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Resumo:
A atividade ecoturística desenvolvida em trilhas nas Unidades de Conservação
senão planejada corretamente pode causar impactos negativos inviabilizando os
objetivos conservacionistas e consequentemente a própria atividade. Neste sentido,
conhecer os impactos físicos e atividades conflitantes pode auxiliar no
desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental que busquem minimizar os
impactos existentes. Nesta direção, este estudo teve como objetivo conhecer,
descrever e analisar os impactos provocados pelo ecoturismo e atividades
conflitantes na Trilha do Carteiro-Serra de São José/Tiradentes-MG, fornecendo
assim subsídios para projetos de educação ambiental. Para tanto foram utilizados
métodos de pesquisa qualitativa, entrevistas semiestruturadas registros fotográficos
e notas de campo. Foi possível identificar impactos causados por interferência
antrópica durante a realização de práticas ecoturísticas, como lixo, fogueira, restos
de atividades esportivas, bifurcação de trilhas, vandalismo nas trilhas, como também
outras atividades incompatíveis com o ecoturismo e com os objetivos
conservacionistas.
Abstract
The ecotourism activity developed on trails in protected areas or planned properly
can cause negative impacts precludes the conservation goals and consequently the
own activity. In this sense, knowing the physical impacts and conflicting activities can
assist in the development of environmental education projects that seek to minimize
existing impacts. In this direction, this study aimed to describe and analyze the
impacts caused by the ecotourism and conflicting activities on Trilha do Cartiero in
Serra de São José/Tiradentes-MG, Brazil, thus providing grants for environmental
education projects. For both qualitative research methods were used, semi-
structured interviews photographic records and field notes. It was possible to identify
impacts caused by anthropogenic interference during practices, ecotourism, like dirt,
bonfire, remains of sports activities, trails fork, vandalism on the tracks, as well as
other activities incompatible with the ecotourism and conservation goals.
Como essa atividade necessita de espaço natural para a sua prática, muitas
vezes são escolhidas as unidades de conservação (UC), devido suas paisagens,
fauna, flora e elementos culturais existentes. Além das diversas motivações que
levam os turistas a lugares de preservação ambiental, podem ser citadas como
motivações a fuga dos grandes centros urbanos e religação à natureza
(KRIPPENDORF, 2001; TAKAHASHI, 2004). A procura por ambientes naturais
conservados/preservados, invariavelmente dotados de ecossistemas frágeis e de
grande importância ambiental, tem como consequência o contato com as UC, o que
ocasiona naturalmente, em uma demanda muito grande para gestão das UC
brasileiras” (COSTA, 2002). Já no século XIX essa estreita ligação entre áreas
legalmente protegidas pelo poder público e visitantes se evidenciava nos Parques
Nacionais de Yellowstone e Yosemite, ambos nos Estados Unidos da América
(FERRETTI, 2002).
Já em relação aos riscos potenciais, a degradação ambiental é o problema
mais comumente associado ao turismo em UC. Muitos danos são visíveis: trilhas e
vegetação destruída, distúrbios e danos à vida selvagem, poluição dos cursos
d’água e de praias, danos à infraestrutura e lixo espalhado (PIRES, 2001;
TAKAHASHI, 2004).
Atualmente, diversos estudos apontam para a importância de se planejar a
atividade de ecoturismo para evitar impactos negativos e buscar maximizar os
impactos positivos, pois os ambientes naturais, áreas de prática da atividade, são
muitas vezes sensíveis as ações humanas (TAKAHASHI, 2004). Conforme colocado
por Ignarra (2003), “os impactos são classificados em três tipos: econômicos,
culturais e físicos”, este último será o foco deste estudo.
Em relação aos riscos inerentes ao ecoturismo, Layrargues ( 2004 )ressalta:
Área de Estudo
A trilha do carteiro está localizada no município de Tiradentes dentro dos
limites de duas UC que compõem a área deste estudo, a Área de Proteção
Ambiental Estadual (APAE) Serra de São José e o Refúgio Estadual da Vida
Silvestre (REVIS) Libélulas da Serra de São José, na mesorregião dos Campos das
Vertentes, Minas Gerais, na bacia do Rio das Mortes. É constituída por formações
vegetais da Floresta Atlântica, possuindo um dos maiores fragmentos dessa
tipologia nessa mesorregião, além de Campos rupestres e formações savânicas
(FABRANDT, 2000).
Um levantamento realizado sobre a biodiversidade em Minas Gerais apontou
que esta região é de importância biológica extrema para conservação de aves e
flora, muito alta para a conservação de invertebrados, e alta para conservação da
herpetofauna (DRUMMOND, 2005).
Criada pelo decreto 43.908 em 5/11/2004, com uma área de 3.717 ha a APAE
Serra de São José, foi criada em 16/02/1990 pelo Decreto 30.934 e possui 4.758 ha,
abrangendo os municípios de Tiradentes, Prados, São João Del Rei, Santa Cruz de
Minas e Coronel Xavier Chaves, no estado de Minas Gerais (figura1).
Metodologia
Utilizou-se neste estudo do método qualitativo como descrito por Leite (2008),
baseado em objetivos classificatórios, de maneira adequada aos valores culturais e
a capacidade de reflexão dos indivíduos. Foram realizadas incursões a campo e
aplicados questionários semiestruturados aos atores envolvidos com a atividade
ecoturística na trilha.
Para obtenção de dados de campo, realizou-se visitas com captura de notas
descritivas e fotografias na Trilha do Carteiro, durante os dias 25 de setembro e 16
de outubro de 2014. Possibilitando assim o contato direto com o ambiente, registros
das primeiras impressões e identificações dos impactos físicos na trilha.
As entrevistas ocorreram no dia 07 de novembro de 2014 com seis sujeitos
envolvidos com a atividade, sendo estes: representante de agência de turismo,
turista, residente, Instituto Estadual de Florestas-IEF e dois representantes da
Prefeitura Municipal de Tiradentes, com o consentimento prévio destes para
gravação de voz e posterior transcrição para melhor análise.
Por fim, analisamos os dados coletados, as entrevistas, as anotações de
campo, as fotos e os vídeos feitos, sendo possível com base nesse material
conhecer o ambiente, identificar os impactos físicos e propor caminhos para uma
Educação Ambiental.
Resultados e Discussão
A fuga dos grandes centros urbanos vem provocando um aumento na procura
pelo contato com a natureza. Desta forma, as UC dotadas de um rico patrimônio
natural e cultural, caracterizados pela beleza cênica e o conhecimento, práticas e
historias das comunidades locais, acabam atraindo um número cada vez maior de
ecoturistas. Fato que ocorre na área objeto deste estudo.
Neste sentido, devido a relevância biológica da área objeto deste estudo, para
conservação da natureza (DRUMOND, 2005) e também dos seus aspectos culturais,
cabe aqui discutir os impactos observados in loco, os registrados na literatura e os
relatados por aqueles que estão relacionados diretamente com atividade na trilha do
carteiro. O resultado desta discussão pode favorecer o desenvolvimento de
iniciativas de educação ambiental que possam colaborar mais efetivamente com
minimização, mitigação ou até mesmo o fim dos impactos físicos na Trilha do
Carteiro, pois os mesmos podem provocar alterações no ambiente natural,
ocasionando a degradação local, ameaçando os objetivos conservacionistas
inerentes as UC e a própria atividade ecoturística (LAYRARGUES, 2004).
Quando se inicia a trilha, o primeiro impacto físico que se destaca é a erosão,
que apesar detratar de um fenômeno natural, seu desenvolvimento está sendo
favorecido pela retirada da vegetação e a compactação do solo, provocada pelo
pisoteio dos visitantes (figura 3). A erosão pode provocar também impactos nos
recursos hídricos, fato que se agrava nas estações chuvosas, quando a água da
chuva lava a trilha levando maior quantidade de sedimentos para os rios, nascentes
e córregos, causando assim o assoreamento destes.
“a Trilha do Carteiro apesar de ser uma trilha bem limpa né, a gente
com um olhar assim um pouco mais detalhado consegue identificar
sim alguns impactos, é comum bituca de cigarro, é comum papel de
biscoito, plástico, é comum tampa de garrafa, é bem comum a gente
encontrar esses vestígios ai do pessoal que caminha e está sempre
deixando um pouco de lixo pra traz”.
Conclusões
Conclui-se que é necessária uma maior integração nas ações do IEF e dos
cinco municípios de Minas Gerais integrantes das UC (Cel. Xavier Chaves, Prados,
Santa Cruz de Minas, São João Del Rei e Tiradentes).
Até que ponto o ecoturismo pode crescer sem provocar transformações
bruscas na Trilha do Carteiro e demais trilhas das UC em questão? Neste sentido é
urgente fazer a análise de capacidade de carga das trilhas, pois a atividade está
aumentando consideravelmente na região. O Refúgio Estadual de Vida Silvestre
Libélulas da Serra de São José que é uma unidade de proteção integral, tem muito a
perder com o desequilíbrio de seu habitat com uma visitação desordenada podendo
ser irreversível.
Nas entrevistas foi comprovado que há projetos de educação ambiental em sua
maioria voltados para estudantes do ensino fundamental, também há atividades de
educação ambiental nas praças públicas e nas sedes das UC (Casas da Serra e das
Águas). Porém, para que a educação ambiental atinja também os turistas, este
trabalho sugere que a Trilha do Carteiro seja interpretativa.
Por meio da visitação com interpretação ambiental da trilha, poder-se-á
trabalhar questões dos biomas que abrangem a mata atlântica, o cerrado e os
campos rupestres. A rica e diversificada flora e fauna da região possibilitam que a
interpretação ambiental e a educação ambiental contribuam, de maneira significativa
para a reavaliação de valores e de posturas que influenciam nos padrões de
comportamento dos visitantes em ambientes naturais. Desta forma, os objetivos
conservacionistas serão alcançados e o ecoturismo poderá continuar sendo uma
atividade ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente
aceitável.
Bibliografia
ROCHA, F.; BARBOSA, F.P.; ABESSA, D.M.S. Trilha ecológica como instrumento
de Educação Ambiental: estudo de caso e proposta de adequação no Parque
Estadual Xixová-Japuí (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.3, n.3,
p. 478-497. set. 2010.