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Bacharelado em Psicologia

Psicopatologia II

Syd Barrett:

Uma Análise Psicológica da Genialidade e “Loucura” do fundador do Pink Floyd

Prof.ª Msª: Brenna Braga dos Anjos

Aluno: Cauê Silva Campos Vasconcelos

Fortaleza, Junho de 2020


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RESUMO:

Syd Barrett foi o fundador, idealizador, cantor, guitarrista, compositor, e primeiro líder da
banda Pink Floyd. Alguns críticos podem tê-lo comparado a um Rimbaud moderno, outros o
descrevem como apenas um louco psicodélico. A maior ironia está no fato de um compositor
inquestionavelmente talentoso somente ser lembrado pelos seus atos de loucura. O fato d’ele
ter caído no abismo de sua própria criação nunca foi questionado. Diante disso propõe-se uma
análise biopsicossocial e possível diagnóstico de Asperger na figura citada; embasada no
método qualitativo-descritivo e na pesquisa bibliográfica. Palavras-Chave: Asperger; LSD;
Psicose; Autismo.

INTRODUÇÃO:

Ao fim dos anos 1950, influenciado por Elvis Presley e o início do Rock n’ roll, surgiu o
Skiffle craze, uma variação do folk; esse movimento fez com que os adolescentes por todo o
país formassem grupos roubando as panelas domésticas para utilizá-las como percussão e
prendendo um cabo de vassoura a uma caixa de chá com um fio tensionado, o que funcionava
como um contrabaixo primitivo.

Esse último movimento, por sua vez, influenciou outro, o Swinging Sixties, que serviu
como uma revolução cultural juvenil que ocorreu no Reino Unido em meados da década de
1960, enfatizando a modernidade e o hedonismo (sexo, drogas e rock n’ roll). A Grã-Bretanha
estava se engajando na primeira revolução juvenil do século XX. Do dia para a noite os
valores britânicos tradicionais e conservadores estavam desaparecendo e dando espaço para
vários costumes e vocabulários americanos. O movimento foi uma espécie de catalisador
diante do crescimento da geração baby boomer e a recuperação da economia britânica após a
2ª Guerra Mundial. Entre seus elementos-chave estavam os Beatles como líderes da invasão
britânica de atos musicais; a estilista Mary Quant com a popularização da minissaia e da
calça; o ativismo político do movimento antinuclear e a liberdade sexual.

Roger Keith Barrett (Syd Barrett) teve sua juventude contextualizada nessa época.
Nascido em 1946, Syd era uma criança ativa e “saudável”. Por intermédio do pai que era
médico e músico, o garoto desenvolveu um enorme interesse pela música e pela pintura desde
cedo. Aos 11 anos desenvolveu uma grande fobia de algo no colégio sem motivo aparente. A
partir daí o pequeno Barrett começou a apresentar desinteresse para com os assuntos
escolares, suas únicas exceções eram a música e a arte. Tinha extrema dificuldade em cumprir
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regras, pois achava “irrelevante”; tinha dificuldade de lidar com mudanças, apresentava
rotinas obsessivas, tinha interesse extremo e específico em um tema: às vezes a pintura, ou a
musica, ou até somente com TV’s. Além disso, Syd era extremamente sensível a barulhos e
luzes que nenhuma outra pessoa era capaz de ouvir ou ver. Sua irmã Rosemary relatou a
diversas revistas que ele explorava ambigüidades em linguagens e relatava sinestesia
(habilidade de “ver” sons e “escutar” cores), algo que influenciaria muito a sua música
psicodélica (WATKHINSON, 2013).

DESENVOLVIMENTO:

De acordo com a 5ª edição do DSM (2013), esse grupo de sintomas e sinais clínicos que
Syd mostrava: inadequação às regras sociais, fixação e foco em um determinado assunto;
estabelecimento de uma rotina cristalizada; dificuldade em lidar com mudanças; dificuldade
em habilidades sociais; descontinuidade de um assunto na fala (WATKHINSON, 2013) são
um forte indício para a Síndrome de Asperger sem comprometimento da linguagem
concomitante (F84.5) e pouca possibilidade para o Autismo Clássico, Autismo Atípico ou
Esquizofrenia devido ao baixo (ou nenhum) comprometimento das funções motoras e da
linguagem, a ausência de alucinações ou falhas em sua percepção. O diagnóstico diferencial
mais provável seria o de Psicose. O Manual de Transtornos Mentais afirma que os critérios
para o diagnóstico de Asperger são que o sujeito apresente esses sintomas desde o início da
infância e que eles de alguma forma limitem ou prejudiquem seu funcionamento diário.

Claro que os diagnósticos desse tipo são mais válidos e confiáveis quando baseados em
múltiplas fontes de informação e por mais de um profissional. Como já afirmado no objetivo
deste trabalho, a intenção aqui é propor um possível do diagnóstico do analisado, uma vez que
o mesmo já faleceu tornando inviável uma investigação mais profunda atualmente, contudo a
sua biografia feita por Mike Watkinson e Pete Anderson (2013) traz todo um apurado de
informações, relatos da família, amigos, colegas e cuidadores de Barrett. Tornando possível
divagarmos e supormos sobre o que acometia o cantor.

No final da década de 1960 Syd fundou o Pink Floyd com alguns colegas, e fizeram certo
sucesso com seu primeiro álbum The Piper At The Gates Of Dawn, as canções de Barret
chamaram a atenção por serem originais e trazerem todo um viés psicodélico em sua
harmonia e progressão de acordes. Após isso, seus empresários começaram a pressionar o
líder da banda para fazer cada vez mais turnês e a compor novos sucessos para continuarem
nas paradas das rádios. Nesse mesmo período, Syd começou a fazer uso de LSD como válvula
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de escape, esse foi um enorme fator para o comportamento perturbador em Barrett, assim
como o estresse e os colapsos nervosos que sofria durante os shows, que foram o motivo da
sua demissão da banda em 1968.

Considerando o excessivo uso de drogas de Barrett, e a Asperger, é fácil compreender


como seu comportamento, já excêntrico para os padrões da sociedade britânica, tornou-se
cada vez mais estranho e perturbador. Se olharmos sob uma óptica psicodinâmica, podemos
pensar que Syd já tinha tendências psicóticas que permaneceram latentes durante toda sua
infância e adolescência (predisponente), o uso das drogas somente serviu como centelha
(precipitante) para os problemas que surgiram. Jung (1985) afirma que uma evolução mal
sucedida da personalidade (malograda nas palavras do autor) pode resultar num mundo de
fantasia caótico ou mórbido quando o sujeito não tem uma personalidade social bem
alicerçada. Para o autor, tanto um psicótico quanto um gênio são atingidos por conteúdos
coletivos e primordiais (arquétipos) em suas psiques, um segue em frente com isso, enquanto
o psicótico é destruído por essa manifestação natural da natureza, causando falhas em seus
pensamentos e na diferenciação entre Inconsciente e Consciência, que aos poucos vão se
tornando uma coisa só (JUNG, 2000). Nesse estado de psicose o sujeito tem incapacidade de
distinguir realidade e fantasia, implicando num processo deteriorativo das funções do ego
(FREUD, 2011) que foi o que aconteceu com Syd Barrett após as cobranças do meio
business, da pressão comercial sobressaindo sua força criativa, a saída do Pink Floyd e o uso
abusivo de LSD.

CONCLUSÃO:

Syd Barrett era o ímpeto criativo no início do Pink Floyd. Embora nunca tendo sido feito o
diagnóstico, tudo indica que Syd tinha a Síndrome de Asperger, o “nível 1” do Espectro
Autista; seu consumo de LSD era intenso e as ilusões que ele criava eram sua inspiração para
tocar e compor, porém a droga foi um catalisador para a sua autodestruição e o despertar da
sua psicose. A composição genial de Barrett era original e extrema ao mesmo tempo. Seu
canto tinha obscuros vocais alternando com narrações de histórias sem expressão e falas
arrastadas hipnóticas. Ele usava da técnica do conto de fadas, justaposição surrealista de
detalhes psicodélicos, experiências infantis, pop-art e improvisação neojazz com devaneios
tolkenianos. Pensando de uma forma categorial é quase impossível não entrar num quadro
patologizante, contudo Syd Barrett era um inovador com uma personalidade fora do comum,
pensava e enxergava o mundo de uma forma única e excêntrica. Se ele tinha total consciência
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de sua arte ou se tinha controle sobre ela, isso é impossível de se afirmar atualmente. Somente
um louco ou um gênio conseguem se afastar do mundo a tal ponto de vê-lo de uma forma
inusitada. Ao fim de sua carreira Syd era equiparável às belezas fantasmagóricas que
encantavam os poetas antigos, digno de admiração e respeito, mas também de temor e receio.

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AMERICAN, Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais (DSM-5). Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento. Porto Alegre: Artmed, 2013.

FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.

JUNG, Carl. A Prática da Psicoterapia. Trad. Maria Luíza Appy. Rio de Janeiro: Vozes,
1985.

JUNG, Carl. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Trad. Maria Luíza Appy. Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.

PONTES, Cleto Brasileiro. Psiquiatria: Conceitos e Práticas. Fortaleza: Ed. UFC, 1995.

WATKHINSON, Mike; ANDERSON, Peter. Crazy Diamond: Syd Barrett e o surgimento


do Pink Floyd. Trad. Maíra Contrucci Jamel. Rio de Janeiro: Sonora Editora, 2013.

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