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Theresa Cheung

Como Ver, Ouvir


e Sentir os Nossos Anjos
Um guia para atrair seres celestiais
que curam, ajudam e inspiram

Tradução
Irene Daun e Lorena
Nuno Daun e Lorena

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Planeta Manuscrito
Rua do Loreto, n.º 16 – 1.º Direito
1200­‑242 Lisboa • Portugal
Reservados todos os direitos
de acordo com a legislação em vigor
© 2010, Theresa Cheung
© 2011, Planeta Manuscrito
Título original: How to See Your Angels
Revisão: Eulália Pyrrait
Paginação: Lígia Pinto
1.ª edição: Janeiro de 2012
Depósito legal n.º 336 808/11
Impressão e acabamento: Guide – Artes Gráficas
isbn: 978­‑989­‑657­‑259­‑4
www.planeta.pt

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Índice

Agradecimentos........................................................................................ 9
Introdução
Por que não vejo anjos?..................................................................... 11

Primeira parte
A história divina e o sagrado mistério dos anjos........................... 25

Segunda parte
Os anjos hoje....................................................................................... 69

Terceira parte
Como ver anjos................................................................................... 113

Quarta parte
Visões na noite.................................................................................... 149

Quinta parte
Milagres de todos os dias.................................................................. 175

Sexta parte
Miscelânea divina............................................................................... 195

Palavras finais: Bom dia para si e para o seu companheiro................ 229

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Agradecimentos

Os meus agradecimentos à minha espantosa agente, Clare Hulton,


por acreditar e tornar possível este livro; à minha editora, Kerri Sharp,
pela sua perspicácia, compreensão e encorajamento; a Martin Bryant e
Katherine Stanton pela competência e atenção dedicadas ao manuscrito;
e a todas as pessoas da Simon and Schuster por serem tão prestáveis ao
longo do processo, desde a escrita à publicação.
Aproveito a oportunidade para agradecer a todos aqueles que me
escreveram ao longo dos anos, partilhando comigo incríveis histórias
de anjos, fazendo-me perguntas por vezes muito difíceis ou oferecendo-
-me os seus pensamentos e conhecimentos pessoais. As vossas pergun‑
tas, experiências e pensamentos são o coração e a alma deste livro e não
tenho dúvidas de que as vossas palavras darão esperança e conforto
a todos aqueles que as lerem.
Os meus agradecimentos especiais a Ray, Robert e Ruthie pelo seu
amor e paciência enquanto estive no exílio para levar a cabo este pro‑
jecto. Finalmente, mas não por último, os meus agradecimentos a todos
aqueles que lerem este livro. Que ele vos abra os olhos e o coração para
a magia e as maravilhas que existem à nossa volta.

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Introdução

Por que não vejo anjos?

Vi rastos de anjos na Terra: a beleza


do céu caminhando sobre o mundo.

Petrarca

Há pessoas que vêem anjos, não tenho qualquer dúvida. Há muitos


anos que escrevo sobre encontros celestiais e continuo a ficar espantada
e deliciada com o vasto número de cartas e emails que recebo de pessoas
que viram anjos e que tiveram as suas vidas transformadas, que foram
curadas ou até salvas. Para mim é uma grande honra e uma grande ale‑
gria juntar tais relatos num livro para que outros os possam ler e se pos‑
sam sentir inspirados e tranquilizados.
No entanto, juntamente com histórias incríveis sobre encontros celes‑
tiais, também recebo muitas cartas e emails de pessoas que se sentem atraí-
das pela ideia dos anjos, mas que não conseguem imaginar o que será ver
um, perguntando-me por que razão não vêem indícios de seres divinos
ou se estarão a fazer qualquer coisa mal. Para alguns, não serem capa‑
zes de ver ou ouvir os respectivos anjos é motivo de desgosto, enquanto
para outros é a prova de que, simplesmente, não existem. Faço os possí‑
veis por responder a todos, mas muitas vezes sinto que a minha resposta
é demasiado breve e inadequada e foi por isso que nesta fase da minha
carreira decidi escrever um livro dedicado aos anjos e à sua entrada nas
nossas vidas.
Apesar de esperar que seja uma fonte de alimento espiritual para os
que acreditam que viram, de facto, anjos, escrevi-o em especial para aque‑
les que pensam que ainda não os viram. O seu objectivo é simples: mos‑
trar basicamente o que é um anjo e mostrar como toda a gente, tenha ou
não poderes psíquicos, pode vê-los.

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Através de um espelho

Não acredito na sorte que tenho por poder escrever um livro que
oxalá tivesse sido escrito há vinte e cinco anos quando, desesperada,
ansiava por uma manifestação do Céu na Terra, mas que nunca tive, por
mais que tentasse. Algumas pessoas que leram os meus livros anteriores
sabem que acordei tarde para a espiritualidade. Só no fim dos trinta,
início dos quarenta anos comecei a ver anjos.
Para meu desgosto, nunca fui uma daquelas crianças que vêem mortos
em supermercados, figuras envoltas em luz ou esferas resplandecentes
no recreio. Sentia-me frustrada porque nasci numa família de psíquicos
e espiritualistas, onde era normal falar-se de espíritos; devia ter poderes
psíquicos e não tinha.
A minha tia-avó Rose era médium e a minha avó, a minha mãe e o
meu irmão também; viam e ouviam coisas que a mim me eram vedadas
e eu só queria ser como eles. Eu também queria ver qualquer coisa
mística e mágica para poder inspirar ou consolar outros com as minhas
visões. A minha mãe dizia-me que ver uma planta ou uma árvore a
crescer a partir da semente, ou uma mãe a amamentar um bebé pela
primeira vez, era uma coisa mística e mágica, mas para mim não, não
era a mesma coisa que ver um anjo, nem que fosse apenas uma vez.
Porém, por mais que rezasse, por mais que pedisse, era como bater com
a cabeça numa parede; não via nem ouvia absolutamente nada.
Como a minha mãe era conselheira psíquica, viu e ouviu anjos toda
a sua vida, eu nunca duvidei de que havia sempre ajudantes celestiais
à minha volta. Não tinha «provas», apenas histórias daqueles que amava
e em quem confiava, mas a falta de provas não me impedia de acreditar
que cada um de nós tem um anjo-da-guarda que caminha ao nosso
lado ao longo da vida. Também acreditava que os anjos podem aparecer
ou expressar-se através dos espíritos dos entes queridos que partiram.
Portanto, eu não queria provas da sua existência, queria vê-los, queria
sentir-lhes a magia.
Inspirada pelo mantra «conhecimento é poder», o meu primeiro
passo foi estudar, aprender e juntar informação. Passei a maior parte
da minha adolescência e os meus primeiros anos de adulta a ler todos

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os livros que podia sobre anjos, ESP1, feitiçaria e consciência psíquica;


transformei-me numa espécie de enciclopédia ambulante sobre o mun-
do psíquico e até me servi dos meus estudos para fazer numerologia
e deitar cartas de tarot em algumas feiras psíquicas. Mais tarde, quando
consegui entrar para a universidade, impressionei os meus amigos e até
os meus professores com os meus conhecimentos de questões esotéricas,
mas apesar disso tinha consciência de não ter percepções próprias; não
herdara o dom; não via anjos.
Apesar de a minha mãe me dizer para dar tempo ao tempo, no íntimo
eu sentia que estava, de certo modo, a deixá-la ficar mal, a ela e ao resto
da família. Inscrevi-me em vários cursos psíquicos e workshops. Todos
eles eram fascinantes e conheci gente fantástica, mas senti-me sempre
uma impostora, ficava sempre muito nervosa quando nos pediam para
fazer exercícios psíquicos. O meu par, se calhava com alguém, parecia-
-me sempre mais avançado do que eu, era capaz de me «ler», mas eu não
conseguia «lê-lo». Nas discussões de grupo, ficava espantada quando
toda a gente dizia que via auras, luzes brilhantes ou que pressentia uma
pessoa ou um objecto num exercício. Tenho vergonha de admitir que
por vezes, quando chegava a minha vez de contribuir, inventava coisas
para não chamar a atenção para a minha falta de aptidão. Se as pessoas
diziam que viam esferas ou anjos, eu dizia que também via. Acontecia
o mesmo nos exercícios de meditação; tinha de lutar contra a vontade de
dormir e quando chegava a vez dos exercícios de visualização guiada, as
únicas imagens que me vinham à mente eram copos de café e barras de
chocolate, nunca praias soalheiras, bibliotecas ou florestas verdejantes.
Após nada mais nada menos do que cinco cursos, dois deles com boas
notas, continuava na mesma.
Uma vez arranjei coragem e fui falar com o meu tutor do College
of Psychic Studies, em Kensington, Londres, e contei-lhe a verdade
sobre os meus progressos ou a falta deles. O homem, que não pare‑
ceu ficar minimamente preocupado, disse-me simplesmente que não
devia preocupar-me demasiado, já que toda a gente progredia ao seu
próprio ritmo, que me descontraísse e que quando estivesse pronta,

1
Percepção extra-sensorial. (N. dos T.)

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a inspiração viria. Eu não concordei com ele porque era fruto dos anos 80
e acreditava que, se trabalhasse arduamente e quisesse mesmo uma
coisa, conseguia-a. Além do mais, fora sempre uma pessoa disciplinada
e teimosa e não acreditava na descontracção.
Nos dez anos seguintes, ou coisa assim, continuei a tentar ver, ouvir
e sentir anjos. Por vezes conseguia qualquer coisa, mas apenas um vis‑
lumbre e de uma maneira geral era um passo à frente e quatro atrás. Por
vezes ficava muito desanimada, o que foi o caso por ocasião da morte
da minha mãe, de quem eu sempre me sentira muito próxima. Por isso,
quando ela não regressou do mundo dos espíritos para me tranquilizar,
decidi que era um caso perdido.
Eu tinha vinte e tal anos quando a minha mãe morreu e não sabia
o que era perder um ente querido. Quando andava na escola, lembro-
-me de testemunhar a dor intensa da minha melhor amiga, perdido o
pai aos catorze anos. Na época tentei consolá-la da única maneira que
sabia, falei-lhe do que lera sobre experiências de morte iminente e da
outra vida, disse-lhe que a minha mãe me dissera que os espíritos dos
entes queridos permaneciam perto de nós, disse-lhe que o pai dela estava
num sítio melhor e que ela devia estar feliz por ele. Não percebi por que
razão nenhuma das minhas palavras a consolou. Mais tarde ofereci-me
para passar algum tempo com ela, mas ela não me quis ver. Na minha
arrogância sentia que, de facto, era capaz de a consolar e tranquilizá-la.
Por que razão ela recusava?
Antes de a minha mãe morrer, apesar de não estar a fazer progressos na
questão de ver ou ouvir anjos ou espíritos, nunca perdi a crença de que a
outra vida é uma realidade. Muitas vezes, quando ia a reuniões espiritua-
listas, via os que tinham perdido entes queridos a serem consolados por
mensagens recebidas da outra vida por intermédio de médiuns e estava
convencida de que a morte não era um fim, antes um recomeço, que se
perdesse um dia um ente querido a crença me protegeria da dor que tes‑
temunhara na minha amiga e noutras pessoas, mas estava enganada.
Quando a minha mãe morreu, a dor foi excruciante, de um outro
mundo. Teria dado tudo por um sinal de que ela não estava longe, mas
não recebi nenhum. Amaldiçoei a minha incapacidade para a ver ou
sentir. Senti-me mais incompetente do que nunca. Por que razão não

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conseguia vê-la? Por que razão os anjos não se manifestavam quando


precisava deles mais do que nunca? Por que razão não vislumbrava,
sequer, uma nesga de Céu?
Seguiu-se um período de grande desilusão e pela primeira vez pus tudo
sobre mim e a minha filosofia em questão, passei por uma crise enorme.
Talvez não houvesse mais nenhuma vida? Talvez a outra vida não esti‑
vesse à nossa espera? Talvez os anjos, simplesmente, não existissem?
Eu era especialista em tudo o que dizia respeito à espiritualidade,
mas a minha perda pessoal mostrou-me que não estava, nem de longe
nem de perto, equipada para lidar com a minha própria experiência de
morte. Uma coisa era falar com outras pessoas e outra, muito diferente,
passar por ela. Lembro-me de tentar consolar não só a minha amiga da
escola que perdera o pai mas também outras pessoas, dizendo-lhes que
a dor intensa e prolongada após a perda de um ente querido, se bem
que compreensível, podia impedir a sua transição para o outro lado e de
me aperceber que as minhas palavras eram inúteis, para não dizer cruéis.
A dor é uma reacção natural à perda de um ente querido e não alivia por
mais que se perceba de morte iminente ou de uma outra vida.
A posteriori, só quando a minha mãe morreu é que o meu despertar
espiritual começou. Nenhum dos livros que li e nenhum dos cursos
que frequentei me preparou para a minha verdadeira formação sobre
a existência dos anjos e o que pode acontecer quando morremos.
A minha jornada, que continua, levar-me-ia onde estou hoje. Hoje
não tenho dúvidas de que os anjos são reais e que os nossos espíritos
continuam a viver depois da morte, mas antes de chegar onde cheguei,
precisei de passar pela dor insuportável de uma perda pessoal e por
uma jornada dolorosa de introspecção, despoletada pela morte da
minha mãe.
Ao longo das primeiras horas, dias e semanas da morte da minha mãe,
refugiei-me nas minhas crenças e no que me tinham ensinado; disse a mim
própria que a minha mãe estava em paz e que estava a entrar na fase mais
excitante da sua existência. Tantas horas a falarmos sobre a sua crença na
outra vida e agora ela estava, finalmente, no Céu. Era uma transição mara‑
vilhosa e em vez de chorar de dor, apercebi-me de que devia estar con‑
tente. Por isso, no funeral, sorri e acenei-lhe. Não derramei uma lágrima

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porque senti que era o que ela queria que eu fizesse. A minha mãe ale‑
grar-se-ia com a minha «licenciatura».
Após o funeral tratei das coisas da minha mãe, doei algumas coisas,
inclusive roupas, fiquei com outras e dividi outras ainda com o meu
irmão. No fim decidi ficar apenas com um punhado de pequenos tesouros
e meti-os debaixo da cama dentro de uma caixa, consciente de que não
precisava de recordações físicas, consciente de que ela continuava viva
no meu coração. Alguns amigos e colegas disseram-me que eu era uma
inspiração para eles porque sabiam que eu amava muito a minha mãe
e porque estava a lidar muito bem com tudo, mas depois, nos meses
e anos que se seguiram, um impulso estranho, que eu não compreendia,
começou a tomar conta de mim; chorava quando as pessoas se riam
e ria quando as pessoas choravam; dizia coisas que não faziam sentido,
confundia os dias da semana ou iniciava uma conversa e esquecia-me
do que estava a dizer. Pouco a pouco, o mundo à minha volta começou
a deixar de fazer sentido.
Vi-me a tirar a caixa que tinha debaixo da cama, a abri-la e a tirar
tudo o que ela tinha. Punha as coisas em círculo à minha volta sem
perceber porquê, sentindo apenas a necessidade absoluta de lhes tocar:
uma fotografia, uma carta, os óculos ou qualquer coisa que a tornasse
a minha mãe mais real. Por razões que não faziam sentido, tinha pavor
de me esquecer dela, precisava de ter a certeza de que ela, de facto,
existira; ficava a olhar para as coisas dela e a dolorosa realidade e a dor
despedaçavam-me o coração.
A dor imensa da minha perda oprimia-me. Chorei como nunca.
O impacte brutal da morte da minha mãe tomou conta da minha vida.
A minha mãe fora-se embora para sempre. Nunca mais poderia falar-lhe,
tocá-la, rir-me ou chorar com ela neste mundo. A minha vida mudara
para sempre. Ia ter de viver o resto da minha existência física sem ela.
Solucei durante horas, até que a exaustão tomou conta de mim e caí num
sono profundo, ao mesmo tempo que na mente e no coração lhe pedia
que me aliviasse a dor, que me provasse que não morrera. Eu só queria
um pequeno sinal do outro lado, mas só o silêncio me respondeu.
Esgotada pela dor e a solidão e demasiado orgulhosa para admitir
que sofria, entrei em depressão, talvez inevitavelmente. A depressão, para

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aqueles que têm a sorte de não a sentir, é como cair num túnel sem fim
em câmara muito, muito lenta. Para mim não tinha fim. A única coisa
que existia na minha vida era a escuridão. Não tinha energia. Por vezes
até me parecia impossível virar a cabeça. Por vezes não havia sequer um
simples ponto de luz, uma sombra, apenas trevas, medo, impotência
e asfixia num túmulo escuro, sem qualquer luz. Até o meu rosto começou
a contar a história da minha vida. Não tinha força suficiente para mexer
os músculos do rosto. Quando olhava para mim própria no espelho, via
uma pessoa enfadonha, sem expressão, de olhar vago, desfocado.
Conseguia levantar-me e ir trabalhar a maior parte dos dias e o facto
de estar ocupada ajudou-me porque, quando estava na companhia de
outras pessoas, conseguia esconder a minha dor. No trabalho, de certa
maneira, ligava o piloto automático, fazia o que tinha de ser feito e assim
passava os dias. Mas por vezes não conseguia, telefonava a dizer que estava
doente e ficava em casa. Não conseguia fazer nada, não via televisão nem
lia, ficava a olhar para o relógio do meu quarto, perguntando a mim
própria por que razão estava sempre na mesma hora.
Após vários meses comecei a sentir que o meu espírito estava a mor‑
rer, a apodrecer, que era uma morta-viva. O meu irmão não percebia por
que razão eu não saía daquilo, não voltava à vida, e eu também não; que‑
ria melhorar, mas não conseguia, simplesmente não conseguia.
Então uma noite a minha mãe visitou-me, não em espírito, mas em
sonhos; entrou no meu quarto, sentou-se numa cadeira e começou a pôr
as coisas em ordem, a dobrar-me as roupas e a arrumar os livros e as revis‑
tas, inconsciente da minha presença, saudável, feliz, cheia de energia e
totalmente diferente do que era nos últimos seis meses de vida, consu‑
mida pelo cancro. O sonho foi tão realista que, quando acordei, durante
uns momentos breves e maravilhosos, acreditei que ela não morrera,
que ouvi-la-ia bater-me à porta a qualquer momento para me dizer que
tinha uma chávena de chá à minha espera no andar de baixo. É claro
que não batia e pouco depois a dor e a impotência tomavam de novo
conta de mim.
Sonhar com a minha mãe, se bem que consolador, não me bastava.
Eu queria mais, queria ter a certeza de que ela estava viva e que a morte era
apenas uma passagem, queria ouvi-la dizê-lo, precisava de qualquer coisa

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tangível, qualquer coisa real, não uma coisa vaga que podia ser facilmente
explicada por psicólogos e médicos como um produto da minha mente
enlutada em busca de um alívio (mesmo que temporário) para a dor que
sentia por ter perdido alguém que amava. Na época não percebi, mas
o sonho foi, de facto, uma dádiva da outra vida, foi o primeiro de muitos
e cada um deles, sem que eu me apercebesse, deu-me pequenas doses de
consolo e a força de que necessitava para fazer qualquer coisa positiva por
mim própria, nem que fosse lavar o cabelo ou dar um passeio.
Depois de os sonhos com a minha mãe terem começado, comecei,
devagar mas com firmeza, a recuperar. Com o tempo consegui a cora‑
gem necessária para entrar em contacto com o meu médico, pedir ajuda e
avançar com a minha vida, e quando tomei consciência de uma melhoria
gradual, a princípio atribuí-a à minha força de carácter em vez de a dádi‑
vas do outro lado, mas mais uma vez enganei-me. Os sonhos, tal como as
coincidências e os pressentimentos, são, muitas vezes, a primeira e talvez
a maneira mais delicada de os anjos se revelarem no mundo físico, para
além de serem também a forma de comunicação com menos probabili‑
dades de nos alarmar ou perturbar. Eu estava num estado de fragilidade
emocional e provavelmente foi por isso que a minha mãe escolheu os
sonhos para entrar em contacto comigo.
Por fim saí da escuridão e regressei aos meus afazeres normais. Curio‑
samente, considerando a minha desilusão por não conseguir contactar
com o outro lado, o meu fascínio pelo mundo psíquico, em vez de dimi‑
nuir, aumentou e cheguei à conclusão de que, se não conseguia ver anjos,
procuraria pessoas que conseguiam. Aprenderia com elas e elas inspi‑
rar-me-iam. Assim, comecei a juntar histórias e a falar com pessoas que
acreditavam que os anjos tinham mudado, de certo modo, as suas vidas
e à medida que fazia as minhas pesquisas e as transformava em livros
– que se foram transformando, surpreendentemente, em best-sellers – senti
uma paz e um alívio inesperados. Talvez o meu destino fosse divulgar a
palavra dos anjos, acreditar neles mesmo sem «provas». No fim de con‑
tas, a fé não é isso?
Só vários anos mais tarde, quase aos quarenta, quando começava a
compreender que não há respostas imediatas e que muitas vezes só obte‑
mos da vida aquilo de que necessitamos e não o que queremos, é que os

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anjos começaram a revelar-se-me. Tudo começou quando a minha mãe


estabeleceu contacto tangível comigo. De repente, do nada, quando já
perdera todas as esperanças, apareceu-me numa visão nocturna, uma
experiência quase real, fantástica. A sensação foi esmagadora.
Na minha visão eu dormia, mas também estava acordada, e pela pri‑
meira vez desde a sua morte, a minha mãe, consciente da minha presença,
falava-me directamente. Eu via-a, ela via-me e eu podia tocar-lhe. Ela
disse-me que velava por mim e aconselhou-me a tomar o caminho certo.
Quando acordei na manhã seguinte, foi como se um peso me tivesse saído
dos ombros. A visão fora completamente diferente dos sonhos anterio‑
res – num sentido espiritual, a minha mãe fora real, visitara-me, trans‑
mitira-me uma mensagem e trouxera os anjos consigo.
A princípio pensei que a minha mãe estava apenas a lembrar-me,
como quando era viva, que seguisse o meu coração e que fosse verda‑
deira comigo mesma, mas nos dias seguintes começaram a acontecer
coisas espantosas e a minha vida mudou para sempre. Eu estava num
engarrafamento de trânsito, atrás de dois carros e dois camiões que tam‑
bém iam virar à esquerda, quando ela me apareceu outra vez. Eu não a
vi, mas senti-a no meu corpo e no meu ser de tal maneira que não pre‑
cisei dos meus cinco sentidos para lhe sentir a presença. Mais uma vez,
tal como na visão nocturna, a minha mãe disse-me para seguir o cami‑
nho certo. Sem hesitar e sem perceber porquê, virei à direita, mudando
assim de destino.
Nessa noite, ao ver as notícias, senti um baque. Se tivesse virado à
esquerda, ter-me-ia envolvido no acidente dos dois camiões com os dois
carros imediatamente atrás, que provocou a morte a três pessoas. A voz
da minha mãe salvou-me a vida naquele dia. Eu desistira de conseguir
provas da existência de vida para além da morte, mas a minha mãe for‑
necia-mas através de uma visão nocturna e de um momento súbito de
intuição. Finalmente via e ouvia anjos e não apenas como imaginava.
Não levei muito tempo a perceber, após aquele ponto de viragem, que
as dádivas do mundo espiritual me tinham sido dadas toda a vida através
de sonhos, pressentimentos e coincidências, só que não as vira pelo que
eram na realidade. É muito raro os anjos aparecerem às pessoas de asas
abertas e auréola. Regra geral fazem-no de maneira mais subtil, menos

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espectacular. A minha mãe dava-me a maior das dádivas espirituais, a


dádiva da consciência. Sendo teimosa e obstinada, fora preciso uma crise
de fé para me abrir os olhos, para me renovar a fé.
Isto não quer dizer que uma pessoa precisa de perder um ente que‑
rido, cair nas profundezas do desespero ou escapar por pouco à morte
para ver anjos. Algumas pessoas, tanto adultos como crianças, são aben‑
çoadas com dons naturais de discernimento e com personalidades que
fortalecem com uma crise, em vez de enfraquecerem. A mim, porém,
foi a escola da vida que me ensinou. Incapaz de encontrar a paz e o sos‑
sego, infeliz, sem conseguir contactar com o mundo dos espíritos, a dor
tomou conta de mim, obrigando-me a abrandar, a parar.
Eu pensava que a depressão era minha inimiga e que a resposta era
afastá-la para poder regressar à vida normal, mas os meus anjos achavam
que não. Ou era a transformação total ou nada. Eu precisava de chorar
a morte da minha mãe, precisava de duvidar de tudo o que me tinham
ensinado porque, se queria acreditar em anjos, tinha de os sentir no cora‑
ção; tinha de parar de imitar os outros, de agradar aos outros, de tentar
arranjar «provas», tinha de tentar encontrar nas profundezas da minha
alma um novo «eu», um novo significado para a minha vida. O filósofo
Albert Camus expressa esta ideia melhor do que ninguém: «Encontrei
em mim, nas profundezas do Inverno, um Verão invencível.»
Tantos anos à procura de anjos e eles à minha volta. Só que não os via
nem os compreendia. E a razão por que os procurava num espelho era
porque me achava muito importante, para além de sentir uma grande
dose de impaciência e de medo. A noção que tinha do mundo psíquico
limitava-me, impedindo-me de ver para além de mim própria e dos meus
preconceitos. Simplesmente, não havia espaço para anjos no meu coração,
esperava que os meus poderes psíquicos fossem como um interruptor
que ligasse assim que tivesse a informação correcta ou as técnicas ade‑
quadas, não percebia que a revelação psíquica tem a ver com o desen‑
volvimento da pessoa e que isso raramente acontece da noite para o dia.
Por vezes levamos uma vida inteira a aprender a confiar nos nossos ins‑
tintos e a descobrir a coragem, a paciência e a humildade existentes den‑
tro de nós. Trata-se também de aprendermos a amar-nos a nós próprios
incondicionalmente e a perdermos o medo de não nos integrarmos, de

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sermos apelidados de esquisitos, de não correspondermos às expectati‑


vas e, sobretudo, percebermos o que os nossos sonhos, pressentimentos
e sensações nos podem dizer de nós próprios.
Nunca conseguiria perceber ou interpretar as minhas experiências
com anjos se não reconhecesse tais medos e dúvidas, tinha de confiar
neles, deixá-los guiarem-me nesta vida e na seguinte, perceber que para
aqueles com mentes abertas à possibilidade de milagres os anjos estão
permanentemente à nossa volta, mas fora do nosso alcance, numa dimen‑
são paralela.
Por outras palavras, assim que entramos em contacto com a nossa luz
interior, quando começamos a acreditar em nós próprios, vemos, ouvimos
e sentimos os anjos de inúmeras maneiras, visíveis e invisíveis. De vez em
quando aparecem-nos da maneira tradicional, com auréola, asas e rodea-
dos de luz brilhante ou através dos espíritos dos entes queridos que pas‑
saram para o outro lado, mas para a maioria de nós, incluindo eu própria,
manifestam-se através de um pensamento, uma sensação, um sonho, um
sussurro, uma coincidência, uma pena branca ou outros sinais surpreen‑
dentes. Também podem falar-nos através de crianças, pássaros ou outros
animais, uma lufada de ar, um toque amoroso, uma canção na rádio, um
livro inspirador, um aroma misterioso ou outros seres humanos consciente
ou inconscientemente guiados por uma dimensão espiritual. Para quem
tenha a percepção sensorial certa, as possibilidades são inúmeras.
Para além de ter de aprender a perceber as diferentes maneiras de os
anjos nos aparecerem, também tive de ultrapassar a minha crença falsa
de que, se podia ver anjos, os problemas da minha vida estavam auto‑
maticamente resolvidos. O tempo, a experiência de vida e as lágrimas
derramadas tinham-me ensinado que nada estava mais longe da ver‑
dade. No momento em que escrevo isto, recordo de novo a concepção
errada de os anjos serem capazes de fazer desaparecer os nossos proble‑
mas com um simples gesto mágico. Quando o devastador tremor de terra
do Haiti reclamou milhares de vidas inocentes, o meu email encheu-se
de mensagens a perguntarem-me como era possível os anjos permiti‑
rem tal coisa. Tento explicar que os anjos não estão entre nós para evitar
as tragédias, as injustiças, a violência e a dor do mundo, estão entre nós
para nos lembrar que a bondade e o amor existem em nós e para além

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de nós e que, se escolhermos o caminho da luz em vez do das trevas,


essa mesma bondade e esse mesmo amor são capazes de vencer a dor
e o desespero à nossa volta.
Por vezes, por razões que não compreendemos, o mundo não é justo
e acontecem coisas más a pessoas boas. Talvez um dia venhamos a com‑
preendê-las, mas até lá temos de ter paciência. Tentar explicar o mundo
espiritual em termos humanos e por que razão as coisas acontecem como
acontecem está para além das nossas capacidades terrenas. Devemos pro‑
curar o que existe de positivo em nós e nos outros e deixar que os nossos
anjos-da-guarda nos ajudem ao longo desta vida e da próxima. A única
coisa que podemos fazer é confiar e rezar. Rezar pode parecer uma con‑
tribuição insignificante, mas acreditar que a bondade acabará por pre‑
valecer, especialmente quando a vida é dura connosco, é uma das coisas
mais importantes que as pessoas podem fazer. No fim de contas crê-se
que rezar ergue o véu que separa esta vida da outra e a fé e a esperança é
que aproximam os anjos e o seu amor puro e altruísta deste mundo.
Ao contar a minha própria evolução espiritual, juntamente com
algumas das muitas frustrações e dúvidas por que passei ao longo do
caminho, espero ajudar as pessoas a conhecerem-me melhor e conse‑
guir explicar por que razão, depois de escrever vários livros sobre anjos,
senti que tinha de escrever um acerca das nossas relações com eles. Pensei
e continuo a pensar nas muitas pessoas que, como eu ao longo daque‑
les anos, anseiam por ver, ouvir e sentir anjos, mas que se sentem frus‑
tradas e desiludidas. Espero que este «guia» as ajude, que seja uma fonte
de informação sobre anjos e também uma fonte de inspiração e força
quando as dificuldades, as dúvidas e as frustrações se acumularem
e perguntarem a elas próprias por que razão não conseguem ver anjos
ou para onde foram eles.
Este livro destina-se àqueles que têm paixão pelo espiritualismo ou
que sentem que têm talento para inspirar, curar ou ajudar os outros,
mas que não sabem por onde começar; pode ajudar os que sentem que
não sabem o que fazem neste mundo, os que sentem que o mundo não
faz sentido. Principalmente, porém, que seja lido por todos aqueles que
precisam de se lembrar que são centelhas divinas da vida e que podem
ficar descansados porque os seus anjos nunca estão longe.

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Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos

Como usar este livro

Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos pode ou não ser lido
em conjunto com os meus outros livros, diferentes, já que relatam
histórias verdadeiras incríveis e inspiradoras de pessoas que sentiram
a intervenção divina. Este livro está dividido em seis partes, todas elas
autónomas, e pode ser lido do princípio para o fim ou do fim para o
princípio. Por isso, mergulhe à vontade na secção que mais lhe interessa
antes de ler as outras. Antes de começar, fique a saber que as terceira,
quarta e quinta partes são pontuadas por conselhos práticos sobre como
ver anjos e sugestões simples ou exercícios que o podem ajudar a atrair
o seu poder curativo, enquanto as primeira, segunda e sexta contêm
informações úteis e, espero eu, inspiradoras. Segue-se uma breve visão
global das diferentes partes:

Primeira parte: A história divina e o sagrado mistério dos anjos –


explica quem são os anjos, qual a sua natureza e propósito neste mundo,
debate o seu papel na religião, na História, na arte e na cultura e descreve
alguns encontros conhecidos.

Segunda parte: Os anjos hoje – fala do interesse actual pelos anjos


e da contribuição da ciência moderna, da internet e da especula‑
ção delirante sobre o ano 2012 para o fenómeno. Também responde
a algumas perguntas frequentes sobre encontros contemporâneos e relata
algumas histórias dos tempos modernos. De facto, a partir deste ponto
o leitor encontra histórias contemporâneas que ilustram vários pontos.
Todas elas foram declaradas verdadeiras sob juramento ou foram-me
enviadas por email ou carta. Nalguns casos os nomes e os locais foram
alterados por uma questão de protecção, mas quanto a mim são todas
verdadeiras.

Terceira parte: Como ver anjos – explora as inúmeras maneiras dife‑


rentes de os anjos se manifestarem. Nesta parte o leitor aprenderá a ver,
ouvir e sentir os seus anjos e a reconhecer e compreender os sinais celes‑
tes mais comuns.

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Theresa Cheung

Quarta parte: Visões na noite – explica como os anjos podem apa‑


recer em sonhos e a ligação poderosa entre eles e os entes queridos que
partiram.

Quinta parte: Milagres de todos os dias – explora as diferentes manei‑


ras de os nossos ajudantes celestes nos ajudarem em todas as áreas das
nossas vidas, quer seja na saúde, na carreira profissional, nas relações
humanas ou na auto-realização. Também discute as crianças e os anjos,
os animais e os anjos, o fenómeno da ansiedade, dos anjos terrenos e se
o leitor pode ou não ser um deles.

Sexta parte: Miscelânea divina – é uma série de citações, poemas e


inspirações que podem guiá-lo, curá-lo e iluminá-lo.

O livro termina com algumas palavras que podem inspirá-lo e ajudá-


-lo a continuar dedicado à vida espiritual.
Quer decida ler este livro de uma vez ou aos poucos, espero sincera‑
mente que ele responda a quaisquer perguntas que tenha sobre este fenó‑
meno maravilhoso e lhe dê os conselhos, o apoio e a inspiração necessários
para poder ver os seus anjos rapidamente e com nitidez.
Ao prosseguir na leitura, por favor não caia na armadilha de pensar
que só as pessoas especiais, com o «dom» da clarividência, é que conse‑
guem ver seres celestes. Qualquer pessoa, seja qual for a idade, passado
ou educação, pode ter um vislumbre do Céu na Terra. Eu, por exem‑
plo, uma mulher normal com quarenta e tal anos e com dois filhos, uma
rapariga de dez anos e um rapaz de doze, apesar de me terem acontecido
coisas extraordinárias que oxalá continuem a acontecer, já que nada me
daria mais alegria e inspiração, não me considero uma psíquica, uma
médium ou um «anjo».
No entanto, acredito que todos nós nascemos com a capacidade de
ver os nossos anjos de uma maneira ou de outra se soubermos como e
para onde olhar. Quando lhes abrir os olhos, os ouvidos e o coração, eles
transformar-lhe-ão a vida, tal como me fizeram a mim.

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Primeira parte
A história divina
e o sagrado mistério dos anjos

Os anjos ensinam-nos a ser pessoas espirituais por puro altruísmo...


porque a vida espiritual em si é bela, satisfatória e até agradável,
exactamente aquilo de que a alma precisa.

Thomas More

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Suponho que sabe o que são seres celestes e que acredita neles.
No entanto, espero que esta secção o ajude a perceber por que razão
acredita neles e o encha de respeito ou, pelo menos, que lhe dê que
pensar.
Ao longo da História, em quase todas as culturas, religiões e tradições,
a palavra anjo significa «mensageiro» e por mais estranhas que as
descrições sejam, o que interessa é a nossa resposta à sua mensagem e se
as nossas vidas ficam ou não transformadas.

O que é um anjo?

De uma maneira geral os anjos são descritos como «seres de luz»


espirituais com uma vaga forma humana, asas e auréola, belos, graciosos
e assustadores devido à sua pureza divina e ao seu poder e pensa-se
que vivem num reino espiritualmente invisível, para lá das fronteiras do
mundo natural tal como o conhecemos. Esta identidade sobrenatural
explica, de certo modo, por que razão vê-los, ouvi-los ou senti-los tem
um impacte tão dramático na vida humana, fazendo explodir crenças
racionais ou científicas sobre a vida e o universo.
O que são estes mensageiros, estes «seres de luz» misteriosos? A per-
gunta divide as pessoas há séculos e continuará a fazê-lo. Comecemos
pela explicação tradicional.
Anjo (malach) é a palavra hebraica para «mensageiro». O mesmo se

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aplica em árabe e em grego e é da palavra grega angelos, que também


significa mensageiro, que vem a palavra inglesa angel. As pessoas com
educação religiosa tendem a definir os anjos como mensageiros celestiais
de Deus, o divino criador de tudo. Para outras são canalizadores de amor
e bondade, sem estarem associados a qualquer religião em particular,
mas o termo mensageiro mantém-se.
Quando se pergunta «o que são os anjos?», as atenções focam-se
na sua estrutura porque se diz serem seres espirituais, não corpóreos.
Segundo o Talmude, o livro sagrado do judaísmo, que data do século
ii a. C., a essência dos anjos é o «fogo» que sobe ao céu. A tradição islâ‑
mica sugere que os anjos foram criados a partir da «luz». Santo Agosti‑
nho de Hipona (354-430) disse que os anjos foram criados quando Deus
disse «faça-se luz». Os anjos são «luz» porque partilham a luz de Deus e
aqui a palavra «luz» não significa apenas a luz que torna as coisas visí‑
veis, significa também a luz da sabedoria e do conhecimento. São Tomás
de Aquino (1225-1274) disse, no seu tratado sobre anjos, que eles são espí‑
ritos puros, intelectos puros ou mentes sem corpo.
O que é interessante neste debate sobre a estrutura dos anjos é que
a tradição permanece ligada ao conceito de eles serem mensageiros.
Segundo Santo Agostinho, a palavra anjo não lhes descreve a natureza,
antes a função ou o propósito. E ao longo dos séculos houve sempre
muitas interpretações diferentes sobre o fenómeno, mas a manifestação
ou expressão de mensageiro divino está quase sempre presente. Pela
lógica pode concluir-se, portanto, que não há razão para que uma pessoa,
um animal, uma criança, uma pena, uma nuvem ou qualquer outra
coisa não possa ser chamada anjo se a sua função for a de mensageiro
divino do mundo espiritual.

O que significam os anjos para si

Segue-se uma lista das descrições mais comuns nas diferentes cultu‑
ras. É provável que uma ou mais se encaixe na sua crença:

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Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos

Seres celestiais que funcionam como mensageiros entre o Céu e a


Terra.

Seres espirituais ou intermediários que fazem a ligação entre Deus ou


um poder superior e a humanidade.

Um ser humano que manifesta uma bondade, uma pureza e um altruís-


mo extraordinários.

Um ser semidivino que vem à Terra com uma mensagem de bondade


e sacrifício para o bem dos outros.

A personificação da bondade, da luz e da pureza.

Mensageiros alados de Deus.

Seres espirituais nomeados por um poder superior para nos ajudar, guiar
e proteger nesta vida e na próxima.

Seres de luz que existem num plano espiritualmente superior.

Presença invisível da verdade, da bondade, do amor e da luz no


mundo.

Presença invisível da verdade, da bondade, do amor e da luz no cora-


ção de uma pessoa.

Encorajá-lo-ia a acrescentar as suas próprias definições porque uma


coisa é aceitarmos os pontos de vista dos outros, baseados em tradições
religiosas ou no que se leu, e outra é procurarmos nós próprios as res‑
postas, tentando, assim, entender o que os anjos significam pessoalmente
para nós e esperar pelo resultado.
Uma coisa que aprendi ao longo dos anos foi que todos nós
somos maravilhosamente únicos na nossa percepção e compreensão.
Aliás, nem os nossos guias celestes gostariam que fosse de outra

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forma. Portanto, não há definições de anjos correctas ou incorrectas.


Acredito na natureza individual dos encontros divinos e que os seres
celestes podem assumir formas únicas para cada indivíduo. Assim,
a compreensão de cada um é tão válida como qualquer outra porque
os anjos tendem a revelar-se-nos da maneira mais compreensível para
cada um de nós.
Se me perguntarem o que penso dos anjos, direi que acredito que
são seres espirituais invisíveis de um reino mais alto que conseguem ver
a nossa luz interior. A sua tarefa é ajudar-nos a recordá-la e a recordar
o potencial divino que existe em nós. Em certos momentos das nossas
vidas, quando temos as mentes e os corações abertos, os anjos podem
ligar-se à nossa luz interior para nos dizer que somos amados e que este
mundo não é tudo; perscrutam-nos os corações e só vêem o que é bom,
concentrando-se apenas na nossa luz interior. Não interessa se acredi‑
tamos ou não neles porque eles acreditam em nós e no nosso poten-
cial e a única coisa que querem é dar amor e satisfação às nossas
vidas.
Também acredito que não precisamos de qualquer treino específico
ou poder clarividente para ver anjos, nem de sermos religiosos ou santos.
Os anjos ajudam quem os chama com o coração aberto, independente‑
mente da idade, do passado, da religião ou da educação.
Perguntam como tenho a certeza. Tenho porque, para além das
minhas experiências sobrenaturais, ao longo da última década recebi
inúmeras cartas e emails de pessoas de todos os extractos da sociedade,
incluindo cépticos e ateus, e todas elas me disseram que viram anjos
e que sofreram transformações nas suas vidas. Não tenho razões que
me levem a duvidar de qualquer delas. De facto, até fico espantada com
a verdade e sinceridade das suas histórias. Mas todas estas experiências
são subjectivas e nunca definitivas. Não tenho a pretensão de ter todas as
respostas sobre a natureza dos anjos, apenas uma necessidade insaciável
de saber mais sobre eles.
É por isso que acredito que o primeiro passo para a compreensão da
verdadeira natureza dos anjos e para os aproximarmos de nós é abrir‑
mos as nossas mentes e tornarmo-nos curiosos. Não nos limitemos às
descrições dos outros ou às representações divinas em que é suposto

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Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos

acreditarmos. Procuremos no fundo de nós próprios a nossa própria


definição. Os anjos voam perto das pessoas com mentes curiosas e aber‑
tas porque são as que acreditam em possibilidades mágicas, as que acre‑
ditam que o impossível é possível. Resumindo, as pessoas abertas são as
que têm mais probabilidades de ver o Céu à sua volta.
Em crianças somos abençoados com uma grande curiosidade. Cada
dia é uma aventura excitante cheia de maravilhas e fascínio e é por isso
que se diz que as crianças são anjos. Infelizmente, à medida que cres‑
cemos e deixamos que a dúvida e os condicionamentos da vida tomem
conta de nós, tendemos a perder a curiosidade e a capacidade de ver
a magia à nossa volta. Raramente percebemos que uma das maneiras
mais simples de começar a ver anjos é redescobrir a curiosidade infantil
e a admiração que nasceram connosco.

Qual o aspecto dos anjos?

A pergunta que as pessoas me fazem vezes sem conta: como são eles,
de facto?
Os humanos debatem esta questão desde tempos imemoriais. Para
muitos, a resposta é simples: os anjos têm forma humana, asas, halo
e estão rodeados de luz; usam trajes brancos esvoaçantes, tocam harpa,
vivem em nuvens no céu e vêm à Terra guardar-nos ou guiar-nos. Muitos
de nós fomos condicionados de forma a pensar nos nossos guias celes‑
tes desta forma devido à arte religiosa, mas na verdade a sua aparência
pode assumir variadas formas e tamanhos.
Apesar de as asas aparecerem sempre e de relatos visionários de várias
fontes religiosas dizerem que certos anjos têm asas, estas nem sempre
foram um elemento essencial e em muitos relatos antigos a orienta‑
ção divina é expressa através de vozes, visões, sonhos e sensações. Na
verdade, até ao século iv, as representações artísticas de anjos não
tinham asas. Só no fim do reinado do imperador romano Constantino
(272-337 d. C.), que decretou o cristianismo como religião do estado, é
que a imagem familiar dos anjos com asas começou a aparecer com con‑
sistência na arte cristã.

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Os halos também só começaram a ser associados aos anjos após


o século iv. Até então eram um símbolo de carácter pintado sobre as cabe‑
ças dos deuses pagãos, razão pela qual, provavelmente, eram evitados.
No entanto, quando os imperadores romanos começaram a ter halos pin‑
tados sobre as cabeças como símbolo da sua divindade, os anjos também
começaram a ser pintados com eles.
Em relação às harpas, nem nas escrituras hebraicas nem no Corão,
o livro sagrado do islamismo, que data do ano 610 d. C., os anjos são
representados a tocá-las. No entanto, no Novo Testamento e no Corão
os anjos sopram trombetas para anunciar o fim dos tempos, razão pela
qual parece haver uma ligação entre os anjos e a música. Por exemplo,
nos salmos a prece a Deus é associada à música (salmos 148, 81, 33 e 57)
e a partir do século xii os anjos são representados a tocar vários instru‑
mentos – harpas, flautas, cornos e até tambores.
A luz que rodeia os anjos é um símbolo ou uma representação artís‑
tica da sua pureza e divindade. De um ponto de vista psíquico, pode
representar-lhes a aura ou o corpo astral. Os psíquicos falam muitas
vezes de campos subtis de energia que rodeiam tudo e todos. Para eles a
aura humana é constituída por milhões ou até biliões de campos de ener‑
gia independentes uns dos outros. Em comparação, o campo de energia
angélico apareceria, portanto, como enorme, cegante e talvez até com a
aparência de um conjunto de penas.
Para receber os anjos nas nossas vidas, a primeira coisa a fazer é parar
com as ideias preconcebidas que existem sobre eles e com a sua possível
aparência. Os anjos aparecem das formas mais diversas. Nenhum é igual
a outro. Vemos os nossos anjos conforme nos convém, conforme as nos‑
sas necessidades. Podemos acreditar que os anjos podem aparecer-nos
na sua forma tradicional, com asas e halo, mas em vez disso podemos
vê-los numa explosão de luz, no meio de uma nuvem, como um símbolo
apenas ou em sonhos, pensamentos ou sensações.
Resumindo: por vezes os anjos assumem a forma instintivamente
reconhecível como de origem divina e por vezes assumem a forma humana,
mas são seres espirituais e, portanto, é mais provável que revelem a sua
presença de maneiras subtis, maneiras que são tipicamente únicas para
o indivíduo que os encontra.

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Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos

Os anjos são homens ou mulheres?

Outra pergunta que aparece com frequência. Mesmo que os anjos


apareçam por vezes como homens ou mulheres – nos filmes tendem a
ser representados por homens (John Travolta, Gary Grant, Nicolas Cage
e Denzel Washington fizeram de anjos) e as mulheres de bom coração e
abnegadas por natureza são apelidadas muitas vezes de anjos –, os nossos
guias celestiais não têm sexo, são seres espirituais, diferentes dos huma‑
nos, não têm corpos físicos e não são homens nem mulheres.
Eu uso «ele» e «ela» quando me refiro aos anjos. Quando uso o sexo
masculino, não é por acreditar que os anjos são homens, antes porque
quero realçar o forte papel protector que desempenham nas nossas vidas.
Quando uso o sexo feminino, o meu objectivo é realçar-lhes a beleza,
a pureza e a compaixão.

Os anjos na religião

Antes de investigar a história dos anjos, quero falar de religião porque


quero tornar claro que apesar de muitas pessoas os associarem à religião,
os anjos não professam nenhuma.
Num estudo esclarecedor feito em 2002, a estudiosa inglesa Emma
Heathcote-Jones destacava a grande quantidade de pessoas que diziam
ter encontrado um anjo. Entre elas havia cristãos, muçulmanos e judeus,
mas 30% não declinavam qualquer religião e 10% diziam que eram
ateus ou agnósticos. O estudo de Heathcote-Jones mostra claramente
que, se somos religiosos, os anjos encaixam-se na nossa fé, mas se não
formos, podemos vê-los na mesma.
O islamismo, o judaísmo e o cristianismo são religiões monoteís‑
tas – acreditam num único Deus – e todas elas têm uma tradição de
seres celestiais que transmitem mensagens de orientação, cura e espe‑
rança aos seus seguidores e aos seus líderes. As religiões politeístas, que
acreditam em muitos deuses, não têm anjos, mas têm seres celestiais ou
mensageiros com qualidades angélicas. O que eu quero dizer com isto é
que a crença em anjos é universal e que estes podem entrar em contacto

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connosco seja qual for a nossa fé. A violência e a maldade têm devas‑
tado o mundo ao longo dos séculos em nome da religião, mas o mesmo
nunca aconteceu com os anjos. Os anjos não ofendem ninguém e as guer‑
ras não acontecem por causa deles. Os anjos não são preconceituosos,
ajudam toda a gente.
Os anjos não afectam as nossas liberdades de escolha e não nos
afastam das nossas religiões. Isto significa que, mesmo que saibam o que
é melhor para nós, não interferem, a menos que lhes demos autorização.
E quando lhes abrimos os corações, eles ajudam-nos sempre. Muitas
pessoas escrevem-me a perguntar se podem aborrecer os anjos com os
seus problemas pessoais – eles devem ter mais que fazer – e eu lembro-
-lhes que não existe limite para o tempo, amor e vontade de ajudar dos
nossos auxiliares celestes. É o «trabalho» deles, à falta de uma palavra
melhor, ajudar-nos a conseguir paz. Podemos pedir-lhes ajuda as vezes
que quisermos por meio de palavras, pensamentos ou orações. Eles
gostam. O assunto não interessa, o que eles querem é ajudar.
Como veremos a seguir, enquanto falo da sua aparência em algumas
das maiores religiões do mundo, os anjos são comuns a muitas delas.
Fundado pelos profetas Abraão e Moisés, o judaísmo emergiu há
4000 anos no Médio Oriente. No judaísmo, um anjo é um mensa‑
geiro espiritual ao serviço de Deus. Os anjos desempenham um papel
determinante no pensamento judaico, apesar de o significado exacto
da palavra ter sido sujeito a diferentes interpretações. No Velho Testa‑
mento, os anjos desempenham várias funções, incluindo a transmissão
de mensagens de Deus para os humanos e a protecção dos israelitas.
O arcanjo Miguel é o guardião do povo de Israel e nos anos mais recentes
tem havido na comunidade judaica um renovado interesse por anjos.
Na teologia cristã, os anjos são atribuídos individualmente e a
sua missão é guiar e proteger. Na fé católica são representados como
intermediários espirituais e instrumentos de comunicação entre Deus
e a humanidade. Cada pessoa tem o seu próprio anjo-da-guarda (é uma
questão de fé), que intercede por ela junto de Deus.
Na tradição islâmica, a crença nos anjos pode ter sido herdada do
judaísmo e do cristianismo. Segundo a doutrina desta religião, o profeta
Maomé é levado ao Céu por anjos, onde o arcanjo Gabriel lhe dita o que

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Como Ver, Ouvir e Sentir os Nossos Anjos

viria a ser a mensagem do Corão, a qual diz que os anjos são a ponte entre
o Céu e a Terra. De facto, a crença nos anjos é um dos seis pilares da fé
islâmica, na qual existe uma vasta hierarquia de anjos criados a partir da
luz. No Islão, os anjos não guiam e protegem apenas os humanos. Segundo
o profeta Maomé, «cada gota de chuva que cai é acompanhada por um
anjo porque até a chuva é uma manifestação da vontade de Deus».
O budismo baseia-se nos ensinamentos de Buda (Siddhartha
Gautama), que nasceu por volta do ano 560 a. C. Os budistas acreditam
na reincarnação, não num Deus criador. Por outras palavras, através do
renascimento, aprendemos a abdicar dos nossos desejos e ligações até
que, por fim, atingimos o nirvana ou a luz. Os bodhisattvas revelam-se
às pessoas através de formas de luz ou da meditação.
O hinduísmo teve origem há 3000 anos, talvez mesmo antes.
Os hindus acreditam num Deus universal, criador e transformador
de tudo, chamado Brama, e todas as outras divindades, como Vishnu,
o preservador, e Shiva, o destruidor, são manifestações de Brama, a rea‑
lidade externa. Brama manifesta-se no espírito humano como Atman,
ou alma. No hinduísmo não existem referências a anjos, mas existem
espíritos muito parecidos, como os devas ou «aqueles que brilham», que
podem aparecer aos humanos como emanações de luz para os ajudar nas
suas jornadas espirituais.
Nas culturas xamânicas, as aves místicas, que se parecem com anjos,
viajam entre este mundo e o outro em busca dos fragmentos da alma
das pessoas. Na tradição espiritual de muitas das primeiras nações da
América do Norte existe uma ave mitológica que transporta mensagens,
ilumina e que, por vezes, assume a forma humana. O povo Lacota
chamava wakinyan a esta criatura. Os Nootka chamavam-lhe Kw-Uhnx-
-Wa e os Kwakiult Hohoq. (Townsend, Richard F., Hero, Hawk and Open
Hand, Yale University Press, 2004.)
Nos anos de 1960 do século xx emergiu um movimento espiritual
chamado New Age, que pode ser definido como «religião após as outras»,
orientado para as espiritualidades pagãs, como a celta ou a gnóstica.
E o que é fascinante é que até neste movimento os anjos permanecem
com um papel preponderante. Podemos ler livros sobre eles nas secções
«documentais» e «mente, corpo e espírito» de várias livrarias.

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Os anjos na história

A religião ensina-nos que os anjos são mensageiros espirituais que


fazem a ligação entre os humanos e o divino, mas eles também existem
fora das religiões estabelecidas. A sua presença na Terra está registada,
desde os tempos antigos, na tradição oral, escrita e em cerimónias e
rituais.
As fontes antigas, anteriores ao livro do Génesis (que data do século
vi ou vii a. C.), mostram-nos que os anjos, ou mensageiros divinos, já
existiam nos escritos sumérios, babilónicos, assírios, persas, egípcios e
gregos e é possível que as crenças hebraicas, no que se refere aos anjos,
tenham sido herdadas destas fontes. Por sua vez, o cristianismo e o isla‑
mismo tê-las-ão herdado do judaísmo. Há mais de 4000 anos, na Pér‑
sia (hoje Irão) e na Índia já as pessoas estendiam as mãos para os devas,
os tais «seres brilhantes», mensageiros do divino. Os babilónios grava‑
vam imagens de seres alados na pedra dos seus templos para os proteger.
Os mesmos seres apareceram mais tarde no judaísmo e depois no cris‑
tianismo e no islamismo. Numa antiga coluna Suméria (c. 2300 a. C.) do
templo de E-Nun-makh, na cidade de Ur, vê-se um ser alado a deitar água
da vida na taça do rei. Nos escritos assírios, a palavra kababu ou kuribu
significava seres protectores alados. Na mitologia egípcia a deusa Ísis
usa as suas asas para insuflar vida no seu marido e no seu irmão Osíris.
Os antigos gregos acreditavam em Hermes, o mensageiro dos deuses,
com asas nos calcanhares. Na mitologia romana, Hermes é substituído
por Mercúrio. Os antigos gregos e romanos também tinham os seus dia-
mones, espíritos bons e maus. Os bons eram protectores pessoais. Nou‑
tras culturas antigas os seres alados têm poderes sobrenaturais: criaturas
aladas com cabeça humana nos túmulos etruscos, as valquírias viquin‑
gues, as fereshta persas e as apsaras hindus.
Um dos primeiros registos históricos chega-nos, talvez, do zoroas-
trismo, a religião monoteísta mais antiga do mundo, fundada por
Zoroastro, que viveu na Pérsia entre 1500 e 550 a. C. O zoroastrismo
é importante devido aos seus vínculos com as espiritualidades oriental
e ocidental. Zoroastro ensinou que há um Deus de bondade e luz e que
as pessoas são atormentadas por demónios e ajudadas por anjos de luz.

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