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Adolescência é um período do desenvolvimento do ser humano repleta de

conflitos, angústias, incertezas, sentimentos mil que, muitas vezes, não são
bem vistos e compreendidos pela sociedade. Pensando nessa população
crescente em nossa cidade, elaboramos o Projeto Oficina das Emoções para
oferecer aos adolescentes um espaço de reflexão e discussão em relação ao
Ser de cada sujeito em desenvolvimento, a formação de seus valores, atitudes
e crenças, bem como suas dificuldades e convivência familiar e social. Assim,
ao jovem lhe será oferecido um ambiente de construção, reflexão, de re-
significação de seus conflitos e anseios, o que lhes facilitará a aquisição de
novas informações e conteúdos, além de despertar o desejo pelo aprender a
ser e fazer diferente ao que lhe é rotineiro e habitual.

Este projeto tem como objetivo:

Refletir sobre a realidade que cerca os adolescentes através de atividades em


grupo, debates, conversas informais, dinâmicas, dramatizações, possibilitando
ao adolescente uma participação ativa, através de um clima lúdico, em que
múltiplas versões sejam expressas.

Primeiro momento: sensibilização do grupo A atividade de sensibilização consistiu no sorteio


de figuras (criança, adolescente, adulto, idoso) e datas que remetiam a algum período (1500,
2000, 1995 etc.), a partir das quais os participantes evocariam lembranças e sentimentos.
Durante o sorteio, os adolescentes se apresentaram. Solicitou-se que cada um falasse sobre o
que tirou, deixando em aberto para que os outros também participassem. De início
permaneceram quietos, porém, no decorrer da atividade, essa atitude se transformou. Os
adolescentes trouxeram dados referentes à infância e à adolescência (brincadeiras que
realizavam, coisas de que gostam/gostavam, etc.). Um dos garotos, que tirou a figura de um
bebê, recusou-se a falar das lembranças de sua infância, disse não se lembrar de nada. Na
atividade posterior, esse adolescente não quis compartilhar sobre nenhum assunto, porém,
em conversa individual com uma das mediadoras, conseguiu desenvolver diálogo e relatar,
brevemente, o que gostava de fazer, a falta que sentia da família e dos amigos. Essa atividade
proporcionou maior aproximação com os adolescentes, pois, ao final, praticamente todos, a
partir dos próprios relatos e dos colegas, contribuíram para reflexões. Uma das questões
levantadas foi que alguns gostos e/ou atitudes tendem a mudar com o tempo, enquanto
outros permanecem, uma vez que são agradáveis e nos fazem bem. 19521 Segundo momento
A segunda atividade, denominada “Viagem de Barco”, consistiu em elencar dez coisas (objetos,
sentimentos, pessoas etc.) para levar em uma viagem da qual não haveria volta. Nessa viagem
ocorreriam imprevistos e os “tripulantes” deveriam se desfazer de alguns pertences para que o
barco chegasse ao seu destino. Ao final sobraria apenas um. Inicialmente, os adolescentes
relataram a dificuldade de elencar dez coisas importantes, disseram não possuir tudo isso para
levar em uma viagem como essa. Após o tempo dado para pensarem sobre o que levariam,
alguns ainda não conseguiram elencar o número estipulado. Ao longo da “viagem”,
tempestade e imprevisto começaram e cada um deveria descartar algo do barco para que
pudesse manter-se navegando. Com o decorrer da atividade, o número de coisas a serem
descartadas aumentou até restar apenas uma. Todos5 escolheram a família como último
elemento para continuar a viagem com eles. Um dos adolescentes citou a liberdade como algo
para levar no barco, entretanto, na hora da escolha de uma única coisa, optou pela família.
Com isso, percebeu-se que a instituição familiar possui grande importância para esses
adolescentes. No fim do exercício, alguns relataram a dificuldade de escolher algo para se
desfazer, enquanto outros verbalizaram que, apesar da dificuldade, a família era algo certo a
continuar. Terceiro momento Foi planejada uma terceira atividade, entretanto, por questão de
tempo, não foi possível realizá-la. Por isso, com intuito de aproveitar os minutos finais da
oficina, foi proposto para os adolescentes um “momento livre”, no qual poderiam desenhar,
escrever etc6 . Interessante notar a diferença de postura de todos os adolescentes nesse
momento em comparação com o início das atividades, pois estavam mais espontâneos. Os
mediadores circularam pela sala para observar o que estavam produzindo. Oficina: impressões
gerais 5 Com exceção de um que não quis participar e de outro adolescente que ainda estava
escrevendo, mas ao final escolheu permanecer com a família. 6 No início da oficina, ao
notarem as folhas sulfite, os adolescentes verbalizaram o desejo de desenhar. 19522
Percebeu-se que, de início, os adolescentes demonstraram resistência em participar e interagir
com os mediadores, como se assumissem para si o estereótipo do “menor”, do “bandido”.
Constatou-se esse fato a partir das brincadeiras referentes às tatuagens de palhaço (e sua
simbologia) e a postura rígida e distante assumida inicialmente por eles. Porém, ao longo das
atividades, mostraram-se participativos. Outro fator marcante dessa experiência foi observar o
desamparo sentido por esses adolescentes na situação de internação. Isso ficou evidenciado
no desejo, verbalizado por eles, de que voltássemos para realizar outras atividades. Além de
ser proporcionado aos adolescentes um pequeno espaço de fala, estes também puderam
assumir, mesmo que minimamente, o lugar de “serem cuidados”, algo que, na situação de
internação, é quase sempre esquecido. Ressalte-se também que ao final da atividade “Viagem
de Barco”, a família apareceu na fala de oito, dos nove adolescentes, como algo a não ser
abandonado. Percebeu-se que, independente da falha da instituição familiar em resguardar
esses adolescentes, a situação de privação de liberdade faz com que essa instituição,
historicamente responsável pelo cuidado e resguardo de seus integrantes, seja evocada como
um mecanismo protetivo. Também se constatou esse desamparo na necessidade dos
adolescentes em receber atenção enquanto produziam os desenhos, dobraduras e escritos.
Nessa atividade, que durou cerca de meia hora, ocorreram chamados para que fosse visto o
que produziam. Por fim, uma atitude do agente responsável por buscar os meninos chamou a
atenção dos mediadores No momento em que estavam saindo da sala, um adolescente
perguntou as horas para os mediadores e, após obter a resposta, o agente interferiu e
questionou se o adolescente iria “perder o ônibus” (sic). Entendemos essa atitude como uma
forma de evidenciar o caráter de privação de liberdade em que esses adolescentes se
encontram, não havendo motivos para se preocuparem com horas ou qualquer outra coisa. O
adolescente em questão respondeu, de forma sarcástica, que “tava querendo ir ao cinema”
(sic), rindo em seguida e se dirigindo à fila que estava sendo formada no corredor. Os
adolescentes dirigiramse para fora da sala do mesmo modo que chegaram: em fila indiana, de
cabeça baixa e mãos para trás. Considerações finais 19523 A exposição desse relato teve como
intuito demost

Com o objetivo de quebrar os tabus que existem na sociedade acerca de transtornos mentais e
suicídio, principalmente entre os adolescentes, acadêmicos de Psicologia deram continuidade
as oficinas com intuito de levar esclarecimentos aos alunos do ensino médio da escola
Estadual Hamilton Lopes.
“O tema: “Isso não é Frescura” apresenta um pouco da ansiedade, depressão e outros
transtornos. “Nós escolhemos este tema porque queríamos mostrar que não é uma bobagem,
além disso, alertamos também sobre a prevenção ao suicídio aproveitando o tema do
Setembro Amarelo”, diz Cássio Henrique Santos Pereira, aluno do 6º período de Psicologia.
“As oficinas fazem parte do projeto Biotemas que envolve várias instituições de ensino superior,
o principal objetivo é o de divulgar os campos de atuação da psicologia e, consequentenente,
ajudarem o outro. Para que isso aconteça alunos da Funorte abraçaram essa causa e criaram
o tema para trabalhar nas escolas”, ressalta Ted Nobre, coordenador da Clínica Escola de
Psicologia da Funorte

O grupo da escola me salvou — afirma D. — Percebi que havia muitos na mesma situação. Guardar o que

sentimos é muito ruim, uma tortura psicológica. Meu pai, principalmente, tem dificuldade de aceitar. Ele

fala que eu não tenho depressão, que é frescura minha. Sou acolhida na escola. Para quem enfrenta o que

enfrentei, digo para procurarem ajuda rápido com um responsável ou um familiar que confie, porque sofrer

sozinho não é bom. Compartilhando, a gente melhora.

Os estudantes estão divididos em grupos por faixa etária e situações específicas. Cada encontro começa

com a mesma pergunta, respondida por quem sentir vontade: como foi a tua semana? As professoras
também reúnem no WhatsApp os estudantes que fazem parte das rodas de conversa: muitos deles não

conseguem esperar uma semana para exprimir o que estão sentindo.


Trabalhamos para que os filhos deem o primeiro passo, aquele
abraço que está guardado há muito tempo. E o resultado é que
temos recebido relatos lindos de reencontro dentro de casa.

FABÍOLA SILVEIRA
Professora e psicóloga

— A questão afetiva é muito séria. O relato deles é de se sentirem filhos fantasmas dentro de casa.

Lamentam jamais terem recebido um abraço do pai ou da mãe, ou nunca terem ouvido uma palavra de

incentivo. Trabalhamos para que os filhos deem o primeiro passo, aquele abraço que está guardado há

muito tempo. E o resultado é que temos recebido relatos lindos de reencontro dentro de casa entre mães e

filhos, pais e filhos – comemora Fabíola.

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