COMEÇO da vida. Direção: Estela Renner. Produção: Maria Farinha Filmes. Brasil, 2016. Online (101 min). Disponível em: Netflix. Acesso em: 15 abr. 2023
O documentário "O começo da vida” lançado em 2016, tem como diretora
Estela Renner e produtor Maria Farinha Filmes. Este documentário leva-nos a refletir sobre o quão importante é cuidar dos primeiros anos de vida, pois tal atitude afeta ou altera o futuro da humanidade. Os bebês são muito mais do que uma carga genética, mas entende-se que há um constante desenvolvimento a depender das relações sociais e ambiente em que estão inseridos.
O documentário inicia mostrando duas cenas, onde uma remete exatamente
ao tema do documentário. Uma mãe dando a luz a um bebê. A partir desse momento diversas cenas com bebês realizando (tentando realizar) tarefas simples são exibidas, além disso, alguns especialistas e cientistas das mais diversas áreas, foram entrevistados de maneira a compartilhar seus conhecimentos e descobertas a respeito dos primeiros anos de nascimento, e das implicações do que se tem feito ultimamente com as crianças.
Nesses primeiros minutos, segue-se um comentário afirmando que os bebês
são máquinas de aprender, mesmo que para alguns os bebês sejam irracionais ou egocêntricos, mas a ciência explica e prova o oposto disso. Acontece que, eles estão em constante processamento daquilo que está acontecendo ao seu redor, porém a sua capacidade de compreender ainda é baixa, isso porque ainda são 'ultra sensíveis aos padrões de informação’, ação que leva os adultos a acreditarem que os bebês sejam inconcludentes nessa fase da vida. Na sequência, essa discussão passa a ser ampliada na seguinte afirmação: “os bebês estão ocupados tentando entender o quanto o mundo é previsível”, ou seja, que reações espera-se que os pais façam quando o bebê realiza alguma ação? E isso vai desde ‘jogar uma colher no chão repetidas vezes’ esperando que a mãe reaja a isso, até a chamada “interação bate bola entre bebês e adultos”, onde o bebê interage com o adulto por meio de uma ação (chorar, balbuciar, reclamar) que gera uma reação (preocupação, alimentar, acolher, pôr no colo) por parte dos pais, pelo menos nesse sentido o bebe sabe que os pais são previsíveis.
Um especialista afirma que em análise comportamental das crianças,
entende-se que elas estão em constante desenvolvimento e buscam acima de tudo ‘mapear o mundo’ através da coleta de experiências. Mas, o que fazem as crianças tentarem repetidas vezes realizar algo mesmo que não tenham sucesso? A resposta para isso é a “autoestima”. O comentarista no documentário afirma que os adultos devem estimular esse conjunto de sentimentos efetivando a “tentativa e erro" favorecendo assim, a coleta de experiências das crianças.
Há uma cena que chama bastante atenção quanto ao comentário afirmando
que: “A criança não é uma tábua rasa onde você coloca seus saberes e suas competências. As crianças aprendem e constroem seus saberes junto a você" essa afirmação evidencia a importância da criança aprender sobre o mundo ativamente, mas ao mesmo tempo tendo mediações, elas precisam observar, tatear, testar e, sobretudo, imaginar, favorecendo assim o desenvolvimento da sua criatividade. Patricia K. Kuhl, co-diretora do Instituto de Aprendizagem e Neurociências da Universidade de Washington, afirma que “a criança aprende espontaneamente por meio de associações” e, isso compreende a fala, expressões faciais, atitudes e diversas outras combinações que servirão como forma de comunicação no futuro.
O documentário faz uma abordagem significativa a respeito da total presença
dos pais nos primeiros meses de vida da criança. Algumas famílias que foram entrevistadas decidiram passar mais tempo com seus filhos do que em longas jornadas de trabalho, testificando que precisam construir o afeto, qualificando o seu dia a dia com eles. A relação mãe-filho nos primeiros meses de vida é extremamente importante porque exige o processo de acolhimento e amamentação. Ademais, a presença da figura paterna nessa etapa da vida torna-se significativa, pois influenciará tanto no bom funcionamento do lar (divisão de tarefas) quanto na “apresentação do mundo” à criança, evidenciando que há outros caminhos a trilhar além do lar em que vive.
Na sequência, o documentário explora um assunto importante que podemos
resumir na fala de um pai, “dar oportunidades para as crianças inventar mundos”, ou seja, mostrar o quão trabalhoso é, obter algo, e não simplesmente conseguir sem esforços. O “inventar mundos” seria no sentido de entregar ‘peças de um quebra-cabeças’ a uma criança e deixá-la livre para explorar segundo a sua capacidade até conquistar um objetivo, mas é claro que como crianças essa ação deve ser exposta de tal forma que haja interesse, e nada melhor do que impor a ‘brincadeira’ nesse interim, como afirma o especialista entrevistado: “A brincadeira é o principal veículo para o aprendizado da criança”, isto é, desafiá-las para a aprender, impulsioná-las para criar, desenvolver, modificar o mundo ao seu redor.
Um dos pontos fortes e muito bem elencados no documentário foi destacar o
desenvolvimento da linguagem na criança. A linguagem não desenvolve-se apenas falando ou conversando, mas resolvendo suas questões, isto é, respondendo suas perguntas da maneira mais explicativa possível, e com certeza isso abrirá um grande leque de conhecimentos para a criança ouvinte. A diretora da UNICEF, Pia Rebello Britto, afirma que “toda vez que um pai fala com seu filho, isso desperta um estímulo, formando conexões cerebrais", a ‘coleta de informações’ o ‘mapeamento de mundo’ ocorre nesse tipo de interação, a criança nessa fase da vida precisa conhecer o mundo ao seu redor, e os pais são e devem ser os mediadores nisso.
A próxima questão muito bem salientada nesse documentário consiste na
possibilidade de criar uma criança em comunidade. A cena já inicia com uma especialista afirmando que a mãe necessita de ajuda na criação e desenvolvimento de seu filho e ela ressalta dizendo que avós, tios, parentes mais próximos, até mesmo os vizinhos podem intervir, somando e construindo o desenvolvimento social da criança, em outras palavras, a comunidade contribui e combate contra a solidão social que já permeia a nossa sociedade há anos, especialmente com o avançar da tecnologia.
Por fim, o documentário trata de possíveis soluções. Acabar com a
desigualdade social foi uma das primeiras possíveis soluções, pois um ambiente hostil e paupérie, certamente irá gerar um desgaste, desistência, estresse e reprodutibilidade, tanto nos pais, quanto nas crianças, que por sinal são as mais afetadas. Apontou-se também, que os governos devem investir nas crianças, devem investir em parentalidade, proporcionando-lhes tempo para seus filhos, de maneira que venham a ensinar, instruir, corrigir e mostrar o caminho correto, e não deixar que o mundo faça isso por eles.