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TRIBUNAL MARÍTIMO

IF/GAP PROCESSO Nº 31.938/18


ACÓRDÃO

N/M “ALKIMOS”. Queda de tripulante a bordo do navio mercante,


provocando lesões na região lombar e no seu ombro esquerdo. Infortúnio da
própria vítima. Arquivamento.

Vistos os presentes autos.


Trata-se de analisar o fato da navegação envolvendo o N/M “ALKIMOS”,
propriedade de Alkimos Navegation Company Ltd, agente consignatário Cargil Agricola
S.A., quando, por volta das 07h50min, do dia 15/01/2016, encontrava-se atracado no
armazém 37 do Porto de Santos, SP, momento em que veio a ocorrer acidente pessoal
com o Estivador Antônio Cristiano Leonel, ao levar um escorregão no convés,
provocando dores lombares e lesão no ombro esquerdo.
Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o N/M
“ALKIMOS”, com 229,13 metros de comprimento, sob o comando do CLC
Kouskousakis Konstantinos, estava atracado no cais do Armazém 37 do porto de
Santos/SP, em faina de embarque de farelo especial o Estivador Antônio Cristiano
Leonel, portando equipamento de proteção individual, acidentou-se ao escorregar no
convés, onde o piso se encontrava escorregadio devido à poeira da carga se misturar com
a água proveniente do tempo moderadamente chuvoso. Considerando que o navio possui
áreas de trânsito de segurança demarcado com tinta antiderrapante e o acidente ocorreu
fora desse perímetro de segurança.
Foi acionado a equipe de emergência de terra pelo representante de bordo,
mesmo sabendo que a vítima recusava atendimento e não necessitava de ajuda para se
mover. A equipe de resgate chegou a bordo por volta das 08h15min, conduzindo o
acidentado na maca para a Ambulância até o PS da Av. Afonso Pena.
Durante o inquérito foram ouvidas 4 (quatro) testemunhas, que em seus
depoimentos afirmaram que a vítima afirmou que escorregou, vindo a cair em cima do
tambor de óleo. Juntada a documentação de praxe.
O Laudo de Exame Pericial após minuciosa avaliação, concluiu que diante da
ausência de testemunha presencial, tornou impossível a apuração com precisão da causa
determinante.
No relatório o encarregado do inquérito concluiu em sua análise que o
Estivador Antônio Cristiano Leonel estava próximo ao porão do navio na balaustrada
lado mar, conforme sustenta em seu depoimento na qualidade de fiscal escalado, que...
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“na noite passada tinha chovido e no amanhecer também e o convés do navio estava
molhado, e existia bastante resido de farelos, eu e o Adriano estávamos verificando se
iria operar ou não, virtude do mau tempo e também não tinha ninguém da empresa a
bordo. Estava pelo lado de mar próximo a balaustrada no navio, quando falei com o
Adriano meu companheiro de trabalho, pois o porão estava fechado neste momento em
que fiz o movimento com o corpo para seguir adiante escorreguei no convés, vindo a
cair no mesmo com o corpo lateralizado onde bati com o ombro esquerdo sofrendo
lesão”.
Ninguém presenciou o acidente, o que impossibilitou a apuração do que
realmente aconteceu. O que se tem é somente a versão do estivador, material frágil para
apontamento de causa determinante e responsabilidade.
Pelo exposto, diante da ausência de testemunhas presenciais, bem como a
falta de outros elementos aptos a elucidação do acidente com estivador, como, por
exemplo, imagens, resta concluir pela impossibilidade de apuração precisa do ocorrido e
não apontar possível responsável.
Concluiu que não foi possível apurar com precisão a causa determinante.
A D. Procuradoria, a despeito da conclusão do Encarregado do Inquérito,
entendeu que a lesão corporal sofrida pela vítima, deveu-se ao desequilíbrio dele
Estivador no convés, e promoveu pelo arquivamento, uma vez que o fato da navegação
decorreu de infortúnio da própria vítima.
Publicada nota de arquivamento, os prazos foram preclusos sem que
interessados se manifestassem.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e
extensão do fato da navegação sob análise, tipificado no art. 15, alínea e da Lei nº
2.180/54, ficaram caracterizadas como queda de tripulante a bordo do navio mercante,
provocando lesões na região lombar e no seu ombro esquerdo.
A causa determinante foi o infortúnio da própria vítima.
Analisando-se os autos verifica-se que a bordo estava sendo realizada a faina
de embarque de farelo, e naturalmente a poeira desse farelo misturava-se com a umidade
do tempo na ocasião. O piso do convés tornava-se assim muito escorregadio e com isso
necessitava que os tripulantes e estivadores a bordo redobrassem a sua atenção no seu
caminhar nesses locais.
Nenhum dos tripulantes ou estivadores presenciaram a queda do Estivador
Antônio e desta forma não se pode atribuir qual foi a causa determinante da sua queda a
bordo, tendo apenas como elemento de conhecimento o testemunho da própria vítima que

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declarou, após ele realizar um movimento brusco escorregou e veio a cair lateralmente
provocando-lhe as dores lombares e no seu ombro esquerdo. Assim, pode-se inferir que a
queda era previsível devido à presença de farelo com a umidade do tempo e decorreu de
infortúnio da própria vítima.
Pelo exposto, deve-se julgar procedente o pedido de arquivamento formulado
pela PEM.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: queda de tripulante a bordo do navio mercante,
provocando lesões na região lombar e no seu ombro esquerdo; b) quanto à causa
determinante: infortúnio da própria vítima; e c) decisão: julgar o fato da navegação,
tipificado no art. 15, alínea e, da Lei nº 2.180/54, como infortúnio da própria vítima,
mandando arquivar o Inquérito.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 24 de julho de 2018.

GERALDO DE ALMEIDA PADILHA


Juiz-Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 27 de julho de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Dados: 2018.11.26 15:04:07 -02'00'

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