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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 28.731/14


ACÓRDÃO

N/M “CASTILLO DE MACEDA”. Ferimento em tripulante. Descuido da


própria vítima. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 02 de dezembro de 2013, cerca das 08h, na área de aproximação do
porto de Salvador-BA, ocorreu acidente de trabalho com o tripulante Julio Cesar de
Oliveira da Silva, com lesão nos olhos, a bordo do N/M “CASTILLO DE MACEDA”.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos de Alagoas, foram ouvidas
quatro testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de praxe.
Julio Cesar de Oliveira da Silva, de 41 anos de idade, Moço de Convés, do
Navio N/T “CASTILLO DE MACEDA”, relatou em seu depoimento (fls. 72 e 73), que o
navio partiu de Santos/SP com destino inicial para o Porto de SUAPE/PE, porém, teve
sua rota alterada para o porto de Maceió/AL e que o acidente ocorreu dentro de um dos
tanques de carga de bombordo do navio, no dia dois de dezembro de dois mil e treze,
entre 7h30min e 8h da manhã, e que estava realizando a limpeza final do tanque,
retirando os pocetos de água contaminada por resíduos de soda cáustica, com um
recipiente menor, que usava para encher um balde grande. Informou que no dia do
acidente, o estado do mar era calmo e que utilizava todo o equipamento de proteção
individual exigido para a realização da faina no tanque, como: macacão, botas de
borracha, luvas de PVC, óculos de proteção química e capacete, e que a faina era
acompanhada por um Marinheiro, porém, tinham outras pessoas no tanque do bordo ao
lado e o Oficial de Serviço no Centro de Controle de Carga (CCC) e que não houve
contato com o Chefe de Segurança do navio, pois o seu companheiro foi quem prestou o
primeiro apoio desde a saída do tanque até o seu camarote. Relatou ainda, que o
Comandante do navio solicitou à enfermeira que prestasse toda assistência possível e
disponível a bordo, de maneira que a profissional prestou os primeiros socorros,
utilizando o soro fisiológico, pomada anti-inflamatória, colírio anestésico e recomendado
repouso, repetindo os mesmos procedimentos até a chegada ao porto de Maceió/AL. No
dia três de dezembro, por volta das 11h da manhã, foi levado à Clínica de Olhos Santa
Luzia, na Rua Artur Vital da Silva, nº 634, Gruta de Lurdes, Maceió/AL, pelo agente
OSMAN da Agência Marítima Irmãos Britto Representações e Comércio LTDA e a
enfermeira do navio, sendo diagnosticado pelo médico, queimadura e corrosão da córnea
e do saco conjuntival do olho direito. Hoje, dia quinze de janeiro de dois mil e quatorze,
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relatou que se sente bem, porém passou a utilizar mais óculos escuros para se proteger da
claridade.
O Laudo Pericial concluiu que a ação da própria vítima causou o acidente.
No Relatório o encarregado concluiu que a causa determinante da
queimadura e corrosão da córnea e do saco conjuntival do olho direito da vítima a bordo
do Navio Tanque N/T “CASTILLO DE MACEDA”, ocorrido aos dois dias do mês de
dezembro de dois mil e treze, por volta das 08h matinal, foi negligência do Sr. Julio
Cesar de Oliveira da Silva, ocasionado pelo descuido de suas ações, sem que houvesse
vontade no resultado.
De tudo quanto contêm os presentes autos, conclui-se que:
I) Fatores que contribuíram para o acidente:
a) fator humano – não contribuiu;
b) fator material – não contribuiu; e
c) fator operacional – contribuiu, pois foi decisão do acidentado em segurar o
balde pela borda, em vez de segurá-lo pela alça.
II) Em consequência da ação do Sr. Julio Cesar de Oliveira da Silva, houve
negligência do mesmo, causando dano pessoal ao mesmo com queimaduras e corrosão da
córnea e do saco conjuntival do olho direito; e
III) O possível responsável direto pelo acidente é a própria vítima, o Sr. Julio
Cesar de Oliveira da Silva, que foi negligente ao segurar o balde pela borda.
A PEM, em uniformidade com o relatório, ofereceu representação em face do
indiciado com fulcro no artigo 15, alínea “e”, da Lei nº 2.180/54.
Citado, o representado foi regularmente defendido.
A defesa alegou que acontece que o representado juntamente o Sr. Alexandre
Saraiva de Araujo Neto, na qualidade de marinheiro de convés, foram designados para a
realização da limpeza de resíduos no tanque de carga nº 01 de BB, anteriormente
carregado com soda cáustica.
É bem verdade que para a referida manutenção foi disponibilizado os
seguintes equipamentos de proteção individual: capacete, óculos, macacão, luvas e botas,
juntamente com as ferramentas necessárias para o trabalho acompanhadas de um balde e
um recipiente menor, precisamente um pote de sorvete da Kibon.
Certo que a embarcação estava em navegação origem Santos, com destino
Pernambuco.
Considerando a ordem direta, e munida do equipamento de proteção
individual, o representado procedeu à realização da faxina conforme determinado.
Acontece que ao representado manusear o balde fornecido, este veio a

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escorregar e cair no fundo do tanque devido às condições precárias de uso, haja vista que
o balde disponibilizado não tinha alça de transporte.
Deve ficar esclarecido que o local designado para a realização da faxina é de
difícil acesso, sem ventilação, pouquíssima luminosidade, sendo este extremamente
confinado.
Insta dizer que o material disponibilizado foi designado para a retirada de
resíduos que a bomba de SLOP não consegue eliminar.
No momento em que o balde chocou ao solo, o representado foi atingido por
uma pequena quantidade de resíduo de soda cáustica, vindo assim a ultrapassar o óculos
de proteção devido a ausência do fornecimento pelo empregador da máscara de proteção,
conforme resta provado no laudo pericial.
Imediatamente o representado se deslocou para seu camarote, enquanto que
simultaneamente o marinheiro de convés Sr. Alexandre Saraiva de Araújo Neto, solicitou
atendimento médico para o representado junto à enfermaria do navio, que prestou os
primeiros socorros.
Quando o navio atracou no local designado, Maceió, a capitania dos portos
compareceu no navio que após fotografar o local do fato, encaminhou o representado
para o atendimento médico pelo agente Osman Sávio e a enfermeira Andreia Fernandes
(ASA).
Após o referido procedimento, o representado foi encaminhado para bordo do
navio com destino de desembarque em Pernambuco, sendo que apenas neste momento
disponibilizado contato direto com o comandante do navio.
Na instrução foram juntados os documentos de fls. 218/220.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes.
É o Relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinantes do fato da navegação, caracterizado pelo acidente de trabalho a bordo de
N/M, foi a desatenção da própria vítima.
O conjunto probatório foi uníssono no sentido de que a própria vítima foi o
responsável pelo acidente, ao segurar o balde com produto químico pela borda ao invés
de usar a alça, expondo-se a risco, que infelizmente lhe causou lesões nos olhos.
A perícia, o relatório do encarregado do inquérito e o próprio depoimento do
representado corroboram as acusações da exordial.
Diante do exposto, deve ser julgada procedente a representação,
responsabilizando-se o representado, contudo deixando de aplicar pena, pelas lesões que
a vítima já sofrera.

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Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do fato da navegação: ferimento em tripulante a bordo de N/M; b)
quanto à causa determinante: descuido da própria vítima; e c) decisão: julgar o fato da
navegação, como decorrente da imprudência do representado, condenando-o. Deixando-
se de aplicar pena ou pagar custas, por ter já sofrido com os próprios atos, nas formas dos
artigos 15, alínea “e” e 143, da Lei nº 2.180/54.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 04 de setembro de 2018.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 11 de outubro de 2018.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2018.11.22 11:13:14 -02'00'

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