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“dinheiro virtual”. Cada vez mais o cartão de crédito ganha espaço na sociedade. Além disso,
bancos, financeiras, cooperativas de crédito, etc. concorrem no mercado criando uma variedade de
produtos e serviços financeiros para atender os diferentes segmentos da população. Portanto,
busquei compreender como o penhor sobrevive e se insere nas estratégias financeiras dos sujeitos
em relação a este novo cenário de oferta de crédito no mercado.
Objetivo do projeto
Construir um procedimento de coleta e tratamento de dados qualitativos para otimizar o conjunto de
técnicas utilizadas para elaboração de uma etnografia.
Equipe envolvida
Apenas um pesquisador foi necessário.
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Com o aparelho de MP31 foi possível registrar os depoimentos dos entrevistados da
pesquisa. O aparelho de MP3 possui algumas vantagens em relação aos gravadores de fitas K7. A
principal vantagem é que as entrevistas podem ser gravadas em um tempo maior, sendo capaz de
gravar mais de 100 horas sem interrupção nos aparelhos em que a memória virtual possua 1GB.
Atualmente já existem modelos de aparelho MP3... 4, 5, 6, 7... com maior capacidade de memória
virtual do que à apresentada e com mais funções. Outra vantagem do aparelho é que as entrevistas
estarão disponíveis em arquivo digital e podem ser salvas em CD ou enviadas através de e-mails,
reduzindo os custos com materiais de consumo.
As entrevistas realizadas com aparelho de MP3 possibilitaram maior flexibilidade à técnica
de coleta de dados, pois, ao contrário de um questionário survey, em que existem opções de
respostas pré-definidas, onde o entrevistado deve selecionar àquelas que mais se enquadra, não
dando liberdade dele próprio elaborar suas respostas.
Em vez de adotar um survey e uma técnica de entrevista tradicional (um roteiro de
perguntas), optou-se por uma técnica que visasse uma “conversa livre”. O pesquisador somente terá
que administrar a entrevista a partir de um roteiro de temas, que podem ser sugeridos durante a
conversa com o entrevistado ou mencionadas pelo entrevistado durante essa conversa.
Porém, as entrevistas gravadas devem ser transcritas (degravação), o que poderia aumentar o
período de organização dos dados. A alternativa para esse problema foi elaborar um banco de dados
que fosse possível encontrar nas gravações o tema desejado para análise.
O programa Excel (item do pacote Microsoft Office) facilitou a consulta e a interpretação
dos dados, através de planilhas contendo colunas, linhas e células dinâmicas. A escolha desse
programa, como banco de dados, teve como critérios: facilitar a manipulação, visualização e
comparação dos dados a partir de um grande painel dinâmico. Além disso, alguns recursos do
programa Excel possibilitaram maior agilidade no trabalho de análise.
Para o programa Excel ficar no formato de um banco de dados que receba informações
qualitativas foi necessário uma Configuração adequada. A planilha eletrônica deve ser formatada
para receber textos. Para isso, deve-se selecionar toda a planilha e clicar o botão Formatar – Célula
– Alinhamento para encontrar o alinhamento do texto para posição horizontal (selecionar Justificar)
e na posição vertical (selecionar Superior). Com estes comandos o texto fica adequado para
visualização na célula. Podendo também ser aumentado o tamanho da coluna e linha para melhor
preenchimento do texto na célula.
Nas colunas localizadas na primeira linha da planilha eletrônica deverão ser colocados os
nomes das variáveis em cada célula. É importante nomear a célula A1 com o código, pois auxilia o
registro dos dados. Após isso, as células devem ser nomeadas com variáveis mais específicas da
pessoa que foi entrevistada, como local da entrevista, data, horário, sexo, profissão, idade, religião,
etc. Para melhor visualização, as células devem ser configuradas com cores distintas. Nas próximas
células, onde os temas da pesquisa serão abordados, novamente terá o código de registro, mas agora
com a função de localizar o trecho da entrevista gravada no programa Media Player2. Além disso,
podemos citar algumas vantagens do procedimento de tratamento de dados a partir das seguintes
configurações:
a) Hyperlink - No banco de dados foi criado um código de registro que indica a localização exata
(tempo de gravação) das entrevistas sobre o tema de interesse. Com o auxílio do recurso
Hyperlink, o código de registro acessava o arquivo digital de áudio, abrindo automaticamente
quando clicado, isto é, o programa Media Player (este programa reproduzia as entrevistas que
tinham sido gravadas e salvas no computador). Assim foi possível ouvir as entrevistas e registrar
o tempo da gravação, nas células do Excel, com o tema de interesse. Isso facilitou muito o
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Tocador de música digital e rádio, pen drive e gravador de som/voz.
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Para comodidade do pesquisador, o fone de ouvido melhora a qualidade do som e aumenta a percepção da análise da
entrevista. Ruídos externos deixam de atrapalhar a concentração.
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trabalho de tratamento dos dados porque não foi necessária a transcrição total das entrevistas,
que estavam disponíveis para serem escutadas integralmente ou parcialmente novamente quando
necessário;
b) “Fichas” de análise - No Excel também foi possível elaborar “fichas” de análise de dados
qualitativos a partir das células. Na técnica tradicional, as anotações eram realizadas em blocos
de papel e guardados num fichário. O que acabava dando mais trabalho para organizar e achar a
ficha desejada. Outro recurso interessante do programa Excel é o botão filtro (Menu Dados –
Filtrar – Auto Filtro). Com este recurso foi possível agrupar frases e palavras chaves para
melhor análise de conteúdo (ver FREITAS, et al, 2000);
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Figura 2 - Banco de dados no programa Excel e acima o Programa Média Player (posição estratégica)
Fonte: O autor (2007)
d) Congelar Painéis - Outro recurso interessante do Excel é o botão congelar painéis (Menu Janela
– Congelar Painéis). Com este recurso fica mais simples aproximar linha ou coluna (horizontal
ou vertical) sem perder a variável de referência. E com os recursos de formatação das células, as
linhas/colunas podem ser configuradas com cores distintas, e isso facilita muito na organização
dos dados;
e) Praticidade e Flexibilidade - Por ser simples a organização e tratamento dos dados na planilha
dinâmica, não requerer muito conhecimento avançado no programa Excel. Pela flexibilidade na
disposição dos dados em células da planilha eletrônica é possível configurar “fichas” para
classificação e categorização a partir de palavras chaves ou frases. Podendo usar os recursos de
edição, como copiar, colar e recortar textos. Essas “fichas” também são capazes de agregar
dados levantados nas anotações do Diário de Campo, podendo inserir uma nova categoria de
observações/análises nas colunas da planilha eletrônica, tantos quantos necessários para
entendimento das informações. Possibilitando assim maior sistematização na organização dos
dados.
Ao definir palavra chaves, essas se transformam em categorias ou variáveis que podem
ser quantificadas a partir do botão função que oferece uma variedade de fórmulas ou acionar no
botão Assistente gráfico. Também podemos gerar gráficos com o recurso do relatório de
tabelas e gráficos dinâmicos (clicar no botão Dados - relatório de tabelas e gráficos
dinâmicos). Além disso, os dados “brutos”, entrevistas gravadas em arquivo áudio digital,
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possibilitam serem analisados por outras metodologias, gerando outras interpretações sobre o
fenômeno;
f) Minimização dos problemas de Interpretação - A partir dessa técnica foi possível minimizar os
problemas da transcrição, isto é, existe uma diferença em interpretar um depoimento gravado e
um texto escrito. Essa diferença aumenta quando a transcrição para texto segue as regras formais
da língua culta, implicando em perda real do significado, que podem conter um depoimento
gravado, rico em gírias, palavras com ambigüidade e expressões. A própria entonação da voz
dos entrevistados, registrada na gravação, faz o pesquisador reavaliar algumas análises.
Portanto, preservar a gravação, é uma forma de arquivar o dado “bruto” e consultá-lo quando
necessário.
HASSEN (1999, p. 34) trata de algumas considerações acerca dos procedimentos de
entrevistas na sua pesquisa realizada com os presos trabalhadores no Presídio Central de Porto
Alegre. No momento da transcrição das entrevistas, a pesquisadora preferiu conservar
depoimentos de alguns presidiários em sua totalidade, pois possuíam uma riqueza de
argumentos que não poderiam ser perdidos, cortados no momento da seleção para a análise
mais específica. Além disso, a autora cita MACEDO (1985) no sentido de mostrar os riscos que
possui a transcrição de entrevistas gravadas para o texto formal.
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próprios do nativo e, assim, ser capaz de dialogar com os “informantes” sobre o contexto da
observação. Assim, o pesquisador integra-se e participa na vida de um grupo para compreender o
sentido êmico, o que se constitui numa observação participante. Entretanto, o pesquisador deve
sempre manter uma certa distância para tornar possível o estranhamento. Já o ato de escrever se
configura na análise do olhar e do ouvir. Ao escrever, o antropólogo estará refletindo sobre as
diferentes informações recolhidas no campo e dialogando com as diferentes explicações teóricas.
Escrever é o trabalho final, a Descrição Densa.
Para MAGNANI (2002, p. 12):
(...) o método etnográfico não se confunde nem se reduz a uma técnica; pode usar
ou servir-se de várias, conforme as circunstâncias de cada pesquisa; ele é antes um
modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de procedimentos.
Ademais, não é a obsessão pelos detalhes que caracteriza a etnografia, mas a
atenção que se lhes dá: em algum momento, os fragmentos podem arranjar-se num
todo que oferece a pista para um novo entendimento.
Em suma: a natureza da explicação pela via etnográfica tem como base um insight
que permite reorganizar dados percebidos como fragmentários, informações ainda
dispersas, indícios soltos, num novo arranjo que não é mais o arranjo nativo (mas
que parte dele, leva-o em conta, foi suscitado por ele) nem aquele com o qual o
pesquisador iniciou a pesquisa. Este novo arranjo carrega as marcas de ambos:
mais geral do que a explicação nativa presa às particularidades de seu contexto,
pode ser aplicada a outras ocorrências; no entanto, é mais denso que o esquema
teórico inicial do pesquisador, pois tem agora como referente o ‘concreto vivido’.
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Planejamento e etapas da realização
Para a realização da etnografia foi necessário entrar em contato com a instituição financeira Caixa
Econômica Federal (CAIXA), pois é ela que detém a exclusividade deste serviço financeiro. As
observações foram autorizadas em duas agências.
A partir de 2007, foi possível realizar as seguintes atividades:
4. Entrevistas – Algumas entrevistas foram realizadas fora das agências. Ao todo, foram
realizadas seis entrevistas com pessoas que utilizavam o penhor. Essas pessoas foram
indicadas por conhecidos, amigos, parentes, vizinhos e colegas próximos a mim. Todas as
entrevistas foram agendadas e realizadas na residência das pessoas ou no seu local de
trabalho.
Já as entrevistas com funcionários do penhor, ocorreram no momento das observações
nas agências, de forma que não prejudicasse as atividades do setor. Foram entrevistados
quarto avaliadores de jóias.
Tanto as entrevistas com o público quanto com os funcionários do penhor foram
realizadas segundo um roteiro de temas que envolviam o crédito, permitindo assim o
desenvolvimento de uma conversa livre;
5. Tratamento dos dados - Após as entrevistas, foi construído um banco de dados no programa
Excel com a estratégia de análise de dados em áudio digital. O banco de dados foi
construído a partir temas abordados durante as entrevistas;
6. Na etapa final, o resultado da análise da pesquisa gerou uma monografia. A pesquisa durou
cerca de seis meses.
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Benefícios, resultados e impactos potenciais ou efetivos
A pesquisa resultou em um trabalho de conclusão de curso (Ciências Sociais) e um paper sobre a
temática, os quais foram apresentados em eventos acadêmicos:
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REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Ricardo (Org.). Laços financeiros na luta contra a pobreza. São Paulo, Annablum;
Fapesp; ADS-CUT; Sebrae, 2004.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: ZAHAR Editores, 1989.
_____. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. 2. ed. Petrópolis : Vozes, 1999.
HASSEN, Maria de Nazareth Agra. O trabalho e os dias: ensaio antropológico sobre trabalho,
crime e prisão. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1999.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana.
Revista brasileira de Ciências Sociais, jun. 2002, vol. 17, nº 49, p. 11-29. ISSN 0102-6909.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
69092002000200002&lng=pt&nrm=isso>. Acessado em: 30 de jul. 2007.
MÜLLER, Lúcia Helena Alves. Projeto de pesquisa Me dá um dinheiro aí? Crédito e inclusão
financeira sob a ótica de grupos populares. CNPq. 2006.
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memórias e dor. 2ª ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000.
WEBER, Florence. Práticas econômicas e formas ordinárias de cálculo. Mana, out. 2002, vol. 8,
n.2, p.151-182.
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Dados de identificação:
Endereço da Instituição: Av. Ipiranga, n°. 6681, prédio 5, sala 518, Bairro Partenon, Porto
Alegre/RS
Endereço residencial: Rua Diomário Moojen, nº 90, ap 307, Porto Alegre/RS. Cep: 90820-030
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