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Zizek, S. - Visão em Paralaxe.

Boitempo, São Paulo, 1998 (orelha)

Orelha para – Visão em Paralaxe de Slavoj Zizek 

Christian Ingo Lenz Dunker 

Paralaxe:  medida  da  mudança  de  posição  aparente  de  um  objeto  em  relação  a  um  segundo 
plano  mais  distante,  quando  esse  objeto  é  visto  a  partir  de  ângulos  diferentes.  Ou  seja,  o 
objeto  permanece  imóvel,  contudo  parece  mover‐se.  Esse  fenômeno  óptico,  relativamente 
simples,  torna‐se  método  e  guia  para  este  livro,  uma  das  mais  ousadas  aventuras  filosófico‐
psicanalíticas de nosso tempo. 

Nascido na pequena Eslovênia, criado no ambiente pós‐marxista e pós‐estruturalista francês, 
Slavoj Žižek tornou‐se um dos principais apresentadores da obra do psicanalista Jacques Lacan 
nos EUA e um dos mais conhecidos teóricos críticos do universo político anglo‐saxônico. Neste 
livro, seu trabalho mais bem acabado e sistemático, encontra‐se uma espécie de síntese de seu 
estilo, de seus temas e principalmente da própria paralaxe que caracteriza seu pensamento. 

Movendo‐se constantemente nos mais diversos cenários intelectuais – da teoria social para a 
crítica  da  cultura,  da  teoria  do  cinema  para  o  marxismo  e  a  psicanálise  –,  Žižek  escapa  ao 
particularismo das especialidades empíricas e à divisão territorial das disciplinas teóricas. Ele 
emprega a noção de paralaxe em três contextos diferentes: a ontologia, a ciência e a política. 
Entre  elas  o  leitor  encontrará  duas  admiráveis  incursões,  à  literatura  de  Henry  James  e  ao 
problema sociológico do anti‐semitismo.  

No contexto ontológico, trata‐se de defender a importância da universalidade. Em tempos de 
relativismo, de multiculturalismo e de multiplicidade de pontos de vista, Žižek usa a noção de 
paralaxe  para  pensar  a  unidade  da  existência  e  a  necessidade  de  um  universal  que  não  seja 
coercitivo ou mera reunião de figuras particulares. O Ser é diferença, elevada à dignidade de 
universal.  

O  mesmo  problema  se  apresenta  no  contexto  político  sob  o  espectro  da  unidade 
epistemológica  decorrente  da  combinação  entre  filosofia  da  mente  e  universalidade  da 
linguagem. Mais uma vez a noção de paralaxe é empregada, mas agora para mostrar a divisão 
dos pontos de vista, como fato necessário para defender uma posição materialista. 

No contexto político Žižek utiliza a noção de paralaxe como um instrumento crítico contra as 
falsas formas do universal: a unificação da vida pela biopolítica, a exclusão do espaço político 
propriamente dito e a redução do potencial subversivo da noção de liberdade. 

No  mais,  o  leitor  encontrará  aqui  uma  curiosa  e  agradável  combinação  entre  alta  cultura  e 
drama  cotidiano,  entre  cinema  e  ontologia,  entre  problemas  quase  técnicos  da  filosofia,  da 
psicanálise  e  da  teoria  política  e  demonstrações  literárias,  escatológicas  ou  simplesmente 
engraçadas. 

 
Zizek, S. - Visão em Paralaxe. Boitempo, São Paulo, 1998 (orelha)

Christian Ingo Lenz Dunker 

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