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área de alimentos
Por Elisa Gibrim Moreira, Juliana de Cássia Gomes Rocha e Afonso Mota Ramos
As membranas são barreiras feitas com alta tecnologia, que permitem a passagem
seletiva de materiais de acordo com seu tamanho, formato e características, ou seja,
funciona como uma barreira permeável e seletiva, que restringe a transferência de
massa entre duas fases. Sendo assim, uma membrana é um filme sólido que separa
duas soluções e que atua como barreira seletiva para o transporte de componentes
destas soluções, quando aplicado algum tipo de força externa.
Os sistemas de separação por membranas são caracterizados por atuarem como uma
barreira seletiva, permitindo a passagem de determinados componentes, enquanto
impedem a passagem de outros. (MIERZWA,2005).
Revisão da literatura
Pois bem. A principal função de uma membrana é atuar como barreira seletiva,
permitindo a passagem de certos componentes de uma mistura e retendo outros. Sua
seletividade está relacionada às dimensões da molécula ou partícula e ao tamanho do
poro, assim como à difusividade do soluto na matriz e às cargas elétricas associadas
(CHERYAN, 1998).
A ultrafiltração tem sido amplamente utilizada em diversos setores, como por exemplo
para a remoção de proteínas e de outras macromoléculas em análises de amostras
biológicas, pois tem uma série de vantagens: é uma técnica simples, as membranas
são disponíveis comercialmente e não possui problemas de diluição da amostra e nem
de troca de solvente. Além disso, desde os anos 1960 tem havido grandes
desenvolvimentos em tecnologias de purificação de água por este processo.
Inúmeras pesquisas ao redor do mundo, bem como aplicações em escala real estão
sendo desenvolvidas, com diversos tipos de membranas, no intuito de avaliar a
eficiência do uso da ultrafiltração em processos.
Ultrafiltração de alimentos
Nos últimos anos, faz-se notar no mercado que, com o avanço das novas tecnologias
de membranas, este absorveu rapidamente o desenvolvimento das mesmas. Todavia,
esse processo trouxe tanto vantagens como desvantagens, como pode ser observado
na Tabela 2.
Queijo
Uma das alternativas para aumentar o rendimento dos queijos produzidos a partir de
leite desnatado é a pré-concentração a teores de sólidos totais mais elevados. Entre as
várias técnicas que podem ser adotadas para a pré-concentração do leite, a
ultrafiltração é a que vem despertando maior interesse. Esse processo apresenta
ainda a vantagem de melhorar a textura e o sabor em relação ao queijo fabricado pelo
método convencional, devido ao decréscimo do teor de lactose, que controla a taxa de
acidificação, e à incorporação das proteínas do soro, que, além de aumentar o
rendimento, aumentam a capacidade de retenção de água no queijo, tornando-o mais
macio. A aplicação da ultrafiltração na fabricação de queijos inclui desde a
padronização do teor de proteína do leite até a obtenção do pré-queijo líquido,
passando pelo uso de retentados de concentração intermediária.
Sorvetes
Na indústria dos sorvetes, a ultrafiltração do leite antes da mistura é principalmente
utilizada para alterar o conteúdo da lactose. O aumento do nível de proteína do
sorvete permite mobilização de muita água. Contudo, adicionando sólidos de leite em
pó desnatado, aumenta-se, especialmente, o conteúdo de lactose que contribui para o
estado arenoso da formação de cristal durante o congelamento. A ultrafiltração
remove a lactose no permeado, além de outros minerais lácteos. Utilizando a
ultrafiltração pode-se aumentar, portanto, sua proteína sem o efeito colateral de
aumento da concentração de lactose e o alcance de maior data de validade, devido ao
menor choque térmico no ciclo de descongelamento.
Produção livre de lactose, livre de açúcar ou sorvete com baixo carboidrato podem ser
obtidos utilizando-se a ultrafiltração em conjunto com a diafiltração (adição de água)
para remover acima de 96% da lactose do leite. O sorvete final pode conter em média
menos de 1 grama de carboidrato por porção no produto final. A adição do substituto
do açúcar irá satisfazer o consumidor de doce e preencher a necessidade de sorvete
no crescimento do mercado dos consumidores de dietas “livres de carboidrato”,
seguindo a famosa dieta Atkins e dietas antiaçúcar.
A acerola apresenta teor de vitamina C na faixa de 1.000 a 4.000 mg/ 100 g de polpa,
dependendo do estágio de maturação da fruta, clima e localização do plantio, sendo
maior quando o fruto ainda se encontra verde (ASENJO & GUZMAN, 1946). Em
comparação com a laranja, a acerola apresenta cerca de 90 vezes mais vitamina C e
duas vezes mais magnésio, potássio e ácido pantotênico. Estão também presentes no
fruto, vitamina A (4,3 a 12,5 UI/100 g), tiamina, riboflavina e niacina, em concentrações
comparáveis com as de outras frutas.
Em estudos com suco de laranja, repolho, pepino e rabanete, foram observados que
os sucos ultrafiltrados apresentaram maior transparência e redução do sabor amargo.
Esse processo aplicado ao suco de kiwi também levou à formação de um produto
transparente, mantendo os níveis iniciais de vit C, acidez e açúcares totais. No suco de
banana a ultrafiltração foi utilizada para a redução da atividade da polifenoloxidase e,
com isso, reduzir o escurecimento enzimático. A banana é rica em polifenoloxidase,
que está presente nas células das frutas e de alguns outros vegetais.
Os processos com membranas que utilizam o gradiente de pressão como força motriz
(microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose inversa) apresentam um grande
potencial para a recuperação de efluentes, pois são meios porosos (no caso da
osmose inversa até mesmo despreza-se a presença de poros) que atuam como filtros
em nível molecular, possibilitando o fracionamento dos compostos que constituem o
efluente. A ultrafiltração é um processo intermediário referente ao tamanho dos
poros, retendo tipicamente moléculas com massa molar entre 500 Daltons a 500000
Daltons. Incluem-se, ainda, nessa faixa, gorduras, emulsões, proteínas, polímeros,
biomoléculas e colóides.
Considerações finais
A utilização da ultrafiltração mostra-se adequada para o processamento de sucos,
produtos lácteos, purificação de proteínas, entre outros, tendo em vista os diversos
estudos que comprovam sua eficiência na retenção de microrganismos de interesse e
na redução da atividade de enzimas relacionadas com a qualidade dos produtos. Essa
tecnologia se mostra eficiente no processamento de alimentos em substituição ou
como complemento aos processamentos térmicos, visando melhorar as propriedades
organolépticas e nutricionais dos produtos.
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Elisa Gibrim Moreira, Juliana de Cássia Gomes Rocha e Afonso Mota Ramos
Universidade Federal de Viçosa – Departamento de Tecnologia de Alimentos – Campus
Universitário DTA III – MG