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Diferenças nas recomendações quanto à higiene bucal na primeira

infância em materiais distribuídos por Órgãos Oficiais

Aluno: Erica Michelutti Fogaça

Orientador: Francisco de Assis Moreno de Carvalho

Introdução:

A cárie dentária é considerada a doença crônica mais comum na infância. O fato desta
enfermidade estar fortemente associada a padrões de comportamento estabelecidos pelas
famílias, sendo estes relacionados tanto à dieta (especialmente o consumo de açúcar) quanto
a hábitos de higiene bucal, fundamentam as ações de promoção de saúde (ref.1).

Importantes organizações, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Associação


Brasileira de Odontopediatria, a Associação Latinoamericana de Odontopediatria e a
International Association for Paediatric Dentistry preconizam que no bebê saudável e sem a
presença de dentes, não é necessário fazer a limpeza da boca. Ainda, que qualquer forma de
limpeza bucal nos bebês sem dentes, sob amamentação natural, poderia até mesmo remover
imunoglobulinas protetoras presentes na cavidade bucal (ref. 3).

Mesmo assim, este tópico - quando deve ser iniciada a higiene bucal é também um
item que não apresenta consenso nos materiais informativos disponibilizados à população (ref.
4; ref. 5) e também a profissionais de saúde (ref. 6; ref. 7).

Nos Estados Unidos da América existe um consenso entre as classes médicas


(Academia Americana de Pediatria) e odontológicas (Associação Americana de Odontologia e
Academia Americana de Odontopediatria) quanto a indicação do uso de creme dental com flúor
na higiene bucal dos bebês desde o nascimento do primeiro dentinho (ref. 9).

No Brasil, esta mesma prática apesar de preconizada desde 2009 pelo Ministério da
Saúde - dentifrícios sem flúor ou com concentrações inferiores a 1000 pmm não são
recomendados (ref. 8), apresenta disparidades em documentos direcionados à população em
geral (ref. 4; ref. 5) e também a profissionais de saúde (ref. 6; ref. 7), emitidos por Órgãos
Oficiais.

Dentre estes poderia ser citada como exemplo, a Caderneta de Saúde da Criança (ref.
4) produzida em 2014 pelo próprio Ministério da Saúde e atualmente distribuída nas Unidades
Básicas de Saúde em todo território nacional ao equivocadamente mencionar no item sobre
Dicas para a Limpeza da Boca/Dentes (páginas 26 e 27) que a limpeza da boca do bebê deve
ser realizada apenas com gaze ou fralda umedecida em água limpa, orientando a não usar
flúor antes da idade de 4 anos (ref. 5). Também outra publicação do Ministério da Saúde que
ainda é a que serve de base para os profissionais de saúde bucal de todo o território nacional
consta na página 53, que a higiene bucal deve ser feita com gaze mesmo nos bebês sem
dentes e a partir do primeiro dente com uma escova mas sem o uso de dentifrício (ref. 9).

Devido ao frequente lançamento de novos produtos no mercado nacional, os


profissionais da equipe de saúde bucal (cirurgião-dentista, auxiliar de saúde bucal e técnico de
saúde bucal) devem orientar pais, cuidadores e demais profissionais de saúde a observarem a
composição dos dentifrícios no verso das respectivas embalagens, procurando por produtos
com concentração de flúor a partir de 1000ppm (ref. 2; ref. 6).

Ainda, que o dentifrício não deve ficar em local acessível à criança, sendo de
responsabilidade de um adulto tanto a supervisão diária direta da escovação até os 8 anos,
como a colocação da quantidade ideal a cada fase a ser colocada na escova, além de ensinar
a criança a cuspir desde bem pequena. Quantidade está entre 0,05 a 0,3 mg, a ser utilizada
duas vezes ao dia, estabelecida tendo por base o peso corporal, conforme as seguintes
orientações (ref. 10):

 Crianças com peso corporal até 12kg e até 8 dentes incisivos erupcionados na boca
– recomenda-se a quantidade equivalente a metade de um grão de arroz cru (até
0,05g) – apenas uma “lambuzadela” sobre a escova dental;

 Crianças com peso corporal acima de 12kg, já com a presença de dentes


posteriores mas que não sabem cuspir recomenda-se a quantidade equivalente a
um grão de arroz cru (até 0,1g);

 Crianças com peso corporal acima de 20kg e que já sabem cuspir recomenda-se a
quantidade equivalente a um grão de ervilha (até 0,3g);

Assim sendo, este estudo teve como principal motivação, a vivência em atividades de
educação em saúde da autora junto a gestantes, pais e educadores de uma Unidade Municipal
de Ensino e as diferenças nas recomendações quanto a higiene bucal em crianças com até 5
anos de idade preconizados por Órgãos Oficiais.

Segundo a Associação Brasileira de Odontopediatria:

“Frente ao amplo acesso à informação atual é inconcebível que


conceitos ultrapassados sejam veiculados a população. Também não
é aceitável que essa evidencia construída com base em inúmeros
estudos e, portanto, generalizável para população, seja substituído
por experiências e/ou práticas individuais observadas em clinicas
isoladas ou mesmo em caso da própria família. A ciência existe para
que seus resultados sejam de fato postos em prática.” (ref. 2).

A adoção de medidas preventivas desde a gestação e nos primeiros anos de vida deve
ser considerada como vantajosa e oportuna por favorecer o estabelecimento de habilidades e
hábitos intrinsicamente relacionados a promoção da saúde. No entanto, é de extrema
importância que exista um consenso entre os profissionais e nos materiais educativos, quanto
as orientações que serão disseminadas a população.

Objetivos:

Objetivo Geral: analisar as informações referentes a higiene bucal em crianças menores de 5


anos em materiais educativos disponibilizados aos profissionais e a população por Órgãos
Oficiais.

Objetivo específicos:

1. Comparar as informações referentes a higiene bucal em crianças menores de 5 anos com


informações cientificamente embasadas na literatura correlata;

2. Elaborar um material educativo com as respectivas informações cientificamente


embasadas;

3. Disseminar as informações obtidas juntos aos membros da equipe, assim como os demais
órgãos competentes;

Método:

Local: Unidade de Saúde da Família “Dr. Syrtes de Lorenzo” e Centro Municipal de Educação
Infantil e Recreação “Dona Cotinha de Barros”, situados no Jardim Brasil, em Araraquara, SP.

Público-alvo: membros da equipe de saúde, assim como os pais ou responsáveis pelas


crianças com até 5 anos cadastrados junto a mencionada Unidade; pais ou responsáveis pelas
crianças matriculadas no Centro Municipal de Educação Infantil e Recreação “Dona Cotinha de
Barros”, situado dentro da área de abrangência da Unidade de Saúde.

Ações:

1. Levantamento junto aos diferentes materiais educativos contendo informações sobre saúde
bucal, disponibilizados atualmente por Órgãos Oficiais para distribuição à população,
especialmente no que se refere à higiene bucal em crianças com até 5 anos de idade;
2. Comparação de tais informações com o que se é preconizado para a higiene bucal em
crianças com até 5 anos de idade tendo como base a literatura científica correlata;
3. Elaboração de projeto de material educativo - folder e um cartaz sobre a higiene bucal de
crianças com até 5 anos de idade.
4. Estratégia de divulgação do projeto: será aplicado um questionário estruturado juntos aos
membros da equipe de saúde, no sentido de verificar o conhecimento sobre a higienização
bucal de crianças com até 5 anos de idade;
5. Treinamento dos profissionais da Equipe de Saúde durante as reuniões de equipe. De
posse dos resultados do questionário anteriormente mencionado (com o intuito de apenas
disparar as discussões) serão apresentadas as medidas de higiene bucal direcionadas à
faixa etária em questão atualmente preconizadas na literatura científica confrontando-as
com os materiais atualmente disponibilizados pelo Ministério da Saúde na Unidade para
distribuição junto à população. Enfatizar-se-á a necessidade de um consenso entre os
profissionais, assim como a importância da distribuição do material educativo que terá sua
elaboração finalizada após estes treinamentos e sensibilização de todos os envolvidos
quanto a relevância na adoção das medidas preconizadas;
6. Treinamento dos profissionais do Centro Municipal de Educação Infantil e Recreação “Dona
Cotinha de Barros”, seguindo o relatado no item 2;

Avaliação / Monitoramento: para a avaliação da satisfação dos profissionais em relação ao


treinamento será aplicado um questionário estruturado com questões sobre avaliação do
processo como um todo.

Custos: todo material educativo (impressos de panfletos/folders) elaborados serão


confeccionados na própria unidade de saúde, com recursos (folha de sulfite e cartucho para
impressão) fornecidos pela prefeitura do município.

Resultados esperados: consenso entre os profissionais quanto as informações relativas a


higiene bucal em crianças com até 5 anos de idade para que as mesmas possam se
disseminadas a toda a população envolvida e que hábitos de higiene bucal de forma precoce e
com segurança sejam efetivamente adotados com vistas não apenas a prevenção das
doenças bucais mas com reflexos na qualidade de vida dos envolvidos.

Referências:

1. ARAÚJO, F.B.; MARIATH, A.; CASAGRANDE, L.; RODRIGUES, J.Á.; LUZ, P.B. Saúde
bucal na primeira infância: diagnóstico, prevenção e tratamento. In: Sérgio de Freitas
Pedrosa, Samuel Jorge Moysés, Sonia Groisman (Org.). Pro-odonto Prevenção. Porto
Alegre, RS: Artmed/Panamericana Editora Ltda, 2012, v.2:105-49.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOPEDIATRIA. Todas as crianças devem usar
dentifrício fluoretado de pelo menos 1000 ppm diariamente: recomendação da abo-
odontopediatria. Disponível em: http://abodontopediatria.org.br/site/?p=619. Acesso em: 20
ago. 2016.
3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOPEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO
LATINOAMERICANA DE ODONTOPEDIATRIA; INTERNATIONAL ASSOCIATION OF
PAEDIATRIC DENTISTRY. Orientações ao pais sobre cuidados com a saúde bucal
http://abodontopediatria.org.br/orientacoes_aos_pais_sobre_cuidados_com_a_saude_bucal
_do_bebe_e_da_criancas.pdf. Acesso em: 15 ago. 2016.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Caderneta de saúde da criança: menino-passaporte da
cidadania. Brasília (DF), Ministério da Saúde, 9 ed: 2014. 92p.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Mantenha seu sorriso fazendo a higiene bucal corretamente. Brasília (DF),
Ministério da Saúde, 2013. 10p.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília (DF), Ministério da Saúde,
2009. 260p. (A. Normas e Manuais Técnicos)
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Cadernos de Atenção Básica nº 17. Brasília (DF), Ministério da Saúde, 2008. 92p
(A. Normas e Manuais Técnicos).
8. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Guia de recomendações para o uso de fluoretos no Brasil. Brasília (DF),
Ministério da Saúde, dez. 2009. 53p. (A. Normas e Manuais Técnicos).
9. JORNAL ODONTO. EUA aprova uso de creme dental com flúor desde o 1º dente: Brasil
já recomenda desde 2009. Disponível em:
http://www.jornaldosite.com.br/materias/saude/anteriores/edicao208/saudefevereiro2015-
5.htm. Acesso em: 19 ago. 2016.
10. RUIZ, D. R.; GROISMAN, S. Protocolo de atenção odontológica materno-infantil.
In: Tarcisio Pinto, Samuel Jorge Moysés, Sonia Groisman (Org.). Pro-odonto Prevenção.
Porto Alegre, RS: Artmed/Panamericana Editora Ltda, 2014, v.1, p.9-72.

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