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COORDENADORA DE PESQUISA
Margarida Maria Sousa de Oliveira
COORDENADOR DE ESTUDOS DE
POLÍTICAS PÚBLICAS Tancredo Maia
Filho
RESPONSÁVEL EDITORIAL
Cleusa Maria Alves
REVISÃO
Cleusa Maria Alves
Gislene Caixeta
José Adelmo Guimarães
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Maria Ângela T. Costa e Silva
DIGITAÇÃO
Edvar Machado Vasconcelos
APOIO GRÁFICO
Maria Madalena Argentino
Mirna Amariles Beraldo
ALGUMAS CONCLUSÕES............................................................................................. 20
O uso intensivo dos prédios escolares tem sido A reestruturação cria três colegiados de caráter
um dos expedientes (enquanto medida deliberativo — Central, Intermediário e Local
emergêncial) de atendimento à demanda, sendo — que correspondem aos níveis de decisão
que apenas um pequeno percentual das 676 existentes na estrutura da Secretaria.
escolas municipais não utilizam o 4a período.
Ocorrem situações onde até mesmo EMEIs O Colegiado Central reúne os representantes do
cujo mobiliário é inadequado para maiores, tem gabinete e os representantes do Colegiado
sido ocupado no noturno para classes de Intermediário que se compõe do representante
Educação de Adul- da Coordenadoria dos Núcleos de Ação
Educativa (CONAE) e dos
representantes dos Núcleos de Ação Educativa canal de participação é proposto tendo como
(NAEs), além de um membro da Assessoria objetivo que a base, ou seja, os Conselhos de
Técnica de Planejamento (ATP) que pertence Escola passem a desenvolver uma ação mais
ao Gabinete. interativa e eficaz com os colegiados
Intermediários e Central.
A transformação das antigas Delegacias de
Ensino em Núcleos de Ação Educativa (NAE) Em nível de unidade escolar foi criado o
é um dos alicerces da proposta de Conselho de Escola que reúne representantes
descentralização desenvolvida pela Secretaria dos pais, alunos e educadores em cada unidade
Municipal de Educação de uma nova proposta escolar e representa, segundo os responsáveis
pedagógica, permitindo uma relação mais pela gestão em nível municipal, a base da
direta com a Sociedade Civil. proposta de gestão democrática. O objetivo é a
sua plena consolidação enquanto órgãos
As Delegacias de Ensino atuavam funda- deliberativos e o crescimento do seu poder de
mentalmente como órgãos de fiscalização decisão sobre as questões estruturais e
enquanto os Núcleos de Ação Educativa são pedagógicas das escolas. Em 1991 quase todas
pautados numa concepção de ampliar o nível as escolas da rede municipal de ensino já
de autonomia das escolas a partir de uma possuíam seus conselhos, eleitos no início do
dinâmica regionalizada. Os NAEs funcionam ano, representando um contigente de mais de
como unidades de apoio em cada uma das 10 9.000 pessoas que se reúnem periodicamente
regiões cumprindo basicamente duas funções: nas escolas das 10 NAEs do município para de-
uma primeira relacionada com as orientações bater os problemas das suas escolas.
vinculadas às práticas e aos conceitos
pedagógicos e uma segunda relacionada com a Tem-se então três níveis de decisão, o local que
dimensão vinculada com a democratização de corresponde à unidade escolar: o regional, que
acesso à informação das deliberações referentes congrega os dez Núcleos de Ação Educativa, a
ao universo educacional e comunitários a elas Coordenadoria dos Núcleos (CONAE) e a
circunscrito. Mas, além disso, os NAEs Diretoria de Orientação Técnica. Este segundo
também têm como função acompanhar, nível estrutural de decisão constitui o Colegiado
controlar e avaliar o desenvolvimento das Intermediário e o terceiro nível da estrutura, o
atividades e do cotidiano da escola numa Central, que reúne o Gabinete da Secretaria, a
concepção interativa. As transformações Assessoria Técnica e de Planejamento e a
implantadas têm gerado repercussões dife- Coordenadoria dos Núcleos de Ação Educativa.
renciadas, uma vez que certas questões, como é
o caso da Supervisão, não estão A cada um desses níveis estruturais corres-
suficientemente equacionadas. ponde um Conselho. Em nível de unidade
escolar, o Conselho de Escola; em nível dos
O que representa a inovação dos NAEs é o fato NAEs/CONAE, os CRECEs: e em nível
de atuarem como unidades de apoio central, o Conselho Municipal de Educação
pedagógico numa perspectiva regionalizada e que, previsto no Artigo 200 da Lei Orgânica
participativa representada pela existência dos Municipal, terá um caráter deliberativo.
Colegiados de Representantes de Conselho de
Escola (CRECEs). Este
A materialização desta política de demo- A democratização da gestão educacional,
cratização da gestão está consubstanciada em conforme já foi anteriormente enfatizado, está
três princípios básicos (participação, centrada na consolidação do papel aglutinador
descentralização e autonomia) e o desafio dos conselhos de escolas e dos conselhos
fundamental está sendo o de reorganizar a regionais dos conselhos de escolas como
dinâmica de atuação do poder público, o que unidades deliberativas e corres-ponsáveis pela
está explicitado na proposta de Reforma definição das ações educativas e da política
Administrativa e Descentralização enviada pelo educacional no município. A partir do
Executivo ao Legislativo em maio de 1991. reconhecimento das necessidades dos conselhos
Trata-se de uma nova organização da cidade, de escolas são definidas as diretrizes de
um processo de regionalização política da planejamento.
cidade baseado na territoriali-zação do governo
em subprefeituras, possibilitando aproximar o Existe uma definição prévia de algumas etapas
processo decisório da população e encurtar os que configuram a dinâmica de ação. Um
circuitos de demanda, negociação e decisão por primeiro momento é o reconhecimento e a
implantação das ações governamentais.
consulta em torno das necessidades: discussão e
deliberação sobre as prioridades que se
Dentro desta dinâmica de reorganização
territorial/administrativa e decisória, a Secre- traduzem em propostas orçamentárias e a partir
taria Municipal de Educação cria desde 1991 do Plano de Escola que cada Núcleo de Ação
em cada NAE uma unidade orçamentária. Educativa e cada Colegiado de Representantes
Através dessa medida de descentralização, de Conselho de Escola estruturam, definem um
leva-se para mais próximo das escolas parte da Plano Regional de Educação. Ao Órgão Central
autonomia financeira. Os NAEs passam a e ao Conselho Municipal compete a definição
receber verbas próprias, obtendo mais do Plano Municipal que resultará da
condições e recursos para implantar e sistematização das propostas e formulações
desenvolver os projetos das escolas. O aumento apresentadas nos Planos Regionais.
da autonomia financeira das escolas representa
a possibilidade de apropriação de uma quantia Assim, observa-se que ao definir a unidade
de recursos para agilizar a solução de pequenos escolar como centro de um processo que
problemas de manutenção dos prédios sem desencadeia um conjunto de articulações e
depender de instâncias burocráticas. Apesar decisões colegiadas, a Secretaria Municipal de
dos avanços, a avaliação da Secretaria é de que Educação estabelece um processo interativo
ainda não se atingiu um nível satisfatório de entre dois pólos: num pólo as propostas
socialização das informações, o que faz com definidas nos Conselhos de Escolas (CE) e
que freqüentemente as verbas sejam geridas priorizadas em fóruns entre as regiões, no outro
sem muita deliberação nos conselhos de as propostas dos NAEs em termos de diretrizes.
escolas.
A concepção presente na proposta acata a
O que está por trás desta dinâmica é um lógica de ação de base para cima, reforçando os
redimensionamento das atribuições e uma nova Conselhos de Escola, como instâncias de
concepção de planejamento visando a ampliar a organização coletiva da escola. Nestes
autonomia das escolas. Conselhos, através de seus representantes,
toda a comunidade escolar tem garantida a E importante ressaltar que a lógica desta
possibilidade de tomar decisões relativas às proposta está assentada numa integração entre
prioridades político-educacionais e gestão democrática e política pedagógica,
administrativas da escola no marco das explicitada numa proposta de reorientação
diretrizes da Secretaria Municipal de Educação. curricular e formação permanente dos
Estas prioridades estão registradas nos Planos professores, consubstanciadas na proposição de
das escolas e compatibilizadas nos Colegiados uma nova qualidade do ensino.
de Representantes de Conselho de Escola
(CRECEs), tendo como objetivo traduzir-se em Além das três instâncias de deliberação,
prioridades orçamentárias dos Planos Regionais existem os colegiados ampliados que reúnem
de Educação, como auxiliares na construção da representantes de todos os níveis de decisão no
participação popular por educação formuladas intuito de referendar decisões relativas à
nos documentos oficiais da Secretaria. política mais global da SME.
Observa-se que ocorre um investimento maior Quando se iniciou a gestão Luiza Erundi-na,
na capacitação do professor através dos grupos com o professor Paulo Freire à frente da
de formação, oficinas e cursos que têm como Secretaria de Educação do Município, resgatou-
princípio a dinâmica ação-reflexão-ação, que se o Regimento da gestão Covas. Em 1989
leva a uma construção coletiva do foram implantados os conselhos em todas as
conhecimento e a uma postura mais crítica. escolas, através de uma campanha estimulando
a participação e o debate com todos os setores
O resultado é que as relações com a clientela da da comunidades escolar. A implantação é muito
escola se tornam mais responsáveis, na medida diferenciada, principalmente naquelas
"em que existe um compromisso mútuo com a comunidades onde não existe uma população
mudança", conforme um dos representantes mobilizada e naquelas onde ocorre um debate
entrevistados. bastante intenso e uma pressão pela modi-
ficação da dinâmica da gestão existente e a
Além disso, verifica-se que o trabalho dos implantação de uma gestão democrática com a
diferentes profissionais se realiza num outro efetiva interveniência do Conselho.
patamar, na medida em que os profissionais
têm que se preparar melhor e receber orientação As equipes responsáveis pelos NAEs têm se
e formação para se aprimorar na função em que esforçado em estimular uma prática mais
exerce expediente, recursos humanos, banco de abrangente dos conselhos, tentando ampliar o
dados, recursos financeiros, supervisão, equipe nível de motivação e a possibilidade de os pais
pedagógica, etc. Assim, por exemplo, "o colocarem suas idéias automaticamente. Apenas
pessoal que lida com recursos financeiros, os grupos mais organizados, que são poucos,
discute com as escolas as prioridades para o participam mais ativamente e as possibilidades
mês, não se limitando a distribuir as verbas e de manipulação dos outros segmentos são
essas prioridades são discutidas no Conse- grandes.
Observam-se diferenças importantes entre os que o retorna à escola para reavaliação. Neste
NAEs sendo que as regiões com mais processo de interação e realimen-tação, a
experiência mobilizatória obtêm melhores comunidade torna-se ciente de que suas
resultados de participação e integração da demandas não podem ser atendidas com o
comunidade na proposta participativa. orçamento de que se dispõe e que a solução é a
definição de prioridades tanto pelo movimento
popular como pelo CE. As escolas então
RESULTADOS DA IMPLANTAÇÃO DOS definem suas prioridades as quais, após
CONSELHOS sistematizadas pela equipe do NAE, são levadas
à plenária regional — o CRECE. A conclusão
O grande problema é o da representatividade, e do processo já demonstra per se o esforço
os resultados quanto à participação são bastante empreendido pela comunidade. Segundo alguns
diferenciados. A comunidade participa mais entrevistados, avalia-se que existe uma
nos debates sobre Plano Escolar, calendário da possibilidade, entretanto ainda não existe uma
escola e tem havido uma maior motivação no participação efetiva, sendo que a falta de repre-
debate do Orçamento/Programa. A participação sentatividade é vista como um dos entraves na
está muito vinculada a uma noção de utilidade/ medida
objetividade daquilo que é discutido e pro-
posto. Mas também é um fator diferen-ciador '"...em que os membros do CE e do CRECE
da atual gestão, na medida em que, segundo a não discutem com seus pares antes das
reuniões. Existe uma reclamação de pais,
participação popular, garante as outras metas
funcionários e professores sobre a falta de
das Secretaria Municipal de Educação. paridade'. A forma de institucionalizar, pelo
menos enquanto ação do NAE, é garantir que
Provavelmente, um dos aspectos mais esti- as decisões constem em ata...".
mulantes da prática dos conselhos é a pos-
sibilidade aberta onde o estítulo ou desestí- Apesar de todas as dificuldades apontadas, em
mulo dos diretores joga um rol fundamental de decorrência da existência dos CE, ocorre um
um melhor conhecimento, por parte da questionamento da qualidade do ensino e do
comunidade, dos limites na definição das projeto pedagógico e, quando são observadas
propostas e necessidades encaminhadas para irregularidades, estas são levadas ao
incorporar no conjunto de demandas da região. conhecimento do NAE. O que é considerado
Cria-se uma dinâmica de interações onde as como um avanço é a possibilidade de
escolas traçam o Orçamento/Programa junto estabelecer um diálogo entre todos os
com o CE, após um trabalho de orientação feito segmentos da escola, mesmo explicitan-do-se
pelos especialistas das escolas. Após o divergências e conflito de interesses.
mapeamento feito pelo NAE das propostas
enviadas pelas escolas, este material é As resistências estão principalmente centradas
devolvido às escolas com vista a uma no preconceito e questionamento não só do
rediscussão com o CE. Nesta instância, são diretor, mas freqüentemente por membros da
verificadas as incoerências e a inviabilidade do equipe técnica e dos professores sobre o caráter
que foi proposto e é refeita a proposta e deliberativo do Conselho, sobre a
enviada à SME descentralização do poder. Existe uma
resistência em dividir o poder
e cria-se todo tipo de entraves para que os pais nas quais se desdobra a estrutura participativa.
e alunos tenham acesso às informações sobre O que está em jogo é o protagonis-mo,
reuniões. Na maioria dos CE o diretor ainda principalmente o dos setores populares,
exerce uma forte influência, o que diminui a entretanto, não se trata de um processo simples.
possibilidade deste ser uma instância com
autonomia, conforme a proposta da SME. Se bem que se implante no nível local uma
estrutura participativa, existem grandes
Por outro lado, os especialistas da rede escolar dificuldades em institucionalizar a proposta.
não têm uma cultura de participação e temem a Isto se configura no fato de que apesar da
participação popular. O NAE enquanto orientação e do suporte do nível central para a
instância técnico-político tem um caráter implantação e consolidação dos co-legiados,
indutivo que freqüentemente entra em conflito nos diversos níveis, os NAEs têm mostrado
com a dinâmica organizacional da rede. resultados bastante diferenciados quanto ao
nível de participação. Um outro aspecto que
A proposta da SME é vista pelo professor pode depreender-se desta análise é que,
como uma invasão de espaço e, certamente, os freqüentemente, o baixo nível de
pais avançaram mais, apesar das dificuldades, institucionalização está vinculado com as
na assimilação da proposta do que os resistências corporativas à implementação de
professores. Uma frase de um representante práticas participativas, onde vêm à tona
permite verificar o alcance da proposta: questões como o controle, a fiscalização e a
deliberação por parte da comunidade.
"... acho difícil reverter esse processo de
participação da população dos pais. Depois
dessa administração não sei se essa cidade vai A iniciativa de abrir canais de participação abre
ser a mesma...". espaço para uma problematização relevante da
relação Estado/sociedade. Em primeiro lugar,
traz à tona a necessidade de a comunidade,
ALGUMAS CONCLUSÕES através das suas formas de organização e
representação, enfrentar a sua relação com as
As propostas de gestão da educação pela propostas de participação implantadas pela
administração Luiza Erundina têm como administração, dentro da sua concepção de
referência a sua democratização, através da democratização da gestão e de inovação da
descentralização administrativa. gestão da coisa pública. Em segundo lugar, não
se deve desconsiderar as contradições que
A estrutura administrativa da Secretaria podem surgir no processo, seja quanto à
Municipal de Educação foi modificada a partir formação de um duplo poder, seja quanto
de uma proposta de democratização do acesso e interferências da administração, seja quanto ao
da gestão. controle de instâncias decisórias pelos grupos
mais ativos e consolidados.
Desde o início da gestão, existe uma preo-
cupação com a incorporção dos setores sociais Os resultados heterogêneos no conjunto da
organizados nas diversas instâncias cidade refletem as dificuldades de se modificar
uma cultura burocrática e centraliza-
dora que coloca entraves à democratização dos cesso decisório dentro de uma lógica não
serviços e aos mecanismos de fiscalização e cooptativa.
controle social à gestão da coisa pública.