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im Ensnando a trangreir ta, O retrocesso antifeminisea que arualmente afeta a cul- tura como um todo mina'o apoio & produgio académica feminista, Visto que a produsio feminista por parte de académicas negras sempre foi marginalizada na academia, ‘marginalizada tanto em relagio & hegemonia académica cexistente quanto 3 corrente principal do feminismo, aque- las entre nde que creem que esse trabalho & crucial para ‘qualquer discussio imparcial da experiéncia negra tém de intensificar seu esforgo de educagio em prol da conscién- cia critica, Aquelas académicas negras que comecaram @ tratar de questbes de género enquanto ainda eram ambiva- lentes em telagio & politica feminista ¢ agora cresceram, tanto em sua conscigncia quanto em seu comprometimen- to, tém o dever de se mostrar dispostas a discutir publica- mente as mudancas no seu pensamento. A construgao de uma comunidade pedagégica Um didlogo Em sua introdugio & coletinea de ensaios Berween Bor- ders Pedagogy and the Politis of Culral Seudies, 8 orgae nizadores Henry Giroux e Peter McLaren slientam que os pensadores critics que trabalham com pedagogia © tém ‘um compromisso com 0s estudos culeurais dever aliar teoria e a pritica a fim de afirmar e demonstrar priticas pedagépicas engajadas na criagio de uma nova linguagem, na ruptura das fronceras dsciplinares, na descentralizacio dda autoridade e na rescrta das eas limrofes insivucio- nais e discursivas onde a politica se torna um pré-requisico para reafirmar a relagéo entre atividade, poder e luc’. Dado esse programa, é crucial que os pensadores criticos dispostos a mudas nossa pritias de ensino conversem en- tue si, colaborem com uma discussio que transponka fron- teiras crie um espago para a intervengio. Hoje em dia, quando a “diferenca” é tema quente nos circulos progres- sistas, estd na moda falar de “hibridacio” e “cruzarfrontei- ras’, mas raramente encontramos exemplos concretos de individuos que realmente ocupem posigbes diferentes den- two das estrururas ¢ partilhem idelas entre si, mapeando seus terrenos, seus winculos e suas preocupasées comuns no que se refere is pritica de ensino, in 1 Enenando rangrode [Apri do dog 6 um dos sie mai simples com aque ns, como proesores sade e pend rt or — Gee pode se oun enue pela, plo ger, pl Sse bo, el epuao profsinal © por un some a ~—™rmrté‘“ tren ¢ mulheres € ent aeademicon neon, O segundo LL ———. a L— ops Ein ob cass, prea aver tomas = ree plics das dive ence eas grupos que {segs ou deaqusdaguls momentos poderosos Ques ona so anspesan ar diengar so confon- thas a dco aontcr ea sldaiedade surge. Pech - £é; i i; Sapo apucncmente a nas feuentment el) a2 ur ra muito improvvel que ais indvduos cose fuisem o encom lm das fons, Sem es Con feccmpls eu seta que oman ods ic de pe — impose Por ies foaoe mis ccc de gue on {idlogs pins podran ser ncervengr Quo comec eta coltinea de ens er par culamenteintresada em queGona apes de gue A construe de ums comunidad pedagigca 18 ‘lo pode aver pontes de contato e camaridagem entre académicos brancos do sexo masculino (Fequentemente visto, com ou sem razdo, como representantes da incorpo- ragio do poder e do prvilégio ou das hierarquias opreso- 1a e grupos marginalizados (mulheres de todas a raga © eanias © homens de cof), Nos anos secenes, muitos acadé- micos brancos do sexo masculino se engajarem crticamen- te com meus esrtes. Peraubasme o fito de esse engaj ‘mento ser encarad com supeia ou visto meratnente como ato de apropriasio feito para levar adiante wn programa ‘oporcunista. Se realmente quetemos criar uma atmosfere cultural em que os preconcsitos possam ser questionados ¢ ‘modificados, todos os atos de cruarfronteiras devem ser vistos como vidos e legos. ns no significa que no Sejam sujetos a erfticas ou questionamentoscritcos ou que no haje muias cases em que a entrada dos poderosos nos terttéros dos impoteates serve para perpetuar as e- mutans exstents. Esse sso, em tltima anise, € menos ameagador que oapego ¢0 apoio continuos as sistemas de dominacio exisentes, parccularmente na medida em que aferam o ensino, como ensinamos €o que ensinamos Para proporcionar um modelo de posibildade, deci ime engajar num didlogo com Ron Scapp, um filsofo,ca- marada e amigo branco do sexo masculine. Ar hd pouco tempo cle lecionavano deparamenco de sofa do Queens College, em Nova York, wabalhava como dirtor do Cal- lege Preparatory Program” da School of Education, sendo ‘rogama qe prepa alunos do ensio bli par oingrano maf culdade (8.407) v6 Enanando a racgrede autor de um manuscrito intivulado A Question of Voice: ‘The Search for Legitimacy. Ataalmente, é diretor do Pro- sgrama de Pos-Graduacio em Educagio Muldicultaral Ur bana no College of Mount St. Vincent, também em Nova, York. Conheci Ron quando fui ao Queens College acom- panhada por doze alunos que estavam fazendo 0 seminsrio sobte Toni Morrison que dei no Oberlin College. Fomos a tuma conferéncia sobre Morrison em que cla falou ¢ eu também dei uma palestr, Minha perspectiva critica sobre ‘obra dela, especialmente Beloved, nio foi bem recebida. ‘Quando eu estva saindo da conferéncia, rodeada pelos alunos, Ron se aproximou e partilhou seus pensamentos sobre minhas ideas. Esse foi o comego de um intenso in- tercimbio erftico sobre o ensinar, 0 escrever, as ideias ¢ a vida. Queria incluie aqui esse didlogo porque ocupamos posigées diferentes. Embora Ron seja branco e do sexo rmasculino (duas posigées que Ihe conferem poderes ¢ pri- vilégios especficos), tenho lecionado principalmente em. instituig6es particulares (consideradas mais presigiadas {que s instiruigdes extatais onde n6s dois lecionamos atual- mente), tenho grau hierérquico mais alto e wenho mais prestigio. Ambos somos de origem trabalhadora. Ele tem suas rafzes na cidade, eu tenho as minhas na América rural ‘Accompreensio ¢ apreciacio de nossa diferentes posigBes foram estrururas necessrias para a construgio de solidarie- dade profisional e politica entre nés, bem como para a criagio de um espago de confianga emocional onde pos- sam ser alimentadas a intimidade ¢ a mitua considerasio, ‘Ao longo dos anos, Ron eeu tivemos muitas discuss6es sobre nosio papel de pensadorescrticose professores uni- ‘A construe de uma comunidad pedagigca 77 ‘ersitérios, Assim como eu tive de confiontar crticos que consideram meu trabalho “no académico, ou no sufi cientemente académico”, Ron teve de lidar com extcos ‘que se perguntam se 0 que ele faz €“flosofia de verdade”, ‘especialmente quando ele cita minhas obras e a de outros ppensadores que nfo tiveram formagio tradicional em filo- sofia. Nés dois somos apaixonadamente comprometidos ‘com o ensino. Nosso interesse comum em que o papel do prosvor ado xe devoid ae pone de puia der ta discusso, E nossa esperanga que ela produza muitasdis- ‘eussbes semelhantes: que la mostre que os homens bran- cos podem mudar,e efeivamente mudam, 0 modo como pensam e ensinam; e que as interagBes que transpBem nos- sas diferengas © as levam em conta sejam significaivas © entiquesam nossas préticas de ensino, nosso trabalho aca- démico e nossos hébitos de ser dentro ¢ fora da academia, ball book: Ron, vamos comesar filando sobre como nos ‘vemos como professores. Um dos modos pelos quais «ste livro me fez pensar sobre o meu proceso de en- sino é que sinto que meu jeto de ensinar foi funda tmnalente ind peo dems eq rido ser académica. Por isso, nunca me imaginei como professora universitiia antes de entrar na sala deaula. Acho que iso ¢ sgnifcativo, pois me liberou para sentir que a professora universiiria€ algo em ue vou me tomnando, ¢ nio uma espécie de identi dade jéestrururada que levo comigo para a aula Ron Scapp: De modo semelhante, mas tlvez um pougui- tho diferente, nfo é que eu nfo queria ser professor

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