim, garantir o que talvez seja a grande con- quanto o tratamento tecnocrático que se pre-
tribuição do ideário da humanização do parto tende combater.
no campo da saúde reprodutiva, a saber, o res- O ideário do parto humanizado, portanto,
peito aos direitos das mulheres sobre seu pró- contém paradoxos: de um lado, advoga os di-
prio corpo e o direito à diferença. reitos das mulheres no momento do parto, de
Não nos parece, no entanto, absurdo que outro, parece estar desatento às diferenças so-
tais representações se façam tão fortes neste cioculturais entre estas mulheres. Se as expe-
contexto: trata-se, afinal, de uma Maternidade, riências de humanização se concentram em
instituição hospitalar na qual mulheres entram aspectos técnicos isolados e num modelo uni-
grávidas e saem mães, ou seja, lugar onde são versalista de família e de feminilidade, no con-
alvo de um intenso processo de construção do texto de uma cultura fortemente centrada no
modelo higiênico de mãe, pedagógico e medi- mito do amor materno e na pesada herança hi-
calizado. O parto medicalizado é o momento gienista da medicina, pode minimizar seu gran-
inaugurador deste ideal de maternidade, forja- de potencial que é o do empoderamento das
do no ocidente nos últimos séculos, que cons- diferentes mulheres no que tange à sua saúde
truiu uma imagem da mulher intrinsecamente reprodutiva e sexualidade.

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HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA AO PARTO S427

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Aprovado em 5 de dezembro de 2003

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