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BRINCADEIRAS E ARTES: CAMINHOS DE EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE

Quando ensinamos brincadeiras para as crianças (jovens e adultos), o que


elegemos como objetivo primordial é a questão lúdica, o divertimento, a alegria em
brincar, a leveza, a risada, a descontração, a criatividade e o prazer. Porém temos
consciência de que as brincadeiras também proporcionam aprendizados, trocas,
sociabilidade, interação, imaginação, improviso, atenção, percepção do outro e de si
mesmo, enfim, as brincadeiras desenvolvem diversos aspectos da vida de quem brinca:
aspectos cognitivos, físico/motores, aspectos culturais, sociais e emocionais dentre
outros, tudo ao mesmo tempo, pois mesmo tentando separá-los sabemos que esses
aspectos estão interligados, pois não podemos dividir um ser humano em
departamentos.

Gostaria de trazer para a cena algumas situações vividas no contexto


educacional, com diversas faixas etárias, que me mobilizaram a refletir com mais
profundidade. Situações de desafios, pois onde se tem mais dificuldade é onde mais se
aprende. Vamos falar de alunos que fogem das “regras”, do “esperado”, daqueles que
mais acionam nosso olhar cuidadoso, pelos quais devemos exercer ainda mais a
empatia, a sensibilidade e a delicadeza, em contraposição aos alunos que não
apresentam tantos conflitos internos, ou mesmo àqueles que seguem “modelos” para
agradar aos adultos.

A posição do educador e sua forma de agir no seu ofício diário está diretamente
ligada à sua formação teórica e prática, mas, antes de tudo, a sua própria posição diante
da vida e de como ele lida com seus próprios conflitos se refletirá em suas aulas. Desta
forma, mesmo sabendo que não há ninguém que tenha “todas” as suas questões
internas “trabalhadas”, não podemos deixar de salientar o compromisso e a enorme
responsabilidade de ocupar esse lugar.

O professor, representante direto da instituição, assim como os familiares, é


fundamental para a formação desses pequenos sujeitinhos que em breve serão adultos
e que também, talvez, poderão participar da formação de outros sujeitinhos,

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transmitindo aquilo que receberam. Mas como ocupar o lugar de ajudar esses
“pequenos” a controlar seus impulsos e desejos, uma vez que essa liberdade é
impossível, sem reprimir em excesso ou inibi-los, causando sérios danos emocionais?
Não há um roteiro pronto que nos ensine a decidir qual o melhor caminho a tomar e
que nos dê garantia de não provocar nenhum dano. Desta forma ele terá que, antes de
tudo, abrir mão de um saber pronto e descobrir, por conta própria, novos saberes para
cada situação. É um compromisso sério, pois exige um alto grau de reflexão e
autoconhecimento dos seus “pontos cegos”.

Situação 1- História da menina que não queria brincar de dançar

Era uma vez uma menina bem tímida, inibida, de 9 anos de idade, que se sentia
muito desconfortável em se expor, provavelmente tinha um medo acentuado do
julgamento dos outros. A professora da área de jogos, brincadeiras e dança não sabia
como avaliá-la, já que ela se recusava terminantemente a dançar e, cada pressão que
sentia, vinda da professora, piorava a situação. Essa educadora argumentava que a
aluna se recusava a dançar e, desta forma, não teria como lhe atribuir uma nota e que
“se todos podiam dançar, por que somente ela não?” Disse ainda que a avaliação em
dança era como em qualquer outra matéria, e completou exemplificando o caso da
matemática: “tem que fazer, não tem essa história, por que que nesta disciplina seria
diferente?” Eu soube que a professora levou a menina até a coordenadora, que parecia
ser uma pessoa sensata, no entanto ela se mostrou ainda mais perdida que a própria
professora. Duas adultas sem saber o que fazer com uma criança que não “quer”, ou
melhor, que não consegue dançar na frente dos colegas. A própria coordenadora relatou
que ela sugeriu que a garotinha “desse ao menos uma dançadinha” (palavras dela), que
poderia inclusive dançar junto com ela (a coordenadora), só para constar a ação e assim
a professora poderia lhe atribuir uma nota. Lembrem que estamos falando de uma
atividade que era para ser lúdica, prazerosa!! “Dar uma dançadinha”!!!! Isso nunca saiu
da minha cabeça! Que despreparo! O que significa dar uma dançadinha? Duas
educadoras adultas, presas em amarras, em pensamentos obtusos, diante de um
“impasse” paralisante.

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Nesse momento parece que todas as ferramentas possíveis para uma avaliação
desapareceram, o respeito pela singularidade se extinguiu, a sensibilidade desvaneceu,
o afeto sumiu, a maturidade passou ao largo, ignoraram-se os sinais dados por essa
criança ao longo do semestre, ou seja, a expressão da subjetividade foi rejeitada,
desdenhada, outras soluções foram descartadas. O pior vem em seguida, com a
acusação voltada para a própria criança, alegando que ela “não queria colaborar”.
Quanto equívoco! Quanto despreparo! Quanta exposição desnecessária! Sem falar que
a comparação da avaliação da matemática com a matéria lúdica é totalmente arbitrária.
Garanto que Jogos e Brincadeiras, assim como as Artes, nunca foram uma ciência, e
muito menos uma ciência exata. São linguagens que possibilitam caminhos para
expressão da realidade interior do sujeito e para que este o siga no seu desejo de se
expressar, portanto, deve haver segurança, tranquilidade e liberdade.

É sempre interessante não nos precipitarmos diante desses momentos de


impasse e darmos o nosso sentido para certos comportamentos. Não rotular o aluno é
muto importante, pois ao rotulá-lo nós paramos de pensar. Daí a importância de ter
calma e olhar o aluno dentro de um contexto sempre mais amplo e complexo, e não
apenas o comportamento. Há vários outros motivos para a recusa de participação em
uma atividade, não é mesmo? Só saberíamos dizer se as crianças falassem, mas muitas
vezes elas demostram, com seu comportamento, que estão sob forte emoção e não
conseguem processar os seus conflitos e, por isso, sequer têm palavras para explicar.

Situação 2- História do jovem que não se interessava a mínima pelas artes visuais

Acho que esta segunda história, de alguma forma, conversa com a primeira, só
que neste caso sou eu mesma a professora de um jovem no curso de pedagogia. Antes
de iniciar o relato desta situação, gostaria de deixar claro que minha atitude perante o
conflito que se apresentou não serve como modelo, simplesmente apresento aqui uma
vivência prática na qual intuitivamente acredito que tenha encontrado uma boa solução.
Vou relatar o que se passou com a aula de artes visuais, mas que poderia ter acontecido
em qualquer outra área sensível como, por exemplo, jogos e brincadeiras.

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Tive um aluno bem jovem que ingressou na pedagogia, sua primeira graduação.
Esse rapaz nunca faltou e sempre era o primeiro a chegar e o último a sair. No início ele
fazia as atividades propostas nas aulas, mas não durou muito para eu perceber que ele
as realizava em poucos minutos, enquanto os outros ainda estavam iniciando suas
produções. A gente conversava bastante, e eu queria entender seu desinteresse,
algumas vezes eu sugeria uma continuidade, mas ele era determinado em dizer que não
precisava fazer mais nada na sua produção. Neste caso eu o respeitei sobre o que
estava me dizendo, e ele passou a circular na sala, sem intencionalidade, demonstrando
que se sentia à vontade para estar ali.
No fundo percebi que esse jovem, no início, fazia o que era pedido, ele não se
recusava (não era uma forma imatura de rebeldia, algo contra a professora para chamar
a atenção nem, muito menos, uma necessidade de confrontar a “autoridade”).
Simplesmente deixava claro que não tinha o menor envolvimento naquilo. Seu interesse
estava em outro lugar! Nat, como vou chamá-lo aqui, amava a música e a dança e
gostava também de participar dos jogos e brincadeiras, inclusive nos ensinava várias
delas. Depois de dada a proposta e enquanto os alunos a realizavam, colocávamos
música “de fundo”; qualquer um podia mexer no computador, escolher uma música de
qualquer gênero para ouvirmos. Nat, como já havia terminado seu trabalho relâmpago,
aos poucos foi assumindo a trilha sonora. Ele era uma pessoa eclética em seus gostos,
não só porque sempre variava os estilos, mas em cada gênero musical vinha uma música
especial, com ótimos intérpretes, arranjos cuidadosos, em diversas línguas, diversos
ritmos, melodias, etc. Ele também tinha a sensibilidade de trazer músicas da
contemporaneidade, músicas de sucessos como clássicos da música, canções
eternizadas por suas qualidades. Eu o elogiava com toda naturalidade, pois não estava
fazendo nenhum tipo de “reforço positivo”, simplesmente porque ele era muito
talentoso no quesito trilha sonora. E essa qualidade foi contaminando a turma que, a
essas alturas, já o tinha como o responsável pela música de fundo. Com isso Nat foi
ficando ainda mais confiante e sua função na nossa aula era fundamental para todos.
Não preciso nem dizer a relação entre a situação 1, o caso da menina que se
recusava a se expor, e a situação 2, do rapaz que parecia procurar um outro lugar com
que se identificasse e o encontrou. A partir desse relato, pergunto: O que é participação?
Que modelo temos de participação? Participar é falar, agir, opinar, movimentar-se?

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Participar é sempre uma ação de comunicar-se, expor-se, compartilhar? Ou fazer o que
o professor “manda”, obedecer à autoridade , responder às expectativas do mestre?
Observar não é também uma forma de participar? Que relação existe entre participar,
ou seja, estar incluído em um grupo e sentir-se bem? Participar está na ação concreta,
visível e perceptível ou também pode estar atuando silenciosamente na cabecinha da
criança? O mais importante é que a criança se sinta parte de um todo. O laço social, seja
com família, amigos, colegas de turma, aluno e professor sempre está permeado pela
nossa subjetividade, sempre, ao nos relacionarmos nos revelamos, e não há modelos de
comportamentos para isso. A participação pode ser medida? Pode ser transformada em
símbolo/nota? Por quê? A participação pode ter muito mais sutilezas do que somos
capazes de apreender!
No caso deste jovem, me senti bem pela minha atitude flexível, por me perceber
como uma educadora, que dentro da sala, na relação com cada aluno, eu sou a
condutora, a responsável por intermediar conflitos e que pode possibilitar outras formas
de estar no espaço, enfim, me senti autônoma e coerente com meus próprios princípios.
Temos decisões que precisamos tomar, para o bem do aluno em primeiríssimo
lugar, e não da instituição, do cronograma ou do PPP. Vamos pensar sempre nisso, na
humanização das relações! No nosso compromisso com o aluno, este sujeito em
formação, e que está numa posição diferenciada, ou seja, depende da nossa
intervenção. As regras só são compreendidas quando estão num contexto de afeto.
Acredito que essa vivência com Nat poderia ter sido uma possibilidade para a criança
que não queria brincar de dançar! Claro, cada caso com suas especificidades e um novo
olhar para cada um.
Mas podemos nos perguntar a respeito do interesse quando estamos
trabalhando com os pequenos da Educação Infantil e Fundamental I e com os
maiorzinhos do Fundamental II e Ensino Médio: Quem é que desperta o interesse dos
alunos? Por que em algumas atividades os alunos demonstram grande interesse e em
outras não? Como provocar o interesse de todos? Como captar o interesse e a potência
de cada um? Quem é o adulto, responsável, educador, sensível que se coloca diante
desses desafios? Que adaptações seria necessário fazer para que o interesse atinja os
alunos? Nunca podemos esquecer que as crianças são sensíveis, criativas e
exploradoras! Sim, são muitas questões que exigem um pouco mais de trabalho, pois

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não há uma resposta pronta. No entanto, precisamos sair do modo automático e parar
de repetir a frase tão pouco construtiva como “o aluno não tem interesse”, uma vez que
interesse e curiosidade podem ser reflexos de um momento muito particular de vida.
Os efeitos desses rótulos só fecham portas e não abrem nenhuma possibilidade de
questionamento.

Situação 3- História da criança que não aguentava se sentar em roda e que destruía,
com frequência, o trabalho dos outros colegas

Antes de relatar este caso, já peço desculpas se, por um lado, esta descrição tão
resumida possa soar como superficial e com resoluções fáceis e práticas. Por outro, foi
uma escolha olhar para cada um dos aspectos que compõem a complexidade do caso.
Marcelinho foi meu aluno há mais de vinte anos, ele tinha na ocasião 6 anos, um
toquinho de gente! Ele era uma criança difícil de lidar, tinha um comportamento
explosivo, dava a sensação de que entrava em pequenas crises, e quando isso acontecia
sua agressividade aflorava com tudo e era muito complicado contê-lo, tirá-lo “do
barato”. Me lembro bem de ele não conseguir ficar tranquilo sentado na roda que
fazíamos para ensinar brincadeiras, contar histórias, ler...não só não parava sossegado
como não nos deixava ir adiante com a atividade, pois começava a “aprontar”,
nitidamente chamando toda a nossa atenção para suas atitudes. Eu trabalhava com uma
ótima educadora ao meu lado. Marcelinho fugia da sala, destruía os trabalhos dos
colegas, cuspia na gente, respondia às nossas investidas em contê-lo com muito ódio,
batia nos colegas... para encurtar a história, ele “nos tirava do sério”. Perdidas nessas
situações, muitas vezes, infelizmente, gritávamos com ele. Uma vez me lembro de
segurá-lo com força para poder imobilizá-lo, enfim, era um grande desgaste.
Procuramos os pais que, por várias vezes, relutaram a comparecer na escola. Queríamos
entender de onde vinha tanta agressividade.
Tínhamos consciência de que aquela criança não estava bem, os sintomas
estavam lá, escancarados, e por isso era tão importante ouvir os pais. Nenhuma criança
“escolhe” ter esses tipos de reações, é evidente seu sofrimento. Não chamamos seus
pais para reclamar dele, os chamamos com a esperança de nos ajudarmos mutuamente,
mãe, pai e professoras. Fizemos alguns encontros, os que foram possíveis, e concluímos

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que os pais não aguentavam o próprio filho, e que este fora “abandonado” por eles aos
cuidados de várias empregadas que entravam e saíam sucessivas vezes do emprego!
Conversamos muito sobre esse ponto, que a escolha deles pelo trabalho integral estava
fazendo mal ao Marcelo, e sugerimos que algum dos dois, na medida do possível,
deveria dar uma atenção especial à criança que estava pedindo socorro. Eles ficavam
com o filho só aos finais de semana, já que saíam de casa antes dele acordar e voltavam
com o filho dormindo. Localizamos esse abandono, mas é claro que deveria haver muito
mais coisas o perturbando. Já que os pais não mostraram nenhuma possibilidade de
mudar essa situação de desamparo, pois ficou claro que eles não suportavam estar na
companhia do filho (muito triste!), mudamos nossas atitudes. Não “bateríamos mais de
frente” nas situações extremas e partimos para o acolhimento, o carinho, a segurança
de que estávamos com ele, fosse do jeito que fosse. Nunca mais nenhum grito, nenhuma
contenção corporal, nenhuma bronca; era colo, abraço, afeto. Nas rodas de histórias
uma de nós duas, educadoras, já o trazíamos para o colo e ficávamos fazendo cafuné
em sua cabecinha, e assim, aos poucos, Marcelinho foi se entregando, foi ficando sem
resistências, foi aceitando nosso carinho e o resultado foi bom, pois pudemos atendê-lo
sem que nossas próprias agressividades viessem à tona.
Precisamos perceber que as atitudes desse aluno são sintomas; o professor que
não é trabalhado em relação à sua própria agressividade responde à agressividade do
aluno também com a sua agressividade, repete o que educadores e pais fizeram com
ele.
A educação, por si mesma, é repressora. No conhecido jargão: “dar limite é
importante” nem sempre fica claro que podemos, sim, dar limites de um outro lugar,
acalmando a criança, nomeando seus sentimentos, acolhendo. Nós, professores, não
podemos dar respostas como se fôssemos também crianças.

Situação 4 - História da aluna adulta que não aceitava nenhum tipo de regra

Esta é uma história que, de certa forma, pode dialogar com a anterior. Era uma
vez uma aluna minha, de pedagogia, jovem adulta, por volta de 24 anos, mãe de um
menino que, inclusive, ela não criava, pois morava no exterior com o pai. A Renata, como
a chamarei, não aceitava “regras impostas”. A oficina que eu ministrava era de jogos e

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brincadeiras e, como já disse anteriormente, eram brincadeiras feitas em grupo e com
regras, sem as quais não seria possível brincar. Eu percebia que assim que eu começava
a explicar o jogo ela já estava dispersa, não aguentava ouvir, ia ficando incomodada. Na
hora de brincar, como ela não havia prestado a menor atenção, ela fazia o que vinha à
sua cabeça e o jogo não funcionava, pois não era um tipo de brincadeira livre,
improvisada, havia uma concordância do grupo em aceitar ou até modificar as regras,
mas, uma vez combinadas, era assim que deveria acontecer.

Renata, com seu princípio da não aceitação de “ordens”, com sua rebeldia juvenil
transgressora, com essa energia que poderia ser muito interessante para outros tipos
de situação, acabava por estragar a brincadeira, pois esta precisava ser interrompida
para que a aluna relembrasse os combinados. Mas ela desistia, tipo assim: “não brinco
mais”. Se estivéssemos lidando com uma criança, tudo seria muito compreensível e a
condução do caso certamente seria outra, mas não, era uma pessoa madura, ou melhor,
considerada adulta, mas que, emocionalmente, não se colocava nessa posição, poderia
já ter desenvolvido uma capacidade de compreender regras, mas deliberadamente não
as aceitava. Resultado: os demais alunos perdiam a paciência com ela, pois entendiam
sua atitude como uma espécie de “birra”.

Na infância as próprias crianças resolvem esse tipo de problema. Isso é muito


curioso, pois vemos o quanto elas são criativas e criam ótimas soluções para seus
problemas... como? Nomeando outra criança, normalmente menor, de “café com leite”
e assim podem brincar com todos, pois “ela não está valendo”. Isso era tranquilo, a
criança nomeada como “café com leite” aceitava, já que, para poder brincar com os
maiores, ela encontrava um lugar em que poderia, do seu jeito, pertencer ao grupo e
participar da brincadeira (o que é fundamental) e, por outro lado, desejava um dia não
mais ser “café com leite” e poder brincar de igual para igual, criando assim apenas um
degrau para que tivesse seu tempo de chegar lá.

O professor educador não vai reiterar essa posição passiva do “café com leite”,
que dialeticamente exclui e inclui. O professor atento deve reconhecer as sutilezas dos
jogos e brincadeiras que estejam ao alcance da compreensão de todos. Se as regras
forem complexas ele poderá fazer adaptações para cada faixa etária, ou mesmo,

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percebendo que os alunos não as estão entendendo, mudar de brincadeira. Não é
sempre que a gente acerta em nossas propostas. Mas o que fazer com um adulto nessa
situação? Parece simples, “Então não brinca!” mas também não é nosso papel agir dessa
forma tão simplista. O que eu queria que Renata compreendesse é que regras, naquele
caso, e em outros, claro, são essenciais não só para brincar, mas para viver, e que para
seu pertencimento e comunicação com os outros seria necessário ela rever seus
princípios, sua atitude, que, diga-se de passagem, não estavam adequados para a
situação. Inclusive penso que ela deveria refletir sobre seu desejo até de ser, um dia,
uma professora, pois regras são princípios de convivência social, introjetados em nós.

Os signos representados no trânsito pelas cores vermelho, amarelo e verde são


exemplos de regras para que possamos viver em uma civilização. Eu queria mostrar a
ela que precisamos, muitas vezes, ser mais flexíveis, que era preciso ela se colocar em
um outro papel, no qual as regras não sejam uma ameaça, mas simplesmente códigos
aceitáveis pelo grupo para que pudesse acontecer a atividade. Só que é muito difícil
mexer em estruturas que parecem já estar, em parte, solidificadas, de comportamentos
sintomáticos que revelam sérios conflitos emocionais não trabalhados por profissionais
da área.

Com criança é diferente, os pequenos estão em plena formação diária, em pleno


desenvolvimento, por isso mesmo temos um papel imprescindível nessa construção.
Contudo, precisamos sempre ser sujeitos reflexivos e questionadores, mas não de forma
arbitrária, sem discernimento. Respostas como “regras são regras e ponto final” não nos
ajudam em nada, parecem vir de cima para baixo e passam a ser ordens a serem
cumpridas. Tenhamos pelo menos o direito de entendê-las!

Esperamos que essas situações possam ter contribuído para um olhar e um


cuidado especial aos nossos alunos, sabendo que cada caso é único e que abordamos,
nesta narrativa, aspectos socioemocionais de uma forma menos teórica e mais prática,
tão comuns na vida escolar.

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