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A ALIENAÇÃO PARENTAL E O DIREITO FUNDAMENTAL À

CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Luís Eduardo Bomfim Lima1


2
Thamyris Gabrielle Loureiro de Sousa e Silva

Resumo

O presente resumo expandido tem como escopo demonstrar, por meio de revisão
bibliográfica e estudo de jurisprudência, os avanços no campo doutrinário e legal no que tange ao
estudo e conceito da alienação parental. Prezou-se por analisar, também, de que maneira o direito à
convivência da criança e do adolescente com sua família vem sendo protegido pelo ordenamento
jurídico nacional, especialmente diante da nova Lei de Alienação Parental.

Palavras-chave

Direito de família; alienação parental; direito fundamental à convivência familiar.

1. INTRODUÇÃO

O presente resumo expandido tem como escopo demonstrar, por meio de


revisão bibliográfica e estudo de jurisprudência, os avanços no campo doutrinário e
legal no que tange ao estudo e conceito da alienação parental.
Tendo como premissa o fato de que a convivência familiar é um direito
fundamental da criança e do adolescente, prezou-se por analisar, também, de que
maneira esse direito vem sendo protegido pelo ordenamento jurídico nacional,
especialmente diante da nova Lei de Alienação Parental.

1
Graduando em Direito na UFPI
2
Graduanda em Direito na UFPI
2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica baseada na literatura especializada


obtida da consulta a artigos científicos selecionados através de busca nos bancos de
dados do Scielo e Google Acadêmico. Pesquisou-se também decisões acerca do
tema na jurisprudência dos tribunais pátrios.

3. RESULTADOS ESPERADOS

O instituto da alienação parental, apesar de ter sido reconhecido no


ordenamento jurídico só recentemente, já vinha sendo objeto de discussões em
sede doutrinária e jurisprudencial. A cargo de exemplo, vejamos a explanação da
professora Maria Berenice Dias apud TARTUCE:
Esse tema começa a despertar a atenção, pois é prática que vem sendo
utilizada de forma recorrente e irresponsável. Muitas vezes, quando da
ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não consegue elaborar
adequadamente o luto da separação e o sentimento de rejeição, de traição,
faz surgir um desejo de vingança: desencadeia um processo de destruição,
de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. Nada mais do que uma
'lavagem cerebral' feita pelo genitor alienador no filho, de modo a denegrir a
imagem do outro genitor, narrando maliciosamente fatos que não ocorreram
e não aconteceram conforme a descrição dada pelo alienador. Assim, o
infante passa aos poucos a se convencer da versão que lhe foi implantada,
gerando a nítida sensação de que essas lembranças de fato aconteceram.
Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre o genitor
e o filho. Restando órfão do genitor alienado, acaba se identificando com o
genitor patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é
informado. (2016, p. 1414)

No âmbito jurisprudencial, os tribunais já se referiam a um conceito inserido


na esfera da Psicologia, mas que ainda não encontrava previsão direta na legislação
pátria, o da síndrome da alienação parental. Este conceito somente ganharia na
nova lei de alienação parental (Lei nº 12.318/2010).

Deste modo, os tribunais já estipulavam determinadas consequências aos


genitores que incorressem nessa prática, tais como a perda da guarda e a
destituição do poder familiar. Nesse sentido decidiu o Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul em agravo de instrumento julgado no ano de 2006:

Destituição do poder familiar. Abuso sexual. Síndrome da alienação


parental. Estando as visitas do genitor à filha sendo realizadas junto a
serviço especializado, não há justificativa para que se proceda a destituição
do poder familiar. A denúncia de abuso sexual levada a efeito pela genitora
não está evidenciada, havendo a possibilidade de se estar frente à hipótese
da chamada síndrome da alienação parental. Negado provimento (TJRS,
Agravo de Instrumento 7001 5224140, 7." Câmara de Direito
Privado, Rei. Maria Berenice Dias, decisão de 12.06.2006).
Acompanhando essa evolução, foi promulgada em 26 de agosto de 2010 a
Lei n° 12.318, conhecida como Lei de Alienação Parental. Conforme o art. 2° da
referida norma, "considera-se alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este".
Dois conceitos referentes ao tema são fundamentais para o desenvolvimento
do presente trabalho, quais sejam o de genitor alienante/alienador e genitor
alienado. Alienante/alienador é aquele que de alguma forma impossibilita ou
dificulta a convivência do menor dom o outro genitor. Alienado é o que teve
cerceado seu direito de convier e manter laços afetivos com o menor devido a ações
obstrutivas do alienador.
Diferentemente da alienação parental, a síndrome de alienação parental
somente se verifica quando o menor passa a guardar um sentimento de repulsa
contra o genitor alienado, recusa-se a vê-lo e aceita como verdadeiras todas as
falsas ações imputadas a ele. Nas lições de Richard A. Gardner apud SILVA:
A síndrome de alienação parental (SAP) é uma disfunção que surge
primeiro no contexto das disputas de guarda. Sua primeira manifestação é a
campanha que se faz para denegrir um dos pais, uma campanha sem
nenhuma justificativa. É resultante da combinação de doutrinações
programadas de um dos pais (lavagem cerebral) e as próprias contribuições
da criança para a vilificação do pai alvo. (2011)
Como bem aponta Costa apud COIMBRA:
A Lei não tratou de Síndrome como, em regra, vinham fazendo os
autores, ainda influenciados pelos estudos de Richard Gardner. Melhor
que tenha sido assim, já que síndrome é conceituada como conjunto de
sintomas e manifestações. A Lei, ao invés de falar em síndrome, tratou
de prática de "ato de alienação parental” e o fez propositalmente com
o objetivo de que a constatação e o enfrentamento da alienação
parental se dêem muito antes de instaurada uma síndrome (grifo
nosso). (2013)

Portanto, a Lei da Alienação Parental, tipifica o ato cometido pelo alienador,


bem como apresenta um conjunto de sanções que poderão ser aplicadas
cumulativamente ou não, como meio coercitivo de inibir o responsável que deu
causa, enfatizando a responsabilidade deste no desenvolvimento do menor.
A supracitada lei também inovou ao trazer para o ordenamento um rol
exemplificativo das formas porque se pode dar a alienação parental, a saber:
“Art. 2º.
[...]

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos


atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente
ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício


da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a


criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra


avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar
a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste
ou com avós.”

O artigo seguinte da lei confirma o que dispunha a doutrina enquanto sua


maior preocupação ao tratar da temática, qual seja, o fato de que a alienação
parental fere “direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência
familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o
grupo familiar”. Mediante a tirada de convivência do infante com o genitor, fere-se
um de seus direitos da personalidade, irrenunciável e, por conta disso, torna-se tal
prática inadmissível.

Segundo Silvio Rodrigues:

inerentes à pessoa humana e portanto a ela ligados de maneira perpétua e


permanente, não se podendo mesmo conceber um indivíduo que não tenha
direito à vida, à liberdade física ou intelectual, ao seu nome, ao seu corpo, à
sua imagem e àquilo que ele crê ser sua honra. (2003, p. 61)
O direito à convivência familiar é garantido quando a criança ou o adolescente
pode viver em um ambiente de harmonia e respeito, com ambos os genitores e seus
familiares de maneira geral, possibilitando seu completo desenvolvimento
psicológico e social. Com a alienação parental, na maioria das vezes, o principal
objetivo do alienador é impedir tal convivência. Esse direito tem assento no art. 227
da Constituição Federal e no art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.069/90), a seguir transcritos:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão”. (CF/88)

“Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no
seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes”. (Lei 8.069/90)

Deste modo, buscando trazer efetividade aos princípios do melhor interesse


do menor e da prevalência da convivência familiar, a Lei n°12.318/10 elencou em
seu art. 6° algumas sanções aplicáveis ao genitor que praticar atos que caracterizem
a síndrome de alienação parental. Assim pode o genitor alienado buscar recuperar
ou garantir a convivência com o filho em ação autônoma ou incidental, na qual
poderá o juiz cumulativamente ou não:

Art. 6°.

[...]

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;


V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua
inversão;

VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.

Essas medidas devem ser aplicadas o mais rápido possível, respeitando-se a


proporcionalidade, intentando a interrupção dos atos de alienação parental e o
imediato retorno do menor ao convívio com o genitor alienado.

Mister se faz que o juiz perceba os elementos identificadores da SAP,


determinando, em tais casos, perícia biopsicossocial, para a partir dos resultados
aplicar as medidas necessárias e cabíveis a fim de proteger o melhor interesse do
menor.

Dependendo da gravidade do caso, o juiz aplicará desde uma simples


advertência ou multa até a suspensão ou perda do poder familiar. Em certos casos,
as medidas mais simples se mostram ineficazes, devendo sempre a criança ou
adolescente permanecer assistida pelos profissionais competentes, a fim de que
seja avaliada a efetividade da medida aplicada ou a necessidade de se aplicar uma
outra mais grave.

Segundo Venosa apud COIMBRA, “Esse rol é apenas exemplificativo, e, o


juiz deverá verificar qual a solução mais plausível no caso concreto. Nada impede
que algumas dessas medidas sejam aplicadas cumulativamente”. Priscila M. P. da
Fonseca apud LEÇA, também elenca algumas medidas que podem ser adotadas
pelo juiz, a depender do estágio da síndrome, a saber:

a) ordenar a realização de terapia familiar, nos casos em que o menor já


apresente sinais de repulsa ao genitor alienado; b) determinar o
cumprimento do regime de visitas estabelecido em favor do genitor
alienado, valendo-se, se necessário, da medida de busca e apreensão; c)
condenar o genitor alienante ao pagamento de multa diária, enquanto
perdurar a resistência às visitas ou à prática que enseja a alienação; d)
alterar a guarda do menor, principalmente quando o genitor alienante
apresentar conduta que se possa reputar como patológica, determinando,
ainda, a suspensão das visitas em favor do genitor alienante, ou que elas
sejam realizadas de forma supervisionada; e) dependendo da gravidade do
padrão de comportamento do genitor alienante ou diante da resistência dele
perante o cumprimento das visitas, ordenar sua respectiva prisão. (2012)
Percebe-se que com essas medidas judiciais de combate à síndrome de
alienação parental, a norma em estudo possibilitou uma maior proteção aos direitos
fundamentais do menor e possibilitou aos juízes um rol de soluções possíveis mais
amplo do que vinha sendo reconhecido pelos tribunais antes de sua promulgação.

4. CONCLUSÃO

Conclui-se o presente resumo expandido tendo-se demonstrado que sem


dúvida, que a Lei de alienação parental representou um grande passo na
reintegração dos laços afetivos daqueles que estão, por vezes há anos, impedidos
de conviver com seus filhos, por imposições arbitrárias e desmedidas de quem tenha
interesse na destruição de vínculos afetivos essenciais para o desenvolvimento
saudável e equilibrado de seus próprios filhos. Afinal, o direito de convivência do
menor é inalienável e imprescritível.

REFERÊNCIAS

COIMBRA, Marta de Aguiar. Lei da Alienação Parental e a sua eficácia no


ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13376>. Acesso em: 07
de dezembro de 2016.

LEÇA, Laíse Nunes Mariz. Aspectos legais, doutrinários e jurisprudenciais da


alienação parental. Disponível em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10973 >.
Acesso em: 07 de dezembro de 2016.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Parte Geral. 34ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

SILVA, Denise Maria Perissini da. A nova lei da alienação parental. Disponível em: <
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo
_id=9277>. Acesso em 07 de dezembro de 2016.

TARTUCE, Flavio. Manual de direito civil: volume único. 6. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: MÉTODO, 2016.

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