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Bacharelado em Psicologia
Psicopatologia II
Syd Barrett:
RESUMO:
Syd Barrett foi o fundador, idealizador, cantor, guitarrista, compositor, e primeiro líder da
banda Pink Floyd. Alguns críticos podem tê-lo comparado a um Rimbaud moderno, outros o
descrevem como apenas um louco psicodélico. A maior ironia está no fato de um compositor
inquestionavelmente talentoso somente ser lembrado pelos seus atos de loucura. O fato d’ele
ter caído no abismo de sua própria criação nunca foi questionado. Diante disso propõe-se uma
análise biopsicossocial e possível diagnóstico de Asperger na figura citada; embasada no
método qualitativo-descritivo e na pesquisa bibliográfica. Palavras-Chave: Asperger; LSD;
Psicose; Autismo.
INTRODUÇÃO:
Ao fim dos anos 1950, influenciado por Elvis Presley e o início do Rock n’ roll, surgiu o
Skiffle craze, uma variação do folk; esse movimento fez com que os adolescentes por todo o
país formassem grupos roubando as panelas domésticas para utilizá-las como percussão e
prendendo um cabo de vassoura a uma caixa de chá com um fio tensionado, o que funcionava
como um contrabaixo primitivo.
Esse último movimento, por sua vez, influenciou outro, o Swinging Sixties, que serviu
como uma revolução cultural juvenil que ocorreu no Reino Unido em meados da década de
1960, enfatizando a modernidade e o hedonismo (sexo, drogas e rock n’ roll). A Grã-Bretanha
estava se engajando na primeira revolução juvenil do século XX. Do dia para a noite os
valores britânicos tradicionais e conservadores estavam desaparecendo e dando espaço para
vários costumes e vocabulários americanos. O movimento foi uma espécie de catalisador
diante do crescimento da geração baby boomer e a recuperação da economia britânica após a
2ª Guerra Mundial. Entre seus elementos-chave estavam os Beatles como líderes da invasão
britânica de atos musicais; a estilista Mary Quant com a popularização da minissaia e da
calça; o ativismo político do movimento antinuclear e a liberdade sexual.
Roger Keith Barrett (Syd Barrett) teve sua juventude contextualizada nessa época.
Nascido em 1946, Syd era uma criança ativa e “saudável”. Por intermédio do pai que era
médico e músico, o garoto desenvolveu um enorme interesse pela música e pela pintura desde
cedo. Aos 11 anos desenvolveu uma grande fobia de algo no colégio sem motivo aparente. A
partir daí o pequeno Barrett começou a apresentar desinteresse para com os assuntos
escolares, suas únicas exceções eram a música e a arte. Tinha extrema dificuldade em cumprir
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regras, pois achava “irrelevante”; tinha dificuldade de lidar com mudanças, apresentava
rotinas obsessivas, tinha interesse extremo e específico em um tema: às vezes a pintura, ou a
musica, ou até somente com TV’s. Além disso, Syd era extremamente sensível a barulhos e
luzes que nenhuma outra pessoa era capaz de ouvir ou ver. Sua irmã Rosemary relatou a
diversas revistas que ele explorava ambigüidades em linguagens e relatava sinestesia
(habilidade de “ver” sons e “escutar” cores), algo que influenciaria muito a sua música
psicodélica (WATKHINSON, 2013).
DESENVOLVIMENTO:
De acordo com a 5ª edição do DSM (2013), esse grupo de sintomas e sinais clínicos que
Syd mostrava: inadequação às regras sociais, fixação e foco em um determinado assunto;
estabelecimento de uma rotina cristalizada; dificuldade em lidar com mudanças; dificuldade
em habilidades sociais; descontinuidade de um assunto na fala (WATKHINSON, 2013) são
um forte indício para a Síndrome de Asperger sem comprometimento da linguagem
concomitante (F84.5) e pouca possibilidade para o Autismo Clássico, Autismo Atípico ou
Esquizofrenia devido ao baixo (ou nenhum) comprometimento das funções motoras e da
linguagem, a ausência de alucinações ou falhas em sua percepção. O diagnóstico diferencial
mais provável seria o de Psicose. O Manual de Transtornos Mentais afirma que os critérios
para o diagnóstico de Asperger são que o sujeito apresente esses sintomas desde o início da
infância e que eles de alguma forma limitem ou prejudiquem seu funcionamento diário.
Claro que os diagnósticos desse tipo são mais válidos e confiáveis quando baseados em
múltiplas fontes de informação e por mais de um profissional. Como já afirmado no objetivo
deste trabalho, a intenção aqui é propor um possível do diagnóstico do analisado, uma vez que
o mesmo já faleceu tornando inviável uma investigação mais profunda atualmente, contudo a
sua biografia feita por Mike Watkinson e Pete Anderson (2013) traz todo um apurado de
informações, relatos da família, amigos, colegas e cuidadores de Barrett. Tornando possível
divagarmos e supormos sobre o que acometia o cantor.
No final da década de 1960 Syd fundou o Pink Floyd com alguns colegas, e fizeram certo
sucesso com seu primeiro álbum The Piper At The Gates Of Dawn, as canções de Barret
chamaram a atenção por serem originais e trazerem todo um viés psicodélico em sua
harmonia e progressão de acordes. Após isso, seus empresários começaram a pressionar o
líder da banda para fazer cada vez mais turnês e a compor novos sucessos para continuarem
nas paradas das rádios. Nesse mesmo período, Syd começou a fazer uso de LSD como válvula
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de escape, esse foi um enorme fator para o comportamento perturbador em Barrett, assim
como o estresse e os colapsos nervosos que sofria durante os shows, que foram o motivo da
sua demissão da banda em 1968.
CONCLUSÃO:
Syd Barrett era o ímpeto criativo no início do Pink Floyd. Embora nunca tendo sido feito o
diagnóstico, tudo indica que Syd tinha a Síndrome de Asperger, o “nível 1” do Espectro
Autista; seu consumo de LSD era intenso e as ilusões que ele criava eram sua inspiração para
tocar e compor, porém a droga foi um catalisador para a sua autodestruição e o despertar da
sua psicose. A composição genial de Barrett era original e extrema ao mesmo tempo. Seu
canto tinha obscuros vocais alternando com narrações de histórias sem expressão e falas
arrastadas hipnóticas. Ele usava da técnica do conto de fadas, justaposição surrealista de
detalhes psicodélicos, experiências infantis, pop-art e improvisação neojazz com devaneios
tolkenianos. Pensando de uma forma categorial é quase impossível não entrar num quadro
patologizante, contudo Syd Barrett era um inovador com uma personalidade fora do comum,
pensava e enxergava o mundo de uma forma única e excêntrica. Se ele tinha total consciência
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de sua arte ou se tinha controle sobre ela, isso é impossível de se afirmar atualmente. Somente
um louco ou um gênio conseguem se afastar do mundo a tal ponto de vê-lo de uma forma
inusitada. Ao fim de sua carreira Syd era equiparável às belezas fantasmagóricas que
encantavam os poetas antigos, digno de admiração e respeito, mas também de temor e receio.
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
JUNG, Carl. A Prática da Psicoterapia. Trad. Maria Luíza Appy. Rio de Janeiro: Vozes,
1985.
JUNG, Carl. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Trad. Maria Luíza Appy. Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.
PONTES, Cleto Brasileiro. Psiquiatria: Conceitos e Práticas. Fortaleza: Ed. UFC, 1995.