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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.016/2015...........................................)
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28 de dezembro de 2014 era de proprietário e passageiro; que saindo da Marina Piratas,
parou no Posto Golfinho, para completar o tanque da embarcação. Parou no posto para
realizar o abastecimento, onde perguntou ao marinheiro Tony se não havia necessidade
de desligar o motor da embarcação, onde teve a resposta que não necessitava. Realizou o
abastecimento normalmente, após o frentista recolheu a mangueira. Após dirigir-me a
cabine da embarcação para pegar o dinheiro, a fim de realizar o pagamento do
abastecimento, quando estava no interior da cabine contando o dinheiro, ouvi um barulho
e um impacto, onde fui arremessado encima da cama. Quando subi ao deck, observei que
as pessoas estavam agitadas, gritando muito e algumas já estavam na água. Peguei uma
criança que estava na embarcação, pulei na água, juntamente com outra passageira, onde
após coloquei a criança no posto, juntamente com a outra passageira. Fomos todos para
outra embarcação que estava próxima, indo para o cais, que já estava uma ambulância do
Corpo de Bombeiros esperando para o resgate, sendo encaminhados para o Hospital da
Japuíba; que o tempo estava bom, com sol e sem vento; que as condições climáticas não
influenciaram para a ocorrência do acidente; que a embarcação se encontrava no
momento do acidente atracada com o motor funcionando; que a embarcação e motores,
estavam em bom estado de conservação; que o acidente com a embarcação “MR BLUE”
ocorreu no Posto Golfinho, aproximadamente 12h; que ninguém estava fumando a bordo
da embarcação “MR BLUE”; que estavam a bordo da embarcação “MR BLUE” no dia
do acidente 07 pessoas; que ocorreu acidente pessoal, todos se feriram; que não ocorreu
poluição hídrica; que não houve falha de nenhum equipamento no momento do acidente;
que as manutenções da embarcação estavam em dia; que o responsável pelo serviço na
embarcação era uma empresa, indicada pelo antigo proprietário, que não se recorda o
nome; que não sabe informar se o acidente foi comunicado a Delegacia da Capitania dos
Portos em Angra dos Reis; que o condutor da embarcação no dia do acidente era o
marinheiro que conhecia como Tony; e que quando ocorreu o acidente, o antigo
proprietário, que é meu vizinho, foi ao hospital, onde estava e me perguntou se o
marinheiro Tony havia ligado o exaustor da embarcação, onde respondi que não sabia.
António Marcos da Silva, condutor da embarcação “MR BLUE” (fl. 31),
disse que estava a bordo da embarcação “MR BLUE” no dia 28 de dezembro de 2014;
que a função que exercia a bordo da embarcação “MR BLUE” no dia 28 de dezembro de
2014 era de condutor; que trabalha na embarcação “MR BLUE” à 01 ano; que era bem
famirializado com a embarcação “MR BLUE”, sempre limpava, tomava conta, verificava
documentação e trabalhava com o antigo dono da embarcação; que desci a embarcação
do seco para o molhado na Marina Piratas, para sair com o proprietário. Chegando
solicitei ao mesmo para adquirir coletes salva-vidas para a embarcação, onde foi
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adquirido. Saímos com a embarcação e fomos ao posto golfinho para abastecer a
embarcação. Parei no posto com o motor ligado e comecei abastecer a embarcação.
Completei o tanque, onde o gatilho da bomba desarmou, peguei um pano para limpar a
popa da embarcação, pois estava com um pouco d’água. Limpei e ao colocar o pano perto
da porta na popa, senti um impacto com caloria vindo da embarcação. Senti logo a
quentura no rosto, suspendendo a tampa do motor. Solicitei que todos pulassem na água,
pois poderia ocorrer uma explosão maior. Todos pularam na água e foram socorridos por
outra embarcação; que nunca havia abastecido esta embarcação, pois sempre pegou a
embarcação com combustível; que havia abastecido outras embarcações antes; que os
procedimentos que são adotados, por ocasião do abastecimento nas embarcações que o
Sr. já trabalhou era atracar a embarcação, solicitar ao frentista a mangueira para
abastecimento, realizo o abastecimento e ao final, após devolver a mangueira ao frentista,
ligo o exaustor e dou partida no motor; que não foi efetuado todo o procedimento
anterior, por ocasião do abastecimento na embarcação “MR BLUE”, pois após o
abastecimento e entregar a mangueira para o frentista, realizei a limpeza no deck e logo
após senti o impacto, não tendo tempo de ligar o exaustor; que o tempo estava bom,
sensação térmica muito quente, visibilidade boa e mar agitado; que momento do
abastecimento a embarcação estava com o motor funcionando, desengrazado e em
marcha lenta, a fim de alimentar os equipamentos elétricos e verificar o nível de
combustível; que a embarcação e os motores estavam em bom estado de conservação e os
motores funcionando perfeitamente; que não existia botijão de gás ou outro recipiente
com material combustível a bordo da embarcação no dia do acidente; que o acidente na
embarcação “MR BLUE” ocorreu aproximadamente 13h; que que não vi ninguém
fumando a bordo da embarcação “MR BLUE”; que estavam a bordo da embarcação “MR
BLUE” no dia do acidente, eu e mais 06 passageiros; que não sabe informar a causa do
acidente; que ocorreram acidentes pessoais, pessoas queimadas; que não ocorreu poluição
hídrica; que no momento do acidente não percebeu falha de nenhum equipamento; que as
manutenções da embarcação estavam em dia, porém não posso apresentar comprovante;
que o responsável pelo serviço na embarcação, limpeza era eu e manutenção dos
equipamentos Sr. Mário Jorge; que não ocorreu nenhum vazamento dos tanques de
combustível; que a embarcação não estava sofrendo nenhum tipo de reparo; que os
instrumentos do painel de comando da embarcação estavam funcionando e não
apresentou nenhuma anormalidade; que o acidente foi comunicado a Delegacia da
Capitania dos Portos em Angra dos Reis, por terceiros; e que os socorros prestados no dia
do acidente foi uma embarcação que não sabe o nome, Corpo de Bombeiros e SAMU.
O Laudo Pericial concluiu que de acordo com a análise das circunstâncias do
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acidente e depoimentos prestados pelas testemunhas, sobre a explosão na embarcação
“MR BLUE”, não foi possível determinar com precisão a causa do acidente. A perícia
tornou-se limitada em determinar com clareza e objetividade a origem e causa da
explosão da embarcação, devido à degradação em razão da queima do material nas
adjacências do motor,tanque de combustível e parte elétrica.
O encarregado concluiu que de tudo quanto contêm os presentes autos,
conclui-se que:
I) Fatores que contribuíram para o acidente:
a) fator humano - não há indícios de que o fator humano, sob o ponto de vista
bio-psicológico, possa ter contribuído;
b) fator material - não foi possível determinar; e
c) fator operacional - contribuiu, pelo fato do condutor não ter desligado
motor da embarcação para realizar o abastecimento e deixar o exaustor desligado.
II) Que, em consequência, da explosão a embarcação incendiou-se avariando
a área do motor, parte elétrica e área do tanque. Todos as pessoas a bordo sofreram
queimaduras e a Sra. Vera Lucia Morel Nogueira Fonseca, sofreu grande queimadura
ficando internada por 42 dias, em diversas unidades de saúde, vindo a óbito no dia
07/02/2015, no Hospital Alvorada Taguatinga, por Falência de Múltiplos Órgãos e
Sistemas, Coagulação Intravascular Disseminada, Sepsis por Fungo e Queimaduras de 2°
e 3° Graus, conforme Certidão de Óbito. Não houve poluição hídrica.
III) É possível responsável indireto pelo acidente o Sr. Antonio Marcos da
Silva, por imprudência, ao realizar abastecimento da embarcação “MR BLUE”, com o
motor ligado e não ligar o exaustor da praça de máquinas.
A Procuradoria Especial da Marinha – PEM, em uniformidade com o
relatório, ofereceu representação em face do indiciado, com fulcro no art. 14, alínea “a”,
da Lei nº 2.180/54.
Citado, o representado foi regularmente defendido.
A defesa alega que no relatório do Inquérito consta os peritos que não
puderam concluir a perícia, portanto inconclusiva, o depoimento do frentista afirma que
todos os procedimentos foram realizados corretamente e que não houve derramamento de
combustível, ou outra causa que pudesse atribuir a explosão, e que todos prestaram
socorro, inclusive o representado e que a embarcação apresentava bom estado de
conservação, bem como o outro frentista que confirmou as mesmas informações de seu
colega, portanto nenhum deles culpou o representado por qualquer procedimento seja ele
impróprio ou negligente, porque não houve, e por fim os depoimentos tanto do
proprietário quanto cio representado, são esclarecedores no sentido de não culpabilizar
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ninguém pelo infeliz acidente, foi um caso fortuito, não há razões para acusar qualquer
pessoal que seja, todos os procedimentos foram adotados, não há provas que incriminem
o representado, descartando qualquer hipótese de responsabilização do representado neste
fatídico ocorrido, como se comprova na conclusão do Ilustre encarregado do inquérito,
que não há indícios de que fator humano, possa ter contribuído para o evento.
Para finalizar, se bem observados o relatório, a perícia e a representação
estão todos contraditórios, basta uma leitura superficial que Vossa Excelência irá
perceber que uma hora diz que não pode concluir que houve culpa do representado, outra
hora diz que sua imprudência ou impropriedade contribuiu com o acidente, veja que são
afirmações meramente subjetivas, não há objetividade e provas quanto a
responsabilidade, a perícia diz que o fato de abastecer com motor ligado não é causa
determinante e não é mesmo, até porque não houve derramamento de combustível, e em
outro momento diz que é culpa do representado por ter feito isso e não ter ligado o
exaustor, (estava ligado sim), porém diz que não pode fazer a perícia porque danificou
toda parte elétrica, então como podem afirmar que estava ou não ligado? Veja excelência
quanta contradição e por si só isso não seria causa para atribuir a uma pessoa a
responsabilidade única nesse acidente, razão pela qual requer se digne não considerar
esses fatos contraditórios para condenar um profissional que depende desse trabalho para
sobreviver e que pode sofrer sanções irreparáveis.
Diante de todo exposto, o representado, requerer a Vossa Excelência, se
digne julgar improcedente o pedido da Ilustre representante da Procuradoria Especial da
Marinha, excluindo-o da representação proposta, por falta de provas por não haver nos
autos indícios de culpabilidade do representado no evento e por haver dúvidas
contradições e inconclusões que levam a inocentar o representado por esses motivos,
além de ser uma ato de extrema e lídima JUSTIÇAI!!.
Na fase de instrução foram ouvidas outras duas testemunhas: Antonio
Marcos da Silva, mestre amador, (fls. 164/165) e Claywonsostenes Ewen de Araujo,
marinheiro (fls. 166/167).
Em alegações finais, manifestaram-se as partes
É o Relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinante da explosão não resta apurada acima de qualquer dúvida.
A unanimidade da prova testemunhal colhida, inclusive o depoimento isento
dos frentistas do posto, afirma que a lancha encontrava-se em perfeitas condições e não
houve qualquer descumprimento de padrões de segurança, não podendo indicar a real
motivação para a explosão.
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A perícia técnica, essencial para esse tipo de acidente, foi inconclusiva,
devido a degradação da embarcação, em razão das queimaduras generalizadas.
As conclusões do encarregado do inquérito, que deram motivação a
representada, não tiveram suporte probatório e foram pontualmente rebatidas pela defesa,
afastando o nexo de causalidade.
Diante do exposto e tendo-se em vista a escassez probatória, deve ser julgada
improcedente a representação, exculpando-se o representado e arquivando-se os autos.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: explosão em L/M, com perda total e ferimento
em passageiros; b) quanto à causa determinante: não apurada com precisão; e c) decisão:
julgar o acidente da navegação, como de origem indeterminada, arquivando-se os autos e
exculpando o representado.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 2018.
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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2018.11.22 11:16:00 -02'00'