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UNIVERSIDADE ALTO VALE DO RIO DO PEIXE – UNIARP CURSO DE

PSICOLOGIA

GUSTAVO ZIR

ANÁLISE DO PERFIL DE SAÚDE E PSICOLÓGICO DE AMY WINEHOUSE À LUZ


DAS NEUROCIÊNCIAS E NEUROPSICOLOGIA

CAÇADOR, SC
2023
GUSTAVO ZIR

ANÁLISE DO PERFIL DE SAÚDE E PSICOLÓGICO DE AMY WINEHOUSE À LUZ


DAS NEUROCIÊNCIAS E NEUROPSICOLOGIA

Relatório apresentado em cumprimento às exigências da


Disciplina de Teorias da Personalidade II, do curso de
Psicologia ministrado pela Universidade Alto Vale do
Rio do Peixe – UNIARP, sob orientação da professora
Mariana Faoro.

CAÇADOR – SANTA CATARINA


2023
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INTRODUÇÃO

Amy Winehouse, uma das cantoras mais notáveis e influentes do século XXI,
deixou um legado indelével na música e na cultura popular. No entanto, sua vida
tumultuada e sua morte prematura levantam questões profundas sobre sua
personalidade, saúde mental e os desafios que enfrentou. Este relatório tem como
objetivo realizar uma análise detalhada do perfil de saúde e psicológico de Amy
Winehouse através da luz das neurociências e neuropsicologia, a fim de entender a
complexa trajetória de sua vida e carreira.

Essa análise explorará a influência do contexto histórico, cultural e genético em


sua personalidade, e como essas esferas podem impactar em suas características
psicológicas e comportamentais distintivas, sua história de vida, o impacto do abuso
de substâncias em seu cérebro e seus traços de personalidade. Além disso,
investigaremos como podemos explicar os três pilares gerais cognitivo, emocional e
comportamental

Este estudo visa proporcionar uma compreensão completa do perfil de Amy


Winehouse e iluminar as complexas interações entre sua personalidade, e saúde
mental através da luz da neuropsicologia.

HISTÓRIA DE VIDA DE AMY WINEHOUSE:

Amy Jade Winehouse nasceu em 14 de setembro de 1983, no bairro de


Southgate, em Enfield, Londres, Reino Unido. Desde cedo, Amy demonstrou um
talento excepcional para a música, influenciada por sua família e um ambiente musical
rico. Seu pai, Mitch Winehouse, era motorista de táxi e amante do jazz, enquanto sua
mãe, Janis Winehouse, trabalhava como farmacêutica.

Aos nove anos, Amy já estava cantando regularmente em uma banda de jazz
amadora. Essa imersão precoce na música, particularmente no jazz e no soul,
influenciou profundamente seu estilo musical posterior. Ela frequentou a escola de
teatro Sylvia Young em Londres, mas sua paixão pela música a levou a abandonar a
escola e se concentrar em sua carreira musical.
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Em 2003, com apenas 20 anos, Amy lançou seu álbum de estreia, "Frank", que
a catapultou para o reconhecimento na cena musical britânica. O álbum foi aclamado
pela crítica e indicado ao Mercury Prize. Ele incorporou uma variedade de estilos,
desde jazz até R&B, e apresentou letras perspicazes que capturaram sua voz única.

No entanto, foi seu segundo álbum, "Back to Black", lançado em 2006, que a
transformou em uma estrela internacional. O álbum conquistou seis prêmios Grammy
e apresentou o icônico sucesso "Rehab". No entanto, o álbum também revelou lutas
pessoais que Amy enfrentava, com letras que refletiam suas experiências com
dependência de álcool e relacionamentos complicados.

A vida pessoal de Amy Winehouse foi frequentemente tumultuada. Ela lutou


contra o alcoolismo e o uso de drogas, questões que se tornaram públicas e tiveram
um impacto significativo em sua saúde e carreira. Sua vida amorosa também foi
complexa, incluindo um casamento turbulento com Blake Fielder-Civil.

A pressão da fama e os desafios pessoais que ela enfrentou tiveram um


impacto cada vez maior em sua saúde mental e bem-estar. Sua saúde deteriorou-se à
medida que sua dependência de substâncias se agravava.

Em 2011, aos 27 anos, Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa em
Camden, Londres. Sua morte foi atribuída a uma overdose acidental de álcool,
marcando o fim trágico de uma carreira musical promissora e uma vida repleta de
talento e desafios pessoais.

CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL:

Amy Winehouse emergiu na cena musical durante a primeira década do século


XXI, um período marcado por mudanças significativas na música, na cultura popular e
na sociedade em geral.

No início dos anos 2000, a música pop estava passando por uma transição. O
mercado musical estava se adaptando à era digital, com o crescimento da pirataria
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online e o declínio das vendas físicas de álbuns. Nesse cenário em evolução, Amy
Winehouse se destacou como uma artista que capturou a atenção do público com seu
estilo vocal singular e suas letras profundas, trazendo uma influência forte do jazz e do
soul. Ela se tornou um ícone da música neo soul e uma voz autêntica em meio a um
cenário musical cada vez mais produzido e comercial.

Amy Winehouse também incorporou elementos da moda vintage em seu estilo,


que refletiam um interesse crescente nas tendências retrô da moda e da música. Seu
penteado e maquiagem distintos tornaram-se marcas registradas, e sua imagem
contribuiu para sua notoriedade e influência na cultura pop.

Além disso, o contexto cultural de sua época viu um aumento na discussão


pública sobre saúde mental e abuso de substâncias. Amy Winehouse, infelizmente, se
tornou uma figura emblemática dessas questões, enquanto luta contra problemas
pessoais e dependência de álcool e drogas. Sua vida pessoal tumultuada e suas
batalhas públicas com essas questões desencadearam debates sobre a saúde mental
de artistas e o apoio que eles recebem.

ANÁLISE A PARTIR DAS NEUROCIÊNCIAS E NEUROPSICOLOGIA:

A neurociência pode ajudar a compreender como o cérebro de Amy Winehouse


estava envolvido em seu comportamento e emoções. Os estudos mostram que abuso
crônico de substâncias, como álcool e drogas, pode causar alterações significativas na
estrutura e função do cérebro, afetando a tomada de decisões, o autocontrole e o
funcionamento emocional. Isso pode explicar sua impulsividade e dificuldade em lidar
com o vício.

Além disso, a predisposição genética para transtornos mentais, juntamente com


o estresse e a pressão da fama, pode ter contribuído para sua ansiedade, depressão e
instabilidade emocional.

A neuropsicologia, como disciplina dedicada ao estudo da interação entre o


cérebro e o comportamento, aborda o desenvolvimento da personalidade como um
fenômeno intricado, resultante da dinâmica entre fatores genéticos e ambientais. O
cérebro, em constante evolução desde o nascimento até a idade adulta, passa por
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mudanças estruturais e funcionais que impactam as características pessoais. Regiões


específicas, como o córtex pré-frontal, relacionadas ao controle emocional e tomada
de decisões, desempenham papel crucial na regulação emocional e comportamental.

A herança genética também desempenha um papel fundamental na


determinação dos traços de personalidade, influenciando características como
extroversão ou introversão. Variações genéticas podem afetar a produção de
neurotransmissores, como serotonina e dopamina, influenciando o funcionamento
cerebral e, consequentemente, o comportamento. Além disso, fatores ambientais,
como experiências de vida, interações sociais, traumas e educação, desempenham
um papel significativo na moldagem da personalidade. O cérebro, altamente plástico,
adapta-se a diversas experiências ao longo do tempo, sendo impactado por traumas
ou eventos emocionais intensos.

A comunicação entre as células nervosas, mediada por neurotransmissores,


destaca a importância dos sistemas neuroquímicos na regulação do humor, motivação
e outros aspectos comportamentais. Desequilíbrios nesses neurotransmissores, como
serotonina, dopamina e noradrenalina, podem estar associados a transtornos de
personalidade. Por fim, lesões cerebrais, sejam congênitas ou adquiridas ao longo da
vida, têm o potencial de impactar significativamente a personalidade, afetando áreas
específicas do cérebro relacionadas ao controle emocional e processamento cognitivo,
resultando em mudanças no comportamento e na personalidade.

É essencial destacar que para o estudo do campo da neuropsicologia e das


neurociências é impossível conceber o comportamento humano sem considerar suas
conexões com o sistema nervoso central.

Impacto do Abuso de Substâncias:

O abuso crônico de substâncias desempenhou um papel significativo na vida de


Amy Winehouse e teve um impacto profundo em sua saúde, comportamento e
carreira. Sob a perspectiva das neurociências e neuropsicologia, é crucial entender
como o uso de álcool e drogas afetou seu cérebro e comportamento.

Curiosamente, uma função serotoninérgica reduzida tem sido associada tanto a


um processo de tomada de decisão prejudicado (Rogers et al., 2003) quanto a
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comportamentos suicidas (Neves et al., 2008). Alguns também sugeriram que um nível
elevado de cortisol (DST anormal) poderia estar relacionado ao comportamento
suicida na depressão, embora nem todos os autores concordem (Coryell and
Schlesser, 2001; Duval et al., 2001).

Modificações da Estrutura Encefálica: O abuso prolongado de álcool e


drogas pode causar alterações substanciais no cérebro. O álcool, por exemplo, é um
depressor do sistema nervoso central que interfere com a comunicação neural. O uso
crônico de drogas, como cocaína e heroína, também tem efeitos prejudiciais no
funcionamento e estrutura cerebral.

Prejuízo Cognitivo: O abuso de substâncias pode levar a prejuízo cognitivo,


afetando funções como memória, atenção e tomada de decisões. Amy Winehouse
sofreu declínio em seu desempenho cognitivo devido ao abuso de álcool e drogas, o
que impactou sua capacidade de compor músicas e realizar apresentações
consistentes.

Comportamento Impulsivo: O consumo crônico de substâncias contribui para


o comportamento impulsivo, dificultando a capacidade de Amy em resistir à tentação
do uso de drogas e álcool. Isso está relacionado a alterações na região do cérebro
responsável pelo autocontrole e pela tomada de decisões.

DESAFIOS PSICOLÓGICOS:

Depressão e Ansiedade: Amy lutou contra a depressão e a ansiedade,


problemas de saúde mental que foram agravados por seu estilo de vida e pelo abuso
de substâncias. Esses desafios psicológicos impactaram sua capacidade de funcionar
normalmente e de manter relacionamentos saudáveis.

Transtornos Alimentares: Houve relatos de que Amy Winehouse também


enfrentou transtornos alimentares, como bulimia. Isso reflete a complexidade de seus
desafios psicológicos, pois transtornos alimentares frequentemente estão interligados
com questões emocionais e de imagem corporal.

Relações Conturbadas: Seus relacionamentos pessoais, incluindo um


casamento turbulento com Blake Fielder-Civil, demonstram a influência de seus
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desafios psicológicos em sua vida pessoal. Relações conturbadas e conflituosas eram


comuns, refletindo uma instabilidade emocional subjacente. A separação dos pais
também foi um grande desafio vivido por Amy.

COMO A NEUROCIÊNCIA E A NEUROPSICOLOGIA PODERIA TER AUXILIADO?

* Receptores de dopamina no cérebro associados ao prazer e recompensa

Os cientistas estão apenas começando a compreender as vias cerebrais


associadas à dependência. Uma nova descoberta é que existem genes que fazem
com que os receptores de dopamina no cérebro se tornem menos sensíveis. Como a
dopamina é uma substância química cerebral associada ao prazer e recompensa, isso
levaria a uma "diminuição" nas sensações normais de prazer. De acordo com um
artigo do neurocientista David Linden da Escola de Medicina da Universidade Johns
Hopkins, publicado no New York Times, pessoas com essa variante genética precisam
de uma experiência muito mais intensa para sentir o mesmo nível de prazer que outras
sentem com indulgências cotidianas, como comer chocolate. Como os sentimentos de
prazer são uma das maiores recompensas da vida, essas pessoas "desejariam os
sentimentos de sucesso mais do que os outros - mas gostariam menos". Como
resultado, elas seriam mais motivadas a buscar novas experiências, desafiar o status
quo e correr grandes riscos, podendo resultar em sucesso profissional e status de
celebridade, mas também em abuso de substâncias.

Pensando nisso, testes genéticos e também neuropsicológicos preventivos


podem ser a chave para prevenir a dependência destrutiva tanto em celebridades
quanto em outras populações. Psicólogos, por sua vez, poderiam criar ferramentas de
tratamento cognitivos e comportamentais para "reeducar o cérebro" a experimentar
prazer em eventos ordinários. Como seres humanos, temos a extraordinária
capacidade tanto de criar grandes problemas que encurtam nossas vidas quanto de
resolvê-los. Enquanto Amy pode ter dito "não" à reabilitação, talvez a próxima geração
de astros do rock diga "sim" aos testes preventivos e intervenções.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS

AMY. Direção: Asif Kapadia. Produção de Universal Music; Film4; On The Corner
Films; Playmaker Films; Krishwerkz Entertainment. 2015, Apple TV +
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Malloy-Diniz LF, Neves FS, Abrantes SS, Fuentes D, Corrêa H. Suicide behavior and
neuropsychological assessment of type I bipolar patients. J Affect Disord. 2009
Jan;112(1-3):231-6. doi: 10.1016/j.jad.2008.03.019. Epub 2008 May 16. PMID:
18485487.

Yücel M, Lubman DI, Solowij N, Brewer WJ. Understanding drug addiction: a


neuropsychological perspective. Aust N Z J Psychiatry. 2007 Dec;41(12):957-68. doi:
10.1080/00048670701689444. PMID: 17999268.

Schretlen DJ, van der Hulst EJ, Pearlson GD, Gordon B. A neuropsychological study of
personality: trait openness in relation to intelligence, fluency, and executive functioning.
J Clin Exp Neuropsychol. 2010 Dec;32(10):1068-73. doi:
10.1080/13803391003689770. Epub 2010 Apr 19. PMID: 20408002; PMCID:
PMC2937090.

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