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Súmulas Criminais STF e STJ
Súmulas Criminais STF e STJ
STF e STJ
EBEJI
SÚMULAS CRIMINAIS
STF e STJ
Comentadas e Organizadas por assunto
DIREITO PENAL, EXECUÇÃO PENAL E PROCESSUAL PENAL
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APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a EBEJI vem apresentar e divulgar o seu mais novo Livro
Digital Temático, inteiramente gratuito a ser divulgado e compartilhado através das redes
sociais.
Esse livro é uma espécie de celebração. No final de 2016 e início de 2017, vários portais
divulgavam que, em razão da crise, os concursos se extinguiriam e não haveria mais
oportunidades para quem desejava ingressar no serviço público.
Conforme antecipamos, nossos alunos não poderiam se deixar contaminar com esses boatos,
pois ainda que houvesse alguma dificuldade, as oportunidades continuariam e continuarão
aparecendo. O nosso dever é manter o foco, a abnegação e o esforço na preparação para
quando a oportunidade aparecer, nós estejamos preparados.
Em verdade, 2017 está repleto de oportunidades nas áreas de Defensoria Pública, Advocacia
Pública, magistratura e Ministério Público! Além disso, já há sinalizações muito animadoras
em relação a 2018. Assim, a ordem por aqui é não esmorecer e redobrar os esforços!
Como símbolo desse esforço necessário e visando sempre a manter a nossa missão de auxiliar
TODOS os candidatos que mantêm o sonho da aprovação, a EBEJI – que diariamente produz
e compartilha nas redes sociais muito conhecimento gratuitamente disponibilizado a quem se interessar – vem
divulgar o mais novo livro digital “Súmulas Criminais STF e STJ Comentadas e
Organizadas por assunto”.
Trata-se de um excelente material para (i) aprender jurisprudência criminal, (ii) revisar para
provas objetivas, subjetivas ou oral, (iii) garantir um sem número de acertos nas disciplinas
de direito penal, processo penal e execução penal, (iv) além de ser um excepcional material
para consulta e auxílio no dia a dia prático de profissionais que atuam na área.
Com muito carinho, dedicação e cuidado, a equipe da EBEJI, coordenada pelo professor
e Defensor Público Federal Pedro Coelho, produziu esse material que reputamos bastante
útil e de grande relevância!
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que esse livro seja bem aproveitado e de muito valor para a preparação de vocês. Além disso,
desejamos com toda a sinceridade que se vocês conhecerem alguém que pode também
desfrutar do livro digital, por qualquer motivo que seja, compartilhe e/ou marque seu amigo!
EBEJI.
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Sumário
DIREITO PENAL ................................................................................................................................................ 7
Lei nova favorável......................................................................................................................................... 7
Crime impossível........................................................................................................................................... 7
Crime continuado ......................................................................................................................................... 8
Ação Penal ..................................................................................................................................................... 9
Dosimetria da pena ....................................................................................................................................... 9
Fixação de regime prisional .......................................................................................................................11
Medida de segurança ..................................................................................................................................12
Pena de multa ..............................................................................................................................................15
Sursis .............................................................................................................................................................15
Perdão Judicial .............................................................................................................................................16
Prescrição .....................................................................................................................................................16
Contravenções penais.................................................................................................................................19
Furto .............................................................................................................................................................20
Roubo ...........................................................................................................................................................22
Extorsão .......................................................................................................................................................24
Estelionato ...................................................................................................................................................24
Violação de direito autoral.........................................................................................................................26
Estupro .........................................................................................................................................................29
Uso de documento falso ............................................................................................................................30
Falsa identidade ...........................................................................................................................................30
Contrabando e Descaminho .....................................................................................................................31
Crimes de responsabilidade de prefeitos .................................................................................................32
Corrupção de menores ...............................................................................................................................32
Crimes contra a ordem tributária .............................................................................................................33
Crime de trânsito.........................................................................................................................................34
Estatuto do Desarmamento ......................................................................................................................35
Lei Maria da Penha .....................................................................................................................................36
Lei de Drogas ..............................................................................................................................................37
Crimes contra a segurança nacional .........................................................................................................39
DIREITO PROCESSUAL PENAL ......................................................................................................................39
Inquérito Policial .........................................................................................................................................39
Uso de algemas ............................................................................................................................................44
Competência da Justiça Estadual..............................................................................................................46
Competência da Justiça Comum Federal ................................................................................................50
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Competência da Justiça Militar .................................................................................................................52
Foro por prerrogativa de função ..............................................................................................................54
Conflito de Competência ...........................................................................................................................57
Ação Penal ...................................................................................................................................................57
Assistente de acusação ...............................................................................................................................60
Mutatio libelli ...............................................................................................................................................61
Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos.........................62
Citação por edital e suspensão do processo ...........................................................................................63
Suspensão condicional do processo.........................................................................................................66
Transação penal .......................................................................................................................................68
Carta precatória ...........................................................................................................................................69
Meios de prova ............................................................................................................................................70
Prisão ............................................................................................................................................................71
Liberdade provisória...................................................................................................................................74
Tribunal do júri.........................................................................................................................................76
Prazos............................................................................................................................................................78
Nulidades......................................................................................................................................................79
Recursos .......................................................................................................................................................82
Habeas corpus .............................................................................................................................................87
Mandado de segurança ...............................................................................................................................90
Revisão criminal ..........................................................................................................................................91
Embargos infringentes ...............................................................................................................................91
Execução penal............................................................................................................................................91
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DIREITO PENAL
Crime impossível
Súmula 145 - STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação.
Nesse ponto, vale atentar para a Súmula 567 do STJ, que indica que o “sistema de vigilância
realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial,
por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”.
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Crime continuado
Súmula 605 - STF: Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.
Superada. A súmula é anterior a Lei nº 7.209/84, que reformou a Parte Geral do Código Penal.
A partir de então, de forma expressa através do parágrafo único do art. 71 do CP, passou-se
a admitir continuidade delitiva em crimes dolosos:
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do
parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Para essa continuidade delitiva do parágrafo único do artigo 71 do CPB (chamada por alguns
de crime continuado específico), relacionado a crimes contra bens jurídicos
personalíssimos, deve haver o preenchimento de 3 requisitos: (i) vítimas diversas, (ii)
presença de violência ou grave ameaça e (iii) ter natureza dolosa a conduta.
Súmula 711 - STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.
Atenção! Apesar de a redação da súmula deixar a entender que se aplica sempre a lei mais
grave aos crimes continuados ou permanentes, o entendimento correto é o de que sempre
se aplicará a lei nova, quer seja mais ou menos gravosa.
Imagine, pois, que o Tício está cometendo um crime permanente com pena em abstrato de
3 a 10 anos. Contudo, durante a permanência do crime em tela, há uma modificação da lei
penal e aquele crime passa a ter uma pena de 1 a 5 anos.
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interrompida a permanência, ainda que mais grave, conforme compreensão consolidada na
Súmula 711 do Supremo Tribunal Federal1.
Ação Penal
Súmula 601 - STF: Os arts. 3º, II, e 55 da Lei Complementar nº 40/1981 (Lei
Orgânica do Ministério Público) não revogaram a legislação anterior que atribui a
iniciativa para a ação penal pública, no processo sumário, ao juiz ou à autoridade
policial, mediante portaria ou auto de prisão em flagrante.
Súmula 607 - STF: Na ação penal regida pela Lei nº 4.611/1965, a denúncia, como
substitutivo da portaria, não interrompe a prescrição.
“A Lei 4.611/65 dispõe, em seu artigo 1º, que ‘[o] processo dos crimes previstos nos artigos 121, § 3º,
e 129, § 6º, do Código Penal, terá o rito sumário estabelecido nos arts. 531 a 538 do Código de
Processo Penal’. É dizer, a Lei estendeu aos crimes de homicídio e lesão corporal culposos o rito
reduzido das contravenções penais, prevendo tenha início o processo com o auto de prisão em
flagrante ou mediante portaria expedida pela autoridade policial ou pelo juiz, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público. Esses preceitos tornaram-se sabidamente incompatíveis
com o disposto no artigo 129, I, da Constituição de 1988, que conferiu ao Ministério Público
o monopólio da ação penal pública.” (STF. HC 91581, Relator Ministro Eros Grau, Segunda
Turma, julgamento em 14.8.2007, DJe de 22.2.2008).
Dosimetria da pena
1
HC 298.927/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe
26/11/2015.
2
O termo “proibido” claramente não está no teor do verbete sumulado. Contudo, diversos candidatos têm
dificuldade de assimilar o significado de defeso, razão pela qual optamos por inserir a expressão sinônima.
3 No mesmo sentido encontra-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Sobre o tema, vale conferir o
9
Súmula 241 - STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como
circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.
Nesse raciocínio, devemos atentar para a situação da chamada confissão qualificada. Ela
nada mais é do que a situação em que o agente reconhece espontaneamente (sem ser
constrangido) a prática de um fato típico perante autoridade, porém, concomitantemente,
alega motivo etiquetado como (i) excludente da ilicitude ou de (ii) culpabilidade em sua
defesa. Ora, de acordo com a Súmula 545 do STJ, caso a confissão (mesmo qualificada) seja
utilizada no convencimento do julgador, ela será idônea a gerar a redução! Afirma-se, pois,
que o STJ admite a confissão qualificada.
4
EREsp 1431091/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/12/2016, DJe
01/02/2017.
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Isso é bastante relevante, pois há julgados do Supremo Tribunal Federal (antes da Súmula do
STJ) asseverando posição em sentido contrário, ou seja, que “a confissão qualificada não é
suficiente para justificar a atenuante prevista no art. 65, III, “d”, do Código Penal (Precedentes: HC
74.148/GO, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 17/12/1996 e HC 103.172/MT, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 24/09/2013)”5.
A importância desse entendimento é gigante, pois a partir de uma leitura rápida do artigo 33,
parágrafo 2º do CPB, pode-se ter a impressão de que a vontade do legislador é determinar
que o regime inicial de cumprimento da pena de todo reincidente seja o fechado.
Todavia, de acordo com a Súmula ora analisada, temos que: (i) se se tratar de reincidente
com pena de reclusão superior a 4 anos, o regime inicial será o fechado; de outra sorte, (ii)
caso se trate de pena de reclusão igual ou inferior a 4 anos, tratando-se de reincidente, o
regime inicial poderá ser o fechado ou aberto, a depender das circunstâncias do artigo 59 do
CPB6.
A Segunda Turma, em conclusão e por maioria, deu provimento a recurso ordinário em “habeas
corpus” em que o recorrente pleiteava a fixação do regime semiaberto para o início do cumprimento
da pena. No caso, ele foi condenado pela prática de roubo duplamente circunstanciado, em razão do
concurso de agentes e do uso de arma de fogo. Na sentença, o juízo fixou a pena-base no mínimo
legal, mas estabeleceu o regime inicial fechado — v. Informativo 841. O Colegiado entendeu, de
acordo com precedentes da Turma, que o juízo, ao analisar os requisitos do art. 59 do Código
5HC 119671, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 05/11/2013.
6
No sentido de que é inviável o regime inicial aberto para o réu reincidente condenado a pena inferior a 4 anos,
conferir o STJ, HC 285.428/RS, 5ª Turma (2015).
11
Penal, havia considerado todas as circunstâncias favoráveis. Concluiu que, fixada a pena no
mínimo legal, não cabe determinar regime inicial fechado. Lembrou, também, orientação do
Enunciado 440 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça nesse mesmo sentido (“Fixada a pena-
base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível
em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”). Vencido o ministro
Ricardo Lewandowski (relator), que desprovia o recurso. RHC 135298/SP, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, 18.10.2016. (RHC-135298)
Medida de segurança
Súmula 520 - STF: Não exige a lei que, para requerer o exame a que se refere o art.
7777 do Código de Processo Penal, tenha o sentenciado cumprido mais de metade
do prazo da medida de segurança imposta.
7 Art. 777. Em qualquer tempo, ainda durante o prazo mínimo de duração da medida de segurança, poderá o
tribunal, câmara ou turma, a requerimento do Ministério Público ou do interessado, seu defensor ou curador,
ordenar o exame, para a verificação da cessação da periculosidade.
12
Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mínimo de duração da medida de
segurança, poderá o Juiz da execução, diante de requerimento fundamentado do Ministério Público
ou do interessado, seu procurador ou defensor, ordenar o exame para que se verifique a cessação
da periculosidade, procedendo-se nos termos do artigo anterior.
Súmula 525 - STF: A medida de segurança não será aplicada em segunda instância,
quando só o réu tenha recorrido.
Contudo, com a Reforma da Parte Geral do Código Penal Brasileiro efetivada em 1984,
mormente com a nova redação do artigo 98 do CPB8, podemos afirmar que o legislador
pátrio passou a adotar expressamente o Sistema Vicariante ou Unitário, superando o
sistema do duplo binário. Assim, ao semi-imputável será aplicada a pena reduzida de 1/3 a
2/3 OU a medida de segurança, conforme seja mais adequado ao caso. Não mais é
admitida a pena privativa de liberdade E medida de segurança, ainda que em
sequência, pelo mesmo fato típico9.
Por essa razão, a doutrina majoritária sustentava a superação da Súmula 525. Entretanto,
em 2012, houve aplicação da referida súmula pelo STF:
8 Art. 98 – Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial
tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos
§§ 1º a 4º.
9 Para mais informações, ver artigo do professor Pedro Coelho publicado em: https://blog.ebeji.com.br/o-cp-
brasileiro-adota-o-sistema-vicariante-ou-duplo-binario/.
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Há julgados do Superior Tribunal de Justiça advogando a superação da Súmula 525
do STF, afirmando peremptoriamente que “não constitui reformatio in pejus o fato de o Tribunal
substituir a pena privativa de liberdade por medida de segurança, com base em laudo psiquiátrico que
considerou o acusado inimputável, vez que a medida de segurança é mais benéfica do que a pena, vez que
objetiva a proteção da saúde do acusado. Não se aplica a Súmula 525/STF ao caso, vez que a referida
súmula foi editada quando vigia o sistema duplo binário, isto é, quando havia possibilidade de aplicação
simultânea de pena privativa de liberdade e de medida de segurança. A reforma penal de 1984, autoriza a
substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança ao condenado semi-imputável que
necessitar de especial tratamento curativo, aplicando-se o mesmo regramento da medida de segurança para
inimputáveis (art. 97 e 98)”10. Redobre os cuidados com a aparente divergência entre STF e STJ
quanto ao presente verbete.
Súmula 527 - STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar
o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
Cuidado! Os Tribunais divergem nesse assunto. Enquanto o STJ entende que o prazo
máximo de duração da medida de segurança é o máximo da pena abstratamente cominada
ao delito, o STF possui entendimento diverso, no sentido de que a duração máxima da
medida de segurança é o previsto no art. 75 do CP, trinta anos:
10HC 187.051/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe
14/10/2011.
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Pena de multa
Após a Lei nº 9.268/96, que alterou o art. 51 do Código Penal, não há que se falar em
legitimidade do Ministério Público para executar pena de multa:
Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor,
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública , inclusive
no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. (Redação dada pela Lei nº 9.268,
de 1º.4.1996)
A execução também não deverá ser manejada pela Procuradoria da Fazenda respectiva no
âmbito da Vara de Execuções Penais. Havendo vara especializada para a cobrança de dívidas,
será sua a competência para a referida cobrança.
Sursis
Súmula 499 - STF: Não obsta à concessão do sursis condenação anterior à pena de
multa.
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa,
por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
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§2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por
quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
Perdão Judicial
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de
reincidência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Deve-se compreender que quando o agente é beneficiado pelo perdão judicial, não se está
realizado um juízo absolutório de mérito (autoria ou materialidade), tampouco havendo
condenação, vez que ausente fixação da pena. Daí ser imperiosa e pragmática a conclusão do
STJ no sentido de qualificar essa decisão como “sentença declaratória de extinção da
punibilidade”.
Prescrição
Súmula 146 - STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação.
Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-á pelas disposições do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decretação da
falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação
extrajudicial. Parágrafo único. A decretação da falência do devedor interrompe a prescrição cuja
contagem tenha iniciado com a concessão da recuperação judicial ou com a homologação do plano
de recuperação extrajudicial.
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Súmula 592 - STF: Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas interruptivas da
prescrição, previstas no Código Penal.
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de
cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Superada, pois além da prescrição da pretensão executória, também se calcula pela pena em
concreto tanto a prescrição retroativa, quanto a prescrição intercorrente.
Assim, o fato de ter havido desclassificação por parte do Tribunal do Júri para crime diverso
dos dolosos contra a vida, por exemplo, não tem o condão de afastar a incidência do artigo
117, II do Código Penal, o qual indica que “o curso da prescrição interrompe-se pela pronúncia”, sem
fazer qualquer ressalva.
Atenção! De acordo com o art. 110 do Código Penal, a reincidência influi no prazo da
prescrição da pretensão executória, entretanto, conforme se depreende da súmula, não influi
no prazo da prescrição da pretensão punitiva:
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Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela
pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um
terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Apesar de bastante defendida e de utilidade prática (em um viés pragmático salutar do processo
penal), não possui previsão legal e, por essa razão, não é admitida pelos Tribunais Superiores.
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Além dos argumentos de falta de previsão legal, violação da presunção de inocência,
fundamentação em dado aleatório, possibilidade de mutatio libelli e da própria Súmula 438 do
STJ, deve-se registrar que esse entendimento também resta consolidado em âmbito do
Supremo Tribunal Federal, conforme se afere do precedente a seguir colacionado,
reproduzido no Informativo 788 daquela Corte:
Contravenções penais
Súmula 720 - STF: O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra
do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no
tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.
O STF assentou a derrogação do art. 3213 da Lei de Contravenções Penais, no âmbito das
vias terrestres, pelo art. 30914 do Código de Trânsito, precisamente porque o último, além de
converter em crime a infração, para a sua configuração passou a reclamar a ocorrência de
perigo concreto.
13 Art. 32. Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em aguas públicas:
Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
14 Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou,
19
Furto
Importante! Essa Súmula deve ser entendida, mas analisada com muito cuidado para os que
estiverem prestando provas de etapas mais avançadas em concurso de Defensoria Pública.
O raciocínio que não prevaleceu no STJ, mas se revela interessante no dia a dia criminal
prático, era no sentido de que o crime de furto qualificado pelo concurso de agentes (art. 155
§ 4º IV do CPB) tem a pena duplicada em relação ao furto simples. Todavia, alguns
passaram a advogar a tese de que esse incremento seria irrazoável e desproporcional. Para
comprovar a tese ventilada, apontavam como parâmetro comparativo situação semelhante
prevista pelo legislador para o roubo praticado em concurso de agentes. Diferentemente da
duplicação da pena, no roubo haveria “simples” aumento de pena entre 1/3 e ½. O STJ
admitiu a utilização do parâmetro do artigo 157, parágrafo 2º (roubo) para os casos de furto
qualificado? Não! A utilização da analogia no caso em tela foi refutada, pois não se trata de
uma omissão do legislador e a utilização por parte do juízo de parâmetro legal diverso daquele
pretendido pelo Poder Legislativo culminaria em ofensa ao postulado da separação de
poderes. Daí ter prevalecido o entendimento consubstanciado no Súmula 442 do STJ.
Trata-se do furto privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), reconhecido não só pelo STJ
- vide súmula -, como também pelo STF:
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de pequeno valor. 4. Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus. (HC 96843, Relator(a): Min.
ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 24/03/2009, DJe-075 DIVULG 23-04-2009
PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-04 PP-00719 LEXSTF v. 31, n. 364, 2009, p. 490-495).
Percebe-se então que a jurisprudência dos Tribunais Superiores admite sim o furto
privilegiado-qualificado (ou furto híbrido), desde que estejamos diante de qualificadoras
objetivas! Mas o que são qualificadoras objetivas e subjetivas?
Qualificadora objetiva é aquela que está relacionada intimamente com o fato delituoso
praticado, circunstâncias em que o crime fora praticado, modo, lugar, tempo, instrumentos
utilizados, ao passo que a qualificadora subjetiva se verifica com vinculação à pessoa do
agente criminoso. Podemos dividir as qualificadoras do parágrafo 4º do artigo 155 do CPB
na seguinte classificação:
(a) com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; (a) com abuso de confiança,
ou mediante fraude, escalada
(b) com emprego de chave falsa; ou destreza;
Conforme preconiza o art. 17 do Código Penal, para configurar crime impossível (tentativa
inidônea ou quase-crime) se faz necessário a ineficácia absoluta do meio ou a impropriedade
absoluta do objeto. Portanto, o CP adota, quanto ao crime impossível, a teoria objetiva
temperada - aquela que considera haver crime tentado se a ineficácia do meio ou a impropriedade do objeto
for relativa:
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Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Roubo
Súmula 174 – STJ (cancelada): No crime de roubo, a intimidação feita com arma
de brinquedo autoriza o aumento da pena.
O STJ afirma claramente que não! Esse aumento pressupõe uma análise e fundamentação a
partir do caso concreto, a fim de aferir a maior ou menor reprovabilidade da conduta e a
necessidade de recrudescimento concreto da pena. O Súmula 443 do STJ materializa, na
22
prática, os postulados da individualização da pena e da necessária fundamentação das
decisões judiciais, ambos de estatura constitucional.
Súmula 582 - STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
O evento morte é essencial para poder-se falar em consumação do latrocínio. Ele somente
existirá, pois, quando houver morte causada no curso da prática de roubo, seja próprio ou
impróprio. Não estamos diante de um crime preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no
consequente), já que, independentemente de se tratar de morte produzida dolosa ou
culposamente, estar-se-á diante de latrocínio. Trata-se de um crime qualificado pelo
resultado. Acerca do momento consumativo do latrocínio, convém esquematizar algumas
situações e o respectivo entendimento prevalente:
Situação Latrocínio
15
Para conferir um maior aprofundamento sobre o tema e sobre todas as teorias envolvendo o momento
consumativo dos crimes de roubo e furto, conferir o artigo “COELHO, Pedro. Teorias da contrectatio,
amotio, ablatio ou illatio, em: https://blog.ebeji.com.br/teorias-da-contrectatio-amotio-ablatio-ou-illatio/.
16
Vide Súmula 610 do STF.
23
Subtração Consumada e Morte Tentada. Latrocínio Tentado17.
Extorsão
A extorsão é um crime formal. Em outras palavras, não obstante haver previsão de resultado
natural, ele não é imprescindível para a consumação do delito, revelando-se como mero
exaurimento da conduta. Independentemente da vantagem econômica, caracterizado
constrangimento ilegal com tal finalidade (art. 158 CPB), restará consumado o crime.
Como já salientou o STJ, “o delito tipificado no artigo 158 do Código Penal se consuma
independentemente da obtenção da vantagem indevida, bastando que a vítima faça, deixe de fazer ou tolere
que o agente faça alguma coisa mediante violência ou grave ameaça.(...) É impossível o reconhecimento da
tentativa na segunda conduta, já que a ação policial não impediu que as vítimas agissem de modo a entregar
a quantia exigida pelos réus, tendo obstado apenas que estes efetivamente recebessem o dinheiro, fase que
caracteriza mero exaurimento do delito (HC 232.062/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 11/03/2014, DJe 25/03/2014).
Estelionato
17
Apesar de haver alguma resistência a essa posição e precedentes em sentido diverso, prevalece no STF a
posição de que havendo subtração efetivada, mas a morte não se materializado, estaríamos diante de um
latrocínio tentado. Nesse sentido, em recente julgado, afirmou-se que “esse entendimento converge com a jurisprudência
da Corte, segundo a qual “o crime latrocínio, na modalidade tentada, para a sua configuração, prescinde da aferição da gravidade
das lesões experimentadas pela vítima, sendo suficiente a comprovação de que o agente tenha atentado contra a sua vida com animus
necandi, não atingindo o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade” (HC nº 113.049/SC, Primeira Turma,
Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 10/9/13)”. (RHC 133486, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma,
julgado em 02/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-177 DIVULG 19-08-2016 PUBLIC 22-08-2016).
24
Perceba que parcela da doutrina advoga a tese de que somente haveria de se falar em
consunção quando o crime meio se revelar de menor ou igual gravidade em relação ao crime
fim. Do contrário, haveria um concurso material. Atenção! Esse entendimento não
prevalece no STJ, pois em recentes e sucessivas decisões a Corte admite a aplicação da
consunção entre o estelionato (crime fim com pena abstrata menor) e o uso de documento
falso (crime meio com pena abstrata maior). Nesse ponto, destaca-se o precedente em que
se asseverou literalmente que “conforme o enunciado da Súmula 17 do Superior Tribunal de
Justiça, Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
Se o Tribunal de origem, soberano na análise das provas dos autos, concluiu que, no caso, o crime de uso
de documento falso foi praticado com a finalidade de possibilitar um único crime de estelionato, bem
como que não há indícios de que o agente tenha utilizado ou pretendia utilizar o documento falso em
outras oportunidades, o exame da pretensão em sentido contrário encontra óbice na Súmula 7/STJ (AgInt
no AREsp 738.842/DF, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
13/12/2016, DJe 19/12/2016)”.
O raciocínio reinante aqui foi o de que a competência em razão do lugar (territorial) é definida,
na forma do artigo 70 do CPP, a partir do local da consumação do delito, como regra. Nesse
ponto, aplicando-se a teoria da consumação ou do resultado, tem-se que o estelionato
cometido através de falsificação de cheque é consumado no lugar em que a vantagem foi
efetivamente obtida19.
18 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: § 3º - A pena aumenta-se de um terço,
se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular,
assistência social ou beneficência.
19 Vide Súmula 521 do STF.
25
Aqui, diferem-se dois tipos penais. O crime de moeda falsa, previsto no art. 289 do CP,
pressupõe, para a sua configuração, que a falsificação, de fato, seja apta a iludir e enganar
terceiros – homem médio. Se assim o for, a competência para julgar é da Justiça Federal, já que
por mandamento constitucional é da competência da União a emissão de moeda (art. 21,
VII). Por outro lado, caso a falsificação seja grosseira, não possuindo a mesma capacidade
para ludibriar terceiros, tratar-se-á de fraude, configurando estelionato, previsto no art. 171
do CP, de competência da Justiça Estadual.
Súmula 244 - STJ: Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos20.
Súmula 246 - STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime
de emissão de cheque sem fundos.
Súmula 521 - STF: O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Súmula 554 - STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após
o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
20
Mais uma aplicação da teoria da consumação ou do resultado para firmar a competência territorial.
26
De acordo com o princípio da adequação social, “não pode ser considerado criminoso o
comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o sentimento social de
Justiça” 21. Assim, se aplicado, tal princípio afastaria a tipicidade de determinadas condutas
que, em que pese serem típicas, são socialmente aceitas e toleradas. A Defensoria Pública do
Estado de São Paulo requereu, com base na adequação social, a declaração de atipicidade da
conduta a assistido incurso nas penas do art. 184, §2º do CP. O STF não acolheu a tese
(Informativo 583):
A Turma indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo
requeria, com base no princípio da adequação social, a declaração de atipicidade da conduta
imputada a condenado como incurso nas penas do art. 184, § 2º, do CP (“Art. 184. Violar direitos
de autor e os que lhe são conexos: ... § 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de
lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem
em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito
de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou,
ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos
titulares dos direitos ou de quem os represente.”). Sustentava-se que a referida conduta seria
socialmente adequada, haja vista que a coletividade não recriminaria o vendedor de CD’s e DVD’s
reproduzidos sem a autorização do titular do direito autoral, mas, ao contrário, estimularia a sua prática
em virtude dos altos preços desses produtos, insuscetíveis de serem adquiridos por grande parte da
população. Asseverou-se que o fato de a sociedade tolerar a prática do delito em questão não implicaria
dizer que o comportamento do paciente poderia ser considerado lícito. Salientou-se, ademais, que a
violação de direito autoral e a comercialização de produtos “piratas” sempre fora objeto de fiscalização
e repressão. Afirmou-se que a conduta descrita nos autos causaria enormes prejuízos ao Fisco pela
burla do pagamento de impostos, à indústria fonográfica e aos comerciantes regularmente
estabelecidos. Rejeitou-se, por fim, o pedido formulado na tribuna de que fosse, então, aplicado na
espécie o princípio da insignificância — já que o paciente fora surpreendido na posse de 180 CD’s
“piratas” — ao fundamento de que o juízo sentenciante também denegara o pleito tendo em conta a
reincidência do paciente em relação ao mesmo delito. HC 98898/SP, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, 20.4.2010. (HC-98898)
Masson, Cleber. Direito penal esquematizado – Parte geral – vol. 1. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
21
MÉTODO, 2016.
27
ATIPICIDADE DA CONDUTA. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL.
INAPLICABILIDADE.
Advertiu o Ministro Relator, no caso trazido acima, também que o CPP, nos casos de delitos
contra a propriedade imaterial (que desafiam ação penal pública), deve ser observado o
procedimento previsto nos arts. 530-B a 530-H, para a comprovação da materialidade dos
referidos crimes. Conforme prevê o art. 530-D do Código de Processo Pena, “subsequente à
apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia
sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo".
De acordo com a doutrina, a finalidade do exame é a demonstração dos elementos sensíveis
da prática delitiva. A perícia se torna imprescindível por ser ela o mecanismo legal
demonstrador da materialidade da infração típica que deixa rastros22.
28
Não obstante a literalidade do dispositivo indicar que a perícia deve ser efetivada em todos
os bens apreendidos, o STJ definiu posicionamento sobre o tema no sentido de que não se
deve acolher tal exigência para fins de comprovação da materialidade do crime previsto no
art. 184, § 2º, do Código Penal, mesmo porque a apreensão de um único objeto basta para
que, realizada a perícia e identificada a falsidade dos bem periciado, se tenha como
configurado o delito em questão.
Estupro
Súmula 608 - STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada.
CUIDADO! Tendência de Superação! A súmula foi editada quando o estupro era crime
de ação penal privada. A situação muda após a Lei nº 12.015/2009, que alterou a redação do
art. 225 do CP:
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II – Dos crimes contra a liberdade sexual e Dos crimes
sexuais contra vulnerável - deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à
representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
A partir de então, em regra, o crime de estupro, em qualquer de suas formas, desafia ação
penal pública condicionada à representação. Apenas em duas hipóteses desafiaria ação penal
pública incondicionada: (i) no caos de vítima menor de 18 anos ou (ii) pessoa vulnerável.
Consoante salientado, apesar de ser essa a tendência, fato é que em 2014, a 6ª Turma do STJ
asseverou que a Súmula 608 do STF seria ainda aplicável. Nos termos do voto do Relator:
“A despeito da literalidade do disposto no art. 225 do Código Penal , nos crimes praticados mediante violência
real, ainda incide a Súmula n. 608 do STF, como no caso dos autos, em que a violência empregada é
incontroversa. Nesse sentido, menciono o HC n. 102.683⁄RS (DJe 7⁄2⁄2011), de relatoria da Ministra Ellen Gracie, em
que a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao analisar crime de tentativa de estupro, cometido em 27⁄2⁄2006, contra
vítima de 14 anos de idade, decidiu, à unanimidade, que "Caracterizada a ocorrência de violência real no crime de estupro,
incide, no caso, a Súmula 608⁄STF". Na ocasião, salientou que "a ocorrência de violência real no crime de estupro, por si só, já é
29
suficiente para classificar a respectiva ação penal como pública incondicionada". Ainda, menciono o HC n. 106.224⁄SP (DJe
14⁄2⁄2011), de relatoria do Ministro Jorge Mussi, em que a 5ª Turma deste Superior Tribunal decidiu que "tratando-se de crime
de estupro e atentado violento ao pudor praticados com emprego de violência real, a ação penal é de iniciativa pública incondicionada,
sendo o Parquet o ente legitimado para a sua promoção, a teor do texto constitucional, incidindo, na espécie, o enunciado da Súmula
n. 608⁄STF, que, inclusive, não perdeu a validade com o advento da Lei n. 9.099⁄95"23.
Falsa identidade
É certo que a ampla defesa é direito fundamental constitucionalmente garantido, e, por sua
vez, abrange a defesa técnica e a autodefesa. O direito ao silêncio, como autodefesa e
decorrente do direto a não autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, é igualmente
assegurado, inclusive previsto pelo Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana
de Direitos Humanos), de status supralegal. Acontece que não se trata de um direito absoluto,
ilimitado. Tanto é que, apesar de a mentira defensiva ser admitida, entendendo esta como
decorrente da negação da prática do delito, não há que se dizer o mesmo das chamadas
mentiras agressivas – conduta típica -, quando o agente imputa, falsamente, a terceiro inocente
a prática do crime. Responderá, portanto, por denunciação caluniosa (art. 339 CP). Nesse
contexto, é entendimento do STJ, bem como do STF, que o nemo tenetur se detegere também
não abrange a conduta de falsear a identidade. Podendo responder, o agente, a depender do
23REsp 1485352/DF, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
25/11/2014, DJe 16/12/2014.
30
contexto fático, tanto pelo crime de falsa identidade (art. 307 CP), quanto pelo de uso de
documento falso (art. 304 CP).
Nem sempre o STJ se posicionou dessa maneira. Ao contrário, durante um bom tempo
houve manifestação de suas duas Câmaras Criminais no sentido de que seria consolidado
“nesta Corte o entendimento de que a atribuição de falsa identidade, visando ocultar antecedentes criminais,
constitui exercício do direito de autodefesa (HC 151470/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 06/12/2010).
Contrabando e Descaminho
“A legislação penal mencionada, no entanto - tal como decidiu o E. Superior Tribunal de Justiça
(Apenso, fls. 231/237) -, não se estende ao crime de descaminho (CP, art. 334, 'caput'), de tal modo
que o pagamento do tributo, ainda que efetivado antes do recebimento da denúncia, não tem o condão
de extinguir a punibilidade do agente. Cabe assinalar, neste ponto, que o entendimento do Supremo
Tribunal Federal consubstanciado na Súmula 560 não mais prevalece desde que sobreveio a Lei nº
6.910/81 (art. 1º), cujo texto deixou de atribuir eficácia extintiva da punibilidade ao pagamento do
tributo devido, se e quando se tratasse dos crimes de contrabando ou descaminho, em suas
31
modalidades próprias ou equiparadas (CP, art. 334 e §§ 1º e 2º).” (HC 88875 MC, Relator Ministro
Celso de Mello, Decisão monocrática, julgamento em 29.5.2006, DJ de 2.6.2006)
Apesar do referido Decreto falar em crimes de responsabilidade, temos ali modalidades comuns
de delito, razão pela qual a mera extinção do mandato não tem o condão de impedir a
instauração do investigação e processo a eles relacionados. Seguindo a mesma linha, temos a
Súmula 164 do STJ, abaixo colacionada.
Corrupção de menores
32
Logo, não importa o fato de o menor ter praticado atos infracionais anteriormente, esse
argumento não tem condão de afastar o tipo do art. 244-B do ECA, justamente por ser crime
formal.
Sobre o tema, elucidativas as lições do STJ, registrando que, de acordo com a dicção da SV
24 do STF, os crimes tributários materiais ou de resultado somente podem ser tidos por
consumados após o exaurimento da esfera administrativa, ou seja, após o desfecho de
eventual procedimento fiscal instaurado para a discussão do crédito tributário. Tal
posicionamento evita que sejam tomadas decisões conflitantes nas esferas administrativa e
penal, pois impede que um agente venha a ser condenado pela prática de crime contra a
ordem tributária, por ter, por exemplo, ilidido o pagamento de imposto, cuja exigência
restou posteriormente afastada pela própria autoridade fiscal. Embora em tal hipótese
pudesse ser reconhecida a perda superveniente de justa causa para o exercício da ação penal,
33
seria contraditório admitir, via de regra, a oferta de denúncia antes que houvesse certeza
sobre a materialidade da conduta criminosa que motivou a acusação.
Súmula 609 - STF: É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação
fiscal.
Crime de trânsito
De acordo com o entendimento do STJ, o crime previsto no art. 310 do CTB25 é crime de
perigo abstrato (Informativo 559):
24RHC 61.790/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2016, DJe
19/12/2016.
25
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com
habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou
mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança: Penas - detenção, de seis
meses a um ano, ou multa.
34
Turma, DJe 15/5/2014. REsp 1.468.099-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015,
DJe 15/4/2015.
Estatuto do Desarmamento
A Lei nº 10.826/2003 previu, em seu art. 30, o que se entende por abolitio criminis temporária,
também denominada descrimininalização temporária ou vacatio legis indireta. É dizer que, a
lei previu hipótese em que a conduta por ela tipificada não seria assim considerada, se
preenchidos os requisitos dentro de um lapso temporal. A aplicação de determinado tipo
penal fica temporariamente com sua incidência suspensa, não permitindo o processamento e
punição por aquele fato específico.
"[...] Segundo a jurisprudência firmada por esta Corte de Justiça, a arma de uso permitido com
numeração raspada equipara-se à de uso restrito, logo, vislumbra-se que é típica a conduta denunciada,
motivo pelo qual não se encontra abarcada pela excepcional vacatio legis indireta. 2. Nesse sentido:
'Independentemente da discussão acerca da atipicidade temporária quanto à posse de arma de uso
35
permitido, a Quinta Turma desta Corte Superior vem entendendo que, a partir da nova redação dada
pela Medida Provisória nº 417/2008, convertida na Lei nº 11.706, de 19 de junho de 2008, que conferiu
nova redação aos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento, não se aplica o benefício, no caso
de arma com numeração suprimida ou de uso restrito, aos casos de apreensão fora do período
de abrangência da Lei nº 10.826/2003, qual seja, de 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro
de 2005' [...]" (AgRg nos EDcl no AREsp 270383 SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 19/11/2013, DJe 27/11/2013).
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Percebe-se que a Lei Maria da Penha proíbe, expressamente, qualquer aplicação da Lei
9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Não só
a suspensão condicional do processo e a transação penal, mas nenhum dos institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95 poderão ser aplicados a esses casos.
Importante: Sobre o tema, já decidiu o STJ que sequer às contravenções penais praticadas
com violência doméstica e familiar contra a mulher se aplicariam os institutos da Lei
9.099/95. Informativo 539 STJ:
Súmula 542 - STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
36
§1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
Logo, a ação penal é, em regra, pública e incondicionada, salvo quando a lei dispuser o
contrário. Isso incluía o crime de lesões corporais (art. 129 CP), pois o CPB não previu
condições alguma para a promoção da ação penal. Acontece que, posteriormente, a Lei
9.099/95 passou a prever o seguinte:
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação
a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas .
Portanto, o crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher, por
não se aplicar a Lei 9.099/95, desafiará ação pública incondicionada. Importante destacar
que essa inaplicabilidade envolverá apenas o crime de lesão corporal. Nos casos de
crime, por exemplo, em que o CPP indique se tratar de ação penal condicionada à
representação (ameaça, art. 147 CPB), ainda que seja praticado no contexto da Lei
11.340/2006, permanecerá sendo exigível a condição de procedibilidade da
representação da vítima.
Lei de Drogas
Súmula 501 - STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que
o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu
do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de
leis.
Trata-se da proibição da combinação de leis (lex tertia). Vejamos o que diz precedentes
originários:
“[...] A Lei nº 11.343/06, ao revogar a Lei nº 6.368/76, disciplinou por inteiro o sistema de repressão
ao tráfico ilícito de drogas e, ao tempo em que conferiu tratamento mais rigoroso aos traficantes,
aumentando a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5 (cinco) anos, instituiu
causa especial de diminuição de pena de 1/6 a 2/3, e ainda reduziu o menor patamar de exasperação
37
pelas causas especiais de aumento de pena de 1/3 (um terço) para 1/6 (um sexto). 2. A concessão da
minorante do parágrafo 4º do artigo 33 e a aplicação da majorante no patamar do artigo 40, ambos da
Lei 11.343/06 sobre a pena fixada com base no preceito secundário do artigo 12 da Lei nº 6.368/76
não decorreria de mera retroatividade de lei nova mais benéfica, mas de verdadeira aplicação conjugada
das normas revogada e revogadora, sendo de todo inviável, já que o sistema revogador instituiu causa
de diminuição de pena e reduziu o menor patamar da exasperação pelas causas de aumento de pena
justamente porque aumentara a pena mínima cominada abstratamente ao delito de 3 (três) para 5
(cinco) anos. 3. Conquanto se reconheça na lei revogadora as hipóteses de nova causa de diminuição
da pena, bem como de aumento de pena em patamar menor, não se pode pinçar uma regra de uma
lei e uma regra da outra lei para o fim de beneficiar o réu porque assim haveria a criação de
uma terceira lei que, além de evidenciar atividade legiferante, vedada ao Poder Judiciário,
deixa de considerar a norma como um sistema uno, coerente e harmônico.[...]” (AgRg no REsp
1212535 PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
02/04/2013, DJe 11/04/2013)
“[...] é descabida a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
n. 11.343/2006 à reprimenda cominada nos termos da Lei n. 6.368/1976. Na verdade, o
condenado faz jus à aplicação integral da lei nova se esta lhe for benéfica. Em se tratando de
tráfico de drogas, tal análise é feita caso a caso e consiste em verificar, essencialmente, se estariam
preenchidos os requisitos previstos no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, de forma que, a partir da
aplicação dessa causa de diminuição, a reprimenda final fosse menor do que aquela fixada nos termos
da Lei n. 6.368/1976. [...]” (AgRg no HC 199324 MS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 14/12/2012).
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS NA SUA FORMA PRIVILEGIADA. ART. 33, § 4º, DA LEI
N. 11.343/2006. CRIME NÃO EQUIPARADO A HEDIONDO. ENTENDIMENTO
RECENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NO JULGAMENTO DO HC 118.533-
MS. REVISÃO DO TEMA ANALISADO PELA TERCEIRA SEÇÃO SOB O RITO DOS
RECURSOS REPETITIVOS. TEMA 600. O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada
(art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte,
deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. O Plenário
do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento oposto à jurisprudência do STJ ao assentar que o
denominado tráfico privilegiado de drogas (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006) não tem natureza
38
hedionda. Apenas as modalidades de tráfico de entorpecentes definidas no art. 33, caput e § 1°, da Lei
n. 11.343/2006 seriam equiparadas aos crimes hediondos, enquanto referido delito na modalidade
privilegiada apresentaria “contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente porque são
relevados o envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a ausência de maus
antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa”. (...) Pet 11.796-DF, Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 23/11/2016,
DJe 29/11/2016.
Súmula 558 - STF: É constitucional o art. 27, do Decreto Lei 898, de 29/09/1969.
Inquérito Policial
Ao inciso XIV do art. 7º do Estatuto da OAB - que juntamente com o inciso XIII do referido artigo
e com o art. 5º, XXXIII, LIV e LV da CF/88 fundamentam a SV 14 – foi dada nova redação
pela Lei 13.245/2016. Vejamos:
39
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos;
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento,
ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou
digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016)
Logo, a modificação legislativa enseja uma interpretação ampliada da SV, incluindo como
direito do defensor examinar investigação de qualquer natureza em qualquer instituição
responsável por conduzi-la. Sobre o assunto, vale relembrar importante decisão do STF a
respeito dos poderes investigatórios do Ministério Público (Informativo 785):
“O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a
qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus
agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais
de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os
incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição.” STF. Plenário.
RE 593727/MG, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015.
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
Tradicionalmente, a maior parte da doutrina processual penal (não é unanimidade) afirma que há casos
em que devemos reconhecer que a decisão homologatória do arquivamento do inquérito policial tona-
26https://blog.ebeji.com.br/arquivamento-de-inquerito-policial-com-fundamento-na-excludente-de-ilicitude-
ha-formacao-de-coisa-julgada-material-ou-nao-2/
40
se imutável e impede, definitivamente, tanto o desarquivamento do inquérito, quanto à propositura
de ação penal.
Existe, em casos tais, a coisa julgada material, ou seja, um grau de imutabilidade da decisão de
arquivamento que impede nova persecução penal pelo mesmo fato. Isso se verifica, conforme ensina
o professor da USP Gustavo Henrique Badaró[2], nas hipóteses em que o arquivamento se opera não
em razão de uma mera constatação de insuficiência de elementos de informação sobre a existência
material do fato ou de sua autoria, já que nesses casos há apenas a coisa julgada formal (rebus sic
stantibus). A coisa julgada material seria formada quando, a partir de reconstrução fática segura, houver
o reconhecimento de (i) atipicidade dos fatos investigados, (ii) extinção da punibilidade ou
ainda (iii) EXCLUDENTE DA ILICITUDE.
Nesses casos apontados como exceção, há indubitavelmente uma manifestação do juízo acerca de
matéria meritória, razão pela qual se estaria diante de juízo de convencimento quanto à inexistência de
conduta criminosa, ao contrário de um mero juízo de insuficiência probatória. Apesar de ser essa a
minha opinião, compartilhada (repita-se) por grande parte da doutrina especializada, em relação
especificamente à formação da coisa julgada material quando o arquivamento do inquérito
policial se pautar em CAUSA EXCLUDENTE DA ILICITUDE, há intensa e severa divergência
jurisprudencial.
No Superior Tribunal de Justiça, essa matéria é mais tranquila e, acompanhando a doutrina, a Corte
recentemente ratificou o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito policial pelo
reconhecimento de legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude), a coisa julgada material
impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a existência de novas provas”
(vide REsp 791.471/RJ) .
Já na Suprema Corte (STF), o tema sempre foi objeto de intensa controvérsia. Em nossas aulas de
processo penal na EBEJI mencionávamos um julgado (até então) ISOLADO da 1ª Turma, no HC
95.211/ES, em que se concluiu que “decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do
Ministério Público e determinada por juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de
ilicitude, não afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para
justificar o desarquivamento do inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal”.
Como salientado, inicialmente tal posicionamento parecia aplicado apenas em relação a um caso
concreto, isolado! Todavia, no ano de 2015, houve um “novo capítulo” dessa polêmica, publicada no
Informativo 796. Pela importância, vale conferir a ementa:
EMENTA Habeas corpus. Processual Penal Militar. Tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121,
§ 2º, inciso IV, c/c o art. 14, inciso II). Arquivamento de Inquérito Policial Militar, a requerimento do
Parquet Militar. Conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal. Excludente de
ilicitude (CPM, art. 42, inciso III). Não configuração de coisa julgada material. Entendimento
jurisprudencial da Corte. Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquérito na
Justiça comum, a qual culmina na condenação do paciente e de corréu pelo Tribunal do Júri.
41
Possibilidade. Enunciado da Súmula nº 524/STF. Ordem denegada. 1. O arquivamento de
inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela
excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), não
obsta seu desarquivamento no surgimento de novas provas (Súmula nº 5241/STF). Precedente.
2. (…) 3. Ordem denegada. (HC 125101, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/
Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 25/08/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 10-09-2015 PUBLIC 11-09-2015).
Não! Isso porque a formação da Corte sofreu uma série de modificações e não tínhamos uma posição
do Plenário! Restava pendente no Pleno o julgamento da tese no HC 87.395/PR, cujo
andamento ficou suspenso até o final do mês de março de 2017! Havia 3 votos favoráveis à tese
de que a partir do momento em que uma excludente de ilicitude é invocada para justificar o
arquivamento, há produção da coisa julgada formal e também material!!!
O entendimento do STF, agora pacificado, após os votos favoráveis dos Ministros Lewandowiski,
Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Carmen Lúcia e Barroso foi no sentido
de apontar que a jurisprudência do STF é no sentido de que o arquivamento produz coisa julgada
material no caso de prescrição ou atipicidade da conduta, mas NÃO em casos de excludente
da ilicitude!
Conforme noticiado no Informativo 858 STF, a conclusão do Plenário foi no sentido de que
“o arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em
provas fraudadas não faz coisa julgada material. (…) Asseverou que o arquivamento do
inquérito não faz coisa julgada, desde que não tenha sido por atipicidade do fato ou por
prescrição”.
Conclusão 1: O STJ entende, de maneira tranquila, que há nessas situações a formação da coisa
julgada formal e também material, razão pela qual a rediscussão dos mesmos fatos é impossível. Da
mesma forma, assim se posiciona a doutrina especializada majoritariamente.
42
Conclusão 3: Teremos que aguardar como se comportará a jurisprudência do STJ, pois é possível
que venha a aderir ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez ( por ora) não é
vinculante!
Superada. A súmula não foi recepcionada pela Ordem Constitucional vigente, isso porque,
em seu art. 5º, inciso LVIII, a Constituição garante:
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei;
A Lei 12.037/2009 regulamenta o art. 5, LVIII, e em seu art. 3º dispõe acerca das hipóteses
nas quais poderá ocorrer identificação criminal do civilmente identificado:
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito,
ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado.
De modo a facilitar a compreensão e assimilação, vale trazer a classificação das exceções por
Gustavo Badaró, resumindo-as basicamente a:
43
Uso de algemas
Em seu art. 19927 a Lei de Execuções Penais incumbe a disciplina do uso de algemas a decreto
federal. Trata-se do recente Decreto nº 8.858/2016, que assim dispõe:
Art. 1º O emprego de algemas observará o disposto neste Decreto e terá como diretrizes:
I - o inciso III do caput do art. 1º e o inciso III do caput do art. 5º da Constituição, que dispõem sobre
a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana e sobre a proibição de submissão ao
tratamento desumano e degradante;
III - o Pacto de San José da Costa Rica, que determina o tratamento humanitário dos presos e, em
especial, das mulheres em condição de vulnerabilidade.
Atentar para a importância da SV 11, mesmo após a publicação do Decreto. Isso porque, a
SV 11 prevê quais serão as consequências para as situações de violação, ou seja, nos casos
em que o preso tenha sido algemado sem que se vislumbre qualquer hipótese excepcional ou
44
sem a devida atenção à formalidade exigida (justificativa por escrito). Nesses casos, a parte
final do enunciado da SV 11 estabelece: ... sob pena de (i) responsabilidade disciplinar civil e penal do
agente ou da autoridade e (ii) de nulidade da prisão ou (iii) do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
(iv) responsabilidade civil do Estado.
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à
determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito
também por duas testemunhas.
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-
hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em
mulheres durante o período de puerpério imediato.
Não se trata de uma novidade, apenas confirma o previsto pelo Decreto nº 8.858/2016.
Podemos esquematizar da seguinte maneira:
USO DE ALGEMAS
Permitido Resistência;
45
Competência da Justiça Estadual
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho,
nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada
a competência da Justiça Eleitoral;
Sobre o tema e a aplicação da súmula, Professor Pedro Coelho 28 chama à atenção para
decisão da 1ª Turma do STF no RE 614115 AGR,29 no qual se discutia a competência da
28 https://www.facebook.com/Profpedrocoelho/posts/443526145986029
29 EMENTA Agravos regimentais no recurso extraordinário. Matéria criminal. Apuração de crimes praticados
contra a Companhia Docas do Pará, que, utilizando-se também de recursos da União, administra e explora as
instalações portuárias do referido Estado. Atividades atribuídas pelo constituinte originário exclusivamente ao
ente federal. Artigo 21, inciso XII, alínea f, da Constituição da República. Interesse jurídico direto e específico
da União amplamente demonstrado. Competência da Justiça Federal. Artigo 109, inciso IV, da Constituição
Federal. Regimentais não providos. 1. O magistério jurisprudencial da Corte é no sentido de que “a
presença de interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas e empresas públicas
(...), constitui pressuposto para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV,
da Constituição” (HC nº 81.916/PA, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 11/10/02). 2. Conforme
destacado na decisão agravada, o interesse jurídico direto e específico da União revela-se incontroverso
46
Justiça Federal ou Estadual para a apreciação de crime perpetrado contra o interesse da
Sociedade de Economia Mista Companhia Docas do Pará:
Súmula 42 do STJ – Compete à JUSTIÇA COMUM ESTADUAL processar e julgar as causas cíveis
em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula nº 556 do STF – É competente a JUSTIÇA COMUM para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista.
Apesar do entendimento pacificado exposto acima, em nossas aulas, desde 2012, chamávamos a
atenção ao julgamento da 1ª Turma do STF do AgR. RE 614.115, que se encontrava suspenso em
razão de um pedido de vista da Ministra Carmen Lúcia. Nesse julgado, o que se discutia era a
competência da Justiça Federal ou Estadual para a apreciação de crime perpetrado contra o interesse
da Sociedade de Economia Mista Companhia Docas do Pará.
Naquela ocasião, em decisão monocrática, o Ministro Dias Toffoli havia assinalado a competência da
Justiça Federal e, o julgamento do agravo regimental interposto contra tal decisão, encontrava-se como
2 votos a favor (Toffoli e Rosa Weber) e 2 votos contrários (Luiz Fux e Marco Aurélio), até o
mencionado pedido de vista!
Finalmente, no segundo semestre de 2014, a Ministra Carmem Lúcia liberou seu voto e
acompanhou o Relator para ASSEVERAR A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL,
não obstante se tratar de crime praticado CONTRA INTERESSE DE SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA!
na espécie, pois a Companhia Docas do Pará tem por ofício, utilizando-se também de recursos da
União, administrar e explorar as instalações portuárias do referido Estado. Atividades atribuídas pelo
constituinte originário exclusivamente ao ente federal, conforme preleciona o art. 21, inciso XII, alínea f, da
Constituição da República. 3. Agravos regimentais não providos. (RE 614115 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 16/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-207 DIVULG 20-
10-2014 PUBLIC 21-10-2014)
47
Pedro, então quer dizer que o entendimento sumulado pelo STF e STJ foi superado?
Não se está a afirmar que o entendimento atual passou a ser de que a Justiça Federal terá
competência para julgar crimes perpetrados por Sociedade de Economia Mista federal! NÃO!
Isso porque a decisão foi bastante casuística e peculiar, haja vista se tratar a Companhia Docas do
Pará de uma SEM cuja maior parte do capital é composta de verba pública federal e ter por atribuição
administrar e explorar instalações portuárias (exclusividade da União de acordo com o artigo 21, XII,
f, da CF), fato esse que, de acordo com o STF, envolveria “diferenciado e peculiar interesse da União”,
apto a justificar a competência da Justiça Federal.
As Súmulas 42 do STJ e 556 do STF permanecem plenamente em vigor, mas já não mais
podemos dizer que é ABSOLUTA a afirmação de que os crimes praticados em face de
sociedade de economia mista desafiarão a competência do juízo estadual!
Súmula 104 - STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes
de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de
ensino.
48
Súmula 107 - STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de
estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
Súmula 140 - STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em
que o indígena figure como autor ou vítima.
Súmula 172 - STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
O crime de abuso de autoridade não possui correspondente no Código Penal Militar. Logo,
considerando o que dispõe o art. 9º do CPM, não pode ser considerado crime militar.
Por consequência, não compete à Justiça Militar julgá-lo.
Súmula 209 - STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 522 - STF: Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal31, compete à justiça dos estados o processo e
julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
30
Sobre o tema vide os seguintes julgados: STJ, HC 77.280/RS e CC 123.016/TO, além do STF, RHC
117.097/RJ.
49
Competência da Justiça Comum Federal
A Seção decidiu cancelar a Súmula n.º 91 deste Superior Tribunal de Justiça, ao entendimento de que,
com o advento da Lei n.º 9.605/98, que em seu Capítulo V, Dos Crimes Contra o Meio Ambiente, se
ocupa dos Crimes Contra a Fauna (arts. 29 a 37), a Lei n.º 5.197/67 já não mais dá suporte à
mencionada Súmula. Precedente citado: CC 29.508-SP. Cancelamento da Súmula n.º 91, Rel. Min.
Fontes de Alencar, julgado em 8/11/2000. Terceira Seção.
Súmula 122 - STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos
crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art.
78, II, “a”, do Código de Processo Penal.
Súmula 147 - STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Isso foi objeto de questão em prova da AGU (2015)! Atenção! Esse empregado não é
considerado funcionário público por extensão! É que a equiparação do CPB não abrange
os funcionários atuantes em empresa contratada para prestar serviço atípico para a
Administração Pública, como o é o caso da empresa de vigilância. Somente há tal equiparação
quando se trate de funcionário de empresa contratada para exercer atividade tipicamente
estatal, ou seja, aquelas que visam às necessidades essenciais ou coletivas da sociedade.
Súmula 165 - STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo trabalhista.
Súmula 200 - STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de
crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
50
Súmula 208 - STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal
por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 528 - STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida
do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional.
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no
caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Sendo o crime de tráfico - previsto no caput do art. 33 da Lei 11.343/06 - delito formal, basta
que se pratique quaisquer das condutas previstas para a sua consumação - importar é uma
delas. É desnecessário que se chegue ao destino final, caso isso aconteça haverá
apenas mero exaurimento. Portanto, o crime se consuma com a entrada do produto no
país (importação) e a competência para processar e julgar a ação penal será do juízo do local
da apreensão.
Interessante ainda registrar, no contexto da Súmula, que nas hipóteses de prática de tráfico
através de envio de correspondência (ex: via correios) para o exterior, se a droga for apreendida
na alfândega, haverá competência da Justiça Federal, em face da internacionalidade da
conduta. A competência territorial, no caso, será do local da apreensão da droga, ainda que
o emissário ou receptor potencial residam em outro município/seção federal.
O STF entende que “não se tem por configurada a competência da Justiça Militar da
União, em tempo de paz, tratando-se de réus civis, se a ação eventualmente
delituosa, por eles praticada, não afetar, de modo real ou potencial, a integridade, a
dignidade, o funcionamento e a respeitabilidade das instituições militares que
constituem, em essência, os bens jurídicos penalmente tutelados32”.
32STF. HC 110237, Relator Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, julgamento em 19.2.2013, DJe de
4.3.2013.
51
Nesse sentido, quanto aos documentos de que trata a súmula, apesar de expedidos pela
Marinha, a licença conferida possui natureza civil. Do mesmo modo, não se caracterizaria
como uma função militar típica, capaz de ofender a esfera castrense, até por não se trata de
uma atribuição exclusiva da Marinha. Em verdade, o policiamento naval, decorrente do
poder de polícia administrativa, é atribuição subsidiária da Marinha. Sendo assim, compete
à Justiça Federal processar e julgar o delito, pois cometido perante um órgão da União.
Então, lembre-se:
Súmula 47 - STJ: Compete à Justiça Militar processar e julgar crime cometido por
militar contra civil, com emprego de arma pertencente à corporação, mesmo não
estando em serviço.
Superada com a revogação da alínea “f” do art. 9º, II do Código Penal Militar pela Lei nº
9.299/96. Nesse sentido, ensina o Professor Pedro Coelho34:
Em sua redação originária, o Código Penal Militar indicava que um crime poderia ser considerado
militar pelo simples fato de utilização de armamento de propriedade militar (!), ainda que não estivesse
em serviço! Imagine, pois, que um militar do exército viesse a praticar um estupro, valendo-se de arma
33 Crime militar próprio: aqueles cujo bem jurídico é exclusivo da vida militar e estranho à vida civil; Crime
militar impróprio: bem jurídico comum, tutelável pelas esferas penal comum e penal militar.
34 https://blog.ebeji.com.br/por-que-a-sumula-47-do-stj-encontra-se-superada-e-nao-mais-e-aplicavel/
52
de propriedade das Forças Armadas! Tal delito seria considerado militar, em razão da previsão então
existente no artigo 9º, II, f do CPMB:
Art.9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: II – os crimes previstos neste Código,
embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: f) por militar
em situação de atividade ou assemelhado que, embora não estando em serviço, use
armamento de propriedade militar ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou
administração militar, para a prática de ato ilegal;
Foi nesse contexto que a Súmula 47 do STJ foi editada! Aliás, ela reproduzia a mesma essência da
Súmula 199 do “finado” Tribunal Federal de Recursos (antes da Constituição de 1988). Em 1996,
adveio a pertinente Lei 9.299 que, dentre outras modificações, REVOGOU a alínea f
supratranscrita!
Com essa modificação, claro, não há mais sentido em se afirmar que o mero uso de arma de
propriedade militar ensejaria crime militar, certo? O entendimento da Súmula está superado.
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares , ressalvada a
competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda
do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
Portanto, a Justiça Militar Estadual não tem competência para julgar CIVIS.
53
É a materialização também da previsão do artigo 70, I, do CPP que indica não importar
unidade de processo e julgamento os casos de conexão ou continência envolvendo concurso
de crimes de jurisdição comum e militar, devendo haver cisão dos feitos.
Súmula 172 - STJ: Compete à justiça comum processar e julgar militar por crime de
abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.
O crime de abuso de autoridade não possui correspondente no Código Penal Militar. Logo,
considerando o que dispõe o art. 9º do CPM, não pode ser considerado crime militar. Por
consequência, não compete à Justiça Militar julgá-lo.
“Ação Penal. Questão de ordem sobre a competência desta Corte para prosseguir o processamento
dela. Cancelamento da súmula 394. Depois de cessado o exercício da função, não deve manter-se o
foro por prerrogativa de função, porque cessada a investidura a que essa prerrogativa é inerente, deve
esta cessar por não tê-la estendido mais além a própria Constituição.” (AP 315 QO, Relator Ministro
Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgamento em 25.8.1999, DJ de 31.10.2001)
54
Súmula 398 - STF: O Supremo Tribunal Federal não é competente para processar
e julgar, originalmente, Deputado ou Senador acusado de crime.
Superada.
“Vale rememorar, neste ponto, que os membros do Congresso Nacional jamais tiveram prerrogativa
de foto, em matéria penal, sob a égide das anteriores Constituições republicanas de 1891, de 1934, de
1937, de 1946 e de 1967, o que motivou a formulação, por esta Corte, da Súmula 398/STF, cujo
enunciado assim dispunha: ‘(...)’. Na realidade, foi somente a partir da outorga, por um triunvirato
militar, da Carta Federal de 1969 (travestida sob a designação forma de EC 1/1969) que se atribuiu,
aos membros do Congresso Nacional, nos ilícitos penais comuns, prerrogativa de foro ‘ratione
muneris’, perante o Supremo Tribunal Federal, deixando de subsistir, então, a Súmula 398/STF.”
(STF. Inq 2601 QO, relator ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgamento em
20.10.2011, DJe de 17.5.2013)
Se atualmente você exerce o cargo, você terá direito a foro por prerrogativa de função,
mesmo que a infração penal tenha sido praticada antes! A partir da diplomação, todos os
processos deverão ser remetidos ao Tribunal da prerrogativa. É dizer, pois, que o agente
somente faz jus ao foro por prerrogativa de função a partir da diplomação e enquanto
estiver exercendo a função! Naturalmente, os atos praticados anteriormente pelas
instâncias até então competentes não serão considerados inválidos, uma vez que pela regra
do tempus regit actum, eles foram todos efetuados de maneira totalmente legítima e válida!
Porém, se houver cessação definitiva da função que justifique a prerrogativa de foro,
pela mesma regra da atualidade, não há que se falar em “competência especial”, seja
para fatos praticados, antes, durante ou depois da cessação.
É dizer que, prefeitos serão julgados pelo TJ se o crime for de competência da Justiça
Estadual. Caso o crime seja competência da Justiça Federal ou da Justiça Eleitoral, será
julgado, respectivamente pelo TRF ou pelo TRE.
55
Súmula 704 - STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
A competência do Tribunal do Júri está prevista na Constituição Federal de 1988, art. 5º,
XXXVIII, “d”:
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
Quanto à previsão do foro por prerrogativa de função, a Constituição previu que algumas
autoridades seriam processadas criminalmente em foros privativos colegiados – tribunais
estaduais, regionais e superiores. Nesse caso, as Constituições Estaduais, no exercício do
poder constituinte decorrente, poderá estabelecer foro por prerrogativa de função não
56
prevista pela CF/88, conquanto respeitado o princípio da simetria. Sendo assim, a título de
exemplo, a Constituição Estadual poderá prever foro de prerrogativa de função no TJ ao
vice-governador (correspondente ao vice-presidente).
Nessa situação, a teor da súmula, a competência do Tribunal do Júri (para o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida) não poderá ser afastada pela competência prevista
exclusivamente na Constituição Estadual, uma vez que, hierarquicamente, a CF/88 é
superior. Logo, se o vice-governador, com foro por prerrogativa de função no TJ,
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual, cometer um crime doloso contra a
vida, será julgado pelo Tribunal do Júri.
Conflito de Competência
“Dessa maneira, no que concerne à Justiça Militar estadual, cumpre distinguir: se houver ou não
Tribunal Militar, órgão de segundo grau. Se existente, o auditor militar estadual está subordinado à
Corte especializada, o que sucede nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Se
não houver Tribunal Militar, então, sim, o órgão de apelação das decisões da Justiça Militar de primeiro
grau será o Tribunal de Justiça do Estado. Neste último caso, conflito de competência entre juiz de
direito e auditor militar estadual ficará sujeito à decisão do Tribunal de Justiça do Estado. No primeiro
caso, o conflito de competência enquadra-se no art. 105, I, letra d, sendo competente para processá-
lo e julgá-lo o colendo Superior Tribunal de Justiça.” (RE 200695, Relator Ministro Néri da Silveira,
Segunda Turma, julgamento em 17.9.1996, DJ de 21.3.1997)
Ação Penal
Súmula 388 - STF (cancelada): O casamento da ofendida com quem não seja o
ofensor faz cessar a qualidade de seu representante legal, e ação penal só pode
prosseguir por iniciativa da própria ofendida, observados os prazos legais de
decadência e perempção.
Súmula 396 - STF: Para a ação penal por ofensa da honra, sendo admissível a
exceção da verdade quanto ao desempenho de função pública, prevalece a
competência especial por prerrogativa de função, ainda que tenha cessado o exercício
funcional do ofendido.
57
Superada. Essa superação se dá com base na lógica e regra já analisada na obra do sistema da
atualidade e não da contemporaneidade. Afinal, com a revogação da Súmula 394 do
Supremo e com a declaração de inconstitucionalidade da Lei 10.628/2002, mesma sorte deve
seguir a Súmula 396. Aliás, ela se apresenta totalmente incompatível com verbete posterior,
qual seja, a Súmula 451 STF35.
“1. Na ocorrência do delito descrito no art. 214 do Código Penal - antes da revogação pela Lei nº
12.015/2009 -, o prazo decadencial para a apresentação de queixa ou de representação era de 6 meses
após a vítima completar a maioridade, em decorrência da dupla titularidade. 2. Esta Suprema Corte
tem reconhecido a dualidade de titulares do direito de representar ou oferecer queixa, cada
um com o respectivo prazo: um para o ofendido e outro para seu representante legal . Súmula
nº 594 do STF. Precedentes. 3. Ordem denegada.” (STF. HC 115341, Relator Ministro Dias Toffoli,
Primeira Turma, julgamento em 14.10.2014, DJe de 3.2.2015)
35A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação
definitiva do exercício funcional.
58
Cuidado com o detalhe! De acordo com o entendimento majoritário, caso o funcionário
público, na hipótese do verbete estudado, opte por representar ao MP, ele estará
“renunciando” à outra possibilidade. Com base nesse raciocínio, parcela da doutrina aponta
que houve atecnia do STF ao redigir a Súmula, uma vez que teria sido consagrada uma
verdadeira legitimação alternativa e não concorrente.
Sobre o tema, muito importante a leitura do STF, INQ. 1.939/BA36. Em provas objetivas,
porém, o candidato deve seguir a literalidade sumular e apontar a legitimidade como
concorrente.
36 EMENTA: I. Ação penal: crime contra a honra do servidor público, propter officium: legitimação concorrente
do MP, mediante representação do ofendido, ou deste, mediante queixa: se, no entanto, opta o ofendido pela
representação ao MP, fica-lhe preclusa a ação penal privada: electa una via... II. Ação penal privada
subsidiária: descabimento se, oferecida a representação pelo ofendido, o MP não se mantém inerte, mas requer
diligências que reputa necessárias. III. Processo penal de competência originária do STF: irrecusabilidade do
pedido de arquivamento formulado pelo Procurador-Geral da República, se fundado na falta de
elementos informativos para a denúncia. (Inq 1939, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 03/03/2004, DJ 02-04-2004 PP-00011 EMENT VOL-02146-02 PP-00258 RTJ VOL 00192-
02 PP-00542).
59
documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. 2. A
jurisprudência do STF é no sentido de que a participação de membro do Ministério Público
na fase investigatória não acarreta, por si só, seu impedimento ou sua suspeição para o
oferecimento da denúncia, e nem poderia ser diferente à luz da tese firmada pelo Plenário,
mormente por ser ele o dominus litis e sua atuação estar voltada exatamente à formação de
sua convicção. 3. À luz do art. 104 do CPP, é do juiz de primeira instância a competência para
processar e julgar exceção de impedimento ou suspeição de promotor de justiça, a quem cabe,
inclusive, decidir sobre a realização ou não de diligências solicitadas nesse incidente processual,
podendo indeferir as que entender irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (CPP, art. 400, § 1º),
sem que tanto configure cerceamento de defesa. 4. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a mera
impressão do juiz sobre a possibilidade de o paciente interferir na instrução criminal, bem como sua
situação econômica, sem a indicação de elementos concretos demonstradores do risco de fuga, não
constituem fundamentos idôneos para o decreto de prisão preventiva. Os autos revelam, ainda,
situação configuradora de excesso de prazo da prisão cautelar. 5. Habeas corpus denegado. Ordem
concedida de ofício para revogar a prisão cautelar. (STF. HC 85011, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI, Primeira Turma, julgado em 26/05/2015, DJe-
119 DIVULG 19-06-2015 PUBLIC 22-06-2015 EMENT VOL-02772-01 PP-00001).
Súmula 542 - STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
(Anotações sobre esta súmula estão no tópico Lei Maria da Penha, na parte
de Direito Penal).
Assistente de acusação
37 Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante
ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
60
Devemos atentar para o fato de que o referido verbete sumulado ter sido editado com fulcro
na antiga redação do artigo 311, que indicava a possibilidade da prisão preventiva ser
decretada apenas mediante representação do delegado de polícia (autoridade policial),
requerimento do membro do parquet ou do querelante (nos crimes de ação penal privada),
nada falando acerca do assistente de acusação.
Caso o assistente de acusação já esteja devidamente habilitado nos autos do processo, o prazo
para a interposição de seu recurso de apelação será de 05 (cinco dias). Lado outro, caso a
habilitação não preceda à decisão, esse prazo será de 15 (quinze) dias, conforme registra o
artigo 598, parágrafo único do CPP38. O que importa registrar é que, em qualquer desses
dois casos, o termo a quo (inicial) da contagem do prazo será a data de escoamento
do prazo para o MP! É que a atuação recursal do assistente de acusação tem marcas
notadamente subsidiárias, justificando essa sistemática.
Mutatio libelli
Súmula 453 - STF: Não se aplicam à segunda instância o art. 384 e parágrafo único
do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato
38Art. 598.Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em
que terminar o do Ministério Público.
61
delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou queixa.
Não se admite mutatio libelli em 2º grau de jurisdição, uma vez que, se permitido fosse, tanto
haveria supressão de instância, quanto violaria o duplo grau de jurisdição. Segundo esse
princípio, todo processo (com as ressalvas e exceções polêmicas dos feitos de competência originária) pode
ser submetido a um reexame integral por outro órgão, incluindo apreciação de direito e de
fato.
Ora, se fosse possível que um Tribunal se valesse da prerrogativa legal estabelecida no artigo
38439 do CPP (mutatio libelli), haveria claramente uma supressão de posicionamento do órgão
jurisdicional inicial (1º grau), revelando-se o acusado impedido de apresentar sua defesa à
primeira instância. Em outras palavras, esse é o fundamento do raciocínio consubstanciado
na Súmula do STF ora comentada, evidenciando uma “limitação” quanto à possibilidade de
alteração da imputação fática após a prolatação de sentença. Ao excluir o artigo 384 do CPP
do seu texto, o artigo 61740 do mesmo diploma traz a mesma ideia ora verificada.
Súmula 330 - STJ: É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514
do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial.
39 Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na
acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude
desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando
feito oralmente.
40 Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no
que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
62
que absoluta, faz-se necessária a demonstração do prejuízo, o que não ocorreu na espécie. Nesse
sentido, o Tribunal tem reafirmado que a demonstração de prejuízo, “a teor do art. 563 do CPP, é
essencial à alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta, eis que (…) o âmbito normativo do
dogma fundamental da disciplina das nulidades pas de nullité sans grief compreende as nulidades
absolutas” (HC 85.155/SP, Rel. Min. Ellen Gracie). III – Esta Corte decidiu, por diversas vezes, que
a defesa preliminar de que trata o art. 514 do Código de Processo Penal tem como objetivo evitar a
propositura de ações penais temerárias contra funcionários públicos e, por isso, a sua falta constitui
apenas nulidade relativa. IV – No caso dos autos, trata-se de um processo findo, em que já houve o
trânsito em julgado da sentença condenatória, não sendo possível perceber o que o réu poderia ter
alegado na defesa prévia que já não o tivesse feito no curso da ação penal. V – Recurso ordinário a
que se nega provimento. (RHC 120569, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 11/03/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-059 DIVULG 25-03-2014
PUBLIC 26-03-2014).
Súmula 366 - STF: Não é nula a citação por edital que indica o dispositivo da lei
penal, embora não transcreva a denúncia ou queixa, ou não resuma os fatos em que
se baseia.
Súmula 351 - STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da
federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.
Trata-se de Súmula bastante polêmica, razão pela qual tentaremos tratar e abordar os
aspectos críticos de sua redação e, sobretudo, de sua aplicação prática. Ela foi editada pelo
Supremo Tribunal Federal quando a legislação processual penal nada falava acerca da
citação específica do preso. Contudo, desde a vigência da Lei 10.792/2003, esse cenário
mudou drasticamente, já que o art. 36041 do CPP prevê expressamente que o preso SERÁ
citado pessoalmente.
Não há razão lógica para diferenciar presos reclusos em estados diferentes ou iguais do juízo
processante para fins da modalidade citatória (real X ficta). Naturalmente, é plenamente
41 Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 1º.12.2003)
63
possível que, diante da constatação de diversidade de estados, o juízo competente deverá se
valer de carta precatória, viabilizando a citação pessoal do acusado.
Súmula 455 - STJ: A decisão que determinar a produção antecipada de provas com
base no artigo 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando
unicamente o mero decurso do tempo.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no
art. 312. (Redação dada pela Lei nº 9.271, de 17.4.1996) (Vide Lei nº 11.719, de 2008)
O art. 366 do CPP estabelece que, se o acusado for citado por edital e não comparecer ao
processo nem constituir advogado, o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos.
Nesse caso, de acordo com o referido artigo, o juiz poderá determinar ainda (i) a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e (ii) decretar prisão preventiva do acusado se
estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP.
Sendo assim, a súmula 455 do STJ se presta a regular a aplicação do art. 366 quanto à
produção antecipada de provas, exigindo que a determinação seja concretamente
fundamentada. Não basta que se alegue o mero decurso do tempo. Desse modo, a oitiva de
42STJ, HC 126.583/PE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 18/08/2011, DJe
01/09/2011.
64
testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP, desde que
as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento.
Acontece que o Informativo 549 do STJ trouxe uma exceção. É que o STJ entendeu que, se
o processo estiver suspenso com base no art. 366 do CPP, e uma das testemunhas for
policial, o juiz poderá autorizar que ela seja ouvida de forma antecipada justificando no
decurso do tempo, sendo isso considerado prova urgente. A sua atuação expõe o agente da
segurança pública a inúmeras situações sendo certo que as peculiaridades de cada uma
acabam se perdendo em sua memória, seja pela frequência com que ocorrem, ou pela própria
similitude dos fatos43.
Se o agente for denunciado, citado por edital e não comparecer nem constituir advogado,
aplica-se o art. 366 do CPP, suspendendo o processo e o curso do prazo prescricional. Nesse
caso, conforme a súmula 415 do STJ, o período de suspensão do prazo prescricional será
calculado de acordo com a prescrição pela pena máxima cominada. Vejamos um exemplo.
Imagine-se que João é acusado pela prática de um crime de furto simples, cuja pena máxima
em abstrato é de 4 anos (art. 155 do CPB). Caso João se (i) citado por edital e (ii) não constitua
advogado, deverá ser efetivada a suspensão do processo e também da prescrição, na forma
do artigo 366 do CPP. Até quando o processo ficará suspenso? De acordo com o STJ e
da Súmula 415, essa suspensão deverá ser de, no máximo, 08 anos, prazo fixado a partir da
pena máxima em abstrato (4 anos – art. 109, IV)45.
43 STJ, 5ª Turma, RHC 51.232, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 02/10/2014.
44 STF, 2ª Turma, HC 130038/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 3.11.2015. (HC-130038).
45 Art. 109, IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
65
Atenção ao STF! A Suprema Corte possui alguns entendimentos anteriores à edição da
Súmula 415 do STJ apontando divergência e concluindo que não haveria limite para a
suspensão da prescrição nos casos do artigo 366 do CPP. Além disso, apontava que a fixação
desse entendimento não implicaria na criação de novas modalidades de crimes
imprescritíveis, mas sim de mero “condicionamento da retomada de seu curso a evento
futuro e incerto”. O fato é que após a edição da Súmula do STJ, o STF reconheceu
repercussão geral acerca do tema, abrindo portas para uma possível revisão do seu
entendimento. Para tanto, deveremos aguardar e monitorar a definição do julgamento do
RE 600.851/DF:
66
Súmula 337 - STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na
desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-
lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. (Redação
dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Prevalece a ideia que não se trata de direito subjetivo! Vamos entender a razão!
67
ação penal pública, revelando-se como imprescindível que o Ministério Público proponha a
suspensão condicional do processo quando sempre que presentes os requisitos legais (não é
uma discricionariedade). Caso o MP não proponha, o máximo que o magistrado poderá
fazer é aplicar o art. 28 do CPP, por analogia.
Súmula 723 - STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento
mínimo de um sexto for superior a um ano.
Transação penal
Cuidado! Sobre o tema, importante atentar que, no procedimento dos Juizados Especiais
Criminais, faz coisa julgada material, possuindo efeitos penais, a celebração do acordo de
composição civil se o crime desafiar ação penal privada (renúncia ao direito de queixa) ou
ação pública condicionada (renúncia ao direito de representação). Em ambos, extingue-se a
punibilidade. O mesmo não se pode dizer da celebração do acordo de composição civil se o
crime desafiar ação pública incondicionada. Nesses casos, a composição civil não produz
efeitos penais, apenas cíveis.
Já em relação à transação penal, a súmula veio com o fito de colocar uma definição nas 3
correntes que variavam na doutrina, consolidando a posição já prevalente nos Tribunais
Superiores (agora, com efeito vinculante e obrigatório). Portanto, se estivermos diante de um acordo
de transação penal descumprido, será restaurado o “ambiente processual” até então existente
quando da propositura do acordo, não havendo qualquer impedimento quanto à
formalização da imputação. Deverá, pois, haver a remessa dos autos ao Ministério Público
(ou informação ao querelante) para que requeira a instauração de investigação ou oferta da
denúncia (ou queixa) em face do suposto autor. Afinal, a decisão homologatória do acordo
deixou de produzir efeitos a partir do momento em que foi descumprida, não havendo falar
em violação de coisa julgada.
68
Para finalizar, vamos tratar sobre um tema “acessório”, correlato ao teor da Súmula e
recentemente apreciado pelo Pleno do STF. Parcela da doutrina advogava a tese de que, a
partir de sentença homologatória da transação penal, seria possível observar a produção dos
efeitos jurídicos da condenação previstos no importante artigo 91 do CPB.
Contudo, de maneira que nos parece acertada, o Ministro Teori Zavascki conduziu voto que
prevaleceu na Corte, indicando peremptoriamente que a produção de tais efeitos não se
verifica, portanto, quando há transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95), cuja sentença tem
natureza homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante.
As consequências da homologação da transação são aquelas estipuladas de modo consensual
no termo de acordo. Tendo havido transação penal e sendo extinta a punibilidade, ante o
cumprimento das cláusulas nela estabelecidas, é ilegítimo o ato judicial que decreta o confisco
do bem (motocicleta) que teria sido utilizado na prática delituosa. O confisco constituiria
efeito penal muito mais gravoso ao aceitante do que os encargos que assumiu na transação
penal celebrada (fornecimento de cinco cestas de alimentos)46.
Carta precatória
Súmula 155 - STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação
da expedição de precatória para inquirição de testemunha.
“1. A nulidade no direito penal não prescinde da demonstração do efetivo prejuízo para a
defesa, consoante dispõe o artigo 563 do Código de Processo Penal, o que importa dizer que a
desobediência às formalidades estabelecidas na legislação processual somente poderá
implicar o reconhecimento da invalidade do ato quando a sua finalidade estiver
comprometida em virtude do vício verificado. Precedentes: HC 104.767, Primeira Turma, Relator o
Ministro Luiz Fux, DJ de 17.08.11; HC 84.098, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe
de 07.05.04; RE 263.012-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 23.02.01;
HC 79.446, Segunda Turma, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 26.11.99. 2. Ademais, "é
relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de carta precatória para
inquirição de testemunha" (Súmula 155/STF). 3. In casu, inobstante a defesa não tenha sido
intimada da expedição de carta precatória para a oitiva de testemunha, não houve
comprovação da existência de qualquer prejuízo efetivo. Além disso, o depoimento da
testemunha foi acompanhado por defensor dativo e a condenação da paciente lastreou-se em todo o
conjunto fático-probatório colhido no durante o processo-crime, não estando embasada apenas no
RE 795567, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 28/05/2015, ACÓRDÃO
46
69
depoimento da testemunha no juízo deprecado.” (HC 119293, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira
Turma, julgamento em 8.10.2013, DJe de 13.11.2013).
Meios de prova
47Para conhecer um caso específico em que tal entendimento foi flexibilizado pelo STJ, conferir o artigo do
professor Pedro Coelho publicado em https://blog.ebeji.com.br/comprovacao-da-menoridade-de-vitimas-de-
crimes-sexuais/.
70
corrompido, que também pode ser atestada por outros documentos oficiais, dotados de fé
pública, emitidos por órgãos estatais de identificação civil e cuja veracidade somente pode
ser afastada mediante prova em contrário. 3. O Ministério Público provou a menoridade da vítima
de maneira idônea ao instruir a ação penal com certidão de antecedentes infracionais, na qual consta
a filiação do adolescente, o número da cédula de identidade e a data de seu nascimento, além do
registro de apuração de ato infracional e de execução de medida socioeducativa. Revaloração
probatória que não fere o disposto na Súmula n. 7 do STJ. 4. Agravo regimental não provido. (STJ.
AgRg no REsp 1485543/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 05/02/2015, DJe 20/02/2015).
Prisão
Súmula 9 - STJ: A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia
constitucional da presunção de inocência.
É que como adverte abalizada doutrina, “quando a duração de um processo supera o limite da duração
razoável, (…) o Estado se apossa ilegalmente do tempo do particular, de forma dolorosa e irresistível. E esse
apossamento ilegal ocorre, ainda que não exista uma prisão cautelar, pois o processo em si mesmo é uma
pena”49.
48 Art. 7º. 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável
ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a
garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
49 LOPES JR. Aury; BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito ao processo penal no prazo razoável. 2ª ed.,
71
Certo é que nem o término da instrução, tampouco o pronunciamento do réu no
procedimento do júri finaliza o processo. Nesse sentido, nada impediria o reconhecimento
de excesso de prazo quando a dilação indevida não for imputável ao acusado. Nesse sentido,
STJ e STF:
50Importante atentar que as súmulas 21 e 52 são anteriores a EC 45 de 2004 que acrescentou ao artigo 5º o
inciso LXXVIII, bem como anteriores a incorporação da CADH à ordem jurídica interna.
72
ou prolongamento excessivo da persecução penal. Daí porque se conclui que o alcance dos
referidos entendimentos não comporta mais a aplicação absoluta de seus conteúdos.
Por tal motivo, Renato Brasileiro51, diferenciando o exercício regular do direito de defesa e
o uso abusivo deste direito, sugere uma interpretação adequada da súmula, nos seguintes
termos: não constitui constrangimento ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado por manobras
manifestamente procrastinatórias da defesa que visem à criação de uma dilação indevida. Contudo, não há
claros indicativos acerca dessa diferenciação passar a ser realizada pelos Tribunais.
Súmula 81 - STJ: Não se concede fiança quando, em concurso material, a soma das
penas mínimas cominadas for superior a dois anos de reclusão.
Superada pela redação dada aos art. 323 e 324 do Código de Processo Penal pela Lei
12.403/11.
A súmula foi aprovada em razão do art. 595 do CPP, revogado pela Lei 12.403/2011, que
previa a deserção da apelação de réu foragido. Nesse caminhar, apesar de não mais ser
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 4. ed. rev., ampl. e atual. – Salvador:
51
73
“necessária” para o CPP, ela não foi cancelada, permanece refletindo a jurisprudência
majoritária dos Tribunais Superiores e também em sintonia com os Tratados e Convenções
Internacionais de Direitos Humanos com reflexos no processo penal. Afinal, o princípio do
duplo grau de jurisdição não pode ser condicionado ou limitado pelo aprisionamento do
interessado/titular desse direito.
“As normas processuais que estabelecem a prisão do réu como condição de admissibilidade
do recurso de apelação são incompatíveis com o direito à ampla defesa, porque, às expressas, o
é com todos os recursos a ela inerentes, não havendo falar, em caso tal, em prisão pena ou prisão
cautelar. É caso, pois, assim como o é também o da regra de deserção determinada pela fuga do réu,
de conflito manifesto e intolerável entre a Lei e a Constituição, que se há de resolver pela não recepção
ou inconstitucionalidade da norma legal, se anterior ou posterior à Lei Fundamental. A prisão do réu,
na espécie, somente pode ter lugar, para que se possa afirmá-la conforme à Constituição, se for de
natureza cautelar e, como tal, decretada fundamentadamente nos seus pressupostos e motivos legais,
elencados no artigo 312 do Código de Processo Penal.” (STJ. HC 38158 PR, Rel. Ministro
HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 28/03/2006, DJ 02/05/2006, p. 392).
Liberdade provisória
Súmula 697 - STF: A proibição de liberdade provisória nos processos por crimes
hediondos não veda o relaxamento da prisão processual por excesso de prazo.
Superada, pois, com a alteração dada pela Lei nº. 11.464/07 a Lei dos Crimes Hediondos,
não mais se proíbe a liberdade provisória aos crimes hediondos e equiparados. O art. 5º,
XLIII da Constituição Federal, ao tratar dos crimes hediondos, impede apenas a fiança, a graça e
a anistia. A lei infraconstitucional não poderia ir além. Além do mais, tal proibição ofenderia
a garantia constitucional da individualização da pena e, portanto, eivada de
inconstitucionalidade.
O entendimento do STF é no sentido de que não poderia o legislador, apenas por força de
lei (vedação da prisão ex lege), impedir a correta individualização da pena e a livre escolha das
cautelares pelo juiz da causa. Sendo assim, a liberdade provisória é concedida se ausentes os
requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, caso contrário, necessária se faz
a comprovação da presença das condições previstas no art. 312 do CPP.
Nesse sentido, vale rememorar a decisão do Plenário do STF, veiculada no Informativo 665,
quanto à liberdade provisória e o crime de tráfico:
74
O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª Turma — impetrado
em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da
Lei 11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para
que, se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente. Incidentalmente, também por
votação majoritária, declarou a inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”,
constante do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006 (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e
34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos”). A defesa sustentava, além da
inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo
para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem. Discorreu-se que ambas as Turmas do
STF teriam consolidado, inicialmente, entendimento no sentido de que não seria cabível liberdade
provisória aos crimes de tráfico de entorpecentes, em face da expressa previsão legal. Entretanto,
ressaltou-se que a 2ª Turma viria afastando a incidência da proibição em abstrato .
Reconheceu-se a inafiançabilidade destes crimes, derivada da Constituição (art. 5º, XLIII). Asseverou-
se, porém, que essa vedação conflitaria com outros princípios também revestidos de dignidade
constitucional, como a presunção de inocência e o devido processo legal. Demonstrou-se que esse
empecilho apriorístico de concessão de liberdade provisória seria incompatível com estes
postulados. Ocorre que a disposição do art. 44 da Lei 11.343/2006 retiraria do juiz competente a
oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos de necessidade da custódia cautelar, a
incorrer em antecipação de pena. Frisou-se que a inafiançabilidade do delito de tráfico de
entorpecentes, estabelecida constitucionalmente, não significaria óbice à liberdade
provisória, considerado o conflito do inciso XLIII com o LXVI (“ninguém será levado à prisão ou
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”), ambos do art. 5º da
CF. Concluiu-se que a segregação cautelar — mesmo no tráfico ilícito de entorpecentes —
deveria ser analisada assim como ocorreria nas demais constrições cautelares, relativas a
outros delitos dispostos no ordenamento. (...) HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
10.5.2012. (HC-104339).
Assim, pode-se concluir que, de acordo com o STF, não há mais margem para se admitir a
vedação absoluta de liberdade provisória52, ainda que estejamos diante de um crime hediondo
ou equiparado.
Essa restrição absoluta violaria também o princípio da proibição ao retrocesso, vez que
restauraria a odiosa prisão preventiva mandatória ou obrigatória, revogada do nosso
ordenamento desde o final da década de 1960. Por isso que a Súmula 697 do STF não faz
mais sentido, já que existe mais vedação de liberdade provisória ex lege. Contudo, evidente
deve restar a necessidade de relaxamento da prisão sempre que ficar caracterizado o excesso
de prazo da restrição.
75
Tribunal do júri
(Anotações sobre esta súmula estão no tópico Foro por prerrogativa de função).
Súmula 156 - STF: É absoluta a nulidade do julgamento, pelo Júri, por falta de
quesito obrigatório.
Sobre a ordem dos quesitos, vale trazer decisão da Sexta Turma veiculada no Informativo
573 STJ:
53 Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
I – a materialidade do fato; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
II – a autoria ou participação; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
III – se o acusado deve ser absolvido; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
76
Súmula 206 - STF: É nulo o julgamento ulterior pelo Júri com a participação de
jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo.
Como bem apontado por parcela da doutrina, a ratio desse raciocínio aplicado aos jurados
também pode ser extraído do próprio CPP que, em seu artigo 252, III, afirma ser inviável o
exercício de jurisdição pelo juiz que já tiver funcionado no processo como juiz de outra
instância, pronunciando-se de fato ou direito sobre a questão específica.
De acordo com o STF, não incide a súmula 712 quando evidenciada a participação de todas
as partes na representação de desaforamento:
“1. No que tange à alegada nulidade em razão da ausência de prévia manifestação da defesa sobre a
representação de desaforamento, o acórdão recorrido mostra-se irreparável. Isso porque consta a
informação de que ‘(...) os requeridos, o Ministério Público e o assistente de acusação foram
ouvidos, todos aquiescendo com a representação formulada ’ (e-STJ, fl. 127, Vol. 4). Assim, não
há espaço para incidência da Súmula 712 desta Corte (‘é nula a decisão que determina o desaforamento
de processo da competência do júri sem audiência da defesa’).” (STF. RHC 126401, Relator Ministro
Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 24.3.2015, DJe de 27.4.2015).
Súmula 713 - STF: O efeito devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito
aos fundamentos da sua interposição.
Vamos aprofundar um pouco mais nesse tema, considerando que ele é bastante complexo e
polêmico dentro do processo penal. O artigo 593, III do CPP vigente traz situações em que
a apelação se revela cabível em caso de sentença no procedimento do Júri. De acordo com
os entendimentos do Supremo Tribunal Federal, aquele rol lá definido deve ser
77
compreendido de maneira mais profunda não apenas como “cabimento recursal”, mas sim
como uma verdadeira restrição ao efeito devolutivo típico do Júri!
Prazos
Aqui, há uma grande diferença entre o processo penal e o processo civil amiúde
desconsiderada por estudantes mais afetos à área civilista. É que conforme prevê o artigo
54
“É importante ressaltar que a previsão contida no artigo 593, III, do Código de Processo Penal não se
constitui mera hipótese de cabimento de recurso. Em verdade, o cabimento e o provimento do recurso de
apelação nos casos ali delineados estão imbricados com a ocorrência de uma das hipóteses fáticas delineadas
na mencionada norma processual penal. Portanto, a apelação contra sentença proferida pelo Tribunal do
Júri tem natureza restrita, não sendo devolvido à superior instância o conhecimento integral da causa
criminal, o que significa dizer que o conhecimento do Tribunal estadual fica circunscrito aos motivos
invocados na interposição. É o enunciado da Súmula 713 do Supremo Tribunal Federal, in verbis: ‘O efeito
devolutivo da apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição’.” (STF. RE
638757 AgR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgamento em 9.4.2013, DJe de 26.4.2013)
78
231 do Novo Código de Processo Civil (2015), “salvo disposição em sentido diverso,
considera-se dia do começo do prazo a data de juntada aos autos do mandado
cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça”.
Nulidades
Súmula 352 - STF: Não é nulo o processo penal por falta de nomeação de curador
ao réu menor que teve a assistência de defensor dativo.
Superada. A súmula é anterior à alteração do Código de Processo Penal pela Lei 10.792/2003,
que revogou a necessidade de curador para os réus com idade entre 18 e 21 anos, e passou a
exigir a presença de advogado no interrogatório de todo e qualquer réu 55. Além do mais, os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, sujeitos às medidas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Súmula 361 - STF: No processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito,
considerando-se impedido o que tiver funcionado, anteriormente, na diligência de
apreensão.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de
diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras
de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Do dispositivo legal, depreende-se que o exame será realizado por dois peritos não
oficiais apenas no caso de ausência do perito oficial.
55Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será
qualificado e interrogado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado. (Redação dada pela Lei nº
10.792, de 1º.12.2003)
79
Logo, a súmula 361 é inaplicável aos peritos oficiais:
“Outrossim, inexiste razão que justifique a concessão da ordem de habeas corpus para declarar a
ausência de materialidade do crime, fundada na premissa exclusiva de que o laudo pericial que atestou
a natureza da substância entorpecente foi subscrito por um único perito. Isso porque, em primeiro
lugar, há precedentes do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a Súmula 361 (No
processo penal, é nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que
tiver funcionando anteriormente na diligência de apreensão) não se aplica a peritos oficiais ,
como ocorre com o Laudo Pericial acostado aos autos (...)”. (STF. HC 115530, Relator Ministro Luiz
Fux, Primeira Turma, julgamento em 25.6.2013, DJe de 14.8.2013).
Súmula 523 - STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
80
Súmula 707 - STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para
oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo
a nomeação de defensor dativo.
“As partes têm direito à estrita observância do procedimento tipificado na lei, como concretização do
princípio do devido processo legal, a cujo âmbito pertencem as garantias específicas do contraditório
e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da Constituição da República). O exercício do contraditório
deve, assim, permear todo o processo, garantindo sempre, com ônus, a possibilidade de
manifestações oportunas e eficazes da defesa, desde a de arrazoar e contra-arrazoar recursos, até
a de se fazer ouvir no próprio julgamento destes. Em recurso em sentido estrito, interposto contra
decisão de rejeição da denúncia, o denunciado que, como é óbvio, ainda não foi citado, deve ter
assegurado o exercício do ônus de se manifestar nos autos, pois seu interesse primordial reside em
não ser réu, ou seja, em não lhe ser instaurada ação penal. Foi tal entendimento que levou esta Casa a
editar a súmula 707 (...)”. (STF. HC 87926, Relator Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julgamento
em 20.2.2008, DJe de 25.4.2008).
Súmula 708 - STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro.
81
Recursos
Súmula 267 - STJ: A interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão.
56 “... A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. 4. A
ampla defesa, não se a pode visualizar de modo restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as
recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação
significa, também, restrição do direito de defesa, caracterizando desequilíbrio entre a pretensão estatal de aplicar
a pena e o direito, do acusado, de elidir essa pretensão.(...) A prestigiar-se o princípio constitucional, dizem, os
tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por recursos especiais e extraordinários e subseqüentes agravos e
embargos, além do que ‘ninguém mais será preso’. Eis o que poderia ser apontado como incitação à
‘jurisprudência defensiva’, que, no extremo, reduz a amplitude ou mesmo amputa garantias constitucionais. A
comodidade, a melhor operacionalidade de funcionamento do STF não pode ser lograda a esse preço.” (STF.
HC 84078, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 05/02/2009, DJe-035 DIVULG 25-
02-2010 PUBLIC 26-02-2010 EMENT VOL-02391-05 PP-01048).
57 Ementa: CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
82
julgado, porque eventual recurso de natureza extraordinária não é, em regra, dotado de efeito
suspensivo. STJ. Corte Especial. QO na APn 675-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
6/4/2016, DJe 26/4/2016.
Súmula 160 - STF: É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade
não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
Sobre o tema, atentar para a decisão da Segunda Turma do STF, veiculada no Informativo
839:
83
Intimação da Defensoria Pública e sessão de julgamento de HC
84
inadmissibilidade do recurso extraordinário, aplicar-se-á a regra geral estabelecida pelo Novo
CPC, ou seja, 15 dias, restando superada a súmula 699 (Informativo 845):
A Primeira Turma, por maioria e em razão da intempestividade, não conheceu de agravo regimental
interposto contra decisão que inadmitiu, na origem, recurso extraordinário sobre matéria penal. De
início, o ministro Edson Fachin (relator) destacou que a decisão de inadmissibilidade foi publicada em
26.4.2016 (terça-feira), com início do prazo recursal em 27.4.2016 (quarta-feira) e fim em 11.5.2016
(quarta-feira), mas o agravo somente foi interposto em 17.5.2016 (terça-feira), quando já expirado o
prazo de quinze dias corridos. Observou que o prazo previsto para a interposição de agravo de
instrumento contra decisão que inadmite recurso extraordinário era de cinco dias, conforme o art.
28 da Lei 8.038/1990. Com as alterações do Código de Processo Civil pela Lei 8.950/1994, a Corte
pacificou o entendimento de que o art. 28 da Lei 8.038/1990 não havia sido revogado em matéria
penal, permanecendo o prazo de cinco dias para interposição do agravo. Relembrou que o novo
Código de Processo Civil (CPC) alterou a sistemática recursal e, especificamente quanto ao
recurso extraordinário, revogou expressamente os arts. 26 a 29 e 38 da Lei 8.038/1990 ,
conforme disposto no art. 1.072 do novo diploma instrumental. Entretanto, foi mantido o art. 39 da
Lei 8.038/1990 (“Da decisão do Presidente do Tribunal, de Seção, de Turma ou de Relator que causar
gravame à parte, caberá agravo para o órgão especial, Seção ou Turma, conforme o caso, no prazo de
cinco dias”), que cuida de agravo interno*, distinto do agravo cabível para destrancamento de
recurso extraordinário. Por sua vez, o agravo destinado a destrancar recurso extraordinário criminal
era regulamentado pelo art. 28 da Lei 8.038/1990, revogado. Feitas essas considerações, o ministro
verificou que, em razão da alteração da base normativa, inexistindo previsão específica no
Código de Processo Penal (CPP) e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
(RISTF), à luz do preconizado no art. 3º do CPP, o prazo a ser observado na interposição do
agravo destinado a impugnar a decisão de inadmissibilidade do recurso extraordinário é o da
regra geral do art. 1.003, § 5º, do novo CPC, ou seja, de 15 dias. A despeito do que dispõe o art.
219, “caput”, do novo CPC, que determina a contagem do prazo recursal em dias úteis, o caso
concreto trata de agravo em recurso extraordinário em matéria criminal. Nessa hipótese, as regras do
processo civil somente se aplicam subsidiariamente. Dessa forma, sempre que em conflito regras
formalmente expressas em lei, há de ser aplicado o critério da especialidade. No caso, a contagem dos
prazos no processo penal está prevista no art. 798 do CPP (“Todos os prazos correrão em cartório e
serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado”). Portanto,
o novo CPC não regula o processo penal nesse particular. Logo, diante da nova sistemática processual,
o prazo para interposição do agravo que almeja destrancar recurso extraordinário criminal inadmitido
na origem passou a ser de 15 dias, com a contagem regida pelo CPP. A ministra Rosa Weber e os
ministros Luiz Fux e Roberto Barroso acompanharam o relator quanto à intempestividade do recurso
para não o conhecer, uma vez que a interposição se deu 21 dias após o início do prazo, mas não quanto
aos fundamentos. Vencido o ministro Marco Aurélio, que afastava a intempestividade, por considerar
ter havido a uniformização dos prazos em 15 dias úteis, exceto para embargos declaratórios. ARE
993407/DF, rel. Min. Edson Fachin, 25.10.2016. (ARE-993407).
85
* Cuidado! Como bem mencionado no texto do informativo, não se trata do agravo interno
interposto contra decisões monocráticas dos ministros. Nesse caso, o prazo será de 5 dias,
pois o art. 39 da Lei 8.038/90 foi mantido. Vejamos:
15 dias (art. 1.003, § 5º, do novo CPC) 5 dias (art. 39 da Lei 8.038/90)
“Com efeito, a jurisprudência desta Suprema Corte está cristalizada no sentido de que ‘a renúncia do
réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da
apelação por este interposta’ (Súmula nº 705/STF). Na esteira desse entendimento, destaco
precedentes: ‘Recurso: legitimidade do defensor para interpô-lo, não prejudicada pela renúncia do réu.
1. No processo penal, o papel do defensor, constituído ou dativo, não se reduz ao de simples
representante ad judicia do acusado, investido mediante mandato, ou não, incumbindo-lhe
velar pelos interesses da defesa: por isso, a renúncia do réu à apelação não inibe o defensor
de interpô-la. 2. A pretendida eficácia preclusiva da declaração de renúncia ao recurso pelo acusado
reduziria a exigência legal de subsequente intimação do defensor técnico - com a qual jamais se
transigiu - a despropositada superfetação processual. 3. Dado que a jurisprudência do STF já não
reclama o trânsito em julgado da condenação nem para a concessão do indulto, nem para a progressão
de regime de execução, nem para o livramento condicional, o eventual interesse do réu na obtenção
de tais benefícios não se pode opor ao conhecimento do recurso interposto por seu defensor’ (HC nº
76.524/RJ, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 29/8/03); ‘(...). O conflito
de vontades entre o acusado e o defensor, quanto a interposição de recurso, resolve-se, de
modo geral, em favor da defesa técnica, seja porque tem melhores condições de decidir da
conveniência ou não de sua apresentação, seja como forma mais apropriada de garantir o
exercício da ampla defesa. Precedentes. Prescrição da pretensão punitiva a operar em beneficio do
réu’ (RE nº 188.703/SC, Segunda Turma, Relator o Ministro Francisco Rezek, DJ de 13/10/95). O
acórdão recorrido divergiu desse entendimento e merece ser reformado. Ante o exposto, firme na
jurisprudência da Corte, conheço do recurso extraordinário e lhe dou provimento (art. 21, § 2º do
86
RISTF).” (STF. RE 637628, Relator Ministro Dias Toffoli, Decisão Monocrática, julgamento em
8.6.2011, DJe de 13.6.2011).
Súmula 709 - STF: Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que
provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento
dela.
“Também não merece guarida a alegação de supressão de instância. A decisão de primeira instância
rejeitou a denúncia por inépcia e pela ausência de justa causa para a ação penal. Assim, o provimento
do recurso interposto contra essa decisão implica, desde logo, o recebimento da inicial
acusatória, sem que, com isso, ocorra supressão de instância. Nessa ótica, a Súmula 709 do STF:
(...).” (STF. HC 124711, Relator Ministro Teori Zavascki, Segunda Turma, julgamento em 16.12.2014,
DJe de 11.2.2015).
Habeas corpus
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser
interpostos, de ofício, pelo juiz:
Súmula 395 - STF: Não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja
resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade de
locomoção.
“Da análise dos autos, verifica-se que os recorrentes tiveram a sua pena privativa de liberdade
substituída por pena restritiva de direitos. Desse modo , o eventual não pagamento das custas
processuais não acarretará a perda de liberdade dos recorrentes, o que inviabiliza o cabimento
de habeas corpus para questionar sua aplicação. Incide, mutatis mutandis, o enunciado da súmula
STF 395: ‘não se conhece de recurso de habeas corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das custas,
por não estar mais em causa a liberdade de locomoção’.” (STF. ARE 734221 Agr-ED, Relator Ministro
Luiz Fux, Primeira Turma, julgamento em 24.9.2013, DJe de 16.10.2013).
87
Súmula 606 - STF: Não cabe habeas corpus originário para o tribunal pleno de decisão
de turma, ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.
O STF reiterou entendimento sobre o descabimento de habeas corpus para o Tribunal Pleno
contra ato de ministro da Corte (Informativo 814):
Ao proferir decisão pelo não conhecimento do “writ”, o Tribunal, por maioria, reafirmou sua jurisprudência no sentido
de não ser cabível “habeas corpus” impetrado contra decisão monocrática de ministro da
Corte. Na espécie, os pacientes impugnaram decisão do Ministro Cezar Peluso, que prorrogara o
prazo para a realização de escutas telefônicas anteriormente autorizadas. O Tribunal esclareceu que
o ato apontado como coator — decisão monocrática — não poderia ser questionado pela via
estreita do presente “writ”. Ademais, o tema estaria materializado no Enunciado 606 da
Súmula do STF (“Não cabe ‘habeas corpus’ originário para o Tribunal Pleno de decisão da Turma
ou do Plenário, proferida em ‘habeas corpus’ ou no respectivo recurso”). Destacou que não se trataria
de impedir a revisão do ato do relator, mas que haveria outro caminho, conforme previsto no art. 38
da Lei 8.038/1990 e no art. 21, § 1º, do RISTF. Vencidos os Ministros Marco Aurélio (relator), Dias
Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente), que admitiam a
impetração. Enfatizavam a importância da proteção judicial efetiva que se materializaria no “habeas
corpus”. Aduziam que o próprio texto constitucional reconheceria cabível o “habeas corpus” contra
autoridade submetida à Constituição, nos termos especificados, no caso, juízes do STF. STF. HC
105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 17.2.2016.
(HC-105959).
“Quanto ao pedido de análise do aduzido cerceamento de defesa em sede de habeas corpus, ressalto que
a Súmula 690/STF não mais prevalece a partir do julgamento pelo Pleno do HC 86834/SP, relatado
pelo Rel. Ministro Marco Aurélio (DJ em 9.3.2007), no qual foi consolidado o entendimento de
88
que compete ao Tribunal de Justiça ou ao Tribunal Regional Federal, conforme o caso,
julgar habeas corpus impetrado contra ato praticado por integrantes de Turmas Recursais de
Juizado Especial.” (STF. ARE 676275 AgR, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma,
julgamento em 12.6.2012, DJe de 1.8.2012).
Súmula 691 - STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas
corpus impetrado contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal
Superior, indefere a liminar.
“É bem verdade que o rigor na aplicação da Súmula n. 691 tem sido abrandado por julgados
desta Corte em hipóteses excepcionais, em que: a) seja premente a necessidade de concessão do
provimento cautelar para evitar flagrante constrangimento ilegal; ou b) a negativa de decisão
concessiva de medida liminar pelo tribunal superior importe na caracterização, ou na manutenção, de
situação que seja manifestamente contrária à jurisprudência do STF (cf. as decisões colegiadas:
(...).” (HC 106160, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em 15.2.2011, DJe
de 2.3.2011)58.
Súmula 692 - STF: Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de
extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos
autos, nem foi ele provocado a respeito.
“Como consignado na decisão agravada, esta Corte já proferiu entendimento de que se exige, para
caracterizar o interesse de agir na via do habeas corpus, que a pretensão posta no writ seja
previamente levada à apreciação do relator do feito (extradição) cuja regularidade é
questionada. Nesse sentido, confira-se o enunciado da Súmula 692: ‘Não se conhece de habeas
corpus contra omissão de relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos
autos, nem foi ele provocado a respeito’.” (STF. HC 124476 AgR, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda
Turma, julgamento em 2.12.2014, DJe de 17.12.2014).
Súmula 693 - STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.
58 No mesmo sentido: HC 107547, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em
17.5.2011, DJe de 31.5.2011; HC 99834, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em
15.2.2011, DJe de 16.3.2011; HC 86864 MC, Relator Ministro Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgamento em
20.10.2005, DJ de 16.12.2005.
89
Súmula 694 - STF: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão
de militar ou de perda de patente ou de função pública.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Súmula 695 - STF: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade.
“A garantia do habeas corpus está ligada a outra garantia, que é a liberdade de locomoção. Somente a
violação dessa liberdade delineia a causa de pedir da ação de habeas corpus. Consolidando o
entendimento de se restringir a tutela do habeas corpus às situações de risco ou de dano à liberdade de
locomoção, editou as Súmulas ns. 693 (‘não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única
cominada’), 694 (‘não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda
de patente ou de função pública’) e 695 (‘não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de
liberdade’)”. (STF. HC 121089, Segunda Turma, Relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento em
16.12.2014, DJe de 17.2.2015).
Mandado de segurança
“Inicialmente anoto que não se verifica nos autos que o ora paciente, citado por edital para os termos
da ação penal contra ele instaurada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, tenha sido
regularmente integrado ao mandamus impetrado pelo Parquet perante o TJSP, de cuja decisão
decorreu a antecipação da prova oral impugnada, a implicar inegável violação à ampla defesa e ao
contraditório. (...) Nesse sentido, ainda, a Súmula nº 701/STF: ‘No mandado de segurança impetrado
pelo Ministério Público contra decisão proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu
90
como litisconsorte passivo’.” (STF. HC 109726, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma,
julgamento em 11.10.2011, DJe de 29.11.2011)
Revisão criminal
Súmula 393 - STF: Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a
recolher-se à prisão.
Embargos infringentes
Execução penal
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido,
observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração
disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
91
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de
exame criminológico.
Precedente representativo:
“A Constituição Federal, ao criar a figura do crime hediondo, assim dispôs no art. 5º, XLIII: (...) Não
fez menção nenhuma a vedação de progressão de regime, como, aliás - é bom lembrar -, tampouco
receitou tratamento penal stricto sensu (sanção penal) mais severo, quer no que tange ao incremento
das penas, quer no tocante à sua execução. (...) Evidente, assim, que, perante a Constituição, o
princípio da individualização da pena compreende: a) proporcionalidade entre o crime praticado
e a sanção abstratamente cominada no preceito secundário da norma penal ; b)
individualização da pena aplicada em conformidade com o ato singular praticado por agente
em concreto (dosimetria da pena); c) individualização da sua execução, segundo a dignidade
humana (art. 1º, III), o comportamento do condenado no cumprimento da pena (no cárcere ou
fora dele, no caso das demais penas que não a privativa de liberdade) e à vista do delito cometido
(art. 5º, XLVIII). Logo, tendo predicamento constitucional o princípio da individualização da pena
(em abstrato, em concreto e em sua execução), exceção somente poderia aberta por norma de
igual hierarquia nomológica.” (STF. HC 82959, Voto do Ministro Cezar Peluso, Tribunal Pleno,
julgamento em 23.2.2006, DJ de 1.9.2006).
Relembrando, o STF decidiu que o Tráfico de drogas “privilegiado” é crime não equiparado
ao hediondo, portanto:
“O crime de tráfico privilegiado de drogas não tem natureza hedionda. Por conseguinte, não
são exigíveis requisitos mais severos para o livramento condicional (Lei 11.343/2006, art. 44, parágrafo
único) e tampouco incide a vedação à progressão de regime (Lei 8.072/1990, art. 2º, § 2º) para os
casos em que aplicada a causa de diminuição prevista no art. 33, §4°, Lei 11.343/2006. Com base nessa
orientação, o Plenário, por maioria, concedeu a ordem de ‘habeas corpus’ para afastar a natureza
hedionda de tal delito.” (STF. HC 118533, Relatora Ministra Cármem Lúcia, Tribunal Pleno,
julgamento em 23.6.2016, DJe de 19.9.2016)
O RE 641.320/RS foi veiculado no Informativo 82559. Importante a sua leitura, mas, para
facilitar a compreensão, as teses e parâmetros adotados foram os seguintes:
59 http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo825.htm
92
A falta de estabelecimento penal adequado não autorizaria a
manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso.
TESES
Os juízes da execução penal poderiam avaliar os estabelecimentos
E
destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação
PARÂMETROS como adequados a tais regimes [Seriam aceitáveis estabelecimentos que
não se qualificassem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou
ADOTADOS “casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto)].
NO
Havendo “déficit” de vagas, Atentar que essas medidas são tomadas
RE 641.320/RS deveria ser determinada: em relação a um preso que já esteja no
regime no qual não se tem a vaga, para
que assim surja a vaga necessária.
1) A saída antecipada de
sentenciado no regime com falta de
vagas;
2) A liberdade eletronicamente
monitorada ao sentenciado que
saísse antecipadamente ou fosse
posto em prisão domiciliar por falta
de vagas;
3) O cumprimento de penas
restritivas de direito e/ou estudo ao
sentenciado que progredisse ao
regime aberto.
a) Projeto de estruturação do
Cadastro Nacional de Presos;
93
b) Relatório sobre a implantação
das centrais de monitoração e
penas alternativas.
Além disso, o STF entendeu que a inobservância do direito à progressão de regime, mediante
manutenção do condenado em regime mais gravoso, ofenderia o direito à individualização
da pena, e ainda de maneira mais evidente, violaria o princípio da legalidade. Isso porque, a
manutenção do condenado em regime mais gravoso seria um excesso de execução, com
violação a direitos do apenado.
Tendo em vista que a proteção à integridade da pessoa e ao seu patrimônio contra agressões
injustas estaria na raiz da própria ideia de Estado Constitucional, permitir que o Estado
executasse a pena de forma deliberadamente excessiva seria negar não só o princípio da
legalidade, mas a própria dignidade humana dos condenados (CF, art. 1º, III). Por mais grave
que fosse o crime, a condenação não retiraria a humanidade da pessoa condenada.
Por outro lado, quanto à prisão domiciliar como solução para esses casos, seria uma
alternativa de difícil fiscalização, bem como isolada, ou seja, de pouca eficácia. Todavia, não
deveria ser descartada sua utilização, até que fossem estruturadas as medidas estabelecidas
no julgamento.
Súmula 698 - STF: Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade
de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura.
94
Superada após a declaração de inconstitucionalidade da proibição de progressão de regime em
crimes hediondos e equiparados:
Súmula 700 - STF: É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra
decisão do juiz da execução penal.
Súmula 715 - STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de
cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a
concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais
favorável de execução.
95
Súmula 716 - STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou
a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória.
Trata-se dos casos nos quais o réu preso provisoriamente - ainda sem condenação transitada em
julgado -, permanece tempo suficiente para pleitear a progressão de regime.
Súmula 717 - STF: Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada
em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão
especial.
O prazo a que se refere o art. 123, II, da LEP 60, para a saída temporária, é o da pena
cumprida anteriormente ao pedido, sem qualquer consideração quanto ao regime de
cumprimento. Logo, inclui-se o tempo em que o apenado cumpriu em regime fechado.
Súmula 192 - STJ: Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução
das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando
recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração estadual.
Temos aqui uma questão prática bastante relevante e que demanda atenção, apesar de o
raciocínio a ser aplicado se revelar razoavelmente simples. Hodiernamente, é bastante
comum que alguém condenado pela prática de um crime da competência da Justiça Federal
se encontre recluso cumprindo pena em estabelecimento estadual. Da mesma forma, os
condenados por crimes militares, haja vista que a maior parte dos estabelecimentos penais
brasileiros estão sob a alçada de gestão dos estados. Assim, para fins de fixação de
competência da execução penal, o entendimento dos Tribunais se inclina de acordo
com a natureza do ente responsável pela manutenção do presídio! Se se tratar de
estabelecimento estadual, competência do juízo das execuções estaduais. Se federal, juízo da
execução federal, independentemente do órgão originário responsável pela prolatação da
decisão condenatória.
60 Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos:
I - comportamento adequado;
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se
reincidente;
96
Em complemento ao tema, vale destacar que o STJ decidiu que, em caso envolvendo
apenados transferidos para presídio federal por razões de segurança pública, haveria
competência do juízo federal para apreciar as questões referentes à execução da pena no
período de permanência dos presos custodiados no estabelecimento federal61.
Deve-se atentar, complementando o raciocínio da súmula, para o art. 126, §6º da LEP.
Logo, aos apenados em regime aberto ou em liberdade condicional a frequência a curso de
ensino formal também é causa de remição:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de
2011).
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei nº 12.433,
de 2011)
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental,
médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no
mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma
presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
educacionais competentes dos cursos frequentados. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
97
§ 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão
definidas de forma a se compatibilizarem. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de
conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que
certificada pelo órgão competente do sistema de educação.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de
2011)
§ 8o A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa. (Incluído
pela Lei nº 12.433, de 2011)
98
extraídos do caso concreto, constitui fundamentação idônea a justificar a realização do
exame criminológico. (...). (HC 114.882/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
QUINTA TURMA, julgado em 27/04/2009, DJe 25/05/2009).
Súmula 441 - STJ: A falta grave não interrompe o prazo para obtenção do
livramento condicional.
Em regra, a falta grava também não interfere na concessão de indulto e anistia, exceto
quando previsto no decreto presidencial (Súmula 535 STJ62).
O mesmo raciocínio não se aplica à progressão de regime, pois, nesse caso, a falta grave
interromperá a contagem (Súmula 534 STJ63).
Assim, teremos:
FALTA GRAVE
Com o advento da Lei 11.464/2007, foi assegurado direito à progressão desde que cumpridos
2/5 da pena, se o apenado for primário, e 3/5, se reincidente. Logo, o entendimento
sumulado é de que aquele que cometeu o delito antes da entrada em vigor da Lei n.
11.464/2007, sujeita-se, para a progressão de regime, ao disposto no art. 11264 da LEP.
62
A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto .
63
A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime
64
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no
99
Súmula 491 - STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime
prisional.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos
um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo
diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão. (Redação dada pela Lei nº
10.792, de 2003)
Entende-se progressão per saltum (progressão por salto) aquela na qual o apenado não passa
pela fase intermediária da progressão. Em outras palavras, seria o caso da progressão do
regime fechado para o aberto, sem passar pelo semiaberto. Tanto o STJ quanto o STF não
admitem.
regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento,
respeitadas as normas que vedam a progressão. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)
100
A LEP, em seu art. 11565 dispõe que o juiz poderá estabelecer condições especiais para a
concessão de regime aberto. Acontece que, essas condições não podem se confundir com
penas restritivas de direito 66.
Isso porque, as penas restritivas de direito são autônomas e substitutivas. Caso fosse imposta
ao sentenciado como condição para a progressão de regime uma pena restritiva de direito,
estar-se-ia ocorrendo em bis in idem.
65 Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das
seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.
66 Art. 43. As penas restritivas de direitos são: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)
101
preso seja precedida de decisão judicial motivada. Entretanto, se a apreciação individual do
pedido estiver, por deficiência exclusiva do aparato estatal, a interferir no direito subjetivo do
apenado e no escopo ressocializador da pena, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a
possibilidade de fixação de calendário anual de saídas temporárias por ato judicial único,
observadas as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP. (...) Com efeito, a
deficiência do aparato estatal e a exigência de decisão isolada para cada saída temporária - dada a
necessidade de cumprimento de diversas diligências para instrução e posterior decisão do pleito - estão
a ocasionar excessiva demora na análise do direito dos apenados, com inexorável e intolerável prejuízo
ao seu processo de progressiva ressocialização, objetivo-mor da execução das sanções criminais,
conforme deixa claro o art. 1º da Lei n. 7.210/1984. Inclusive, o STF, em diversas oportunidades, ao
analisar acórdãos do STJ apoiados nos recursos repetitivos já referidos, concedeu habeas corpus para
reconhecer a possibilidade de renovação periódica da saída temporária, que "permite ao juízo das
execuções penais programar, observados os restritos limites legais, as saídas subsequentes à da
concessão do benefício, a fim de inibir eventual delonga ou até mesmo impossibilidade no usufruto
da saída não vigiada" (HC 129.167-RJ, Segunda Turma, DJe 11/12/2015). (...) A situação de carência
do aparato judicial reforça a necessidade de modificação da Tese 445 do STJ, para o fim de
concretizar o benefício das saídas temporárias, sem retirar, por certo, da autoridade judiciária
a competência para a análise dos requisitos objetivo e subjetivo do benefício, sob a
fiscalização do Ministério Público. Pela estabilidade e pela coerência da interpretação do art. 123
da LEP, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de a autoridade judicial, em
única decisão motivada, autorizar saídas temporárias anuais previamente programadas,
observadas as hipóteses de revogação automática do art. 125 da LEP. Ressalte-se que a
autorização continuará a ser deferida por ato do Juízo da execução, ouvidos previamente o
Ministério Público e a administração penitenciária, e dependerá da satisfação dos requisitos legais,
idênticos para os benefícios futuros. A meta continua a ser a análise individual e célere de cada
saída temporária, de modo a proporcionar aos reeducandos a almejada jurisdição e a gradativa
reinserção no meio familiar e social. Entretanto, se a tramitação individual de cada pedido estiver,
por questões locais, a interferir no direito subjetivo do apenado e a ocasionar demora
excessiva do Judiciário para proferir decisões sobre o benefício, por carência exclusiva do
aparato estatal, deve ser reconhecida, excepcionalmente, a possibilidade de o juiz estabelecer
calendário prévio de saídas temporárias anuais em ato judicial único, respeitadas as hipóteses
de revogação automática do benefício. STJ. REsp 1.544.036-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
Terceira Seção, julgado em 14/9/2016, DJe 19/9/2016.
102
Em seu art. 52, caput, a LEP prevê que a prática de fato previsto como crime doloso constitui
falta grave:
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione
subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da
sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada pela
Lei nº 10.792, de 2003)
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta
grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; (Incluído pela Lei nº 10.792, de
2003)
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; (Incluído
pela Lei nº 10.792, de 2003)
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. (Incluído pela Lei nº
10.792, de 2003)
Assim, o STJ entende que não há necessidade de sentença judicial condenatória para
que se possa punir administrativamente o apenado.
Vejamos julgado veiculado no Informativo 532 STJ que explica o raciocínio da súmula:
“A LEP não deixa dúvida ao estabelecer que todo o ‘processo’ de apuração da falta
disciplinar (investigação e subsunção), assim como a aplicação da respectiva punição, é realizado
dentro da unidade penitenciária, cuja responsabilidade é do seu diretor. Somente se for reconhecida a
103
prática de falta disciplinar de natureza grave pelo diretor do estabelecimento prisional, é que será
comunicado ao juiz da execução penal para que aplique determinadas sanções, que o legislador,
excepcionando a regra, entendeu por bem conferir caráter jurisdicional. (...) Ademais, vale ressaltar
que o direito de defesa garantido ao sentenciado tem assento constitucional, mormente porque
o reconhecimento da prática de falta disciplinar de natureza grave acarreta consequências danosas que
repercutem, em última análise, em sua liberdade. (...) No particular, registre-se que a Súmula
Vinculante 5, a qual dispõe que ‘a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição’, não se aplica à execução penal.
Conquanto a execução penal seja uma atividade complexa, pois desenvolve-se nos planos jurisdicional
e administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP, notadamente do seu art. 66, que dispõe sobre a
competência do juiz da execução, conclui-se que não há nenhum dispositivo autorizando o
magistrado instaurar diretamente procedimento judicial para apuração de falta grave. Assim,
embora o juiz da Vara de Execuções Penais possa exercer, quando provocado, o controle de legalidade
dos atos administrativos realizados pelo diretor do estabelecimento prisional, bem como possua
competência para determinadas questões no âmbito da execução penal, não lhe é permitido adentrar
em matéria de atribuição exclusiva da autoridade administrativa, no que concerne à instauração do
procedimento para fins de apuração do cometimento de falta disciplinar pelo preso, sob pena de
afronta ao princípio da legalidade.” STJ. Terceira Seção. REsp 1.378.557-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2013.
Súmula 534 - STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a
progressão de regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do
cometimento dessa infração.
Súmula 535 - STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de
comutação de pena e indulto.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por
trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011).
104
A lei não diferenciou o trabalho interno (intramuros) do externo (extramuros). Portanto, é
plenamente possível a remição pelo trabalho realizado extramuros, conforme o
entendimento sumulado.
105