Você está na página 1de 29

1

AS 5 SOLAS DA REFORMA PROTESTANTE


Culto da Reforma -499 anos -30/10/2016
INTRODUÇÃO
1. Antes da reforma protestante do século XVI, os ensinos, as
ações e a postura da igreja Católica Romana, incomodavam
aqueles que procuravam pautar suas vidas nos ensinos das
Escrituras Sagradas.
2. Homens como John Wycliffe, Jerônimo Savanarola, João Huss
e tantos outros foram mortos por defenderem seus ideais de
conduta e fé. No cárcere, sentenciado pelo papa para ser
queimado vivo, João Huss disse:

"Podem matar o ganso (em alemão, sua língua natal, huss é


ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que
não poderão queimar".

3. No dia 31 de outubro de 1517, cento e dois anos após a morte


de João Huss, o monge agostiniano Martinho Lutero, seguindo o
mesmo ideal de Huss, de lealdade às Escrituras, afixa à porta da
igreja do castelo de Witenberg, as suas 95 teses,
4. Cujo teor resume-se em que Cristo requer o arrependimento,
a tristeza pelo pecado, e não a penitência.
5. Com o desenvolvimento dos estudos de Lutero e suas teses
surgem os cinco pilares da reforma protestante que são
também conhecidos como as cinco solas da reforma,
6. São princípios fundamentais da reforma sintetizando o credo
dos teólogos protestantes.
7. Nosso objetivo hoje é relembrar a história comentando as
5 príncipios da fé evangélica.
I . SÓ A FÉ

Paschoal Piragine Jr 1 31/10/16


2

1. Lutero era um homem que decidiu ir para a vida monástica


como uma busca pela vida eterna.
2. Havia dentro dele um senso de pecado tanto que ele se
confessava o quanto podia, e as vezes , logo depois da
confissão, ele voltava ao confessionário para acrescentar
um pecado que havia acabado de lembrar .
3. Ele pensava que se esquecesse de confessar um pecado e
morresse , não haveria salvação para ele , pois estava em
dívida com Deus
4. Tentava viver a perfeição mas sabia que não podia faze-lo.
5. Tentou a prática dos místicos , mas não preencheu o seu coração
6. Tentou até formas de penitencia corporal , mas lhe pesava
a alma .
7. Por causa de sua criação severa, a justiça de Deus lhe
parecia demasiada e que ninguém poderia livrar-se dela.
8. No entanto quando começou a lecionar o livro de Romanos
ele fez uma descoberta maravilhosa no texto :
Romanos 1:17 (RA) 17 visto que a justiça de Deus se revela no
evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.
9. Martinho Lutero percebeu que a justiça de Deus nessa
passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de
Deus, pela fé como dádiva.
10. Era a justiça de Deus , revelada no evangelho, a boa notícia de
que Jesus morrera pelos nossos pecados e que o todo poderoso
preparara uma salvação que só poderia ser recebida pela fé.
11. Não são penitências, sacrifícios, boas obras ou a compra de
indulgências, que livrarão o homem da condenação eterna, mas
a salvação é através da fé na obra redentora de Jesus.
Efésios 2:8-9 (RA) 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras,
para que ninguém se glorie.

Paschoal Piragine Jr 2 31/10/16


3

12. Ele sabia que Jesus perdoava pecados mediante a confissão


e a penitencia , mas não que a obra de Jesus era maior do que
isto.
13. Ele pensava que poderia mitigar, compensar pecados com as
suas boas obras, mas não entendera até aquele momento que
Jesus já havia nos comprado pelo seu sangue e que a salvação
era um presente de Deus que pode ser apropriado pela fé
14. E a fé não era uma obra meritória , era simplesmente o
meio pelo qual nos apropriamos da dádiva divina .
15. Esta verdade central das escrituras foi a razão principal de
Lutero ter afixado as suas 95 teses ( afirmações de fé na porta da
Igreja.
16. Isto se deu porque Tetzel , um padre dominicano , iniciou a
sua venda de Indulgencias promulgadas pelo Papa Leão X , fruto
de um acordo com a poderosíssima casa dos Hohenzollern, que
aspirava à hegemonia da Alemanha. Um dos membros dessa
casa, Alberto de Brandeburgo.
17. Este acordo envolvia um pagamento adiantado de dez mil
ducados para financiar o termino da Basílica de São Pedro,
em Roma .
18. Posto que esta era uma soma considerável, o Papa autorizou
Alberto a proclamar uma grande venda de indulgências em seus
territórios, em troca de que a metade do produto fosse enviada
ao erário papal e a outra metade ficaria para ele.
19. Tetzel e seus subalter-nos proclamavam que a indulgência
que vendiam
a. deixava o pecador "mais limpo do que saíra do batismo",
b. ou "mais limpo do que Adão antes de cair",
c. que "a cruz do vendedor de Indulgências tinha tanto
poder como a cruz de Cristo"
d. e que, no caso de alguém comprar uma indulgência para
um parente já morto, "tão pronto a moeda caísse no cofre,
a alma saía do purgatório".

Paschoal Piragine Jr 3 31/10/16


4

e. E que a indulgencia papal tinha o poder de perdoar


inclusive os pecados futuros
20. Como se calar quando as escrituras afirmam que a salvação
é obra de Cristo que se obtem pela fé ?
21. O que Jesus espera é que você e eu entendamos que só ele
salva e que o que ele espera de nós é a fé na suficiência da
sua obra na cruz .
22. Você já fez a oração da fé salvadora?
II SÓ A GRAÇA

1. O Segundo pilar da fé evangélica está intrinsicamente ligado


ao primeiro .
2. Se a fé é o meio humano pelo qual podemos ser salvos , então
a graça é o recurso divino no qual colocamos a nossa fé .
Romanos 1:17 (RA) 17 visto que a justiça de Deus se revela no
evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.
3. Como a justiça divina poderia ser cumprida se ainda
somos pecadores ?
4. Como poderíamos ser salvos se como pecadores ,
somos condenados pela lei de Deus ?
5. Mas a graça de Deus foi ele cumprir a sua justiça por nós.
6. O segredo do céu  a encarnação, a morte, o hades , a
ressurreição, e a oferta de graça .
7. Graça é a justiça do evangelho que só pode ser alcançada por
meio da fé .
8. Ao entender isto Lutero não podia se conformar com o
absurdo da venda das indulgências.
9. Porque ninguém será salvo por mérito próprio, por obras,
sacrifícios penitências ou compra de indulgências. A única
causa eficaz da salvação é a graça de Deus sobre o pecador.

Paschoal Piragine Jr 4 31/10/16


5

10. Você não pode comprar um terreno no céu , nem com


dinheiro, nem com qualquer outra coisa . Só a graça pode lhe dar
a salvação eterna .
Efésios 2:8-9 (RA) 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a
fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras,
para que ninguém se glorie.
11. Hoje é dia em que a graça de Deus precisa ser recebida com
fé.
12. Menos do que isto é um ultraje diante da bondade de Deus .
Hebreus 10:29 (NTLH) 29 Então, o que será que vai acontecer
com os que desprezam o Filho de Deus e consideram como
coisa sem valor o sangue da aliança de Deus, que os
purificou? E o que acontecerá com quem insulta o Espírito do
Deus, que o ama? Imaginem como será pior ainda o castigo
que essa pessoa vai merecer!
13. O Senhor quer que você receba o seu presente gracioso.
III SÓ CRISTO

1. O terceiro pilar da fé evangélica é só Cristo


2. A crise das indulgencias fez com que Lutero percebesse que
homem algum , nem o Papa, nem os santos , nem os padres
poderiam intermediar a nossa relação com Deus . Só cristo

Lutero disse que as indulgências não removiam a culpa e que o


papa poderia remitir somente as penalidades que ele próprio
tinha imposto sobre a Terra e que ele não tinha nenhuma
jurisdição sobre o purgatório. Ele negou que os santos
tivessem crédito excedente acumulado.1

1
Uma História do Cristianismo 1500 a.D. a 1975 a.D., 1a. ed, vol. 2, 2 vols., Uma História do Cristinanismo
(São Paulo -SP: Hagnos, 2006).

Paschoal Piragine Jr 5 31/10/16


6

Ele sustentou que as indulgências produziam um falso senso


de segurança e, assim, eram definitivamente prejudiciais.2

3. Sua conclusão foi baseada em vários textos das ecrituras


que nos afirmam
a. Só Jesus tem poder para salvar
Atos 4:12 (NTLH) 12 A salvação só pode ser conseguida
por meio dele. Pois não há no mundo inteiro nenhum outro
que Deus tenha dado aos seres humanos, por meio do qual
possamos ser salvos.
b. Só ele tem poder para nos levar a presença de Deus
João 14:6 (NTLH) 6 Jesus respondeu:— Eu sou o caminho, a
verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai a não ser
por mim.
c. Só ele pode mediar a nossa comunhão com o Pai
1 Timóteo 2:5-6 (NVI-PT) 5 Pois há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus,
6 o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse
foi o testemunho dado em seu próprio tempo.
d. Ele é o nosso sumo sacerdote que nos leva ao trono
da graça de Deus
Hebreus 4:14 -16 (NVI-PT) 14 Portanto, visto que temos um
grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho
de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que
professamos, 15 pois não temos um sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém
que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem
pecado. 16 Assim, aproximemo-nos do trono da graça com
toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e

2
Ibidem.

Paschoal Piragine Jr 6 31/10/16


7

encontrarmos graça que nos ajude no momento


da necessidade.
4. Somente Cristo foi a reação da Reforma contra a igreja
secularizada e contra os sacerdotes que afirmavam sua
posição especial para mediar a graça e o perdão de Deus por
meio dos sacramentos.
5. A reforma defendeu que a mediação entre o homem e Deus
é feita somente por Jesus Cristo.
6. Cristo é central na reforma protestante.
7. Se o temos podemos ir direto ao pai sem qualquer intermediário
8. Oramos ao pai, confessamos e pedimos perdão ao pai através
de Jesus .
9. Os santos , ainda que tenham sido cristãos piedosos , não tem
o poder de mediar a nossa fé . Só Jesus !
10. Os lideres servem apenas para guiar seus liderados para
o caminho da salvação. Cristo é a verdade e ninguém pode
se achegar ao Pai sem Ele (Jesus).
11. Hoje Jesus quer que você, exclusivamente pela fé, aproprie-
se da graça e receba o privilégio de ter acesso ao pai,
diretamente pela mediação de Jesus .
IV SÓ A BÍBLIA
1. O quarto pilar da fé evangélica é que só a bíblia é a regra de fé
e prática de um cristão.
2. Isto porque a Igreja católica entendia que existiam duas regras
de fé para um cristão: a bíblia e a tradição da igreja , formada
pelos seus documentos , bulas e encíclicas papais.
3. Por isso muitas das doutrinas que faziam a igreja nos dias
de Lutero terem se desviado tanto dos valores essenciais do
Cristianismo, não nasceram dos escritos sagrados
4. Nem eram , muitos deles , interpretações das escrituras,
eram instrumentos do poder centralizado da igreja para
produzir os efeitos que necessitavam .
5. Este era o caso das indulgencias  arrecadar mais.

Paschoal Piragine Jr 7 31/10/16


8

6. Os reformadores , quase todos eram padres piedosos que não


podiam mais conviver com a manipulação da fé e entendiam que
para voltar a essência da fé era indispensável voltar a bíblia.
7. Você sabia que até o concilio vaticano II ( metade do sec XX) ,
a leitura da bíblia era proibida ao leigo?
8. Mas de onde veio este entendimento que todos poderiam ler as
escrituras e meditar nelas ?
9. Da própria palavra de Deus .
2 Timóteo 3:16-17 (NTLH) 16 Pois toda a Escritura Sagrada é
inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o
erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver. 17 E
isso para que o servo de Deus esteja completamente
preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações.
a. A bíblia é inspirada por Deus
b. É o recurso deixado pelo Senhor para que pudéssemos
conhecer a sua vontade de modo objetivo.
c. Quando a lemos o Espírito Santo nos ilumina, fala ao nosso
coração e revela a sua vontade
i. Esta foi a promessa de Jesus
João 14:26 (NTLH) 26 Mas o Auxiliador, o Espírito Santo, que o
Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e
fará com que lembrem de tudo o que eu disse a vocês.
ii. Esta foi o ensino dos apóstolos
Efésios 1:18 (NVI- PT) 8 Oro também para que os olhos do
coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês
conheçam a esperança para a qual ele os chamou, as
riquezas da gloriosa herança dele nos santos

1 João 2:20 (RA) 20 E vós possuís unção que vem do Santo


e todos tendes conhecimento.
10. Uma das críticas de Jesus aos judeus de seu tempo era que
eles tinham tantas doutrinas que ele chamou de “doutrinas de
homens” que haviam se afastado da palavra de Deus

Paschoal Piragine Jr 8 31/10/16


9

Marcos 7:6-8 (NTLH) 6 Jesus respondeu:— Hipócritas! Como


Isaías estava certo quando falou a respeito de vocês! Ele
escreveu assim: “Deus disse: Este povo com a sua boca diz
que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe
de mim.
7 A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis
humanas como se fossem mandamentos de Deus.”
8 E continuou:— Vocês abandonam o mandamento de Deus
e obedecem a ensinamentos humanos.
11. Só a bíblia é a palavra de Deus e fiel testemunha da verdade .
12. Leia a bíblia .
13. Viva a bíblia
14. Deixe o Espírito Santo iluminar você através da bíblia .
V SÓ A DEUS GLÓRIA

1. O quinto pilar da fé evangélica é: Só a Deus seja a glória.


2. O homem foi criado para a glória de Deus, portanto, tudo que ele
faz deve ser destinado à glória de Deus.
3. Este foi o ensino tanto do NT como do Vt
4. Vejam o que as escrituras ensinam :
Isaías 43:7 (NVI- PT) 7 todo o que é chamado pelo meu nome,
a quem criei para a minha glória, a quem formei e fiz”.

Romanos 11:36 (RA) 36 Porque dele, e por meio dele, e para ele
são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!

5. Isto parece tão normal !


6. Mas na prática não era tão normal assim.
a. A igreja romana ensinava e exigia uma devoção ao clero e
aos homens santos que poderiam interferir diante de Deus

Paschoal Piragine Jr 9 31/10/16


10

para perdão de pecados e obtenção de bênçãos para


os homens.
i. Quando se estava na presença do papa e dos cardeais
a reverência deveria ser tamanha, beirando as raias de
adoração, onde se demonstraria uma total submissão
a estes.
ii. Não podemos dispensar glórias a homens, pois
todos não passam de míseros pecadores e carecem
da misericórdia de Deus.
iii. Este foi o ensino do AT.
Jeremias 9:23-24 (RA) 23 Assim diz o SENHOR: Não se glorie
o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o
rico, nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se
nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço
misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me
agrado, diz o SENHOR.

Salmos 4:2 (RA) 2 Ó homens, até quando tornareis a minha


glória em vexame, e amareis a vaidade, e buscareis a mentira?
b. Ensinava também a devoção aos santos , mas só a
Deus glória
Isaías 42:8 (NVI-PT) 8 “Eu sou o Senhor; este é o meu nome!
Não darei a outro a minha glória nem a imagens o meu louvor.

Êxodo 20:4-5 (NTLH) 4 — Não faça imagens de nenhuma coisa


que há lá em cima no céu, ou aqui embaixo na terra, ou nas
águas debaixo da terra. 5 Não se ajoelhe diante de ídolos, nem
os adore, pois eu, o SENHOR, sou o seu Deus e não tolero
outros deuses. Eu castigo aqueles que me odeiam, até os
seus bisnetos e trinetos.
CONCLUSÃO
1. Os 5 pilares da fé evangélica são :
a. Só a fé
b. Só a graça

Paschoal Piragine Jr 10 31/10/16


11

c. Só Cristo
d. Só a bíblia
e. Só a Deus glória
2. Hoje queria convidá-lo a construir a sua vida espiritual
sobre estes pilares.
3. Os reformadores foram só homens , e a história é capaz de nos
apresentar alguns de seus defeitos, mas as verdades que eles
nos transmitiram , pautadas nas escrituras sagradas , nos
permitem buscar a essência do verdadeiro cristianismo.
4. Você quer experimentar ?

Paschoal Piragine Jr 11 31/10/16


12

A História de Lutero e a Reforma


Baseado no texto de Justo Gonzales3
Lutero nasceu em 1483, em Eisleben, Alemanha, onde
seu pai, de origem camponesa, trabalhava nas minas.
A infância do pequeno Martinho não foi feliz. Seus pais
eram extremamente severos com ele e muitos anos
mais tarde ele mesmo contava com amargura alguns
dos castigos que lhe tinham sido impostos.
Em julho de 1505, pouco antes de completar os 22
anosde idade, Lutero ingressou no mosteiro agostinho
de Erfurt. A razão principal que levou Lutero a tomar o
hábito foi o seu interesse pela própria salvação.
O tema da salvação e da condenação permeava todo o
ambiente da época. A vida presente não parecia ser
mais que uma preparação e prova para a vida vindoura.
Lutero entrou no mosteiro como fiel filho da igreja, com
o propósito de utilizar os meios de salvação que a igreja
lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia ser a
vida monástica.
Supunha -se que as boas obras e a confissão fossem a
resposta para a necessidade que aquele jovem monge
tinha de justificar- se diante de Deus. Porém não
bastavam nem uma coisa nem outra. Lutero tinha um
sentimento muito profundo de sua própria
pecaminosidade e cada vez mais tratava de sobrepor-se
a ela, mas cada vez mais se apercebia que o pecado era
muito mais poderoso do que ele. Isto não quer dizer que
não fosse um bom monge, ou que levasse uma vida
licenciosa ou imoral. Pelo contrário, Lutero se esforçou
em ser um monge perfeito.

3
Justo L. Gonzalez, Uma História Ilustrada do Crisitianismo - A Era dos Reformadores Vol 6, 1a. 5a.
reimpressão, vol. 6, História Ilustrada do Cristinismo (São Paulo -SP: VIDA NOVA, 2001), 43–80.

Paschoal Piragine Jr 12 31/10/16


13

Repetidamente castigava seu corpo, segundo lhe


ensinaram os grandes mestres do monaquismo.
E sempre socorria-se do confessionário com tanta
frequênciaquanto fosse possível. Porém tudo isso não
bastava.
Se para que os pecados fossem perdoados, era
necessário confess-los, o grande medo de Lutero era
esquecer alguns de seus pecados. Portanto, uma e
outra vez repassava cada uma de suas ações e
pensamentos e, quanto mais os repassava, mais
pecado encontrava.
Os místicos diziam que bastava amar a Deus, visto que
tudo mais era uma conseqü.ncia do amor. Isto pareceu
a Lutero como uma palavra de libertação, pois não era
necessário levar em conta todos os seus pecados,
como até então fizera. Porém não tardou muito para
aperceber-se de que amar a Deus não era assim tão
fácil. Se Deus era como seus pais e mestres que o
haviam surrado até tirar-lhe sangue, como poderia ele
amá -Lo? Por último, Lutero chegou até a confessar que
não amava a Deus mas sim que o odiava.
Nessa encruzilhada, seu confessor, que era também seu
superior, tomou uma medida surpreendente. Ordenou a
Lutero, que não esperava tal coisa, que se preparasse
para ir dirigir cursos sobre as Escrituras na
universidade de Wittenberg.
O que é certo é que quando se viu obrigado a preparer
conferências sobre a Bíblia, nosso monge começou a
ver nela uma possível resposta para suas angústias
espirituais.
Lutero interpretava os Salmos cristologicamente. Neles,
era Cristo quem falava. Eassim, viu Cristo passando

Paschoal Piragine Jr 13 31/10/16


14

pelas angústias semelhantes às que passava. Este foi o


princípio de sua grande descoberta.
A grande descoberta veio provavelmente em 1515,
quando Lutero começou a dar conferências sobre a
epístola de Romanos, pois ele mesmo disse, depois,
que foi no primeiro capítulo dessa epístola onde
encontrou a resposta para as suas dificuldades.
Segundo Lutero conta, ele odiava a frase "a justiça de
Deus" e esteve meditando nela dia e noite para
compreender a relação entre as duas partes do
versículo que, começa afirmando que "no evangelho a
justice de Deus se revela" e conclui dizendo que "o
justo viverá pela fe '".
A resposta foi surpreendente. A "justiça de Deus" não
se refere aqui, como pensa a teologia tradicional, ao
fato de que Deus castigue aos pecadores. Refere-se,
sim, a que a "justiça" do justo não é obra sua, mas dom
de Deus. A "justiça de Deus" é a que tem quem vive
pela fé, não porque seja em si mesmo justo, ou porque
cumpra as exigências da justiça divina, mas porque
Deus lhe dá esse dom. A "justificação pela fé" não quer
dizer que a fé seja uma obra mais sutil que as boas
obras, e que Deus nos paga por essa obra. Quer dizer
sim que, tanto a fé como a justificação do pecador, são
obrasde Deus, dom gratuito.

Em consequência, continua comentando Lutero sobre


sua descoberta, "senti que havia nascido de novo e que as
portas do paraíso me haviam sido abertas. As Escrituras
todas tiveram um novo sentido. E a partir de então a frase
"a justiça de Deus" não me encheu mais de ódio, mas se
tornou indizivelmente doce em virtude de um grande amor".

Paschoal Piragine Jr 14 31/10/16


15

Sua grande descoberta embora tivesse lhe trazido uma


nova compreensão do evangelho, não o levou a protestar
de imediato contra o modo em que a igreja entendia a fé
cristã.
Ele ensinou e até convocou um debate que só alcançou os
alunos da universidade que atuava , até que ele veio a
condenar a venda de indulgencias.
O surgimento da venda das indulgências nos séculos 11 e
12 e a crença que, por intermédio delas, o papa poderia
contar com o tesouro dos santos para remitir as
penalidades temporais pelo pecado não somente para os
vivos, mas também para as almas no purgatório.4
A questão foi trazida a Lutero pela concessão das
indulgências pelo papa para aqueles que viam, em um dia
específico, uma coleção famosa de relíquias que o Eleitor
Frederico reunira em Wittenberg, contanto que eles também
fizessem as contribuições exigidas. Nos sermões, em 1516,
para o desconforto do Eleitor, Lutero questionou a eficácia
das indulgências e declarou que o papa não tinha poder
para libertar as almas do purgatório.5

Lutero fixou na porta da igreja de Wittenberg, uma


espécie de quadro de avisos da universidade, 95 teses
que ele preparara para debate. Era esse o procedimento
normal, nos círculos acadêmicos, para se obter um
debate. Em linguagem vigorosa e nítida, Lutero desafiou

4
K. S. Latourette, Uma História do Cristianismo 1500 a.D. a 1975
a.D., 1a. ed, vol. 2, 2 vols., Uma História do Cristinanismo (São
Paulo -SP: Hagnos, 2006).
5
Ibidem.

Paschoal Piragine Jr 15 31/10/16


16

as indulgências. Ele protestou contra o despojamento


dos alemães para pagarem pela construção da Catedral
de São Pedro, dizendo que poucos alemães poderiam
adorar ali, que o papa era rico o suficiente para fazer a
construção com o seu próprio dinheiro, e que ele faria
melhor designando um bom pastor para uma Igreja do
que dar indulgência a todos eles. Lutero disse que as
indulgências não removiam a culpa e que o papa
poderia remitir somente as penalidades que ele próprio
tinha imposto sobre a Terra e que ele não tinha
nenhuma jurisdição sobre o purgatório. Ele negou que
os santos tivessem crédito excedente acumulado.6
Ele sustentou que as indulgências produziam um falso
senso de segurança e, assim, eram definitivamente
prejudiciais.7
Ao opor-se ao lucro e aos desígnios de vários
personagens muito mais poderosos do que ele a
tempestade irrompeu.
A venda de indulgências que Lutero atacou tinha sido
autorizada pelo papa Leão X e nela estavam envolvidos
os interesses econômicos e políticos da poderosíssima
casa dos Hohenzollern, que aspirava à hegemonia da
Alemanha. Um dos membros dessa casa, Alberto de
Brandeburgo, tinha já duas sedes episcopais e
desejavaocupar também o arcebispado de Mainz, que
era o mais importante da Alemanha. Para isso se pôs
em contato com Leão X, um dos piores papas daquela
época de papas indolentes, avarentos e corrompidos.

Leão X fez saber que estava disposto a conceder a


Alberto o que ele lhe pedia, em troca de dez mil

6
Ibidem.
7
Ibidem.

Paschoal Piragine Jr 16 31/10/16


17

ducados. Posto que esta era uma soma considerável, o


Papa autorizou Alberto a proclamar uma grande venda
de indulgências em seus territórios, em troca de que a
metade do produto fosse enviada ao erário papal.
Parte do que sucedia era que Leão X sonhava com o
término da Basílica de São Pedro, iniciada por seu
predecessor Júlio II, cujas obras marchavam
lentamente por falta de fundos.
Logo, a grande basílica que hoje é o orgulho da Igreja
romana foi uma das causas indiretas da reforma
protestante.
Quem se encarregou da venda das indulgências na
Alemanha Central foi o dominicano João Tetzel, homem
sem escrúpulos que com o fim de promover sua
mercadoria, fazia afirmações escandalosas. Por
exemplo: Tetzel e seus subalter-nos proclamavam que a
indulgência que vendiam deixava o pecador "mais
limpo do que saíra do batismo", ou "mais limpo do que
Adão antes de cair", que "a cruz do vendedor de
Indulgências tinha tanto poder como a cruz de Cristo" e
que, no caso de alguém comprar uma indulgência para
um parente já morto, "tão pronto a moeda caísse no
cofre, a alma saía do purgatório".
Foi então que Lutero fixou suas famosas noventa e
cincoteses na porta da igreja do castelo de Wittenberg.

Essas noventa e cinco teses, escritas acaloradamente


com um sentimento de indignação profunda, punham o
dedo sobre a chaga do ressentimento alemão contra os
exploradores estrangeiros. E além do mais, ao atacar
concretamente a venda das indulgências, punha em
perigo os projetos dos poderosos. Algumas das teses
iam mais além da mera questão da eficácia e dos limites

Paschoal Piragine Jr 17 31/10/16


18

das indulgencies e apontavam para a exploração da


qual o povo era objeto.
Segundo Lutero, se era verdade que o papa tinha
poderes para tirar uma alma do purgatório, tinha que
utilizer esse poder, não por razões tão triviais como a
necessidade de fundos para construir uma igreja, mas
simplesmente por amor, e assim fazê -lo gratuitamente
(tese 82). E ainda mais, o certo é que o papa deveria dar
do seu próprio dinheiro aos pobres de quem os
vendedores de indulgências tiravam, mesmo que para
isso tivesse que vender a Basílica de São Pedro (tese
51).
Lutero deu a conhecer suas teses na véspera da festa
de Todos os Santos, e seu impacto foi tal que
freqüentemente se marca essa data, 31 de outubro de
1517, como o começo da reforma protestante. Os
impressores produziram um grande número de cópias
das teses e as distribuíram por toda a Alemanha, tanto
no original latino, como em tradução alemã.

O próprio Lutero havia mandado uma cópia a Alberto de


Brandeburgo, acompanhada com uma carta muito
respeitosa. Alberto enviou as teses e a carta para Roma,
pedindo a Leão X que intervíesse.O imperador
Maximiliano se encolerizou diante das atitudes e dos
ensinos daquele monge impertinente, e também pediu a
Leão X que interviesse.

Nesse meio tempo, Lutero publicou uma explicação de


suas noventa e cinco teses, na qual, além de esclarecer
o que tinha sido escrito em breves proposições,

Paschoal Piragine Jr 18 31/10/16


19

aguçava seu ataque contra a venda das indulgências e


contra a teologia que servia para apoiá-la.

A resposta do papa foi pôr a questão debaixo da


jurisdição dos agostinhos, cuja próxima reunião
capitular, teria lugar em Heidelberg, e Lutero foi
convocado. Para lá foi nosso monge, temendo por sua
vida, pois se dizia que seria condenado e queimado.
Porém para grande surpresa sua, muitos dos monges
se mostraram favoráveis a sua doutrina.
Alguns dos mais jovens a acolheram entusiasticamente.
Para outros a disputa entre Lutero e Tetzel era um caso
a mais na velha rivalidade entre os agostinhos e os
dominicanos, e portanto não estavam dispostos a
abandonar seu campeão. Em consequência, Lutero
regressou a Wittenberg fortalecido pelo apoio de sua
ordem e feliz por haver ganhado vários conversos para
sua causa.

O papa então tomou outro caminho. Em breve deveria


se reunir em Augsburgo a dieta do Império, isso é, a
assembléia de todos os potentados alemães, sob a
presidência do imperador Maximiliano. O legado papal a
essa dieta era o cardeal Cajetano, homem de grande
erudição, cuja missão principal era convencer os
príncipes alemães da necessidade de empreender uma
cruzada contra os turcos, que ameaçavam a Europa, e
de promulgar um novo imposto para esse fim. A
ameaça dos turcos era tal que Roma estava tomando
medidas para reconciliar-se com os husitas da Boêmia,
mesmo que isso implicasse em acatar várias de suas
demandas. Portanto, a cruzada e o imposto eram a
principal missão de Cajetano, a quem o papa
comissionou para se entrevistar com Lutero e o obrigar

Paschoal Piragine Jr 19 31/10/16


20

a retratar-se. Se o monge se negasse, deveria ser


levado prisioneiro a Roma.
O leitor Frederico, o Sábio da Saxônia, dentro de cuja
jurisdição vivia Lutero, obteve do imperador
Maximiliano um salvo-conduto para o frade, a quem se
dispôs a ajudar em Augsburgo, mesmo sabendo que
pouco mais de cem anos atrás e, em circunstâncias
muito parecidas, João Huss tinha sido queimado em
violação a um salvo-conduto imperial.
A entrevista com Cajetano não produziu o resultado
desejado. O cardeal se negava a discutir com o monge e
exigia sua renúncia. O frade, por sua vez, não estava
disposto a retratar -se caso não fosse convencido de
que estava errado. Quando por fim se inteirou de que
Cajetano tinha autoridade para arrastálo, ainda que em
violação do salvo-conduto imperial, abandonou a
cidade às escondidas no meio da noite, regressou a
Wittenberg e apelou a um concílio geral.
Frederico, não protegia Lutero porque estava
convencido de suas doutrinas, mas sim porque lhe
pareceu que a justiça exigia um julgamento correto. A
principal preocupação de Frederico era ser um
governante justo e sábio. Com esse propósito fundou a
Universidade de Wittenberg, muitos de cujos
professores lhe diziam que Lutero tinha razão, e que se
enganavam aqueles que o acusavam de heresia.

Pelo menos, enquanto Lutero não fosse condenado


oficialmente, Frederico estava disposto a evitar que se
cometesse com ele uma injustiça semelhante a que
havia acontecido no caso de João Huss.

Entretanto, a situação se tornava cada vez mais difícil,


pois cada vez mais eram mais numerosos os que

Paschoal Piragine Jr 20 31/10/16


21

diziam que Lutero era herege, tornando a posição de


Frederico bastante precária.
Assim estavam as coisas, quando a morte de
Maximiliano deixou vago o trono alemão, e era
necessário eleger um novo imperador. Visto que se
tratava de uma dignidade eletiva, e não hereditária,
imediatamente se começou a discutir sobre quem seria
o novo imperador.
O candidato ideal era Frederico o Sábio, respeitado por
todos os demais senhores alemães. Se Frederico fosse
eleito, as potências européias ficariam suficientemente
divididas para permitir ao papa gozar de certo poder.
Portanto, desde antes da morte de Maximiliano, Leão X
tinha decidido aproximar-se de Frederico e apoiar a sua
candidatura.
Porém, Frederico protegia a Lutero, pelo menos até que
o frade revolucionário fosse devidamente julgado.
Portanto, Leão decidiu que o melhor era prorrogar a
condenação de Lutero e tratar de aproximar-se do
monge e do eleitor que o defendia. Com essas
instruções enviou Karl von Miltitz, parente de Frederico
à Alemanha, com uma rosa de ouro para o eleitor em
sinal de favor papal e, por assim dizer, com um ramo de
oliva para o monge.

Miltitz se entrevistou com Lutero e conseguiu deste a


promessa de não continuar a controvérsia, desde que
seus inimigos fizessem o mesmo. Isto trouxe uma breve
trégua, até que o teólogo conservador João Eck,
professor da universidade de Ingolstadt, interveio no
assunto. Em lugar de atacar Lutero, o qual se fizera
aparecer como aquele que quebrara a paz, Eck atacou a
Carlstadt, outro professor da universidade de
Wittenberg que tinha se convencido das doutrinas de
Lutero, e que era muito mais impetuoso e exagerado do
que o Reformador. Eck propôs a Carlstadt um debate

Paschoal Piragine Jr 21 31/10/16


22

que teria lugar na universidade de Leipzig. Dadas e


estabelecidas as questões, ficava claro que o propósito
de Eck era atacar Lutero através de Carlstadt e,
portanto, o Reformador declarou que devido a serem
discutidas as suas doutrinas em Leipzig, ele também
participaria do debate.

A discussão se conduziu com todas as formalidades


dos exercícios acadêmicos e durou vários dias. Quando
chegou o momento de Lutero e Eck se enfrentarem,
ficou claro que o primeiro era melhor conhecedor das
Escrituras, porém que o segundo se achava mais à
vontade no direito canônico e na teologia medieval.
Ecom toda a esperteza, Eck levou o combate para seu
próprio campo, e por fim obrigou a Lutero declarer que
o Concílio de Constanza se enganara ao condenar
Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender,
tem mais autoridade que todos os papas e os concílios
contra ela. Isso bastou. Lutero tinha se declarado
defensor de um herege condenado por um concílio
ecuménico.

Mesmo que os argumentos do reformador se


mostrassem melhores do que os do seu oponente em
vários pontos, foi Eck quem ganhou o debate, pois nele
conseguiu demonstrar aquilo a que se propusera: que
Lutero era um herege, pois defendia as doutrinas dos
hussitas.

Ainda que umas semanas antes do debate de Leipzig,


Carlos I da Espanha tinha sido eleito imperador (com o
voto de Frederico, o Sábio) e, portanto, o papa não tinha
que andar com mesuras como antes, a posição de

Paschoal Piragine Jr 22 31/10/16


23

Lutero tinha se fortalecido. Muitos cavaleiros alemães


chegaram a enviar-lhe mensagens prometendo-lhe
apoio armado, se o conflito chegasse a estourar.

Quando por fim o papa resolveu atuar, sua ação


resultou demasiadamente tardia e ineficiente. Na bula
Exsurge domine, Leão X declarou que um javali selvage
havia penetrado na vinha do Senhor e ordenava que os
livros de Martinho Lutero fossem queimados, e dava ao
monge rebelled sessenta dias para submeter-se à
autoridade romana, sob pena de excomunhão e
anátema.
A bula demorou muito tempo para chegar às mãos de
Lutero, pois as circunstâncias políticas eram
sobremodo complexas.
Em vários lugares, ao receber cópias da bula, as obras
do Reformador foram queimadas. Porém em outros,
alguns estudantes e outros partidários de Lutero,
preferiram queimar algumas das obras que se opunham
ao movimento reformador.
Quando enfim a bula chegou às mãos de Lutero, este a
queimou, junto com outros livros que continham as
doutrinas papistas. O rompimento era definitivo e não
havia modo de se voltar atrás.
Faltava ver, entretanto, que atitudes tomariam os
senhores alemães e particularmente o Imperador, pois
sem eles era pouco o que o papa poderia fazer contra
Lutero.
Ainda que Carlos V fosse católico convicto, não deixou
de utilizar a questão de Lutero como uma arma contra o
papa quando este pareceu inclinar-se para o seu rival,
Francisco I, da França.

Paschoal Piragine Jr 23 31/10/16


24

Posteriormente, depois de muitas idas e vindas, se


resolveu que Lutero compareceria diante da dieta elo
Império, reunida em Worms no ano de 1521.
Quando Lutero chegou a Worms, foi levado diante do
Imperador e vários dos principais personagens do
Império.

Quem estava encarregado de interrogá-lo lhe


apresentou um montão de livros e lhe perguntou se os
havia escrito. Depois dele examiná-los Lutero
confirmou que os havia escrito todos e vários outros
que não estavam ali. Então seu interlocutor lhe
perguntou se continuava sustentando tudo o que havia
ditto neles ou se estava disposto a retratar-se de algo.

No dia seguinte correu a notícia de que Lutero


compareceria diante da dieta e a assistência foi grande.
A presença do Imperador em Worms, rodeado de
soldados espanhóis que abusavam do povo, havia
exacerbado ainda mais o sentiment nacional. Uma vez
mais, em meioao maior silêncio, se perguntou a Lutero
se se retratava. O monge respondeu dizendo que o que
havia escrito não era mais que a doutrina cristã que
tanto ele como seus inimigos sustentavam, e portanto
ninguém deveria pedir-lhe que se retratasse daquilo.
Outra parte tratava sobre a tirania e as injustiças a que
estavam submetidos os alemães, e também disto não se
retrataria, pois tal não era o propósito da dieta, e tal
negação somente contribuiria para aumentar a injustiça
que se cometia. A terceira parte, que consistia em
ataques a certos indivíduos e em pontos de doutrina
que seus oponentes refutavam, certamente não havia
sido escrita com demasiada aspereza. Eassim tão

Paschoal Piragine Jr 24 31/10/16


25

pouco dela se retrataria, a não ser que lhe


convencessem de que estava enganado.
Seu interlocutor insistiu: "Retratas- te, ou não"? E
Lutero lhe respondeu, em alemão, e desdenhando
portanto o latim dos teólogos: "Não posso nem quero
retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a
consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude.
Amém".

Em Worms, ao negar a retratar -se, mostrou-se


igualmente firme diante do poder do imperador. Este
não estava disposto permitir que um frade rebelde o
desobedecesse e, portanto, se preparou para
acrescentar a condenação civil à eclesiástica de que
Lutero já fora objeto. Entretanto isto não se tornou tão
fácil, porque vários dos principais membros da dieta se
opuseram ao imperador.

Mas quando, finalmente, forçada pelo imperador, a dieta


promulgou o edito que citamos no início deste capítulo,
Lutero já se encontrava a salvo no castelo de
Wartburgo.

O que havia sucedido era que Frederico, o Sábio,


inteirado de que o imperador forçaria a dieta a condenar
Lutero, tinha-o colocado a salvo. Um grupo de homens
armados, debaixo de instruções de Frederico,
seqüestrou o frade e levou-o até Wartburgo. Devido às
suas próprias instruções, nem o próprio Frederico sabia
onde o tinham escondido.

Paschoal Piragine Jr 25 31/10/16


26

Escondido em Wartburgo, Lutero deixou crescer sua


barba, escreveu a alguns de seus colaboradores mais
íntimos dizendo-lhes que não temessem por seu
paradeiro e dedicou-se a escrever.

De todas as suas obras nesse período, nenhuma é tão


importante quanto a tradução da Bíblia. O Novo
Testamento, começado em Wartburgo, foi terminado
dois anos mais tarde, e o Antigo Testamento demorou
mais de dez (10) anos.

Pela importância da obra, bem valia o tempo empregado


nela, pois a Bíblia de Lutero, além de dar um novo
ímpeto ao Movimento Reformador, deu forma ao idioma
e, portanto, à nacionalidade alemã.

Enquanto Lutero estava no exílio, vários de seus


colaboradores se ocuparam em continuar o trabalho
reformador em Wittenberg. Deles, os mais destacados
foram Carlstadt e Felipe Melanchthon, um jovem
professor de grego, de temperament muito diferente de
Lutero, porém, convencido das opiniões de seu colega.
Até então, a reforma que Lutero tinha preconizado não
havia tomado forma concreta na vida religiosa de
Wittenberg. Lutero era um homem tão temente a Deus
que tinha vacilado em dar os passos concretos que
seguiam sua doutrina. Porém agora, na sua ausência,
estes passos foram dados rapidamente, um após o
outro.

Paschoal Piragine Jr 26 31/10/16


27

Muitos monges e freiras deixaram seus conventos e se


casaram. O culto foi simplificado e começou-se a usar o
alemão ao invés do latim. Aboliram as missas pelos
mortos. Cancelaram os dias dejejum e abstinência.
Melanchthon começou a oferecer a comunhão de
ambos os modos, isto é, deu o cálice aos leigos.
Visto que Carlos V teve de ausentar -se imediatamente
depois da dieta de Worms, e que o edito dessa dieta
havia sido obra sua, a Câmara Imperial que governava
em seu lugar, não tratou de aplicá-lo. Quando se reuniu
de novo a dieta em Nuremberg, em 1523, foi adotada
uma política de tolerância para com o luteranismo,
apesar dos protestos dos legados do papa e do
Imperador.
Em 1526, quando Carlos V viu- se obrigado a enfrentar
de uma só vez o papa e o rei da França, a dieta de Spira
declarou que, devido às novas circunstâncias, o edito
de Worms não era mais válido, e que, portanto, cada
estado tinha liberdade de seguir o curso religioso que
sua consciência ditasse. Vários dos territorios do Sul da
Alemanha, e mais a Áustria, optaram pela fé católica,
todavia, muitos outros preferiram a luterana. A partir daí
Alemanha foi transformada num mosaico religioso.

Em 1529, a segunda dieta de Spira tomou um curso


muito distinto. Naquele momento o Imperador era mais
poderoso e vários príncipes que antes tinham sido
moderados passaram para o lado católico. Ali se
reafirmou o edito de Worms. Foi então que os príncipes
luteranos protestaram formalmente e, por isso, a partir
desse momento, começaram a chamá-
los"protestantes".
Finalmente, Carlos V regressou à Alemanha em 1530,
para a celebração da dieta de Augsburgo. Na dieta de

Paschoal Piragine Jr 27 31/10/16


28

Worms, o Imperador não tinha desejado ouvir sobre o


que tratava o debate. Porém agora, tendo em vista o
curso dos acontecimenlos, pediu que lhe
apresentassem uma exposição ordenada dos pontos
em discussão. Esse documento, preparado
primeiramente por Melanchthon, é o que se conhece
como a "Confissão de Augsburgo".

No princípio representava somente os protestantes da


Saxônia. Porém, pouco a pouco outros foramfirmando-o
e logo chegou a servir para apresentar ao Imperador
uma frente quase que totalmente unida (havia outras
duas confissões minoritárias que não concordavam
com esta da maioria dos protestantes).

Novamente, o Imperador encolerizou- se e deu aos pro-


testantes um prazo até abril do ano seguinte para se
retratarem.

Francisco I se preparava de novo para a guerra, e os


turcos davam mostras de querer vingar o fracasso da
campanha anterior. Sob tais circunstâncias, Carlos V
tinha que contar com o apoio de todos os seus súditos
alemães. Assim, começaram as negociações entre
protestantes e católicos e se chegou, finalmente, à paz
de Nuremberg, firma-da em 1532.

Segundo esse acordo, era permitido aos protestantes


continuar com sua fé, porém estaria proibido a eles
estendê-la a outros territórios. O edito Imperial de
Augsburgo seria sus-penso e os protestantes ofereciam
ao Imperador seu apoio contra os turcos, ao mesmo

Paschoal Piragine Jr 28 31/10/16


29

tempo que se comprometiam a não ir além da Confissão


de Augsburgo.
Como antes, as condições políticas tinham operado em
prol do protestantismo, que continuava estendendo-se
para no-vos territórios, apesar do que fora firmado em
Nuremberg.

Paschoal Piragine Jr 29 31/10/16

Você também pode gostar