Achei esse documentário muito interessante de assistir. Já é curioso no primeiro momento,
quando começa a contextualização e a mostrar as crianças de diferentes idades, de diferentes ‘’raças’’ e diversas condições sociais, mas já entrei em choque quando mostra as mães falando sobre quantos filhos vivos cada uma tem e quantos que já morreram. Entretanto, ao analisar o local de onde essas mães estão falando, percebe-se que elas são de origem mais humilde, mas o que assusta é que isso se tornou algo normal para elas. O que eu acho mais impactante, que esse documentário traz, é a ambiguidade dos dois ‘’lados’’. Eles trazem a perspectiva de o que é ser criança mostrando uma realidade branca, de classe média alta e depois mostrando crianças e famílias de origem mais humilde. Esse momento de comparação já aparece bem no início quando fala da ‘’criação da infância’’, mostrando crianças brancas bem vestidas e brincando de massinha e mostrando seus desenhos. Essa comparação continua e se aprofunda a partir dai, do momento em que eles começam a entrevistar as crianças e mostrar a realidade de cada uma e ainda trazendo a visão delas. Outra coisa que consegui notar foi a diferença dos brinquedos e brincadeiras entre as classes, enquanto os mais humildes brincam muito mais usando a imaginação e brinquedos que provavelmente eles que fizeram, os de classe média alta fazem tênis, nadam, levam o cachorro pra passear, assistem televisão, etc. Já neste momento fica discrepante a imensa diferença de realidade que depois ficam visivelmente maior. Um momento que fez um ‘’BUM’’ na minha cabeça e fiquei chocado foi quando eles apresentaram que no início do século XVIII, um dicionário francês define o termo ‘’criança’’ como sendo um termo cordial para saudar ou agradar alguém ou leva-la a fazer alguma coisa. Para mim, a partir desse momento as coisas começam a pesar muito mais do que antes no documentário. Eu achei muito forte a imagem das crianças quebrando pedras e trabalhando duro, principalmente com os relatos que são de doer o coração. Enquanto um lado mostra crianças sendo ‘’crianças’’, até porque acho que desse lado há uma cobrança delas também, do outro parece que elas não tem tempo de ser crianças. Outro fato chocante é a normalização das condições dessas crianças, dos salários, das tarefas que elas são colocadas pra fazer e dos perigos. Quando eles trazem Gutenberg e a invenção da imprensa, ficou nítido que apenas crianças não sabem ler e escrever e esse é o divisor de águas. E após a sociedade criar a infância, inventarem que a infância será tranquila, protegida e perfeita. Época em que se dá pelo gozo puro e simples da sua inocência. Entretanto, após isso, o documentário mostra a rotina de cada criança e é muito interessante como isso influência totalmente no desenvolvimento de ser de cada um, pois as crianças de classe mais alta, por exemplo, sonham em ser bailarinas, nadadoras, atletas, e tem uma que até fala em fazer faculdade fora do país, enquanto as outras sonham em sair do lugar onde vivem, sonham em trabalhar pra ajudar a família, ou seja, devido a realidade delas, elas não tem nem o luxo e ou capacidade de sonhar. Acho interessante quando eles trazem a pauta do ‘’o que é ser responsável’’, e ver a resposta de cada uma das crianças eu só consigo pensar que isso se dá pela criação de cada uma. Quando eles trazem a invenção do telégrafo já é diferente das atividades de ler e escrever, pois essa é uma atividade que coloca a criança finalmente no mesmo nível do adulto, assistir televisão. Ao mesmo tempo que vejo pontos positivos nisso também penso que há pontos negativos como: a influência que as crianças passam ter e também a ‘’adultificação’’ que elas sofrem. Para mim essa ‘’adultificação’’ fica clara em dos momentos finais do documentário em que a menina diz: ‘’Agora eu tenho 8 anos, agora sou mocinha... Eu acho que levo uma vida de gente grande’’ e depois há a fala do menino: ‘’Eu acho que ainda não cheguei na idade de ser adulto’’. Como consideração final, eu gostei bastante desse documentário, eu realmente refleti e consegui problematizar muita coisa que antes para mim não era claro. Ao mesmo tempo, assistir o documentário foi uma espécie de soco no estômago, porque eu meio que fui uma das crianças de classe média alta que tinha muitas tarefas pra se fazer, na época eu realmente não via problema nisso e nem me arrependo de ter feito, fico agradecido por ter tido as oportunidades que tive, mas fico triste, porque ao mesmo momento que eu estava me divertindo, estudando e tendo oportunidades, havia, e ainda há, crianças que tem que trabalhar e passar por situações horrorosas como as mostradas no documentário. Refletindo por esse viés, é muito louco pensar e atribuir tarefas, a seres que ainda estão na base do desenvolvimento, algo tão complexo e esperar deles um resultado como se fosse de um adulto.