Você está na página 1de 72

Publicação Oficial

Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE)


Federación latinoamericana de Nutrición Parenteral y Enteral (Felanpe)

Indexada no Index Medicus


Latino Americano (Lilacs)

ISSN 0103-7196

VOLUME 19, NÚMERO 2 • ABRIL, MAIO, JUNHO DE 2004

E D I TO R I A I S Suplementação nutricional em pacientes 70-77


com doença do neurônio motor/
A ética na terapia nutricional III esclerose lateral amiotrófica
Ethics in nutritional therapy Nutritional supplements in patients with motor neuron
Ética en la terapía nutricional disease/ amyotrophic lateral sclerosis
Isac Jorge Filho Nutrición suplementar en pacientes con enfermedad
neuromotora/ esclerosis lateral amiotrófica
Ética em pesquisa clínica IV Patrícia Stanich, Aline Maria Luiz Pereira, Ana Lúcia de
Ethics in clinical research Magalhães Leal Chiappetta, Marcelo Nunes, Acary de Souza
Ética en investigación clínica Bulle Oliveira, Alberto Alain Gabbai
Joel Faintuch e Mário Cícero Falcão
A RT I G O S D E R E V I S Ã O
A RT I G O S O R I G I N A I S Alterações do estado nutricional e 78-84
Effect of sucrose and sweetener on appetite 47-53 dietoterapia na infecção por HIV
sensation and energy expenditure in normal Nutritional status alterations and
weight and overweight subjects diet therapy in the HIV infection
Efeito da sacarose e de adoçante no apetite e gasto Alteraciones del estado nutricional y
energético de homens com sobrepeso e peso normal dietoterapia en la infección por VIH
Efecto de la sacarosa y edulcorante en el apetito Viviane Ozores Polacow, Fernanda Baeza Scagliusi,
y gasto energetico en individuos Laura de Souza Marques Furtado, Mario Luiz Carré,
normoponderales y con sobrepeso Gabriela Machado Pereira, Camila Giovanini Avileis,
Denise Machado Mourão, Josefina Bressan Resende Daniel Guidin, Sonia Buongermino de Souza,
Monteiro, Helen H. M. Hermsdorff, Marta C. T. Leite Maria de Fátima Nunes Marucci
Efeitos metabólicos da oferta endovenosa 54-58 Evolução histórica dos valores de referência 85-92
de L-alanil-glutamina no sangue e fígado para perfil lipídico: o que mudou e por quê
de ratos submetidos a hepatectomia parcial Historical evolution of reference value for lipid profile:
Metabolic effects of endovenous offer of what changed and why
L-alanyl-glutamine on blood and liver of rats Evolución histórica de los valores de referencia para el
submitted to partial hepatectomy perfil lipídico: lo que cambió y por qué
Efectos metabólicos de la oferta intravenosa de L-alanil- Helen Hermana Miranda Hermsdorff, Maria do Carmo
glutamina en la sangre e hígado de ratas sometidos a Gouveia Pelúzio, Sylvia do Carmo Castro Franceschini,
hepatectomia parcial Silvia Eloiza Priore
Artur Guimarães Filho, Sérgio Botelho Guimarães,
Paulo Roberto Cavalcante de Vasconcelos, Hipertensão arterial no idoso e fatores 93-98
Paulo Roberto Leitão de Vasconcelos de risco associados
Arterial hypertension in the elderly
Estado nutricional e sua evolução em 59-63 and associated risk factors
pacientes internados em clínica médica Hipertensión arterial en el anciano
Nutritional status and its evolution in y factores de riesgo asociados
medical clinic in-patients Tânia Campos Fell Amado, Ilma Kruze Grande de Arruda
Estado nutricional y su evolución en
pacientes internos en clínica médica Os carotenóides no tratamento e 99-107
Rosa Wanda Diez Garcia, Vânia Aparecida prevenção do câncer
Leandro-Merhi, Alexandra Missio Pereira Carotenoids in treatment and prevention of cancer
Los carotenoides en el tratamiento y
Perfil dos pacientes hospitalizados 64-69 la prevención del cáncer
com úlcera de pressão Tatiana Pereira de Paula, Wilza Arantes Ferreira Peres,
Profile of patients hospitalized with pressure ulcer Maria das Graças Tavares do Carmo
Perfil de los pacientes hospitalizados
con úlcera de presión
Simone Côrtes Coelho, Renata Costa da Silva
Publicação oficial Endereço Editorial:
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE) SciPress Serviços Editoriais
Federación Latinoamericana de Nutrición Parenteral y Enteral (FELANPE)
Rua Padre João Manuel, 774 / 41
Indexada no Index Medicus CEP 01411-000 - São Paulo - SP
Latino Americano (LILACS) Tel: (011) 3083.1278

Assinaturas: Publicidade:
A Revista é distribuida gratuitamente a todos os sócios da SBNPE. Rua Abílio Soares, 233 cj 144
Assinaturas avulsas podem ser feitas por meio da ficha publicada no
final desta edição Paraíso - São Paulo - SP
CEP 04005-000
ISSN 0103-7196 Tel/Fax: (011) 3889.9909

Editor Chefe: Joel Faintuch

Editor Associado: Mário Cícero Falcão

Corpo Editorial: Antônio Carlos L. Campos - Hospital Universitário do Paraná - Curitiba - PR


C. Daniel Magnoni - Hospital do Coração - Presidente da SBNPE - São Paulo - SP
Celso Cukier - Hospital do Coração - São Paulo - SP
Dan L. Waitzberg - Faculdade de Medicina da USP - São Paulo - SP
Fabio Ancona Lopez - UNIFESP - São Paulo - SP
Fernando José de Nóbrega - UNIFESP - São Paulo - SP
Joel Faintuch - Faculdade de Medicina da USP - São Paulo - SP
Maria Isabel Ceribelli - PUCCAMP - Campinas - SP
Maria Isabel T. Davisson Correia - Fundação Mário Pena - Hospital das Clínicas - Belo Horizonte - MG
Mário Cícero Falcão - Faculdade de Medicina da USP - São Paulo - SP
Nicole O. Machado - Instituto da Criança - Hospital das Clínicas - São Paulo - SP
Paulo Roberto Leitão de Vasconcelos - Universidade Federal do Ceará - Fortaleza - CE
Roberto Carlos Burini - UNESP - Botucatu - SP
Rubens Feferbaum - Instituto da Criança - FMUSP - São Paulo - SP
Uenis Tannuri - FMUSP - São Paulo - SP

Jornalista Responsável: Renata Barco Leme (MTb 11177)


E D I TO R I A L

A ética na terapia nutricional


Ethics in nutritional therapy
Ética en la terapía nutricional

Isac Jorge Filho*

Certamente a assistência nutricional é uma das áreas que 1. Que tragam benefícios para o paciente sob tratamento,
mais tem avançado a partir dos últimos decênios do Século XX. obedecendo, assim o princípio da beneficência.
Rapidamente, procedimentos ligados a nutrição clínica 2. Que não determine efeitos colaterais relevantes e pre-
ampliaram seus nichos, restritos as copas e cozinhas de esta- visíveis, dentro do princípio da não-maleficência.
belecimentos hospitalares, invadiram indústrias, farmácias, 3. Que sejam disponíveis para as diferentes pessoas, inde-
centros cirúrgicos, unidades de terapia intensiva e, deixan- pendente de qualquer tipo de preconceito, seja de cre-
do os muros dos hospitais, chegaram aos ambulatórios e atin- do, cor, gênero,tendência política ou situação sócio-eco-
giram os próprios domicílios dos pacientes. nômica. Desta maneira estará sendo cumprido o princí-
Procedimentos que envolviam tão somente prescrição pio da justiça.
médica de dietas artesanais, sua produção pela cozinha do hos- 4. Que seja utilizado dentro do princípio da autonomia do
pital e oferta aos pacientes, passaram a envolver médicos, enfer- paciente em aceitar ou não o tratamento proposto.
meiros, nutricionistas, farmacêuticos e, muitas vezes, psicólogos A teoria dos princípios da Bioética, que preconiza que se
e fisioterapeutas. Tal diversificação foi tão pronunciada que uma ação tem boas conseqüências e está dentro de regras
justificou plenamente a criação das Equipes Multiprofissionais estabelecidas ela é eticamente recomendável, é considerada,
de Terapia Nutricional, atestado claro do entendimento das por muitos bioeticistas, muito simplista já que nem sempre
autoridades sanitárias quando a complexidade das ações de permite respostas satisfatórias aos problemas bioéticos que se
cunho nutricional na doença, a exigir trabalho amplo e coorde- apresentam. É assim também no caso da Terapia Nutricional,
nado de diferentes categorias profissionais. já que enquanto os princípios da beneficência e não-
Era de esperar que uma revolução de tal vulto trouxesse maleficência são claramente aplicáveis, os princípios da auto-
consigo problemas éticos novos e acentuasse outros, até nomia e, principalmente, da justiça geralmente se chocam
então pouco percebidos. Discutir tais problemas não é tare- com a realidade. É claro, por exemplo, que no Brasil a terapia
fa simples, já que envolve diferentes Códigos e Conselhos de nutricional não está ao alcance de todos e nem todos os que
Ética, sendo aconselhável, do meu ponto de vista, que estes a recebem tiveram autonomia em aceitá-la. Nesse sentido, a
Conselhos se reunam para traçar rumos e normas éticas co- normatização da Vigilância Sanitária e o credenciamento de
muns, especificamente para a Terapia Nutricional. Equipes Multiprofissionais em hospitais abre espaço para maior
Enquanto isso não acontece, vale considerar os princí- justiça na utilização de procedimentos nutricionais a pacien-
pios da Bioética, que podem perfeitamente nortear muitos tes com baixas condições sócio-econômicas, mas ainda há uma
dos passos dos profissionais envolvidos com a Terapia grande distância entre essa bela teoria e a dura realidade.
Nutricional, independente da categoria profissional a que De qualquer forma, os princípios acima citados são bas-
pertençam. tante úteis nessa fase do desenvolvimento das equipes
O que se espera, em termos bioéticos, dos procedimen- multiprofissionais, por lidar com aspectos populacionais,
tos de apoio e de terapia nutricional? como é característico da Bioética. Urge agora definir um

• Presidente da Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição de São Paulo.


• Ex Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.
• Doutor em Cirurgia. Professor Titular de Cirurgia do Curso de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto.
• Conselheiro e Membro da Câmara de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
III
E D I TO R I A L

elenco de normas éticas que diga respeito especificamente à Nutrologia, sendo um deles representado pelos aspectos éti-
Terapia Nutricional e que seja incorporado aos Códigos de cos e bioéticos envolvidos no tratamento dos pacientes com
Ética das diferentes categorias envolvidas. distúrbios nutricionais. No segundo semestre, durante o
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Congresso, essa discussão se tornará ampla e pública. Naque-
Paulo, sensibilizado com a importância do tema criou sua la ocasião queremos contar com a participação de cada um
Câmara Técnica de Nutrologia. Formada por elementos da dos leitores, de cada um daqueles que entendem que a assis-
primeira linha de Médicos ligados à Terapia Nutricional, essa tência à saúde das pessoas envolve muito mais que a simples
Câmara tem analisado temas importantes e polêmicos da utilização da tecnologia e da ciência.

IV
E D I TO R I A L

Ética em pesquisa clínica


Ethics in clinical research
Ética en investigación clínica

Joel Faintuch1 e Mário Cícero Falcão2


Editor Chefe e Editor Associado

O tema não é novo. Há mais de dois milênios Hipócrates maioria dos países desenvolvidos. Também no Brasil, a Co-
já formulava o princípio do “primum non nocere”. O profis- missão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP, órgão do
sional da saúde não poderia garantir benefícios para todos Ministério da Saúde, atua há cerca de uma década no senti-
pacientes, mas deveria se esforçar ao máximo para não lhes do de ditar as regras que norteiam todos protocolos experi-
causar mal, nem comprometer ainda mais sua situação. mentais envolvendo pacientes (e também animais de labo-
O juramento do mesmo pai da Medicina, até hoje repe- ratório).
tido solenemente por formandos em faculdades do mundo in- E quais são estas regras ? Algumas representativas são
teiro, já esboçava alguns dos alicerces da moderna ética: aqui brevemente referidas:
integridade, competência e respeito no trato com o pacien- 1) Consentimento informado – Trata-se de atitude absolu-
te, bem como confidencialidade no tocante às informações tamente consagrada. O paciente somente deve partici-
adquiridas. par de um projeto após ser esclarecido objetivamente de
Em que pese este “pedigree” tão antigo quanto ilustre a suas características e de concordar por escrito com o
ética em pesquisa precisou até certo ponto ser reinventada ao mesmo.
término da II Guerra Mundial. A razão bem conhecida foram 2) Vantagens, riscos e alternativas – Não basta dar ciência
investigações conduzidas por médicos nazistas nos campos de da natureza da pesquisa. O paciente precisa saber se
concentração. Isto mesmo, os alemães e seus aliados não se auferirá algum benefício (muitas pesquisas destinam-se
limitaram a condenar a morte lenta e torturada seis milhões a beneficiar gerações futuras, não seus atuais sujeitos), os
de judeus (ao lado de ciganos, homossexuais, políticos inde- perigos devem ser enumerados e explicados (e não ape-
sejáveis e mesmo sacerdotes cristãos que se opunham às te- nas substituídos pela clássica expressão de que “tudo dará
orias hitlerianas). certo”), e também as alternativas existentes (ou pelo
Os campos serviram de palco para experiências cientí- menos a alternativa de não se integrar no protocolo).
ficas atrozes, devidamente anotadas e cujos registros sobre- 3) Direito ao sigilo profissional, acesso a seus dados pesso-
viveram à guerra, como retirar fetos imaturos de grávidas com ais, possibilidade de desistência a qualquer momento
várias idades gestacionais e abandoná-los sem atendimento, sem pressões ou penalidades, previsão para atendimen-
para documentar sua sobrevida espontânea fora do útero. to em caso de complicações, nome e telefone de um
Analogamente, prisioneiros eram arremessados em tanques profissional responsável. Todas estas salvaguardas, além
de água a temperaturas próximas de 0oC, para se registrar de outras mais, costumam ser incluídas no Termo de
após quantos minutos sobrevinha a parada cardíaca. Consentimento, a fim de assegurar amplo respaldo ao
Uma das conseqüências do tribunal internacional de paciente em qualquer circunstância.
Nüremberg, que julgou os chefes nazistas capturados ao final 4) Atendimento especial a populações desprotegidas, dro-
da conflagração, foi a enunciação do Código de Nüremberg, gas novas ou incompletamente testadas, tratamentos
que proibia procedimentos como os assinalados. envolvendo fases isentas de suporte terapêutico (uso de
Com a criação da Organização das Nações Unidas e suas placebo ou períodos de “wash out”), etc. Deve-se recor-
entidades associadas aproximadamente na mesma época, rer a cautelas especiais no recrutamento de indivíduos
entre elas a Organização Mundial da Saúde, coube a esta incapazes de entender ou aceder plenamente ao estudo
capitanear as iniciativas no sentido de normatizar os estudos como crianças, idosos com Alzheimer, e indígenas não
científicos em todo o mundo. O desdobramento deste aculturados. Outros, como populações carcerárias, pode-
pioneirismo foi a Convenção de Helsinki, hoje considerada rão sentir-se constrangidos ou cerceados, o que igual-
obrigatória por todas agências de fomento e pelas principais mente interferirá na sua capacidade de consentimento.
publicações científicas internacionais. E certas drogas ou procedimentos, cujas conseqüências
Resultou de todo este empenho que a pesquisa clínica se são ou poderão vir a se revelar deletérias, exigirão cuida-
encontra na atualidade submetida a regras gerais semelhan- dosa pesagem da relação risco-benefício antes de sua
tes, ainda que com divergências em pontos específicos, na aprovação.

1. Professor Associado - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2. Doutor em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
V
E D I TO R I A L

5) Fundamentação científica – É consensual em todas as te receba benefícios pelo trabalho desenvolvido, desde
partes do mundo que também a ciência frágil ou pouco que haja uma fonte pagadora como agência de fomento,
consistente é anti-ética. Ou seja, não basta que as salva- laboratório farmacêutico etc. Não se permite que o pa-
guardas e explicações usuais sejam proporcionadas, o ciente seja remunerado, a não ser sob a forma de peque-
ritual do Termo de Consentimento executado segundo nos reembolsos para condução ou alimentação e, usual-
a melhor liturgia, a amostragem suficiente e a mente, os membros das comissões éticas, que julgam e
metodologia, um primor. Se o arrazoado e a justificati- aprovam tais processos, também atuam graciosamente,
va técnica em si não possuírem bases sólidas e documen- embora algumas instituições cobrem para dar entrada na
tadas, e se as intervenções contempladas não evidenci- documentação. Em outros países, já se configura uma
arem perspectiva de avanço dos conhecimentos ou das tendência para que todos usufruam do projeto quando de
práticas diagnósticas ou terapêuticas, não haverá como natureza comercial, inclusive o paciente e a comissão
endossá-los. analisadora.
Na realidade a ética em pesquisa já avançou tanto, em 3) Qual a penalidade para pesquisas clandestinas ou irregu-
nossos dias, que tratados e publicações periódicas já são dis- lares, isto é, não previamente aprovadas por comissão
poníveis exclusivamente neste campo, ao lado de sítios na ética ou não formatadas segundo as recomendações da
Internet, razão porque os presentes comentários não são, nem CONEP? No Brasil, não existem definições claras sobre
poderiam ser completos ou exaustivos. Assim sendo, apenas punições, e o fato é que devido à inexistência de comis-
alguns tópicos mais serão abordados, a título de ilustração. sões éticas em pequenas instituições, ou à insuficiente di-
1) Quem necessita de análise ética ? Um simples questio- vulgação das normas em vigor, é possível que muitos
nário do tipo Avaliação Subjetiva Global (ASG), que investigadores de boa fé ainda estejam incorrendo nes-
não envolve riscos nem toma mais que uns 10 minutos tas falhas.
para ser elaborado, já requer uma formalização protoco- Não obstante, as agências de fomento oficiais, tanto
lar ? A resposta é positiva. Até mesmo revisões de pron- federais quanto estaduais, já de algum tempo rejeitam quais-
tuários, integralizadas em arquivos sem a presença do quer pedidos sem a competente chancela ética, e o mesmo
enfermo, já necessitam passar por tal crivo. Curiosamen- ocorre com projetos de Mestrado e Doutorado, na maioria
te, a mesma ASG, caso colhida como parte do atendi- das Universidades. Revistas científicas internacionais e
mento usual, não dependerá de consentimento do paci- muitas nacionais, analogamente, cobram tal requisito, e o
ente. As doutrinas da CONEP se aplicam unicamente a mesmo já começa a se suceder com os principais congressos
pesquisa, não à assistência rotineira aos pacientes, onde da área da saúde.
não há legislação específica e, portanto, é opcional so- Note-se ainda que aprovações a posteriori para estudos já
licitar ou não aprovação para os procedimentos plane- concluídos são, virtualmente, impossíveis de se conseguir,
jados. ainda que não paire qualquer suspeita de infringências éticas.
2) Quem deve lucrar com pesquisa clínica ? No Brasil, Tanto as comissões institucionais quanto a CONEP determi-
admite-se como legítimo que o investigador executan- nam aprovação prévia dos protocolos .

Referências bibliográficas
1. Cadernos de Ética em Pesquisa – Publicação do Conselho Nacional de Saúde/MS – e-mail <conep@saude.gov.br>
2. www.conselho.saude.gov.br
3. Emanuel EJ et al. (eds). Ethical and regulatory aspects of clinical research. Baltimore, Johns Hopkins University Press, 2003. Disponível no endereço:
www.press.jhu.edu

VI
A RT I G O ORIGINAL

Effect of sucrose and sweetener on appetite sensation and energy expenditure


in normal weight and overweight subjects
Efeito da sacarose e de adoçante no apetite e gasto energético de homens com sobrepeso e peso normal
Efecto de la sacarosa y edulcorante en el apetito y gasto energetico en individuos normoponderales y con
sobrepeso

Denise Machado Mourão1, Josefina Bressan Resende Monteiro2, Helen H. M. Hermsdorff 3, Marta C. T. Leite 4.

Abstract Resumo
The high consumption of simple carbohydrate has been related to O grande consumo de carboidratos simples tem sido relacionado
obesity. However, the true influence of dietetic foods on the body à obesidade. Este trabalho comparou uma dieta com sacarose
weight remains unclear. This work compared the influence of a (SM) a uma com sucralose (DM), sobre o apetite e gasto
sucrose-based standard meal (SM), with a sucralose-based diet energético em 26 homens divididos em dois grupos: com peso
meal (DM) on appetite and energy expenditure, in 26 male normal (n=13) e com sobrepeso (n=13). A escala de analogia
subjects divided into two groups: overweight (OW) and normal visual foi utilizada para avaliar a ingestão alimentar e a calorimetria
weight (NW). The visual analogue scale was used to assess food indireta para estimar o gasto energético. Verificou-se maior
intake, and indirect calorimetry to estimate energy expenditure. saciedade e menor fome após o consumo de DM, quando compa-
The scores were higher for satiety and lower for hunger after DM rada com a SM. Os indivíduos com sobrepeso apresentaram maior
consumption, compared with SM. OW subjects had a higher gasto energético e menor termogênese do que os com peso normal,
energy expenditure and lower thermogenesis than the NW ones, independente da dieta testada. Foram observados maior quociente
regardless of the meal tested. A higher rest respiratory quotient, rest respiratório, gasto energético de repouso e termogênese após a
energy expenditure, and thermogenesis for DM were also ingestão de DM, independente do grupo. Os resultados deste tra-
observed, regardless of the group. The results suggest that body balho sugerem que a composição corporal e o tipo de carboidrato
composition and the type of used carbohydrate can influence food consumido podem influenciar a ingestão alimentar, o quociente
intake, respiratory coefficient, thermogenesis, and energy respiratório, a termogênese e o gasto energético. (Rev Bras Nutr
expenditure. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53) Clin 2004; 19(2):47-53)
KEYWORDS: sugar, sweetener, carbohydrate, energy expenditure, UNITERMOS: açúcar, adoçante, carboidrato, gasto energético,
energy intake ingestão energética.

Resumen
Se puede relacionar el gran consumo de carbohidratos simples a la obesidad. Sin embargo, la real influencia de los alimentos dietéticos
sobre el peso corpóreo no está de todo claro. En este trabajo se comparó la influencia de una refacción a base de sacarosa (SM) con otra
a base de sucralose (DM), sobre el apetito y el gasto energético en 26 hombres divididos en dos grupos: de peso normal (n=13) y con
sobrepeso (n=13). La escala de analogía visual (EAV) fue utilizada para evaluar la ingestión alimentaria y la calorimetría indirecta para
estimar el gasto energético. Los valores fueron mayores para la saciedad y más bajos para la hambre al se consumir DM. Los individuos
con sobrepeso presentaron mayor gasto energético y menor termogénesis. Mayores tasas de cociente respiratorio, gasto energético y
termogénesis fueron observados para la DM. Los resultados sugieren que la composición corporal y el tipo de carbohidrato usado pueden
influir en la ingestión alimentaria, en el cociente respiratorio, en la termogénesis y en el gasto energético. (Rev Bras Nutr Clin 2004;
19(2):47-53)
UNITÉRMINOS: azúcar, edulcorante, carbohidrato, gasto energético, ingestión energética.

1. Nutricionista. Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal
de Viçosa, MG; 2. Nutricionista. MSc, PhD em Fisiologia e Nutrição. Professora Adjunto IV do Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa, MG;
3. Nutricionista. Mestranda do Programa de Mestrado em Ciência da Nutrição, Universidade Federal de Viçosa, MG; 4. Nutricionista. Mestranda do Programa de Mestrado
em Microbiologia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, MG.
Endereço para correspondência: Denise Machado Mourão, Dep. de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa, Av. PH Rolfs s/ n., 36571-000, Viçosa
– MG, Brasil. dmourao@rocketmail.com.br ou denisemm@vicosa.ufv.br
Submissão: 10 de outubro de 2003
Aceito para publicação: 5 de abril de 2004

47
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

Introduction (BMI) between 18.5 and 24.9 kg/m2), and the overweight
group (OW, n=13, BMI>24.9) 11, 12. Energy content was
The effect of diet composition on appetite control and estimated according to each subject’s individual energy
energy balance has been studied by many research groups, requirements, determined by bioelectrical impedance
and it has been suggested that the nutrient content of foods analysis (BIA). The subject characteristics are shown in
is often associated with certain sensory characteristics which Table 1.
may affect the sensory stimulation to eat1-3.
The high consumption of fat foods and refined Test meals
carbohydrates has been associated to the occurrence of
obesity. However, over the past decades dietary carbohydrate Two test meals were used with the same three dish
has been found to provide protection against weight gain4, 5. preparations (corn bread, chocolate candy, and pineapple
Thus, a wide variety of light and diet foods has been sweet – figure 1). Sucrose and sucralose were used in the
produced in the last years, in the belief that they might help standard meal (SM) and diet meal (DM), respectively. The
to reduce or to maintain an appropriate body weight. use of sucralose in the DM conferred a higher complex
However, the use of these food items for this purpose still carbohydrate content, compared to SM. The subjects
remains controversial, especially the substitution of artificial received 33% of their total daily energy needs (Basal
sweeteners by sucrose to obtain better weight control6-8. Metabolic Rate – BMR) from the two meals (Table 1 and
Recently, Raben et al. showed an increase in energy intake figure 1), on two different test days, separated by 1-4 weeks.
and body weight of overweight subjects consuming drinks Both meals had similar macronutrient composition (60%
and foods containing sucrose when compared to sweetener, carbohydrate, 25% fat and 15% protein). The fatty acid
after 10 week ad libitum food intake8. However, the sucrose profile of both meals was evaluated using the software
group had a higher energy intake, 813 kcal compared to 239 DietProâ (Viçosa, Agromidia Inc, version 3.0) as presented
kcal in the sweetener group. on Table 2. All the subjects participating in the food intake
No studies have confirmed that light and diet foods can
effectively prevent obesity although some authors agree that
changes in macronutrient composition can affect appetite,
improving or decreasing food intake9, 10. The effect of these
food items on energy expenditure has not been investigated
as well. Therefore, the aim of this work was to evaluate the
impact of a diet meal on food intake and energy expenditure
of overweight men.

Methods
Subjects

Twenty-six healthy 18-40 year-old male subjects


voluntarily participated in this study. None were smokers,
elite-athletes, on a diet, used medications, or had a diabetes
history. The subjects were considered to be in good health,
as determined by physical examination and laboratory blood
and urine tests, and had maintained a stable weight for the
previous six months. They were divided into two groups: the
normal-weight group (NW, n=13, with a body mass index Figure 1 - Ingredients of the tested meals

Table 1 - Anthropometrical characteristics and basal metabolic rate of the subjects

Age (y) Body wt (kg) Height (cm) BMI (kg/m2) PBF (%) BMR (KJ/d)
NW 25.0 + 1.6 69.2 + 1.6 174 + 0.1 23.4 + 0.5 15.6 + 0.8 7313 + 179
OW 30.0 + 1.9 88.5 + 2.4 173 + 0.1 29.3 + 0.6 25.0 + 0.9 8451 + 184
NW - normal-weight group (n=13); OW - overweight group (n=13); BMI - body mass index; PBF – percentage of body fat; BMR – basal metabolic rate

Table 2 - Profile of fatty acids of the tested meals

Overall Lipids (g) SFA (g) MUFA (g) PUFA (g)


SM 18.1+ 0.3 A a 5.1+ 0.1 A c 7.4+ 0.1 A b 4.5+ 0.1 A d
DM 16.7+ 0.3 A a 5.6+ 0.1 A c 6.7+ 0.1 A b 3.4+ 0.0 A d
Means + SEM same capital letter at column, and small letter in line are not significantly different, F / Duncan’s test (P<0,05).
SM standard meal; DM diet meal; SFA saturated fatty acids; MUFA monounsaturated fatty acids; PUFA polyunsaturated fatty acids
48
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

experiment (Protocol I) and energy expenditure (EE) neutral environment, 12h after their last meal and at least 8h
experiment (Protocol II), were evaluated four times in the of sleep, awake and emotionally undisturbed.
laboratory. On the test days, subjects exerted a minimum
amount of physical activity, arriving at 7:00 a.m. by car after
an overnight fast.

Energy intake experiment

A 10-cm visual analogue scale (VAS) was used to assess


appetite sensation and sensorial perception in the food
intake experiment13. The questionnaires used in this study
were in the form of booklets showing one question at a time.
The subjects did not discuss or compare their ratings with
each other and could not refer to their previous ratings when
marking the VAS. All the subjects tested both meals on two
different mornings. The schematic protocol of the food
intake experiment is shown in figure 2. During the test Figure 3 - The schematic protocol of the energy expenditure experiment
intervals, subjects could read, walk quietly around the test
room, listen to the radio or watch TV/video. They were The study was carried out at the Nutrition and Health
allowed to drink water, if necessary, and use the toilet. They Department of the Universidade Federal de Viçosa (Brazil),
could talk with each other as long as the conversation did not and was approved by the Ethics Committee. All the subjects
involve food, appetite and related issues. provided written consent after explanation of the experi-
mental protocols.
All the results are expressed as mean + standard error
(s.e.m.), and were considered significant at P<0.05. A
randomized complete block design was used in this study.
The post- prandial response curves of hunger and satiety
ratings were compared by parametric analysis of variance
(ANOVA) using an epsilon corrected split-plot analysis with
time as a factor. Also, joint analyses of variance were used for
the NW and OW groups in different environments. The F-
test was used for qualitative data, and the significant
coefficients based in regression analysis, using the t test for
quantitative data. For the EE, the results were assessed by 2x2
analysis of variance (ANOVA), with group, meal, and
group*meal as factors. The F-test was used to test significant
Figure 2 - The schematic protocol of the food intake experiment
differences between variables. For all the statistical analysis
the Statistical Analysis Package (SAS Institute, Cary, NC,
Energy expenditure experiment version 6.12) was used. The Duncan’s test was used to
evaluate the profile of fatty acids in the test meals.
Basal metabolic rate (BMR), postprandial metabolic
rate (PMR) and rest metabolic rate (RMR) were measured Results
by indirect calorimetry using a Deltatrac II ® metabolic
monitor (Datex-Engstrom, Finland), an open-circuit Subject characteristics
ventilated canopy measurement system, for the energy
expenditure experiment. Oxygen uptake and carbon dioxide Subject age, anthropometrical characteristics and basal
production were measured continuously and values were metabolic rates are shown in Table 1.
averaged every 5 minutes for BMR and RMR; and every 15
minutes for PMR. Three urine samples were collected for Meal characteristics
posterior nitrogen excretion determination by the Kjeldahl
method14, for BMR, PMR and RMR measurements. The Fatty acid profile did not differ between the two test
thermic effect of food (TEF) was calculated as the increase meals (P>0.05) and presented a high level of
in EE above the baseline for 4h after test meal consumption monounsaturated fatty acids (MUFA) (P<0.05), followed by
and was expressed as a percentage of energy ingested 15. saturated fatty acids (SFA), and polyunsaturated fatty acids
Respiratory quotient (RQ) and substrate oxidation rates (PUFA) (Table 2).
were calculated by using the formulas presented by Labayen There were no significant differences (P>0.05) in weight
et al.15. The schematic EE experiment protocol is shown in and energy density between SM and DM. However, DM was
figure 3. The subjects laid at complete rest, in a thermally higher (P<0.05) in volume than RM (data not shown).
49
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

Food intake experiment

Sensorial Perception
No difference (P>0.01) in sensorial characteristics (vi-
sual appeal, taste, smell, aftertaste, and overall palatability)
was verified between NW and OW groups (data are not
shown). The sensorial characteristics between the two test
meals were not compared since the subjects were not allowed
to eat them ad libitum. Figure 5 - Comparison of respiratory quotient (RQ) means between
groups – A, and between meals – B, in the three measurement periods,
Appetite Scores basal, postprandial and rest. * P=0.0432. Normal weight subjects (NW),
No difference in hunger and satiety means was found overweight subjects (OW), standard meal (SM), and diet meal (DM).
between NW and OW groups, (P>0.05) regardless of the
meal tested, figure 4A. When the meals were compared, a
lower hunger and higher satiety means were found after DM
consumption (P=0.0001) than after SM, regardless of the
groups, figure 4B.

Figure 4 - Estimate of subjective scores of hunger and satiety; between


groups – A, and between meals – B. * P=0.0001. Normal weight subjects
(NW), overweight subjects (OW), standard meal (SM), and diet meal (DM).

Energy expenditure experiment


Figure 6. Comparison of thermic effect of food (TEF) means between
There was no interaction between group and meal. No groups – A, and between meals – B, at the postprandial and rest
measurement periods. * P<0.05. An overall view of TEF- C of NW („)
significant difference was found in RQ for all the and OW (z) subjects following the consumption of SM (—) and DM (---)
measurement periods, basal, postprandial and rest (figure through the time
5A) and nutrient oxidation (Table 3) between NW and OW
groups (P>0.01). However, the mean metabolic rates were consumption of the meals as a function of time is shown in
greater for OW subjects (P=0.0001), Table 3. figure 6C.
A significant lower TEF was found for OW subjects (fi- No significant difference was found in PRQ (figure 5B),
gure 6A), regardless of the meal tested, and a higher TEF for PMR and FATOX (Table 4) between SM and DM, P>0.05.
DM, regardless of the group (figure 6B), P<0.05. An overall However, means of RRQ (figure 5B), RMR and CHOX
view of the TEF of the NW and OW groups after the (Table 4) were greater after DM consumption, P<0.05.

Table 3. Means of BMR, PMR, RMR, FATOX and, CHOX

BMR (kcal) PMR (kcal) RMR (kcal) FATOX (g/min) CHOX (g/min)
NW 1874+27B 2098+30B 2065+36B 0.19+0.02A 0.13+0.01A
OW 2139+38A 2376+46A 2350+40A 0.22+0.01A 0.14+0.01A
Means + SEM same letter are not significantly different, F test (P<0,01).
NW normal-weight group (n=13); OW overweight group (n=13); BMR basal metabolic rate; PMR postprandial metabolic rate; RMR rest metabolic rate;
FATOX fat oxidation; CHOX carbohydrate oxidation

Table 4. Means of PMR, RMR, FATOX and, CHOX

PMR (kcal) RMR (kcal) FATOX (g/min) CHOX (g/min)


SM 2213+51A 2132+50B 0.22+0.02A 0.11+0.01B
DM 2260+43A 2283+40A 0.19+0.01A 0.16+0.01A
Means + SEM same letter are not significantly different, F test (P<0,05)
SM - standard meal; DM - diet meal; PMR postprandial metabolic rate; RMR rest metabolic rate; FATOX fat oxidation; CHOX carbohydrate oxidation
50
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

Discussion differences were found in hunger and satiety mean scores


between NW and OW groups (P>0.05), maybe due to a fairly
Food intake experiment high BFP of the OW subjects, rather than their BMI, which
is in the upper limit between overweight and obesity (Table
Many factors (such as metabolic, neural, and endocrine 1). However, it was found a lower satiety means (P=0.0215),
signs) can influence feeding behavior, lying between free will in a larger sample with twenty OW subjects, under the same
and physiology. Also, feeding can be modified by powerful experiment conditions (Mourão et al. 2003 - data
visual, olfactory, emotional, and cognitive inputs16. Sight and unpublished).
smell of food are sufficiently potent to trigger a cephalic
phase of insulin responses. According to Rogers & Blundell17 Energy expenditure experiment
these responses in obese groups are four times greater than
that observed in lean people. No difference in the sensorial It is generally accepted that absolute basal metabolic
perception of the meals between NW and OW groups was expenditure (kJ/day) tends to rise with increasing body
detected. This finding suggests that sensorial perception is weight37. The relationship between BMR and lean body mass
not affected by body composition. However, this data could is generally linear; however adipose tissue is less
be influenced by the small difference in body fat (PBF) metabolically active than most body tissues, and the fat:lean
between groups, since this study included overweight tissue ratio is increased in obesity. Therefore, the slope of the
subjects, and not obese ones (Table 1). relationship between BMR and total weight tends to become
Several studies found that artificial sweeteners have a flatter, but rising significantly, with higher weight38. In this
stimulating effect on appetite 18-20, and also those foods study, EE for the three investigated periods - basal,
containing intense sweetener lead to lower satiety than those postprandial and rest (BMR, PMR, RMR) - was significantly
containing sugar6, 17, 21. However, conflicting results have also higher for the OW group (P=0.0001) Table 3, due to the
been reported22-24. increased energy requirements of the increased lean body
In this research it was found a lower hunger and a higher mass and fat mass of these individuals, in agreement with the
satiety means score after DM consumption (P=0.0001), as published data4, 39.
compared to the SM, with sucrose (figure 4B). These findings It is important to point out that metabolic rate in obese
were unexpected, but this effect could be related to a DM is usually lower, inasmuch as it is expressed as kJ/kg/day (it
greater volume. According to Rolls et al.25, the volume of should be correctly expressed per unit of body weight). On
food consumed can affect food intake, probably via receptors the other hand, the gross EE is greater, expressed as kJ/day.
found in the gastrointestinal tract, perhaps more than other This can be misunderstood because the literature shows that
food attributes, e.g. weight and energy density26. On the a relative low RMR40, or low EE41 is a risk factor for weight
other hand, energy content may be the primary, but not the gain.
only factor determining the impact of food on hunger, among Furthermore, a relatively high 24h-RQ implies in a low
many food attributes, such as volume27. Moran28 suggested rate of fat-to-carbohydrate oxidation, and is also considered
that the major determinant of meal size in the onset of satiety to be a predictive factor for weight gain. Thus, there is a
involves a response to neural and endocrine factors, such as comparatively enhanced tendency to oxidize dietary
gut distension and release of the gut peptide cholecystokinin carbohydrate relative to fat42, 43. No significant difference was
(CCK). found in RQ (figure 5A) and nutrient oxidation (Table 3),
Also, the use of sweetener in DM leads to a higher between NW and OW (P>0.01), which could also be due to
complex carbohydrate content as compared to SM. The the small difference in body composition between the groups
carbohydrate profile should be considered in food intake (Table 1). However, McDevitt et al.44 found no significant
studies, since foods with a higher amylose:amylopectin ratio differences in macronutrient oxidation between lean and
are digested more slowly, resulting in a lower glycemic obese subjects even with greater body composition
index29, 30, and perhaps favoring a reduction in food intake31. differences, BMI of 25+1 and 31+4 kg/m2 , and PBF of 35+5
According to Friedman fats that are quickly oxidized and 45+5 %; means + SD respectively.
such as PUFA, promote satiety32, and those that are stored Tittelbach & Mattes45 reported that variations in subject
such as SFA do not. PUFA exerts a stronger appetite control characteristics in cross studies may also contribute to the
than MUFA and SFA33. No difference (P>0.05) was found differences observed between meal palatability and TEF. For
in terms of fatty acid profile between the test meals (Table 2). instance, insulin resistance, body fat percentage, and age are
Thus, it cannot be attributed any interference of the fat negatively associated with TEF. Thus, several studies have
content of the meals in the food intake. shown a lower TEF in obese subjects46, 47. In this work, an
The real influence of body composition on food intake interesting lower TEF was found for OW, regardless of the
remains unclear, probably due to differences in methodology, meal tested, P<0.05 (figure 6A), which is in agreement with
and because obese individuals tend to underreport food the cited references although this present study dealt with
intake16, 34, 35. Studies have recently established the role of overweight subjects, and not obese ones.
leptin and insulin in the regulation of food intake16, 36. They EE and TEF can be influenced by the macronutrient
have been called as adiposity hormones and their secretion composition of a meal. TEF usually amounts to 10-15% of
is directly proportional to the size of the fat mass29. No 24-h EE in a mix meal, but when a single macronutrient is
51
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

given it amounts to 20-30% after protein, 5-10% after ingestion is not dependent on an increase in plasma insulin
carbohydrate and 0-3% after fat ingestion. These differences concentration per se but it is secondary to an augmentation
are related to the different costs of transporting, converting of cellular metabolism. However, a pregelatinized good
and storing the nutrient (obligatory thermogenesis), and to digestible cornstarch was used, which made it uncertain
an extra facultative thermogenesis after carbohydrate intake. whether these results could be extrapolated to less digestible
The facultative thermogenic response to carbohydrates has, starches with more blunted glucose and insulin responses.
at least partly, been attributed to a plasma insulin- induced Christin et al. 52 showed that insulin alone did not
increase in the activity of the sympathetic nervous system, stimulate thermogenesis to a great extent, but via
and also, that different types of carbohydrates in a meal may sympathetic nervous stimulation could explain the
therefore result in different TEF4. facultative component of TEF. Furthermore, Vasilars et al.53
In addition, a number of meal-related characteristics found a similar oxidation pattern of the simple and complex
were reported to influence TEF, including meal size, meal carbohydrate diets tested in a 6 month ad libitum intake in
consistency, meal familiarity, duration of sensory stimulation, contrast with a number of short-term studies, where different
and possibly meal-induced psychological stress45. oxidation rates were observed following intake of different
This research did not find a significant difference in the types of carbohydrate51, 54, based on the probable oxidative
means of PRQ (figure 5A), PMR and FATOX (Table 4) regulatory adaptation during the 6 month study.
between SM and DM, P>0.05. However, TEF (figure 6B), A postprandial increase in metabolic rate after DM
RRQ (figure 5B), RMR and CHOX (Table 4) were greater consumption and its significant higher difference during the
after DM consumption, P<0.05. rest period RMR (Table 4) might be a reflection of DM having
Although some studies have shown that simple a higher complex carbohydrate content, which could increase
carbohydrates do not differ either from complex the obligatory cost for thermogenesis (figure 6B, 5C).
carbohydrates in terms of energy expenditure48 or in body It has been suggested that methodology differences, such
weight loss from low fat diets49, an increase in 24h EE of the as using a chamber or a ventilated hood, subject
subjects was found after 14d of ad libitum consumption of a anthropometrical characteristics, sample size, and meal or
sucrose rich diet (23 E%) as compared to a fat rich diet (45 macronutrient characteristics53 may explain such a great
– 50 E%) and a starch diet (only 2 E% from sucrose)50. They range of results in the literature.
argued that this was probably not only due to an increased In conclusion, data found in this present study suggest
energy intake but also to an increased intake of carbohydrate, that overweight subjects present a higher thermogenesis and
especially sucrose and fructose from that diet as compared to consequently a higher metabolic rate than normal weight
others. subjects. It is also suggested that the consumption of an
Adjustment of fat oxidation ratio to intake may only isoenergetic diet meal, higher in complex carbohydrates,
occur over extended periods by changes in body fat mass and could lead to a lower hunger and higher satiety and
subsequent changes in circulating fatty acids and fat thermogenesis, in addition to increasing the rest respiratory
oxidation, whereas short-term fat oxidation is merely quotient, rest metabolic rate and carbohydrate oxidation, as
dependent on glycogen stores, rather than on fat intake. It compared to a sucrose meal.
must be taken into account, when considering the role of
carbohydrates in body weight regulation, that variations Acknowledgements
exist in the absorption pattern of carbohydrates from the gut
and in the subsequent nutrient, hormonal and thermogenic We thank the subjects for collaboration and the
responses51. In this mentioned study, the finding that sucrose financial support provided by Fundação do Amparo a Pesqui-
and fructose result in the highest thermogenic responses and sa do Estado de Minas Gerais, FAPEMIG, Belo Horizonte,
lowest insulinemic responses, compared to glucose and Brazil, and Conselho Nacional de Pesquisa CNPq, Brasília,
starch, indicated that thermogenesis after carbohydrate Brazil.

References
1. Drewnowski A. Energy intake and sensory properties of food. Am J Clin 6. Blundell JE, Green SM. Effect of sucrose and sweeteners on appetite
Nutr 1995;62(5 Suppl):1081S-5S. and energy intake. Int J Obes 1996;20(Suppl 2):12-7.
2. Blundell JE, Stubbs J. Diet composition and the control of food intake in 7. Drewnowski A. Intense sweeteners and energy density of foods:
humans. In: Bray GA, Bouchard C, James LD, eds. Handbook of Obesity. implications for weight control. Eur J Clin Nutr 1999;53(10):757-63.
New York: Marcel Dekker, Inc, 1998 p.243-72. 8. Raben A, Vasilaras TH, Moller AC, Astrup A. Sucrose compared with
3. Stubbs RJ, Johnstone AM, Mazlan N, Mbaiwa SE, Ferris S. Effect of altering artificial sweeteners: different effects on ad libitum food intake and body
the variety of sensorially distinct foods, of the same macronutrient content, weight after 10 wk of supplementation in overweight subjects. Am J Clin
on food intake and body weight in men. Eur J Clin Nutr 2001;55(1):19- Nutr 2002;76(4):721-9.
28. 9. Prentice AM, Poppitt SD. Importance of energy density and
4. Astrup A, Raben A. Carbohydrate and obesity. Int J Obes 1995;19 Suppl macronutrients in the regulation of energy intake. Int J Obes 1996;20
5:S27-37. Suppl 2:S18-23.
5. Stubbs RJ, Mazlan N, Whybrow S. Carbohydrates, appetite and feeding 10. Stubbs RJ. Macronutrient effects on appetite. Int J Obes 1995;19(Suppl
behavior in humans. J Nutr 2001;131(10):2775S-81S. 5):S11-9.

52
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):47-53

11. Lohman T, Houtkoper L GS. Body fat measurements goes high tech. 35. Togo P, Osler M, Sorensen TI, Heitmann BL. Food intake patterns and
Not all are created equal. ACSM’s Health & Fitness 1997;1:30-5. body mass index in observational studies. Int J Obes 2001;25(12):1741-
12. WHO. Obesity: prevention and managing the global epidemic. Geneva: 51.
WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998. 36. Woods SC, Seeley RJ, Porte D, Jr., Schwartz MW. Signals that regulate
13. Flint A, Raben A, Blundell JE, Astrup A. Reproducibility, power and food intake and energy homeostasis. Science 1998;280(5368):1378-83.
validity of visual analogue scales in assessment of appetite sensations in 37. Prentice AM, Black AE, Coward WA, Cole TJ. Energy expenditure in
single test meal studies. Int J Obes 2000;24(1):38-48. overweight and obese adults in affluent societies:An analysis of 319 doubly-
14. AOAC. The official methods of analysis of the association of official labelled water measurements. Eur J Clin Nutr 1996;50(2):93-7.
analytical chemists: The Association of Official Analytical Chemists, 1984. 38. Ravussin E, Bogardus C. Relationship of genetics, age, and physical
15. Labayen I, Forga L, Martinez JA. Nutrient oxidation and metabolic rate fitness to daily energy expenditure and fuel utilization. Am J Clin Nutr
as affected by meals containing different proportions of carbohydrate 1989;49(5 Suppl):968-75.
and fat, in healthy young women. Eur J Nutr 1999;38(3):158-66. 39. Flatt J. Body composition, respiratory quotient, and weight maintenance.
16. Spiegelman BM, Flier JS. Obesity and the regulation of energy balance. Am J Clin Nutr 1995;62:1107S-17S.
Cell 2001;104(4):531-43. 40. Ravussin E. Low resting metabolic rate as a risk factor for weight gain:
17. Rogers PJ, Blundell JE. Evaluation of intense sweeteners on the short- role of the sympathetic nervous system. Int J Obes 1995;19 Suppl 7:S8-S9.
term control of appetite and caloric intake: a psychobiological approach. 41. Ravussin E, Lillioja S, Knowler WC, Christin L, Freymond D, Abbott
In: THG G, ed. Progress in Sweeteners. London: Elsevier Applied Science, WG, et al. Reduced rate of energy expenditure as a risk factor for body-
1989 p.267-89. weight gain. N Engl J Med 1988;318(8):467-72.
18. Blundell JE, Hill AJ. Paradoxical effects of an intense sweetener 42. Zurlo F, Lillioja S, Puente A, Nyomba BL, Raz I, Saad MF, et al. Low ratio
(aspartame) on appetite. Lancet 1986;1:1092-3. of fat to carbohydrate oxidation as predictor of weight gain: study of 24-
19. Rogers PJ, Blundell JE. Separating the actions of sweetness and calories: RQ. Am J Physiol 1991;259:E650-E7.
effects of saccharin and carbohydrates on hunger and food intake. Physiol 43. Seidell JC, Muller DC, Sorkin JD,Andres R. Fasting respiratory exchange
Behav 1989;47:555-9. ratio and resting metabolic rate as predictors of weight gain: the Baltimore
20. Tordoff MG, Alleva AM. Oral stimulation with aspartame increases Longitudinal Study on Aging. Int J Obes 1992;16(9):667-74.
hunger. Physiol Behav 1990;47(3):555-9. 44. McDevitt M, Poppitt SD, Murgatroyd PR, Prentice AM. Macronutrient
21. Blundell JE, Green SM. Effect of sucrose and sweeteners on appetite disposal during controlled overfeeding with glucose, fructose, sucrose, or
and energy intake. Int J Obes 1996;20 Suppl 2:S12-7. fat in lean and obese women. Am J Clin Nutr 2000;72(2):369-77.
22. Rolls BJ, Laster LJ, Summerfelt A. Hunger and food intake following 45. Tittelbach TJ, Mattes RD. Effect of orosensory stimulation on
consumption of low-calorie foods. Appet 1989;13(2):115-27. postprandial thermogenesis in humans. Physiol Behav 2002;75(1-2):71-
23. Canty DJ, Chan MM. Effects of consumption of caloric vs noncaloric 81.
sweet drinks on indices of hunger and food consumption in normal adults. 46. Dabbech M, Boulier A, Apfelbaum MD, Aubert R. Thermic effect of
Am J Clin Nutr 1991;53(5):1159-64. meal and fat mass in lean and obese men. Nutr Res 1996;16:1133-41.
24. Lavin JH, French SJ, Read NW. The effect of sucrose- and aspartame- 47. de Jonge L, Bray GA. The thermic effect of food and obesity: A critical
sweetened drinks on energy intake, hunger and food choice of female, review. Obes Res 1997;5:622-31.
moderately restrained eaters. Int J Obes 1997;21(1):37-42. 48. Blaak EE, Saris WHM. Health aspects of various digestible carbohydrates.
25. Rolls BJ, Bell EA, Waugh BA. Increasing the volume of a food by Nutr Res 1995;15(10):1547-73.
incorporating air affects satiety in men. Am J Clin Nutr 2000;72(2):361-8. 49. Saris WH, Astrup A, Prentice AM, Zunft HJ, Formiguera X, Verboeket-
26. Rolls BJ, Castellanos VH, Halford JC, Kilara A, Panyam D, Pelkman CL, van de Venne WP, et al. Randomized controlled trial of changes in dietary
et al. Volume of food consumed affects satiety in men. Am J Clin Nutr carbohydrate/fat ratio and simple vs complex carbohydrates on body
1998;67(6):1170-7. weight and blood lipids: the CARMEN study. The Carbohydrate Ratio
27. Kirkmeyer SV, Mattes RD. Effects of food attributes on hunger and Management in European National diets. Int J Obes 2000;24(10):1310-8.
food intake. Inter J Obes 2000;24(9):1167-75. 50. Raben A, Macdonald I, Astrup A. Replacement of dietary fat by sucrose
28. Moran TH. Cholecystokinin and satiety: current perspectives. Nutrition or starch: effects on 14 d ad libitum energy intake, energy expenditure and
2000;16(10):858-65. body weight in formerly obese and never-obese subjects. Int J Obes
29. Woods SC, Seeley RJ. Understanding the physiology of obesity: review 1997;21(10):846-59.
of recent developments in obesity research. Int J Obes 2002;26(4):S8- 51. Blaak EE, Saris WH. Postprandial thermogenesis and substrate utilization
S10. after ingestion of different dietary carbohydrates. Metabol
30. Morris KL, Zemel MB. Glycemic index, cardiovascular disease, and 1996;45(10):1235-42.
obesity. Nut Rev 1999;57(9 Pt 1):273-6. 52. Christin L, Nacht CA, Vernet O, Ravussin E, Jequier E, Acheson KJ.
31. Ludwig DS. Dietary glycemic index and obesity. J Nutr 2000;130(2S Insulin. Its role in the thermic effect of glucose. J Clin Invest
Suppl):280S-3S. 1986;77(6):1747-55.
32. Friedman MI. Fuel partitioning and food intake.Am J Clin Nutr 1998;67(3 53. Vasilars TH, Raben A, Astrup A. Twenty-four hours energy expenditure
Suppl):513S-8S. and substrate oxidation before and after 6 months’ ad libitum intake of a
33. Lawton CL, Delargy HJ, Brockman J, Smith FC, Blundell JE. The degree diet rich in simple or complex carbohydrates or a habitual diet. Inter J
of saturation of fatty acids influences post-ingestive satiety. Br J Nutr Obes 2001;25:954-65.
2000;83(5):473-82. 54. Schwarz JM, Schutz Y, Piolino V, Schneider H, Felber JP, Jequier E.
34. Peters JC. Fat substitutes and energy balance. Annals NY Acad Scienc Thermogenesis in obese women: effect of fructose vs. glucose added to a
1997;827:461-75. meal. Am J Physiol 1992;262(4 Pt 1):E394-401.

53
A RT I G O ORIGINAL

Efeitos metabólicos da oferta endovenosa de L-alanil-glutamina no sangue e


fígado de ratos submetidos a hepatectomia parcial
Metabolic effects of endovenous offer of L-alanyl-glutamine on blood and liver of rats submitted to partial
hepatectomy
Efectos metabólicos de la oferta intravenosa de L-alanil-glutamina en la sangre e hígado de ratas sometidos
a hepatectomia parcial

Artur Guimarães Filho1, Sérgio Botelho Guimarães2, Paulo Roberto Cavalcante de Vasconcelos3, Paulo Roberto
Leitão de Vasconcelos4

Resumo Abstract
Objetivo – Investigar os efeitos da oferta endovenosa de L-alanil- Objective - The aim of this study was to investigate the effects of
glutamina sobre as concentrações hepáticas e sangüíneas de glicose, endovenous L-alanyl-glutamine offer on liver and blood
lactato e ATP em ratos submetidos à hepatectomia parcial. Mé- concentrations of glucose, lactate and ATP in rats submitted to
todos – Trinta e seis ratos Wistar machos receberam (0,75g/kg partial hepatectomy. Methods – Thirty-six male Wistar rats
peso) de solução de L-alanil-glutamina a 20% (grupo ala-gln/G2, received either 20% solution of L-alanyl-glutamine (Ala-Gln
n=18) ou igual volume de solução salina (grupo salina/G1, group/G2,n=18), 0.75g/kg, or equal volume of saline (saline
n=18). Após 30 minutos todos os ratos foram submetidos à group/G1,n=18). Thirty minutes later, all animals were
laparotomia+ressecção do lobo mediano do fígado. Cada grupo foi submitted to laparotomy and resection of the median lobe of the
distribuído em três subgrupos, denominados de acordo com o tem- liver (40% partial hepatectomy). Each group was distributed into
po de colheita das amostras (0, 24, 72h pós-hepatectomia). three subgroups, named according to collecting sample time (0, 24,
Resultados - A glicemia aumentou significativamente 24h após 72 hours post-hepatectomy) Results - Glycemia increased
hepatectomia parcial, no G2 (2,723±0,309 versus significantly 24 hours following partial hepatectomy in Ala-Gln
1,893±0,145, p<0,01), comparado ao controle salino e 72h pós- treated rats (2.723±0.309 versus 1.893±0.145, p<0.01),
hepatectomia, comparada ao tempo 24h (4,743±0,323 versus compared to saline control as well as 72 hours post-hepatectomy
2,231±0,185, p<0,05), nos mesmos ratos. Este aumento pode compared to 24h glycemia (4.743±0.323 versus 2.231±0.185,
ser decorrente do aumento do turnover de glicose, por possível p<0.05) in Ala-Gln treated rats. This may be related to increased
ativação do ciclo de Cori, com aumento da atividade do ciclo glucose turnover due to Cori cycle activation and increased malate-
malato-aspartato. A lactacemia foi semelhante em ambos os gru- aspartate shuttle activity. Lactacemia was similar in both groups.
pos. Observou-se redução do lactato hepático no G2, subgrupo 0h Liver lactate was significantly reduced in hepatectomized Ala-Gln
(2,705±0,183 versus 5,179±0,920, p<0,05) comparado ao treated subgroup 0h rats (2.705±0.183 versus 5.179±0.920,
G1. Houve redução das concentrações de ATP hepático nos p<0.05) when compared to saline hepatectomized treated rats.
subgrupos 0h (0,408 ± 0,039 versus 0,847 ± 0,175, p<0,05) Hepatic ATP concentrations were significantly reduced in
e 24h (0,704±0,052 versus 0,877±0,064, p<0,05), comparan- subgroups 0h (0.408±0.039 versus 0.847±0.175, p<0.05) and
do-se G2 /G1. Conclusão – A oferta endovenosa de L-alanil- 24h (0.704±0.052 versus 0.877±0.064, p<0.05) comparing
glutamina a animais hepatectomizados induz elevação da glicemia Ala-Gln and Saline treated rats. Conclusion – Intravenous Ala-
e da concentração hepática de glicose no período pós-operatório, Gln offer to hepatectomized rats induces elevation of blood and
possivelmente decorrente de aumento do turnover de glicose, por hepatic concentrations of glucose, in the postoperative period,
possível ativação do ciclo de Cori e aumento da atividade do ciclo possibly secondary to activation of the Cori cycle, due to increased
malato-aspartato e regeneração de NAD+ no citosol. (Rev Bras activity of the malate-aspartate shuttle and regeneration of NAD+
Nutr Clin 2004; 19(2):54-58) in the cytosol. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58)
UNITERMOS: hepatectomia parcial; rato; fígado [metabolismo]; L- KEYWORDS: partial hepatectomy; rat; liver [metabolism]; L-alanyl-
alanil-glutamina glutamine.

1. Mestrando em Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia, UFC, Fortaleza, CE; 2. Mestre em Cirurgia, Doutorando em Cirurgia Experimental e Professor
Adjunto do Departamento de Cirurgia, UFC; 3. Acadêmico de Medicina (UFC); 4. Professor Doutor (PhD), Coordenador do Curso de Pós-Graduação Stricto sensu em
Cirurgia da Faculdade de Medicina (UFC), Fortaleza, CE.
Trabalho realizado no Laboratório de Cirurgia Experimental (LABCEX), Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Cirurgia, Faculdade de Medicina, Departamento
de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Brasil.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Paulo Roberto Leitão de Vasconcelos - Departamento de Cirurgia - Rua Prof. Costa Mendes, 1608 - 3o andar - Fortaleza, Ceará
CEP 60430-140 - Brasil - Fones: (85) 288 8063 Fax: (85) 288 8064 - E-mail: mcirur@npd.ufc.br
Submissão: 4 de dezembro de 2003
Aceito para publicação: 8 de maio de 2004

54
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58

Resumen
Objetivo - El objetivo de este estudio fue investigar los efectos de la oferta intravenosa de L-alanil-glutamina en el hígado y las
concentraciones sanguíneas de glucosa, lactato y ATP en ratas sometidas al hepatectomia parcial. Métodos - Treinta y seis ratas machos
Wistar recibieron (0,75g/kg/peso) 20% solución de L-alanil-glutamina (grupo Ala- Gln/G2, n=18), o igual volumen de solución salina
(grupo Salina/G1, n=18). Treinta minutos después, todos los animales se sometieron a laparotomía y resección de lóbulo medio de hígado.
Cada grupo fue distribuido en tres subgrupos, nombró según el tiempo de colecta de las muestras (0, 24, 72 horas posthepatectomia).
Resultados – La glicemia aumentó de manera significante 24 horas que siguen el hepatectomia parcial en G-2 (2,723±0,309 versus
1,893±0,145, p <0,01), comparó al control salino así como 72 horas que siguen la ressección hepática comparó a 24h (4,743±0.323
versus 2,231±0,185, p <0,05) en los mismos ratas. Esto puede relacionarse a aumento del turnover de glucosa debido a la activación
del ciclo de Cori y la actividad aumentada de transportador de malato-aspartato. Lactacemia fue similar en ambos grupos. El lactato
hepático estaba significativamente reducido en G2 subgrupo 0h (2,705±0,83 versus 5,179±0,20, p <0,05) comparado al G1. Las
concentraciones de ATP hepáticas estaban significativamente reducidas en el subgrupo 0h (0,408±0,039 versus 0,847±0,175, p <0.05)
y 24h (0,704±0,052 versus 0,877±0,064, p <0.05) comparando G2/G1. Conclusión - La oferta intravenosa de L-alanil-glutamina
a ratas hepatectomizadas induce la elevación de glicemia y concentraciones hepáticas de glucosa, en el periodo postoperatorio, posiblemente
secundario a la activación del ciclo de Cori, debido a actividad aumentada del transportador del malato-aspartato y regeneración de NAD+
en el citosol. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58)
UNITÉRMINOS: hepatectomia parcial; ratas; hígado [metabolismo]; L-alanil-glutamina.

Introdução nutricional enteral ou oral. Esta forma livre, no entanto,


possui baixa solubilidade na água e baixa estabilidade em pH
O fígado é sede de importantes processos metabólicos baixo e temperaturas elevadas.
sendo a produção de energia, decorrente da degradação de O dipeptídio L-alanil-glutamina tem excelente solubi-
substratos endógenos e exógenos, sua principal função. lidade, é resistente ao calor utilizado em processos de esteri-
Habitualmente, na vigência de suprimentos adequados, pro- lização e permanece estável em solução aquosa por longos
vidos pela alimentação, o fígado processa os nutrientes e períodos, sendo utilizado em adição às soluções de nutrição
fornece energia para manutenção dos sistemas vitais; o exce- parenteral, por via endovenosa. Após adentrar a corrente
dente é, então, armazenado no próprio fígado ou no tecido sangüínea, uma reação de hidrólise acontece, liberando os
adiposo. Por tratar-se de um órgão central no controle me- aminoácidos alanina e glutamina no espaço intravascular.
tabólico, muita atenção tem sido voltada às lesões que pro- O objetivo do estudo foi investigar os efeitos da oferta
vocam perda de tecido hepático. endovenosa de L-alanil-glutamina sobre as concentrações
O mecanismo básico de reparação das eventuais lesões hepáticas e sangüineas de glicose, lactato e ATP em ratos
sofridas pelos seres vivos se dá por divisão celular. Nos ani- submetidos a hepatectomia parcial.
mais inferiores, a reconstituição de partes do corpo deve-se
à multiplicação celular do coto amputado, processo denomi- Método
nado regeneração. No fígado humano, as alterações que
ocorrem após a retirada de parte de seu parênquima resultam O presente estudo foi realizado em obediência às normas
da multiplicação celular e hiperplasia compensatória dos estabelecidas pelo CIOMS (Council for International
lobos remanescentes1. Organization of Medical Sciences) Ethical code for animal
Modelos experimentais têm sido utilizados para o estu- experimentation e os preceitos do Colégio Brasileiro de
do da regeneração hepática, realizando-se a ressecção hepá- Experimentação Animal - COBEA5,6. Foram utilizados 36
tica em ratos com a exérese de lobos hepáticos, ratos albinos (Rattus norvegicus albinus, Rodentia
correspondendo à perda de cerca de 30% -70% do mammalia), da linhagem Wistar, machos, provenientes do
parênquima 2. Biotério Central da Universidade Federal do Ceará, com
Trabalhos recentes demonstraram o efeito favorável da peso médio de 297 g, criados e mantidos sob condições
administração de aminoácidos na regeneração hepática em ambientais e alimentares semelhantes. Observou-se a
animais de experimentação3. alternância dos ciclos claro/escuro a cada 12 horas, sendo
A glutamina é o mais abundante aminoácido do corpo fornecida água e alimentação adequada ad libitum até a hora
e pode ser sintetizado pelo tecido muscular, porém é consi- do experimento. Os 36 animais foram submetidos à
derado um aminoácido condicionalmente essencial duran- laparotomia, mobilização do fígado, hepatectomia parcial a
te o estresse. Diante do estresse metabólico ocorre aumento 40% (ressecção do lobo mediano), e síntese da parede abdo-
significativo do consumo endógeno deste aminoácido, e minal. Foram distribuídos em grupos de 18 animais. O pri-
nestas condições, o balanço entre sua síntese e degradação meiro (controle) recebeu 2 ml de solução salina a 0,9% por
torna-se negativo4. O fígado contém as enzimas glutamina via endovenosa 30 minutos antes do procedimento cirúrgi-
sintetase e glutaminase, sendo, portanto, capaz de sintetizar co, e o outro grupo de animais (experimento) recebeu o
e degradar este importante aminoácido. A forma livre de mesmo volume (2ml), e.v., da solução de L-alanil-glutamina
glutamina (L-glutamina), tem sido usada em suporte (Dipeptiven - Laboratório Fresenius) na dose de 0,75mg/kg,
55
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58

também meia hora antes do ato operatório. Cada grupo de


18 animais foi redistribuído em subgrupos, com seis animais,
para cada tempo do experimento (0, 24 e 72 horas pós-
hepatectomia). O material coletado consistiu em um frag-
mento do lobo esquerdo do fígado, e em 2 ml de sangue
coletado da aorta abdominal, que eram processados para
análise dos metabólitos.
As concentrações de glicose, lactato e ATP, apresenta-
das em µmol/g tecido fresco ou em µmol/ml sangue, foram
determinadas por processos enzimáticos, no sangue e fígado
de todos os ratos7,8,9. Os resultados foram expressos como
média ± EPM (Erro Padrão da Média). O teste não
paramétrico de Mann-Whitney foi utilizado para compara- ** p<0,01 quando comparado ao respectivo controle
† p<0,05 quando comparado ao tempo 0 h (Testes: Mann-Whitney e
ções entre os grupos. O teste de postos de Kruskal-Wallis/
Dunn / Kruskal-Wallis)
Dunn foi utilizado para comparações dentro de cada grupo.
O valor de significância foi fixado em 5% (p < 0,05). Figura 2 - Concentrações de glicose no fígado (µmol/g tecido fresco)
dos grupos Hepatectomia Salina e Hepatectomia Ala-Gln, ao término do
Resultados procedimento cirúrgico e no pós-operatório (tempos 0h, 24h e 72h, res-
pectivamente)

Houve aumento da glicemia 24h (2,723 ± 0,309 versus


1,893 ± 0,145, p<0,01) e 72 h (4,743 ± 0,323 versus 2,231
± 0,185, p<0,05) após a hepatectomia parcial no grupo tra-
tado com Ala-Gln em relação ao grupo hepatectomizado
recipiente de solução salina (Figura 1). A glicemia aumen-
tou significantemente (4,743 ± 0,323 versus 2,723 ± 0,309,
p<0,01) no tempo 72 h em relação ao tempo 24 h no grupo
tratado com Aln-Gln (Figura 1).

(Testes: Mann-Whitney e Dunn / Kruskal-Wallis)

Figura 3 - Lactacemia dos grupos Hepatectomia Salina e Hepatectomia


Ala-Gln, ao término do procedimento cirúrgico e no pós-operatório (tem-
pos 0h, 24h e 72h, respectivamente),

de solução salina. No mesmo grupo animais tratados com


* p<0,05 quando comparado ao respectivo controle Ala-Gln e submetidos à hepatectomia observou-se, ainda,
** p<0,01 quando comparado ao respectivo controle
†† p<0,01 quando comparado ao tempo 24 h (Testes: Mann-Whitney e
aumento significante das concentrações de lactato no fíga-
Dunn / Kruskal-Wallis) do (5,584 ± 0,433 versus 2,705 ± 0,183, p<0,05) no tempo
72 h em relação ao tempo 0 h (Figura 4).
Figura 1 - Concentrações de glicose no sangue (µmol/ml) dos grupos Na comparação entre os grupos submetidos à
Hepatectomia Salina e Hepatectomia Ala-Gln, ao término do procedi- hepatectomia, tratados e não tratados com Ala-Gln, foi
mento cirúrgico e no pós-operatório (tempos 0h, 24h e 72h, respectiva-
mente)
evidenciada redução significante nos tempos 0 h (0,408 ±
0,039 versus 0,847 ± 0,175, p<0,05) e 24 h (0,704 ± 0,052
Nos animais submetidos à hepatectomia parcial observou- versus 0,877 ± 0,064, p<0,05) nas concentrações de ATP no
se aumento da glicose hepática 24 h após a operação nos ani- fígado. Foi também evidenciada elevação na concentração
mais tratados com Ala-Gln em relação ao grupo não tratado de ATP no fígado de animais tratados com Ala-Gln no tem-
(9,069 ± 0,619 versus 4,932 ± 0,807, p<0,01), e em relação ao po 72 h quando comparadas àquelas aferidas no tempo 0 h
tempo 0 h (9,069 ± 0,619 versus 6,074 ± 0,638, p<0,05) no do mesmo grupo (Figura 5).
mesmo grupo recipiente do dipeptídeo (Figura 2).
A lactacemia foi semelhante nos grupos hepatectomia Discussão
salina e hepatectomia Ala-Gln (Figura 3).
Houve redução significante das concentrações de lactato O fígado do rato é dividido em quatro lobos: o lobo
hepático no tempo 0 h (2,705 ± 0,183 versus 5,179 ± 0,920, mediano ou lobo cístico, o lobo lateral direito que é separa-
p<0,05) nos animais tratados com Ala-Gln em relação às do em lobo caudal e lobo cranial, um grande lobo esquerdo
encontradas no grupo controle hepatectomizado recipiente e um pequeno lobo caudado que se encaixa ao redor do
56
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58

Sabe-se, do ponto de vista bioquímico, que os tecidos


ricos em glutaminase captam glutamina e a transformam em
glutamato. O glutamato entra no ciclo malato/aspartato,
sendo fundamental para regenerar NAD+ para o citosol. A
maior disponibilidade de NAD+ no citosol é essencial para
aumentar a atividade da primeira fase da glicólise (transfor-
mação de uma molécula de glicose em duas moléculas de
piruvato). O aumento da glicólise pode produzir maior con-
centração de lactato na circulação, que é captado pelo fíga-
do para produzir mais glicose (ciclo de Cori), elevando ain-
da mais os níveis glicêmicos e a lactacemia. A elevação da
* p<0,05 quando comparado ao respectivo controle glicemia pode ser ainda explicada pela quebra do glicogênio
† p<0,05 quando comparado ao tempo 0 h (Testes: Mann-Whitney e hepático (glicogenólise) secundário à ação dos hormônios
Dunn / Kruskal-Wallis) liberados pelo efeito do trauma (glucagon, cortisol e
catecolaminas).
Figura 4 - Concentrações de lactato no fígado (µmol/g tecido fresco)
O aumento significante das concentrações de glicose no
dos grupos Hepatectomia Salina e Hepatectomia Ala-Gln, ao término do
procedimento cirúrgico e no pós-operatório (tempos 0h, 24h e 72h, res- sangue, nos ratos hepatectomizados tratados com Ala-Gln,
pectivamente), nos tempos 24 horas (2,723 ± 0,309 versus 1,893 ± 0,145,
p<0,01) e 72 horas (4,743 ± 0,323 versus 2,231 ± 0,185,
p<0,05) deve-se, provavelmente, ao aumento da glicólise em
tecidos ricos em glutaminase, estimulada por uma maior
oferta de glutamina-glutamato que propiciariam maior rege-
neração de NAD+ via ciclo malato-aspartato15. Tal fato ge-
raria maior turnover de glicose, com maior atividade do ciclo
de Cori e maior produção de glicose no fígado, havendo,
desse modo, liberação de glicose para a corrente sangüínea.
Tal fenômeno recebe suporte com o fato de, no tecido hepá-
tico no tempo 24 horas (9,069 ± 0,619 versus 4,932 ± 0,807,
p<0,01), ter havido significante aumento da concentração
de glicose no fígado de animais recipientes de Ala-Gln. O
aumento significante da glicose hepática 72h após a
hepatectomia em relação à concentração de glicose hepáti-
 p<0,05 comparado ao controle ca no tempo 24 h, nos animais tratados com o dipeptídeo,
†† p<0,01 comparado ao T0, no mesmo grupo sugere maior síntese deste substrato no fígado decorrente da
(Testes: Mann-Whitney e Dunn / Kruskal-Wallis) oferta exógena de L-alanil-glutamina.
Figura 5 - Concentrações de ATP no fígado (µmol/g tecido fresco) dos
Houve ausência de diferenças significantes na
grupos Hepatectomia Salina e Hepatectomia Ala-Gln, ao término do pro- lactacemia, na comparação entre os ratos hepatectomizados,
cedimento cirúrgico e no pós-operatório (tempos 0h, 24h e 72h, respec- tratados e não tratados com Ala-Gln. É provável que, ape-
tivamente) sar de o ciclo de Cori estar ativado em animais tratados com
o dipeptídeo, tenha havido maior captação de lactato pelo
esôfago. Há uma nítida separação entre a vasculatura que fígado desses animais para formação de glicose.
irriga os lobos esquerdo e mediano, dos demais lobos10. O A redução significante das concentrações de lactato
modelo de hepatectomia experimental com ressecção dos hepático no tempo 0h nos animais submetidos à
lobos anteriores (lobos mediano e lateral esquerdo) do fíga- hepatectomia e tratados com Ala-Gln, em comparação aos
do do rato, responsáveis por aproximadamente 67% da massa não tratados (2,705 ± 0,183 versus 5,179 ± 0,920, p<0,05)
hepática total, é muito utilizado11,12,13. Optou-se, neste estu- poderia ser decorrente do maior consumo deste precursor
do, pela ressecção do lobo mediano, que corresponde a 40% para produção hepática de glicose.
do volume hepático total, no intuito de verificar a magnitude Por outro lado, o aumento significante das concentra-
das alterações metabólicas em ressecções de menor porte, ções hepáticas de lactato nos animais tratados com Ala-Gln,
ainda não estudadas. no tempo 72 h em relação ao tempo 0 h sugere maior capta-
Estudos recentes demonstraram que, não obstante a ção de lactato pelo fígado.
perda do parênquima decorrente da hepatectomia parcial, os A redução significante das concentrações de ATP no
níveis glicêmicos permanecem constantes, mesmo quando o fígado nos tempos 0 h (0,408 ± 0,039 versus 0,847 ± 0,175,
jejum é mantido, decorrente do aumento da gliconeogênese p<0,05) e 24 horas (0,704 ± 0,052 versus 0,877 ± 0,064,
no fragmento hepático remanescente. O suplemento p<0,05), verificada na comparação dos grupos hepatectomia
energético necessário à manutenção da atividade metabóli- salina e hepatectomia Ala-Gln poderia ser explicada por
ca e da regeneração parece ser mantido por um elevado maior consumo ou menor produção de ATP nestes tempos.
afluxo de ácidos graxos livres aos hepatócitos14. Provavelmente, maior consumo de ATP é a dedução mais
57
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):54-58

plausível, dado ao incremento de necessidades de síntese e tração hepática de glicose, no período pós-operatório, pos-
liberação de glicose pelo fígado, e à utilização hepática de sivelmente decorrente de aumento do turnover de glicose, por
precursores gliconeogênicos. A glicose teria seu turnover possível ativação do ciclo de Cori decorrente da facilitação
aumentado, em animais tratados com Ala-Gln, em decorrên- da glicólise em tecidos ricos em glutaminase, devido a au-
cia da facilitação da glicólise também no fígado, via ativação mento da atividade do ciclo malato-aspartato e regeneração
do ciclo malato-aspartato. de NAD+ no citosol.
O aumento significante das concentrações de ATP he- 2. A administração endovenosa de Ala-Gln promoveu
pático nos animais hepatectomizados, no tempo 72 h em redução nas concentrações de lactato no fígado de animais
relação ao tempo 0 h (1,108 ± 0,061 versus 0,408 ± 0,039, hepatectomizados, por provável aumento de consumo des-
p<0,01) poderia ser atribuído à menor utilização de ATP, te substrato como precursor de glicose.
dada à diminuição do efeito trauma pós-hepatectomia; en- 3. A redução significante das concentrações de ATP no
tretanto, o mesmo não ocorreu no grupo de animais recipi- fígado de animais recipientes de Ala-Gln (0h e 24h pós-
entes de solução salina. hepatectomia) pode ser explicada por maior consumo ou
menor produção de ATP. Provavelmente maior consumo de
Conclusão ATP é a mais plausível dedução, dado ao incremento de
necessidades de síntese e liberação de glicose pelo fígado, e
1. A oferta endovenosa de Ala-Gln a animais à utilização hepática de precursores gliconeogênicos
hepatectomizados causou elevação da glicemia, e da concen-

Referências bibliográficas
1. Parra OM, Saad WA. Aspectos básicos do trofisma e da regeneração 9. Hohorst HJ. D-Glucose-6-phosphate and D-fructose-6-phosphate.
hepática. In: Silva AO, D’Albuquerque LAC (eds). Doenças do Fígado. Rio Determination with glucose-6-phosphate dehydrogenase and
de Janeiro: Revinter, 2001; p. 88-94. phosphoglucose isomerase. In: Bergmeyer HU. Methods of Enzymatic
2. Higgins G,Anderson R. Experimental pathology of the liver I. Restoration Analysis. London: Verlag Chemie, Weinheim/Academic Press; 1963. p.134-
of the liver of the white rat following partial surgical removal. Arch Pathol 138 apud Vasconcelos PRL. Hepatic metabolism during sepsis. [Tese –
1931; 12:186-202. Doutorado]. University Oxford; 1987.
3. Miwa Y, Kato M, Moriwaki H. Effects of branched-chain amino acids 10. Bivin WS, Crawford MP, Brewer NR. Morphophisiology. In: Baker HJ,
infusion on protein metabolism in rats with acute hepatic failure. Lindsey JR, Wesibroth SH. The laboratory rat. Academic Press, Florida,
Hepatology. 1995; 21: 291-296. 1979. p.74-94.
4. Lacey JM, Wilmore DW. Is glutamine a conditionally essential amino 11. Leduc EH. Mitotic activity in the liver of the mouse during inanition
acid? Nutr Rev 1990; 48:297-309. followed by refeeding with diferent levels of proteins. Am J Anat 1949;
5. COBEA. Princípios éticos na experimentação animal. Disponível em: 84:397, 1949.
http://www.cobea.org.br/etica.html#3. Acesso em 27/11/2003. 12. Ito A, Yamagushi T. Effects of glutamine administration in liver
6. International Guiding Principles for Biomedical Reasearch involving regeneration following hepatectomy. Nutrition 1999; 15(1):23-28,1999.
animals. Council for International Organization of Medical Sciences 13. Holecek M, Skalska H, Mraz J. Plasma amino acid levels after carbon
(CIOMS). WHO Chronicle 1985; 39(21):51-56. tetrachloride induced acute liver demage.A dose-response a time-response
7. Lamprecht W, Traustschold I. Determination with hexokinase and study in rats. Amino Acids. v.1, p.16, 1999.
glucose-6-phosphate dehydrogenase. In: Bergmyer HU (Ed.). Methods of 14. Ramalho FS, Ramalho LNZ, Zucoloro S, Silva Jr OC. Regeneração
enzymatic analysis. London: Verlag Chemie/Academic Press, 1963. p.543- hepática. In: Silva Jr OC, Zucoloto S, Beer Jr, A. Modelos experimentais de
551. pesquisa em cirurgia. Robe Editorial, São Paulo, 1998. p.243-258.
8. Slein MW. Determination with hexokinase and glucose-6-phosphate 15. Bezerra Filho JE, Guimarães SB, Chaves CR, Queiroz DAF, Vasconcelos
dehydrogenase. In: Bergmeyer HU. Methods of Enzymatic Analysis. London: PRC, Vasconcelos PRL. Effects of L-alanyl-glutamine on in vivo kidney and
Verlag Chemie, Weinheim/Academic Press; 1963. p.117-123 apud blood concentrations of glucose, pyruvate and lactate in rats subjected to
Vasconcelos PRL. Hepatic metabolism during sepsis. [Tese – Doutorado]. unilateral renal ischemia and reperfusion. Rev Bras Nutr Clin 2002;
University Oxford; 1987. 17(4):122-125.

58
A RT I G O ORIGINAL

Estado nutricional e sua evolução em pacientes internados em clínica médica


Nutritional status and its evolution in medical clinic in-patients
Estado nutricional y su evolución en pacientes internos en clínica médica

Rosa Wanda Diez Garcia1, Vânia Aparecida Leandro-Merhi 2 , Alexandra Missio Pereira 3

Resumo Abstract
As mudanças no perfil nutricional da população brasileira possi- Despite the changes observed in the nutritional profile of the
velmente se refletem na menor prevalência de desnutrição na Brazilian population, demonstrated by the reduced prevalence of
internação; mesmo assim, a desnutrição hospitalar é uma realidade malnutrition at admission into hospital, malnutrition in Brazilian
em nosso meio. Com o objetivo de estudar o estado nutricional e hospitals is still a reality. Body Mass Index (BMI), the weight
sua evolução durante a internação e a prescrição de dietas hospi- range and the prescribed hospital diet of 143 patients were
talares, foi avaliado o Índice de Massa Corpórea (IMC) de entra- evaluated at admission as the purpose of this research was to study
da, a variação de peso e a dieta hospitalar prescrita em 143 paci- nutritional status, its evolution during hospitalization and the
entes, sendo 77 (53,5%) do sexo masculino e 67 (46,5%) do sexo prescription of hospital diets. The study sample consisted of 77
feminino, com idade entre 22 e 75 anos, com neoplasias (26,4%), males (53.5%) and 67 females (46.5%), whose ages ranged from
doenças pulmonares (19,4%), doenças cardiovasculares 22 to 75 years. From the studied sample, 26.4% of the patients
(20,8%), complicações do diabetes mellitus (11,1%) e outras presented neoplasia; 19.4%, pulmonary diseases; 20.8%,
(18,1%), sendo excluídos da amostra aqueles com doença hepá- cardiovascular diseases; 11.1%, diabetes mellitus complications
tica, nefropatias, edema, aqueles que estavam em jejum e os in- and 18.1% others. Patients with hepatic diseases, nephropathies,
ternados durante o fim de semana. Entre os que foram avaliados, oedema, fasting patients and individuals admitted at the weekend
35,9% eram eutróficos, 41% obesos e 23,1% desnutridos. No were excluded from the study. The assessment revealed that
entanto, a alteração de peso durante a internação expressa o 35.9% were eutrophic, 41% were obese and 21% malnourished.
impacto desta no estado nutricional: 43,8% perderam peso, so- However, a change in weight during hospitalization indicates the
bretudo na faixa entre 2,0 e 0,5 kg; 19,4% mantiveram o peso, impact of hospitalization on the nutritional status: 43.8% lost
11,8% ganharam peso e em 25,1% dos pacientes, não foi avali- weight, generally between 2.0kg and 0.5kg; 19.4% maintained
ada a variação de peso. Observou-se que 52% das dietas prescri- their weight; 11.8% gained weight; change in weight was not
tas era geral, 20% leve e apenas 8,4% eram de consistência bran- evaluated in the case of 25.1% of the patients. The diets prescribed
da, na mesma proporção eram pastosa e 5,6% eram líqüida. were: general - 52%; light - 20%; soft consistency - 8.4% ; thick
Apenas 4,2% dos pacientes receberam suplementação nutricional consistency- 8.4%; liquid – 5.6%. Only 4.2% of the patients
via oral, 6,3% estavam com dieta enteral e dietas especiais com were given oral nutritional supplementation, 6.3% were on an
modificação nutricional ocorreram em 33,6% das dietas prescri- enteral diet and 33.6% of the diets prescribed were nutritionally
tas. Os resultados confirmam que a desnutrição pode ocorrer, modified special diets. The results indicated that malnutrition may
principalmente, durante a internação. No entanto, a maioria dos occur during hospitalization. However, a great majority of the
pacientes apresenta estado nutricional bastante favorável, havendo patients presented a fairly favourable nutritional status, including
inclusive grande proporção de pacientes obesos sendo necessário a large proportion of obese patients. Further investigation is needed
investigar melhor, por este grande número de prescrições de dieta in view of the large number of light diets prescribed and the small
leve e o número reduzido de dietas com modificação nutricional. number of nutritionally modified diets. (Rev Bras Nutr Clin 2004;
(Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):59-63) 19(2):59-63)
UNITERMOS: estado nutricional, dieta hospitalar, desnutrição KEY WORDS: nutritional status, hospital diet, hospital malnutrition.
hospitalar.

1. Professora Doutora da Faculdade de Nutrição, PUC - Campinas-SP; 2. Professora Doutora da Faculdade de Nutrição , PUC - Campinas-SP e da UNIMEP (Piracicaba)
– SP; 3. Nutricionista do Hospital e Maternidade Celso Pierro.
Endereço para correspondência: Profa. Dra. Rosa Wanda Diez Garcia. R. Celso José Abdalla Sayeg, 257, Sousas - Campinas, SP CEP -131060-072 - E-mail: rwdg@dglnet.com.br
Submissão: 23 de junho de 2003
Aceito para publicação: 17 de março de 2004

59
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):59-63

Resumen
Los cambios en el perfil nutricional de la población brasileña posiblemente se reflejan en la menor prevalencia de desnutrición en la
internación, aún así, la desnutrición hospitalar es una realidad en nuestro medio. Con el objetivo de estudiar el estado nutricional y su
evolución durante la internación y la prescripción de dietas hospitalares, fue evaluado el Índice de Masa Corpórea (IMC) de entrada,
la variación de peso y la dieta hospitalar prescripta en 143 pacientes, siendo 77 (el 53,5%) del sexo masculino y 67 (el 46,5%) del sexo
femenino, con edad entre 22 y 75 años, con neoplasías (el 26,4%), enfermedades pulmonares (el 19,4%), enfermedades
cardiovasculares (el 20,8%), complicaciones del diabetes mellitus (el 11,1%) y otras (el 18,1%), siendo excluidos de la muestra
aquellos con enfermedad hepática, nefropatias, edema, aquellos que estaban en ayunas y los internados durante el fin de semana. Entre
los que fueron evaluados, el 35,9% eran eutróficos, el 41% obesos y el 23,1% desnutridos, sin embargo, la alteración de peso durante
la internación expresa el impacto de ésta en el estado nutricional: el 43,8% perdieron peso, sobre todo en la faja entre 2,0 y 0,5Kg, el
19,4% mantuvieron el peso, el 11,8% ganaron peso y en el 25,1% de los pacientes, no fue evaluada la variación de peso. Se observó
que el 52% de las dietas prescriptas eran general, el 20% liviana y apenas el 8,4% eran de consistencia blanda, en la misma proporción
eran pastosa y el 5,6% eran líquida. Apenas el 4,2% de los pacientes recibieron suplementación nutricional via oral, el 6,3% estaban
con dieta enteral y dietas especiales con modificación nutricional ocurrieron en el 33,6% de las dietas prescriptas. Los resultados confirman
que la desnutrición puede ocurrir principalmente durante la internación, sin embargo, la mayoria de los pacientes presentan un estado
nutricional bastante favorable, habiendo incluso gran proporción de pacientes obesos siendo necesario investigar mejor, por este gran
número de prescripciones de dieta liviana y el número reducido de dietas con modificación nutricional. (Rev Bras Nutr Clin 2004;
19(2):59-63)
Unitérminos: estado nutricional, dieta hospitalaria, desnutrición hospitalaria

Introdução do mundo, sendo entretanto, raramente registrada em pron-


tuários4,7,8. Decorre com freqüência de doenças que levam a
Na década de 1970, havia 8,6% de desnutrição e 5,7% alterações que interferem no consumo alimentar, no processo
de obesidade entre adultos de 25 a 64 anos no Brasil e, em digestivo e na absorção de nutrientes. Também deve ser le-
1989, este percentual foi alterado para 4,2% e 9,6% respec- vado em conta a desnutrição em pacientes idosos, com do-
tivamente 1. Mais recentemente, a prevalência de obesida- enças crônicas, refratários a reversão de seu estado
de em mulheres de 15 a 49 anos foi de 25,1% de excesso de nutricional7. Até 60% dos pacientes idosos hospitalizados
peso e 9,7% de obesidade 2 . Tais mudanças no perfil apresentam-se desnutridos na admissão ou desenvolvem
nutricional da população brasileira devem afetar a sérias deficiências nutricionais durante a hospitalização9.
prevalência de desnutrição hospitalar. A desnutrição hospi- Wyszynski et al.10 não encontraram diferenças significa-
talar manifesta, por um lado, o perfil nutricional da popula- tivas entre o estado nutricional de pacientes hospitalizados
ção e por outro, problemas nutricionais associados aos pro- de clínica médica e cirúrgica. Observaram perda de peso de
cessos patológicos. mais de 10% em 12% dos pacientes de clínica médica e ci-
Todavia, a desnutrição hospitalar é uma realidade em rúrgica e Índice de Massa Corporal (IMC) menor que 19 kg/
nosso meio. Waitzberg et al.3 em estudo epidemiológico m2 em 5% de ambos os grupos. Braunschweig et al.11, em
multicêntrico no qual foi estudado o estado nutricional e a estudo relacionando o estado nutricional com os custos de
prevalência de desnutrição em pacientes hospitalizados, en- hospitalização, constataram maiores gastos hospitalares em
contraram 48% de desnutrição sendo 12,6% desnutrição gra- pacientes que se desnutrem durante a internação os quais
ve. Durante a internação, a desnutrição chegou a atingir 61% também apresentam mais complicações quando comparados
quando esta prolongou-se por mais de 15 dias. Nas regiões mais a outros pacientes. O declínio do estado nutricional leva a
pobres (Norte e Nordeste) a prevalência da desnutrição foi um maior tempo de internação. Entre os pacientes desnutri-
maior (68% a 78%). No entanto, 33,2% dos pacientes avali- dos, os autores encontraram 19% com infecções, 62% com
ados até dois dias após a internação hospitalar, apresentaram complicações da doença e um período de internação de 19
algum grau de desnutrição o que sugere ser este um processo dias ou mais, contribuindo, desta forma, para um aumento
anterior à internação4. Conseqüente às condições sócio eco- dos gastos hospitalares.
nômicas precárias, a ingestão inadequada e insatisfatória de A desnutrição pode afetar adversamente a evolução clí-
nutrientes e a desnutrição primária ainda são comuns em nosso nica de pacientes hospitalizados aumentando o tempo de
meio, sobretudo nas regiões mais pobres. permanência hospitalar, a incidência de infecções e compli-
O problema da desnutrição hospitalar também ocorre cações pós-operatórias, a mortalidade e o retardo da cicatri-
em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, uma análise zação de feridas. Representa um fator de estresse adicional
envolvendo oito estudos com 1347 pacientes hospitalizados, podendo levar a complicações pós-operatórias ou piorá-las12.
encontrou de 40% a 55% de risco de desnutrição e desnutri- A detecção prévia de desnutrição protéico-energética é
ção e 12% de desnutridos graves 5. Em países europeus foi importante para implementar uma terapia nutricional ade-
encontrado 12% de pacientes desnutridos,13% de risco quada, a fim de manter ou recuperar o seu estado nutricional
nutricional e 75% de eutróficos6. A desnutrição intra-hospi- e evitar a instalação ou progressão da desnutrição e de suas
talar, gerada durante a internação ocorre em diversas partes complicações12.
60
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):59-63

Apesar destas constatações, a desnutrição não é Dieta Líqüida) e a terapia de suporte nutricional (SNG =
diagnosticada freqüentemente e o risco de uma deterioração Dieta por sonda nasogástrica). A suplementação por via oral
nutricional futura raramente é reconhecido. Vários relatos e dietas especiais com modificação na composição química
sugerem, por exemplo, que pacientes idosos hospitalizados ou com modificações individualizadas foram avaliadas inde-
são freqüentemente submetidos à ingestão de nutrientes pendente da consistência das dietas.
inferior ao necessário à sua recuperação e, até mesmo quan-
do seus problemas nutricionais são reconhecidos, raramen- Resultados e Discussão
te uma terapia nutricional adequada é providenciada 9.
Pacientes com doença crônica podem estar menos ex- As doenças mais freqüentemente encontradas foram as
postos aos processos consumptivos das doenças agudas, mas neoplasias (26,4%), doenças pulmonares (19,4%), doenças
é possível serem afetados por complicações relacionadas à cardiovasculares (20,8%), complicações do diabetes mellitus
alimentação mesmo quando não apresentam o quadro de (11,1%) e outras (18,1%).
desnutrição. A classificação do estado nutricional por sexo, apresen-
Avaliar o estado nutricional, as mudanças de peso duran- tada na Tabela 1, aponta uma prevalência de 41% de obesi-
te a internação e a prescrição das dietas hospitalares de pa- dade na clientela hospitalar a qual pode, por um lado, estar
cientes de clínica médica de um Hospital Universitário foi refletindo as mudanças epidemiológicas no estado
objetivo do presente estudo. nutricional da população brasileira e, por outro, o aumento
das doenças crônicas associadas à obesidade as quais podem
Casuística e Método elevar o número de internações. Entre os homens observa-
se maior porcentagem de desnutridos (36%) do que entre as
A amostra foi constituída por 143 pacientes, sendo 77 mulheres (9%); ao contrário, há mais obesos entre as mulhe-
(53,5%) do sexo masculino e 66 (46,5%) do sexo feminino, res (61%) do que entre os homens (23%). Tais diferenças na
com idade entre 22 e 75 anos, internados na clínica médica prevalência de obesidade por gênero são compatíveis com
de um Hospital Universitário. Foram excluídos da amostra estudos epidemiológicos 2,14, 15.
aqueles com edema, em jejum e os internados durante o fi-
nal de semana. Dos 143 pacientes inicialmente atendidos, Tabela 1. Estado nutricional na internação por sexo
foram considerados 117 (52,1% do sexo masculino e 47,9%
do sexo feminino) para avaliação antropométrica em função Estado Masculino Feminino Total
de 26 sujeitos estarem impossibilitados de serem submetidos Nutricional n % n % n %
à coleta de medidas. Desnutridos 22 36,1 5 08,9 27 23,1
Eutróficos 25 41,0 17 30,4 42 35,9
O protocolo de coleta de dados foi aplicado no dia da
Obesos 14 23,0 34 60,7 48 41,0
internação e na alta hospitalar, tendo sido utilizado o IMC Total 61 100,0 56 100,0 117 100,0
e mudança de peso em kg como indicador da evolução
nutricional. As informações sobre a dieta prescrita e a doença
de base foram coletadas no prontuário. Realizou-se estatística A maior prevalência de desnutrição (33%) foi encontra-
descritiva e análise de freqüência. da em pacientes com neoplasia e os com obesidade estavam
Para obtenção das medidas de peso e altura foi utilizada internados por doenças cardiovasculares e complicações do
balança Filizola com capacidade para 150kg e com haste diabetes mellitus (48%) (Tabela 2). Desnutridos graves re-
vertical de 2 metros. A classificação do estado nutricional foi presentaram 11,11% da população estudada, valores estes
feita segundo critérios da Organização Mundial de Saúde compatíveis com os encontrados por outros autores 3, 5. Do-
(WHO, 1995) que define como pontos de corte: eutrófico enças oncológicas estão mais associadas com desnutrição do
(E) – IMC de 18,50 a 24,99 kg/m2; desnutrição grau I (DI)– que doenças não oncológicas e pacientes com doenças
IMC de 17,0 a 18,49 kg/m2; desnutrição grau II (DII) – IMC gastrointestinais também são freqüentemente classificados
de 16,00 a 16,99 kg/m2; desnutrição grau III (DIII) – IMC < como desnutridos, sendo os idosos acima de 75 anos, aque-
16,0 kg/m2; obesidade grau I (OI) - IMC de 25,00 a 29,99 kg/ les com maior risco de desnutrição 6,16. A alteração de peso
m2; obesidade grau II (OII) – de 30,00 a 39,99 kg/m2 e obe- observada durante a internação mostrou que 41% dos paci-
sidade grau III (OIII) – IMC > ou = 40 kg/m2. A variação de entes mantiveram o peso, 30% perderam e 30% ganharam
peso foi classificada como perda de peso - quando houve peso. Apesar da prevalência da obesidade durante a
redução entre 500g e 4,5 kg; manutenção de peso - quando internação, 29% dos pacientes perdem peso (Tabela 3).
a variação representou uma perda de peso menor que 500g Kondrup et al.17 encontraram, em estudo realizado com pa-
até um ganho de 500g; ganho de peso.- foi dividido em duas cientes internados por um período superior a uma semana
categorias: ganho entre mais de 500g até 2kg e maior que 2kg. (46%), 25% com ingestão alimentar entre 75-99% de suas
Para a análise da variação ponderal durante a internação necessidades energéticas. O consumo de mais de 75% das
foram considerados 105 pacientes em função de impedimen- necessidades parece fundamental, uma vez que todos os pa-
tos para ser tomada uma segunda medida. cientes com um consumo abaixo de 75% das necessidades
A dieta avaliada foi a prescrita no dia da internação estimadas apresentaram perda ponderal.
segundo a variação de consistência (G = Dieta Geral, B = A dieta geral foi prescrita para 52% dos internados e a
Dieta Branda, P= Dieta Pastosa, LV = Dieta Leve, LQ = dieta leve para 20%. Surpreendentemente, apenas 8,4% das
61
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):59-63

Tabela 2. Distribuição do estado nutricional por grupo de doença e por sexo

Graus de desnutrição Eutrofia Graus de obesidade


Doenças DI DII DIII n % E n % OI OII OIII n %
Neoplasias 3 0 6 9 33,3 14 14 33,3 8 0 1 9 18,8
Doenças pulmonares 2 2 2 6 22,2 11 11 26,2 5 2 1 8 16,7
Doenças cardiovasculares 2 0 2 4 14,8 10 10 23,8 7 4 2 13 27,1
Diabetes e complicações 0 0 0 0 0,0 2 2 4,8 4 0 6 10 20,8
Outras 2 3 3 8 29,6 5 5 11,9 6 1 1 8 16,7
Total 9 5 13 27 100,0 42 42 100,0 30 7 11 48 100,0
Percentual (%) 07,7 04,3 11,1 35,9 25,6 6,0 9,4 100,0

Tabela 3. Alteração de peso durante a internação querimentos dietéticos, a falta de atenção dietoterápica in-
dividualizada e dificuldades operacionais relacionadas ao
Variação de peso (Kg) N %
serviço de alimentação17.
Perda: - 0,5 a - 4,5 31 29,5
Manutenção: - 0,49 a + 0,5 43 41,0
Desde a década de 1970, a relação entre o estado
Ganho: > + 0,5 a +2 23 22,0 nutricional e o aumento no tempo de permanência hospita-
Ganho: > + 2 8 07,6 lar está documentado8. A mediana do tempo de internação
Total 105 100,0 de pacientes com risco nutricional foi significativamente
maior do que aqueles sem risco nutricional, sendo 6 e 4 dias
o período de permanência hospitalar, respectivamente16. A
dietas prescritas eram de consistência branda e, na mesma implementação de práticas que avaliem o estado nutricional
proporção, eram pastosas e 5,6% eram líqüidas. Os pacien- e o monitorem durante a internação ou no acompanhamento
tes com doenças pulmonares e neoplasias foram os que mais de pacientes crônicos passou a ser uma recomendação para
receberam dieta leve. Dietas em estado líqüido (leve e redução de morbimortalidade e de custos na internação18.
líqüida) são mais difíceis de atingir as necessidades Os resultados encontrados neste trabalho coincidem
nutricionais, uma vez que demandam maior volume e núme- com muitos estudos anteriores no que diz respeito a
ro de refeições. Dieta enteral foi prescrita para 6,3% dos constatação da desnutrição hospitalar. No entanto, em ou-
internados (Tabela 4). Apenas 4,2% dos pacientes receberam tros aspectos os dados encontrados se diferenciam de outros
suplementação nutricional oral. As dietas especiais com trabalhos: a alta prevalência de obesidade entre os interna-
modificação nutricional ocorreram em 29,3% das dietas. Os dos e o ganho de peso durante a internação, mesmo com uma
pacientes com doença cardiovascular foram os que mais re- baixa implementação do uso de suporte nutricional, indican-
ceberam prescrição com alteração da composição química da do que é possível garantir o estado nutricional, quando há um
dieta. A prescrição de dieta enteral predominou naqueles serviço de nutrição clínica voltado para a dietoterapia.
com diagnóstico de neoplasias (44,4%) e nos com doenças Avaliar a dieta hospitalar é crucial para superar a etapa
cardiovasculares (33,6%). de diagnóstico e tentar explicações para a desnutrição hos-
As causas da inadequação do cuidado nutricional em pitalar. Os resultados deste estudo reafirmam a necessidade
hospitais são várias e muitos pacientes estão desnutridos na de constante monitoramento do estado nutricional, assim
hospitalização e apresentam dietas inadequadas. Há traba- como o acompanhamento das dietas prescritas na
lhos mostrando que 22% dos pacientes hospitalizados apre- hospitalização. O nutricionista deve ocupar-se não apenas do
sentam risco nutricional e, entre eles, apenas 25% recebem diagnóstico nutricional, mas criar critérios de acompanha-
durante o período de internação, quantidades adequadas de mento e controle dos fatores que contribuem para os proble-
calorias e proteínas. Inúmeros fatores contribuem para esta mas nutricionais tanto por carência alimentar como por
inadequação nutricional como o desconhecimento dos re- aqueles relacionados à obesidade.

Tabela 4. Prescrição de dietas por grupo de doenças

Doenças n G% n B% n P% n LV% n LQ% n SNG% Total%


Neoplasias 16 42,11 4 10,53 3 7,89 8 21,05 3 7,89 4 10,53 100
Doenças pulmonares 15 53,57 0 0,00 1 3,57 7 25,00 3 10,71 2 7,14 100
Doenças cardiovasculares 21 70,00 0 18,75 1 3,33 4 13,33 1 3,33 3 10,00 100
Diabetes e complicações 8 50,00 3 8,00 1 6,25 3 18,75 1 6,25 0 0,00 100
Outras 14 45,16 5 16,13 6 19,35 6 19,35 0 0 0 0,00 100
Total (n) 74 - 12 - 12 - 28 - 8 - 9 - 143
G - dieta geral; B - dieta branda; P - dieta pastosa; LV - dieta leve; LQ - dieta líqüida; SMG - dieta por sonda nasogástrica

Referências bibliográficas
1. Monteiro C. La transición epidemiológica en el Brasil. Peña M, Bacallao 2. Aguirre P. Aspectos socioantropológicos de la obesidad em la pobreza. In:
J. La obesidad en la pobreza. Washington: Organización Panamericana de Peña M, Bacallao J (eds). La obesidad em la pobreza.Washington: Organización
la Salud, publicación científica n.576, 2000, p.73 – 83. Panamericana de la Salud, publicación científica n.576, 2000, p. 13 -25.
62
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):59-63

3.Waitzberg DL,Waleska T, Caiaffa MD, Correia ITD. Hospital malnutrition: status on outcomes in adult patients hospitalized for more than 7 days. J
the Brazilian National Survey (IBRANUTRI): A study of 4000 patients. Am Diet Assoc. 2000 Nov;100(11):1316-22.
Nutrition 2001; 17(7/8):553-580. 12. Sena FG, Taddeo, EF, Neto, ERA, Ferreira, MSR, Rolim, EG. . Estado
4. Waitzberg DL, Correia MI. Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional nutricional de pacientes internados em enfermaria de gastroenterologia.
Hospitalar (IBRANUTRI). Rev Bra Nutr Clín 1999; 14:123-133. Rev. Nutr. 1999; 12(3):233-239.
5. Gallagher-Allred G, Voss AC, Finn SC, Mccamish MA. Malnutrition and 13. World Health Organization. Physical Status: the use and interpretation
clinical outcomes: the case for medical nutrition therapy. J.Am. Diet.Assoc., of anthropometry. Geneve, 1995. 452p.
1996; 96(4): 361-369, 1996 14. Gigante DP, Barros FC, Post CLA, Olinto MTA. Prevalência de obesidade
6. Kruizenga HM, Wierdsma NJ, van Bokhorst MA, de van der Schueren, em adultos e seus fatores de risco. Rev Saude Publica, 1997; 31 (3): 236-
Haollander HJ, Jonkers-Schuitema CF, van der Heijden E, Melis GC, van 246.
Staveren WA Screening of nutritional status in The Netherlands. Clin Nutr. 15. Barreto SM, Passos VM, Lima-Costa MF. Obesity and underweight among
2003 Apr;22(2):147-52. Brazilian elderly: the Bambui Health and Aging Study. Cad Saude Publica.
7. Cederholm T, Jagren C, Hellstrom K. Outcome of protein-energy 2003; 19(2):605-12.
malnutrition in elderly medical patient. Am. J. Med. 1995; 98:67-74. 16, Chima CS, Barco K, Dewitt ML, Maeda M, Teran JC, Mullen KD.
8.Weinsier RL, Hunker EM, Krumdieck CL, Butterworth CE Jr.A prospective Relationship of nutritional status to length of stay, hospital costs, and
evaluation of general medical patients during the course of hospitalization. discharge status of patients hospitalized in the medicine service. . J Am.
Am J Clin Nutr. 1979 Feb;32(2):418-26 Diet. Assoc. 1997; 97(9):975-978.
9. Sullivan DH, Sun S, Walls RC. Protein-energy undernutrition among 17. Kondrup J, Johansen N, Plum LM, Bak L, Larsen IH, Martinsen A,
elderly hospitalized patients: a prospective study. Jama 1999; 281(21):2013- Andersen Jr, Baernthsen H, Bunch E, Lauesen N. Incidence of nutritional
2019. risk and causes of inadequate nutritional care in hospitals. Clin Nutr 2002;
10. Wyszynski DF, Crivelli A, Ezquerro S, Rodriguez A. Assessment of 21(6):461-468.
nutritional status in a population of recently hospitalized patients. Medicina 18. McMahon K, Decker G, Ottery FD. Integrating proactive nutritional
(B Aires). 1998;58(1):51-7. assessment in clinical practices to prevent complications and cost. Semin
11. Braunschweig C, Gomez S, Sheean PM. Impact of declines in nutritional Oncol. 1998; 25 (2 Suppl 6):20-7.

63
A RT I G O ORIGINAL

Perfil dos pacientes hospitalizados com úlcera de pressão


Profile of patients hospitalized with pressure ulcer
Perfil de los pacientes hospitalizados con úlcera de presión

Simone Côrtes Coelho1, Renata Costa da Silva2

Resumo Abstract
As úlceras de pressão aumentam o tempo de internação dos paci- Pressure ulcers worsen the well-being of a patient, increasing the
entes, elevando os custos hospitalares. O objetivo deste estudo foi length of hospital stay. The objective of this study was to assess
avaliar pacientes hospitalizados com úlcera de pressão, tendo sido hospitalized patients with pressure ulcers. Forty in-patients of both
acompanhados 40 pacientes adultos internados. Dentre os resul- sexes with pressure ulcers were evaluated. Results showed that 19
tados encontrados, 19 (48%) apresentavam úlcera de pressão na patients (48%) presented pressure ulcers in the sacral region;
região sacra; sete (18%), nos calcâneos e região sacra; cinco seven (18%) had them on the heels and in the sacral region; five
(12%), na coxa e região sacra; quatro (10%), na coxa, calcâneos (12%) on the thigh and sacral region; four (10%) on the tight,
e região sacra; três (7%), na coxa, calcâneos e intercostal e dois heels and sacral region; three (7%) on the tight, heel and ribs and
(5%) na coxa. Em relação ao estágio das úlceras, nove (23%) two (5%) on the tight only. Concerning the stage of the ulcers nine
encontravam-se no estágio I; 16 (40%) no estágio II; nove (23%) (23%) exhibited ulcers in stage I; 16 (40%) in stage II; nine
no estágio III e seis (14%) no estágio IV. Quanto ao nível de (23%) in stage III and six (14%) in stage IV. Concerning the level
consciência, 29 (73%) não se encontravam lúcidos e 11 (27%) of consciousness, 29 (73%) patients were classified as non-lucid
encontravam-se lúcidos. Segundo a Avaliação Nutricional Sub- and only 11 (27%) patients were considered lucid. According to
jetiva Global (ANSG), 12 (30%) encontravam-se bem nutridos; the Subjective Global Assessment (SGA), 12 (30%) patients
dentre estes, 10 (83%) melhoraram, dois (17%) permaneceram were well nourished. In the well-nourished group, none of the
com a úlcera no mesmo estágio e não houve piora da evolução da patients presented worsening of their ulcers: the ones of only two
úlcera de pressão. O estado nutricional influencia na evolução das (17%) patients remained the same and 10 (83%) patients
úlceras de pressão, visto que houve melhora dos pacientes bem exhibited improvement in their ulcers. Nutritional state has a great
nutridos. Notou-se também prevalência de úlcera de pressão em influence on pressure ulcers, since that the well nourished patients
pacientes que não se encontravam lúcidos, mostrando a importân- exhibited improvement of their ulcer. It should be noted prevalence
cia da equipe interdisciplinar. (Rev Bras Nutr Clin 2004; of pressure ulcers in patients that are non-lucid enhancing the
19(2):64-69) importance of an interdisciplinary team evaluation and attention
UNITERMOS: úlcera de pressão, avaliação nutricional subjetiva glo- to this type of patient. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69)
bal, estado nutricional. KEY WORDS: pressure ulcer, subjective global assessment, nutrition
state

Resumen
Las úlceras de presión aumentan el tiempo de hospitalización de los pacientes, llevando al aumento del importe hospitalario. El objetivo
de esta investigación fue evaluar pacientes hospitalizados con úlcera de presión. acompañando 40 pacientes adultos internados y de ambos
los sexos. Entre los resultados obtenidos, 19 (48%) presentaban úlcera de presión en la región sacra; siete (18%) en los talones y región
sacra; cinco (12%) en el muslo y región sacra; cuatro (10%) en el muslo, talones y región sacra; tres (7%) en el muslo, talones y
intercostal y dos (5%) en el muslo. En relación al grado de las úlceras, nueve (23%) estaban en el grado I; 16 (40%) las presentaban
en grado II; nueve ( 23%) en grado III y seis (14%) en grado IV. Cuanto al nivel de conciencia, 29 (73%) no estaban lúcidos y solamente
11 (27%) se encontraban lúcidos. Según la Evaluación Nutricional Subjetiva Global (ANSG), 12 (30%) se encontraban bien nutridos;

1. Nutricionista especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, especialista em Nutrição Clínica pelo
Instituto de Nutrição da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, mestranda em Atenção à Saúde e as Doenças Ligadas ao Processo de Desenvolvimento Hu-
mano pela Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, docente do Curso de Pós Graduação em Nutrologia e Terapia Nutricional
da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro; 2. Monitora em Nutrição Clínica do Hospital Central do Exército, Treinamento Profissional em Nutrição Clínica pelo
Hospital Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Sessão de Nutrição e Dietética do Hospital Central do Exército - Rua Francisco Manuel, 126 – Benfica – Rio de Janeiro – RJ – CEP 20911 270 - Tel: (21) 38917157
Endereço para correspondência: Nutr. Simone Côrtes Coelho - Rua Mariz e Barros,121–apt 2003 A–Icaraí–Niterói– RJ–CEP 24220 120 - E-mail: sc_coelho@uol.com.br
Submissão: 8 de março de 2004
Aceito para publicação: 11 de maio de 2004

64
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69

entre estos, 10 (83%) han mejorado y dos (17%) han permanecido con la úlcera en el mismo grado pero no empeoraran. El estado
nutricional influye en la evolución de las úlceras de presión, pues que fueron los paciente bien nutridos que mejoraran. Se notó también
predominio de úlcera de presión en pacientes que no se encontraban lúcidos lo que enfatiza la importancía de la valoración y atención
del equipo interdisciplinar a este tipo de paciente. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69)
UNITÉRMINOS: ulcera de presión, avaliación nutricional subjetiva global, estado nutricional.

Introdução de infecção da ferida e prejudica o sistema imunológico10. A


baixa concentração de albumina sérica é um forte precursor
A incidência das úlceras de pressão levam à uma piora para o desenvolvimento de úlceras de pressão11. Em pacien-
do quadro geral do paciente, aumentando o tempo de tes idosos, com baixas concentrações de albumina plasmática
internação e mortalidade, causando dor, risco de infecção, e perda de peso, a mortalidade aumenta significativamente
maior necessidade orgânica para cicatrização, além de mai- durante os dois anos subseqüentes12. Alguns aminoácidos
or custo para o hospital. Os pacientes necessitam de atenção específicos são associados à melhora do processo como a
especial da enfermagem para que seja feito curativo e a cisteína, que funciona como co-fator do sistema enzimático
mudança de decúbito; dos médicos para que se faça envolvido na síntese de colágeno; a metionina, associada à
debridamento quando necessário e medicação; do fisiotera- síntese protéica; a glutamina, que reduz a degradação e au-
peuta para trabalho motor, e do nutricionista, visto que de menta a síntese de proteínas; e a arginina, que induz a secre-
acordo com Green et al.1, a incidência de úlcera de pressão ção de alguns hormônios envolvidos na cicatrização10. Em
muitas vezes está relacionada com uma má nutrição e esta- particular, nas pessoas idosas, a arginina melhora a cicatriza-
do nutricional do paciente. De acordo com Russell2, úlcera ção de feridas e a função imune, a qual diminui com a idade,
de pressão e desnutrição estão fortemente relacionados. A aumentando o risco de infecção e retardando o processo de
nutrição e intervenções nutricionais em pacientes com ris- cicatrização13.
co e apresentando úlceras de pressão, são componentes es- Alguns micronutrientes também são de grande importân-
senciais da qualidade do tratamento dos mesmos3. Vários cia na terapia nutricional de pacientes com úlcera de decúbito.
estudos trazem uma evidência sugestiva de que a melhora do A vitamina A é uma das mais importantes, pois bloqueia os
estado nutricional pode melhorar a cicatrização das úlceras processos catabólicos e melhora a cicatrização, principalmente
de pressão4. Casimiro et al5 constataram que o índice de em períodos de estresse metabólico. A vitamina C também é
massa corporal está significativa e inversamente associado importante, pois melhora a fagocitose e ativação de leucócitos
com a prevalência de úlcera de pressão. A perda de peso e macrófagos, além de combater os radicais livres, assim como
corporal e caquexia aumentam os riscos de incidência de a vitamina E. As vitaminas do complexo B são importantes
úlcera de pressão, infecção e mortalidade em idosos6,7,8. pois são essenciais para o processo de síntese de colágeno10.
As úlceras de pressão são classificadas de acordo com o Alguns minerais são importantes como o zinco, cuja deficiên-
nível da lesão em: estágio I (quando a epiderme não foi rom- cia prejudica a cura de lesões; e é necessário para a síntese
pida, apresentando apenas eritema); estágio II (há rompi- protéica, replicação celular e síntese de colágeno; o ferro, que
mento de derme e/ou epiderme); estágio III (há exposição da é essencial na síntese de colágeno, além de a anemia causar a
fáscia muscular e necrose) e estágio IV no qual há compro- diminuição da força tênsil e, juntamente com o cobre, parti-
metimento de ossos, músculos e tendões. A incidência de cipa na polimerização do colágeno e no fortalecimento da ci-
úlcera de pressão está, muitas vezes, relacionada com a des- catrização; o cálcio atua como co-fator na ação de várias
nutrição, e com vários indicadores do estado nutricional do colagenases; e o magnésio que atua em todas as fases de cica-
paciente como: hipoalbuminemia, anemia, linfopenia, entre trização.
outros9. Dificilmente, consegue-se fornecer todos esses nutrien-
O processo de cicatrização é mediado por uma série de tes nas quantidades adequadas para os pacientes com úlcera
fatores, principalmente vários nutrientes. Como a cicatriza- de decúbito, por variados fatores. Logo, muitas vezes é neces-
ção requer gasto energético maior, logo os carboidratos são sária a administração de suplementos nutricionais para que
de extrema importância pois vão servir de energia para o estado geral, assim como a úlcera do paciente, não piore.
leucócitos, fagócitos, para a proliferação celular e função Segundo Bordel-Marchasson et al.15, pacientes idosos em
fibroblástica, além de garantir a função plástica da proteína, estado crítico com suplementação nutricional, apresentam
pois a deficiência de carboidrato leva à degradação muscu- menor risco de desenvolvimento de úlceras de pressão.
lar e de tecido adiposo, dificultando a cicatrização. Em A partir dos dados descritos, realizou-se um estudo com
contrapartida, a hiperglicemia prejudica o processo de cica- um grupo de pacientes hospitalizados que apresentavam úl-
trização. Os lipídios também são importantes, pois a defici- cera de pressão, com o objetivo de avaliar o perfil destes
ência de ácidos graxos essenciais prejudica a cicatrização. As pacientes, através da identificação subjetiva dos pacientes
proteínas são fundamentais para todo o processo de cicatri- quanto ao estado nutricional, da relação da prevalência de
zação, pois são essenciais para a síntese do colágeno, sistema úlceras de pressão com o estado nutricional, dieta oferecida
imunológico e proliferação fibroblástica. Já a deficiência de e o tempo de internação, do acompanhamento da evolução
proteína prolonga o tempo da fase inflamatória, reduz a sín- do estágio da úlcera de pressão e verificação de alguns aspec-
tese de colágeno e proliferação fibroblástica, aumenta a taxa tos quanto ao uso de suplementos.
65
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69

Metodologia Resultados
Realizou-se um estudo com 40 pacientes adultos, de am- Dos 40 indivíduos estudados, 18 (45%) do sexo femini-
bos os sexos, durante o período de três meses, internados em no e 22 (55%) do sexo masculino, com média de idade de
enfermarias de clínica médica de um hospital geral, apresen- 75,4 e desvio padrão de ±11,9. (Figura 2)
tando úlcera de pressão, independente da doença. Dados dos
pacientes, como nome, sexo, data de nascimento, período de
internação, localização da(s) úlcera(s), altura, peso, necessida-
des nutricionais, nível de consciência, estágio da úlcera e
destino do paciente, obteve-se através de um questionário
próprio para coleta de dados, como mostra a Figura 1.
Figura 2 - Gráfico da distribuição do grupo de pacientes estudado se-
gundo o sexo.

Observou-se, em relação à região do corpo onde os pa-


cientes tiveram úlcera de pressão que, 19 (48%) apresenta-
ram somente na região sacra, dois (5%) somente na coxa,
cinco (12%) na coxa e região sacra, sete (18%) no calcâneo
e região sacra, três (7%) na coxa e calcâneo, e quatro (10%)
na coxa, calcâneo e região sacra e nenhum com úlcera so-
mente no calcâneo (Tabela 1).

Tabela 1 - Localização da úlcera de pressão

Região corporal Número de úlceras


Sacra 19 (48%)
Coxa 2 (5%)
Calcâneo 0 (0%)
Coxa e sacra 5 (12%)
Calcâneo e sacra 7 (18%)
Coxa e calcâneo 3 (7%)
Sacra, coxa e calcâneo 4 (10%)
Total 40 (100%)

Quanto ao estadiamento das úlceras, verificou-se que


nove pacientes (23%) apresentavam lesões no estágio I; 16
Figura 1 - Questionário para coleta de informações sobre os pacientes
incluídos no estudo. (40%) no estágio II; nove (23%) no estágio III e seis (14%)
no estágio IV, segundo mostra a Tabela 2.

Para a identificação do estado nutricional dos pacientes, Tabela 2 - Estadiamento da úlcera de pressão
utilizou-se a Avaliação Nutricional Subjetiva Global
Estágio da úlcera Número de indivíduos
(ANSG) segundo Detsky et al.16 Obteve-se as necessidades I 9 (23%)
nutricionais dos pacientes, através da fórmula de Harris- II 16 (40%)
Benedict e adotou-se fator injúria de acordo com a doença. III 9 (23%)
Todos os pacientes receberam dietas de rotina do hospital, IV 6 (14%)
acrescido, de forma a complementar suas necessidades, de um Total 40 (100%)
suplemento alimentar específico para o tratamento
nutricional das úlceras de pressão, hiperprotéico, com Quanto à via de administração da dieta, foi verificado
arginina (15% da proteína total) e alto teor de que em 13 (33%) pacientes a dieta era administrada por via
micronutrientes, como zinco (4,5 mg), selênio (32 mcg), oral e em 27 (67%) por via enteral com utilização de cate-
vitaminas C (125mg), A (119 mcg-RE) e E (19 mg-TE), ter. (Figura 3)
importantes para cicatrização.
Os pacientes foram acompanhados evolutivamente
quanto ao estágio das úlceras de pressão, diariamente, até o
período de três meses após a coleta inicial dos dados. Durante
este período, relacionou-se à prevalência da úlcera de pres-
são com diversos fatores ligados à incidência e melhora do
estágio da mesma. Os gráficos foram elaborados à partir de
planilhas do programa Microsoft Excel-Microsoft Word Figura 3 - Gráfico da distribuição dos pacientes de acordo com a via de
2002. administração da dieta.
66
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69

Durante o período de três meses de acompanhamento da ASG B, quatro (23%) melhoraram; dez (59%) permanece-
pesquisa, notou-se que 11 (27%) pacientes permaneceram ram estáveis e três (18%) apresentaram piora da úlcera de
internados por menos de um mês; 18 (46%) permaneceram pressão. Dos pacientes C, não foi observada nenhuma melho-
entre um e três meses e 11 (27%) ainda permaneceram in- ra, quatro (36%) melhoraram e sete (64%) pioraram (Figu-
ternados após o período de três meses de acompanhamento ra 8).
da pesquisa. (Figura 4)

Figura 7 - Gráfico da distribuição da população estudada de acordo com


o estado nutricional.

Figura 4 - Gráfico do tempo de internação dos pacientes.

Quanto ao nível de consciência, 29 (73%) pacientes não


se encontravam lúcidos e 11 (27%) encontravam-se lúcidos
(Figura 5). Relacionando-se este indicador com a evolução
da úlcera de pressão, foi observado que todos os pacientes
lúcidos (100%), apresentaram melhora do estágio da úlcera
de pressão, enquanto que, dos indivíduos que não encontra- Figura 8 - Relação do estado nutricional com a evolução da úlcera de
pressão.
vam-se lúcidos, três (10%) apresentaram melhora, 11 (38%)
apresentaram piora do estágio das úlceras de pressão e 15
(52%) permaneceram estáveis.(Figura 6) Quanto às necessidades nutricionais; de todos os pacien-
tes, quatro (10%) não haviam atingido as necessidades
nutricionais adequadas e, conseqüentemente, não receberam
o suplemento; 36 (90%) atingiram as necessidades (Figura
9), sendo que destes, sete (19%) não receberam suplemen-
to e 29 (81%) receberam. Relacionando a evolução da úlcera
com alcance das necessidades nutricionais, observou-se que,
dos que atingiram suas necessidades, 14 (39%) melhoraram;
Figura 5 - Gráfico do nível de consciência dos pacientes com úlcera de 15 (42%) permaneceram e sete (19%) pioraram. Dentre os
pressão. que não atingiram as necessidades, nenhum melhorou; um
(25%) permaneceu com a úlcera no mesmo estágio e três
(75%) pioraram. (Figura 10) Neste último grupo (19% que
pioraram) encontravam-se os pacientes que não receberam
o suplemento.

Figura 6 - Relação da evolução da úlcera de pressão com o nível de


consciência.

Segundo a Avaliação Subjetiva Global (ASG), obser-


vou-se que 12 (30%) pacientes foram classificados como A
Figura 9 - Gráfico da distribuição da população de acordo com as ne-
(bem nutridos); 17 (43%) como B (moderadamente ou sus- cessidades nutricionais.
peita de ser desnutrido) e 11 (27%) dos estudados foram
classificados como C (gravemente desnutrido) como mostra Quanto ao destino dos pacientes, foi observado que 11
na Figura 7; dentre os pacientes classificados como ASG A, (27%) dos pacientes receberam alta hospitalar, 17 (43%)
dez (83%) melhoraram e somente dois (17%) permaneceram permaneceram hospitalizados por mais de três meses e 12
com a úlcera no mesmo estágio, não havendo piora da evo- (30%) foram a óbito.(Figura 11) Dos que permaneceram
lução da úlcera de pressão. Dos pacientes classificados como hospitalizados, houve uma alteração positiva na distribuição
67
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69

mudança seja feita em todos os pacientes e, comprovando


isto, verificou-se que 100% dos pacientes que apresentaram
melhora do estágio da úlcera contavam com o auxílio de um
acompanhante e 89% dos que regrediram de estágio não ti-
nham um acompanhante.
Foi observado que o período em que a pessoa fica
acamada, com ausência de atividade física, também é fator
contribuinte de extrema significância, a partir dos resultados
encontrados em torno do tempo de internação, visto que dos
pacientes que estavam há mais de três meses internados, 73%
pioraram o estágio da úlcera.
Figura 10 - Relação da evolução da úlcera de pressão com a necessidade É interessante que no grupo de pacientes estudados, ne-
nutricional. nhum indivíduo estava obeso. Apesar de não ser um fator de
“proteção”, os indivíduos obesos, geralmente apresentam
“melhor” reserva nutricional e, por isso, menor incidência de
úlceras de decúbito. O estado nutricional influencia direta-
mente o quadro geral do paciente e, neste caso, a prevalência
das úlceras de decúbito. Além disso, foi constatado no pre-
sente estudo, que a maior parte (70%) dos indivíduos que
apresentaram úlcera de pressão, pioraram o estágio da úlce-
ra (100%) e, ainda, todos os que estavam em pior estado
Figura 11 - Gráfico de destino dos pacientes com úlcera de pressão. (com a úlcera no estágio IV) estavam desnutridos. Dos que
melhoraram, 83% estavam eutróficos. Green et al.1 observa-
ram em seu estudo que o estado nutricional está associado
com o desenvolvimento e cicatrização de úlceras de
decúbito. Os autores examinaram a alimentação de adultos
com úlcera de pressão (n=75) e de um grupo controle sem
úlceras de pressão (n=100), porém com risco de desenvolvê-
las; pacientes com úlcera de pressão ingeriam menos energia
e proteínas que o grupo controle e a má nutrição foi consi-
Figura 12 - Gráfico do estadiamento da úlcera de pressão no início do derada fator de risco para a incidência de úlceras de decúbito.
estudo. Casimiro et al.5 investigaram a prevalência de úlceras de
decúbito, em idosos hospitalizados, e associaram com fatores
de risco, sendo constatado que o índice de massa corporal
esteve significativa e estatisticamente inversamente associ-
ado com a prevalência de úlcera de decúbito. Outros fatores
de risco ressaltados pelos autores são: presença de úlcera
prévia, diabetes, imobilidade, eritema, desidratação, aumen-
to de idade, má nutrição e edema. Tudo isto evidencia a
importância da nutrição e do estado nutricional dos pacien-
tes. Todavia, Thomas4 ressalta que nenhum estudo demons-
Figura 13 - Gráfico de estadiamento da úlcera de pressão no final do
estudo. trou que a melhora do estado nutricional pode prevenir as
úlceras de pressão, todos trazem uma evidência sugestiva de
que a melhora do estado nutricional pode melhorar a cica-
dos estágios da úlcera de pressão ao final do período.(Figuras trização das úlceras. Em contrapartida Fergusson et al.3 des-
12 e 13) tacam que a nutrição desempenha papel importante na pre-
venção e tratamento de úlceras de pressão. A nutrição e
Discussão intervenções nutricionais em pacientes com risco e apresen-
tando úlceras de pressão são componentes essenciais da qua-
No presente estudo, alguns fatores ligados à incidência, lidade do tratamento do paciente.
prevalência e tratamento das úlceras de decúbito foram iden- A perda de peso em pacientes idosos não é incomum. Em
tificados. Foi observado que a maior parte dos estudados pacientes com atendimento domiciliar, de 30% a 50% apre-
(73%) não estavam orientados, ou seja, não possuíam auto- senta perda de peso e de massa muscular significativa, além
nomia para realização de movimentos, de grande importân- de baixas concentrações de albumina sérica12. A oferta das
cia para a mudança de decúbito do paciente sempre que uma necessidades nutricionais adequadas para cada indivíduo é de
posição o incomodar. Outro fator importante para a mudan- suma importância para a melhora tanto da úlcera, quanto do
ça de decúbito é a presença de um acompanhante, já que nem estado geral do paciente. É importante ressaltar que neste
sempre o corpo de enfermagem dispõe de tempo para que a estudo, quando as necessidades nutricionais não foram
68
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):64-69

alcançadas, não se observou melhora no quadro e em 75% observaram que o grupo que teve intervenção nutricional
houve piora. Em contrapartida, a menor parte (19%) dos apresentou risco mais baixo de úlceras de decúbito.
indivíduos que conseguiram atingir suas necessidades, piora- A úlcera de decúbito pode aumentar o tempo de
ram o estágio da úlcera. Shing-Shing & Schuster12 observa- internação dos pacientes e isto pôde ser comprovado nos
ram, em seu estudo, que a caquexia está associada com a resultados do presente estudo, no qual apenas 27% de todo
incidência de úlcera de decúbito. Tratando a desnutrição e o grupo do estudo teve alta hospitalar, enquanto que 43%
a perda de peso, as condições hospitalares do pacientes po- permaneceu hospitalizado e 30% foi a óbito.
dem melhorar bastante.
A suplementação é de extrema importância como auxí- Conclusão
lio na cicatrização das úlceras, fornecendo calorias e nutrien-
tes a mais. O tempo de reabilitação após fraturas do quadril foi Neste estudo, verificou-se que a eficácia da administra-
constatado após suplementação nutricional12. Dentre os estu- ção de nutrição adequada, assim como o estado nutricional
dados, somente os pacientes com dieta via oral receberam do paciente, são fatores de grande influência na prevalência
suplemento específico para cicatrização com nutrientes funda- e evolução das úlceras de pressão.
mentais a este processo (hiperprotéico, presença de arginina). Notou-se também prevalência de úlcera de pressão em
Este suplemento teve eficácia de 85%, visto que a porcenta- pacientes que não se encontravam lúcidos, mostrando a
gem dos indivíduos que o ingeriram, melhoraram o estágio da importância da equipe interdisciplinar no tratamento das
úlcera e nenhum piorou. Logo, a partir destes resultados, pode- úlceras de pressão.
se dizer que o suplemento foi eficaz na melhora desses pacien- Verificou-se que quanto mais avançado o estágio das
tes, em relação à úlcera de decúbito. Bourdel-Marchasson et úlceras de pressão, maior a probabilidade de ocorrer aumento
al.15 realizaram um estudo com o propósito de avaliar o efeito do tempo de internação dos pacientes e que a utilização de
da suplementação nutricional no desenvolvimento de úlcera suplemento colaborou para compor a quantidade e qualida-
de pressão em pacientes idosos em estado crítico. Os autores de da oferta nutricional.

Referências bibliográficas
1. Green SM, Winterberg H, Franks PJ, Moffatt CJ, Eberhardie C, McLaren de úlceras de decúbito. Nutrição em Pauta 2001;março/abril:38-42.
S. Nutritional intake in community patients with pressure ulcers. J Wound 10. Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica.
Care 1999; 8(7):325-330. 3.ed. São Paulo: Atheneu; 2002.
2. Russell L. Malnutrition and pressure ulcers: nutritional assessment tools. 11. Anthony D, Reynolds T, Russell L. An investigation into the use of serum
Br J Nurs 2000; 9(4):194-200. albumin in pressure sore prediction. J Adv Nurs 2000; 32(2):359-365.
3. Ferguson M, Cook A, Rimmasch H, Bender S, Voss A. Pressure ulcer 12. Shing-Shing Y, Schuster MW. Geriatric cachexia: the role of citokynes.
management: the importance of nutrition. Medsurg Nurs 2000;9(4):163- Nutrition 1999; 70(2):183-197.
75; quiz 176-177. 13. Langkamp-Henken B, Herrlinger-Garcia KA, Stechmiller JK, Nickerson-
4. Thomas DR. Improving outcome of pressure ulcers with nutritional Troy JA, Lowis B, Moffat L. Arginine supplementation is well tolerated but
interventions: a review of the evidence. Nutrition 2001;17(2):121-125. does not enhance mitogen-induced lymphocyte proliferation in elderly
5. Casimiro C, García-de-Lorenzo A, Usán L. Prevalence of decubitus ulcer nursing home residents with pressure ulcers. J Parenter Enteral Nutr
and associated risk factors in an institutionalized Spanish elderly population. 2000; 24(5):280-287.
Nutrition 2002; 18(5):408-414 14. Bodinski LH. Dietoterapia princípios e práticas. São Paulo: Atheneu;
6. Caddell JL. Geriatry cachexia: a role for magnesium deficiency as well as 2001.
for cytoquines? Am J Clin Nutr 2000; 71:851-852. 15. Bourdel-Marchasson I, Barateau M, Rondeau V, Dequae-Merchadou L,
7. Poehlman ET, Dvorak RV. Energy expenditure, energy intake, and weight Salles-Montaudon N, Emeriau JP, Manciet G, Dartigues JF. A multicenter
loss in Alzheimer disease. Am J Clin Nutr 2000; 71:650s-655. trial of the effects of oral nutritional supplementation in critically ill older
8. Poehlman ET. Working Group Session Report wasting in geriatrics and inpatients. Nutrition 2000, 16(1):1-5.
special consideration in design of trials involving the elderly subjects. J 16. Desky AS, Baker JP, Mendelson RA et al. Evaluating the accuracy of
Nutr 1999; 129:308s. nutritional assessment techniques applied to hospitalized patients:
9. Souza TT. Importância da terapia nutricional especializada na cicatrização methodology and comparisons. JPEN 1984; 8:153-159.

69
A RT I G O ORIGINAL

Suplementação nutricional em pacientes com doença do neurônio motor/


esclerose lateral amiotrófica
Nutritional supplements in patients with motor neurone disease/ amyotrophic lateral sclerosis
Nutrición suplementar en pacientes con enfermedad neuromotora/ esclerosis lateral amiotrófica

Patrícia Stanich1, Aline Maria Luiz Pereira2, Ana Lúcia de Magalhães Leal Chiappetta3, Marcelo Nunes4, Acary
de Souza Bulle Oliveira5, Alberto Alain Gabbai6

Resumo Abstract
Pacientes neurológicos freqüentemente evoluem com piora do estado Neurological patients frequently present worsening of the
nutricional.O objetivo do estudo foi avaliar o impacto da nutritional condition. The objective of this study was to describe
suplementação oral em pacientes com Doença do Neurônio Motor/ the impact of oral nutritional supplements on 20 patients with
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Os pacientes receberam Motor Neuron Disease (MND)/ Amyotrophic Lateral Sclerosis
suplementação nutricional por seis meses consecutivos. Foram sub- (ALS). The patients received nutritional supplements by six
metidos à avaliação nutricional bimestral, com medidas consecutive months. They were submitted to bimonthly nutritional
antropométricas – peso (P), estatura (E), circunferência do braço evaluation, with anthropometric measurements – weight, stature,
(CB), dobra cutânea do tríceps (DCT), circunferência muscular upper arm circumference and triceps skinfold – and bioelectrical
do braço (CMB) e área gordurosa (AG) - e análise da composição impedance analysis to evaluate corporal composition. The age
corporal através da bioimpedância elétrica. A idade variou entre 36 varied from 36 to 70 years, with a mean of 55 years and median
a 70 anos, com média de 55,0 anos e mediana de 59,5. Quinze of 59,5 years. Fifteen patients (75%) presented ALS as
pacientes (75%) apresentavam ELA como forma de manifestação manifestation form and five patients presented progressive bulbar
e cinco (25%) apresentaram paralisia bulbar progressiva (PBP). paralysis (PBP). A prevalence of the men in a proportion of about
Observou-se prevalência para o sexo masculino em proporção de 2:1 was observed. Due to the characteristics of the disease, only
2:1. Devido às particularidades da doença, dez terminaram a ava- ten patients finished the proposed evaluation. It was observed
liação proposta. Verificou-se diminuição progressiva do índice de progressive decrease of body mass index (BMI), midi-upper arm
massa corpórea (IMC), CB, CMB, AG e DCT nos pacientes com circumference (MUAC), MAC and triceps skinfold (TSF). The
PBP e preservação dessas variáveis nos pacientes com ELA. A re- fat free mass/fat mass ratio values did not change in both groups
lação massa magra/ massa gorda manteve-se durante o estudo para during the study. The classification of the nutritional condition did
ambos os grupos. A classificação do estado nutricional não se mo- not modify for 70% of the patients. Conclusions: the results
dificou para 70% dos pacientes. Conclusões: os resultados demons- demonstrated that though the supplements prevented the worsening
traram que a suplementação preveniu a piora do estado nutricional, of the nutritional condition, they were not able to correct the glo-
mas não foi capaz de corrigir as médias globais de adequação. (Rev bal averages of adequacy. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-
Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78) 78)
UNITERMOS: composição corporal, doença do neurônio motor, K EY WORDS : body composition, motor neuron disease,
esclerose lateral amiotrófica. amyotrophic lateral sclerosis.

Resumen
Pacientes neurológicos frecuentemente evoluyen con agravamiento del estado nutricional. El objetivo de este estudio fue evaluar el impacto
de la suplementación nutricional oral en 20 pacientes con la Enfermedad de la Neurona Motora(ENM) / la Esclerose Lateral Amiotrofica
(ELA). Los pacientes recibieron los suplementos nutritivos por seis meses consecutivos. Fueron sometidos a la evaluación nutricional

1. Nutricionista - Mestre em Neurologia/Neurociências Escola Paulista de Medicina UNIFESP /EPM; 2. Doutora em Nutrição Escola Paulista de Medicina UNIFESP /
EPM; 3. Doutoranda em Neurociências - Escola Paulista de Medicina UNIFESP /EPM - Fonoaudióloga do Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da UNIFESP/
EPM; 4. Médico Especialista em Medicina Intensiva Escola Paulista de Medicina UNIFESP /EPM; 5. Doutor em Neurologia pela UNIFESP/EPM - Médico responsável
pelo Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da UNIFESP/EPM; 6. Médico Neurologista- Chefe da Disciplina de Neurologia Clínica da UNIFESP/EPM - Setor
de Investigação em Doenças Neuromusculares.
Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo- Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM) - Rua Pedro de Toledo, 377 - Vila
Clementino - São Paulo - SP - Brasil
Endereço para correspondência: Patrícia Stanich - Rua Antonio Tavares, 275 - apto.41 - Aclimação - Capital - São Paulo - CEP 01542-010 - Tel: 11. 3276 2938
E-mail: pstanich@uol.com.br stanich@uninove.br stanich@zipmail.com.br
Submissão: 13 de outubro de 2003
Aceito para publicação: 13 de abril de 2004

70
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

bimestral, a través de antropometria – peso, talla, circunferencia del brazo superior y pliegue cutáneo del tríceps - y a análisis de la
composición corporal a través de la bioimpedancia electrica. La edad varió entre 36 a 70 años, con promedio de 55 años y mediana de
59,5 años. Quince pacientes (75%) presentaban ELA el la fase de manifestación y cinco (25%) presentaban la forma paralisia bulbar
progresiva (PBP). Se ha presentado prevalencia de los hombres en una proporción de 2:1. De estos pacientes, debido a peculiaridades
específicas de esta enfermedad, diez terminaron la evaluación propuesta. Se observó disminución progresiva de índice de masa corpo-
ral, circunferencias y pliegue (la circunferencia del brazo superior, la circunferencia muscular del brazo, el área grasa del brazo y pliegue
cutáneo del tríceps). La relación masa muscular / masa grasa corporal se mantuvo durante el estudio para los dos grupos. La clasificación
de la condición nutricional no se modificó para el 70% de los pacientes. Conclusión: los resultados muestran que la suplementación ha
logrado prevenir el agravamiento del estado nutricional, mas no lo ha logrado corregir los promedios globales de adecuación. (Rev Bras
Nutr Clin 2004; 19(2):70-78)
UNITÉRMINOS: composición corporal, enfermedad neuromotora, esclerosis lateral amiotrófica.

Introdução muscular. O suporte nutricional compreende a precoce


detecção da diminuição da ingestão alimentar, principal-
Doença do Neurônio Motor (DNM) é um termo gené- mente em quilocalorias, a modificação da consistência da
rico utilizado para descrever quatro principais síndromes: dieta e a indicação precoce de via alternativa de alimenta-
atrofia muscular progressiva (AMP), esclerose lateral primá- ção. As vias alternativas de alimentação para os pacientes
ria (ELP), paralisia bulbar progressiva (PBP) e esclerose la- com ELA incluem sondas ou ostomias (gastrostomia ou
teral amiotrófica (ELA). Sendo a manifestação ELA a mais jejunostomia)2.
comum, na literatura as quatro formas são, de modo habitu- Na vigência de alimentação por via oral, Kasarskis &
al, denominadas simplesmente como ELA. Também conhe- Neville2 observaram diminuição da composição corpórea
cida como Doença de Lou Gehrig, caracteriza-se por parali- (massa magra e gorda), força muscular e balanço
sia progressiva secundária ao comprometimento dos nitrogenado, além de aumento do gasto energético basal em
neurônios motores, neurônio motor superior (NMS) e doentes com ELA na fase terminal 7 . A média de ingestão
neurônio motor inferior (NMI). Os primeiros sintomas mais alimentar variou entre 84% e 126% em relação às recomen-
comuns são atrofia e fraqueza muscular, fasciculações, dações dietéticas, demonstrando que esses pacientes apresen-
câimbras, hipertonia e hiperreflexia. tam ingestão calórico-protéica abaixo do recomendado. Esse
A progressão característica da ELA é um comprometi- fato, associado ao aumento da demanda metabólica, sugerem
mento motor generalizado. Nos estágios mais avançados da necessidade de suplementação nutricional nos pacientes com
doença, observa-se diminuição da força muscular respirató- ELA 2 ,8.
ria, disfagia, perda progressiva de peso corporal e de massa
muscular1. Objetivo
A manutenção do peso corporal dentro dos padrões da
normalidade tem-se constituído em busca constante. Tal O objetivo deste estudo foi descrever o estado
comportamento justifica-se pela clara relação entre o peso nutricional dos pacientes com Doença do Neurônio Motor
corporal e a doença. É possível compreender o peso corpo- (DNM)/Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), submetidos à
ral como o resultado da relação entre a ingestão de energia suplementação nutricional.
e o gasto energético, caracterizando o balanço energético em:
negativo (perda ponderal), positivo (ganho ponderal) ou Método
neutro (manutenção do peso corporal).
A progressiva atrofia muscular pode mascarar o aumento De acordo com o artigo 123 do Código de Ética do
da demanda metabólica, característica das doenças progres- Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
sivas. Uma vez que as energias estão canalizadas para a ma- (CREMESP, 1988), esta investigação somente foi realizada
nutenção da ventilação pulmonar, justifica-se o aumento do após autorização do paciente. O presente estudo foi analisa-
gasto energético basal dos pacientes com ELA 2,3,4 . do e aprovado pelo Comitê de Ética e pesquisa do Hospital
A perda de peso corpóreo, associada às alterações bulbares São Paulo/Universidade Federal de São Paulo – Escola
(disfagia e respiração), demonstra a necessidade de cuidado Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM).
nutricional precoce e específico a cada estadio da doença 5. Dos 80 pacientes em atendimento no Setor de Doenças
Analisando as mudanças na composição corpórea dos Neuromusculares do Departamento de Neurologia da Univer-
indivíduos na ELA, observa-se que um discreto aumento de sidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, no
peso corpóreo pode compensar a energia consumida na di- ano de 2002, 20 pacientes com diagnóstico de DNM/ELA
minuição de massa magra inerente à progressão da doença. foram selecionados para a realização dessa pesquisa, de acor-
É possível fazer reserva corpórea de energia nos pacientes do com os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Fo-
com ELA minimizando a significante perda de massa magra ram incluídos os pacientes em acompanhamento
e de gordura corporal total 3 . interdisciplinar periódico regular no setor de doenças
Em estudo realizado por Slowie et al.6, concluiu-se que neuromusculares, com manifestações clínicas definidas pelo El
o suporte nutricional pode retardar a perda de peso e a atrofia Escorial, modificados em 19989 tratados de acordo com pro-
71
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

tocolos pré-definidos e que faziam uso de Riluzole, Vitaminas pesadas e o valor descontado no momento da calibração da
E e C. Foram excluídos os pacientes com Diabetes Mellitus, balança. Os pacientes (n=8) que deambulavam foram pesa-
usuários de ventiladores mecânicos (BIPAP) e de vias alterna- dos em pé. O peso corpóreo foi medido em balança tipo pla-
tivas de alimentação (sondas nasogástrica e/ou entérica ou taforma (Toledo do Brasil).
ostomias). Também foram excluídos os pacientes que faziam Para análise da composição corporal foi utilizado o apa-
acompanhamento irregular, que não eram tratados de acordo relho de bioimpedância elétrica BIA – 101 Quantum. Foram
com os protocolos pré-definidos e que não poderiam vir ao seguidas as recomendações estabelecidas pelo fabricante.
serviço com a regularidade definida na pesquisa. Foram aferidas as medidas de resistência (ohms) e reactância
Quinze pacientes apresentavam como forma de manifes- (ohms), sendo calculada a bioimpedância corporal. Através
tação clínica a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), sendo de software específico (VCORP), obtivemos os valores de
11 indivíduos do sexo masculino e quatro do sexo feminino. porcentagem de água corpórea total, porcentagem de gordura
A idade variou entre 36 e 70 anos, com média de 49,5 anos e a relação entre massa magra e massa gorda.
e mediana de 46,5 anos. Cinco pacientes apresentavam a Para a determinação do estado nutricional os parâmetros
forma bulbar (PBP), sendo três do sexo feminino e dois do antropométricos foram analisados em conjunto. Os valores
sexo masculino, com idade variando entre 57 e 65 anos, com obtidos segundo porcentagem de adequação foram classifica-
média de 62,2 anos e mediana de 63,0 anos. Todos os paci- dos pelo Escore de Desnutrição Protéico Calórico (DPC). O
entes apresentavam a forma esporádica da doença. Escore de DPC representa a soma de todos os parâmetros de
O programa de suplementação nutricional foi aplicado avaliação nutricional em porcentagem de adequação dividi-
durante período de seis meses consecutivos. O produto uti- do pelo número de parâmetros avaliados. O valor obtido pelo
lizado como suplemento foi MeriteneÒ , prescrito na mesma escore de DPC permite classificar os pacientes segundo as
quantidade para todos os pacientes. A prescrição da quanti- recomendações de Blackburn et al 8.
dade do suplemento nutricional foi realizada após a análise Para o cálculo das necessidades calóricas foi utilizada a
da média de ingestão alimentar dos três meses anteriores ao equação de Harris & Benedict11. O cálculo das necessidades
início do estudo. A quantidade diária prescrita foi de 45 protéicas foi baseado nas recomendações da Sociedade Bra-
gramas, diluídas em 200 ml de leite integral, ingerida uma vez sileira de Alimentação e Nutrição12, sendo oferecidas de 1,0
ao dia, em horário aleatório de acordo com a conveniência a 1,2 g proteína/kg peso atual/dia.
de cada paciente. O suplemento foi prescrito para atingir A ingestão alimentar foi analisada por diário alimentar
valores entre 100% e 130% das recomendações nutricionais de 3 dias, solicitado bimestralmente e calculado por software
e administrado por via oral. específico – Sistema de Apoio à Decisão em Nutrição –
Para avaliação do estado nutricional dos pacientes, fo- versão 2.5a – DIS – UNIFESP – EPM.
ram utilizadas medidas antropométricas (peso, altura, circun- A análise da qualidade de vida dos pacientes estudados
ferência do braço e dobra cutânea triciptal), segundo os foi realizada na fase inicial e no término do estudo, através
métodos propostos por Frisancho10, além da análise da com- da aplicação de um questionário, o ALSAQ-4013.
posição corporal pelo método de bioimpedância elétrica
(BIA), verificadas bimestralmente. Resultados
Como a maior parte dos pacientes (55%) não
deambulava, os pacientes foram pesados com cadeira de Foram selecionados 20 pacientes, mas devido às particu-
rodas. Previamente à pesagem do paciente, as cadeiras foram laridades clínicas da doença, somente dez concluíram o es-

Figura1 – Evolução do índice de massa corpórea (IMC). ELA - esclerose lateral amiotrófica; PBP - paralisia bulbar progresiva.
72
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

tudo proposto. Três pacientes eram do sexo feminino e sete sobrepeso. Ao final dos seis meses de suplementação, não
do sexo masculino. A distribuição segundo a faixa etária foi houve modificação do estado nutricional dos pacientes que
de 57 a 66 anos, com média de 60,6 anos para as mulheres, permaneceram até a fase final do estudo, segundo o IMC. O
e 36 a 70 anos, com média de 51,2 anos, para os homens. A mesmo não foi encontrado quando analisamos os dados se-
faixa etária com maior prevalência da doença é entre os 50 gundo o escore de DPC. Um dos pacientes com desnutrição
e 60 anos, com média de 55 anos de idade14. moderada evoluiu para desnutrição leve; um paciente com
Na análise do índice de massa corpórea (Figura 1), ob- desnutrição leve evoluiu para sobrepeso, e um evoluiu de
serva-se o aumento progressivo do peso somente no grupo de sobrepeso para obesidade.
pacientes com ELA. No início do estudo, os pacientes com Na Tabela 2, está representado o estado nutricional dos
PBP apresentam valores de IMC maiores do que o grupo com pacientes com PBP estudados no início e ao final do perío-
ELA. Analisando o gráfico, sugere-se que o grupo com ELA do de suplementação nutricional. Na fase inicial do estudo,
apresenta aumento, e o grupo com PBP, diminuição do IMC. não foi encontrado nenhum grau de desnutrição. Quarenta
Ao observar-se as medianas, nota-se que o IMC do grupo
com ELA permaneceu constante, enquanto o grupo com
PBP apresentou queda. Pequenas alterações no peso Tabela 1 - Estado nutricional dos pacientes com ELA
corpóreo total modificam os valores do índice de massa cor-
poral, uma vez que o peso é a única variante desse índice em Estado nutricional Início (n) Término (n)
IMC SCORE IMC SCORE
adultos.
Eutrofia 5 0 4 0
A Figura 2 mostra que para a relação entre as massas Desnutrição leve 1 3 1 3
magra e gorda, os grupos apresentam valores quase constan- Desnutrição moderada 0 3 0 1
tes durante o estudo, não havendo evidências, em nenhum Desnutrição grave 1 1 0 0
momento, de que os grupos apresentem comportamento Sobrepeso 0 1 0 1
diferente. Porém, ao analisarmos as médias dos valores dos Obesidade 1 0 1 1
dois grupos, constata-se que o grupo com PBP apresentou TOTAL 8 8 6 6
n= número de pacientes
valores progressivamente maiores do início ao término do
acompanhamento. Tratando-se de uma relação entre dois
compartimentos corpóreos (massa magra e massa gorda), o
aumento dos valores de um compartimento, necessariamen-
Tabela 2 - Estado nutricional dos pacientes com PBP
te, determinará modificação da relação, fato que justifica os
valores maiores no grupo com PBP. Em virtude do número Estado nutricional Início (n) Término (n)
reduzido de pacientes, não foi possível aplicar teste estatís- IMC ESCORE IMC ESCORE
tico específico às Figuras 1 e 2. Eutrofia 2 3 1 2
A Tabela 1 mostra que 62,5 % dos pacientes com ELA Desnutrição leve 0 1 1 0
na fase inicial do estudo eram eutróficos, 25% apresentavam Desnutrição moderada 0 1 0 2
Desnutrição grave 0 0 0 0
algum grau de desnutrição e 12,5% apresentavam sobrepeso,
Sobrepeso 0 0 1 0
segundo a classificação do IMC. Segundo a classificação do Obesidade 3 0 1 0
escore de DPC, 87,5% dos pacientes apresentavam algum TOTAL 5 5 4 4
grau de desnutrição, e também 12,5 % apresentavam n= número de pacientes

Figura 2 - Evolução da relação massa magra/massa gorda. ELA - esclerose lateral amiotrófica; PBP - paralisia bulbar progresiva.
73
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

por cento pacientes eram eutróficos e 60% apresentavam dações nutricionais, variou entre 90% e 180% , e apenas dois
obesidade, segundo a classificação do IMC. Quanto à classi- pacientes (60%) com PBP não conseguiram ingerir 100% do
ficação segundo o escore de DPC, encontrou-se 50% dos recomendado.
pacientes eutróficos e 50% apresentando algum grau de des- Em relação às proteínas, os resultados obtidos são seme-
nutrição. Ao término do acompanhamento, verificaram-se lhantes aos resultados dos demais macronutrientes. Há evi-
algumas alterações do estado nutricional nesse grupo estuda- dência de que o comportamento dos grupos foi o mesmo até
do. Um paciente passou do estado de eutrofia para desnutri- o 2º mês. Entre o 2º e o 4º mês, o grupo com ELA aumen-
ção leve, e um de obesidade para sobrepeso. Esses resultados tou a ingestão protéica, enquanto o grupo com PBP dimi-
foram avaliados segundo o IMC. Quanto ao escore de DPC, nuiu. O contrário foi observado entre o 4º e o 6º mês de
os resultados mostraram que apenas um paciente passou de suplementação.
desnutrição leve para desnutrição moderada.
A média de ingestão alimentar de calorias e proteínas na Discussão
fase inicial e durante o estudo estão representadas nas Figu-
ras 3 e 4. Entre o 2º e o 4º mês, todos os pacientes com PBP Embora relativamente pequena, a população estudada
apresentaram diminuição na ingestão calórica total e, poste- representa as principais características epidemiológicas da
riormente (entre o 4º e o 6º mês), discreto aumento. O ELA: predominância da forma esporádica sob a forma fami-
mesmo não aconteceu no grupo com ELA, o qual apresen- liar, do sexo masculino sobre o sexo feminino na proporção
tou aumento progressivo na ingestão calórica total até o 4º de 1,5:1, e da forma de manifestação da doença com acome-
mês. A porcentagem de adequação em relação às recomen- timento inicial dos membros sobre a forma bulbar15 . A po-

Figura 3 - Evolução da ingestão calórica. ELA - esclerose lateral amiotrófica; PBP - paralisia bulbar progresiva.

Figura 4 - Evolução da ingestão protéica. ELA - esclerose lateral amiotrófica; PBP - paralisia bulbar progresiva.
74
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

pulação estudada apresentou a média de idade inferior à to às consistências adequadas da dieta frente à disfagia, nos
descrita na literatura brasileira, talvez refletindo maior faci- diferentes estadios da doença. Segundo a proposta de classi-
lidade de comparecimento ambulatorial mais regular de ficação de gravidade das disfagias, por avaliação clínica
pessoas mais jovens. fonoaudiológica adaptada24, a população estudada, no início
A progressão do grau de disfagia, impossibilitando a do estudo, apresentava grau de disfagia moderado, permitin-
manutenção da alimentação por via oral, as complicações do que a alimentação por via oral fosse preservada, porém
respiratórias com início de ventilação invasiva, a dificulda- com modificação da consistência. No decorrer do protoco-
de de locomoção do paciente para o atendimento lo, os pacientes com PBP evoluíram na gravidade da disfagia,
ambulatorial e os quadros depressivos foram as principais de grau moderado para grave, impossibilitando a alimenta-
causas da redução do número de pacientes durante o estudo. ção por via oral plena. Os pacientes que não apresentaram
Apesar da perda amostral, o número de pacientes evolução da disfagia ingeriam dieta geral, ou seja, dieta sem
prospectivamente acompanhados foi semelhante ao tama- restrições alimentares.
nho amostral utilizado em outras pesquisas realizadas em Este estudo confirma os resultados obtidos por Brooks23,
pacientes com ELA 16,17. em 1998, a respeito da evolução da doença, no que diz res-
Nos seis meses de acompanhamento dos pacientes, ve- peito às diferenças nas questões tempo, intensidade e gravi-
rificou-se curso natural da doença semelhante ao descrito dade presentes nos pacientes com comprometimento inici-
anteriormente. O momento em que os sintomas respiratórios al bulbar, onde os sintomas aparecem de forma linear com
iniciaram foi diferente nos grupos, tendo surgido na forma piora abrupta acentuada. Situação observada linearmente
bulbar mais precocemente do que na ELA. Dois pacientes nos pacientes com comprometimento inicial nos membros
faleceram durante o protocolo, em suas residências. Um (superiores e inferiores), praticamente durante todo o curso
paciente evoluiu com desconforto respiratório, sendo enca- da doença, acentuando a necessidade de intervenção
minhado ao hospital e necessitando de intubação oro- multiprofissional precoce, com enfoque preventivo ou pali-
traqueal. Posteriormente, foi submetido a traqueostomia e ativo nos estágios da ELA 26,27,28.
tornou-se dependente de ventilacão mecânica. A intervenção nutricional proposta nesse estudo foi
Três pacientes (15%) necessitaram de via alternativa de utilização de suplemento nutricional oral em pó, adiciona-
alimentação (gastrostoma Endoscópica Percutânea -PEG) do à alimentação do paciente. Os suplementos orais consti-
durante o estudo. A disfagia estava presente em vários graus tuem maneira conveniente de prevenir a desnutrição, quan-
nesses indivíduos, porém não foi esse sintoma, isoladamen- do o paciente ainda é capaz deglutir29. O produto utilizado
te, que determinou a instalação de PEG. A perda de peso como suplemento nutricional foi MeriteneÒ . A aceitação
(10% do peso corpóreo em três meses) e a diminuição rápi- do produto pelos pacientes foi total. Todos referiram que a
da da capacidade vital (CV) foram os demais critérios que variedade dos sabores oferecidos (morango, baunilha e cho-
indicaram a gastrostomia nesses pacientes. Alguns critérios colate) contribuiu para a aderência ao protocolo. A forma de
para indicação de PEG foram sugeridos 18,19,20, sendo melhor apresentação em pó diluída em leite integral, ou o acréscimo
definidos posteriormente21 . de frutas na preparação, foram as melhores maneiras que os
É válido citar que os pacientes que necessitaram de PEG cuidadores encontraram para oferecer o suplemento aos
durante o estudo apresentavam comprometimento inicial da pacientes diariamente. Nenhum paciente referiu náuseas,
doença em membros (ELA). A literatura relata que os indi- vômitos ou qualquer outro distúrbio gastrointestinal com a
víduos com comprometimento inicial bulbar, por vezes, utilização do produto.
necessitam de via alternativa de alimentação mais precoce- A verificação constante das medidas antropométricas e
mente do que os indivíduos com ELA22. Resultados seme- a realização da bioimpedância elétrica proporcionaram ao
lhantes não foram encontrados neste estudo, provavelmen- paciente a própria monitorização do estado nutricional, es-
te devido ao fato de que os pacientes com PBP foram inclu- pecialmente do peso corpóreo. Dessa forma, constatou-se
ídos no protocolo ainda nos estágios iniciais da doença, fato maior envolvimento do paciente e cuidador com o tratamen-
não observado em relação aos pacientes com ELA, que já se to nutricional proposto. Portanto, pode-se inferir que, pos-
encontravam em acompanhamento. Aproximadamente três sivelmente, o suplemento nutricional tenha sido veículo para
meses após o término do protocolo de suplementação a valorização do acompanhamento nutricional por parte dos
nutricional dos pacientes que permaneceram em acompa- pacientes com ELA e seus cuidadores.
nhamento no setor, seis (60%) dos dez pacientes estudados Quanto à ingestão alimentar, após a inclusão do suple-
necessitaram da colocação de PEG. mento, observou-se que a maioria dos indivíduos apresentou
Em estudo randomizado20, foi demonstrado que a coloca- aumento espontâneo do consumo global de alimentos, vari-
ção precoce da PEG em pacientes com ELA pode melhorar a ando entre 110% e 180% do recomendado, com exceção de
qualidade de vida, devido à melhora do estado nutricional. Foi dois pacientes (20%) com PBP que não conseguiram atingir
observada situação semelhante nos pacientes que necessitaram o recomendado, por apresentarem piora do processo de
de PEG durante este estudo, recordando que, até o presente deglutição no decorrer do protocolo. Esses dados corroboram
momento, não foi encontrada nenhuma relação direta entre os encontrados por Slowie et al6, em 1983, que observaram
a colocação de PEG e o curso natural da ELA 23. diminuição da ingestão alimentar frente ao recomendado em
Todos os pacientes estudados foram, concomitan- 70% dos pacientes estudados. Os resultados desse estudo
temente, avaliados e orientados pelo fonoaudiólogo, quan- também sugerem que os pacientes com ELA necessitam de
75
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

suplementação nutricional; no entanto, o momento de intro- sugerem que a perda de peso é de etiologia multifatorial e que
dução e as quantidades exatas ainda são desconhecidas. os pacientes com ELA podem ter os requerimentos
Sugere-se que o aumento espontâneo da ingestão ali- nutricionais aumentados, uma vez que apresentam perda de
mentar tenha ocorrido por duas situações distintas. A primei- massa corporal total, mesmo em vigência de adequada
ra estaria relacionada à composição do produto utilizado, e ingestão calórico-protéica 6,3,18 .
a segunda à maior aderência e envolvimento com o trata- Desport et al.30 relacionaram outros possíveis fatores
mento oferecido. Em relação à composição do produto, este relacionados ao hipermetabolismo da ELA além das questões
é enriquecido com vitaminas e sais minerais, como vitami- respiratórias, como o tabagismo, fasciculações, espasticidade,
na A, C, E, B1(tiamina), B2 (riboflavina), niacina, B6 uso de riluzole e alterações mitocondriais. No entanto, a
(piridoxina), B12 (cianocobalamina), biotina e Vitamina K, etiologia relacionada ao gasto respiratório é a mais convin-
cálcio, fósforo, magnésio, ferro, zinco, cobre, manganês e cente, até o presente momento.
iodo. Podemos atribuir influências positivas dessas substân- Baseado nas evidências dos estudos relacionados à dimi-
cias, principalmente das vitaminas do complexo B, no ape- nuição da ingestão alimentar, ao aumento das demandas
tite dos pacientes. Em estudo realizado26 com pacientes pós- metabólicas e às possíveis alterações do estado nutricional dos
cirúrgicos de cirurgia gastrintestinal (médio e grande porte), pacientes com ELA, a vigilância nutricional deve ser, preco-
foi verificada diferença significante na melhora do apetite cemente, incorporada ao tratamento dessa doença. A inter-
dos pacientes que receberam suplemento nutricional, quan- venção nutricional precoce pode minimizar os efeitos deleté-
do comparados ao grupo controle. rios da perda de massa corporal total na evolução da doença.
Um dos fatores que colabora para a aderência e Quanto à antropometria do braço, os resultados desta
envolvimento com o tratamento é o atendimento pesquisa mostraram diferença na dobra cutânea tricipital
interdisciplinar oferecido pelo Setor de Doenças Neuro- (DCT), circunferência do braço (CB), área gordurosa do
musculares da UNIFESP. Esse atendimento, diferencia-se ao braço (AGB), área muscular do braço (AMB) e circunferên-
fornecer orientações preventivas ao paciente e cuidadores, cia muscular do braço (CMB) durante o período estudado,
preparando-os para as implicações que surgirão com a pro- sugerindo que houve alteração de massa corporal, principal-
gressão da doença. O grupo formado por neurologistas, fisi- mente nos pacientes com PBP. Os pacientes com PBP inici-
oterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas, aram o estudo com valores melhores que o grupo com ELA
nutricionistas, psicólogas, enfermeiras, assistentes sociais e e, evolutivamente, pioraram com o tempo. É provável que os
advogados, mobiliza-se, conjuntamente, com o objetivo seis meses de suplementação não tenham sido suficientes
maior de melhorar a qualidade de vida desses indivíduos. para modificar esses parâmetros nos pacientes com ELA. De
O aumento da ingestão protéica foi outro achado dos fato, não se esperava aumento dessas medidas, mas sim que
resultados finais de nosso estudo. Com o acréscimo de suple- elas não piorassem, uma vez que, fornecendo calorias em
mento protéico, esses valores aumentaram ainda mais. Al- quantidades adequadas, estaríamos contribuindo para a di-
guns pacientes chegaram a ingerir dietas hiperprotéicas, com minuição do catabolismo protéico. Esses resultados são seme-
aproximadamente 2,0 gramas de proteina/kg/dia. Apesar de lhantes aos encontrados por Slowie et al.6 quando estudavam
as quantidades moderadamente acima das recomendadas os aspectos nutricionais da ELA.
parecerem não ser prejudiciais aos indivíduos saudáveis, es- Quanto às medidas de porcentagem de água, porcenta-
tudos experimentais demonstraram que ingestões elevadas de gem de gordura corporal e relação entre as massas magra/
proteínas podem acelerar os processos que levam à esclerose gorda, também não foram encontradas diferenças no perío-
glomerular renal. O Food and Nutrition Board (FNB) pre- do estudado. No entanto, no grupo de pacientes com com-
coniza que a ingestão protéica máxima não seja superior ao prometimento bulbar, observa-se leve aumento na porcen-
dobro das recomendações protéicas. tagem de água corporal, indicando que no processo de ma-
A distribuição dos macro e micronutrientes na dieta dos nutenção e/ou repleção nutricional parte do ganho de peso
indivíduos determina o equilíbrio e a qualidade da alimen- é devido ao aumento da água corporal 31.
tação consumida. A alimentação dos pacientes apresentava- Em relação à gordura corporal, verifica-se que na ausên-
se quantitativamente e qualitativamente equilibrada somen- cia de qualquer situação metabólica adversa, a capacidade de
te em relação aos carboidratos (50%-60% do VCT). Apre- recuperação do tecido adiposo, após situação de desnutrição
sentava-se hiperlipídica (25%-35% do VCT) e hiperprotéica leve, ultrapassa os valores encontrados na situação de nutri-
(15%-20 % do VCT), mantendo-se assim durante todo o ção adequada. Também nessa condição, aparentemente a
período do estudo. reposição gordurosa é mais facilmente conseguida pelo orga-
Dentre as medidas antropométricas, o peso corporal é nismo do que a reconstrução da massa corpórea magra. Nos
uma das variáveis importantes. Os resultados do peso corpo- pacientes, se observou diferenças na porcentagem de gordura
ral mostraram que houve diferença significante de seus va- corporal. Os pacientes com PBP apresentaram discreta ten-
lores nos diferentes períodos e entre os grupos acompanha- dência de diminuição (5%). A manutenção da quantidade
dos. No entanto, nota-se tendência de diminuição ponderal de gordura corpórea na ELA pode compensar a perda de
em 70% dos pacientes estudados e aumento em 30%. Os energia consumida pelo tecido muscular 3.
pacientes que apresentaram ganho de peso ingeriram valo- Quanto à relação dos compartimentos corporais, massa
res entre 120% e 160% das recomendações nutricionais. magra e gorda, os resultados desse estudo não mostraram di-
Esses achados vêm de encontro com a literatura, quando ferenças. Analisando-se os resultados obtidos com os méto-
76
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

dos distintos, clínico direto (bioimpedância elétrica), e o mento do estado nutricional precoce, antes do apareci-
outro indireto (cálculo por meio de medidas antro- mento da disfagia. Entretanto, a velocidade do compro-
pométricas), não se nota diferenças. Esses dados são os mes- metimento nutricional é maior nos pacientes com ma-
mos obtidos no estudo de Diaz el al. 32 no qual medidas nifestação clínica sob a forma de PBP, do que nos paci-
antropométricas, por si, já são suficientes para uma análise entes com a forma clássica de ELA.
adequada da composição corporal. Entretanto, a análise de 2. Manutenção da massa magra corporal e o aumento es-
uma variável isolada pode não refletir as reais alterações do pontâneo da ingestão alimentar foram observados com
estado nutricional global do indivíduo. Portanto, para a clas- a utilização do suplemento nutricional.
sificação do estado nutricional dos pacientes estudados, 3. A avaliação e manutenção do estado nutricional devem
optou-se por seguir as recomendações de Blackburn & ser parte integrante do tratamento das DNM/ELA.
Harvey 8.
A média do escore de DPC encontrado no início do
estudo era diferente entre os grupos. Encontrou-se desnutri- Referências bibliográficas
ção em 87,5% dos pacientes com ELA e 50% em pacientes
com PBP. Ao término do estudo, os valores se modificaram 1. Nelson LM, Matkin C, Longstreth, W T, Mcguire V. Population - based
positivamente para o grupo com ELA, quando comparados case - control study of amyotrophic lateral sclerosis in Western Washington
State. II.diet.Am J Epidemiol 2000;151(2): 164-173.
ao grupo com PBP. Dos pacientes que apresentavam desnu- 2. Karsarskis EJ, Neville HE. Management of ALS. Neurology 1996; 47 (2
trição e que permaneceram até o final do estudo, todos evo- Suppl ): S118-S120.
luíram o estado nutricional. Encontrou-se piora do estado 3. Nau KL et al - Individuals with amyotrophic lateral sclerosis are in
nutricional no grupo com PBP. Esses achados dão suporte às caloric balance despite losses in mass. J Neurol Sci 1995;192 (Suppl) : 47-
observações prévias da importância da vigilância nutricional 9.
4. Shimizu T, Hayashi H, Tanabe H. Energy metabolism of ALS patients
nas DNM/ELA, em especial na PBP, feitas por Mazzini et under mechanical ventilation and tube feeding. Clin Neurol 1991;31:
al.17. No entanto, contradizem os achados do estudo de 255-9.
Desport et al.30 quanto à não diferença do comportamento 5. Karsarskis EJ et al. Nutritional status of patients with amyotrophic lateral
nutricional das formas de manifestação clínica ELA e PBP. sclerosis : relation to the proximith of death. Am J Clin Nutr 1996;63 (1):
O índice de massa corpórea (IMC) é a forma mais cita- 130-7.
6. Slowie LA, Paige MS, Antel JP. Nutritional Considerations in the
da nos estudos como medida para classificação do estado management of patients with ALS amyotrophic lateral sclerosis. J Am Diet
nutricional de pacientes com ELA19,2,20,30,6. Neste estudo, Assoc 1983;83 (1) : 44-7.
resultados muito diferentes foram encontrados entre o escore 7. Desport JC et al. Nutrition status is a prognostic factor fou survival in
de DEP e o IMC na classificação do estado nutricional dos ALS patients. Neurology 1999; 53( 5): 1059-63.
pacientes. Enquanto o IMC utiliza apenas a variável peso 8. Blackburn GL & Havey KB. Nutritional assessment as a routine in clinical
medicine. Postgrad Med 1982; 71: 46-63.
corpóreo, o escore de DEP é a somatória de todos os 9. El Escorial revisited: Revised Criteria For The Diagnosis Of ALS. - World
parâmetros antropométricos avaliados, sendo mais sensível Federation of Neurology research group on motor neuron diseases. A
na detecção de discretas modificações no estado nutricional. consensus conference held at Airlie House, Worrenton, 1998; Virginia on
O peso corpóreo, como medida antropométrica isolada, não April 2-4.
demonstrou ser o melhor parâmetro de monitorização do 10. Frisancho A R. New Norms of Upper limb Fat and Muscle Areas for
assessment of Nutritional Status. Am J Clin Nutr 1981;34: Z540-5.
estado nutricional dos pacientes, em vigência da terapia 11. Harris JA, Benedict FGA. Biometric study of basal metabolism in man.
nutricional oral adotada nesse estudo. Washington, DC: Carnegie Institute of Washington, 1919.
Foram observadas diferenças na qualidade de vida dos 12. Vanucchi H, Menezes EW, Campana AO, Lajolo FM. Aplicações das
pacientes, quando analisada pelo questionário ALSAQ-4013. recomendações nutricionais adaptadas à população brasileira. Ribeirão
As limitações quanto à dependência para as atividades da Preto, Editora Legis Suma, 1990.
13. Jenkinson C, Fitzpatrick R, Brennan C, Swash M. Evidence for the
vida diária e inabilidade física se modificaram ao longo do validity and reability of the ALS assessment questionnaire : The ALSAQ-
estudo para 10% dos pacientes. O mesmo foi observado 40. ALS and motor neuron disorders 1999;1:33 –40.
quanto ao grau de disfagia e dificuldade de alimentação. Essa 14. Dietrich FN, Callegaro D, Tosta ED, Silva HA, Ferraz ME, Lima JMB,
alteração, presente em apenas dois pacientes com PBP, não Oliveira ASB. Amyotrophic lateral sclerosis in Brazil. Arq Neuropsiquiatr
foi representativa para modificar os resultados. Notou-se que 2000;58 (3-A): 607-615.
15. Hubbard RW, Will AD, Peterson MD, Sanchez A, Gillan WW, Tan SA.
os pacientes sensibilizavam-se durante as perguntas, princi- Elevated plasma glucacon in amyotrophic lateral sclerosis. Neurology 1992;
palmente, nas relacionadas às expectativas para o futuro, 42: 1532-1534.
reforçando a necessidade de acompanhamento dos estados 16. Lisbeth MH, Mathus V, Louwerse LS, Merkus MP, Tytgat GNJ,Vianney de
depressivos, que aparecem durante a evolução das doenças Jong JMB. Percutaneous endoscopic gastrostomy in patients with
degenerativas. Os resultados deste estudo são de importân- amyotrophic lateral sclerosis and impaired pulmonary function.
Gastrointest Endosc 1994;40: 463-9.
cia fundamental para melhor compreensão do comprometi- 17. Mazzini L, Corra T, Zaccala M, Mora G, Del Piano M, Galante M.
mento nutricional presente na Doença do Neurônio Motor. Percutaneous endoscopic gastrostomy and enteral nutrition in amyotrophic
lateral sclerosis. J Neurol 1995;242: 695-698.
Conclusões 18. Chio A et al. Safety and factors related to survival after percutaneous
endoscopic gastrostomy in ALS. Neurology 1999;53 (5):1123-5.
19. Silani V, Karsarskis EJ; Yanagisawa N. Nutritional management in
Nas condições do presente estudo, pode-se concluir que: amyotrophic lateral sclerosis: a worldwide perspective. J Neurol 1998;
1. Os pacientes com DNM/ELA apresentam comprometi- 243 (2 Suppl):S 13 -9.
77
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):70-78

20. Ertekin C, Aydogdu I, Yuceyar N, Kiylioglu N, Tarlaci S, Ulugad B. the elderly on nutritional status: food intake, biochemical indices, and
Pathophysiological mechanisms of oropharyngeal dysphagia in amyotrophic anthropometric measures. Physiol Behav 1993;53:395-402.
lateral sclerosis. Brain 2000;123: 125 –140. 27. Borasio DG, Voltz R. Palliative care in amyotrophic lateral sclerosis. J
21.Albert SM, Murphy PL, Del Bene M, Rowland LP, Mitsumoto H. Incidence Neurol 1997; 244 (4 Suppl ) : S11- S17.
and predictors of PEG placement in ALS/MND. J Neur Sci 2001;191: 115- 28. Unosson M, Larsson J, Ek AC. Effects of dietary supplements on
119. functional condition and clinical outcome measured with a modified
22. Chiappetta ALML & Oda AL. A atuação da fonoaudiologia em doenças Norton scale. Clin Nutr 1992;11:134-9.
neuromusculares. In: Hernandez AM & Marchesan, IQ. Atuação 29. Burns A, Marsh A, Bender DA. Dietar y intake and clinical,
fonoadiológica no ambiente hospitalar. Editora Revinter 2001 :101-108. anthropometric and biochemical indices of malnutrition in elderly
23. Brooks BR. Natural history of ALS : Symptoms, strength, pulmonary demented patients and non-demented subjects. Psychol Med 1989; 19:
function and disability. Neurology 1996;47 ( 2 Suppl ): S71- S82. 383-91.
24.Miller RG, Rosenberg JA, Gelinas DF, Mitsumoto H, Newman D, Sufit R, 30. Desport JC, Preux MP, Magy L, Boire Y,Vallat JM, Beaufrére B, Couratier
Borasio, GD, Bradley WG, Bromberg MB, Brooks BR, Karsarskis EJ, Munsat P. Factors correlated with hypermetabolism in patient with amyotrophic
TL, Oppenheimer EA. Practice parameter: The care of the patient with lateral sclerosis. Am J Clin Nutr 2001;74: 328-34.
amyotrophic lateral sclerosis (an evidence – based review). Neurology 31. Waitzberg DL, Gonçalves EL, Bevilacqua LR, Cologni AM, Rocha CL,
1999; 52: 1311-1323. Goffi FS. Resposta da composição corpórea à desnutrição e repleção
25. Printchard J, Swingler RJ. Motor neuron disease - A review. Scot Med nutricional experimental. Acta Cir Bras 1989;4(2): 61-8.
J 2000;45:3-4. 32. Diaz EO, Villar J, Immink, M, Gonzales, T. Bioimpedance or
26. Schiffman SS, Warwick ZS. Effect of flavour enhancement of foods for anthropometry?. Eur J Clin Nutr 1989;43: 128-137.

78
A RT I G O D E R E V I S Ã O

Alterações do estado nutricional e dietoterapia na infecção por HIV


Nutritional status alterations and diet therapy in the HIV infection
Alteraciones del estado nutricional y dietoterapia en la infección por VIH

Viviane Ozores Polacow1, Fernanda Baeza Scagliusi2, Laura de Souza Marques Furtado3, Mario Luiz Carré4,
Gabriela Machado Pereira5, Camila Giovanini Avileis6, Daniel Guidin7, Sonia Buongermino de Souza8, Maria de
Fátima Nunes Marucci9

Resumo Abstract
Atualmente, a sobrevida de indivíduos portadores do HIV tende Nowadays, the lifespan of HIV infected individuals tends to
a ser cada vez maior, devido aos avanços da terapia anti-retroviral. increase, due to the outcome of antiretroviral therapy. However,
No entanto, inúmeras alterações do metabolismo e do estado many alterations in their metabolism and nutritional status can
nutricional podem afetar a qualidade de vida desses pacientes. affect their life quality. One of the most common health
Uma das implicações mais comuns para a saúde é a desnutrição implications is malnutrition and consequent lack of nutrients,
e a conseqüente deficiência de nutrientes, causadas por aumento caused by increase of energy expenditure, opportunist infections,
do gasto energético, infecções oportunistas, má absorção e pela malabsorption and multifactorial decrease of food intake. This
diminuição multifatorial da ingestão alimentar. Este artigo de re- review is about the alterations of nutritional status suffered by
visão trata das alterações do estado nutricional sofridas por paci- AIDS patients and the importance of adequate nutritional therapy
entes com AIDS e da importância da adequada terapia nutricional for their prevention and correction. The role of diet therapy is also
na sua prevenção e correção. Ressalta-se também o papel da important for the reduction of undesirable side effects of
dietoterapia na redução dos efeitos colaterais indesejáveis decorren- antiretroviral medication and of symptoms of opportunists
tes do uso de medicamentos anti-retroviral e dos sintomas de in- infections, thus avoiding malnutrition and promoting health. (Rev
fecções oportunistas, evitando a desnutrição e promovendo a saú- Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85)
de. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85) KEY WORDS: Acquired Inmunodeficiency Syndrome, HIV, diet
UNITERMOS: Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, HIV, therapy, nutritional status.
dietoterapia, estado nutricional

Resumen
En la actualidad, el tiempo de vida que queda en los individuos portadores de HIV tiende a ser cada vez mayor, decurrencia de los avances
de la terapia anti-retroviral. Sin embargo, innumerables alteraciones del metabolismo y el estado nutricional pueden afectar la calidad
de vida de estos pacientes. Una de las implicaciones más comunes es la destrucción y la consecuente deficiencia de nutrientes, causadas
por aumento del gasto energético, infecciones oportunistas, mala absorción y por los multiples factores que ocasionam la disminución
de la ingestión alimenticia. Esta revisión trata de las alteraciones del estado nutricional sufridas por pacientes con SIDA y de la importancia
de la adecuada aplicación de la terapia dietetica en su prevención y corrección. Resaltase también el papel de esta en la reducción de los
efectos colaterales indeseables ocasionados por el uso de medicamentos anti-retrovirales y de los síntomas de infecciones oportunistas,
evitando de esta forma la desnutrición y promoviendo asi la salud. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85)
UNITÉRMINOS: Sindrome de Inmunodeficiencia Adquirida, HIV, dietoterapia, estado nutricional.

1. Nutricionista - Bolsista de Mestrado FAPESP; 2. Nutricionista - Bolsista de Mestrado CAPES; 3. Nutricionista; 4. Nutricionista; 5. Nutricionista; 6. Nutricionista; 7. Nutricionista;
8. Professora Doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP); 9. Professora Doutora do Departamen-
to de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP)
Endereço para correspondência: Nutr. Viviane Ozores Polacow Laboratório de Nutrição e Metabolismo Aplicado à Atividade Motora, Departamento de Biodinâmica do
Movimento do Corpo Humano, Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo. Av. Prof. Mello Moraes, 65.-São Paulo-SP. CEP 05508-900, T. (11) 3091-
3096, Fax: (11) 38135921 e-mail: vpolacow@usp.br
Submissão: 6 de maio de 2003
Aceito para publicação: 11 de fevereiro de 2004

79
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

Introdução seu material genético no DNA de células-alvo hospedeiras,


principalmente linfócitos CD4, células de defesa do sistema
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para imunológico humano, destruindo-as após ampla replicação
a AIDS1, em outubro de 2000, estimava-se em 43.728.703 o em seu interior2. Esta replicação do vírus provoca a morte das
número de pessoas em todo o mundo vivendo com o vírus células-alvo, causando imunodeficiência e predispondo os
HIV em estágio assintomático ou já sofrendo as conseqüên- indivíduos com HIV a inúmeras infecções oportunistas2.
cias clínicas da infecção. Este número, provavelmente, é Estas são causadas pelos mais diferentes tipos de patógenos
subestimado, uma vez que países em desenvolvimento geral- (vírus, fungos, bactérias e protozoários) e afetam diversos
mente não possuem sistema de notificação adequado. sistemas orgânicos.
No Brasil, até maio de 1999, 163.355 casos da doença O sistema pulmonar é freqüentemente afetado por pneu-
foram notificados, totalizando uma incidência de 113/ monias resistentes à medicação, cujo agente mais comum é
100.000 habitantes1. Somente em 1999, 18 mil adultos e o fungo Pneumocystis carinii. Como conseqüência de infec-
crianças morreram de AIDS2. ções, o paciente pode sofrer dispnéia, hipoxemia e dores
Embora, no país, a epidemia tenha se iniciado nos gran- torácicas 5 . A infecção pela bactéria Mycobacterium
des centros urbanos, acometendo, principalmente, homos- tuberculosis causa um quadro de tuberculose de difícil trata-
sexuais e bissexuais (71% dos infectados, em 1984, segundo mento2.
o Ministério da Saúde3, diminuindo para 22% em 2000), O sistema nervoso central (SNC) pode apresentar abs-
hemofílicos e usuários de drogas injetáveis, ela disseminou- cessos cerebrais pelo protozoário Toxoplasma gondii, menin-
se, atingindo regiões antes pouco ou nunca afetadas e grupos gite criptocócica, infecção pelas bactérias Mycobacterium
cada vez mais diversos1. avium e Mycobacterium intracellulare, complicações
Vem ocorrendo o aumento proporcional de casos por via vasculares, tumores, encefalite, entre outros. A
heterossexual, o que elevou expressivamente a participação leucoencefalopatia progressiva multifocal provoca confusão
da mulher no perfil epidemiológico da doença. Em 1985, a mental, perda de memória, distúrbios da locomoção e incon-
relação era de 24 homens infectados para cada mulher; em tinência urinária6.
1999/2000, esta relação passou a ser de 2 para 1. Como con- A encefalopatia causada pela AIDS, também chamada
seqüência, pode-se observar crescimento da transmissão de demência da AIDS, ocorre devido à invasão do sistema
vertical do vírus, ou seja, da mãe soropositiva para seu filho3. nervoso central pelo HIV6. Esta infecção dá origem a altera-
No Brasil, desde o início da epidemia, o grupo etário ções cognitivas, motoras e comportamentais; as quais podem
mais atingido, em ambos os sexos, tem sido o de 20 a 39 anos, variar de leves prejuízos à função cerebral até a demência.
que corresponde a 70% dos casos de AIDS notificados até 26 Também são extremamente comuns a depressão, a psicose e
de fevereiro de 20003 . o delírio7.
Observa-se também, desde 1995, crescente aumento no A mielopatia vacuolar, que atinge a espinha dorsal, é
tempo de sobrevida dos portadores de HIV, assim como a uma complicação neurológica comum, afetando de 20% a
queda nas taxas de morbidade e mortalidade. Esta data co- 55% dos pacientes. Ela tem manifestação tardia no curso da
incide com o início da distribuição universal e gratuita dos doença, com progressão lenta de sintomas como fraqueza nas
medicamentos anti-retrovirais pelo Ministério da Saúde. A extremidades inferiores, dificuldades para caminhar, anorma-
Terapia Anti-retroviral Altamente Ativa (do inglês: lidades sensoriais nas pernas, impotência no homem e incon-
HAART-Highly Active Antiretroviral Therapy), que associa tinência urinária, levando, invariavelmente, à paralisia to-
medicamentos inibidores da transcriptase reversa e tal na parte do corpo situada abaixo da cintura6,8.
inibidores de protease (IP), permitiu a diminuição da inci- O trato gastrointestinal é um dos mais afetados pelas in-
dência de infecções oportunistas, da carga viral e fecções oportunistas, que provocam diarréias crônicas e
minimização da Wasting Syndrome (Síndrome Consumptiva) síndrome de má absorção. As infecções por Mycobacterium
associada ao HIV. No entanto, o uso do “coquetel” anti-HIV avium e Mycobacterium intracellulare são bastante comuns,
trouxe efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, diarréia, causando diarréia, redução de peso, dores abdominais, febre e
anorexia, diabetes melito, lipodistrofia, entre outros4. sudorese noturna, alguns dos sintomas típicos da AIDS2.
Tendo em vista que, atualmente, a sobrevida dos paci- Outros agentes bacterianos que afetam este sistema são:
entes com HIV tende a ser maior, é necessário que se conhe- Salmonella typhimurium, Staphyloccocus aureus, Listeria
çam as possíveis alterações no metabolismo e no estado monocytogenes etc. Infecções por protozoários comuns são:
nutricional, buscando alternativas no campo da dietoterapia, Giardia lamblia, Cryptosporidium sp, Isospora belli, Plasmodium
a fim de minimizar os efeitos colaterais indesejáveis, decor- falciparum, entre outros5.O vírus citomegalovirus (CMV) tam-
rentes da terapia anti-retroviral e os sintomas de infecções bém pode causar graves infecções no aparelho digestório2.
oportunistas, evitando a desnutrição e promovendo a saúde A enteropatia da AIDS é caracterizada por diarréia crô-
e a qualidade de vida. nica, que persiste mesmo na ausência de patógenos
identificáveis, e mudanças histológicas do epitélio intestinal,
Fisiopatologia tais como atrofia das vilosidades e infiltração da lâmina pró-
pria por células inflamatórias6.
A AIDS (Adquired Immunodeficiency Syndrome) é causa- O fígado e o trato biliar costumam ser afetados por infec-
da pelo vírus HIV (Human Immunodefiency Virus), que insere ções oportunistas e a co-infecção com vírus das hepatites B
80
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

e C é particularmente freqüente devido à via comum de ticas conseqüências. Estima-se que 50% a 90% dos
transmissão destes vírus e do HIV9. soropositivos sejam desnutridos. Na África sub-Saariana, por
Afecções de pele e mucosas são freqüentes. O Sarcoma exemplo, 25% das crianças desnutridas possuem o vírus da
de Kaposi é um tipo de câncer de pele bastante comum na AIDS 16.
AIDS, causado pela infecção do vírus humano da herpes A desnutrição e suas complicações podem tornar o in-
número 8 (HHV8 ou KSHV). Na forma clássica, sua locali- divíduo soropositivo mais suscetível a infecções oportunis-
zação dá-se nas extremidades e há boa resposta terapêutica. tas e reduzir a eficácia dos medicamentos. Desde o apareci-
Entretanto, em pacientes com AIDS, as lesões, que se apre- mento das terapias anti-retrovirais, a desnutrição, a
sentam como manchas púrpuras, são mais agressivas, atingin- lipodistrofia, o aumento da concentração de lipídios
do glânglios, vísceras e mucosas, e com respostas variáveis aos sangüíneos e o risco adicional de doenças crônicas tornaram-
quimioterápicos ou à radioterapia5. Este vírus também pode se as maiores complicações da AIDS 17.
afetar órgãos internos, como pulmões, intestino, fígado e Praticamente todos os pacientes com AIDS são acome-
baço, podendo levar a hemorragias fatais2. O Sarcoma de tidos pela perda de peso 18 . A síndrome consumptiva
Kaposi também pode ser responsável por obstrução intesti- (“wasting syndrome”) pode ser definida como a redução
nal6. Outros tipos de câncer, como linfomas não-Hodgkins, involuntária de 10% ou mais do peso corporal habitual,
que atingem células B, também podem ter origem viral. Este acompanhada de diarréia e/ou febre e/ou fraqueza crônica14.
é o segundo tipo de tumor mais freqüente em pacientes com Os pacientes sofrem grande redução de massa magra, dimi-
AIDS10. nuição de todos os compartimentos corporais e depleção da
Infecções por fungos do gênero Candida, causando massa celular19,20,21. Quando a massa magra atinge 54% do seu
candidíase oral e vaginal também são bastante comuns, apre- valor habitual, a morte do paciente é inevitável14.
sentando-se como placas esbranquiçadas na mucosa2. A etiologia da desnutrição associada à AIDS é
A visão também pode ser afetada. O citomegalovírus multifatorial, podendo ocorrer devido às mudanças no gas-
(CMV) causa inflamação na retina e é a causa mais freqüente to energético, na absorção de nutrientes e na ingestão ali-
de cegueira em pacientes com AIDS11. mentar19. Sabe-se que, nos estágios iniciais da doença, há
Doença renal, como a insuficiência renal aguda, pode ter aumento da taxa de metabolismo basal e da oxidação de
origem na sepse (comum em pacientes com AIDS) ou no uso lipídios21. Além disso, diversas condições associadas à AIDS,
de drogas nefrotóxicas. Pode ocorrer também insuficiência como febre e infecções, elevam o gasto energético18. A má
renal progressiva, também chamada de nefropatia associada absorção, resultante de infecções oportunistas no trato
ao HIV6. gastrointestinal (como as causadas por Salmonella, Giardia
Outras complicações comuns na infecção por HIV são: lambia, micobactérias) ou da ação direta do HIV, agravam o
cardiomiopatia, pneumonite intersticial linfóide, nefropatia, quadro 6,20. Além disso, a desnutrição compromete a integri-
neuropatia periférica, miopatia, púrpura trombocitopênica dade da mucosa intestinal, o que exarceba a má absorção. Os
idiopática, anemia, neutropenia, linfoma, dermatite medicamentos usados contra a infecção por HIV também
seborréica, estomatites aftóides, gengivite, periodontite, podem interferir na absorção e utilização dos nutrientes22,
entre outras12. além de, geralmente, provocarem efeitos colaterais que afe-
A desnutrição protéico-energética, de origem tam a nutrição adequada4. A ingestão alimentar pode estar
multifatorial, é conseqüência marcante da doença. Ela ocorre diminuída por uma série de fatores como: pouca disponibi-
devido à diminuição da ingestão alimentar, disfagia, vômitos, lidade de alimentos, devido a condições econômicas precá-
doença neurológica, distúrbios da boca e esôfago, infecções rias18, anorexia6,20, fadiga (indivíduo não consegue comprar
locais e sistêmicas (que aumentam as necessidades nem preparar os alimentos)22, náuseas e vômitos6,18, afecções
energéticas), neoplasias e má-absorção6,13. da boca e do esôfago que causam dor durante a mastigação
e a deglutição (lesões provocadas pelo Herpes simplex,
Fatores associados ao estado nutricional e Sarcoma de Karposi, inflamação ou infecção da gengiva e dos
à ingestão alimentar. dentes) 6,18, dispnéia6, doenças neurológicas6, depressão ou
ansiedade18.
O estado nutricional e a ingestão alimentar inadequados O paciente com HIV/AIDS pode, ainda, sofrer o aumen-
desempenham importantes papéis no desenvolvimento da to de triglicérides e colesterol sangüíneos, nas frações LDL e
AIDS. Embora a área muscular do braço e o peso corporal VLDL, mas não no HDL-colesterol4. Este aumento está,
(indicadores do estado nutricional) apresentem correlação muitas vezes, associado ao uso de inibidores de protease.
positiva com a contagem de CD4, tem-se que o estado Também são relatadas deficiências de zinco, ferro,
nutricional influencia a sobrevida independentemente des- selênio, folato, vitaminas A, B12 e B622. Elas podem ser cau-
ta contagem14. Além disso, sabe-se que a alimentação não só sadas pelas diarréias crônicas. As infecções no intestino del-
afeta a saúde como um todo, mas também a qualidade de vida gado provocam má absorção de B12 , folato e minerais, en-
e a resposta ao tratamento15. quanto que as infecções do intestino grosso diminuem a
Nos últimos anos, o surgimento de novas e eficazes te- absorção de líquidos e eletrólitos6. Existe a hipótese de que
rapias contra a AIDS possibilitou mudanças no prognóstico a deficiência de zinco e selênio contribua para a piora do
e na sobrevida de muitos pacientes. Entretanto, a desnutri- sistema imune e para a progressão da doença22. Koch et al.23,
ção associada à AIDS continua com alta prevalência e drás- pesquisando pacientes com AIDS hospitalizados, constata-
81
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

ram maior incidência de infecções bacterianas nos pacientes A ingestão adequada de carboidratos é fundamental para
com deficiência de zinco do que naqueles com concentrações “poupar” as proteínas. O consumo destes nutrientes deve
normais. A deficiência de B12, por sua vez, parece estar asso- contribuir com 50% a 60% do valor energético total6.
ciada com as disfunções cognitivas sofridas pelos pacientes A suplementação de vitaminas e minerais é necessária,
com AIDS22. Coodley et al.24 citam, ainda, deficiências de porém não em megadoses6,18,22. A via preferencial de admi-
vitaminas C e E em pacientes com AIDS. Sabe-se, inclusi- nistração é a oral, pois as injeções são caras, dolorosas e
ve, que algumas lesões orais apresentadas pelos doentes são podem provocar abcessos. As gestantes soropositivas devem
causadas por deficiência da vitamina C18. receber suplementação extra de ferro e folato18. As doses
Além destas seqüelas, as possíveis afecções no fígado ideais para os portadores do HIV, entretanto, não são consen-
(devido à hepatite B e às infecções por citomegalovírus, so na literatura. Muma et al.14 defendem que, para pacientes
criptosporídeo e micobactérias) e a insuficiência renal pro- assintomáticos, o ideal seria uma dose diária correspondendo
gressiva (nefropatia associada ao HIV) interferem no estado a 100% das Recommended Dietary Allowances 27, enquanto que
nutricional 6. para pacientes sintomáticos o ideal seria, no mínimo, o tri-
Apesar de todas as complicações citadas anteriormente, plo desta dose.
o estado nutricional dos pacientes pode ser melhorado e isto Os pacientes com AIDS devem consumir pequenas
resulta em menos infecções secundárias e internações, me- quantidades de alimentos freqüentemente. Alimentos que
lhor prognóstico e menores custos19. Esta melhoria pode ser podem ser ingeridos com o auxílio das mãos são mais interes-
alcançada com condutas dietoterápicas apropriadas. Assim, santes para os indivíduos mais fracos e debilitados, devido à
deve-se levar em conta os objetivos da dietoterapia e as ca- sua dificuldade de manusear talheres18.
racterísticas da dieta. Fahey & Flemming22 apresentam algumas sugestões para
aumentar o valor energético e protéico da dieta, visando à
Objetivos da dietoterapia recuperação do peso:
• enriquecer bebidas, cereais, sobremesas (frutas, doces
Segundo Coppini & Ferrini4, Eldrige et al.6 e Fahey & concentrados, pudins) e sopas com leite fluido ou em pó,
Flemming22, os objetivos da dietoterapia em relação a pacien- queijos, gelatinas, mel, açúcar, margarina;
tes com AIDS devem ser: • adicionar óleo vegetal às preparações salgadas e saladas;
• preservar a massa magra; • em preparações líqüidas, como sucos de frutas e sopas,
• evitar a desnutrição e recuperar o estado nutricional substituir a água pelo leite;
adequado; • se a gordura não for bem tolerada, consumir suplemen-
• fornecer quantidades adequadas de nutrientes, evitando tos e alimentos ricos em carboidratos e proteínas, mas
deficiências ou excessos comprometedores da função não em lipídios (exemplos: pudins e suflês feitos com
imunológica; leite desnatado, carnes magras, peito de frango, peixes,
• reduzir as complicações e sintomas de infecções oportu- ovos cozidos, cereais);
nistas e de efeitos colaterais de drogas que interfiram na • se o leite não for bem aceito, substituí-lo por uma mis-
ingestão e absorção de nutrientes; tura de leite de soja com mel ou açúcar e óleo vegetal e
• promover melhor qualidade de vida. fornecer outras fontes de cálcio, como queijos.

Características da dieta Fatores que influenciam a ingestão


alimentar e como tratá-los
A necessidade energética pode ser determinada pelo
cálculo da taxa metabólica basal, que pode ser feito pela Muitas das complicações da AIDS ou efeitos colaterais
equação de Harris-Benedict25, acrescentando-se o fator de dos medicamentos anti-retrovirais afetam a ingestão alimen-
injúria (1,3 a 1,7) e o fator térmico, de acordo com a tempe- tar, de tal forma que se deve adotar condutas específicas para
ratura do paciente. Dieta fornecendo de 2200 a 2800 calo- cada uma delas, conforme descrito a seguir.
rias pode ser considerada uma meta realista 6. Segundo
Coppini & Ferrini4, para pacientes assintomáticos, recomen- Diarréia
dam-se 25 a 30 kcal/kg de peso atual por dia e, para pacien- • Preferir alimentos de consistência branda18.
tes sintomáticos, de 35 a 40 kcal/ kg de peso atual por dia. • Beber muito líquido, sob a forma de sucos, sopas, bebi-
A ingestão de proteínas deve ser de 0,8 a 1 g/kg de peso das isotônicas e soro caseiro (para repor sódio e potássio).
adequado/dia quando não existir necessidade de ganho de A cada evacuação, ingerir, no mínimo 200 ml, de líqui-
peso. Se houver esta necessidade (o que é mais freqüente), do6,18,22.
esta recomendação aumenta para 1 a 1,2 g/kg de peso ade- • Realizar de cinco a seis refeições por dia4,6.
quado/dia22. • Aumentar a ingestão de alimentos ricos em fibras solú-
O consumo de lipídios não deve ser restringido, exceto veis (aveia, frutas com casca, inhame, mandioca)22 e
quando há esteatorréia. Neste caso, a dieta deve ser evitar alimentos ricos em fibras insolúveis (cereais inte-
suplementada com triglicerídeos de cadeia média (TCM)6. grais, milho, verduras e legumes com casca)4.
Alguns autores sugerem o uso concomitante de TCM e óleos • Preferir alimentos com fibras abrandadas, como horta-
de peixe, que podem melhorar a função imune dos doentes26. liças sem casca e cozidas.
82
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

• Evitar alimentos ricos em lactose4,6,22. Substituir o leite • aumentar o valor energético-protéico das refeições,
convencional pelo com baixo teor de lactose4. enriquecendo mingaus, vitaminas, caldos e sopas com
• Todos os alimentos devem ser bem higienizados, cozidos leite, leite em pó, óleos vegetais, margarina, mel, creme
e cortados em pequenos pedaços18. de leite ou leite condensado, conforme se aplique;
• Evitar frutas cítricas, cafeína (café, chá, refrigerantes do • tomar medicamentos com sucos ou leite (quando possí-
tipo cola e chocolate), bebidas alcoólicas, alimentos for- vel).
madores de gases (feijão, vagem, cebola, ovo cozido,
milho, lentilha, brócolis, repolho), alimentos gorduro- Afecções neurológicas
sos (carnes com muita gordura, lingüiça, queijos gordos Como estas diminuem a percepção sensorial, ao masti-
etc), excesso de açúcar, pimenta6,22. gar o risco de aspiração é maior. Além do trabalho com
• Preferir carnes com pouca gordura e brancas (ave e pei- terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e
xe), preparadas grelhadas ou assadas4. enfermeiros, é importante que alguém auxilie o paciente
• Se necessário, suplementar com TCM6. durante sua alimentação6. A consistência dos alimentos deve
• Depois de cessada a diarréia, administrar uma refeição ser pastosa ou líqüida22.
extra por dia para alcançar o peso adequado18.
Nefropatia associada à AIDS
Náuseas e vômitos • Reduzir o consumo de proteínas, cuidando, no entanto,
• Durante a crise não ingerir alimentos. Gradualmente, para não agravar o quadro de desnutrição6. A dieta deve
começar a beber água a temperatura ambiente, soro ca- manter as diretrizes de uma dieta para nefropatas.
seiro ou chás bem diluídos. Conforme a náusea e o vô-
mito forem cessando, o indivíduo pode voltar a se ali- Segurança alimentar
mentar normalmente, iniciando a realimentação com
pequenas quantidades de arroz, pão ou mandioca18. Um ponto muito importante quanto à alimentação para
• Comer devagar, mastigando bem4,22. portadores do HIV é a questão da segurança alimentar. Como
• Evitar excesso de açúcar, gordura e temperos22. estes indivíduos apresentam seu sistema imune debilitado,
• Preferir alimentos frios ou em temperatura ambiente22. eles apresentam infecções alimentares mais freqüentes, seve-
• Preferir alimentos macios (purês, massas bem cozidas, ras e duradouras do que os indivíduos normais. Para evitá-las,
arroz)22. sugere-se uma série de precauções.
• Preferir alimentos salgados e secos4.
• Evitar excesso de líqüidos durante as refeições22. Durante a compra de alimentos
• Evitar deitar após se alimentar22. • Colocar primeiro, no carrinho, os alimentos que não
precisam de refrigeração (enlatados, cereais, leite longa-
Afecções da boca e do esôfago vida, frutas) e, por último, os que necessitam de refrige-
• Para aliviar a xerostomia, consumir alimentos úmidos ou ração (carnes, alimentos congelados, iogurte)22.
com molhos e caldos e beber muito líqüido durante (caso • Conferir sempre a data de validade e verificar o prazo em
não haja náusea) e entre as refeições (um “canudinho” que será consumido o alimento22,29.
pode ajudar bastante)6,22. • Conferir se a embalagem e o lacre de proteção estão
• Preferir alimentos macios e não-irritantes da mucosa, intactos22.
como sopas cremosas, pudins, sorvetes, peixes assados, • Comprar apenas frutas e hortaliças íntegras22.
frutas cozidas. “Molhar” pães e bolachas no chá, no lei- • Não comprar alimentos cujas latas estejam amassadas ou
te, no café com leite ou na sopa6,22. danificadas29.
• Preferir alimentos em temperatura ambiente ou frios,
porém não muito gelados6,28. Durante o armazenamento
• Evitar alimentos fritos, duros (exemplos: hortaliças cru- • Armazenar primeiro os alimentos que necessitam refri-
as, oleaginosas), picantes (alimentos muito apimentados geração22 .
ou muito temperados), ácidos (frutas cítricas) e aqueles • Embrulhar os alimentos crus (hortaliças, frutas) duas
que grudam no pálato (como pão de forma) 22,28. vezes em papel filme ou acondicionar em saco plástico
• Manter a cabeça levemente inclinada para trás para fa- e mantê-los na parte mais baixa do refrigerador (para que
vorecer a deglutição22. não escorra líqüido e contamine outro alimento, e onde
• Manter boa higiene oral. Se escovar os dentes for dolo- a temperatura é mais baixa)22.
roso, usar um cotonete ou pedaço de pano22. • Quando for congelar ou refrigerar algum alimento, colo-
car em um recipiente e etiquetar com a data de preparo22.
Inapetência • Não congelar alimentos que já foram descongelados22.
Segundo Coppini & Ferrini4, para minimizar a falta de • Não deixar alimentos perecíveis em temperatura ambi-
apetite e suas complicações, recomenda-se: ente por mais de duas horas22.
• ingerir mais alimentos no período da manhã, quando,
geralmente, o apetite está aumentado; Durante o preparo de alimentos
• realizar de cinco a seis refeições diárias; • Não descongelar alimentos em temperatura ambiente e,
83
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

sim, no refrigerador ou no microondas. Após desconge- ente para recuperar pacientes com desnutrição grave, além
lar, cozinhar e servir imediatamente22,29. de ser particularmente útil para casos de má absorção e diges-
• Usar apenas leite e derivados pasteurizados ou esteriliza- tão comprometida por diarréias severas, ao fornecer fórmu-
dos29. las contendo TCM e peptídios4. Pode-se, ainda, utilizar fór-
• Manter todos os utensílios e equipamentos (liqüidifica- mulas que possuem nutrientes imunomoduladores, como
dor, centrífuga) limpos e secos22. arginina, glutamina, ômega-3, vitaminas antioxidantes,
• Lavar as mãos freqüentemente22. taurina e nucleotídeos4,31. Seu uso tem proporcionado au-
• As frutas e hortaliças devem ser lavadas antes e após mento da resposta imunológica e redução na perda de mas-
terem sido descascadas22. sa magra em pacientes com AIDS4.

Durante a ingestão de alimentos Terapia nutricional parenteral


• Não comer alimentos de origem animal, tais como car-
nes, peixes, ovos ou frutos do mar crus ou pouco cozidos A nutrição parenteral é uma escolha apropriada quan-
(Exemplos: kibe cru, maionese caseira, ostras ou maris- do pacientes apresentam falhas em seu trato gastrointestinal,
cos crus) 22, 29. como: obstrução intestinal devido ao sarcoma de Kaposi ou
• Preferir frutas e hortaliças cozidas, especialmente quando a linfomas; diarréias severas como as causadas por
sua procedência for duvidosa22. criptosporídios, citomegalovírus ou infecções por
• Não consumir alimentos que ficaram sem refrigeração Mycobacterium avium-intracellulare. Além destes casos, é
por muito tempo (exemplos: alimentos vendidos na rua indicada para pacientes com vômitos recorrentes, de origem
ou oferecidos em piqueniques) 22. iatrogênica ou causados por doença do sistema nervoso cen-
• Não comer alimentos com partes não íntegras ou mofa- tral, candidíase esofagiana, criptosporidiose da vesícula biliar
das29. e por uso medicamentos. Também é indicada para aqueles
• Em caso de dúvida quanto à qualidade microbiológica de que não se beneficiam do suporte enteral30, 32. Para pacientes
algum alimento, recomenda-se não ingeri-lo29. com demência ou que usam medicamentos por via
endovenosa, assim como para pacientes com doença termi-
Durante viagens nal, a qual não pode ser alterada pelo suporte nutricional, a
• Evitar cubos de gelo29. nutrição parenteral é contra-indicada31.
• Ingerir bebidas somente de garrafas fechadas29. Deve ser levado em consideração o risco de infecções
• Evitar produtos lácteos não-pasteurizados (geralmente relacionado aos catéteres usados na nutrição parenteral em
os de produção caseira)29. pacientes imunocomprometidos. Outro risco deste tipo de
• Consumir alimentos bem cozidos, quando ainda estive- suporte nutricional é a atrofia do trato digestório causada por
rem quentes29. seu uso prolongado28,30. A nutrição parenteral periférica é
• Evitar certos alimentos ou preparações mais propensos apropriada por períodos curtos ( sete a dez dias) .
à deterioração: peixes, maionese, preparações frias ou
servidas em “buffets, patês, “comidas de rua”29. Considerações finais
Terapia nutricional enteral A correta utilização da terapia nutricional em pacientes
com HIV/AIDS pode recuperar pacientes com desnutrição
Como já foi mencionado, pacientes com AIDS geral- e prevenir a deficiência de nutrientes específicos, decorren-
mente apresentam ingestão alimentar diminuída, de causa tes da diminuída ingestão alimentar ou do estado metabóli-
multifatorial. Apesar de existirem várias alternativas para se co alterado. A utilização de conceitos básicos de dietoterapia
tentar adequar o consumo de alimentos, muitas vezes estes são de grande valia na promoção da qualidade de vida des-
esforços falham, fazendo-se necessário, então, o uso de tera- tes pacientes e melhora do estado geral de saúde. Além dis-
pia nutricional enteral30, cuja indicação costuma adotar as so, há redução da morbidade e mortalidade, do número e
mesmas regras de qualquer outra doença4. Ela tem sido efici- duração de internações hospitalares e seus custos.

Referências bibliográficas
1.Organização das Nações Unidas para a AIDS (UNAids). A Resposta 6.Eldrige RD, Neary C, Furrer S. Cuidados nutricionais na AIDS. In: Mahan
Brasileira ao HIV/AIDS: Experiências Exemplares.1a ed. Brasília: Ministério LK, Escott-Stump S. Krause, Alimentos e Dietoterapia. 8ª edição. São Paulo:
da Saúde;1999 Roca, 1995. p. 683-93.
2. Soares M. O que é a AIDS. In: A AIDS. São Paulo: Publifolha; 2001. 7. Rausch DM, Stover ES. Neuroscience research in AIDS. Prog
3. Ministério da Saúde, Brasil. Implantação da vigilância de Gestantes HIV+ Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry 2001;25:231-57.
e crianças expostas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 8.Di Rocco A, Simpson DM. AIDS-associated vacuolar myelopathy. AIDS
4. Coppini LZ, Ferrini MT. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Patient Care STDS 1998; 12(6):457-61.
In: Cuppari L (org.). Guia de Nutrição - Nutrição Clínica no Adulto. Barueri: 9.Keaveny AP, Karasik MS. Hepatobiliary and pancreatic infections in AIDS:
Editora Manole Ltda., 2002. p.235-47. Part one. AIDS Patient Care STDS 1998;12: 347-57.
5. Lacaz CS, Martins JEC, Martins EL (coord.) AIDS/SIDA. São Paulo: Sarvier; 10.Powles T, Matthews G, Bower M. AIDS related systemic non-Hodgkin’s
1990. lymphoma. Sex Transm Infect 2000;76: 335-41.
84
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):79-85

11.Kestelyn PG, Cunningham ET Jr. HIV/AIDS and blindness. Bull World 22. Fahey JL, Flemming DS. HIV/AIDS Reference Guide for Medical
Health Organ 2001;79: 208-13. Professionals. 4th edition. Baltimore: Williams & Wilkins, 1996.
12.Bartlet JG. Tratamento clínico da infecção por HIV. Trad. de D Varella. 23. Koch J, Neal EA, Schlott MJ, Garcia-Shelton YL, Chan MF, Weaver KE,
São Paulo: Editora Três; 1996. Cello JP. Zinc levels and infections in hospitalized patients with AIDS.
13. Cone LA, Woodard DR. Pathogenesis and clinical aspects of diarrhea Nutrition 1996; 12: 515-8.
and its effects on nutrition in patients infected with the Human 24. Coodley GO, Coodley MK, Lusk R, Green TR, Bakke AC, Wilson D,
Immunodeficiency Virus. In: Watson R, editor. Nutrition and AIDS. Boca Wachenhein et al. Beta-carotene and HIV infection. J Acquir Immune Defic
Raton, Florida: CRC Press Inc; 1994. Syndr 1993; 6: 272-6.
14.Davidhzar R, Dunn C. Nutrition and the client with AIDS. J Pract 25.Harris JA, Benedict FG. A Biometric study of basal metabolism in man.
Nurs.1998; 48: 16-25. Washington: Carnegie Institute of Washington, 279; 1919.
15. Muma RD, Lyons BA, Borucki MJ, Pollard RB. HIV Manual for Health 26. Keithey JK, Swanson B, Murphy M, Levin DF. HIV/AIDS and nutrition.
Care Professionals. 2nd ed, Baltimore: Appleton & Lange,1994. Implications for disease managemente. Nurs Care Manag 2000; 5: 52-9.
16.Ball CS. Global issues in pediatric nutrition: AIDS. Nutrition. 1998; 14: 27.Food and Nutrition Board, National Research Council, National
767-70. Academy of Sciences. Recommended Dietary Allowances. 10ª ed.
17. American Dietetic Association (ADA). Nutrition intervention in the Washington: National Academy Press, 1989.
care of persons with human deficiency virus infection – Position of the 28.Augusto ALP, Zuccaro AM. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
American Dietetic Association and Dietitians of Canada. J Am Diet Assoc. (SIDA). In: Augusto ALP, Alves DC, Mannarino IC, Gerude M. Terapia
2000; 100: 708-17. nutricional. São Paulo: Editora Atheneu; 1995. p.283-9.
18. World Health Organization (WHO). AIDS Homecare Handbook. 29.Meer R. AIDS and Food Safety. In: Watson RR (ed). Nutrition and AIDS.
Geneva, 1993. Boca Raton: CRC Press: 1994. p.189-99.
19. Kotler DP. Nutritional alterations associated with HIV infection. J Acquir 30.Grant JP. Seleção do paciente para nutrição parenteral total. In: Grant
Immune Defic Syndr. 2000; 25:S81-7. JP.Nutrição parenteral. 2a ed. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter
20.Nemecheck PM. Treatment guidelines for HIV-associated wasting. Mayo Ltda; 1996. p.75-108.
Clin Proc 2000; 75: 386-94. 31. Baum MK, Cure N, Shor-Posner G. The B-complex vitamins, imune
21. Sharpstone D, Murray C, Ross H, Phelan M, Crane R, Lepri AC et al. regulation, cognitive function and HIV-1 infection. In:Watson RR. Nutrition
The influence of nutritional and metabolic status on progression from and AIDS. Boca Raton: CRC Press; 1994. p. 105-16.
assymptomatic HIV infection to AIDS-defining diagnosis. AIDS 1999; 32. Waitzberg DL, Ferrini MT. Exame físico e antropometria. In: Waitzberg
13:1221-6. DL. Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. 3a ed., São Paulo:
Editora Atheneu; 2001. p.225-78.

85
A RT I G O D E R E V I S Ã O

Evolução histórica dos valores de referência para perfil lipídico: o que mudou e
por quê
Historical evolution of reference value for lipid profile: what changed and why
Evolución histórica de los valores de referencia para el perfil lipídico: lo que cambió y por qué

Helen Hermana Miranda Hermsdorff 1, Maria do Carmo Gouveia Pelúzio 2, Sylvia do Carmo Castro
Franceschini 2, Silvia Eloiza Priore 2

Resumo Abstract
As enfermidades ateroscleróticas e coronarianas, por apresenta- Due to its chronic-degenerative characteristics, the atherosclerotic
rem características crônico-degenerativas, reduzem a qualidade e and coronary diseases reduce the life span and the quality of life as
o tempo de vida. Apesar de os dados atuais confirmarem sua pro- well. Although the current data confirm their epidemic proportion
porção epidêmica em todo o mundo, não havia evidências throughout the world, It was only from the 1920s on that
epidemiológicas de sua relação com a mortalidade antes da déca- epidemiological evidences started to relate them to mortality ratios.
da de 1920. Os estudos mais importantes, que permitiram a as- The most important studies that established the relation between
sociação da hipercolesterolemia e fatores de risco associados com hypercholesterolemia and the coronary disease associated risk
a doença coronariana, foram realizados em Framingham, a par- factors were carried out in Framingham, from the 1940 decade on.
tir dos anos 40. Baseada nestas referências e em outros estudos Founded on these references and on other longitudinal and cross-
epidemiológicos longitudinais e transversais, foi possível a elabo- section epidemiological studies it was possible to elaborate a
ração de consensos com objetivo principal de prevenir as doenças consensus with the main objective of preventing coronary diseases
coronarianas por meio da adequação dos lipídios séricos e outros by adjusting serum lipids and other risk factors also associated to
fatores de risco também associados à morbimortalidade. Esta re- the morbimortality. The objective of this review is to present the
visão visa destacar os mais importantes trabalhos que apresenta- most important researches that have brought about reference values
ram valores de referência para classificação de dislipidemias e pre- for the dyslipidemias classification and coronary arterial disease
venção da doença arterial coronariana, bem como identificar as prevention as well as to identify the historical changes that have
alterações na evolução histórica do tratamento e seus objetivos. occurred in the treatment evolution and in its objectives. (Rev Bras
(Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93) Nutr Clin 2004; 19(2):86-93)
UNITERMOS: evolução histórica, perfil lipídico, doença arterial KEY WORDS: historical evolution, lipid profile, coronary heart
coronariana. disease.

Resumen
Las enfermedades ateroscleróticas y coronarianas, por presentaren características crónico-degenerativas, disminuyen la calidad y el tiempo
de vida. A pesar de los datos actuales confirmaren su proporción epidémica en todo el mundo, no hay hubó evidencias epidemiológicas
de su relación con la mortalidad antes de la década de los 20. Los estudios más importantes, que permitirán la asociación de la
hipercolesterolemia y sus factores de riesgo asociado a ella con la enfermedad coronariana, fueron realizados en Framingham, con inicio
en los años 40. Basada en estas referencias y otros estudios epidemiológicos longitudinales y trasversales fue posible la elaboración de
consensos con el objetivo principal de prevenir las enfermedades coronarianas por medio de la adecuación de los lípidos séricos y otros
factores de riesgo también asociados a la morbi-mortalidad. Esta revisión visa destacar los más importantes trabajos que presentaran
valores de referencia para la clasificación de dislipidemias y prevención de la enfermedad arterial coronariana, bien como identificar las
alteraciones en la evolución histórica del tratamiento y sus objetivos. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93)
UNITÉRMINOS: evolución histórica, perfil lipídico, enfermedad arterial coronariana.

1. Nutricionista, Mestranda em Ciência da Nutrição, Universidade Federal de Viçosa; 2. Professoras do Departamento de Nutrição e Saúde - Universidade Federal de
Viçosa. Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa – MG - 36571-000.
Endereço para correspondência: Helen Hermana M. Hermsdorff. Departamento de Nutrição e Saúde, Campus Universitário, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa –
MG – CEP 36571-000 Telefone: (31) 9126-3895 E-mail: helenhermana@yahoo.com.br
Submissão: 25 de setembro de 2003
Aceito para publicação: 25 de maio de 2004

86
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

Introdução Evolução histórica dos valores de


referência para perfil lipídico
As enfermidades do coração, sobretudo as cardíacas
degenerativas, levam à diminuição da qualidade e do tempo Dentre os primeiros estudos realizados, com objetivo de
de vida. Elas vêm atingindo proporções epidêmicas em diver- obter mais evidências epidemiológicas da doença
sos países, em destaque os ocidentais1. Nos Estados Unidos, cardiovascular e fatores relacionados ao seu desenvolvimen-
a doença arterial coronariana (DAC) causa 500 mil mortes to, pode-se destacar o iniciado em 1948, na cidade de
e 12 bilhões de dias de internações hospitalares por ano, Framingham (Massachusetts – Estados Unidos). Em seis anos
sendo que 25% de todos os eventos cardiovasculares graves, de acompanhamento, os pesquisadores reconheceram a in-
como isquemia coronariana e infarto do miocárdio, levam à fluência da hipertensão arterial e da hipercolesterolemia no
morte no primeiro evento2,3. A DAC e o derrame acometem desenvolvimento da DAC, bem como a ligação destes fato-
18% da população australiana4. No Brasil, entre 1980 a 1996, res e da obesidade na progressão da aterosclerose cardíaca7.
a mortalidade por DAC ocorreu entre 25% a 30% da mor- Em outro estudo de Framingham, 5.000 pessoas foram acom-
talidade total5. Dados de mortalidade, em 1998, revelaram panhadas por 14 anos e os resultados obtidos comprovaram
uma proporção de 32,6% de mortes causadas por doença do uma associação positiva entre hipercolesterolemia e doença
aparelho circulatório, sendo a doença isquêmica do coração isquêmica coronariana8. A partir destes dados, Martin et al.10
representada em 29,6% dos casos6. examinaram associação entre risco cardiovascular e concen-
Antes de 1920, entretanto, eram raras as evidências tração plasmática de colesterol total (CT) em aproximada-
epidemiológicas relacionadas à aterosclerose, hipertensão ar- mente 400 mil homens selecionados para o Multiple Risk
terial e doenças arteriais coronarianas (DACs) com a morta- Factor Interventional Trial (MRFIT) e também encontraram
lidade1. A partir desta década, os estudos começaram a serem risco progressivo para DAC em função de níveis séricos de
realizados com intuito de entender melhor o impacto causa- colesterol total mais elevados em seis anos de acompanha-
do pelas DACs na população7,8. Estudos longitudinais, com mento. Estudo de coorte mais recente estimou que 27% dos
amostras representativas e oito anos de acompanhamento, em eventos de DAC em homens e 34% em mulheres eram atri-
média, puderam estabelecer relações importantes entre o perfil buídos a elevados níveis de CT maiores que 200 mg/dL16.
lipídico de homens e mulheres com a presença de risco para Desta forma, estudos longitudinais se tornaram essenci-
DAC, como aumento dos níveis séricos de colesterol total ais para identificar associações entre hipercolesterolemia e
(CT), fração do colesterol de baixa densidade (LDL-C) e risco de morbi-mortalidade de DAC, bem como a importân-
triglicerídios (TG) e redução da fração do colesterol de alta cia de cada fração do colesterol e triglicerídios e dos fatores
densidade (HDL-C) associados ao aumento de prevalência de de risco relacionados à doença aterosclerótica coronariana.
infarto do miocárdio, angina e outros eventos de DAC 9,10,11,12. Estes estudos epidemiológicos indicariam valores de referên-
A presença de outros fatores de risco associados à cia e metas para prevenção e tratamento dos fatores de ris-
fisiopatologia das dislipidemias e ao aumento da predição de co para a DAC como as dislipidemias.
risco para DAC também é relatada em trabalhos Os primeiros valores de referência estabelecidos oficial-
epidemiológicos, indicando grande relevância dos mesmos mente foram o do National Institutes of Health Consensus Panel
para tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, on Lowering Blood Cholesterol to Prevent Heart Disease
destacando-se dentre eles hipertensão arterial, fumo, (1985)17, nos Estados Unidos, seguidos pela recomendação
sedentarismo, obesidade e diabetes mellitus13,14,15. Estes traba- elaborada na Europa, Study Group of the European
lhos tornaram possível a elaboração de consensos para me- Atherosclerosis Society (1988)18 e a pela Sociedade Inglesa de
lhor predição de risco de DAC na população, de modo a Cardiologia (1987)19. Para justificar a redução de colesterol
prevenir, precocemente, os eventos coronarianos no grupo para prevenção de DAC, eles se basearam em valores para
de risco por meio da adequação dos lipídios séricos e outros colesterol total associados ou não a fatores de risco. Os fato-
fatores de risco associados a morbi-mortalidade. Esta revisão res de risco associados ao aumento de prevalência de morta-
visa destacar os mais importantes trabalhos que apresentaram lidade por doenças cardiovasculares, bem como as metas de
valores de referência para classificação de dislipidemias e redução do colesterol total são semelhantes entre os grupos.
prevenção de DAC, bem como identificar as alterações na Entretanto, seus valores para início de tratamento são dife-
evolução histórica do tratamento e seus objetivos. renciados (Tabela 1). Os fatores de risco considerados justi-

Tabela 1- Valores de colesterol total (mg/dL) indicadores para mudança do estilo de vida e farmacoterapia em três grupos de
consenso

Grupo de Consenso CT para dietoterapia CT para farmacoterapia Meta de CT


Consenso dos Estados Unidos (1985) 240 260 se resposta à dieta 180 < 30 anos de idade
for insuficiente 200 > 30 anos de idade
Sociedade Européia de Cardiologia (1988) 250 300 na presença de FR e 180 < 30 anos de idade
resposta insuficiente à dieta 200 > 30 anos de idade
Sociedade Inglesa de Cardiologia (1987) 250 ou menos na 300 200
presença de FR
Fonte: Martinez TLR. Hiperlipidemias: Definição. In: Quintão ECR. Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro-RJ: Editora Qualitymark, 1992, 276 p.
87
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

ficáveis para redução do colesterol total eram: DAC já ins- lulas endoteliais27. Em estudo longitudinal de 8 anos, o au-
talada (infarto do miocárdio, isquemia coronariana); sexo mento de 10 mg/dL de HDL-C foi equivalente a redução de
masculino; fumo; hipertensão arterial; diabetes; excesso de 30 mg/dL de LDL-C para redução do risco de DAC28. Mes-
peso (acima de 30% do ideal); HDL-C abaixo de 35 mg/dL, mo em indivíduos com colesterol reduzido, a incidência de
história familiar de doença coronariana prematura (familia- infarto do miocárdio teve associação com valores séricos de
res de primeiro grau com menos de 55 anos)19. HDL-C menores que 36 mg/dL, indicando que o screening (a
Em 1988, foi editado pela American Heart Association triagem) apenas com colesterol total pode não estar adequa-
(AHA) o primeiro relatório para detecção, avaliação e tra- do para identificação de candidatos a DAC21,25. Neil et al.29
tamento de adultos com alto colesterol sérico (Adults encontraram menor número de indivíduos com risco para
Treatment Panel I – ATP I) 20. Nele evidencia-se a redução de DAC realizando um screening (uma triagem populacional)
LDL-C como primeira meta para prevenção, mas os valores, apenas com CT, quando comparado com determinação
relacionados a fatores de risco, devem ser considerados para concomitante de HDL-C menor que 35 mg/dL, representan-
avaliação do risco de DAC, sendo estes fatores sexo mascu- do uma sensibilidade menor em 3,1%. The Strong Heart
lino, hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, doença Study30, com uma amostra de 1.858 indivíduos, acompanha-
cardiovascular, diabetes mellitus, sedentarismo, história fami- dos por 11 anos, identificou a razão CT/HDL-C com maior
liar prematura de DAC (idades menores que 55 e 65 anos sensibilidade (menor número de falsos negativos) que a de-
para homens e mulheres, respectivamente). terminação isolada de CT para predição de risco de DAC.
Destacando o fator de risco tabagismo, Wilson et al.13 en- Neste relatório também foram elaboradas novas catego-
contraram forte relação entre tabagismo com perfil lipídico, rias de perfil lipídico e definidos fatores de risco de modo a
principalmente com a lipoproteína LDL-C. O tabagismo melhorar a meta de redução da fração do colesterol de bai-
também foi associado a alterações de risco no perfil lipídico, xa densidade (LDL-C) a ser escolhida na prevenção de DAC
ao aumento de duas a quatro vezes o risco de DAC e aumento (Tabela 2). Os valores de referência para colesterol total e
de 70% de chance de morte por doença do coração. Seu LDL-C para predição de risco, portanto, não sofreram modi-
efeito é potencializado na presença de hipertensão arterial, ficações relevantes (Tabela 3)22.
hipercolesterolemia, intolerância à glicose e diabetes, com
Tabela 2 – Tratamento baseado nas metas de redução de LDL-C
implicações no desenvolvimento de falhas congestivas
coronarianas por meio da ação do monóxido de carbono e ni- Paciente Nível de LDL-C Meta de LDL-C
cotina21. (mg/dL) (mg/dL)
O segundo relatório, ATP II de 1993 22, apresentou algumas Terapia dietética
considerações diferentes do primeiro, como a identificação de Ausência de DAC e 0-1 FR > 160 < 160
Ausência de DAC e 2 ou + FR ≥ 130 < 130
mulheres em pós-menopausa como fator de risco para DAC.
Presença de DAC > 100 ≤ 100
Após a menopausa, as médias de CT em mulheres aumentam Farmacoterapia
de 10 a 20 mg/dL, sendo uma das explicações as alterações Ausência de DAC e 0-1 FR ≥ 190 < 160
hormonais que ocorrem nesta fase. Com a redução de Ausência de DAC e 2 ou + FR ≥ 160 < 130
estrógenos, que são potentes agentes estimuladores de receptores Presença de DAC ≥ 130 ≤ 100
Nota: para converter mg/dL em mmol/L, dividir valores por 38,7. Fonte:
de LDL-C, há redução da atividade destes receptores, levando
Adult Treatment Panel II. J Am Med Assoc 1993; 269(23):3015-23.
a aumento dos níveis séricos de LDL-C, refletidos no aumento
do CT12,,23. Além disso, os estrógenos agem por outros mecanis- Tabela 3 – Valores de referência para colesterol total, LDL-C,
mos para proteção de DAC como diminuição da oxidação de HDL-C e triglicerídios em Adults Treatment Panel I e II
LDL-C, redução da lipoproteína (a), aumento da sensibilidade
à insulina, melhora da função dilatadora das artérias e diminui- ATP I a ATP IIb
Colesterol total (mg/dL)
ção da secreção de molécula de adesão celular24. < 200 Desejável < 200 Desejável
Além disso, HDL-C passa a ser considerada fator de ris- 200-239 Limítrofe 200-239 Limítrofe
co independente para DAC, necessário no screening (numa ≥ 240 Alto ≥ 240 Alto
triagem populacional) inicial para diagnóstico de LDL-C (mg/dL)
hipercolesterolemia, bem como fator de proteção em valo- < 130 Desejável < 130 Desejável
130-159 Limítrofe 130-159 Limítrofe
res acima de 60 mg/dL 22. Os estudos em relação HDL-C ≥ 160 Alto ≥ 160 Alto
apresentaram risco relativo superior com baixos níveis des- HDL-C (mg/dL)
ta fração de colesterol para homens e mulheres 9,25. The ≥ 35 Desejável < 35 Baixo
Framingham Heart Study relaciona os baixos níveis de HDL- > 60 Alto
C com aumento da fração do colesterol de muito baixa den- Triglicerídios (mg/dL)
-c - < 200 Normal
sidade (VLDL-C) e coexistência à resistência insulínica, bem - - 200-400 Limítrofe alto
como aumento do poder aterogênico de LDL-C26. Em nível - - 400-1000 Alto
celular, a HDL-C pode inibir a migração de monócitos - - > 1000 Muito alto
indutores de oxidação de LDL-C, bem como a adesão de Nota: para conver ter mg/dL em mmol/L, dividir valores por 38,7. Para
monócitos nas células do sub-endotélio arterial induzida por converter triglicerídios em mmol/L, dividir por 88,5; Fonte: a- Consenso
Brasileiro sobre Dislipidemias: Detecção, Avaliação e Tratamento. Arq Bras
LDL-C oxidado, além de ter papel modulador na produção Cardiol 1993; 61(suppl 1):1-13; b- Adult Treatment Panel II. J Am Med Assoc
de óxido nítrico, importante fator anti-aterogênico nas cé- 1993; 269(23):3015-23; c- Valores não encontrados na literatura.
88
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

O ATP III31 apresentou maior número de diferenças em sando indivíduos com mais de 70 anos encontraram mesmo
relação ao ATP II22, devido a grande concentração de estu- efeito benéfico do ato de parar de fumar que nos adultos e
dos direcionados na presença e magnitude de associações de menores níveis de HDL-C, justificados pela perda fisiológica
fatores de risco com a hipercolesterolemia e com a DAC de massa magra e ganho de tecido adiposo nos dois sexos. Em
(Tabela 4). NHANES III12, pôde-se observar que, a partir dos 70 anos, os
A idade acima de 45 anos para homens e acima de 55 níveis de CT diminuíram ligeiramente e se estabilizaram em
para mulheres passa a ser fator de risco para DAC. Dados do uma faixa menor que a apresentada pelos adultos dos dois
Third National Health and Nutrition Survey (NHANES III)12, sexos. Em Honolulu Heart Study34 foram avaliados 1.170 ido-
realizado entre 1991 e 1994, mostram que as médias de CT sos entre 61 a 80 anos em relação aos níveis de CT e risco para
aumentam com a idade para indivíduos negros e caucasianos DAC. Os resultados obtidos demonstraram forte associação
de ambos os sexos, sendo em homens aumentadas mais pre- entre os valores de CT obtidos há 10 anos e DAC, diferente
cocemente. As mortes por DAC começaram a surgir entre os dos valores atuais que se apresentavam em níveis desejáveis e
30 e 39 anos nos homens e aumentaram, rapidamente, aos sem predição de risco. Estes estudos sugerem que os níveis de
50, sendo que entre os 40 e 59 anos os homens apresentaram colesterol e frações são diferenciados em idosos, sendo neces-
risco de infarto do miocárdio 2,5 vezes maior que as mulhe- sários pontos de corte adequados a esta faixa etária para me-
res32. lhor predição de risco e tratamento de DAC.
Em relação aos idosos, homens com mais de 65 anos e Os valores de LDL-C para mudança no estilo de vida e
mulheres com mais de 75 anos, quando apresentam níveis de para uso de fármacos são mais baixos e estratificados em ATP
LDL-C elevado e de HDL-C reduzido, são considerados gru- III31 (Tabela 5), sendo a redução desta fração a primeira meta
pos de risco para DAC. Na verdade, não há valores diferenci- para prevenção de DAC nos três ATPs. Evidências em estu-
ados para idosos, devido à existência de poucos trabalhos uti- dos por triagem angiográfica, predição de risco para DAC e
lizando esta faixa etária distintamente. Ferrara et al.33, anali- análises de taxas de morbi-mortalidade suportam a importân-
cia da redução de LDL-C 35,36 . Em 1984, um estudo
Tabela 4 – Valores de referência para colesterol total, LDL-C, randomizado e multicêntrico, realizado pela Lipids Research
HDL-C e triglicerídios em Adults Treatment Panel II e III Clinics (LRP)11 encontrou relação positiva no tratamento
com redução de LDL-C e menor taxa de morbi-mortalidade
ATP IIa ATP IIIb em homens com alto risco para DAC. Sharret et al.37 encon-
Colesterol total (mg/dL) traram, em estudo de triagem clínica, que o aumento de 38,7
< 200 Desejável < 200 Desejável
mg/dL de LDL-C aumenta a chance de DAC em 1,37 vez em
200-239 Limítrofe 200-239 Limítrofe
≥ 240 Alto ≥ 240 Alto
mulheres e 1,42 em homens, bem como sua redução em 20%
LDL-C (mg/dL) reduz o risco em 6%. Em Framingham Offspring Study38, a
< 130 Desejável < 100 Ótimo redução de 35 mg/dL de LDL-C reduziu o risco de DAC em
130-159 Limítrofe 100-129 Desejável 14% a 39%. Outro estudo encontrou risco relativo de 2,93
≥ 160 Alto < 130 Limítrofe Alto para indivíduos com LDL-C maior ou igual a 130 mg/dL30.
130-159 Alto Os valores de referência para TG também foram redu-
≥ 160 Muito alto
zidos, devido ao aumento de evidências relacionando altos
HDL-C (mg/dL)
< 35 Baixo < 40 Baixo
valores de TG e DAC39. Os valores definidos têm relação
> 60 Alto > 60 Alto com sua significância clínica, a saber:
Triglicerídios (mg/dL) (1) 150 – 199 mg/dL: tem papel marcador na presença de
< 200 Normal < 150 Normal outros fatores aterogênicos como LDL-C e baixos níveis
200-400 Limítrofe alto 150-199 Limítrofe alto de HDL-C, bem como de fatores ligados à síndrome me-
400-1000 Alto 200-499 Alto tabólica: hipertensão arterial, insulino-resistência e in-
> 1000 Muito alto 500 Muito alto
tolerância à glicose e estados de pró-trombina e pró-
Nota: para converter mg/dL de colesterol total, LDL-C, HDL-C em mmol/L,
dividir valores por 38,7. Para converter triglicerídios em mmol/L, dividir por
inflamatório.
88,5; Fonte: a- Adult Treatment Panel II. J Am Med Assoc 1993; 269(23):3015- (2) 200 – 400 mg/dL: tem mesmo papel marcador, mas na
23; b- Adult Treatment Panel III. J Am Med Assoc 2001; 285(19):2486-97. presença mais intensa destes fatores.

Tabela 5- Valores de LDL-C (mg/dL) indicadores para mudança do estilo de vida e farmacoterapia em ATP II e ATP III

Categoria de Risco ATP IIa ATP IIIb


Valor de LDL-C Valor de LDL-C Valor de LDL-C Valor de LDL-C
para mudança no para para mudança no para
estilo de vida farmacoterapia estilo de vida farmacoterapia
Presença de DAC ≥ 100 ≥ 130 > 100 ≥ 130 100-129 - (Uso Opcional)
Presença de 2 ou + FR ≥ 130 ≥ 160 ≥ 130 Risco em 10 anos 10-20% - ≥ 130
Risco em 10 anos 10% - ≥ 160
Presença de 2 ou + FR ≥ 160 ≥ 190 > 160 ≥ 190 160-190- (Uso Opcional)
FR= Fator de Risco. Fonte: a- Adult Treatment Panel II. J Am Med Assoc 1993; 269(23):3015-23; b- Adult Treatment Panel III. J Am Med Assoc 2001;
285(19):2486-97.
89
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

(3) 500 mg/dL: marcador da presença de síndrome metabó- determinação desta. Dentre as medidas antropométricas
lica instalada, diabetes tipo 2, bem como preditor de utilizadas, a circunferência da cintura (CC) é indicada como
maior risco para pancreatite e síndrome quilomicro- a de melhor correlação com a adiposidade central51. Carrol
nemia caracterizada por xantomas, esteatose hepática, et al.52 encontraram associação entre CC maior que 102 e 88
lipemia na retina e alterações mentais39. cm para homens e mulheres, respectivamente, e HDL-C
A utilização da hipertrigliceridemia como fator de risco reduzido, razão CT:HDL-C aumentada e presença de hiper-
independente é controversa. A determinação de triglicerídio tensão arterial. Outro estudo, com duas amostras da popula-
sérico apresenta uma variabilidade de 30% entre medições ção suíça e uma da Oceania (amostra de 3.456 indivíduos),
nos períodos de jejum e pós-prandial, além de necessitar de encontrou para estes mesmos valores odds ratio de 1,85 e 4,56
técnicas especiais e de alto custo para detecção de níveis de chance para dislipidemias 53.
superiores a 400 mg/dL2. Além disso, a significância dos A obesidade, de modo geral, tem forte relação com a
valores de TG para prevenção de DAC sempre está associ- presença de risco para DAC54, devido à sua correlação com
ada à presença de outras alterações no perfil lipídico como outros fatores de risco como a dislipidemia, hipertensão ar-
baixos níveis de HDL-C e altos níveis de CT40,41. Em estudo terial e a própria resistência insulínica citada anteriormen-
longitudinal de oito anos, valores de TG superiores a 140 mg/ te 52,53,55. Lamon-Fava et al.14 demonstraram que pessoas aci-
dL e de HDL-C inferiores a 45 mg/dL foram associados a alto ma do peso ideal para idade e sexo, refletido por aumento
risco de DAC, enquanto que a redução e o aumento de TG significante do índice de massa corporal (IMC), têm maior
e HDL-C, respectivamente, mesmo em presença de outros risco de mortalidade por DAC, podendo o risco de DAC em
fatores, reduziu o risco42. O TG também pode estar associa- 10 anos ser duas vezes maior para indivíduos com IMC mai-
do a maior risco de DAC e mortalidade na presença de níveis or que 30 kg/m 2 . A associação da obesidade com a
de CT alto (maior que 240 mg/dL), tendo juntamente com dislipidemia é mediada por mecanismos inerentes ao papel
HDL-C poder preditivo superior ao screening (à triagem do tecido adiposo intra-abdominal no metabolismo, poden-
populacional) apenas com colesterol total29,43,44. Outros es- do destacar o aumento do fluxo de ácidos graxos livres para
tudos longitudinais também encontraram a o fígado e conseqüente aumento da produção de VLDL-C,
hipertrigliceridemia com valor preditivo significativo para e redução de HDL-C 53.
DAC, quando HDL-C é reduzido, indicando que sua utiliza- O diabetes mellitus, antes considerado fator de risco devi-
ção pode ser importante em um segundo screening (em uma do à sua relação com a síndrome metabólica, passa a ser
segunda triagem) dada sua relação com outras frações considerado como equivalente da presença de DAC para
lipídicas e seu alto custo45,46,47. metas de redução de LDL-C, como também na definição do
A segunda meta em ATP III para tratamento está rela- tratamento mais adequado. A dislipidemia no diabetes tipo
cionada às anormalidades metabólicas, em sua maioria rela- 2 pode ser caracterizada por aumento de VLDL-C, redução
cionadas com a síndrome de resistência insulínica, caracte- do tamanho da partícula de LDL-C e redução nos níveis
rizada pela presença hiperinsulinemia, hipertensão arterial séricos de HDL-C. O mecanismo envolvido na redução da
relacionadas ao excesso de peso e sedentarismo. Também partícula de LDL-C no diabetes é o aumento das
denominada síndrome metabólica, ou plurimetabólica, ou lipoproteínas ricas em TG, permitindo maior transferência
ainda, síndrome X48, tem seu diagnóstico feito a partir do deste TG ao LDL-C e tornando esta fração substrato da lipase
achado de três ou mais fatores de risco a saber: (1) circunfe- hepática, geralmente aumentada no diabetes. Além disso, há
rência da cintura maior que 102 cm e 88 cm, para homens e interferência da resistência insulínica presente no metabo-
mulheres, respectivamente; (2) TG maior que 150 mg/dL. lismo de HDL-C (produção de apolipoproteínas A-I e A-II,
(3) HDL-C menores que 40 e 50 mg/dL para homens e ação da lipase hepática, lipase lipoprotéica e lecitina
mulheres, respectivamente; (4) pressão sistólica maior que colesterol acetil transferase)15.
130 e diastólica maior que 85 mmHg; (5) glicemia de jejum Outra diferença encontrada no ATP III em relação aos
superior a 110 mg/dL. Estes fatores estão intimamente liga- anteriores é o uso da classificação de baixo, médio e alto ris-
dos à presença de DAC, sendo seu tratamento baseado prin- co em relação à chance de eventos de morbi-mortalidade
cipalmente do controle do peso corporal e aumento de ati- ligados a DAC de 10%, 10% a 20% e maior que 20% em 10
vidade física31. Em estudo longitudinal, da amostra acompa- anos31. Ela se baseia nos fatores de risco extensivamente es-
nhada, 7,9% apresentaram algum evento de DAC na presen- tudados pelos pesquisadores de Framingham, que compõem
ça da síndrome de resistência insulínica, comparado com a tabela de escore de risco elaborada através de análises
4,0% que apresentaram evento de DAC sem a presença da logarítmicas, a saber, idade, colesterol total, tabagismo, HDL-
síndrome, indicando maior prevalência de DAC em indiví- C e pressão arterial16,31.
duos com a síndrome instalada49. A resistência insulínica No Brasil, o Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias –
pode ser considerada fator de risco independente para DAC Detecção, Avaliação e Tratamento foi publicado em 1993 20.
em diabéticos tipo 2 e em não diabéticos, bem como Seus valores de referência se baseiam no ATP I e no Consen-
preditora da presença de outros componentes da síndrome so da Sociedade Européia (para valores de triglicerídios). Da
como hipertensão arterial, dislipidemias e intolerância à mesma forma, o segundo consenso publicado em 1996 56
glicose48,50. baseou-se no ATP II e no da Sociedade Européia, sendo o
A resistência insulínica está intimamente ligada à pre- terceiro e mais recente57 baseado exclusivamente no ATP III.
sença de obesidade abdominal, tornando-se fundamental a Deste último consenso, publicado em 2001, pode-se desta-
90
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

car sua preocupação com nível de evidência utilizado para minação e melhor correlação clínico-epidemiológica que
classificação do grupo de risco para doenças cardiovasculares outros marcadores inflamatórios, tem-se especial interesse pela
e sua identificação. O nível de evidência pode ser dividido PCR63. Ela pode ser um útil preditor de risco para DAC em
em: (1) baseada em múltiplos estudos randomizados contro- indivíduos com história de doença cardiovascular ou naque-
lados, amplos, concordantes e com poder estatístico adequa- les que nunca apresentaram algum evento da doença49,62. Na
do; (2) baseado em poucos estudos randomizados, controla- ausência de necrose cardíaca, níveis elevados de PCR
dos, de médio porte ou metanálise de vários estudos; (3) mais correlacionam com maior extensão de doença aterosclerótica,
de um estudo randomizado, controlado e de ótima qualida- mesmo após correção estatística para presença de outros fato-
de; (4) mais de um estudo de coorte de alta qualidade; (5) res de risco63. Mendall et al.64 encontraram relação entre con-
mais de um estudo de caso controle de alta qualidade; (6) centrações séricas de PCR e presença de fatores de risco
mais de uma série de caso de alta qualidade57. (dislipidemias, tabagismo, idade, obesidade) e seu aumento foi
forte preditor para eventos de DAC. Ridker et al.65 compara-
Novos fatores de risco e possíveis ram 543 homens com DAC e 543 controles e identificaram,
preditores de risco para DAC no futuro após oito anos de acompanhamento, o aumento de concentra-
ções séricas de PCR apresentava risco relativo de 2,9 para
Outros fatores de risco vêm sendo relatados em pesqui- infarto do miocárdio e 1,9 para acidente vascular cerebral. Seu
sas, mas os mecanismos envolvidos não estão esclarecidos e mecanismo de ação pode estar relacionado à estimulação de
não existem valores de referência para os mesmos para indi- fator de produção e ativação de complemento agregado, ini-
cação de tratamento. Dentre eles, podemos destacar as ciando o processo de coagulação, importante etapa da
apolipoproteínas (apo) A-I e B, a lipoproteína(a) e a prote- aterosclerose62. Outro estudo ainda encontrou níveis séricos
ína C reativa (PCR). elevados de PCR em indivíduos com diabetes e hipertensão.
As concentrações de apolipoproteínas A-I e B têm sido Além disso, indica a obesidade como fator de risco para au-
estudadas para avaliar seu poder de predição de risco para DAC. mento destes níveis séricos, devido a secreção de interleucina
Isto porque a apo A-I é componente estrutural de HDL-C, fa- 6, estimulante primário de PCR, pelo tecido adiposo66.
tor de proteção para DAC, enquanto que apo B é componente Apesar de mais estudos serem necessários para melhor
de VLDL, LDL-C e na fração do colesterol de densidade inter- avaliação destes marcadores, eles poderão, em futuros con-
mediária (IDL-C), consideradas partículas aterogênicas32. Os sensos, serem indicadores importantes no screening (na tria-
resultados destes estudos são controversos devido à utilização de gem) de pessoas com risco para DAC e no tipo de tratamento
métodos, procedimentos e população base não padronizados. O a ser selecionado.
Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study 37 encontrou
correlação entre apo A-I e HDL-C e apo B e LDL-C de 0,7 a 0,8 Considerações finais
em relação à predição de risco para DAC. A apo B apresentou
associação muito semelhante ao da fração LDL-C: 2,8 e 2,7 para Os estudos epidemiológicos longitudinais, com amostras
mulheres e 2,4 e 2,5 para homens, respectivamente. No representativas e tempo considerável de acompanhamento
AMORIS Study32, níveis reduzidos de apo A-I e elevados de apo das mesmas, bem como os estudos transversais, tiveram im-
B apresentaram melhor associação de risco para idosos que ní- portante papel na fundamentação dos valores de referência
veis séricos elevados de CT, LDL-C e TG e reduzidos de HDL- do perfil lipídico para melhor predição de risco para DAC a
C. Além disso, apo B foi melhor marcador de risco que LDL-C partir destes valores. Desta forma, pôde-se, a partir de sua
para todas as idades, sendo justificado, neste estudo, pela presen- determinação sérica, identificar candidatos com baixo, mé-
ça da mesma em outras partículas aterogênicas (VLDL-C, IDL- dio e alto risco para doença cardiovascular. Estes estudos
C e lipoproteína(a)). também puderam identificar a grande correlação entre o
A lipoproteína(a) (Lp(a)) consiste em dois componen- perfil lipídico e os outros fatores de risco, que quando presen-
tes: uma partícula de LDL-C e a apo(a). Quando compara- tes podem potencializar o desenvolvimento e progressão
da ao LDL-C, contém menor número de antioxidantes, exibe precoce da aterosclerose. Dentre eles, destacam-se o tabagis-
maior afinidade com a matriz extracelular no endotélio, fa- mo, a idade, o sexo masculino e a mulher na pós-menopau-
cilitando a modificação oxidativa e o risco de lesão sa, a síndrome de resistência insulínica, a obesidade e o di-
endotelial, além de aumentar a proliferação celular e a ex- abetes, discutidos no presente trabalho. A evolução dos
pressão da molécula de adesão intercelular 158. Foody et al.59, consensos, ou seja, as alterações nos pontos de corte no per-
em estudo transversal de amostra de 1.153 indivíduos, en- fil lipídico para início de tratamento dietoterápico ou
contraram odds ratio de 1,87 para DAC em níveis elevados farmacológico, bem como as considerações sobre os fatores
de Lp(a). ARIC Study37 identificou risco relativo de 1,15 para de risco para mesmo propósito, tem embasamento científi-
DAC em mulheres com altos níveis séricos de Lp(a). Outros co nos estudos relatados, dentre outros. Mais trabalhos
estudos de investigação de perfil lipídico observaram efeito direcionados à identificação de valores de referência para
sinérgico entre Lp(a) e LDL-C, potencializando o risco de perfil lipídico específicos para idosos e aos novos marcadores
infarto do miocárdio60,61. identificados na literatura científica são necessários para
Outro componente sérico atualmente muito estudado é utilização dos mesmos nos próximos consensos de modo a
a PCR, marcador inflamatório com meia-vida de 19 horas e melhorar a prevenção e tratamento de DAC e, principal-
sintetizado primariamente no fígado62. Por ser de fácil deter- mente, a qualidade de vida das populações de risco.
91
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

Referências bibliográficas
1. Neves NMS. Evidências Epidemiológicas. In: Nutrição e doença Pearson TA, Reed J, Washington R, Smith SCJr. Primary prevention of
cardiovacular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 1997; 11-24. coronary heart disease: guidance from Framingham. Circulation
2. Pignone MP, Phillips CJ, Atkins D, Teutsch SM, Mulrow CD, Lohr KN. 1998;97:1876-1887.
Screening and treating adults for lipid disorders. Am J Prev Med 2001; 27. Barter P, Kastelein J, Nunn A, Hobbs R. High density lipoproteins (HDLs)
20(3S):77-89. and atherosclerosis; the unanswered questions. Atherosclerosis 2003;
3. Sullivan DR. Screening for cardiovascular disease with cholesterol. Clinica 168:195-211.
Chimica Acta 2002; 315:49-60. 28. Jacobs DR, Mebane IL, Bangidwaka SI, Criqui MH, Tyroler HA. High
4. Natarajan S, Niert PJ. National trends in screening, prevalence and density lipoprotein cholesterol as a predictor of cardiovascular disease
treatment of cardiovascular risk factors. Prev Med 2003; 36:389-97. mortality in men and women: the follow-up of the Lipid Research Clinics
5. Mortalidade total. MS/FUNASA. Disponível [on line] na URL: www. Prevalence Study. Am J Epidemiol 1990; 131(1):32-47.
Funasa.gov.br/sis/sis_sim_1996.htm. Acessado em 10/06/2003. 29. Neil HA, Mant D, Jones L, Morgan B, Mann JI. Lipid screening: is it
6. Mortalidade 1998. MS/FUNASA. Disponível [on line] na URL: www. enough to measure total cholesterol concentration? Br Med J 1990;
Funasa.gov/sis/pdfs/mortalidade_1998.pdf. Acessado em 10/06/2003. 301(6752):584-7.
7. Dawber TR, Moore RF, Mann GV. Coronary heart disease in the 30. Hu D, Jablonski KA, Sparling YH, Robbins DC, Lee ET,Welty TK, Howard
Framingham Study. Am J Public Health 1957; 4-24. BV. Accuracy of lipoprotein lipids and apoproteins in predicting coronary
8. Kannel WB, Castelli WP, Gordon T, Ncmara PM. Serum cholesterol, heart disease in diabetic Americans indians: The Strong Heart Study. Ann
lipoproteins, and the risk of coronary heart disease. Ann J Med 1971; Epidemiol 2002; 12:79-85.
74(1):1217-46. 31. Executive Summary of the Report of the National Cholesterol
9.Wilson PW, Abbott RD, Castelli WP. High density lipoprotein cholesterol Education Program (NCEP) Expert Panel on Detection, Evaluation, and
and mortality: the Framingham heart study. Arteriosclerosis 1988; 8:737- Treatment of High Blood Cholesterol in Adults (Adult Treatment Panel
41. III). J Am Med Assoc 2001; 285(19):2486-2497.
10. Martin MJ, Hulley SB, Browner WS, Kuller LH, Wentworth D. Serum 32. Wallidus G, Junger I, Holme I, Aastveit AH, Kolar W, Steiner E. High
cholesterol, blood pressure, and mortality: implications from a cohort of apolipoprotein B, low apoliprotein A-I, and improvement in the prediction
361.662 men. Lancet 1986; 2:933-9. of fatal myocardial infarction (AMORIS study): a prospective study. Lancet
11.The Lipid Research Clinics Coronoray Primary Prevention Trial Results, 2001; 358:2026-33.
I. Reduction in incidence of coronary heart disease. J Am Med Assoc 1984; 33. Ferrara A, Barret-Connor E, Shan J.Total, and HDL cholesterol decrease
251(3):351-64. with age in older men and women. Circulation 1997; 96:37-43.
12. National Center for Health Statistics. Centers for Disease Control 34. Hakin AA, Curb K, Burchfiel CM, Rodriguez BL, Sharp DS, Yano K,
and Prevention. National Health and Nutritional Survey III (NHANES III). Abbott RD. Screening for coronary heart disease in elderly men based on
Disponível [on line]: www.cdc.gov/nchs/about/major/nhanes/hdlfem.pdf. current and past cholesterol levels. J Clin Epidemiol 1999; 52(12):1257-
Acessado 20/05/2002. 65.
13. Wilson PW, Garrison RJ. Abbott RD, Castelli. Factors associated with 35. Law MR, Wald NJ, Hackshaw A, Bailey A. Systematic underestimation
lipoprotein cholesterol levels: the Framingham study.Arteriosclerosis 1983; of association between serum cholesterol concentration and ischaemic
273-81. heart disease in observation studies: dada from the BUPA study. Br J Med
14. Lamon-Fava S, Wilson PWF, Schaefer EJ. Impact of body mass index on 1994; 308:363-66.
coronary heart disease: the Framingham offspring study. Arterioscler 36.Ballantyne CM. Low-density lipoproteins and risk for coronary artery
Thromb Vasc Biol 1996; 16:1509-1515. disease. Am J Cardiol. 1998; 82:3Q-12Q.
15. Taskinen MR. Diabetic dyslipidemia. Atheroscler Suppl 2002; 3:47-51. 37. Sharrett AR, Ballantyne CM, Coady MA, Heiss G, Sorlie PD, Catellier
16. Wilson PW, D’Agostino RB, Levy D, Belanger AM, Silbershatz H, Kannel D, Patsch W. Coronary heart disease prediction from lipoprotein
WB. Prediction of coronary heart disease using risk factor categories. cholesterol levels, triglyceride, lipoprotein (a), apoliproteins A-I and B,
Circulation 1998, 97:1837-47. and HDL density subfractions: the atherosclerosis risk in communities
17. Consensus Conference: Lowering Blood Cholesterol to Prevent (ARIC) study. Circulation 2001; 104:1108-13.
Coronary Heart Disease. J Am Med Assoc 1985; 253:1-28. 38. Bhargava A. A longitudinal analysis of the risk factors for diabetes and
18. The recognition and management of hyperlipidemia in adults: a policy coronary heart disease in the Framinham Offspring Study. Popul Health
statement of the European Atherosclerosis Society. Eur Heart J 1988;9:1- Metr 2003; 1-10.
571 39. Management of Specific Dyslipidemias. Circulation 2002; 106:3329-
19. Martinez TLR. Hiperlipidemias: Definição. In: Quintão ECR. Colesterol 45.
e aterosclerose. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992, 276 p. 40. Lien WP, Lai LP, Shyn KG, Hwang JJ, Chen JJ, Lei MH, Cheng JJ, Hnang PJ,
20. Consenso brasileiro sobre dislipidemias: deteção, avaliação e tratamento. Tsai KS. Low-serum, high-density lipoprotein cholesterol concentration
Arq Bras Cardiol 1993; 61(suppl 1):1-13. is an important coronary risk factor in Chinese patients with low serum
21. Lakier JB. Smoking and cardiovascular disease. Am J Med 1992; 93 levels of total cholesterol and triglyceride. Am J Cardiol 1996; 77(12):1112-
(suppl 1A): 8S-12S. 5.]
22. Summary of the Report of the National Cholesterol Education Program 41. Stavenow L, Kjerllström T. Influence of serum triglyceride levels on the
(NCEP) Expert panel on detection, evaluation, and treatment of high blood risk for myocardial infarction in 12.510 middle aged males: interaction
cholesterol in adults (Adult Treatment Panel II). J Am Med Assoc 1993; with serum cholesterol. Atherosclerosis 1999; 147:243-7.
269(23):3015-3023. 42.Jeppesen J, Hein HO, Suadicani P, Guntelberg F. Low triglyceride-high
23. Lennep JER, Westerveld HT, Erkelens DW, Wall EE. Risk factors for high-density lipoprotein cholesterol and risk of ischemic heart disease.
coronary heart disease: implications of gender. Cardiovasc Res 2002; Arch Intern Med 2001; 161(3):361-6.
53:538-49. 43. Schuitemaker GE, Dinat GJ, Pol GA, Wersch JW. Relationship between
24. Pereira IRO, Bertolami MC, Faludi AA, Campos MF, Ferderbar S, Lima smoking habits and low-density lipoprotein-cholesterol, high-density
ES, Aldrighi JM, Abdalla DSP. Peroxidação lipídica e inativação do óxido lipoprotein-cholesterol, and triglycerides in a hypercholesterolemic adult
nítrico na pós-menopausa. Arq Bras Cardiol 2003; 80(4):406-14. cohort, in relation to gender and age. Clin Exp Med 2002; 2(2):83-8.
25.Abbott RD,Wilson PW, Kannel WB, Castelli WP. High density lipoprotein 44. Nikkila M, Loivula T, Niemela K, Sisto T. High-density lipoprotein
cholesterol, total cholesterol screening, and myocardial infarction: the cholesterol and triglycerides as markers of angiographically assessed
Framingham study. Arteriosclerosis 1988; 8:207-11. coronary artery disease. Br Heart J 1990; 63(2):78-81.
26. Grundy SM, Balady GJ, Criqui MH, Fletcher G, Greeland P, Hiratzka LF, 45. Castelli WP. Epidemiology of triglycerides: a view from Framingham.
Houston-Miller N, Kris-Etherton P, Krumholz HM, LaRosa J, Ockene IS, Am J Cardiol 1992; 70:3H-9H.

92
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):86-93

46. Jeppesen J, Hein HO, Suadicani P, Gyntelberg F.Triglyceride concentration 57. III Diretrizes Brasileiras Sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção
and ischemic heart disease: an eight-year follow-up in the Copenhagen da Aterosclerose do Departamento de Aterosclerose da Sociedade
Male Study. Circulation 1998; 97:1029-36. Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2001; 77 (suppl 111):1-48.
47. Sprecher DL, Watkins TR, Behar S, Brown WV, Rubins JB, Schaefer EJ. 58. Kronenberg F, Kronenberg MF, Kiechl S, Trenkwalder E, Santer P,
Importance of high-density lipoprotein cholesterol and triglyceride levels Oberhollenzer F, Egger G, Utermann G, Willeit J. Role of lipoprotein (a)
in coronary heart disease. Am J Cardiol 2003; 91:575-9. and apoliprotein (a) phenotype in atherogenesis: prospective results from
48. Abbasi F, Brown BW, Lamendola C, Mclaughlin T, Reaven GM. the Bruneck Study. Circulation 1999; 100:1154-60.
Relationship between obesity, insulin resistance and coronary heart disease 59. Foody JM, Milberg JÁ, Robinson K, Pearce GL, Jacbosen DW, Sprecher
risk. J Am Coll Cardiol 2002; 40(5):937-43. DL. Homocysteine and lipoprotein (a) interact to increase CAD risk in
49. Onat A, Cheyhan K, Basar P, Erer B, Toprak S, Sansoy V. Metabolic young men and women. Arterioscler Thromb Vasc Biol 2000; 20:493-99.
syndrome: major impact on coronary risk in a population with low 60. Armstrong VW, Cremer P, Eberle E, Manke A, Schulze F, Wieland H,
cholesterol levels – a prospective and cross-sectional evaluation. Kreuzer H, Seidel D. The association between serum Lp(a) concentrations
Atherosclerosis 2002; 165:285-92. and angiographically assessed coronary atherosclerosis: dependence on
50. Lim SC, Tan BY, Chew SK, Tan CE. The relationship between insulin serum LDL levels. Atherosclerosis 1986; 62:249-57.
resistance and cardiovascular risk factors in overweight/obese non-diabetic 61. Hopkins PN, Wu LL, Hunt SC, James BC, Vicent GM, Williams RR.
Asian adults: the 1992 Singapore National Health Survey. Int J Obes 2002; Lipoprotein(a) interactions with lipid and non-lipid risk factors in early
26:1511-6. familial coronary artery disease. Arterioscler Thromb Vasc Biol 1997;
51. World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the 17:2783-92.
global epidemic. WHO: Geneva. 1998. 62. Ferranti S, Rifai N. C-reactive protein and cardiovascular disease: a
52. Carroll S, Cooke CB, Butterly RJ, Moxon JWD, Moxon JWA, Dudfield review of risk prediction and interventions. Clinica Chimica Acta 2002;
M. Waist circumference in the assessment of obesity and associated risk 317:1-15.
factors in coronary artery disease patients. Coronary Heath Care 2000; 63. Santos WB, Mesquita ET, Vieira RMR, Olej B, Coutinho M, Avezum A.
4:179-86. Proteína-C-reativa e doença cardiovascular: as bases da evidência científica.
53. Paccaud F, Fasmeyer VS, Wietlisbach V, Bovet P. Dyslipidemia and Arq Bras Cardiol 2003; 80(4):452-6.
abdominal obesity: an assessment in three general populations. J Clin 64. Mendall MA, Patel P, Ballam L, Strachan D, Northfield TC. C-reactive
Epidemiol 2000; 53:393-400. protein and its relation to cardiovascular risk factor: a population based
54. Ulmer H, Diem G, Bischof HP, Rutmann E, Concin H. Recent trends cross sectional study. Br Med J 1996; 312:1061-5.
and sociodemographic distribution of cardiovascular risk factors: results 65. Ridker PM, Cusmhan M, Stanpfer MJ, Tracy RP, Henneckens CH.
from two population surveys in the Austrian WHO CINDI demonstration Inflamation, aspirin, and the risk of cardiovascular disease in apparently
area. Wien Klin Wochenschr 2001; 113:573-9. healthy men. N Engl J Med 1997; 336:973-9.
55. Gus M, Moreira LB, Pimentel M, Gleisener ALM, Moraes RS, Fuchs FD. 66. Saito M, Ishimitsu T, Minami J, Ono H, Ohrui M, Matsuoka H. Relations
Associação entre diferentes indicadores de obesidade e prevalência de of plasma high-sensitivity C-reactive protein to traditional cardiovascular
hipertensão arterial. Arq Bras Cardiol 1998; 70(2):111-4. risk factors. Atherosclerosis 2003; 167:73-9.
56. Segundo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias: Deteção, avaliação
e tratamento. Arq Bras Cardiol 1996; 67:1-16.

93
A RT I G O D E R E V I S Ã O

Hipertensão arterial no idoso e fatores de risco associados


Arterial hypertension in the elderly and associated risk factors
Hipertensión arterial en el anciano y factores de riesgo asociados

Tânia Campos Fell Amado1, Ilma Kruze Grande de Arruda2

Resumo Abstract
A hipertensão arterial (HA) constitui sério problema de saúde The arterial hypertension (AH) constitutes a serious public health
pública em todo o mundo, particularmente no Brasil, pela alta problem around the world, particularly in Brazil, due to its high
prevalência e por destacar-se como importante fator de risco prevalence and because it is considered as an important
cardiovascular. O envelhecimento acarreta importantes alterações cardiovascular risk factor. The aging process causes important
cardiovasculares, o que explica a freqüente associação da hiperten- cardiovascular alterations, which explains why hypertension is
são às mudanças fisiológicas desse processo. Fatores de risco tais often associated to this process. Risk factors associated to
como: sedentarismo, ingestão excessiva de sal, alcoolismo, taba- hypertension, such as a sedentary life style, excessive salt intake,
gismo e obesidade entre outros, que estão associados à hipertensão, alcoholism, smoking and obesity, contribute to the prevalence
têm contribuído para o aumento da prevalência dessa doença na increase of this disease in the elderly population (>60 years old),
população de idosos (>60 anos), levando a implicações médicas leading to social and medical implications. This review aims at
e sociais. Esta revisão teve como objetivo apresentar alguns aspec- introducing some of the arterial hypertension aspects during the
tos da HA sob a influência do envelhecimento e os fatores de ris- aging process and the associated risk factors. The indicated
co associados. O tratamento para idosos hipertensos deve enfatizar treatment must emphasize the hypertension control and the
o controle da HA e à adoção de hábitos de vida saudáveis. Para adoption of a healthy life style. In order to comprise the biggest
maior abrangência dos problemas de saúde, em particular a hiper- number of health problems and to ensure adherence to the
tensão, e uma melhor adesão ao tratamento, o idoso deve ser treatment, the elderly should be followed up by a multiprofessional
acompanhado por uma equipe multiprofissional. (Rev Bras Nutr team. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99)
Clin 2004; 19(2):94-99) KEYWORDS: arterial hypertension, aging, risk factors.
UNITERMOS: hipertensão arterial, envelhecimento, fatores de ris-
co.

Resumen
La hipertensión arterial (HA) ha constituido un gran problema de salud pública en todo el mundo, y en particular en Brasil, por su elevada
prevalencia y además por su destaque como importante factor de riesgo cardiovascular. El envejecimiento puede traer importantes
alteraciones cardiovasculares y en esta forma la hipertensión en los ancianos es conocida como una de las modificaciones fisiológicas en
este proceso. Factores de riesgo como sedentarismo, ingestión excesiva de sal, alcoolismo, tabagismo y obesidad, entre otros, están
asociados a los ancianos (>60 años) conduciendo a implicaciones médicas y sociales. El objetivo de esta revisión fue evidenciar aspec-
tos de la HA bajo la influencia del envejecimiento y los factores de riesgo asociados. El tratamiento para ancianos hipertensos busca
enfatizar el control de la HA y la adopción de hábitos de vida saludables. Para tener major abranjencia de los problemas de salud, en
particular de la hipertensión, y una mejor adesión al tratamiento, el anciano deberá ser acompañado por un equipo multiprofissional.
(Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99)
UNITÉRMINOS: hipertensión arterial, envejecimiento, factores de riesgo.

1. Doutoranda em Nutrição – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Coordenadora da Residência em Nutrição Clínica do Hospital das Clínicas – UFPE - Es-
pecialista em Alimentação Institucional pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; 2. Doutor em Nutrição pela UFPE - Professor Adjunto do Departamento de
Nutrição – UFPE - Diretora Geral do Controle Acadêmico - UFPE
Endereço para correspondência: Tânia Campos Fell Amado / Rua Dr. Sabino Pinho 210 Apto 03 – Madalena, Recife-PE CEP 50610-380 - e-mail: tânia.fell@bol.com.br
Submissão: 14 de maio de 2003
Aceito para publicação: 26 de janeiro de 2004

94
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99

Introdução risco associados, assim como a necessidade de modificá-los


com a adoção de hábitos de vida saudáveis.
O Brasil, à semelhança dos demais países em desenvolvi-
mento, vem apresentando desde a década de 1970, envelhe- Envelhecimento e hipertensão arterial
cimento rápido e intenso de sua população e, segundo estima-
tivas, em 2025, terá mais de 30 milhões de indivíduos com 60 As alterações que vão ocorrendo com o envelhecimen-
anos ou mais e a maioria deles - cerca de 85% - apresentarão to, embora variem de um indivíduo a outro, são encontradas
pelo menos uma doença crônica1,2,3. Entre as doenças crônicas, em todos os idosos e são próprias desse processo fisiológico
as cardiovasculares (DCVs) constituem a principal causa de normal. A interação de modificações próprias do envelheci-
morte dos indivíduos idosos, de alto custo econômico e soci- mento e aquelas decorrentes de processos patológicos é res-
al. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a mais prevalente ponsável pela apresentação clínica de várias enfermidades,
e aumenta progressivamente com a idade4,5,6. que se tornam mais graves nos idosos do que nos adultos
A HAS é uma doença multifatorial, caracterizada por jovens19,20.
níveis tensionais elevados, associados a alterações metabó- Liang21 considera as modificações estruturais verificadas
licas e hormonais e a fenômenos tróficos (hipertrofias cardí- no coração e no sistema vascular uma decorrência do enve-
aca e vascular). Em idosos, é considerada uma das causas mais lhecimento, o que reduz a capacidade de funcionamento
importantes de morbimortalidade prematura, pela alta eficiente. Segundo Nicola22, no contexto do envelhecimen-
prevalência e por constituir fator de risco relevante para to, são comuns as doenças crônicas que geram incapacidades
complicações cardiovasculares. O alto custo social dessa e dependência.
enfermidade é responsável por cerca de 40% dos casos de O aumento da PA tem sido considerado uma das conse-
aposentadoria precoce e de absenteísmo no trabalho.7,8,9. qüências do envelhecimento e, por muitos anos, foi vista,
Atualmente a HAS em adultos (= 18 anos) é definida pela como uma das mudanças “fisiológicas” desse processo9.
pressão arterial sistólica (PAS) = 140 mmHg ou pressão ar- A HA no idoso é importante, pois atua acelerando as
terial diastólica (PAD) = 90 mmHg10,11. alterações próprias da senescência. Evidências
O VI Joint National Committee (VI JOINT)12 classifi- epidemiológicas demonstraram que o risco cardiovascular no
ca a hipertensão arterial (HA) em estágios (níveis), com base idoso hipertenso é maior do que no normotenso de idade
no risco de desenvolver DCVs (Tabela 1). O nível 1 (140- semelhante23,24.
159 / 90 a 99), é o mais prevalente em adultos. Há dificuldades em se definir os níveis normais de PA
para indivíduos acima de 60 anos e embora haja tendência
Tabela 1 – Classificação da pressão arterial em adultos de aumento da PA com a idade, níveis de PAS > 140 mmHg
e/ou de PAD > 90 mmHg não devem ser considerados fisio-
Classificação PA Sistólica PA Diastólica lógicos para os idosos7,25,26 .
Normal < 130 < 85 A OMS14 com base em diversos estudos estabeleceu que
Normal alta 130 – 139 85 – 89 o idoso é considerado hipertenso quando apresenta pressão
Hipertensão
arterial sistólica (PAS) = a 160 mmHg e/ou pressão arterial
Nível 1 140 – 159 90 – 99
Nível 2 160 – 179 100 – 109
diastólica (PAD) = a 90 mmHg25.
Nível 3 ≥ 180 ≥ 110 A hipertensão continua sendo um fator de risco signifi-
PA = pressão arterial (em mmHg) cativo na idade avançada e é predominantemente influen-
Fonte: VI Joint National Committee, 1997. ciada pela elevação da PAS. Após o estudo de Framingham27,
foi estabelecido que a PAS tinha um valor preditivo maior
Alguns fatores de risco estão associados à HA e aumen- que a PAD para as DCVs, ficando evidente a importância da
tam a probabilidade de sua ocorrência, como: fatores mesma como fator de risco com o avançar da idade.
dietéticos, sedentarismo, obesidade, aumento dos A hipertensão arterial sistólica isolada (HASI) é um
triglicerídios e colesterol séricos, elevação da pressão arteri- quadro tipicamente apresentado por idosos, sendo mais
al (PA), alcoolismo, uso do fumo, entre outros13. prevalente (>dois terços de todos os indivíduos com HA)
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)14, entre 65 e 89 anos e parece estar mais associada a eventos
com a intensificação dos programas de controle da HA, a cardiovasculares6, devido às alterações associadas ao enve-
mortalidade vem declinando, porém nos países em desenvol- lhecimento, o que torna difícil delimitar esse processo nor-
vimento, detecta-se uma “nova onda” epidêmica das DCVs, mal da hipertensão como entidade fisiopatológica distinta4,28.
tornando o controle da HA um desafio para a saúde pública O VI Joint National Committee12, passou a considerar como
nesses países. HASI níveis de PAS >140 mmHg e PAD < 90 mmHg .
Estudos sugerem que os fatores genéticos e ambientais
estão associados na manutenção de níveis pressóricos croni- Prevalência de hipertensão arterial no
camente elevados em seres humanos e que a relação dos idoso
mesmos na população hipertensiva é de 30% e 70% respec-
tivamente15,16,17,18. A prevalência da HA em diversos países vem se consti-
Esta revisão tem como objetivo apresentar alguns aspec- tuindo como um sério problema de saúde pública. Estudos
tos da HA, a influência do envelhecimento e os fatores de revelam que entre os idosos, é superior a 50%29.
95
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99

Resultados do estudo de Framingham27 demonstram que nui após a menopausa. Com o decorrer da idade, há redução
nas últimas quatro décadas, não ocorreu redução na da complacência dos grandes vasos, enrijecimento das arté-
prevalência da HA apesar do progresso em sua detecção e rias, e diminuição da elasticidade entre outros aspectos
tratamento. Houve, em média, aumento de aproximadamen- fisiopatológicos, que comprometem uma boa função cardí-
te 20 mmHg na PAS e de 10 mmHg na PAD entre as idades aca7,40.
de 30 e 65 anos, com predomínio de HASI30. Etnia: segundo a literatura, indivíduos negros apresen-
Resultados do National Health and Nutrition tam prevalência de hipertensão duas vezes maior que
Examination Survey (NHANES III)31,32 mostraram que a caucasianos. Dados do NHANES II entre 1976 e 1980 con-
prevalência de hipertensão na população adulta dos Estados firmam prevalência de 38% para os negros versus 29% para
Unidos, no período de 1988 a 1991, dobrou a partir da quarta os caucasianos16. Estudos realizados com populações afro-
década de vida e aumentou mais de seis vezes, a partir da americanas têm sugerido que maiores prevalência e gravida-
sexta década. Outro aspecto enfatizado por esse estudo foi a de da HA em negros podem ser determinadas pela maior
média da PAS que tende a se elevar tanto em homens quanto freqüência de comprometimento em órgãos-alvo, maiores
em mulheres durante toda a vida adulta. níveis de vasopressina plasmática e declínio na resposta re-
O índice de prevalência de hipertensão, estimada pelo nal neste grupo étnico, o que torna o prognóstico da doen-
Systolic Hypertension in the Elderly Program - SHEP, variou ça mais sombrio12,30.
em torno de 5% nos idosos com idade entre 60 a 69 anos, em Sexo: os homens têm maior prevalência de hipertensão
cerca de 10% na faixa acima de 70 anos e 20% naqueles com do que as mulheres (33% e 27% respectivamente)31. Até a
mais de 80 anos28,31,33. menopausa, as mulheres são hemodinamicamente mais jo-
O Estudo Multicêntrico do Idoso (EMI)34 demonstrou vens do que os homens da mesma idade e, desta forma, menos
que a prevalência de HA entre idosos é bastante elevada: vulneráveis à HA e às doenças crônico-degenerativas. Con-
cerca de 65% são hipertensos e entre as mulheres com mais tudo, após a menopausa, as mulheres passam a apresentar
de 75 anos, a prevalência de hipertensão pode chegar a maior prevalência do que os homens. O aumento da PA após
80%26,35. essa fase, nas mulheres, possivelmente relaciona-se ao gan-
O Estudo Epidemiológico Longitudinal com Idoso – ho de peso e às alterações hormonais 7,16,31,38,41.
EPIDOSO - de 1991, seguindo os critérios dos Consensos Tabagismo: seu efeito é bastante deletério sobre o siste-
Brasileiro e Americano de Hipertensão, encontrou, entre ma cardiovascular, embora não esteja relacionado intima-
1.667 idosos, uma prevalência de HA em torno de 63% nas mente com a PA. Constitui um importante fator de risco no
mulheres e de 57% nos homens. Vale ressaltar que 38% dos mesmo grau das dislipidemias na HA. Os pacientes
indivíduos apresentavam HSI, sendo 33% dos homens e 41% hipertensos, que também são fumantes, têm risco de morte
das mulheres36. muito mais alto para certo nível de PA42,43. Existem indícios
de que o consumo de cafeína associado ao fumo promove
Fatores de risco associados à hipertensão elevação aguda, porém reversível da PA, e, portanto, o ris-
arterial co de doença coronariana é maior nos grandes consumido-
res de café13,43. O tabagismo colabora ainda para o efeito
A hipertensão decorre da interação de vários fatores adverso da terapêutica de redução dos lipídios séricos, dimi-
(metabólicos e não metabólicos). Com relação aos não nuindo o colesterol HDL. Em fumantes, o processo de lim-
metabólicos, foram surgindo com as modificações no modo peza do colesterol encontra-se comprometido e induz ainda
de vida do homem moderno. Quanto maior o número de à resistência ao efeito de drogas anti-hipertensivas42,44.
fatores de risco a que o indivíduo estiver exposto, maior o Alcoolismo: o excesso no consumo de álcool, além de
risco de tornar-se hipertenso37. aumentar a PA, constitui uma das causas de resistência à
São considerados como fatores de risco associados à terapêutica anti-hipertensiva7,43. Foi estimado que cerca de
hipertensão: herança genética, idade acima de 60 anos, sexo 10% dos hipertensos têm hipertensão induzida pelo álcool.
(homens e mulheres em fase de pós-menopausa, etnia, taba- Calcula-se que a ingestão superior a 30ml de álcool por dia
gismo, alcoolismo, dislipidemias, diabetes mellitus, obesidade, pode aumentar a PAS (5 a 6mmHg) e a PAD (2 a 4 mmHg)
estilo de vida sedentária, fatores dietéticos, entre outros12. e dobra a probabilidade de o indivíduo tornar-se hipertenso
Herança genética: níveis de PA estão correlacionados en- em relação àquele que não consome álcool40,45,46. Para os
tre os membros da família, o fato é atribuído à herança genética hipertensos que fazem uso de bebidas alcoólicas, o consumo
comum, ambiente compartilhado ou estilo de vida. Indivíduos não deve ultrapassar mais do que 30ml de etanol/dia (720ml
que tenham parentes próximos hipertensos poderão sofrer de de cerveja, 240ml de vinho ou 60ml de bebidas destiladas).
pressão alta38. A possibilidade de um indivíduo com níveis O efeito hipotensor real, determinado pela reduzida ingestão
pressóricos elevados apresentar HA primária é estatisticamen- de bebidas alcoólicas, ainda não está claro, razão porque
te superior se existir história familiar positiva de HA39. estudos apontam que se deve orientar o consumo moderado
Idade: segundo estudos populacionais a prevalência HA de bebidas, apenas como medida de controle da PA12,43.
é maior quanto mais elevada for a faixa etária. Este achado Amplo estudo prospectivo mostrou que a mortalidade
epidemiológico, no entanto, pode estar na dependência de cardiovascular foi 30% a 40% menor entre indivíduos que
outros fatores. O homem, até os 50 anos, tem risco três ve- tomavam um drinque diariamente, comparados aos que não
zes maior que a mulher da mesma idade; essa diferença dimi- bebiam47.
96
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99

Dislipidemias: dislipidemia e HA estão freqüentemente 23,8% entre as mulheres e 9,3% entre os homens, com IMC
associadas, tornando-se obrigatório um controle agressivo de = 30 kg/m2, sendo menor entre os idosos com 80 anos ou
ambas as condições48. Estudos epidemiológicos evidenciaram mais.
que o colesterol sérico parece ter um pico nos homens entre Sedentarismo: com a aposentadoria, os idosos tornam-se
50 e 59 anos de idade e nas mulheres entre 60 e 69 anos. Os mais sedentários, utilizam pouco os músculos e tem maior
triglicerídios séricos parecem elevar-se com o decorrer da tendência a aumentar o peso e a PA. O exercício físico regu-
idade e, provavelmente, refletem a incapacidade de a pessoa lar, orientado por profissional habilitado, tem sido conside-
idosa de remover gordura do sangue25. Autores concordam rado imprescindível para melhorar a função cardiovascular
que os lipídios dietéticos contribuem fortemente como ris- global e modificar o gasto energético diário total em indiví-
co considerável na incidência de doenças crônico- duos mais velhos. As pessoas que praticam exercícios regu-
degenerativas, motivado pela elevação plasmática do larmente são mais saudáveis e têm PA mais baixas em rela-
colesterol total, principalmente às custas da fração de LDL- ção àquelas que não praticam7,43,62.
c, o que conseqüentemente, leva a um aumento gradual da Fatores dietéticos: o sódio, potássio, cálcio e magnésio e
PA49. O que afeta as concentrações plasmáticas não é o fato sua relação com a PA, tem sido amplamente pesquisados. Os
da gordura ser de origem animal ou vegetal, mas sim o grau exemplos mais citados na literatura sobre a relação entre HA
de saturação dos ácidos graxos nos triglicerídeos dietéticos50. e ingestão de sal, descrevem a alta prevalência de HA na
Diabetes mellitus (DM): há maior prevalência de diabe- população do norte do Japão, que apresenta elevada ingestão
tes na população idosa, particularmente do tipo não- de cloreto de sódio, e a inexistência de HA entre alguns
insulinodependente (tipo II). Ao diagnóstico, apresenta-se índios brasileiros – tribos Yanomamis – que fazem uso de
relacionada a níveis pressóricos elevados, associando-se baixo consumo (1 a 5 mEq/Na/dia)64.
comumente a outros fatores de risco cardiovasculares, tais Muitos pacientes idosos ingerem grandes quantidades de
como dislipidemias, obesidade e hiperinsulinemia. A sal e podem, inicialmente, encontrar dificuldades em redu-
prevalência de HAS aparece, com maior freqüência, nos zi-lo em decorrência de uma diminuição da sensibilidade dos
diabéticos do sexo masculino, antes da quinta década de vida receptores de sal (boca) com o avançar da idade43.
e nas mulheres, após esse período16,25,51. A HA associa-se a O INTERSALT65, de 1988, é apontado como o mais
várias alterações metabólicas e hormonais, dentre as quais importante estudo epidemiológico multicêntrico, no qual os
destaca-se a resistência à insulina. Esta predispõe ao aumento dados foram obtidos de 52 populações diferentes em 32 países,
dos níveis glicêmicos e à hiperinsulinemia compensatória incluindo populações indígenas da tribo Yanomami entre
que, em geral, evolui para o diabetes clinicamente instalado. outros, para pesquisar a relação entre a ingestão de sódio (Na+)
A hiperinsulinemia favorece o ganho de peso corporal e e de potássio (K+) com a PA. Os resultados demonstraram, de
agrava a resistência insulínica, criando um ciclo vicioso. modo inequívoco, que a elevação da PA e aumento da sua
Desta forma, a resistência à insulina e a hiperinsulinemia têm prevalência com o avançar da idade (populações urbanas),
sido consideradas o elo entre HA, obesidade e diabetes7, 51,52. estava relacionada com a quantidade de sal na dieta. Mostrou
Obesidade: a obesidade constitui provavelmente o mai- ainda que comunidades que consumiam mais sódio (cerca de
or fator de risco para o desenvolvimento de HA53,54. Segun- 9g), tinham maior incremento da pressão com o envelheci-
do a OMS, é considerado obeso o indivíduo que apresenta mento (provável efeito cumulativo do sal)66,67.
IMC = 30 kg/m2. O nível de IMC para definição de obesidade A população Yanomami diferenciou-se dos outros gru-
não se diferencia na população idosa, havendo porém mai- pos estudados, por apresentar ausência de aumento de PA
or tolerância para os mesmos. Logo, a obesidade pode ser com a idade, ausência de hipertensão e de obesidade. Esse
definida em um patamar mais elevado nesse segmento da resultado comprovou, no INTERSALT, a relação positiva
população. Há prevalência maior de obesidade entre as entre ingestão de sal e níveis de PA67.
mulheres, inclusive nos idosos55,66. Estima-se em 60% a pro- Com relação à sensibilidade ao sal, há indivíduos mui-
porção de hipertensos com peso acima de 20% do ideal, sen- to e pouco responsivos às variações do conteúdo de sal das
do esse o principal determinante do processo em 1/3 dos dietas: são os sensíveis e os resistentes ao sal68. Cerca de 30%
pacientes entre 24 e 64 anos. Em ambos os sexos, seu maior a 50% dos hipertensos e 15% a 25% dos normotensos são
pico ocorre entre 45 e 64 anos. O excesso de peso apresenta sensíveis ao sal10.
tendência crescente nas últimas décadas, mesmo entre pes- A pesquisa Nutrição e Saúde (avaliação do consumo de
soas idosas57,58. A predominância da obesidade, hoje, tende nutrientes – Rio de Janeiro, 1995), apresentou entre outros
a ser maior nas classes sócio-econômicas mais baixas59,60. A resultados que entre os adultos hipertensos (20 a 60 anos), o
obesidade abdominal ou andróide é um forte preditor de consumo foi de 14g e, de 12,9 entre os não hipertensos e os
vários fatores de risco para as doenças cardíacas, incluindo a valores de prevalência estratificados por idade, indicam que,
resistência à insulina, a dislipidemia e a hipertensão61. Esta a partir dos 45 anos, as prevalências aumentam69.
forma de disposição da gordura corpórea aumenta com o Segundo o National High Blood Education Program70,
envelhecimento, apresentando a massa magra, uma perda o potássio dietético é um elemento auxiliar no controle do
progressiva que se exacerba após os 60 anos25,62. Cabrera & peso e redução do consumo de sódio para a prevenção da
Jacob Filho63. em estudo transversal realizado com 847 ido- HA. A alta ingestão de potássio parece exercer ação preven-
sos de diferentes faixas etárias: 60-69 anos, 70-79 anos e 80 tiva contra a hipertensão, ser eficaz no seu tratamento e es-
anos ou mais, identificou que a prevalência de obesidade foi tar associada a menor prevalência dessa enfermidade26.
97
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99

Até o momento não existem provas que indiquem redu- por meio de mudanças no estilo de vida que favoreçam a redu-
ção nos níveis tensionais relacionados à suplementação de ção da PA. Dentre essas modificações, as medidas que,
cálcio na dieta e, quanto ao magnésio, parece exercer papel comprovadamente, reduzem a PA são: controle do excesso de
na regulação da pressão sangüínea como um vasodilatador. peso corporal, da ingestão de sal, de gorduras, do consumo de
Evidências demonstram uma associação entre a baixa bebidas alcoólicas, prática de exercícios físicos com regularida-
ingestão de magnésio e a PA elevada7,10,12. de e a não utilização de drogas que elevem a PA7.
O Dietary Approaches to Stop Hypertension – DASH71,
estudo multicêntrico controlado, mostrou que uma dieta rica Comentários finais
em frutas, verduras e grãos, pobre em gorduras saturadas e
colesterol, pode reduzir a PA. Este estudo de revisão enfatiza a necessidade de rever os
O DASH-SODIUM72 utilizou três níveis de ingestão de programas de intervenção no controle da HA no idoso,
sódio e demonstrou que a dieta DASH com o menor nível de priorizando as mudanças no estilo de vida dos mesmos, pela
sódio (50 mmol/dia) reduziu a PAS média em 7,1 mmHg em aquisição de hábitos de vida saudáveis, visando a modifica-
normotensos e em 11,5 mmHg em hipertensos. ção de alguns fatores de risco. Para alcançar as metas terapêu-
O tratamento da HA envolve orientações para que se pro- ticas propostas, vale ressaltar a importância da abordagem
cessem mudanças de hábitos de vida, compreende o tratamen- multiprofissional do hipertenso, particularmente do
to não-medicamentoso e tratamento com agentes anti- hipertenso idoso, pois objetivos múltiplos exigem diferentes
hipertensivos. O tratamento não-medicamentoso tem, como abordagens para uma maior adesão às referidas medidas te-
principal objetivo, diminuir a morbimortalidade cardiovascular rapêuticas.

Referências bibliográficas
1. Organización Panamericana de la Salud. Instituto Nacional de 17. Knapp HR. Aspectos nutricionales de la hipertensión. In: Ziegleer EE,
Envejecimiento. Envejecimiento en las Americas: projeciones para el siglo Filer JR eds. Conocimientos actuales sobre nutrición. Washington: OPS/
XXI. Washington; OPS, 1998. ILSI; 1997. p.468-75.
2. Ramos LR, Veras RP, Kalache A. Envelhecimento populacional: uma 18. Amodeo C, Heimann JC. Revisão atualização em hipertensão arterial:
realidade brasileira. Rev Saúde Públ. 1987; 21:211-24. o fenômeno da sensibilidade ao sal. J Bras Nefrologia 1998; 20:68-73.
3. Ramos LR, Rosa TE, Oliveira ZM, Medina MCG, Santos FRG. Perfil do 19. Netto MP, Ponte JR da. Envelhecimento: desafio na transição do século.
idoso em área metropolitana na região sudeste do Brasil: resultados de In: Netto MP ed. Gerontologia . São Paulo: Atheneu; 2000. p.3-12.
inquérito domiciliar. Rev de Saúde Publ 1993; 27:87-94. 20. Neri AL, ed. A formação de recursos humanos em gerontologia: papel
4. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Departamento da pós-graduação. In: Anais do Fórum Permanente da Política Nacional
de Programas de Saúde. Coordenação de Doenças Cardiovasculares. do Idoso 3, Encontro das Universidades 2; 2000, Recife, Brasil. p.5-16.
Doenças cardiovasculares no Brasil-SUS. Brasília 1993. 36 p. 21. Liang BT. Redução do risco cardiovascular. In: Forclea MA, Laviazzo-
5. Fernandes MGM, Gonçalves MCR, Gadelha CS, Andrade IA. Diagnóstico Mourey R. Segredos em geriatria. Porto Alegre: Artmed 1998.
socioeconômico e de saúde em idosos. Rev Bras Ci Saúde 2002; 6:63-74. 22. Nicola IP. Formação de recursos humanos para uma ação educativa
6. Ramos LR, Miranda RD. Impacto epidemiológico da hipertensão arterial gerontológica. Gerontologia 1999; 4:168-78.
sistólica isolada no idoso. Rev Bras Hipertens 1999; 6:370-5. 23. Pierri H, Wajngarten M, Barreto ACP. Hipertensão arterial no idoso.
7. Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial III. HiperAtivo. Rev Bras HiperAtivo 1998; 3:19-27.
Hipertens 1999; 6:67-106. 24. Franco RJS da, Habermann F. Revisão/Atualização em hipertensão
8. Sgambatti MS, Pierin AMG, Mion Júnior D. A medida da pressão arterial arterial: hipertensão arterial na terceira idade–importância clínica,
no idoso. Rev Bras Hipertens 2000; 7:65-70. diagnóstico e tratamento. Jornal Bras. Nefrologia 1997; 1:84-8.
9. Abernethy DR, Andrawis N. Hipertensão no idoso. In: Calkins E, Ford AB, 25. Duarte ALN, Nascimento ML. Condutas dietéticas. In: Netto MP ed.
Katz PR eds. Geriatria prática. Rio de Janeiro: Revinter; 1997. p.483-90. Gerontologia-a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo:
10. Krummel D. Nutrition in hypertension. In: Mahan LK, Escott-Stump S, Atheneu; 2000. p.262-72.
eds. Krause’s food nutrition diet therapy. Pennsylvania: Saunders; 2002. 26. Brandão AP, Filho BM, Amodeo C, Ferreira C, Filho JS, Siqueira JE et al.
p.596-10. Diretrizes do grupo de estudos em cardiogeriatria da Soc. Brasileira de
11. Awtry EH, Loscalzo J. Doença vascular e hipertensão. In: Andreoli TE Cardiologia. Arq Bras. Cardiol 2002; 79, (supl 1):1-45.
ed. chefe, Carpenter CCJ, Griggs RC, Loscalzo J eds. Cecil Medicina Interna 27. Dórea EL, Lotufo PA. Framingham Heart Study e a teoria do contínuo
Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.133-48. de Pickering: duas contribuições da epidemiologia para a associação entre
12.VI Relatório do Joint National Committee. Prevenção, detecção, avaliação pressão arterial e doença cardiovascular. Rev Bras Hipertens 2001; 8:195-
e tratamento da pressão arterial elevada. Bethesda: National Institutes of 00.
Health; 1997. 70 p. 28. Morigutti JC, Paiva CE, Marchini JS, Furtado Júnior DA, Matos FD,
13. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Ferriolli E. Systolic hypertension in elderly program e outros estudos
Departamento de Programas de Saúde. Coordenação de Doenças clínicos em idosos. Rev Bras Hipertens 2001; 2:206-11.
Cardiovasculares. Controle da hipertensão arterial: uma proposta de 29. Ramos LR, Santos FRG, Schoueri R, Cendoroglo MS, Martinez TLR.
integração ensino-serviço. Rio de Janeiro: CDVS/NUTES; 1993. 232 p. Doenças cardiovasculares no idoso: implicações clínicas dos dados
14. Organização Mundial de Saúde. Comitê de Especialistas em Controle epidemiológicos. Rev Soc Cardiol 1991; 3:3-12.
de Hipertensão Arterial. Relatório do Comitê da OMS. Geneva 1996; 30. Kannel WB. Blood pressure as a cardiovascular risk factor. Prevention
(Série de informes técnicos N° 862) and treatment. JAMA 1996; 275-157l.
15. Rocha AT, Kinchoku H, Coelho OR, Rocha JC. Manuseio nutricional na 31. Mulrow CD, Brand MB. Hipertensão arterial no idoso. In: Gallo JJ,
hipertensão. Rev Soc Cardiol 1997; 7:490-5. Whitehead JB, Rabins PV, Silliman RA, Murphy JB eds. Reichel assistência
16. Porto CC. Hipertensão arterial sistêmica-hábitos de vida e fatores ao idoso: aspectos clínicos do envelhecimento. Rio de Janeiro: Guanabara
correlatos. JBM 1999; 76:35-45. Koogan ; 1999. p. 99-08.

98
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):94-99

32. Burt VL, Whelton P, Roccella EJ, Brown C, Cutler JA, Higgins M et al. 51. Zanella MT, Ferreira SRG, Ribeiro AB. Hipertensão arterial e diabete
Prevalence of hypertension in the US adult population. Results from the melito. Hipertensão 1998; 2:55-60.
third National Health and Nutrition Examination Survey, 1988-1991. 52. Kohlmann Jr. Resistência à insulina e hipertensão arterial: relevância
Hypertension 1995; 25:305-13. clínica. Hipertensão 1998; 2:50-4.
33. SHEP- Cooperative Research Group. Prevention of stroke by 53. Gus M, Fuchs FD. Obesidade e hipertensão. Arq Bras Cardiol 1995;
antihypertensive drug treatment in older persons with isolated systolic 64:565-70.
hypertension: final results of the systolic hypertension in the elderly 54. Sabry MOD, Sampaio HAC, Silva MGC da. Hipertensão e obesidade
program (SHEP). JAMA 1991; 265:3255-64. em um grupo populacional no Nordeste do Brasil. Rev Nutr 2002; 2:139-
34.Taddei CFG, Ramos LR, Moraes JC de,Wajngarten M, Libberman A, Santos SC 47.
et al. Estudo Multicêntrico de Idosos atendidos em ambulatórios de cardiologia e 55. Stevens J. Impact of age on association between weight and mortality.
geriatria de instituições brasileiras. Arq Bras Cardiol 1997; 69:327-33. Nut Rev 2000; 5:129-37.
35. Ferreira C, Luna Filho B, Pinto LESA Fonseca FAH, Menendes G, Ito 56. Euronut SENECA investigators. Nutritional status: anthropometry. Eur
MT et al. Estudo de prevenção de doenças cardiovasculares para servidores J Clin Nutr 1991; 45:31-42.
da Unifesp-2000 (EstudoPrevServ-UNIFESP-2000).Disponível em: http:// 57.World Health Organization. Obesity-preventing and managing the global
www.epm.br/medicina/cardio/ch/index.htm epidemic WHO offset publication, Section B–Establishing the true costs
36. Ramos LR, Toniolo J, Cendoroglo M, Garcia JT, Najas MS, Perracini M of the problem of overweight and obesity. Geneva 1997.
et al. Two-years follow-up study of elderly residents in São Paulo, Brazil 58. Monteiro CA, Mondini L, Souza ALM, Popkin B. Da desnutrição para a
(EPIDOSO Project): methodology and preliminary results. Rev Saúde Públ obesidade: a transição nutricional no Brasil. In: Monteiro CA(org). Velhos
1998; 5:397-07. e novos males da saúde no Brasil. São Paulo: HUCITEC; 2000. p.247-55.
37. Vasconcelos SML. Contribuição da dieta na manutenção de níveis 59. Rudman & Cohan ME. Nutrição na terceira idade. In: Calkins E, Ford
pressóricos elevados em hipertensos usuários do Hospital Universitário AB, Katz PR. Geriatria prática. Rio de Janeiro: Revinter 1997; p.19-33.
[dissertação]. Maceió: Univ Federal de Alagoas- UFAL; 1997 60. Organización Panamericana de la Salud. La obesidad en la pobreza: um
38. Oparil S. Hipertensão arterial. In: Wyngaarden JB et al. Cecil – Tratado nuevo reto para la salud pública – Washington DC: OPS, 2000. 132p.
de medicina interna. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;1993. p.258-74. (Publicación Científica nº 576)
39. Bakrins G, Bursztyn M Gavras I, Bresnahan M, Gavras H . Role of 61. Ribeiro AB, Zanella MT.Tratamento da hipertensão arterial no paciente
vasopressin in essential hypertension: racial differences. Journal of obeso. Rev Bras Hipertens 2000; 2:172-8.
Hypertension 1997; 5:545-50. 62. Poehlmann ET. Nível de atividade física e controle de peso em idosos.
40. Reis NT, Cople CS dos. Nutrição clínica na hipertensão arterial. Rio In: Bouchard C ed. Atividade física e obesidade. São Paulo: Manole; 2003.
de Janeiro: Revinter 1999. p.303-20.
41. Furtado MR, Martim JF. Hipertensão arterial na mulher: um caso especial. 63. Cabrera ASM, Jacob Filho W. Obesidade em idosos: prevalência,
Arq Brasil Cardiol 1995; 2:141-4. distribuição e associação com hábitos e co-morbidades. Arq Bras
42. Magalhães LC. O fumo como fator de risco cardiovascular. Hipertensão Endocrinol Metab 2001; 5:494-501.
1998; 2:80- 64. Stamler J. The Intersalt study: background, methods, findings and
43. Beevers DG, MacGregor GA. Hipertensão na prática. Rio de Janeiro: implications. Am J Nutr 1997; vol: 626S-642S.
Guanabara Koogan; 2000. 65. Intersalt Cooperative Research Group. Intersalt: na international study
44. Bertolami MC. Hipertensão arterial e obesidade. HiperAtivo 1994; of eletrolyte excretion sodium and potassium excretion.Br Med J 1998;
3:44-50. 297:319-28.
45. Nelson JK . Manual de dietas da Clínica Mayo. Mayo Medical Center 66. Santello JL. Sal e hipertensão arterial: o grande elo entre a evolução e
USA 1994. p.625-43. a evidência. J H A 2002; 1:3-6.
46. Schultz C. Doenças cardiovasculares-hipertensão. In: Manual de dietas 67. Mancilha-Carvalho JJ, Souza e Silva NA. Os Yanomami no Intersalt. Arq
da Clínica Mayo, São Paulo: Roca ; 1994. p.123-51. Bras Cardiol 2003; 80:289-94
47. Thun MJ, Peto R, Lopez AD, Monaco JH, Henley J, Heath CW et al. 68. Poch E, Gonzalez D, Giner V, Bragulat E, Coca A, De la Sierra A. Molecular
Alcohol consumption and mortality among middle–aged and elderly vs basis of salt sensitvity in human hypertension. Evaluation of renin-angiotens-
adults. N Engl J Med 1997; 337:1705-14. aldosterone system gene polymorphisms. Hypertension 2001; 5:120-9.
48. Stojiljkovic MP, Lopes HF, Zhang D, Morrow JD, Goodfriend TL, Egnon 69. Sichieri R. Consumo de nutrientes. In: Rosely Sichieri ed. Epidemiologia
BM. Increasing plasma fatty acids elevates F2-isoprostanes in humans da obesidade. Maceió: UERJ; 1998.p.89-106.
implications for the cardiovascular risk factor cluster. J Hipertens 2002; 70. National High Blood Pressure Education Program Working (NHBPEP)
6:1215-21. Groups Report on Hypertension in the Elderly. Hypertension 1993; 23:275.
49. Ascherio A, Rimm EB, Giovannucci EL, Spiegelman D, Stampler M,Willet 71. Olmos RD, Benseñor JM. Dietas e hipertensão arterial: Intersalt e
WC et al. A prospective study of nutritional factors and hypertension estudo DASH. Rev Bras Hipertens 2001; 2:221-4.
among US men. Circulation 1992; 86:1475. 72. Sachs FM, Svetkey LP, Vollmer WM, Appel LJ, Bray GA, Harsha D et al.
50. Neves NMS. Os elementos da dieta no tratamento da doença Effects on blood pressure of reduced dietary sodium and the Dietary
cardiovascular. In: Nutrição e Doença Cardiovascular. Rio de Janeiro: Approaches to Stop Hypertension (DASH) diet. DASH-Sodium
Guanabara Koogan;1997. Collaborative Research Group. N Engl J Med 2001; 1:3-10.

99
A RT I G O D E R E V I S Ã O

Os carotenóides no tratamento e prevenção do câncer


Carotenoids in treatment and prevention of cancer
Los carotenoides en el tratamiento y la prevención del cáncer

Tatiana Pereira de Paula1, Wilza Arantes Ferreira Peres2, Maria das Graças Tavares do Carmo3

Resumo Abstract
A atuação dos carotenóides na quimioprevenção e no tratamen- The action of carotenoids in chemoprevention and treatment of
to do câncer vem sendo estudada ao longo de vários anos. O pro- cancer has been studied over many years. The aim of this review
pósito desta revisão foi avaliar as informações disponíveis na lite- is to evaluate the available information in the literature about the
ratura sobre a ação dos carotenóides na carcinogênese. A atuação action of carotenoids in carcinogenesis. The action of carotenoids
dos carotenóides, em especial do beta-caroteno, nas diversas fa- ¾ particularly beta-carotene ¾ in the various stages of
ses da carcinogênese pode estar relacionada à regulação das jun- carcinogenesis may be related to the regulation of gap junctional
ções comunicantes, ao aumento da resposta imune, à sua ação communications, increase in the immune response, its oxidant
antioxidante ou à modulação da expressão do gene supressor action, or to the modulation of the expression of the tumoral
tumoral. No entanto, existem evidências de que com o aumento supressor gen. However, there are evidences that when the oxygen
da pressão parcial de oxigênio, o beta-caroteno atue como agente partial pressure increases, beta-carotene acts as prooxidant agent,
pró-oxidante, favorecendo à carcinogênese. Ensaios clínicos com favouring carcinogenesis. Clinical essays with beta-carotene have
beta-caroteno avaliaram o efeito deste carotenóide sobre o risco de evaluated the effect of carotenoids on the risk of lung cancer in
câncer de pulmão em humanos, demonstrando que a humans, demonstrating that a high-dose supplementation does not
suplementação com doses elevadas não reduziu o risco de câncer reduce the risk of lung cancer. However, for breast and prostate
pulmonar. Porém, no câncer de mama e de próstata os cancer, carotenoids have shown a significant chemopreventive
carotenóides têm demonstrado significativo efeito effect. It can be concluded that there are many mechanisms related
quimiopreventivo. Conclui-se que vários são os mecanismos im- to the association of carotenoids and chemoprevention of cancer,
plicados na associação entre carotenóides e quimioprevenção do although it is still not known which one predominates. The effects
câncer, embora ainda não se saiba qual o predominante. Os efei- of the combination of various carotenoids have to be more deeply
tos da combinação de vários carotenóides precisam ser mais estu- studied, as well as the doses to be used, before a large scale
dados, bem como a definição da dose a ser utilizada, antes da prescription for treatment and prevention of cancer. (Rev Bras
prescrição em larga escala para o tratamento e prevenção do cân- Nutr Clin 2004; 19(2):100-108)
cer. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108) KEY WORDS: carotenoids, cancer, beta-carotene, chemoprevention
UNITERMOS: carotenóides, câncer, beta-caroteno, quimioprevenção

Resumen
El papel de los carotenoides en la quimioprevención y en el tratamiento del cáncer ha sido estudiado a lo largo de los últimos años. El
propósito de la presente revisión fue evaluar las informaciones disponibles en la literatura sobre el papel de los carotenoides en la
carcinogénesis. La acción de los carotenoides, y en especial del beta-caroteno en las diversas fases de la carcinogénesis, puede relacionarse
con la regulación de las uniones intercelulares, el aumento de la respuesta inmune, la acción antioxidante o la modulación de la expresión
del gene supresor tumoral. Sin embargo, hay evidencias de que con el aumento de la presión parcial del oxígeno, el beta-caroteno se
comporta como un agente prooxidante, favoreciendo la carcinogénesis. No obstante, en el cáncer de mama y de próstata los carotenoides
han dado muestras de que poseen un significativo efecto quimiopreventivo. Por ende, se puede llegar a la conclusión de que son varios
los mecanismos implicados en la asociación entre los carotenoides y la quimioprevención del cáncer, a pesar de que todavía no se sepa

1. Nutricionista do Hospital Estadual Rocha Faria. Mestranda pelo Departamento de Clínica Médica - Setor de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho – UFRJ; 2. Professora Assistente do Departamento de Nutrição e Dietética/ Instituto de Nutrição-Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Doutoranda pelo
Departamento de Clínica Médica - Setor de Gastroenterologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ; 3. Professora Adjunta do Departamento de Nutrição
e Dietética/ Instituto de Nutrição-UFRJ - Doutora em Ciências pela Escola Paulista de Medicina
Endereço para correspondência: Nutr.Tatiana Pereira de Paula - Rua Palmiro Alves 275, Bangu; Cep 21825-100. Rio de Janeiro, RJ. Brasil. E-mail: tatidepaula@yahoo.com.br
tel : (0xx2133335506)
Submissão: 8 de janeiro de 2004
Aceito para publicação: 12 de maio de 2004

100
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

cuál de estos mecanismos es lo que predomina. Es necesario estudiar más los efectos de la combinación de varios carotenoides, así como
la definición de la dosis que habrá de suministrarse, antes de que se los prescriban en amplia escala en el tratamiento y en la prevención
del cáncer. (Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108)
UNITÉRMINOS: carotenoides, cáncer, beta-caroteno, quimioprevención

Introdução cesso longo e reversível, sendo este um ponto estratégico para


ação de agentes quimiopreventivos. A progressão da célula
Os carotenóides são compostos amplamente encontra- pré-maligna para célula maligna ocorre em conseqüência de
dos na natureza que não são sintetizados pelos animais, mas dano adicional ao cromossomo. Devido ao fato de essas cé-
por plantas e microorganismos, nos quais desempenham lulas apresentarem reduzida dependência dos fatores de cres-
funções essenciais como pigmentos acessórios na fotossíntese cimento, ocorre divisão celular incontrolada, resultante do
e na fotoproteção1,2. Estas duas funções são conseqüências da aumento da autonomia celular9. Vários nutrientes podem
estrutura conjugada de polieno dos carotenóides que permi- agir nos diferentes estágios da carcinogênese, o que não ne-
tem à molécula absorver luz e inativar oxigênio singlete e cessariamente pode refletir o processo em humanos, uma vez
radicais livres1. que estes são certamente mais complexos do que o que se
Os carotenóides são polisoprenóides, os quais possuem propõe. Entretanto, os resultados provenientes de estudos
cerca de quarenta átomos de carbono e um sistema de duplas experimentais possibilitam o conhecimento dos mecanismos
ligações conjugadas, que contêm uma ou duas estruturas de ação destes nutrientes.
cíclicas no final da cadeia, com exceção para o licopeno, que A atuação dos carotenóides, em especial do beta-
contém duas estruturas acíclicas3. Cerca de mil carotenóides caroteno, nas diversas fases pode estar relacionada à sua ação
naturais já foram identificados1. Aproximadamente 10% antioxidante, à regulação das junções comunicantes, ao
deles podem ser encontrados na dieta humana e cerca de aumento da resposta imune ou ainda à modulação da expres-
vinte deles podem ser encontrados no plasma e tecidos de são do gene supressor tumoral. Entretanto, o estágio ou os
mamíferos. Os principais carotenóides são beta-caroteno, estágios da carcinogênese em que os carotenóides podem agir
licopeno, luteína, beta-criptoxantina e alfa-caroteno que ainda não está (estão) estabelecido(s).
contribuem para cerca de 90% dos carotenóides circulantes
em humanos2 . As fontes dietéticas importantes são frutas e Os carotenóides e suas atividades
vegetais verdes escuros, amarelos, alaranjados ou vermelhos. biológicas
A função fisiológica de pró-vitamina A, característica de
alguns carotenóides, dentre eles o beta-caroteno, o alfa- Carotenóides e ação antioxidante e pró-oxidante
caroteno, o gama-caroteno e a beta-criptoxantina, é a úni-
ca confirmada em humanos4. Para esta atividade, é necessá- As espécies reativas de oxigênio (EROs) são subprodutos
rio que metade da molécula contenha a estrutura beta- do metabolismo aeróbio e sob condições normais em torno
ionona 5 . Existem fortes evidências, em estudos de 2% a 5% do oxigênio consumido pela mitocôndria é con-
epidemiológicos, da associação entre o consumo ou concen- vertido em EROs, sendo os principais o ânion superóxido,
tração sérica de carotenóides e a redução da incidência de peróxido de hidrogênio, radical hidroxila e radical peróxido.
câncer 1,6 . O efeito deletério das EROs é controlado por enzimas
Considerando a importância dos carotenóides na dieta endógenas (catalases, superóxido desmutases e glutationa
humana e as evidentes associações que estes apresentam na peroxidase) e por antioxidantes dietéticos (ácido ascórbico,
prevenção e tratamento do câncer, este trabalho se propõe, alfa-tocoferol, beta-caroteno e isoflavonas)10. As EROs são
a partir de uma revisão de dados encontrados na literatura, necessárias para várias reações do organismo, tais como:
descrever os possíveis mecanismos de atuação dos fagocitose, apoptose e reações de detoxificação promovida
carotenóides na carcinogênese. Os artigos incluídos na pre- pelo sistema citocromo P-450. Logo, a despeito de um com-
sente revisão foram selecionados em pesquisa na base de plexo sistema de antioxidantes celulares, parece que eles
dados MedLine considerando o período de 1985-2002. removem somente o excesso de EROs, mantendo os níveis
necessários para as funções acima citadas11. O equilíbrio entre
Os diferentes estágios da carcinogênese EROs e antioxidantes é necessário para o funcionamento
experimental adequado das células. O excesso de antioxidantes pode ao
contrário do que se pensava, ser maléfico, uma vez que dimi-
O processo de transformação de uma célula normal em nui os níveis de EROs, inibindo a apoptose e suprimindo a
célula neoplásica não está completamente elucidado. Entre- ação de drogas utilizadas no tratamento do câncer, que agem
tanto, modelos baseados em estudos experimentais propõem induzindo a apoptose.
a divisão da carcinogênese em três estágios: iniciação, pro- A geração de EROs está relacionada à ativação de
moção e progressão 7,8. O estágio de iniciação é caracteriza- carcinógenos na fase de iniciação, assim como alterações nas
do por alteração do material genético, que pode ou não re- atividades celulares nas fases de promoção e progressão, tor-
sultar em mutação. O estágio de promoção, caracterizado nando concebível a hipótese de que a inativação destas es-
pela conversão da célula iniciada em pré-maligna, é um pro- pécies possa resultar na proteção contra carcinogênese 9.
101
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

Desta forma, a ação antioxidante dos carotenóides poderia do o dano induzido por radicais livres, porém pode aumen-
impedir o desencadeamento do processo de carcinogênese. tar o crescimento das células já transformadas. Por outro lado,
A mais conhecida atividade antioxidante dos a atividade pró-oxidante de um carotenóide pode inibir o
carotenóides é a sua habilidade de desativar moléculas crescimento das células já transformadas. Entretanto, pode
reativas de oxigênio singlete, produzidas secundariamente ao induzir a transformação neoplásica das células normais por
processo de fagocitose. Essa atividade depende principalmen- meio do comprometimento da integridade celular 20,21.
te, do número de duplas ligações na molécula, e os Palozza et al.22 estudaram o efeito da pressão parcial de
carotenóides que possuem nove ou mais duplas ligações oxigênio no papel pró e antioxidante do beta-caroteno em
conjugadas são mais eficazes. O licopeno, que possui onze timócitos normais e malignos de roedores. Como resultado,
duplas ligações conjugadas e duas não conjugadas e está entre encontraram que, com a PO2 de 150 mmHg, o beta-caroteno
os mais eficientes desativadores dentre os carotenóides na- agiu como antioxidante ao inibir a peroxidação lipídica nos
turais 12,13. Kanopacha et al. 14 submeteram cultura de dois tipos de células. Já com a PO2 de 760 mmHg, o beta-
linfócitos humanos a raios gama e acrescentaram beta- caroteno apresentou ação pró-oxidante, com atividade mais
caroteno à cultura antes e após a irradiação, encontrando pronunciada nas células tumorais de timócitos, sendo esse
efeito antioxidante significativo quando o beta-caroteno foi efeito dose-dependente.
acrescentado até no máximo 1 hora após a irradiação, o que A atividade pró-oxidante dos carotenóides está direta-
sugere efeito preventivo de lesão de DNA logo após a expo- mente relacionada ao potencial redox da molécula e meio
sição aos raios gama. celular onde ela atua, e pode ser também influenciada pela
Durante a reação inflamatória, pode ocorrer superprodu- dose administrada de carotenóide, que em altas doses pode
ção de radicais livres, o que resulta em dano oxidativo aos acelerar a taxa de oxidação, ou pela presença de outros
leucócitos e às células de tecido circunvizinho ao processo antioxidantes 20. Em um estudo, observou-se que o efeito pró-
inflamatório, o que pode levar a dano oxidativo do DNA, oxidante do beta-caroteno em microssomos de ratos foi pre-
resultando em mutação genética. É possível que o beta- venido pela administração concomitante de alfa-tocoferol,
caroteno circulante tenha efeito protetor na carcinogênese, o que sugere possível interação entre esses dois compostos
independente de sua conversão à retinol, desativando estes lipofílicos 23.
tipos de moléculas ou prevenindo dano oxidativo 15. O reco-
nhecimento de antígenos e/ou células tumorais envolve re- Carotenóides e junções comunicantes
ceptores de macrófagos, porém o dano oxidativo decresce o
número de receptores de membrana de macrófagos, contu- A atividade dos carotenóides parece estar fortemente
do o beta-caroteno e a cantaxantina parecem inibir a perda relacionada com sua habilidade de regular as junções
destes receptores após a exposição a espécies reativas de comunicantes (JCs). As JCs constituem-se de poros que
oxigênio 1,16. conectam as células adjacentes em vários órgãos e, devido ao
Os carotenóides podem ainda proteger as membranas pequeno diâmetro destas junções, apenas moléculas meno-
celulares da peroxidação lipídica garantindo, desta forma, a res que 1000 dáltons(Da) podem passar por elas. Estes poros
integridade e fluidez da membrana, diminuindo a formação permitem a passagem de moléculas solúveis em água e íons
de peróxidos imunossupressores e impedindo alterações na do citoplasma de uma célula para outra 24,25. Várias funções
sinalização intracelular e função celular 17,18. Martin et al.19 fisiológicas têm sido atribuídas às junções comunicantes:
observaram em cultura de células que o beta-caroteno pro- troca de nutrientes e íons entre as células conectadas, trans-
tege hepatócitos humanos saudáveis contra peroxidação ferências de sinais elétricos e troca de compostos
lipídica, independente de sua atividade de pró-vitamina A. sinalizadores26. As JCs permitem a passagem de sinais regu-
Estudos experimentais demonstraram que a atividade ladores do crescimento celular, tais como sinais
antioxidante do beta-caroteno apresenta estreita dependên- antiproliferativos, controlando o crescimento celular. Os
cia à pressão parcial de oxigênio (PO2). À baixa PO2, o beta- elementos estruturais das junções comunicantes são as pro-
caroteno age como antioxidante bloqueador da etapa de teínas transmembranas chamadas conexinas. A conexina 43
propagação da cadeia radicular, interrompendo a seqüência é a proteína expressa mais freqüentemente nas junções
de auto-oxidação em cadeia. Todavia, com aumento da PO2, comunicantes 24.
ele é rapidamente auto-oxidado, agindo como pró-oxidante Agentes promotores do crescimento tumoral podem
13
. Entende-se como agente pró-oxidante aquele que induza inibir a comunicação intercelular mediada por junções
estresse oxidativo, manifestando-se por aumento de radicais comunicantes em cultura de células27. A inibição da comu-
livres bioativos, por modulação de defesa antioxidante e por nicação intercelular por meio de agentes promotores
aumento no dano oxidativo em lipídios, proteínas e DNA. tumorais podem ser um importante mecanismo pelo qual as
As duplas ligações conjugadas nas moléculas dos células pré-neoplásicas escapem do mecanismo normal de
carotenóides conferem a estes característica pró-oxidante, regulação do crescimento e progridam para neoplasia.
tornando estes compostos extremamente susceptíveis a radi- As JCs estão envolvidas na regulação do crescimento
cais livres20. Entretanto, a taxa de oxidação é dependente, celular tumoral e estão, freqüentemente, reduzidas em núme-
como já descrito, da PO2. ro e tamanho nas células neoplásicas 25, ou seja, as células
A atividade antioxidante dos carotenóides pode prote- tumorais são deficientes em canais de comunicação. A redu-
ger as células normais da transformação neoplásica, limitan- ção da taxa de proliferação celular das células iniciadas é um
102
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

importante mecanismo de quimioprevenção no câncer. metabólitos de carotenóides com receptores nucleares do


No processo de carcinogênese, são necessários múltiplos DNA para aumentar a síntese de RNAm da conexina 43 32,33.
eventos genéticos para ocorrer a completa transformação em O efeito dos carotenóides sobre as junções comunicantes
célula maligna. Estes múltiplos eventos genéticos podem parece ser dose dependente. Krutovskikh et al.34 analisaram
ocorrer em uma única célula e envolvem atividades de as junções comunicantes em fígado de ratos após diferentes
oncogenes e inatividade de genes supressores tumorais, os doses (0,5, 5 e 50mg/kg de peso) de carotenóides (alfa-
quais inibem a proliferação celular 28. caroteno, beta-caroteno ou licopeno). Os pesquisadores não
A mutação celular resulta de danos endógenos e encontraram efeito com a menor dose e aumento significa-
exógenos ao DNA, de erros na replicação ou na mitose. tivo das junções comunicantes com a dose intermediária,
Somente o dano no DNA não se constitui em mutação, mas sendo o beta-caroteno e o licopeno mais efetivos que o alfa-
pode resultar em mutações durante a replicação do DNA. caroteno. Entretanto, os autores encontraram inibição das
Deste modo, fica evidente que a indução da mutação celu- junções comunicantes nos animais que receberam 50mg/kg
lar requer duplicação de DNA. Pode-se concluir que a redu- de carotenóides, o que pode favorecer a promoção tumoral,
ção na taxa de proliferação leva a diminuição na freqüência principalmente quando células iniciadas estão presentes.
de mutações, independente do nível de dano do DNA 24. Estes resultados destacam ainda que o efeito dos carotenóides
De acordo com o exposto acima, o aumento dos canais sobre as junções comunicantes parece ser independente da
de comunicação entre células mutantes e células normais sua conversão a vitamina A.
pode inibir, efetivamente, o desenvolvimento do tumor. No Jamieson et al. 35 reportaram que a expressão das
contexto clínico, células que ainda não adquiriram comple- conexinas 43 e 26 era maior em alguns tumores de mama do
tamente o potencial neoplásico, são encontradas na forma de que em células normais. Desta forma, mais estudos são neces-
pólipos intestinais e nos epitélios na forma de displasias 24. sários para avaliar se o aumento das junções comunicantes é
A conexina 43 é o primeiro gene induzido por sempre desejável, uma vez que pode haver estímulo à trans-
carotenóides em mamíferos. Os carotenóides têm demons- formação das células conectadas36.
trado aumentar as JCs entre as células iniciadas pré-malignas
e células vizinhas normais, por aumentar a expressão do Carotenóides e apoptose
RNAm da conexina 43, o que reforça a teoria de que a ação
quimiopreventiva dos carotenóides está associada ao decrés- A apoptose é um mecanismo de morte celular programa-
cimo da proliferação celular. Este efeito estimulante sobre as da que promove a eliminação seletiva de células cancerosas
JCs parece estar diretamente relacionado à estrutura dos e de outras células danosas, visando a integridade do organis-
carotenóides, em especial à natureza dos grupamentos termi- mo e a manutenção da vida37. É uma cadeia de reações de
nais29. É importante ressaltar que estes compostos não pare- múltiplos estágios onde as EROs, agem como iniciadores e
cem aumentar a comunicação celular entre a célula tumoral mediadores essenciais deste processo 11.
já estabelecida e a célula normal e, assim, a ação dos Os sinais apoptóticos surgem nas células cancerígenas e
carotenóides é considerada preventiva e não terapêutica24. promovem a acumulação da proteína P53 que inicia a libera-
Segundo Stahl & Sies 25, o beta-caroteno, a cantaxantina, a ção de EROs, citocromo C e outros reguladores. A cascata de
criptoxantina e o 4-hidroxi-beta-caroteno induzem eficien- enzimas proteolíticas (caspases) é ativada, e estas digerem
temente as JC. Uma indução de três a cinco vezes superior várias proteínas celulares essenciais promovendo a clivagem
foi observada em cultura de células tratadas com estes do DNA, o que resulta em morte celular apoptótica11.
carotenóides quando comparada ao controle tratado com O P53 é um gene supressor tumoral que codifica uma
solvente. fosfoproteína de 53KDa, que desempenha importante papel
As junções comunicantes podem ser moduladas por no controle do ciclo celular. Essa fosfoproteína é capaz de
carotenóides precursores ou não de vitamina A, bem como limitar a proliferação celular após uma lesão do DNA por
de seus metabólitos 30. dois mecanismos: atraso no ciclo celular para permitir repa-
Em estudo com cultura de células tratadas com beta- ração do DNA ou ativação da apoptose 38. Mutações neste
caroteno, cantaxantina e licopeno durante sete dias, Zhang gene tornam as células resistentes à apoptose e a agentes
et al. 31 observaram aumento significativo nos níveis de quimioterápicos que agem induzindo este processo39 .
conexina 43 em comparação ao grupo controle tratado com Pouco sabe-se da habilidade dos carotenóides em indu-
solvente. No entanto, o tratamento com bixina, carotenóide zir apoptose. Muto et al.40 sugerem que o beta-caroteno pode
ativo na proteção da oxidação de membrana, e com alfa- prevenir a carcinogênese cervical por indução da apoptose
tocoferol, antioxidante de fase lipídica altamente potente, em células pré-malignas. Em estudos com cultura de células,
não alterou os níveis de conexina 43. Desta maneira, os beta-caroteno foi capaz de induzir à apoptose células de
autores concluíram que o efeito dos carotenóides no aumen- adenocarcinoma de cólon assim como células humanas com
to da expressão da conexina 43 parece não estar relaciona- leucemia 41,42 . Segundo Palozza et al. 42 , os efeitos pró-
do à sua propriedade pró-vitamina A ou antioxidante, já que apoptóticos dos carotenóides, em modelo experimental,
carotenóides com ou sem atividades de pró-vitamina A au- apresentam as seguintes características: a) as células
mentaram os níveis de conexina 43 e os antioxidantes bixina indiferenciadas são mais susceptíveis a ação do beta-caroteno
e alfa-tocoferol mostraram-se ineficazes. Dois estudos suge- que as células diferenciadas; b) o beta-caroteno diminui a
riram que o mecanismo pode ser resultado da interação dos expressão do Bl-2, protooncogene, envolvido na proteção
103
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

das células contra a apoptose; c) a apoptose é induzida por um indivíduos não fumantes, foi observado aumento na concen-
mecanismo independente da ação do gene P53, conhecido tração plasmática de beta-caroteno e no percentual de
gene supressor tumoral; o efeito pró-apoptótico está direta- monócitos expressando CHPII 17. Em estudo semelhante
mente relacionado às mudanças no potencial redox com luteína e licopeno na mesma dose, foi observado menor
intracelular. efeito destes carotenóides na expressão dos marcadores de
Brivba et al.43, em estudo in vitro com cultura de células, superfície dos monócitos, quando comparado ao beta-
observaram que o beta-caroteno inibiu o crescimento de caroteno48. Este resultado pode ser atribuído à menor con-
carcinoma de cólon humano por indução da apoptose. Os centração plasmática destes carotenóides após a
produtos oxidativos gerados do beta-caroteno em alta con- suplementação, o que pode refletir diferenças na captação,
centração poderiam estar envolvidos na mediação da metabolismo e excreção dos diferentes carotenóides no or-
apoptose. Os autores também encontraram que o beta- ganismo.
caroteno não modulou a atividade dos genes P21 e P53, o que Schwartz et al.49 observaram que animais alimentados
indica a existência de outra via de sinalização responsável por com beta-caroteno, cantaxantina ou vitamina A apresenta-
induzir a apoptose. ram macrófagos com maior habilidade para eliminar células
tumorais.
Carotenóides e resposta imune A produção de prostaglandinas (PGE) em excesso tem
sido correlacionada também à promoção tumoral 50. Os
O sistema imune desempenha papel fundamental na carotenóides podem ainda influenciar a resposta imune por
prevenção do câncer. O beta-caroteno e, possivelmente, meio da modulação da produção de PGE2, que apresentam
outros carotenóides podem aumentar a função das células propriedades imunossupressoras 17. O beta-caroteno pode
imunes envolvidas na detecção e na eliminação de células aumentar a resposta imune alterando a ativação da cascata
tumorais. Este efeito parece ser independente da atividade de do ácido araquidônico (AA), da qual a PGE2 é derivada,
pró-vitamina A de alguns carotenóides e estar relacionado à suprimindo a geração de produtos derivados deste ácido 17.
sua atividade antioxidante, uma vez que as células envolvi- ElAttar & Lin 51 examinaram o efeito do beta-caroteno e da
das na resposta imune podem sofrer ação de radicais livres, cantaxantina na conversão do AA em PGE2 pelas células
peróxidos lipídicos e outros produtos formados em reações escamosas malignas da língua e observaram que a
oxidativas18. As células citotóxicas naturais são alguns dos cantaxantina inibiu, enquanto o beta-caroteno estimulou, de
mediadores da imunidade inata, capazes de se ligarem e des- forma dose dependente, a formação de PGE2.
truírem células infectadas por vírus e células tumorais44. O
declínio com a idade na atividade das células citotóxicas Ingestão de carotenóides e risco de
naturais, também chamadas natural killer (NK), pode expli- câncer: contribuição dos estudos
car parcialmente o aumento da incidência do câncer e tumo- epidemiológicos e de intervenção
res com a idade45. Santos et al.46, ao estudarem um subgrupo
do Physician Health Study (PHS), observaram diminuição da Estudos epidemiológicos têm mostrado que indivíduos
atividade das células NK nos indivíduos idosos com idade que consomem grandes quantidades de frutas e vegetais fon-
entre 65-86 anos suplementados com placebo em relação aos tes de carotenóides têm menor risco de câncer em vários
indivíduos com idade entre 51-64 anos. Entretanto, a órgãos 52,53. Os estudos epidemiológicos que abordam a asso-
suplementação com beta-caroteno nos indivíduos idosos ciação entre câncer e carotenóides são divididos em duas
manteve a atividade destas células em níveis comparáveis aos categorias: estudos longitudinais e estudos de intervenção.
indivíduos de idade entre 51-64 anos também Os estudos longitudinais avaliam a associação entre a
suplementados. Tais achados indicam que a suplementação ingestão de carotenóides, por meio da ingestão de frutas e
com beta-caroteno pode ser benéfica em idosos por aumen- vegetais, e a incidência do câncer. Nestes estudos, a associ-
tar a resposta imune. ação pode ser feita também entre os níveis séricos de
Leslie & Dubey 47 observaram que o beta-caroteno quan- carotenóides e a incidência do câncer. A interpretação dos
do incubado com células NK de humanos aumentou signi- estudos sobre a relação entre carotenóides e redução do ris-
ficativamente a capacidade destas de eliminar células co de câncer é dificultada por vários fatores. Primeiramente,
tumorais quando comparado as células não expostas. A ex- deve-se considerar que as frutas e vegetais contêm várias
posição ao alfa-caroteno também aumentou a atividade vitaminas, minerais, fibras e fitoquímicos que podem agir de
destas células. forma independente sobre o risco de câncer ou outras doen-
Os receptores dos linfócitos T ligam-se aos antígenos ças crônicas. Logo, os indivíduos que consomem mais
somente quando estes estão associados a glicoproteínas co- carotenóides, ingerem também mais estas substâncias, po-
dificadas pelo complexo de histocompatibilidade principal dendo ser os carotenóides marcadores da ingestão elevada
(CHP) na superfície celular das células apresentadoras de destes elementos. De igual modo, os níveis séricos de
antígeno, que são principalmente, as células da linhagem carotenóides podem refletir a ingestão de frutas e vege-
monocítica/macrofágica 44. O beta-caroteno pode estimular tais52,54,55. Assim, os efeitos benéficos normalmente atribuí-
a resposta imune mediada por células ao aumentar a expres- dos aos carotenóides, podem estar relacionados ao consumo
são na superfície celular do CHP classe II. Após a destas substâncias, ou ainda, serem resultantes da
suplementação de beta-caroteno (15mg) por 26 dias em superposição de efeitos de vários elementos. Além disso, os
104
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

indivíduos que consomem mais vegetais e frutas, provavel- destes estudos em comprovar a relação entre suplementação
mente consomem menos gorduras e possuem estilo de vida e redução na incidência do câncer de pulmão, seriam a cur-
mais saudável. ta duração do estudo e população estudada, considerada de
Ziegler 56, em revisão da literatura, observou que, em alto risco para câncer. Estes fatores são baseados em hipóte-
vários estudos retrospectivos, a ingestão de alimentos fontes ses de que o beta-caroteno pode prevenir os estágios mais
de carotenóides não precursores de vitamina A foi inversa- precoces da carcinogênese. Por tratar-se de uma população
mente associada ao risco de câncer, indicando aparente efeito de alto risco, a suplementação pode ter sido iniciada tardia-
protetor deste grupo independe da função de pró-vitamina mente em relação ao processo carcinogênico. Outros fatores
A. como adesão por parte dos participantes e interferência na
A seguir, serão abordados dados epidemiológicos sobre absorção ou ação de outros nutrientes que poderiam ter al-
alguns tipos de câncer. gum efeito protetor também são sugeridos60. Ademais, o
beta-caroteno pode não ser o componente das frutas e vege-
Câncer de pulmão tais relacionado à redução de câncer como reportado em
estudos epidemiológicos. Pode ser sugerido também que
Vários ensaios clínicos com beta-caroteno foram inici- beta-caroteno apresente efeitos benéficos em doses fisiológi-
ados na década de 1980 com o objetivo de avaliar o efeito cas, enquanto os efeitos maléficos ocorram com doses
deste carotenóide sobre o risco de câncer de pulmão e doen- farmacológicas. Outra hipótese sugere que o beta-caroteno
ças cardiovasculares em humanos. na forma de suplemento é mais biodisponível que o encon-
Um grupo de estudo finlandês para prevenção do câncer trado nos alimentos fontes. Desta maneira, a concentração
(The Alpha Tocopherol, Beta- Carotene Cancer Prevention tecidual alcançada pode ser 50 vezes maior que o normal,
Study Group – ATBC) realizou estudo randomizado e duplo mesmo naqueles que consomem grandes quantidades de fru-
cego, com 29.133 homens fumantes, na faixa etária de 50-69 tas e vegetais 61. Este efeito adverso do beta-caroteno em
anos, em um período médio de 6,5 anos. Os indivíduos foram fumantes pode ser devido ao próprio beta-caroteno, seus
divididos em quatro grupos e receberam: 20mg de beta- metabólitos ou a um metabolismo diferenciado do beta-
caroteno, 50 UI de vitamina E, ambos ou placebo. O estudo caroteno em pulmões de fumantes quando comparado aos de
teve como objetivo determinar o efeito da suplementação não fumantes. Em estudo com furões expostos ao cigarro, foi
com alfa-tocoferol, beta-caroteno ou ambos sobre a incidên- evidenciada a redução nos níveis de beta-caroteno no plas-
cia de câncer de pulmão ou outros tipos de câncer. Os indi- ma e tecido pulmonar em animais suplementados e não
víduos que receberam beta-caroteno tiveram aumento de suplementados. Foi observado, em extratos de tecido pulmo-
18% no risco de câncer de pulmão e 8% na taxa de morta- nar de animais expostos ao cigarro, que a formação de
lidade. Este estudo foi o primeiro a demonstrar ausência de metabólitos oxidativos foi três vezes maior que nos animais
benefícios e potencial para efeitos negativos após a não expostos, o que sugere que o meio rico em radicais livres
suplementação com beta-caroteno. Os dados deste estudo dos pulmões poderia modificar o metabolismo do beta-
mostraram que os efeitos maléficos do beta-caroteno foram caroteno e gerar metabólitos oxidativos. Desta forma, a
evidenciados nos indivíduos que fumavam mais de 20 cigar- suplementação com altas doses de beta-caroteno levaria ao
ros/dia 57. acúmulo de seus produtos metabólicos no tecido pulmonar,
Um outro grande estudo realizado nos EUA ( The Beta que em conjunto com a exposição ao cigarro e/ou asbesto
Carotene and Retinol Efficacy Trial -CARET) acompanhou poderia apresentar efeito pró-carcinogênico 62.
18.314 indivíduos fumantes, ex-fumantes e trabalhadores Nestes estudos, o decréscimo de beta-caroteno poderia
expostos ao asbesto, conhecido agente cancerígeno, na fai- ser explicado pelo metabolismo aumentado deste
xa etária de 45-69 anos, por um período médio de quatro carotenóide. Cabe ressaltar que a pressão de oxigênio elevada
anos. Os indivíduos receberam 30mg de beta-caroteno com- nos pulmões poderia favorecer a ação pró-oxidante dos
binado a 25.000UI/dia de vitamina A. O estudo teve como carotenóides.
objetivo avaliar o efeito da suplementação do beta-caroteno
e vitamina A sobre a incidência de câncer de pulmão em Câncer de mama
populações de risco. Os resultados demostraram que o gru-
po suplementado apresentou aumento significativo no risco Jain et al.63, ao estudarem a história alimentar de uma
de câncer58. coorte de 678 mulheres com câncer de mama do Estudo Na-
O Physicians Health Study avaliou em 22.072 médicos cional sobre Câncer de Mama no Canadá, observaram que o
(40-84 anos) o efeito da suplementação com 50mg de beta- consumo elevado de gorduras saturadas e baixa ingestão de
caroteno em dias alternados ou placebo por 12 anos. Ne- carotenóides e vitamina C antes do diagnóstico, aumentou o
nhum efeito significativo do beta-caroteno na incidência do risco de morte por câncer de mama. Bohlke et al.64 avaliaram
câncer ou mortalidade foi encontrado 59. a relação entre câncer de mama e a ingestão de retinol, beta-
Os resultados destes estudos mostraram que a caroteno, vitamina C e vitamina E em 820 mulheres. Entre as
suplementação com doses elevadas de beta-caroteno não mulheres na pós-menopausa não foi observada associação
reduziu os riscos de câncer de pulmão e, provavelmente, estatisticamente significativa entre os micronutrientes estuda-
aumentou o risco em fumantes e trabalhadores expostos ao dos e o risco de câncer de mama. Já entre as mulheres na pré-
asbesto. Os principais fatores que poderiam explicar a falha menopausa, houve associação inversa entre beta-caroteno,
105
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

vitamina C e vitamina E e o risco de câncer de mama. Porém, lação, normalmente comprometido, e da baixa dose de beta-
após ajuste entre os três nutrientes, apenas o beta-caroteno caroteno utilizada70 . Vale dizer, entretanto, que a combina-
manteve-se com diferença significativa. ção de nutrientes não permite identificar o agente protetor.
Em um estudo randomizado com 864 pacientes, com
Câncer de próstata ressecção prévia de adenoma colo-retal, os pacientes foram
divididos em quatro grupos e receberam beta-caroteno (25mg/
Em um estudo prospectivo foi avaliado a associação de dia), vitamina C (1g) e vitamina E (400mg) associadas, beta-
vários carotenóides e o risco de câncer de próstata. Este es- caroteno combinado às vitaminas E e C ou placebo e foram
tudo acompanhou uma coorte de 47.894 homens por seis acompanhados por quatro anos. O estudo teve como objeti-
anos; neste período, 812 homens desenvolveram câncer de vo testar a eficácia do beta-caroteno e das vitaminas C e E na
próstata. Dentre todos os carotenóides analisados, somente prevenção do adenoma colo-retal. Não foi encontrada nenhu-
a ingestão de licopeno (tomate e derivados) foi relacionada ma evidência sobre redução da recorrência de adenoma nos
ao menor risco de câncer de próstata 65. Em outro estudo, 33 grupos suplementados. Tais achados sugerem que outras subs-
homens com indicação cirúrgica para retirada de tumor de tâncias presentes nas frutas e vegetais podem estar envolvidos
próstata foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo na redução do risco de câncer 71. Em um estudo de coorte com
recebeu cápsulas de licopeno, enquanto que o outro recebeu 56.837 mulheres canadenses, não foi evidenciada nenhuma
placebo. Foi observado menor crescimento tumoral naque- associação entre os carotenóides estudados beta-caroteno,
les que utilizaram licopeno 66. alfa-caroteno, licopeno, luteína e beta-criptoxantina e o ris-
co de câncer colo-retal72.
Câncer no sistema digestório
Considerações finais
A ingestão reduzida de vegetais e frutas tem sido associ-
ada com risco elevado de câncer no sistema aerodigestório, Vários mecanismos de ação têm sido propostos para
incluindo o câncer oral67. Negri et al.68 observaram a contri- explicar a relação entre carotenóides e quimioprevenção do
buição da ingestão de beta-caroteno, álcool e exposição ao câncer. Não se sabe ainda qual deles é mais prevalente ou se
cigarro no desenvolvimento deste tipo de câncer. Os pesqui- a conjugação entre eles é responsável por este efeito. A as-
sadores observaram que a baixa ingestão de beta-caroteno sociação entre alguns carotenóides e a redução do risco de
contribuiu para o aparecimento de câncer em 25% dos ho- câncer parece ser por mecanismo independente da sua con-
mens e 17% das mulheres. Em uma coorte com 25.802 indi- versão a retinol.
víduos, acompanhados por 15 anos, foi observado que os A não toxicidade normalmente atribuída aos
indivíduos que desenvolveram câncer oral ou de faringe, carotenóides não deve ser o único critério que justifique a sua
possuíam os menores níveis séricos de carotenóides, particu- suplementação. Deve-se ter cautela, pois nem todos podem
larmente de beta-caroteno69. beneficiar-se desta suplementação, uma vez que doses
Um estudo conduzido na comunidade de Linxian, Chi- farmacológicas, em alguns grupos, podem levar a efeitos
na, cuja população apresenta alta incidência de cânceres no adversos. Além disso, a ação de outros carotenóides precisa
sistema digestório, teve como propósito avaliar o efeito da ser mais estudada, na medida em que a combinação de vári-
suplementação de vários micronutrientes sobre taxas de os carotenóides na dieta pode ser mais benéfica que a
mortalidade e incidência destes tipos de câncer. Foram acom- suplementação isolada de um deles no processo de
panhados 29.584 adultos com idade entre 40-69 anos, por um carcinogênese. Uma outra questão a ser definida é a dose
período de cinco anos, divididos aleatoriamente em quatro necessária para se observar os efeitos benéficos nos diferen-
grupos para análise do efeito da suplementação de quatro tes processos biológicos.
combinações de nutrientes: a)retinol e zinco; b) riboflavina A duração e as diferentes doses utilizadas nos estudos,
e niacina; c) vitamina C e molibdênio e d) beta-caroteno que variam entre doses fisiológicas e doses farmacológicas,
(15mg), vitamina E (30mg) e selênio(50mg). Os indivídu- não permitem uma comparação entre eles. Por conseguinte,
os do último grupo apresentaram redução de 9% na taxa de faz-se necessária a definição de doses e protocolos de trata-
mortalidade por câncer e 21% na taxa de mortalidade por mentos, bem como a realização estudos complementares
câncer gástrico. Os efeitos benéficos observados neste grupo sobre seus mecanismos de ação no processo carcinogênico
podem ser conseqüência do estado nutricional desta popu- antes de sua prescrição em larga escala.

Referências bibliográficas
1. Mayne ST. Beta-carotene, carotenoids, and disease prevention in humans. 4. Naves MMV, Moreno FS. Beta-carotene and cancer chemoprevention
FASEB J 1996;10: 690-701. from epidemiological associations to cellular mechanisms of action. Nutr
2.Rock CL. Carotenoids: biology and treatment. Pharmacol Ther 1997; Res 1998; 18 :1807-1824.
75:185-197. 5.Woutersen RA,Wolterbeek A, Apel MJ,VanDen Berg H. Safety evaluation
3. Food and Nutrition Board. Institute of Medicine. Dietary reference of synthetic betacarotene. Crit Rev Toxicol 1998; 29: 515-542.
intakes for vitamin A , vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, 6.Briviba K, Schnäbele K, Schwertle E, Blockhaus M, Rechkemmer G. Beta-
iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium and zinc. carotene inhibits growth of human colon carcinoma cells in vitro by
Washington: National Academy Press, 2001. induction of apoptosis. Biol Chem 2001; 382:1663-1668.
106
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

7. Bertram JS, Kolonel LN, Meyskens FL Jr. Rationale strategies for H. Differential dose-dependent effects of alpha, beta-carotenes, and
chemoprevention of cancer in humans. Cancer Res 1987; 47: 3012-3031. lycopene on gap junctional intercellular communication in rat liver in vivo.
8. Rousseau EJ, Davison AJ, Dunn B. Protection by beta-carotene and related Jpn J Cancer Res 1997; 88: 1121-4.
compounds against oxygen-mediated cytotoxicity and genotoxicity: 35. Jamieson S, Going JJ, D‘Arcy R, George WD. Expression of gap junction
implications for carcinogenesis and anticarcinogenesis. Free Rad Biol Med proteins connexin 26 and connexin 43 in normal human breast and breast
1992; 13: 407-433. tumors. J Pathol 1998; 184:37-43.
9.Gerster H. Beta-carotene, vitamin E and vitamin C in different stages of 36.Cooper DA, Eldridge AL, Peters JC. Dietary carotenoids and lung cancer:
experimental carcinogenesis. Eur J Clin Nutr 1995;49:155-168. A review of recent research. Nutr Rev 1999; 57:13-145.
10. Lopaczynski W, Zeisel SH. Antioxidants, programmed cell death, and 37. Kerr JFR, Winterfold CM, Harmon BV. Apoptosis, its significance in
cancer. Nutr Res 2001; 21:295-307. cancer and cancer therapy. Cancer 1994; 73: 2013-2026.
11. Salganik RI. The benefits and hazards of antioxidants: controlling 38. Sjöstrom J, Bergh J. How apoptosis is regulated and what goes wrong
apoptosis and other protective mechanisms in cancer patients and the in cancer. BMJ 2001; 322: 1538-1539.
human population. J Am Coll Nutr 2001;20:464S-472S. 39. Blackstone NW, Green DR. The evolution of a mechanism of cell
12. Krinsky NI. Overview of lycopene, carotenoids, and disease prevention. suicide. Bioessays 1999;21: 84-8.
Proc Soc Exp Biol Med 1998; 218: 95-97. 40.Muto Y, Fujii J,Shidoji Y, Moriwaki H, Kawaguchi T, Noda T. Growth
13.Paiva SAR, Russel RM. Beta-carotene) and other carotenoids as retardation in human cervical dysplasia-derived cell lines by beta-carotene
antioxidants. J Am Coll Nutr 1999; 18: 426-433. through down-regulation of epidermal growth factor receptor. Am J Clin
14.Konopacka M, Wolny-Rzeszowska J. Antioxidants vitamins C, E and Nutr 1995;62:1535S-40S.
beta-carotene reduce DNA damage before as well as after gamma-ray 41. Palozza P, Calviello G, Serini S, Maggiano N, Lanza P, Ranelletti FO et al.
irradiation of human lymphocytes in vitro. Mutat Res 2001; 49: 1-7. Beta-carotene at high concentrations induces apoptosis by enhancing oxy-
15. Moon RC. Comparative aspects of carotenoids and retinoids as radical production in human adenocarcinoma cells. Free Radical Biol Med
chemopreventive agents for cancer . J Nutr 1989; 119:127-134. 2001;30:1000-7.
16. Zhang P, Omaye ST. DNA strand breakage and oxygen tension: effects 42. Palozza P, Serini S , Torsello A, Calviello G, Boninsegna A, Covacci V et
of beta-carotene, alpha-tocopherol and ascorbic acid. Food Chem Toxicol al. Regulation of cell cycle progression and apoptosis by beta-carotene in
2001; 39:239-246. undifferentiated and differentiated HL-60 leukemia cells: possible
17.Hughes DA. Dietary carotenoids and human immune function. Nutr involvement of a redox mechanism. Int J Cancer 2002; 97:593-600.
2001; 17:823-827. 43. Briviba K, Schnäbele K, Schwertle E, Blockhaus M, Rechkemmer G.
18. Bendich A. Carotenoids and the Immune Response. J Nutr 1989; Beta-carotene inhibits growth of human colon carcinoma cells in vitro by
119:112-115. induction of apoptosis. Biol Chem 2001; 382:1663-1668.
19.Martin K, Failla ML, Smith JC. Beta-carotene and lutein protect 44. Abbas AK, Lichtman AH, Pober JS. Imunologia celular e molecular. 2º
HepG2human liver cells against oxidant-induced damage. J Nutr 1996; edição. Revinter. RJ;1998.
126:2098-2106. 45. Makidon T, Hirokawa K. Normal aging of the immune system , In:
20. Palozza P. Prooxidant actions of carotenoids in biologic systems. Nutr Jonhson HA. Relation between normal aging and disease . New York: Raven
Rev 1998;56:257-65. Press; 1985 p. 117-132.
21. Palozza P, Serini S, Nicuolo F, Calviello G. Mitogenic and apoptotic 46. Santos MS, Meydani SM, Leka L, Wu D, Fotouhi N, Meydani M et al.
signaling by carotenoids: Involvement of a redox mechanism. IUBMB Life Natural killer cell activity in elderly men is enhanced by beta-carotene
2001; 52: 77-81. supplementation. Am J Clin Nutr 1996;64: 772-7.
22. Palozza P, Luberto C, Calviello G. Antioxidant and prooxidant role of 47.Leslie CA , Dubey DP. Carotene and natural Killer cell activity. Fed
beta-carotene in murine normal and tumor thymocites: effects of oxygen Proc 1982;41:331
partial pressure. Free Radical Biol Med 1997; 22:1065-73 48. Hughes DA, Wright AJA, Finglas PM, Polley AC, Bailley AL, Astley SB et
23. Palozza P, Krinsky NI. The inhibition of radical initiated peroxidation of al. Effects of lycopene and lutein supplementation on the expression of
microssomal lipids by both alpha-tocopherol and beta-carotene. Free funcionally associated surface molecules on blood monocytes from healthy
Radical Biol Med 1991;11:407-14. male non smokers. J Infect Dis 2000;182:511
24. Bertram JS. Carotenoids and gene regulation. Nutr Rev 1999; 57: 182- 49. Schwartz J, Suda D, Light G. Beta-carotene is associated with the
191. regression of hamster buccalpouch carcinoma and the induction of tumor
25. Stahl W, Sies H. The role of carotenoids and retinoids in gap junctional necrosis factor in macrophages. Biochem. Biophys Res Comm
communication. Internat J Vit Nutr Res 1998; 68:354-359. 1986;136:1130-1135.
26.Goodenough DA, Goliger JA, Paul DL. Connexins, connexons, and 50. Marks F, Furstenberger G. Cancer chemoprevention through
intercellular communication. Annu Rev Biochem 1996; 65: 475-502. interruption of multistage carcinogenesis.The lessions learnt by comparing
27.Budunova IV, Willians GM. Cell culture assays for chemical with tumor- mouse skin carcinogenesis and human large bowel cancer. Eur J Cancer
promoting or tumor-inhibition activity based on the modulation of 2000;36: 314-29.
intercellular communication. Cell Biol Toxicol 1994; 10:71-116. 51. ElAttar TM, Lin HS. Effect of retinoids and carotenoids on prostaglandin
28. Kinzler KW, Volgelstein B. Lessons from hereditary colorectal cancer. formation by oral squamous carcinoma cells. Prostaglandins Leukot Essent
Cell 1996; 87:159-70 Fatty Acids 1991;43:175-8.
29. Stahl W, Nicolai S, Briviba K, Hanusch M, Brosszeit G, Peters M et al. 52. Block G, Patterson B, Subar A. Fruit, vegetables, and cancer prevention:
Biological activities of natural and synthetic carotenoids: induction of gap a review of the epidemiological evidence. Nutr Cancer 1992; 18: 1-29.
junctional communication and singlet oxygen quenching. Carcinogenesis 53. Astorg P. Food carotenoids and cancer prevention: an overview of
1997; 18:89-92 current research. Trends Food Sci Tech 1997;8:406-13.
30.Hanusch M, Stahl W, Schulz WA, et al. Induction of gap junctional 54. Rock Cl, Flatt SW, Wright FA, Faerber S, Newman V, Kealey S et al.
communication by 4-oxoretinoic acid generated from its precursor Responsiveness of serum carotenoids to a high-vegetable diet intervention
canthaxanthin. Arch Biochem Biophys 1995; 317 :423-8. designed to prevent breast cancer recurrence. Cancer Epidemiol
31. Zhang LX, Cooney RV, Bertram JS. Carotenoids up-regulate connexin Biomakers Prev 1997; 6:617-23.
43 gene expression independent of their provitamin A or antioxidant 55. Campbell DR, Gross MD, Martini MC et al. Palsma carotenoids as
properties. Cancer Res 1992; 52: 5707-12. biomakers of vegetable and fruit intake. Cancer Epidemiol Biomakers Prev
32.Sies H, Stahl W. Carotenoids and intercellular communication via gap 1994;6:493-500.
junctions. Int J Vitam Nutr Res 1997; 67:364-7. 56. Ziegler RG.A review of epidemiologic evidence that carotenoids reduce
33.King TJ, Khachick F, Bortkiewicz H, et al. Metabolites of dietary the risk of cancer. J Nutr 1989; 119: 116-122.
carotenoids as potencial cancer preventive agents. Pure Appl Chem 57.Heinonen OP, Albanes D. The effect of vitamin E and beta-carotene on
1997;69:2135-40. the incidence of lung cancer and other cancers in male smokers- ATBC.
34. Krutovskikh V, Asamoto M, Takasuka N, Murakoshi M, Nishino H, Tsuda N Engl J Med 1994; 330:1029-1035.
107
Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(2):100-108

58.Omenn GS, Goodman GE, Thornsquist MD, Balmes J, Cullen MR, Glass 65. Giovannucci E, Ascherio A, Rimm EB, Stampfer MJ, Colditz GA, Willet
A et al. Effects of a Combination of beta-carotene and vitamin A and lung WC. Intake of carotenoids and retinol in relation to risk of prostate
cancer and cardiovascular disease –CARET. N Engl J Med 1996; 334:1150- cancer. J Natl Cancer Inst 1995; 87: 1767-76.
1155. 66. Giovannucci E. Tomatoes, tomato based products, lycopene and cancer:
59. Hennekens CH, Buring JE, Manson JE, Stampfer M, Rosner B, Cook NR Review of the epidemiologic literature. J Natl Cancer Inst 1999; 91:317-331.
et al. Lack of Effect on long term supplementation with beta-carotene on 67. Garewal HS. Potential role of beta-carotene in prevention of oral
the incidence of malignant neoplasms and cardiovascular disease. N Engl cancer. Am J Clin Nutr 1991; 53:294S-7S.
J Med 1996; 334:1145-1149. 68. Negri E, La Vecchia C, Franceschi S,Tavani A.Attributable risk for oral cancer
60. Woodall AA, Jack CL,Jackson MJ. Caution with beta-carotene in Northen Italy. Cancer Epidemiol Biomakers & Prev 1993; 2: 189-193.
supplements. Lancet 1996;347:967-8. 69. Zheng W, Blot WJ, Diamond EL, Norkus EP, Spate V, Morris J et al.
61. Castenmiller JJM, West CE. Bioavailability and bioconversion of Serum micronutrients and the subsequent risk of oral and pharyngeal
carotenoids. Annu Rev Nutr 1998; 18: 19-38. cancer. Cancer Res 1993;53: 795-798.
62.Wang X-D, Liu C, Bronson R, Smith DE, Krinsky NI, Russel M . Retinoid 70. Blot WJ, Li JY, Taylor PR, Guo W, Dawsey S, et al. Nutrition intervention
signaling and activator protein-1 expression in ferrets given beta-carotene trials in Linxian, China: supplementation with specific vitamin/mineral
supplements and exposed to tobacco smoke. J Natl Cancer Inst 1999; combinations, cancer incidence, and disease-specific mortality in the general
91:60-6 population. J Natl Cancer Inst 1993; 85:1483-1492.
63. Jain M, Miller AB, To T . Premorbid diet and the prognosis of women 71. Kikendall JW, Mobarhan S, Nelson R, Burgess M, Bowen PE. Oral beta-
with breast cancer. J Natl Cancer Inst 1994; 86:1390-1397. carotene does not reduce the recurrence of colorectal adenomas. Am J
64. Bohlke K, Spiegelman D, Trichopoulou A, Katsouyanni K, Trichopoulos Gastroenterol 1991; 36:1356.
D. Vitamins A, C and E and the risk of breast cancer: results from a case- 72. Terry P, Jain M, Miller AB, Howe GR, Rohan TE. Dietary carotenoid
control study in Greece. Brit J Cancer 1999; 79: 23-29. intake and colorectal cancer risk. Nutr Cancer 2002; 42: 167-72.

108
Instruções para os Autores

1) A Revista Brasileira de Nutrição Clínica publica traba- 5) Os estudos envolvendo humanos e animais devem se
lhos em português, inglês e espanhol, voltados ao interesse de adequar aos princípios estabelecidos respectivamente pelas
profissionais e pesquisadores da área de nutrição clínica. Declarações de Tóquio e Helsinque respectivamente ou
normatização ética equivalente sancionada por entidades na-
2) A Revista Brasileira de Nutrição Clínica aceita a sub- cionais.
missão de trabalhos originais de investigação, tanto na área
experimental como em humanos, estudos clínicos, artigos de 6) Pacientes envolvidos em estudos e pesquisas devem ter
revisão científica, relatos de caso, notas técnicas e cartas aos assinado o Consentimento Informado e a pesquisa deve ter a
Editores. aprovação do conselho de ética e pesquisa da instituição à
qual os autores pertençam.
3) Os trabalhos submetidos à Revista Brasileira de Nutri-
ção Clínica não devem estar sendo, simultaneamente, subme- 7) A publicação de um artigo está condicionada à apro-
tidos a outro periódico e nem devem ter sido publicados an- vação do Conselho Editorial.
teriormente, com conteúdo semelhante ao apresentado à
Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 8) Os editores se reservam o direito de editar e revisar os
textos dos trabalhos aceitos para publicação, a fim de adaptá-
4) O texto dos trabalhos é de inteira responsabilidade dos los ao formato da Revista, remover redundâncias e deixar os
autores que o assinam. Assim, ao enviar uma submissão, esta textos mais claros e compreensíveis, sem alterar o significa-
deverá vir acompanhada de uma autorização para a publica- do e o conteúdo dos trabalhos. Os manuscritos editados serão
ção do trabalho e cessão de direitos autorais para a Revista enviados aos autores responsáveis pelo trabalho para aprova-
Brasileira de Nutrição Clínica, digitada em folha A4 avulsa, ção final.
estando assinalados o local, a data e a assinatura original de
todos os autores.

Preparo dos Manuscritos

1) Os trabalhos a serem submetidos à publicação devem 4) As citações bibliográficas, no texto, devem ser sobres-
ser enviados para critas e numeradas na ordem em que são citadas. As referên-
cias bibliográficas, ao final do trabalho, devem seguir as nor-
Revista Brasileira de Nutrição Clínica mas de Vancouver (Revista de Saúde Pública 1999; 33 (1):6-
a/c Editores 15). Nas citações, no texto, com mais de dois autores, deve-
Rua Abílio Soares, 233 – 14o. andar – cj.144 se citar o primeiro autor seguido da expressão latina “et al.”
Cep 04005-000 - Paraíso – Capital – São Paulo e da numeração respectiva de sua referência. Nos artigos de
revisão, as referências não devem exceder a 80 referências.
2) Os trabalhos devem ser sucintos e conter títulos, resu-
mos e unitermos com três (3) a seis (6) descritores constan- 5) Os trabalhos devem trazer, no início, o nome comple-
tes da lista de Descritores de Assunto do LILACS - Index to e a titulação principal dos autores, local onde foi realizado
Medicus Latinoamericano, em português, em inglês (abstract e endereço para correspondência do autor responsável, inclu-
– key words) e em espanhol (resumen e unitérminos). Os indo telefone, fax e e-mail.
resumos devem ser estruturados e não devem exceder a 250
palavras ou 1500 toques cada um. O resumo deverá ser mui- 6) O trabalho deve ser enviado em disquete novo no
to claro e preciso, pois ele é o chamariz para a leitura do ar- formato Microsoft Word 95 ou 97 junto com uma cópia com-
tigo na íntegra. pleta do trabalho, incluindo ilustrações e legendas, impressa
em papel branco no tamanho A-4 (212 mm x 297mm). Os
3) Os trabalhos originais devem conter introdução, ob- autores devem certificar-se de que os disquetes não contém
jetivo, casuística, material e métodos, resultados, discussão e nenhum tipo de vírus, nem outros arquivos que não o artigo
conclusão e os textos mais especializados, aqueles itens que em questão.
forem apropriados.
7) Os trabalhos podem incluir tabelas, gráficos, figuras, são dos autores ou dos editores da publicação anterior para
fotografias e outros tipos de ilustrações. Os gráficos devem ser reprodução na Revista Brasileira de Nutrição Clínica. Aque-
no formato Excel ou outro formato compatível com o las envolvendo pacientes identificáveis devem vir acompa-
Windows. As figuras podem ser no formato (GIF, JPEG, nhadas de autorização assinada pelos respectivos indivíduos.
BITMAP). As fotografias devem ser originais, em preto e A Revista Brasileira de Nutrição Clínica se reserva o direito
branco, de boa qualidade, em papel brilhante, que permitam de limitar a quantidade de ilustrações.
digitalização ou devem ser enviadas já digitalizadas em
disquete ou CD - ROM, devidamente identificados. Todas as 8) Os agradecimentos devem ser apresentados de forma
formas de ilustrações, gráficos e tabelas devem constar da sucinta e devem ser colocados após as conclusões, assim como
cópia impressa e trazer legendas. Os símbolos e abreviações a indicação de financiamento da pesquisa, o nome da agên-
empregados devem ser explicados nas legendas. Ilustrações cia financiadora e o número do processo.
e fotografias previamente publicadas devem trazer a permis-

Lista para conferência: (em página separada)

✓ • Nome completo do autor principal (sem abreviações)


• Nome completo do autor principal (sem abreviações) e dos co-autores
• Titulação principal dos autores
• Endereço para correspondência do autor responsável, incluindo telefone e e-mail atual
• Título, resumo estruturado e unitermos em português, inglês e espanhol com 250 palavras ou 1500
toques cada um.
• Entrega da versão impressa do texto, figuras, tabelas, gráficos e legendas.
• Indicação dos unitermos constantes na lista de descritores do LILACS
(http://decs.bvs.br/P/decswebp.htm.)
• Entrega do texto digitado em Microsoft Word (95 ou 97) em disquete.
(Certifique-se que o disquete não contém nenhum tipo de vírus)
• Entrega do texto das legendas de figuras, tabelas e quadros em Microsoft Word ou Microsoft Excel, no
mesmo disquete.
• Referências bibliográficas segundo as normas de Vancouver
• Citações bibliográficas no texto numeradas de modo seqüencial e sobrescritas, sem datas entre parên-
teses.

Exemplo de referências bibliográficas

Periódico:
1. Capella RF, Capella J, Mandac H, Nath P. Vertical banded gastroplasty - gastric bypass. Obes Surg 1991; 1:219-20.

Livro:
2. Phillips SJ. Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM. eds. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd.
ed. New York, Raven Press; 1995. p.465-78.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO
PARENTERAL E ENTERAL
Fone: (0xx 11) 3889.9909/ 3889.8774

FICHA DE ATUALIZAÇÃO DE DADOS / PROPOSTA DE NOVOS SÓCIOS

Atualização de Dados Proposta de Sócio

Nome completo: ..............................................................................................................................


Sexo: ............................................................................................. Data de Nascimento: ...............
Endereço: .........................................................................................................................................
CEP: ......................................... Cidade/Estado: ............................................................................
Telefone residencial: (...........) ................................................... Fax: (...........) ............................ Recorte e envie para a SBNPE
Profissão: ....................................................................... E-mail: ..................................................... por fax (0xx 11) 3889-9909 ou
Especialidade: .............................................................................. Data de graduação: ..................
para o seguinte endereço:
Endereço comercial: ........................................................................................................................
Rua Abílio Soares, 233 – Cj 144
Telefone comercial: (...........) ..................................................... Fax: (...........) ............................
Paraíso – São Paulo – SP
CEP: ......................................... Cidade/Estado: ............................................................................
CEP 04005-000
Enviar correspondência para endereço Residencial Comercial
Participa de Equipe Multidisciplinar de Suporte Nutricional? Sim Não
Membro da Indústria ? Não Sim Qual ? ..........................................................
Professor Universitário ? Não Sim Nome da Faculdade ....................................
..........................................................................................................................................................

Assinatura do Proponente

Publicação Oficial
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE)
Federación latinoamericana de Nutrición Parenteral y Enteral (Felanpe)
Indexada no Index Medicus
Latino Americano (Lilacs)
ISSN 0103-7196

Ficha de Assinatura Preços


Pessoa física*
Nome completo: ..............................................................................................................................
Assinatura anual
Sexo: ............................................................................................. Data de Nascimento: ............... Profissional R$ 120,00
Endereço: ......................................................................................................................................... Estudante R$ 60,00
CEP: ......................................... Cidade/Estado: ............................................................................ Números avulsos R$ 30,00
Telefone residencial: (...........) ................................................... Fax: (...........) ............................ Pessoa jurídica*
Telefone comercial: (...........) ..................................................... Fax: (...........) ............................ Assinatura anual R$ 170,00
Profissão: ....................................................................... E-mail: ..................................................... Números avulsos R$ 50,00
É sócio da SBNPE? Sim Não * Sócios da SBNPE recebem a revista
Estou enviando cheque nominal à Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral gratuitamente
referente à assinatura anual da Revista Brasileira de Nutrição Clínica
Recorte e envie para a SBNPE por
fax (0xx 11) 3889-9909 ou para:
Rua Abílio Soares, 233 – Cj 144
Paraíso – São Paulo – SP
Aquisição de exemplares CEP 04005-000

Desejo adquirir exemplar(es) avulso(s) para o que incluo cheque nominal à Sociedade
Assinatura
Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral
Exemplares pedidos
Aquisição de exemplares
Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____
Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____
Assinatura do proponente
BRAZILIAN SOCIETY OF PARENTAL
AND ENTERAL NUTRITION
Phone: (0xx 11) 3889.9909/ 3889.8774

PERSONAL DATA UPDATE / NEW MEMBERS PROPOSAL

f Data Update Proposta de Sócio

Name: ...............................................................................................................................................
Sex: ............................................................................................... Date of Birth: ...........................
Address: ............................................................................................................................................
Zip Code: ................................. City/State: ...................................................................................
Home Phone Number: ................................................................ Fax: ........................................... Send this to the Society by fax:
Profession: ..................................................................... E-mail: ..................................................... (55 11 3889-9909) or to
Specialty: ..................................................................................... Graduated in: ...........................
the address below:
Commercial address: .......................................................................................................................
Rua Abílio Soares, 233 – Cj 144
Commercial phone: ..................................................................... Fax: ...........................................
Paraíso – São Paulo – SP
Zip Code: ................................. City/State: ...................................................................................
CEP 04005-000 – Brazil
Send mail to Home Commercial Address
Are you a member of a nutritional support team? Yes No
Member of Industry ? No Yes Which ? ............................................................
University Professor ? No Yes College: ............................................................
..........................................................................................................................................................

Proposer’s signature

Official Publication of Brazilian Society of Parental and Enteral


Nutrition (SBNPE) and of Federación Latinoamericana de Nutrición
Parenteral y Enteral (Felanpe)
Indexed by the Index Medicus
Latino Americano (Lilacs)
ISSN 0103-7196

Subscription form Prices

Name: ............................................................................................................................................... Private


Sex: ............................................................................................... Date of Birth: ........................... Annual
Professional R$ 120,00
Address: ............................................................................................................................................
Student R$ 60,00
Zip Code: ................................. City/State: ................................................................................... Single issues R$ 30,00
Home Phone Number: ................................................................ Fax: ...........................................
Institutional
Commercial phone: ..................................................................... Fax: ...........................................
Annual R$ 170,00
Profession: ..................................................................... E-mail: ..................................................... Single issues R$ 50,00
Member of the Society? Yes No
I am enclosing a Brazilian bank account check payable to the Brazilian Society of Parenteral and
Send this to the Society by fax
Enteral Nutrition for an annual subscription of the Brazilian Journal of Clinical Nutrition. (55 11 3889.9909) or to
the following address:
Rua Abílio Soares, 233 – Cj 144
Paraíso – São Paulo – SP
Single number acquisition CEP 04005-000 – Brazil

Please send me the following numbers of the Journal for what I want to be charged:
Signature
Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____
Single number acquisition
Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____ Vol ____(No. ___) 19_____

Proposer’s signature

Você também pode gostar