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Resumo
A obesidade é um problema de saúde apontado mundialmente pela Organização Mundial da
Saúde, a cirurgia bariátrica é uma importante aliada no tratamento da obesidade mórbida para
redução do peso e melhora da qualidade de vida relacionada à saúde. Nesse contexto, o
psicólogo apresenta-se como integrante fundamental da equipe multidisciplinar, responsável
pela avaliação psicológica pré e pós-operatória das mulheres candidatas a este tipo de
procedimento. O objetivo deste artigo é analisar a importância da avaliação psicológica nas
mulheres que realizaram a cirurgia bariátrica, para auxiliá-las quanto à compreensão de todos
os aspectos decorrentes do procedimento cirúrgico, para que as mesmas possam ter uma
melhora clínica satisfatória. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica de cunho
descritivo-qualitativo. Conclui-se que é importante que todas as candidatas ao procedimento
da cirurgia bariátrica, passem por avaliação psicológica, com o intuito de reduzir as
complicações que possam surgir no pós-cirúrgico, diminuindo o risco assumido pelas
pacientes e pela equipe multidisciplinar, envolvida nesse processo.
1. Introdução
Cirurgia bariátrica é um método eficiente no tratamento da obesidade mórbida, este
procedimento promove significativa diminuição das comorbidades clínicas relacionadas à
obesidade. Os aspectos psicológicos das pacientes bariátricas não são tão claros como os
estudos focados nas mudanças clínicas e metabólicas, quando comparados antes e depois da
cirurgia, as mudanças clínicas e metabólicas das pacientes submetidos à cirurgia bariátrica
têm sido extensamente analisadas (OLIVEIRA et al., 2012).
Para Oliveira et al (2012), os aspectos psicológicos inerentes aos pacientes não
possuem a mesma relevância quando comparados no pós cirúrgico. No Brasil ocorreram
60.000 cirurgias bariátricas no ano de 2010, o país é o segundo colocado no ranking de
cirurgias bariátricas, atrás dos cirurgiões estadunidenses que realizaram cerca de 300.000
procedimentos no mesmo ano. Com a elevada prevalência da obesidade no Brasil, esta fez
impulsionar o crescimento no número de procedimentos bariátricos, o que exige atuação
efetiva do psicólogo, no campo da avaliação pré-operatória.
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Uma parcela dessas pacientes sofre de alguma desordem psicológica, sendo mais
comuns as alterações de humor e os transtornos de ansiedade. A compulsão
alimentar é o transtorno alimentar mais frequente nestes pacientes, que podem ser
encontrada em cerca de 5% dos pacientes antes da cirurgia bariátrica. A redução da
qualidade de vida tem sido relacionada com a obesidade. Escores extremamente
baixos são encontrados quando modelos validados de mensuração da qualidade de
vida como o Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Survey e o Impact of
Weight on Quality of Life-LITE.
Numerosos estudos evidenciam melhora na qualidade de vida com a perda maciça de
peso na pós-cirurgia bariátrica, entretanto, as modulações psicológicas destas pacientes ainda
não mereceram na literatura médica a mesma importância quando comparadas ao número de
publicações sobre as alterações clínicas (OLIVEIRA et al., 2012; MARCHESINI, 2010;
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Esse termo tem a finalidade de informar ao paciente e a seus familiares a respeito de aspectos
importantes da cirurgia, tais como indicações, riscos envolvidos, entre outros (FRANÇA,
2014).
Após todos os exames e avaliações dos profissionais da equipe multidisciplinar, se for
aprovado, o paciente é indicado para a cirurgia, mas, não existe uma definição específica
sobre o tempo de avaliação e preparo pré-operatório dos pacientes.
Sendo assim, a avaliação psicológica visa obter uma medida objetiva do ajustamento
psicológico da paciente, sendo considerada ferramenta imprescindível de coleta de
informações, para complementar os dados subjetivos coletados durante a entrevista clínica.
Sarwer et al., (2009) relata que uma das publicações encontradas apontando que,
apesar da resistência de alguns pacientes realizarem a pesquisa psicológica no pós-cirúrgico,
as informações discutidas durante a avaliação não servem apenas para avaliar a paciente, mas
também para aumentar as chances do sucesso no ajustamento após a operação.
As pacientes relatam que é no pós-cirúrgico a fase mais difícil, sendo a fase da
recuperação do ato cirúrgico, de grande desconforto e de adaptação à hábitos alimentares. Se
junta a tudo isso, às mudanças do próprio corpo, que acaba por exigir da paciente uma reflexão
que emergem questões emocionais. É neste momento que o trabalho psicológico é de extrema
importância, podendo auxiliar as pacientes a se conhecerem e a se compreenderem melhor,
aderindo de forma eficiente ao tratamento, envolvendo-a e tornando-a responsável pela vivência
de criação de uma nova identidade e estimulando a sua participação efetiva no processo de
emagrecimento (WANDERLEY; FERREIRA, 2010).
Além disso, Oliveira et al., (2012) citam que muitos pacientes, após a fase de avaliação
psicológica, relatam o quanto foi valiosa a experiência de avaliação e a discussão dos itens
levantados durante esse processo e que experiência positiva durante a avaliação psicológica
para que o paciente procure ajuda futuramente, caso encontre-se em dificuldade após a
operação.
Marchesini (2010) relata que a avaliação psicológica é etapa crítica não apenas para
identificar possíveis contra-indicações, mas acima de tudo, para entender melhor a motivação
da paciente, seu preparo e os fatores emocionais que podem impactar em sua adaptação à vida
no pós-cirúrgico e às mudanças de estilo de vida associadas.
Corroborando-se a isso, Flores (2014) indica a importância da avaliação psicológica
para o sucesso da cirurgia bariátrica, demonstrando que cerca de 80% dos programas de
cirurgia, consideram a avaliação psicológica como muito valiosa ou valiosa.
Sendo assim, pode-se afirmar que a avaliação psicológica é uma oportunidade única
de realizar a psicoeducação da paciente sobre as mudanças implicadas pela cirurgia bariátrica,
oferecendo apoio psicológico e preparando as pacientes para as mudanças comportamentais
exigidas na fase pós-operatória.
Para determinar a aptidão de uma candidata à cirurgia bariátrica, diferentes aspectos da
vida da paciente são avaliados, dentre os fatores psicossociais merecedores de atenção, os
mais citados são:
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pode-se afirmar que quanto ao manejo da compulsão alimentar deve-se entrar em acordo
sobre como melhor definir e avaliar esta compulsão e sua relação com a operação bariátrica.
Para França (2014), a pessoa portadora de obesidade apresenta um sofrimento
psicológico resultante do preconceito social com a obesidade e também com as características
do seu comportamento alimentar. A cirurgia bariátrica é um procedimento complexo e, assim
como qualquer cirurgia de grande porte, apresenta risco de complicações, portanto, a paciente
precisa conhecer muito bem qual é o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios que
advirão da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento
psicológico é aconselhável em todas as fases do processo.
Pode-se dizer que à imensa maioria das pacientes que chegam à cirurgia bariátrica
trazem consigo, alterações emocionais, essas dificuldades de natureza psicológica podem
estar presentes entre os fatores determinantes da obesidade ou entre as consequências.
Para realização da avaliação psicológica da cirurgia bariátrica, o psicólogo, deverá ser
especialista em transtorno alimentar, pois, trabalha no sentido de preparar a paciente para uma
importante etapa de sua vida. A expectativa de uma vida, como de qualquer outra pessoa, e
um corpo ideal no dia seguinte da cirurgia bariátrica é irreal, haverá mudanças na rotina que
um psicólogo poderá orientar e preparar esta paciente, por isso, tão importante quanto à
avaliação psicológica para a cirurgia bariátrica seria o acompanhamento pós-cirúrgico.
Flores (2014) relata que a fase de desenvolvimento na qual tem início a obesidade faz
diferença na evolução pós-operatória, isto é, aqueles que eram magros e depois tornaram-se
obesos tendem a recuperar uma imagem de seu corpo como magro mais facilmente, enquanto
que aqueles que eram gordos desde a infância têm dificuldade de adaptar-se a uma nova
imagem.
Oliveira et al (2012) define que o psicólogo tem a função dentro da equipe
multidisciplinar de avaliar, se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia, auxiliá-lo
quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e pós-cirúrgico (avaliá-la
quanto à seus conhecimentos sobre a cirurgia, riscos e complicações, os benefícios esperados,
exames e seguimentos requeridos em longo prazo, consequências emocionais, sociais e físicas
e responsabilidades esperadas), inclusive, detectar e tratar as pacientes portadores ou
potencialmente sujeitas a distúrbios psicológicos graves.
Observa-se que o tratamento desta patologia requer uma equipe multidisciplinar
qualificada.
A avaliação psicológica utiliza-se de instrumentos de avaliação que são os inventários
de sintomas e os testes de personalidade, o Inventário de Depressão de Beck e o Inventário
Multifásico Minnesota de Personalidade representaram os recursos mais utilizados em suas
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4. Conclusão
Com a realização desta pesquisa, pode-se constatar que é papel do psicólogo realizar a
avaliação da cirurgia bariátrica na equipe multidisciplinar, investigando os mais diversos
aspectos da vida da paciente, não apenas para determinar sua aceitação para o procedimento
cirúrgico, mas também para educá-la quanto às mudanças implicadas no pós-procedimento.
De um modo geral, os problemas psicológicos anteriores e posteriores que acometem
as pacientes obesas candidatas à cirurgia bariátrica convergem para a necessidade do
psicólogo na equipe do tratamento que a inclui, seja para avaliar as condições prévias ou
posteriores à cirurgia, seja para um tratamento psicológico como complemento ao tratamento
cirúrgico, e o objetivo da cirurgia não é apenas o sucesso do procedimento cirúrgico em si,
mas o sucesso do tratamento com um todo.
Conclui-se que é imprescindível que todas as candidatas à operação passem por
avaliação clínica criteriosa e por uma avaliação psicológica detalhada, com o intuito de
reduzir as complicações que possam surgir no pós-cirúrgico, diminuindo o risco assumido
pelas pacientes e pela equipe multidisciplinar, envolvida nesse processo. Pesquisar e adaptar
novos instrumentos para serem utilizados na promoção da saúde das pacientes são fator
primordial para a evolução da área de estudo e atuação.
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5 Referências
FLORES, Carolina Aita. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica: práticas atuais. Arq
Bras Cir Dig., 27(1):59-62, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abcd/v27s1/pt_0
102-6720-abcd-27-s1-00059.pdf>. Acesso em: 20 ago 2018.
PRADO, Jéssica Inácio de Almeida; FARIA, Margareth Regina G. Veríssimo de; FERREIRA,
Claudia Cezar. Avaliação Psicológica e Imagem Corporal no Preparo para Cirurgia Bariátrica.
Goiânia-GO: Rev. Fragmentos de Cultura, v.24, p.97-106, out., 2014.
SARWER, D.B. et al. Psychosocial and behavioral aspects of bariatric surgery. Obes Res,
3(4):639-648, 2009.
WANDERLEY, E.N.; FERREIRA, V.A. Obesidade: uma perspectiva plural. Minas Gerais-
MG: Rev. Ciência & Saúde Coletiva, v.15, n.1, p.185–194, 2010.