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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MDG PROCESSO Nº 28.953/14


ACÓRDÃO

B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”, e “MODERNO”. Abalroação. Erro


de manobra. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.


No dia 25 de junho de 2013, cerca das 17h, na Baía de Guajará, furo do
Piramanha, PA, ocorreu o abalroamento envolvendo os barcos a motor “CMTE LIRA DE
BARCARENA” e “MODERNO”, com danos materiais.
No inquérito, realizado pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental,
foram ouvidas cinco testemunhas, realizado laudo pericial e juntada a documentação de
praxe.
José Gabriel da Silva Cruz, Contramestre Fluvial, exercendo as funções de
Comandante a bordo do B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”, declarou o seguinte:
que o abalroamento ocorreu por volta das 16h45min do dia 25/06/2013, no furo do
Piramanha, nas proximidades da saída do canal do Carnapijó; que encontrava-se no
comando pilotando pessoalmente a embarcação; que o local onde ocorreu o acidente não
é balizado nem cartografado; que no local do acidente existem bancos de areia; que a
largura do trecho do rio, onde ocorreu o acidente é de 25 (vinte e cinco) metros do canal
navegável; que o B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”, navegava no furo do
Piramanha, pela margem esquerda no rumo do canal do Carnapijó; que havia espaço
suficiente para evolução das embarcações, levando-se em conta suas dimensões, calado e
velocidade; que não havia presença de outras embarcações manobrando na área no
momento do acidente; que cerca de 16h do dia 25/06/2013, o B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” saiu da orla fluvial de Belém, PA, transportando passageiros, sob seu
comando, com destino à cidade de Barcarena, PA; que a viagem transcorria
normalmente, por volta de 16h45min do mesmo dia quando o B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” navegava no furo do Piramanha e o B/M “MODERNO” navegava no
mesmo rumo e na esteira, cerca de 10 (dez) metros de distância, nas proximidades da
saída do canal do Carnapijó, o B/M “MODERNO” sem haver sinalizado a sua intenção
de manobra, tentou ultrapassar por boreste, quando em dado momento o condutor do
B/M “MODERNO” sentiu dificuldade devido a baixa profundidade, guinou para
bombordo, abalroando a bochecha de boreste do B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA”, imediatamente, parou máquinas, acionou ré na tentativa de diminuir o
impacto; que após o abalroamento o B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA” ficou
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impossibilitado de prosseguir viagem devido ter sofrido uma avaria no leme e no hélice,
então fez chamadas pelo rádio VHF, não sendo atendido pelo B/M “MODERNO” o qual
prosseguiu viagem e sem prestar nenhum tipo de auxilio; que posteriormente, cerca de
30min, chegou no local o B/M “BARCARENA” que resgatou os passageiros e rebocou o
B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA” até o trapiche da localidade de Carmelo no furo
do Arrozal e conduziu os passageiros até a cidade de Barcarena; que o B/M “CMTE
LIRA DE BARCARENA” sofreu avarias no leme e no hélice; que não houve vítimas;
que o B/M “MODERNO” não fez chamadas no rádio VHF, nem emitiu sinal sonoro
antes do abalroamento informando sua intenção de manobra; que a navegação do B/M
“COMTE LIRA DE BARCARENA” estava sendo por rumos práticos; que o B/M
“MODERNO” surgiu de repente pelo través de boreste do B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” há cerca de cinco metros de distância; que o tempo estava bom, sem
chuva, águas calmas, maré de vazante, vento fraco, visibilidade boa; que o B/M “CMTE
LIRA DE BARCARENA” possui radio VHF, holofote, 116 (cento e dezesseis) coletes
salva-vidas, 2 (duas) boias circulares, e 7 (sete) balsas rígidas; que a velocidade
desenvolvida no motor propulsor do B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA” era de
1500 RPM, considerada segura para a região; que os comandos são acionados através de
manetes pelo homem de serviço no comando; que as máquinas propulsoras e auxiliares
do B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA” antes do abalroamento estavam funcionando
normalmente; que as condições de funcionamento do sistema de governo do B/M
“CMTE LIRA DE BARCARENA” antes do abalroamento estavam funcionando
normalmente; que a manobra realizada pelo B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”
para tentar evitar o abalroamento foi colocar o motor propulsor no neutro e acionar
máquinas a ré; que não houve consumo de bebida alcoólica pelos tripulantes a bordo do
B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”; que às 13h do dia 25/06, o B/M “CMTE LIRA
DE BARCARENA” fez a viagem no sentido Barcarena/Belém, e às 16h retornou no
percurso inverso; que sobre a causa determinante atribui a imprudência e falta de
comunicação do condutor do B/M “MODERNO”.
Rosenildo Santos Costa, Marinheiro de Convés, exercendo as funções de
Comandante a bordo do B/M “MODERNO”, declarou o seguinte: que o abalroamento
ocorreu no furo do Piramanha, próximo a saída do canal do Carnapijó, por volta das
16h50min do dia 25/06/2013; que o B/M “MODERNO” é empregado no transporte de
passageiros no trecho Belém/Barcarena/Belém; que a bordo do B/M “MODERNO” havia
90 (noventa) passageiros; que encontrava-se na sala de comando pilotando pessoalmente
a embarcação; que o local onde ocorreu o acidente não é balizado e nem cartografado;
que no local do acidente tem características de águas rasas com a presença de bancos de

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areia; que a largura do canal onde ocorreu esse acidente é de 150 metros(cento e
cinquenta); que o B/M “MODERNO” navegava junto a sua margem de boreste; que
havia espaço suficiente para a evolução das embarcações envolvidas no abalroamento,
levando-se em conta suas dimensões, calado e velocidade empreendida; que não havia
presença de outras embarcações manobrando na área no momento do acidente; que a
profundidade na área onde ocorreu o acidente é de 10 (dez) metros com maré baixa; que
cerca das 16h do dia 25/06/2013, o B/M “MODERNO” saiu da orla fluvial de Belém-PA,
transportando passageiros, sob o seu comando, com destino a cidade Barcarena, PA; que
a viagem transcorria normalmente, por volta de 16h45min do mesmo dia, o B/M
“MODERNO” navegava no furo do Piramanha, na esteira do B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” há cerca de 50 (cinquenta) metros de distância, nas proximidades da
saída do canal do Carnapijó, o B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA” navegava no
meio do canal, quando percebeu a aproximação; que o B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” guinou para bombordo deixando a margem de boreste para que o B/M
“MODERNO” ultrapassasse quando já estava sendo realizada foi sentido um choque,
sendo informado depois pelo MAM Irail, que o B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”
veio desgovernado e abalroou na alheta de bombordo do B/M “MODERNO”; que o
choque foi pequeno, havia encostado apenas as defensas e não havia causado nenhuma
avaria nas embarcações envolvidas; que então fez chamadas pelo rádio VHF, porém não
obteve resposta e ficou na área por cerca de 10min, conseguindo fazer contato pelo
telefone celular com o proprietário do B/M “CMTE LIRA DE BARCARENA”
informando o ocorrido; que o mesmo respondeu que estava ausente da embarcação no
momento, mais caso houvesse alguma avaria seria indenizado e deu prosseguimento na
viagem normalmente chegando na cidade de Barcarena cerca de 17h30min do mesmo
dia; que o B/M “MODERNO” não sofreu nenhuma avaria e nem vitimas de natureza
pessoal; que não foram realizadas chamadas pelo VHF, nem tampouco sinais sonoros,
antes do acidente; que o tempo estava bom, sem chuva, águas calmas, maré de vazante,
vento fraco, visibilidade boa; que o B/M “MODERNO” possui radio VHF, bússola,
ecobatímetro, holofote, luzes de navegação, todos funcionando normalmente; que possuía
ainda 120 (cento e vinte) coletes salva-vidas, 4 (quatro) boias circulares e 3 (três) balsas
rígidas, todos funcionando normalmente e em perfeito estado de conservação; que a
velocidade do B/M “MODERNO” era de 1.600 RPM, considerada uma velocidade
segura; que as manobras são executadas através de manetes pelo homem de serviço no
passadiço; que as condições de funcionamento das máquinas propulsoras, auxiliares e
sistema de governo do B/M “MODERNO” estavam normais; que o B/M “MODERNO”
guinou para boreste para tentar evitar o abalroamento; que não foi prestado auxílio por

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parte do B/M “MODERNO”, devido ao condutor do B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” não responder as chamadas pelo rádio VHF; que o B/M “MODERNO”
fez a primeira viagem saindo às 08h de Barcarena para Belém e retornando de Belém
para Barcarena às 11h; que posteriormente saiu às 13h de Barcarena para Belém,
retornando de Belém para Barcarena às 16h; que não houve consumo de bebida alcoólica
a bordo do B/M “MODERNO”; que sobre a causa determinante foi devido o B/M
“CMTE LIRA DE BARCARENA” ter se desgovernado; que o B/M “CMTE LIRA DE
BARCARENA” não estava sendo conduzido pelo Comandante naquela viagem, e sim
que estava sendo conduzido por outro tripulante de nome Gabriel.
O Laudo Pericial concluiu que a causa determinante da abalroação foi a
imprudência e negligência dos condutores das embarcações em questão, por descumprir
as Regras 5; 9 (e) (I) e 34 (c) (I) (II), do Regulamento Internacional para Evitar
Abalroamento do Mar – RIPEAM-27.
No relatório o encarregado concluiu que de tudo quanto contém os presentes
autos, conclui-se, portanto:
Que a causa determinante da abalroação foi a imprudência e negligência dos
condutores das embarcações em questão, não observando os bons cuidados marinheiros e
o que preconiza as Regras 5; 9 (e) (I) e 34 (c) (I) (II), do Regulamento Internacional para
Evitar Abalroamento no Mar – RIPEAM-72, demonstrando assim imprudência e
negligência de ambos os condutores por ocasião da ultrapassagem.
1) Fatores que contribuíram para o acidente em pauta:
a) Fator humano - Sob o ponto de vista do aspecto biopsicológico, não
contribuiu;
b) Fator material - Também, não contribuiu; e
c) Fator operacional - Contribuiu.
2) Que, em consequência houve avarias no leme e no hélice do B/M “CMTE
LIRA DE BARCARENA” porém, durante a realização dos exames periciais, a
embarcação se encontrava atracada e flutuando, portanto, não foi possível verificar a
existência das mencionadas avarias, conforme se verifica através das fls. 15, 17 e 18 dos
presentes autos; e
3) Que são possíveis responsáveis pelo acontecimento em pauta, enquadrados
nas definições de Acidentes da Navegação (abalroamento) constantes do art. 14, letra a,
da Lei nº 2.180/1954, Lei Orgânica do Tribunal Marítimo, o Contramestre Fluvial José
Gabriel da Silva Cruz, CIR-021P2001042659 e o Marinheiro de Convés, Rosenildo
Santos Costa, CIR-021P2001203504, então responsáveis, respectivamente, pela
condução dos B/Ms “CMTE LIRA DE BARCARENA” e “MODERNO”, por

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imprudência e negligência na condução das suas embarcações, não observando os bons
cuidados marinheiros e o que preconiza as Regras 5; 9 (e) (I) e 34 (c) (I) (II), do
Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar - RIPEAM-72.
A Procuradoria Especial da Marinha – PEM, em uniformidade ofereceu
representação em face dos indiciados com fulcro no art. 14, alínea “a” da Lei nº 2.180/54.
Citados, o 1º representado foi regularmente defendido e o 2º declarado revel.
A defesa alega que trata-se de representação da Procuradoria Especial da
Marinha - PEM em que se sustenta o fato da navegação concernente ao abalroamento da
embarcação “CMTE LIRA DE BARCARENA” foi colidida com a outra embarcação.
Na representação há informação expressa de que ambas as embarcações iam
na mesma direção e que a outra embarcação não conseguiu manter a velocidade em razão
da pequena profundidade da água e guinou em direção da embarcação pilotada pelo
representado José Gabriel da Silva Cruz. Não há qualquer fato imputado ao Sr. José
Gabriel que nada mais fez do que se manter pilotando a embarcação.
Foi imputada a responsabilidade a ambos os comandantes.
Como se nota, está a PEM imputando responsabilidade objetiva ao
representado desconsiderando a premissa de que vigora entre nós o princípio do in dubio
pro reu.
Observa-se pela leitura do relatório do inquérito que o mau tempo ocasionou
o acidente.
A presunção constitucional de inocência pode ser classificada como um dos
pilares de um estado dito democrático, já que impõe a observância do devido processo
legal e de sua conclusão definitiva, sem o qual não há que se falar em limitação ou
suspensão de direitos.
Na fase de instrução nenhuma prova foi produzida.
Em alegações finais, manifestaram-se as partes
É o Relatório.
De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que a causa
determinante do acidente foi o erro de manobra cometido pelos condutores das
respectivas embarcações.
A prova testemunhal, como costuma ocorrer neste tipo de acidente, limitou-
se as acusações recíprocas pela responsabilidade na abalroação, com os condutores
tentando afastar a culpa.
A prova pericial identificou a responsabilidade conjunta dos condutores, visto
que desrespeitaram as regras da boa marinharia, assim como o disposto na regras 5, 9 e
34 do RIPEAM.

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Tal conclusão foi a mesma do encarregado do inquérito apontando os
condutores, por imprudência, pela causa determinante do acidente em julgamento.
Na instrução, as acusações da exordial não foram destruídas pelas defesas por
isso convalidadas as conclusões do inquérito.
Diante do exposto, deve ser julgada integralmente procedente a
representação, responsabilizando-se os representados pelo acidente, devido as suas
condutas imperitas e imprudentes
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: abalroação entre barcos a motor, com
danos materiais; b) quanto à causa determinante: erro de manobra; e c) decisão: julgar o
acidente da navegação, como decorrente da imperícia e imprudência dos representados,
condenando-os à pena de repreensão, isentos de custas, na forma dos artigos 121, inciso I
e 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 14 de agosto de 2018.

MARCELO DAVID GONÇALVES


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 05 de outubro de 2018.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2018.11.26 14:43:38 -02'00'

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