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20º Trator - Imputabilidade
20º Trator - Imputabilidade
IDENTIFICAÇÃO
O presente relatório refere-se à avaliação do examinado Pedro Miguel dos Santos
Ferreira, filho de António Ferreira de Figueiredo e Maria de Lurdes Loureiro dos
Santos, nascido a 13 de novembro de 1990, solteiro, sem profissão, natural e
residente em Lobão da Beira, Tondela.......................................................................
INTRODUÇÃO
A presente perícia foi efetuada a pedido do Exmo. Sr. Juiz de
Direito do Tribunal Comarca de Viseu – Juízo de Competência
Genérica de Tondela, no âmbito do Processo n.º 89/16.0GCTND,
com o seguinte quesito: “exame médico direto para aferir da
imputabilidade”.
Para a elaboração do presente relatório a perita psiquiatra
baseou-se nos dados constantes do Exame Documental e no
Exame
Direto……………………………………………………………………………
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EXAME DOCUMENTAL
O Exame Documental consistiu na consulta dos elementos
processuais tidos por relevantes e facultados pelo Tribunal
Comarca de Viseu – Juízo de Competência Genérica de Tondela –
e pela consulta do processo clínico, após consentimento do
Examinado a fim de solicitar informação clínica relevante, de
acordo com o disposto no artigo 10º da Lei n.º 45/2004, de 19 de
agosto e no artigo 15º do Decreto-Lei n.º131/2007, de 27 de abril...........................
Constam como relevantes para o presente exame:
- Seguimento por Pedopsiquiatria, inicialmente em Coimbra a
título particular e posteriormente no Departamento de Psiquiatria
e Saúde Mental (DPSM). Primeiro internamento no DPSM anterior
a 2007 (acompanhado por Pedopsiquiatra); segundo internamento
em Março de 2007 por comportamento autolesivo e um terceiro
internamento de 22 de Abril de 2016 a 13 de Maio de 2016, com
os seguintes Diagnósticos à data de alta: “Oligfrenia Ligeira,
Perturbação Depressiva Maior Episódio Recorrente e Distúrbio de
Comportamento Ncop”. Da Nota de Alta é possível apurar que: “o
examinado foi levado ao Serviço de Urgência por alterações do
comportamento, choro fácil e ideação suicida, após ter sido
EXAME DIRETO
O Exame Direto consistiu na avaliação clínica do Examinado, Sr.
Pedro Miguel dos Santos Ferreira realizado no Gabinete Médico-
Legal e Forense de Dão Lafões (GML Viseu), no dia marcado, a
19/05/2017.
A título complementar foi também entrevistada a acompanhante,
a Sra. D. Maria de Lurdes Loureiro Santos, mãe do
Examinado………………………………………………………………………
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EXAMES SUBSIDIÁRIOS
Não foram solicitados exames complementares por serem
considerados manifestamente
desnecessários………………............................................................
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AVALIAÇÃO CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA
O examinado não mostrou compreender, de forma esclarecida, o
motivo da presente avaliação, tendo sido esclarecido da mesma.
Da anamnese foi possível apurar que é o segundo de uma fratria
de dois, natural de Lobão da Beira, sem registo de intercorrências
perinatais.
Desenvolvimento psicomotor descrito como com algumas
limitações, predominantemente a nível cognitivo (dificuldades de
aprendizagem no ler, escrever e fazer contas; de acordo com a
informação da mãe “era muito nervoso e não aprendia”). Concluiu
o 9º ano de escolaridade aos 16 anos, no Ensino Especial, após,
pelo menos, 3 reprovações. Nega alterações comportamentais,
DISCUSSÃO CLÍNICO-PSIQUIÁTRICA
De acordo com a Avaliação clínico-psiquiátrica efetuada (numa
perspetiva psiquiátrico-forense) e reunidos os elementos
indispensáveis à apreciação do presente caso, quer em termos de
História Pregressa, quer os apurados pelo Exame Mental
propriamente dito, podemos afirmar que o examinado padece de
uma Debilidade Mental Ligeira a Moderada, enquadrável na
rúbrica F70 10ª Revisão da Classificação Internacional de
Doenças (CID-10) da Organização Mundial de Saúde (OMS)
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Esta perturbação caracteriza-se por um funcionamento intelectual
global inferior à média que é acompanhado por limitações no
funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes
áreas: comunicação, cuidados próprios, vida doméstica,
competências sociais/interpessoais, uso de recursos
comunitários, autocontrolo, competências académicas funcionais,
trabalho, tempos livres, saúde e segurança.
Estas limitações cognitivas dificultam grandemente a capacidade
do examinado estabelecer raciocínios mais elaborados,
nomeadamente a nível da conceptualização abstrata da realidade
(p.e. não interpreta provérbios). Parece, pois, evidente, que a
capacidade da avaliação da licitude e/ou ilicitude dos seus atos se
encontra franca e definitivamente comprometida.
Longitudinalmente, é possível identificar como fator de
agravamento comportamental a perda do pai, de forma súbita,
num acidente presenciado pelo examinado a quem coube prestar
socorro. Era o pai a figura parental que exercia maior e mais
eficaz controlo externo, do ponto de vista comportamental e que
não foi inteiramente assumida pela progenitora
sobrevivente…………………………………………………………………..
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CONCLUSÕES
Pela natureza do seu estado deficitário (em termos de recursos
cognitivos e do funcionamento adaptativo), o Examinado vê
afetada a sua capacidade de avaliar a ilicitude dos seus atos e de
se determinar em função dessa avaliação……………
À data da prática dos factos, o Examinado não possuía a
capacidade de discernimento para avaliar a ilicitude dos seus atos
e, em função desta se
autodeterminar…………………………………………………………………
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Existem assim, motivos de natureza clínico-psiquiátrica para se
invocar a figura da Inimputabilidade, em razão de anomalia
psíquica, à data da prática dos
factos……………………………………………………………………………
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Relativamente à perigosidade é nossa convicção de que o facto de
se encontrar a ser acompanhado em Consultas de Psiquiatria com
boa adesão à terapêutica psicofarmacológica instituída, reduz a
probabilidade de ocorrerem comportamentos ilícitos de natureza
semelhante aqueles por que vem ora
acusado……………………………………………..
VISEU, 19 de junho de 2017