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NANOTECNOLOGIA

A permeabilidade da pele e das unhas pode ser um grande desafio para a aplicação de
dermocosméticos, mas a nanotecnologia pode resolver isso de forma eficiente. Através da
encapsulação em nanopartículas, os ingredientes ativos conseguem permear a barreira protetora da
pele e das unhas, chegando ao alvo de ação de maneira segura e controlada, garantindo maior eficácia.

Os dermocosméticos frequentemente enfrentam dificuldades de solubilidade e penetração na pele,


devido à função principal da pele de proteger o organismo contra agentes nocivos e perda de água. O
estrato córneo, a camada mais superficial da pele, age como uma barreira protetora que impede a
entrada de microorganismos e agentes tóxicos. No entanto, essa camada também pode limitar a
absorção de formulações tópicas. Além disso, as unhas possuem uma natureza impermeável
semelhante ao pelo e ao estrato córneo, sendo principalmente formadas por queratina, o que torna os
tratamentos tópicos limitados.
A nanotecnologia tem sido cada vez mais utilizada na indústria dermocosmética como uma alternativa
interessante para vencer a limitação dos ativos em permear e entregar o ativo no alvo de ação. A
permeabilidade é fortemente influenciada pelas características químicas da molécula e as
nanopartículas podem ser preparadas de acordo com a natureza da membrana que se deseja utilizar
para permitir uma permeação eficaz na pele, é possível que os ativos sejam entregues na camada alvo
pois a permeação dependerá da natureza da cápsula e não do ativo que estará protegido.

LIPOSSOMAS

Na área dermocosmética, os lipossomas vêm sendo utilizados, tanto para aumentar a incorporação de
substâncias ativas às células, quanto como veículo para liberação controlada de princípios ativos .
Eles têm sido empregados na prevenção da queda de cabelos, promoção do crescimento capilar,
desaceleração do processo de envelhecimento da pele, clareamento da pigmentação cutânea e
prevenção e tratamento da lipodistrofia ginóide. As principais vantagens do emprego de lipossomas
para a administração de agentes dermocosméticos são o fato de que podem transportar substâncias
hidro e lipossolúveis; apresentam alta afinidade pelas membranas biológicas, são constituídos de
anfifílicos naturais biocompatíveis e biodegradáveis, além de acentuarem a hidratação natural da pele
e cabelo. Devido à sua estrutura de bicamada, semelhante à estrutura das membranas celulares, eles
são capazes de interagir profundamente com as células do organismo. Vários tipos de interações de
lipossomas com células da corrente circulatória foram descritos, tais como transferência ou troca de
lipídios, endocitose, fusão
A transferência ou troca de fosfolipídios tem um efeito especial em aplicações cosméticas, visto que
os lipossomas podem alterar as propriedades da pele (rigidez, elasticidade) por fornecimento de
fosfolipídios requeridos e outros componentes de membranas da pele. Os lipossomas aumentam as
concentrações do princípio ativo nas camadas da pele (epiderme e derme), enquanto reduz a absorção
sistêmica. É provável que o uso de produtos dermocosméticos que contém lipossomas tenha efeitos
positivos na aparência da pele, como aumento da hidratação cutânea.
De forma semelhante às células, lipossomas podem armazenar substâncias hidrossolúveis em seu
interior e substâncias lipofílicas e anfifílicas em suas membranas, onde as substâncias ativas ficam
retidas para serem transferidas a outras membranas, como a pele; • A maioria dos veículos
convencionais não são eficazes para a administração de substâncias ativas através da pele devido a
dificuldade de penetração pela camada córnea. Todavia, os lipossomas proporcionam uma penetração
eficiente;
• A incorporação em lipossomas de substâncias ativas que penetram prontamente na pele resulta em
uma diminuição de sua absorção sistêmica comparada àquela resultante da administração tópica em
veículos convencionais;
Quais os melhores veículos para os lipossomas?
Os lipossomas proporcionam maior estabilidade dos ativos, mas para garantir que eles fiquem estáveis
na formulação é preciso cuidado na escolha da base dermocosmética. Os fosfolipídios podem interagir
com os componentes do veículo, prejudicando sua estabilidade. Não é recomendado o uso dos
lipossomas em veículos contendo altas concentrações de etanol, pois as estruturas podem ser
dissolvidas pelo álcool. Além disso, ocorre solubilização dos lipossomas quando estes são
adicionados a bases com altas concentrações de tensoativos.

CICLODEXTRINAS

Ciclodextrinas são espécies solúveis em água que apresentam, na parte interna do cone, um ambiente
relativamente hidrofóbico. Esta propriedade permite a formação de complexos de inclusão
hidrossolúveis com uma variedade de substâncias pouco solúveis em solução aquosa. A complexação
ocorre quando uma molécula hóspede preenche totalmente ou em parte a cavidade interna da
ciclodextrina. Um dos critérios para a complexação é o tamanho da molécula a ser encapsulada, que
deve ser compatível com a cavidade da ciclodextrina.

Devido à versatilidade de suas aplicações, as ciclodextrinas podem ser consideradas um grupo de


insumos extremamente importante, estando presentes na química analítica, na agricultura, em
diagnósticos, cosméticos, indústria farmacêutica, têxtil e alimentícia, processos de separação, proteção
do ambiente, fermentação e catálise.

Uma das utilizações das ciclodextrinas na indústria de cosméticos é a estabilização de emulsões,


graças a sua capacidade de interagir com lipídeos. Ciclodextrinas podem formar complexos de
inclusão com ácidos graxos livres ou com ácidos graxos de cadeias de glicerídeos. Os óleos vegetais
são formados por triglicerídeos, diglicerídeos, monoglicerídeos e ácidos graxos livres. Estudos
mostram que a estabilidade do complexo depende do grau de acilação, decrescendo na ordem: ácido
graxo livre triglicerídeo. Complexos com triglicerídeos são insolúveis em água. Essa insolubilidade
do complexo ciclodextrina-triglicerídeo é um pré-requisito para seu potencial papel na interface de
emulsões. O mecanismo que explicaria a estabilização de emulsões pelas ciclodextrinas seria a
interação da ciclodextrina com uma única cadeia de ácido graxo do triglicerídeo. Esta supermolécula
constituiria um agente tensoativo no qual a porção ciclodextrina estaria orientada para a fase aquosa e
as cadeias dos ácidos graxos livres estariam orientadas para a fase oleosa.

NANOSFERAS

Partículas aproximadamente esféricas, menores do que um mícron são denominadas de nanosferas.


Pequenos lipossomas uni ou multilamelares e uma variedade de estruturas lipídicas entram na
classificação das nanosferas. Contudo, a aplicação dessas estruturas lipídicas nos produtos de cuidado
pessoal é limitada por sua instabilidade e por sua baixa capacidade de encapsular ingredientes
funcionais em níveis práticos, na presença de tensoativos.
Um enfoque alternativo para o uso de lipossomas é o uso de nanosferas sólidas. Sua estrutura
hidrófoba sólida encapsula os ingredientes funcionais e os retém durante todo o prazo de validade do
produto numa base hidrossolúvel. Além disso, as nanosferas podem ter a superfície alterada para
melhorar a aderência e consequente deposição nas superfícies do corpo, nos produtos de enxágue.

Os ingredientes funcionais são encapsulados no interior do centro hidrófobo da nanosfera. A


composição não é fixa. Trata-se de um sistema de liberação que permite a escolha do material, e o
ingrediente a ser encapsulado será personalizado para atender à necessidade de cada produto
específico ou aplicação.

A alta densidade de carga catiônica dessas nanosferas é criada pela incorporação de um agente
condicionador catiônico no interior da matriz sólida hidrófoba, juntamente com um “realçador de
carga” catiônica na superfície. A matriz é o complexo sólido inerte do interior da nanosfera; esta
retém os ingredientes funcionais. Essa matriz é tipicamente produzida com ceras vegetais, gorduras e
polímeros hidrófobos sintéticos ou naturais. O realçador de carga é uma molécula com elevada
densidade de carga por unidade de volume molecular; é usada para intensificar o poder de ligação
catiônica. O realçador de carga é incorporado num polímero sobre a superfície das nanosferas, por um
processo patenteado que se utiliza de diversas etapas, alta pressão, mistura de alto cisalhamento e
mudanças de temperatura. O processo é complexo, porém contínuo, o que torna o produto muito
econômico.
A densidade de carga catiônica dessas nanosferas é determinada medindo-se o potencial ‘z’, que
indica a magnitude de repulsão ou atração entre as partículas. Sua medida dá informações detalhadas
do mecanismo de dispersão e é fundamental para o controle da dispersão eletrostática. A medição do
potencial ‘z’ é um parâmetro importantíssimo para o projeto das nanosferas carregadas.

MICROEMULSÕES

As microemulsões são sistemas isotrópicos, transparentes ou translúcidos que têm baixa viscosidade e
apresentam tamanhos de gotículas inferiores a μm. No entanto, há autores que consideram que nas
microemulsões o diâmetro das gotículas se situa entre 10 e 300 nm. Uma desvantagem desses
sistemas é que, na formação de uma microemulsão, são requeridas quantidades elevadas de
tensoativos e cotensoativos. Em contrapartida, as microemulsões têm custo baixo de produção, pois
não utilizam equipamentos sofisticados. Em cosméticos, as microemulsões são bastante utilizadas em
produtos para limpeza da pele, nomeadamente géis de limpeza, géis de ducha e espumas de banho.

As microemulsões diferem das emulsões não somente por serem opticamente transparentes ou
translúcidas, mas também devido à sua estabilidade termodinâmica. Em proporções adequadas dos
seus ingredientes e em condições de temperatura, pressão e força iônica constantes, esses sistemas
formam-se espontaneamente quando a energia remanescente da interface está próxima a zero

A formação das microemulsões geralmente envolve a combinação de três a cinco componentes, como
o tensoativo, a fase oleosa, a fase aquosa e o cotensoativo, sendo que a orientação para sistemas O/A
ou A/O depende, entre outros fatores, do seu equilíbrio hidrófilo/lipófilo
Vários tipos de emulsão foram desenvolvidos ao longo da história da indústria cosmética. Devido à
sua capacidade de solubilizar quantidades relativamente grandes de ingredientes insolúveis em água,
como emolientes e fragrâncias, e proporcionar estabilidade de longo prazo, as microemulsões têm
sido um veículo adequado a várias aplicações de cuidado com a pele. Faz muito tempo que as
microemulsões são úteis à indústria farmacêutica, pois liberam níveis eficazes de ingredientes ativos
para a pele, aumentando a biodisponibilidade do ativo comparativamente às dispersões e soluções
tradicionais. Um exemplo dessa tecnologia é observado com a droga imunossupressora ciclosporina,
comumente usada no tratamento de psoríase e artrite.

Esses novos veículos logo foram transpostos para aplicações de cuidado com a pele, proporcionam-
lhe estética exuberante, bem como estabilidade excepcional. Os benefícios dessas microemulsões
foram identificados para diversas aplicações de cuidado com a pele, sendo usadas como hidratantes,
limpadores, filtros solares e antiperspirantes. Mostrou-se benéfica sua vantagem sobre as formulações
convencionais na apresentação de ativos lipofílicos e hidrofílicos que atuam na pele e no cabelo.
Além de seus benefícios, as microemulsões também se diferenciam visualmente entre si. Devido à sua
capacidade de resultar em produtos transparentes e translúcidos, têm sido usadas para desenvolver
séruns, géis ou loções claros ou matizados de azul. Outra vantagem é que essas emulsões limitam a
necessidade de usar solventes que podem ressecar a pele.

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