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Orelha para – Visão em Paralaxe de Slavoj Zizek
Christian Ingo Lenz Dunker
Paralaxe: medida da mudança de posição aparente de um objeto em relação a um segundo
plano mais distante, quando esse objeto é visto a partir de ângulos diferentes. Ou seja, o
objeto permanece imóvel, contudo parece mover‐se. Esse fenômeno óptico, relativamente
simples, torna‐se método e guia para este livro, uma das mais ousadas aventuras filosófico‐
psicanalíticas de nosso tempo.
Nascido na pequena Eslovênia, criado no ambiente pós‐marxista e pós‐estruturalista francês,
Slavoj Žižek tornou‐se um dos principais apresentadores da obra do psicanalista Jacques Lacan
nos EUA e um dos mais conhecidos teóricos críticos do universo político anglo‐saxônico. Neste
livro, seu trabalho mais bem acabado e sistemático, encontra‐se uma espécie de síntese de seu
estilo, de seus temas e principalmente da própria paralaxe que caracteriza seu pensamento.
Movendo‐se constantemente nos mais diversos cenários intelectuais – da teoria social para a
crítica da cultura, da teoria do cinema para o marxismo e a psicanálise –, Žižek escapa ao
particularismo das especialidades empíricas e à divisão territorial das disciplinas teóricas. Ele
emprega a noção de paralaxe em três contextos diferentes: a ontologia, a ciência e a política.
Entre elas o leitor encontrará duas admiráveis incursões, à literatura de Henry James e ao
problema sociológico do anti‐semitismo.
No contexto ontológico, trata‐se de defender a importância da universalidade. Em tempos de
relativismo, de multiculturalismo e de multiplicidade de pontos de vista, Žižek usa a noção de
paralaxe para pensar a unidade da existência e a necessidade de um universal que não seja
coercitivo ou mera reunião de figuras particulares. O Ser é diferença, elevada à dignidade de
universal.
O mesmo problema se apresenta no contexto político sob o espectro da unidade
epistemológica decorrente da combinação entre filosofia da mente e universalidade da
linguagem. Mais uma vez a noção de paralaxe é empregada, mas agora para mostrar a divisão
dos pontos de vista, como fato necessário para defender uma posição materialista.
No contexto político Žižek utiliza a noção de paralaxe como um instrumento crítico contra as
falsas formas do universal: a unificação da vida pela biopolítica, a exclusão do espaço político
propriamente dito e a redução do potencial subversivo da noção de liberdade.
No mais, o leitor encontrará aqui uma curiosa e agradável combinação entre alta cultura e
drama cotidiano, entre cinema e ontologia, entre problemas quase técnicos da filosofia, da
psicanálise e da teoria política e demonstrações literárias, escatológicas ou simplesmente
engraçadas.
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Zizek, S. - Visão em Paralaxe. Boitempo, São Paulo, 1998 (orelha)
Christian Ingo Lenz Dunker
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