Você está na página 1de 14

O nacional e o estrangeiro em literatura

1
Os termos do problema: estrangeiro

Do latim extraneus, “de fora”


Em grego, βᾰ́ρβᾰρος, “bárbaro”. Teria surgido a partir de uma
onomatopeia: os gregos utilizavam a expressão bar bar para se
referir às pessoas que não falavam a língua grega.
Bárbaro: que não é civilizado; selvagem; brutal, cruel, feroz; que é
estrangeiro ou estranho à cultura local; estranho; exótico; de estilo
rude, grosseiro, não refinado.
Conceito anterior ao de nação

2
Citação de uma citação de uma menção

“Quando o rei Pirro entrou na Itália, logo depois de ter examinado


a formação do exército que os romanos lhe mandavam ao encontro,
disse: “Não sei que bárbaros são estes (pois os gregos assim
denominavam todas as nações estrangeiras), mas a disposição deste
exército que vejo não é de modo algum bárbara” (Montaigne, via
Silviano Santiago)

3
Os termos do problema: nacional

De nação, mesma raiz de nascer


Antinomias da nação:
● modernidade objetiva x antiguidade subjetiva aos olhos dos
nacionalistas
● universalidade formal x particularidade irremediável
● potência política x pobreza filosófica

4
Comunidades imaginadas

Conceito de Benedict Anderson


Características da nação como comunidade imaginada:
● limitada
● soberana
● comunidade
Outras formas de comunidade imaginada:
● Comunidade religiosa: ilimitada, língua e escrita sagradas.
● Estado dinástico: pensado a partir de um centro, múltiplos
vínculos familiares

5
Condições de possibilidade da “nação”

Tempo vazio e homogêneo: como o tempo do romance (“uma


dissertação complexa sobre a palavra "entrementes”) e do jornal

Nova fixidez (e prestígio) da língua vernácula: capitalismo de


edição contra a dispersão infinita de variantes no tempo e no
espaço

6
Os termos do problema: literatura

Derivado de littera, letra

Zumthor: a literatura é um caso particular da poesia

7
Oralidade e escrita/latim e linguas vulgares

A conquista da leitura silenciosa (séc VII-XVIII ou mesmo depois)

O registro do texto e, por vezes, da música de diferentes conjuntos


de canções (a partir do séc. XIII-XIV)

Os poetas toscanos (séc. XIII-XIV)

La Pléyade (séc. XVI): a língua do rei (francês) contra o latim e o


toscano, mas também contra a langue d'oc e demais variantes da
langue d'oil

8
República mundial das letras

Conceito de Pascale Casanova


Contra o “inconsciente literário majoritariamente nacional”.
Dentro do espaço literário internacional existem relações de força e
violência próprias relacionadas, mas não coincidentes com a
dominação política.
Batalha pela definição de literatura como o móvel fundamental das
disputas literárias

9
A metáfora da devoração

“Como os romanos enriqueceram sua língua… Imitando os


melhores autores gregos, transformando-se neles, devorando-os; e
depois de tê-los bem digerido, convertendo-os em sangue e
nutrição”
- Joachim du Bellay, Defesa e ilustração da língua francesa (1549)

10
O efeito Herder

Johann Gottfried Herder (1744-1803) cria um novo modelo de


contestação das hegemonias linguísticas e literárias através da
ligação entre nação e linguagem, criando a figura da “literatura
popular” a ser recolhida por estudiosos.

11
Bárbara literatura nacional

América como cópia e simulacro

Região híbrida por excelência (Peter Burke)

A maior contribuição da América Latina para a cultura ocidental vem


da destruição sistemática dos conceitos de unidade e pureza (Silviano
Santiago)

Fazemos constantemente a experiência do caráter postiço,


inautêntico, imitado da vida cultural que levamos (Roberto Schwarz)

12
Nacional por subtração (1986)

Inventário de nacionalismos e “universalismos” brasileiros de


Roberto Schwarz, focado no contínuo sentimento de
inautenticidade e atraso.

Recusa de um nacionalismo que não seja atravessado pela questão


de classe.

13
Entre-lugar do discurso latino-americano (1971)

Denúncia antropofágica/pós-estruturalista de Silviano Santiago da


obsessão com fontes e origens como capitulação à ordem simbólica
neo-imperialista.

Falar, escrever, significa: falar contra, escrever contra.

As leituras do escritor latino-americano não são nunca inocentes.

14

Você também pode gostar