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vem com todos os seus braços e procuram fe- e com a colaboração da que, no cubismo, as formas foram várias mas, no sentido mais profundo
char este novo tempo que desabrocha na mi- Associação Cultural O Mundo
que era esta nova realidade espacial, foram respeitadas. Só o tempo ,\ meu
de Lygla Clark, do Rio de Janeiro
nha forma interior, amassando pétalas frescas ver traria continuidade real a este movimento.
(Nantes/São Paulo, Musée dês
e delicadas que levarão novo tempo para se Beaux-Arts/PInacoteca do Agora, velho, simpático mestre, diga-me com toda franqueza: meu de-
abrirem como se abre um olho devagar, de- Estado de São Paulo, 2005-6). sejo é deixar o grupo e continuar fiel a esta minha convicção, respeitando
pois de ter levado um bom murro. a mim mesma, embora mais só que ontem e hoje, eu serei amanhã, pois
Mondrian, se sua força pode me servir, "Carta a Mondrian" Esse as pessoas que se aproximaram um dia, há bem pouco tempo, se afastam
texto é um escrito de maio de
seria como o bife cru colocado neste olho so- desorientadas sem enfrentarem a dureza de estar só num só pensamento,
1959 do diário de Lygia Clark.
frido para que ele veja o mais depressa possí- Foi publicado em Lygia Clark sem resguardar o sentido maior, ético, de morrer amanhã, sozinha mas
vel e possa encarar esta realidade às vezes tão (Barcelona/Marselha/Porto/ fiel a uma idéia. Diga, meu amigo: é duro, é terrível porque é deixar de ter,
insuportável — "o artista é um solitário". Não Bruxelas/Rio dejaneiro, Fundado
mesmo sem me afastar realmente do grupo, pois já se fragmentou a uni-
Tàpies/Galeries Contemporaines
importam filhos, amor, pois dentro dele ele dês Musées de Marseille/ dade, a verdade dura e terrível feita a sete para se multiplicar em realidades
vive só. Ele nasce dentro dele, parto difícil a Fundação de Serralves/Société pequenas — reconfortantes por certo, às centenas.
cada minuto, só irremediavelmente só. Você dês Expositions du Palais dês Hoje eu choro — o choro me cobre, me segue, me conforta e ac.ilcn
Beaux-Arts/Paço Imperial, 1999).
seria talvez a chuva que molha a flor que nas- tá, de um certo modo, esta superfície dura, inflexível e fria da fidelidade
ceu na areia ou no asfalto, se você prefere, pois a uma idéia.
é cidade e não natureza. Mondrian: hoje eu gosto de você.
Você hoje está mais vivo para mim que
todas as pessoas que me compreendem, até
um certo ponto. Sabe por quê? Veja só se te-
nho razão ou não. Você já sabe do grupo neo-
concreto, você já sabe que eu continuo o seu
problema, que é penoso (você era homem,
Mondrian, lembra-se?). No momento em que
o grupo foi formado havia urna identificação
profunda, a meu ver. Era a tomada de cons-
ciência de um tempo-espaço, realidade nova,
universal como expressão, pois abrangia poe-
sia, escultura, teatro, gravura e pintura. Até
prosa, Mondrian... Hoje a maioria dos ele-
mentos do grupo se esquecem desta afinidade
(o mais importante) e querem imprimir um
sentido menor a ele, quando preferem que ele
cresça sem esta identidade para mim impres-
cindível, numa tentativa de dar continuidade
superficial a este movimento. Você bem sabe
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