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Reitor Conselho Editorial


Sandro Murilo Santos Dr. Sandro Murilo Santos
Dr. Carlos Emilio Borsa
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Pró-Reitor de Administração MSc. Roberta Tomazi Pires Hinz
Vicente Otavio Martins de Resende MSc. Joici Rescarolli Wilde
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Pró-Reitor de Pesquisa e Dr. Marcelo Teixeira dos Santos
Desenvolvimento Dra. Palova Santos Balzer
Edgar Augusto Lanzer MSc. Joici Rescarolli Wilde

Pró-Reitor Acadêmico
Carlos Emilio Borsa

Gerência de Ensino
Roberta Tomasi Pires Hinz

Editora da Revista
Joici Rescarolli Wilde
A Revista do IST é um veículo
anual de divulgação dos trabalhos
Revisão de Língua Portuguesa acadêmicos nas áreas de Engenharia,
Vania Maria da Conceição Lopes Tecnologia e Computação,
publicada pela UNISOCIESC – Centro
Universitário SOCIESC.
Tiragem: 500 exemplares
Os artigos da revista são avaliados
por 3 avaliadores, sendo 1 professor
Diagramação e Capa: de metodologia científica e 2
Diego do Carmo Carvalho avaliadores ad hoc.

UNISOCIESC - Revista do IST 03


EDITORIAL

A SOCIESC, em 1997, criou o Instituto Superior de Tecnologia - IST para atuar no ensino
superior de graduação e pós-graduação Lato Sensu e Stricto Sensu e formar profissionais
nas áreas de Engenharia, Tecnologia, Educação, Gestão, Informática, Arquitetura e Direi-
to. A projeção de sucesso e reconhecimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão
na comunidade acadêmica consolidou-se em 2013, quando o IST foi credenciado como
Centro Universitário Tupy – UNISOCIESC. Para um melhor posicionamento e reforço da
marca, a denominação da Instituição foi alterada para - Centro Universitário SOCIESC –
UNISOCIESC, em fevereiro de 2015.

A Revista IST, criada em 1999 para disseminar, divulgar, permitir o registro de novos co-
nhecimentos e dar visibilidade às pesquisas científicas produzidas pela comunidade aca-
dêmica, tem em dezembro de 2015 a última edição. Foram dezesseis edições e mais de
15.000 exemplares impressos e distribuídos nas principais universidades do nosso país.
Com a divulgação de resultados na produção de artigos científicos, a revista manteve-se
fiel ao objetivo de “incentivar o desenvolvimento da iniciação científica e da pesquisa nas
áreas de Engenharia, Tecnologia e Informática para os cursos de graduação e pós-gradu-
ação da instituição e de outras instituições.

Com a descontinuidade da Revista IST, porém com o firme propósito de divulgar as pes-
quisas científicas da comunidade acadêmica interna e externa, será lançada a Revista UNI-
SOCIESC no formato digital, em 2016.

A capa desta edição traz as imagens das últimas edições da revista, para relembrar e ho-
menagear todos que fizeram parte da história, nestes 16 anos de existência.

Na edição de novembro foram recebidos vinte e um artigos, provenientes das produções


de alunos da graduação, pós-graduação e de outras instituições de ensino superior. Dos
artigos aprovados, a temática dominante gira em torno de assuntos atuais e relevantes
para a comunidade acadêmica e profissional.

A UNISOCIESC agradece aos autores e professores avaliadores voluntários, a contribuição


valiosa à comunidade acadêmica.

Carlos Emilio Borsa


Pró-Reitor Acadêmico

04 UNISOCIESC - Revista do IST


SÚMARIO

ARTIGO 1: EXPERIÊNCIA DA ELETROBRÁS ELETRONORTE NA


MODERNIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PROTEÇÃO E CONTROLE 06
DA UHE SAMUEL

ARTIGO 2: UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DAS REGRAS DE CHVORINOV


E WLODAWER PARA DISPENSA DA RELAÇÃO EMPÍRICA ENTRE A 17
ALTURA E DIÂMETRO DO MASSALOTE NOS CÁLCULOS PARA SEU
DIMENSIONAMENTO – SOLUÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO DE CARDANO

ARTIGO 3: ESTUDO DA RELAÇÃO MOLAR ENTRE ETANOL : ÓLEO NA


PRODUÇÃO DE BIODIESEL 26

ARTIGO 4: UTILIZAÇÃO DE BIOCONSERVANTE NATURAL PARA INIBIÇÃO


DA CONTAMINAÇÃO POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS EM QUEIJO MINAS 32
FRESCAL

ARTIGO 5: MONTAGEM E AUTOMAÇÃO DE UM BIODIGESTOR


40

ARTIGO 6: EQUIPAMENTO PARA ENSAIO DE FADIGA EM VASOS DE


PRESSÃO 49

UNISOCIESC - Revista do IST 05


ARTIGOS

EXPERIÊNCIA DA ELETROBRÁS ELETRONORTE NA


MODERNIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE PROTEÇÃO E
CONTROLE DA UHE SAMUEL.

Davi Carvalho Moreira 1 A Eletrobrás/Eletronorte (ELB/ELN) pos-


Lidomar Becker 2 sui a concessão da Usina Hidrelétrica de Sa-
muel (UHE Samuel), construída na década de
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apre- 80, com 216 MW de potência nominal que está
sentar os desafios e as soluções encontradas pela situada ao rio Jamari, da bacia hidrográfica do
Eletrobrás Eletronorte na modernização dos Siste- rio Amazonas e sub-bacia do rio Madeira.
mas de Proteção e Controle da Usina Hidrelétrica O projeto da UHE Samuel é da década
de Samuel nas fases de projeto, inspeção e comis- de 1970, tendo o início operacional das unida-
sionamento. Relata a busca por soluções de enge- des geradoras no ano de 1989 e foi conectada
nharia que não causam dependência tecnológica,
ao Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2012.
garantam a interoperabilidade dos sistemas e favo-
Neste mesmo ano a ELB/ELN definiu que have-
recem a uma convivência com diferentes gerações
tecnológicas. São apresentadas as vantagens obti- ria a modernização dos sistemas de proteção
das com a modernização de cada sistema e aborda e controle desta usina devido à necessidade
os fatores que motivaram a realização deste pro- de adequação aos procedimentos de rede do
jeto. A experiência de Eletrobrás Eletronorte mos- Operador Nacional do Sistema (ONS), inexis-
trou que a modernização dos sistemas de proteção tência de sobressalentes para manutenção cor-
e controle, mesmo com uma convivência com di- retiva, encerramento do período de garantia,
ferentes gerações tecnológicas é uma solução van- necessidade de realizar operação remota pela
tajosa financeiramente e não causam transtornos UHE Tucuruí e redução dos custos de operação
à operação e manutenção, desde que sejam bem
e manutenção.
projetadas.
De acordo com Ferreira (2007, p.11) o
Palavras-chave: Modernização, Proteção, Sistema de Proteção, Controle e Supervisão
(SPCS) é constituído por um conjunto de equi-
Controle, Hidrelétrica, Experiência.
pamentos, hardware e software, que está co-
nectado ao Sistema de Energia Elétrica (SEE)
1 INTRODUÇÃO
por meio de equipamentos de medição, pro-
teção, controle e telecomunicações, possibili-
Segundo Silva et al (2011) sabe-se que
tando a supervisão e o controle a distância.
em torno de 72% da capacidade de geração
Conforme informado por Lellys et al
de energia elétrica instalada do Brasil corres-
(2015), atualmente as arquiteturas de SPCS
ponde a centrais hidrelétricas. Geralmente em
implementadas pelas empresas de energia
empreendimentos hidrelétricos considera-se
uma vida útil de 50 anos, seus equipamentos e elétrica no Brasil são na maioria, baseadas
sistemas mecânicos tendem a apresentar pro- na Norma IEC (International Electrotechnical
blemas operacionais e de manutenção a partir Commission) 61850 e baseadas nas arquitetu-
de 30 anos de operação em média e seus equi- ras tradicionais em anel, estrela ou na combi-
pamentos eletrônicos e digitais, podem apre- nação destas duas.
sentar vida útil menor devido à obsolescência
que a evolução tecnológica lhes imprime.

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: davimoreira@eln.gov.br
2
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: lidomar.becker@sociesc.org.br

06 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
Os desafios encontrados para a reali- e automação a utilização da tecnologia digital
zação deste projeto estão relacionados aos baseada na Norma IEC 61850 para a utilização
prazos curtos estabelecidos pelo ONS após a de IED de fabricantes distintos numa mesma
interligação da usina com o SIN e, principal- rede.
mente, motivada pela busca por soluções de Neste contexto que a ELB/ELN elaborou
engenharia que não causam dependência a especificação técnica mantendo as diretri-
tecnológica, principalmente relacionada à de- zes do ONS e inclusões de melhorias relatadas
pendência de protocolos e padrões proprietá- nas experiências anteriores [Modernização do
rios e, ainda garantam a interoperabilidade SPCS da UHE (Usina Hidrelétrica) Curuá-Una,
dos sistemas. UHE Coaracy Nunes e UHE Tucuruí]. A ELB/ELN
Destacam-se também as dificuldades optou por elaborar uma única especificação
encontradas devido à complexidade do em- contendo a contratação dos serviços de proje-
preendimento, sendo que não foi apenas a to, fornecimento de equipamentos e serviços
instalação de novos equipamentos, e sim, a in- de montagens. Destaca-se que esta alternativa
tegração dos sistemas de proteção e controle de especificação/contração se mostrou vanta-
digitais com vários sistemas ainda eletromecâ- josa em relação às alternativas que optam por
nicos e eletrônicos. dividir a especificação/contratação. A Figura 1
Para haver a integração destes siste- apresenta o sistema de proteção anterior.
mas, houve diversas adequações realizadas nos Antes da modernização as proteções,
painéis de comando dos sistemas de excitação, do gerador, do transformador elevador, do
regulação de tensão, regulação de velocidade transformador de excitação e da linha curta,
e sincronismo, para possibilitar a supervisão e eram compostas de equipamentos com tecno-
comandos remotos através de Controlador Ló- logias convencionais eletromecânicas e eletrô-
gico Programável (CLP), como por exemplo: (i) nicas de diversos fabricantes, onde não havia
aumento/diminuição de potência; (ii) aumen- redundâncias das funções.
to/diminuição de tensão; (iii) partida e parada Como benefício da implantação do pro-
da unidade e (iv) permissão para sincronismo. jeto obteve-se o aumento da confiabilidade
Serão descritos neste trabalho as fases do sistema de proteção, devido à redundância
de inspeção em fábrica e comissionamento, de funções de proteção através de apenas dois
onde houve diversas modificações no projeto relés e também o fato de propor a utilização
lógico da Unidade de Controle Digital (UCD) de um único modelo de relé digital que pode
e na Unidade de Proteção Digital (UPD), para ser intercambiável entre unidades geradoras
adequar às necessidades da operação da local. ou entre funções primária e secundária, con-
A experiência de ELB/ELN em proces- forme se observa na Figura 2.
sos de modernização de sistemas de proteção Os relés de proteção que foram insta-
e controle permitiu desenvolver e executar as lados são microprocessados, possuem lógica
atividades deste projeto, alcançando os resul- programável, comunicação por diversos pro-
tados com eficácia. tocolos e se encontram no estado atual da
arte de tecnologia digital. De uma forma ino-
2 ETAPA DE PROJETO vadora optou-se pela utilização, em usina hi-
drelétrica, da Norma IEC 61850 para a rede de
Segundo Pereira Jr. et al (2015), com o proteção, sem que haja nenhum equipamento
surgimento da tecnologia digital, veio a pos- intermediário entre o relé digital e a estação
sibilidade dos sistemas de proteção, controle, de operação, com exceção dos switches para
supervisão e oscilografia se transformarem em realizar a rede de comunicação em anel, con-
equipamentos inteligentes chamado de IED forme mostrado na Figura 3.
(Intelligent Electronic Devices). Já é uma rea-
lidade na rotina dos engenheiros de proteção

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ARTIGOS
Figura 1 – Diagrama Unifilar do Sistema de Proteção (Antes da Modernização)

Fonte: Produção do próprio autor

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ARTIGOS
Figura 2 – Diagrama Unifilar do Sistema de Proteção (Após a Modernização)

Fonte: Produção do próprio autor

UNISOCIESC - Revista do IST 09


ARTIGOS
No sistema de controle, antes da modernização, havia apenas uma Unidade Terminal Re-
mota (UTR) que imprimia os eventos da respectiva unidade geradora e um CLP que não dispunha
de canal de comunicação e realizava basicamente a partida da unidade geradora pelo centro de
comando da usina.
Com a modernização dos controladores lógicos programáveis e a implantação de sistema
supervisório, também no estado atual da arte de tecnologia digital, foi possível obter dados de
supervisão controle e proteção, níveis de alarmes diferenciados, interfaces gráficas de alta defini-
ção, imagens e comandos customizados conforme necessidade da ELB/ELN, atualização da lógica
de partida e parada, implementação de várias outras lógicas inclusive controle conjunto de tensão
e de potência, uma grande capacidade de armazenamento de dados históricos para análise pós-
-operação e consulta ao banco de dados históricos via Internet e Intranet, facilidade na reposição
dos equipamentos e ainda o controle remoto da UHE Samuel através do Centro de Operação da
Geração (COG) localizado na UHE Tucuruí.
Na fase de desenvolvimento de projeto, para as definições dos equipamentos e arquitetura
de rede, buscou-se uma solução de engenharia de forma a garantir a interoperabilidade dos sis-
temas de proteção e controle tendo em vista uma futura modernização dos sistemas de regulação
de velocidade e tensão.
Uma das dificuldades encontradas no desenvolvimento do projeto foi na definição da
arquitetura de rede dos sistemas de proteção e controle. Pela experiência da ELB/ELN, equipamentos
(front-end, gateway, Redbox) que intermedeiam a IED com o sistema supervisório e protocolos
proprietários, têm-se grandes chances de causar dependência tecnológica. Verifica-se na Figura 3,
uma rede de switches em anel simples e cada IED (proteção e controle) ligada em dois switches.

Figura 3 – Arquitetura de Rede

Fonte: Produção do próprio autor

10 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS

Para a rede de proteção foi utilizado Os testes de subsistemas foram realizados em


a Norma IEC 61850 com os protocolos todas as UCD e UPD das unidades geradoras e
Manufacturing Message Specification na UCD do serviço auxiliar, compreendendo:
(MMS) para comunicação com o sistema (i) testes de subida de pontos, incluindo
supervisório e o protocolo Generic Object diagnósticos e falhas; (ii) testes de comando;
Oriented Substation Event (GOOSE) para (iii) testes de lógicas; (iv) verificação de
comunicação com o oscilógrafo. Ressalta-se comunicação, inicialização e energização;
que padronização do modelo de dados dos (v) ensaio nos circuitos de corrente e tensão.
atributos e funções do relé digital (REG670 – Nesta etapa da inspeção ganhou-se tempo
ABB) foi baseada na Norma IEC 61850 com os pelo fato dos testes (i), (ii) e (iii) terem sido
seus agrupamentos em dispositivo lógico, nó realizados por amostragem, ou seja, foi
lógico e objeto de dados. escolhido aleatoriamente 25% dos sinais
Para a rede de controle foi utilizado digitais e analógicos de cada subsistema para
o protocolo Distributed Network Protocol realizar os testes. A ELB/ELN concordou com
Version 3.0 (DNP 3.0) para comunicação com os testes por amostragem, devido ter sido
o sistema supervisório, devido o CLP fornecido realizado em fábrica antes da inspeção, em
(Série Hadron XTORM – Altus) estar em fase uma UCD de unidade geradora e na UCD do
de validação da Norma IEC 61850. serviço auxiliar, a verificação de 100% dos sinais
digitais e analógicos, inclusive verificando sua
3 ETAPA DE INSPEÇÃO EM FÁBRICA respectiva sinalização no sistema supervisório
e simulação de todos os comandos e lógicas
Nas inspeções em fábrica dos sistemas dos sistemas de controle.
de proteção e controle, o padrão da ELB/ELN é
realizar testes elétricos, testes de subsistemas Figura 4 – (a) Painel do Controlador Lógico
e testes de sistemas. Programável (antigo)
Nos testes elétricos de todos os painéis
e placas de montagem foram realizados: (i)
inspeção visual e dimensional; (ii) ensaio de
pintura (espessura e aderência); (iii) verificação
das plaquetas, disposição dos componentes
e placa de identificação; (iv) verificação das
anilhas; (v) ensaio de continuidade e fiação;
(vi) funcionamento dos equipamentos. Os
ensaios de tensão aplicada e resistência de
isolamento foram realizados apenas nos
painéis fornecidos, pois para as placas de
montagem a instalação completa com todas
as fiações nas canaletas e borneiras ocorreu
no comissionamento. Nesta etapa da inspeção
houve retrabalho, por parte do fornecedor,
relacionado à identificação de anilhas e
fiação invertida, sendo normalizadas todas
as não conformidades durante o período de
inspeção. Uma das principais preocupações da
ELB/ELN foram as verificações dos desenhos
dimensionais das placas de montagem, para
que não houvesse modificações quando da
instalação nos painéis existentes.
Fonte: Produção do próprio autor

UNISOCIESC - Revista do IST 11


ARTIGOS
Figura 4 – (b) Painel da Unidade de Controle Nesta etapa realizam-se os seguintes
Digital (novo) testes: (i) teste de sincronismo; (ii) teste de
redundância; (iii) teste de comunicação
com centro remoto; (iv) teste de avalanche.
Esta etapa procurou analisar os recursos
fornecidos e se a arquitetura proposta em
relação aos protocolos de comunicação
atende, na sua totalidade, aos requisitos
técnicos funcionais exigidos pela ELB/ELN.
Nesta etapa, as dificuldades encontradas
foram relacionadas a ajustes nas bases de
dados para o perfeito funcionamento do
sistema.

Figura 5 – (a) Painel dos Relés Proteção


(antigo)

Fonte: Produção do próprio autor

O acompanhamento da confecção de
telas do sistema supervisório, da programação
da lógica da UCD e UPD e a realização dos
testes anteriores à inspeção em fábrica são
atividades que aconselhamos, pois facilitou
e minimizou os trabalhos, sem perda de
qualidade, na fase de inspeção em fábrica
e principalmente agregou conhecimento
teórico e prático dos equipamentos para a
equipe da ELB/ELN.
As últimas etapas da inspeção em
fábrica foram para a realização de testes de
sistemas, também chamado de Certificação
Funcional Integrada (CFI). Estruturou-se
Fonte: Produção do próprio autor
em fábrica uma rede de equipamentos,
semelhante à arquitetura da Figura 3, onde
foram conectadas todas as UPDs, UCDs, IHMs,
um GPS, duas estações de operação, dois
servidores de banco de dados e dois servidores
SAGE. As Figuras de 4a e 4b apresentam
o painel antigo e o novo da unidade de
controle, respectivamente. As Figuras 5a e 5b
apresentam o painel antigo e o novo dos relés
de proteção.

12 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS

Figura 5 – (b) Painel da Unidade de Como exemplo de integração entre sistemas,


Proteção Digital (novo) apresenta-se o caso do sistema de excitação e
regulação de tensão.

4.1 SISTEMAS DE EXCITAÇÃO E REGULAÇÃO


DE TENSÃO

Para a integração do sistema de


regulação de tensão no sistema de controle,
houve a necessidade do envio de informações
analógicas (tensão, corrente e temperatura)
e digitais (estado de disjuntores e proteções)
através de cabos de controle.
Para as grandezas digitais, utilizaram-
se saídas reservas dos relés auxiliares ou
foram acrescentados relés multiplicadores de
contatos para envio das informações ao CLP.
Para as grandezas analógicas, foram utilizados
os sinais dos medidores pertencentes ao painel
local da respectiva unidade geradora, fazendo-
se uma ligação em série com CLP para manter
em funcionamento os medidores analógicos.
Destaca-se que foi possível realizar a ligação
dessa forma, pelo fato de os painéis estarem
Fonte: Produção do próprio autor fisicamente próximos.
Neste projeto, além de toda a supervisão
4 INTEGRAÇÃO ENTRE SISTEMAS dos sistemas de excitação e regulação de
tensão, o sistema supervisório também tem
Fica evidente que um estudo a possibilidade de executar comandos de
minucioso se faz necessário desde o início do aumento/diminuição de tensão e abertura/
projeto de modernização a fim de identificar fechamento da contatora de excitação.
a interdependência dos equipamentos e A solução implementada foi inserir
sistemas, permitindo que os benefícios da no relé auxiliar que efetua o comando do
modernização reflitam as prioridades da usina equipamento uma saída digital do CLP. Esta
(SILVA et al, 2011). adequação prevista no projeto foi simples,
A solução implementada pela ELB/ eficaz e não onerou custos ao projeto (Figuras
ELN para integração entre os sistemas com 6 e 7).
tecnologia convencional e tecnologia digital,
baseou-se na centralização das informações 5 ETAPA DE COMISSIONAMENTO
nos sistemas de proteção e controle de sua
respectiva unidade geradora. Com base no padrão de comissiona-
Foram previstos equipamentos e mento da ELB/ELN, o projeto de comissiona-
arquitetura de rede, para obter uma solução de mento consistiu em: (i) desmontagem e mon-
engenharia que garanta a interoperabilidade tagem de painéis; (ii) lançamento de cabos de
dos sistemas de proteção e controle, tendo força, controle e comunicação; (iii) instalação
em vista que futuramente poderão ser dos equipamentos de supervisão, controle e
modernizados outros sistemas. proteção; (iv) ensaio funcional nos painéis e
placas de montagens; (v) ensaio de perda de

UNISOCIESC - Revista do IST 13


ARTIGOS
comunicação; (vi) ensaio de atuação das proteções; (vii) ensaio de subida de eventos com sincro-
nismo de tempo; (viii) adequação das bases de dados para ONS, SE Samuel e UHE Tucuruí (Co-
mando Remoto).

Figura 6 – Ajuste de Tensão da UGH Figura 7 – Abertura da Contatora de Excitação

Fonte: Desenho SAM-10-15204, 2014

Os desafios importantes deste projeto foram a minimização do tempo de indisponibilidade


da unidade geradora, a compatibilização dos cronogramas com SE Samuel, devido a subestação
também estar sendo modernizada e as adequações realizadas nos painéis para conviver com
diferentes gerações tecnológicas e ainda possibilitar toda a supervisão e comandos remotos
necessários para o telecomando da usina.
Para a minimização do tempo de indisponibilidade, foram realizados diversos serviços com a
unidade em operação. Destaca-se que os serviços executados não causaram desligamento e os riscos

14 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
foram minimizados com um planejamento e va unidade geradora, mesmo tendo que ade-
análise dos desenhos funcionais adequadas. quar o seu cronograma de fornecimento com
Ressalta-se que os sistemas de controle das a contratada.
unidades geradoras já estavam inoperantes, Outro desafio superado nesta fase de
ou seja, a usina estava operando em modo local comissionamento foram os testes de cada ade-
e a desativação do sistema de controle não quação realizada nos painéis de comando dos
causava risco de desligamento. Antes de cada sistemas de excitação, regulação de tensão,
parada de máquina, todos os equipamentos regulação de velocidade e sincronismo para
do sistema de controle foram retirados dos que houvesse uma integração entre os siste-
seus respectivos painéis, foi realizado o mas eletromecânicos e eletrônicos com os sis-
encaminhamento de cabos de comunicação e temas digitais. Cabe ressaltar a importância
ainda foram deixadas próximo ao local todas da fase de projeto, para análise e alterações
as placas de montagens e os novos painéis. nos desenhos funcionais a fim de minimizar o
A instalação dos equipamentos do sis- tempo gasto no comissionamento em que a
tema de supervisão, na sala de operação, foi unidade geradora está indisponível.
realizada sem intervenção nas unidades gera- O sistema de proteção e controle mo-
doras e no início da fase de comissionamento, dernizado está em fase de garantia contratual
pois o próprio sistema supervisório foi utiliza- e sendo avaliado pela equipe da ELB/ELN. Foi
do nesta fase. estabelecido um período de aproximadamen-
O tempo médio de indisponibilidade te 20 (vinte) dias para estabilização dos siste-
das unidades geradoras foi de 30 (trinta) dias, mas de proteção e controle.
destaca-se que neste período houve aprovei- Para a realização deste trabalho utilizou-se
tamento para realização das manutenções de pesquisa exploratória e descritiva a fim
anuais e quinquenais, conforme Programa de de proporcionar maior familiaridade e tornar
Manutenção Planejada (PMP) de cada unida- mais explícito os resultados advindos das ati-
de. Nos equipamentos proteção, a intervenção vidades de retrofit dos sistemas de proteção e
iniciou-se apenas quando da máquina parada controle da UHE Samuel.
e as condições de segurança satisfeitas. Alguns
equipamentos de campo e cabos derivados de 6 CONCLUSÃO
sensores foram reutilizados sob fiscalização
dos funcionários da ELB/ELN. Outra dificulda- Este trabalho abordou de forma
de encontrada na fase do comissionamento abrangente os desafios encontrados na
foi a compatibilização dos cronogramas que modernização dos sistemas de proteção e
envolveram o desligamento da função gera- controle da usina hidrelétrica de Samuel,
ção por parte da usina e do bay de entrada desde o projeto até o comissionamento.
da subestação. Como os serviços foram execu- A UHE Samuel é a quarta usina
tados por empresas diferentes e contratadas hidrelétrica da ELB/ELN com os sistemas
com prazos distintos de entrega de equipa- de proteção e controle modernizados. A
mentos e, levando-se em conta que os desli- experiência adquirida em projetos anteriores e
gamentos de uma instalação afetam a dispo- ainda em manutenção possibilitou estabelecer
nibilidade da outra instalação e que a gestão uma configuração de sistemas que não
de cada instalação é realizada por diferentes causam dependência tecnológica e garantirá
áreas dentro da ELB/ELN, diversas reuniões de a interoperabilidade com futuros sistemas que
planejamento para compatibilizar as datas de serão modernizados.
início e fim de serviço foram realizadas. A área Os adiamentos dos desligamentos
de transmissão da ELB/ELN optou por realizar das unidades geradoras foram motivados
os serviços em bays de entrada da SE Samuel basicamente pelas condições energéticas
quando da indisponibilidade de sua respecti- desfavoráveis do SIN, devido a UHE Samuel

UNISOCIESC - Revista do IST 15


ARTIGOS
ser uma importante fonte de geração para o LELLYS, D., CARMO, U. A., PAULINO, M. E.
estado e Rondônia. C., LIMA, J. C.M., SILVEIRA, G. Perspectiva
A integração das equipes de projeto e de Utilização de Novas Arquiteturas de
manutenção das áreas de geração e transmissão Sistemas Digitais de Supervisão Controle
foi fundamental na fase do comissionamento e Automação em Subestações Totalmente
dos sistemas de proteção, ensaios de comando Digitalizadas. In: XI SIMPASE, Campinas,
de equipamentos e configuração das bases de 2015.
dados.
A convivência com diferentes gerações PEREIRA JR, P. S., DE CARVALHO, M. R.,
tecnológicas se mostrou uma solução vantajosa RAMOS, R., PEREIRA, P. S., MARTINS, C. M.,
financeiramente e não causam transtornos LOURENÇO, G. E. A Evolução dos Esquemas
à operação e manutenção, desde que sejam de Proteção com a Adoção da Norma IEC
bem projetadas. 61850 e o Advento da Interoperabilidade.
Os gastos totais (projeto, equipamento In: XI SIMPASE, Campinas, 2015.
e serviço) com a modernização dos sistemas
de proteção e controle ficaram em torno de SILVA, P. C. O., PADOAN JR, A. C., UEMORI, M.,
4 milhões de reais. Apesar dos consideráveis RIGOLIN, R. C., ALMEIDA K., VASCONCELOS,
gastos iniciais, as vantagens da modernização e R. Fundamentos para a Modernização
o retorno dos investimentos serão observados Completa de Centrais Hidrelétricas. In: XXI
em médio e curto prazo. SNPTEE, Florianópolis, 2011.
Sendo o processo de modernização
um trabalho multidisciplinar e ainda havendo
interação com diversos órgãos (internos e EXPERIENCE OF ELETROBRÁS ELETRONOR-
externos à ELB/ELN), conseguiu-se desenvolver TE IN MODERNIZATION OF PROTECTION
e executar as diversas fases deste complexo SYSTEMS AND CONTROL THE UHE SAMUEL
empreendimento com bastante êxito.
Abstract: This work aims to present the
REFERÊNCIAS challenges and solutions found by Eletrobrás
Eletronorte in the modernization of Power
DE OLIVEIRA, U. R.; RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, Plant Protection and Control Systems of
M. V. Empowerment como ferramenta Samuel in the design phase, inspection and
de gestão de pessoas para a redução commissioning. Tells the search for engineering
dos custos e aumento da eficiência solutions that do not cause technological
operacional: Um estudo de caso em uma dependence, ensure the interoperability of
instituição financeira. In: XXIV ENEGEP, systems and favor coexistence with different
Florianópolis, 2004. technological generations. The advantages
obtained with the modernization of each
ELETROBRÁS ELETRONORTE. Especificação system and addresses the factors that
Técnica SAM-E-CAF-400-1001-ET: Sistema motivated this project are presented. The
de Proteção, Controle e Supervisão – SPCS. experience of Eletrobrás Eletronorte showed
Brasília, 2013. 69 p. that the modernization of protection and
control systems, even with a coexistence
FERREIRA, D. G. Visão Integrada da with different technological generations is
Automação da Operação e Manutenção a financially advantageous solution and do
de Sistemas Elétricos de Potência. 2007. not cause inconvenience to operation and
118 f. Dissertação (Engenharia de Potência) - maintenance, provided they are well designed.
Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.
Keywords: Modernization, protection,
control, hydroelectric, Experience.

16 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS

UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DAS REGRAS DE CHVORINOV E


WLODAWER PARA DISPENSA DA RELAÇÃO EMPÍRICA ENTRE
A ALTURA E DIÂMETRO DO MASSALOTE NOS CÁLCULOS
PARA SEU DIMENSIONAMENTO – SOLUÇÃO ATRAVÉS DO
MÉTODO DE CARDANO

Vinícius Alves Martins 1 dição se mostra como uma alternativa interes-


sante. Ao mesmo tempo, este processo ainda
Resumo: Este trabalho visa realizar um es- se reveste de muitos parâmetros e considera-
tudo comparativo entre o dimensionamento ções empíricas de ordem prática que são ado-
de massalotes, utilizando-se dos Métodos de tadas no “chão de fábrica” do nosso parque
Chvorinov e Wlodawer isoladamente e com- industrial. Fundidores tem que adotar a rela-
parando-os com uma metodologia proposta ção entre altura e diâmetro do massalote de
neste estudo que é a utilização simultânea maneira arbitrária para solucionar seus pro-
dos dois requisitos. Desta forma, o objetivo foi blemas. Neste intuito, este trabalho visa con-
propor uma metodologia analítica de dimen- tribuir para a prática de fundição, reduzindo
sionamento de massalotes de fundição no qual um dos parâmetros empíricos adotados no di-
fosse desnecessária a utilização do parâmetro mensionamento dos massalotes, dispensando
empírico “p”. O método empregado para re- assim a relação numérica entre a altura e o di-
solução da equação problema foi a teoria de âmetro adotada no seu dimensionamento.
Cardano-Tartaglia para solução de equações
polinomiais imperfeitas de grau 3. Os resul- 2 FUNDIÇÃO
tados indicam que ao se utilizar o presente
método, obtém-se valores bem próximos dos Muitos processos são utilizados na fa-
calculados com as metodologias clássicas nor- bricação de peças e estruturas metálicas, po-
malmente empregadas. Conclui-se com isso dendo-se citar: a usinagem, a conformação
que os resultados indicam a dispensa do parâ- mecânica, a metalurgia do pó, a soldagem e a
metro “p” no dimensionamento dos alimen- fundição. Neste trabalho será abordada a fun-
tadores de fundição, todavia, são necessários dição, dando-se ênfase a uma de suas etapas
ensaios práticos para validação da metodolo- que é o sistema de alimentação da peça a ser
gia proposta neste estudo. fundida.
A fundição, segundo Goodway (1996),
Palavras-chave: Massalotes, Dimensiona- é uma tecnologia muito antiga, que data de
mento, Parâmetro “p”, Regras de Chvorinov e períodos pré-históricos, onde o processo con-
Wlodawer, Método de Cardano. siste na obtenção de uma peça por solidifi-
cação de um metal líquido após ter sido aco-
modado em um molde. Este molde possui o
1 INTRODUÇÃO formato e características geométricas da peça
acabada. Sendo assim, após o término da so-
Com a necessidade das empresas em lidificação através do resfriamento, a peça
obter peças cada vez mais complexas e numa fundida apresenta quase a totalidade de suas
velocidade cada vez maior, o processo de fun- propriedades, forma e dimensões finais.

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: viniciusalvesmartins@gmail.com

UNISOCIESC - Revista do IST 17


ARTIGOS
Como todo processo de fabricação, a as quais são conhecidas como microrechupes.
fundição deve ser controlada para que não Para melhor ilustração das frentes de solidifi-
haja problemas no produto final, mas eventu- cação, apresenta-se a Figura 1.
almente eles ocorrem, e um dos defeitos mais
comuns são os Rechupes, os quais por sua vez Figura 1 – Interface Dendrítica inferior e
estão atrelados ao tipo de nucleação da liga Planar superior
metálica utilizada.

2.1 NUCLEAÇÃO E INTERFACES DE


SOLIDIFICAÇÃO

Com a diminuição da temperatura, vão


existir pontos na massa metálica líquida que
atingirão temperaturas de solidificação, isso
faz com que os átomos comecem a se posicio-
nar segundo orientações e arranjos cristalinos
e, a este processo, dá-se o nome de nucleação.
Quando a aglomeração de átomos ocorre por
conta do abaixamento da temperatura do sis-
tema, diz-se que a nucleação é Homogênea, e
quando esta aglomeração ocorre em torno de
um material exógeno ao sistema classifica-se Fonte: Adaptado de NEVES et. ali., 2009
esta nucleação como Heterogênea. Na práti-
ca a nucleação Heterogênea ocorre com mais Pode-se observar na figura acima as
frequência. (BEELEY, 1972) duas interfaces de solidificação. Na parte su-
A interface de solidificação ou também perior da figura a liga metálica possui uma in-
conhecida como frente de solidificação é o en- terface lisa e na inferior ocorre a formação das
contro idealizado entre a massa líquida e mas- dendritas. Estas interfaces estão ligadas aos
sa sólida do metal fundido. Sua morfologia problemas de ocorrência frequente na fundi-
depende basicamente da composição química ção que são os rechupes.
da liga, pois tal composição determina o inter-
valo de solidificação da mesma. A frente de 2.2 RECHUPES
solidificação pode ser de duas maneiras: lisa
ou difusa, sendo que a primeira se divide em Rechupes podem ser definidos como
cavidades irregulares e esponjosas nas peças,
plana ou celular, e a segunda em dendrítica ou
geralmente, vazios formados nos estágios fi-
nucleação independente.
nais da solidificação, e que comumente pos-
Para metais puros, ou ligas com com-
suem cristais dendríticos. São normalmente
posições eutéticas, a interface mostra-se lisa.
observados nos centros das maiores seções da
Para grandes intervalos de solidificações essas
peça fundida, em transições de seções com es-
frentes se apresentam de forma difusa. A for-
pessuras variáveis, mudanças de direções, ares-
mação de rechupes na peça é dada pela inter-
tas e cantos “vivos”, e nos chamados “pontos
face de solidificação difusa.
quentes”. (AFS, ANALYSIS OF CASTING DE-
O rechupe gerado em peças com ligas
FECTS, 1994)
metálicas que apresentam intervalo de soli-
Esses rechupes são causados pela con-
dificação apresentam nucleação dendrítica. E tração do metal líquido e sólido no resfriamen-
neste caso, o rechupe gerado forma-se entre to. A Figura 2 apresenta o comportamento
os braços das dendritas, na forma de peque- real da variação de volume com a temperatu-
nas cavidades espalhadas ao longo da peça, ra na solidificação metálica.

18 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
Figura 2 - Representação gráfica da variação Pode ser observado na Figura 3 uma
volumétrica com a temperatura seção transversal de um massalote ou alimen-
tador, e verifica-se também que a contração
volumétrica ou rechupe ocorreu de forma
concentrada no interior do mesmo. Este tipo
de situação está diretamente ligado ao proje-
to do alimentador.

2.3 ALIMENTADOR

O sistema de alimentação deve ser o


primeiro item do projeto desta fase, pois a de-
finição do sistema de enchimento está atrela-
da ao volume total de carga metálica fundida
necessária ao processo de fundição, o que por
sua vez está relacionado ao volume final da
Fonte: PLUTSHACK, L.A ; SUSCHIL, L., 1996
peça e ao do alimentador.
O alimentador é conhecido também
Pode-se observar na Figura 1, que há
como massalote, trata-se de um componente
uma redução do volume da massa metálica à
que suprirá a peça nos quesitos temperatura
medida que a temperatura diminui e que esta
e volume de material, para que não ocorram
diminuição é mais acentuada no estado líqui- rechupes. Conforme o trabalho de Plutshack e
do, no estado pastoso e sólido, ela ocorre de Suschil (1996), os massalotes são instalados na
maneira menos intensa. fundição para garantir que os rechupes pro-
O rechupe gerado em peças com ligas venientes da contração volumétrica do metal
eutéticas são do tipo concentrado e é gerado não ocorram no interior da peça. Eles funcio-
no local que resfria por último. Para melhor nam como reservatório que irá suprir a de-
ilustração de uma solidificação de liga eutéti- manda volumétrica e de temperatura da peça
ca com rechupe final concentrado no local de fundida.
último resfriamento, é apresentada a Figura 3. Por mais que o material utilizado no
massalote retorne para o forno no início do
Figura 3 - Ilustração de um rechupe concen- processo para ser reaproveitado, percebe-se
trado que houve gasto de energia para sua fundi-
ção, e de material para confecção de modelos,
bem como de moldes para sua utilização. Fica
evidente então que, não basta simplesmente
criar o maior massalote possível para se evi-
tar os rechupes, pois os mesmos gerarão cus-
tos que não estarão agregados ao valor final
do produto, onerando assim todo o processo.
Além disto, grandes alimentadores também
podem gerar distorções, inclusões e até trincas
na peça, e desta forma estar na contramão do
seu objetivo. (PLUTSHACK et al, 1996)
O correto dimensionamento e projeto
desses massalotes resolvem um dos proble-
mas mais comuns na fundição (ANSELMENT,
2005). A Figura 4 apresenta um problema ge-
Fonte: Disponível em: www.ebah.com.br/content/
rado por rechupe no interior de um cubo me-
ABAAAemdgAA/projeto-massalote
tálico.

UNISOCIESC - Revista do IST 19


ARTIGOS
Figura 4 – Seção de uma peça fundida com fica do sistema de alimentação que se iniciou
um problema de rechupe com Chvorinov e prosseguiu com outros pes-
quisadores, entre eles, Robert Wlodawer.
Antes de Chvorinov a definição do
sistema de alimentação era feita de maneira
empírica, e que somente após a proposição
de seu modelo é que o dimensionamento
dos alimentadores foi analisado sobre bases
científicas não empíricas, em que a proposta
se baseava no tempo de solidificação da peça
e do alimentador. A ideia de Chvorinov foi
relacionar o tempo de solidificação à forma
geométrica da peça, relacionando o volume
existente com a área superficial do modelo,
definindo-se assim o módulo da peça. Essa re-
lação numérica dava-lhe informações sobre o
tempo gasto na solidificação, e pode ser ma-
tematicamente entendida através da equação
2.1. (WLODAWER, 1967)

Fonte: Adaptado de ALVES, 2010


(2.1)
Pode-se observar na Figura 4 a seção
transversal de um cubo no qual ocorreu um
rechupe. Este problema é comum quando não A solidificação é considerada um pro-
é feito um correto dimensionamento dos mas- cesso de transferência de calor no qual existe
salotes. a liberação de calor latente na transformação
do estado líquido para o sólido. Esta liberação
2.4 DIMENSIONAMENTO DO MASSALOTE de calor é acompanhada de uma frente de so-
lidificação, que é a fronteira móvel existente
A alimentação de uma peça fundida entre as duas fases termofísicas envolvidas na
significa entre outras palavras, vazar carga fundição. O estudo da cinética da solidificação
metálica suficiente para suprir a variação volu- e a distribuição da temperatura no sistema
métrica existente entre o final do processo de metal/molde é importante para todo o pro-
enchimento e o final da solidificação da peça cesso. (BONOLLO, et ali, 2001)
e massalote. (ANSELMENT, 2005) E neste âmbito, conforme é apresenta-
Para que isto seja possível, é necessário do no trabalho de Garcia (2001), a condução,
determinar qual o volume adicional deve ser a convecção e a radiação são formas de trans-
considerado, bem como, determinar a forma ferência de calor e todas elas estão presentes
geométrica e dimensões do alimentador (re- no processo de fundição. Na busca pela equa-
servatório) e seu correto posicionamento. lização das temperaturas nas trocas térmicas,
Tal tarefa não é simples, e atualmente, ocorre que na interface de solidificação no sis-
existem softwares no mercado que auxiliam os tema metal/molde há uma resistência térmica
projetistas a dimensionarem esses massalotes decorrente do complexo mecanismo de trans-
e também a posicioná-los na peça, conforme ferência de calor Newtoniana.
estudos de gradientes térmicos e conceitos de Nos cálculos que serão apresentados
solidificação direcional. Porém, todos eles se na metodologia deste trabalho, os quais serão
utilizam de conceitos básicos da análise cientí- utilizados para o dimensionamento do mas-

20 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
salote, valendo-se para isso dos modelos pro- Adotando-se algumas simplificações, confor-
postos por Chvorinov e Wlodawer, deparar-se- me apresentado nas equações 3.3 e 3.4, tem-
-á com equações polinomiais de terceiro grau se a equação 3.5.
imperfeitas. Desta forma, julgou-se oportuna
uma breve apresentação de um dos modelos
matemáticos utilizados para resolução deste (3.3)
tipo de problema, que é o Método de Carda-
no.

3 MÉTODO DE CARDANO (3.4)

Este trabalho não tem a pretensão de (3.5)


ser uma base sólida no estudo de equações
polinomiais. Trata-se aqui, de maneira breve
e resumida, do Método de Cardano apenas Adotando-se “y=u+v” e substituindo
como introdução dos conceitos que serão uti- na equação 3.5, tem-se a equação 3.6.
lizados ao longo do desenvolvimento da me-
todologia adotada neste estudo.
As equações polinomiais são aquelas (3.6)
em que se possui uma incógnita a ser desco-
berta através de uma relação algébrica de
igualdade entre números e esta variável. Elas Quando se compara a equação 3.6 com
podem possuir “n” graus, onde este nada mais a equação 3.5, tem-se a equação 3.7.
é que o número do expoente que é aplicado à
incógnita.
(3.7)
3.1 APRESENTAÇÃO ALGÉBRICA DO
MÉTODO

Segundo Garbi (1997), a resolução de Sendo assim, “u³” e “v³” são soluções
problemas do tipo “ax³+bx²+cx+d=0”, onde de uma equação de segundo grau, conforme
a≠0, através da solução deduzida por Carda- afirma Garbi (1997). Desta forma, é conhecida
no-Tartaglia é dada pela divisão de todos os a soma e o produto de suas raízes, a qual é
termos da equação por “a” e pela substituição apresentada na equação 3.8.
de “x” por “y-(a/3)”. A equação 3.1 ilustra a
operação.
(3.8)

(3.1)
Ainda segundo o autor, aplicando-se
a solução de Baskara à equação 3.8 e substi-
Desenvolvendo-se a equação, tem-se a equa- tuindo as duas raízes na equação 3.5, chega-se
ção 3.2. à equação 3.9 que é a solução formulada por
Cadano-Tartaglia.

(3.2)
(3.9)

UNISOCIESC - Revista do IST 21


ARTIGOS
4 METODOLOGIA

Com o objetivo de propor uma meto- (4.3)


dologia alternativa para dimensionamento
de alimentadores utilizados no processo de
fundição, este trabalho se utilizou do Méto- 4.2 APLICAÇÃO DA REGRA DE WLODAWER
do de Cardano para que fosse possível a re-
solução da equação matemática polinomial Neste estudo, utilizou-se a Regra de
de terceira ordem imperfeita, a qual surge da Wlodawer com objetivo de explicitar analitica-
utilização simultânea das Regras de Chvori- mente a altura do massalote (Hm) em função
nov e Wlodawer. Este procedimento propos- do seu diâmetro ( ), rendimento metalúrgico
to no presente estudo elimina a utilização de ( ) do processo e do coeficiente de contração
um parâmetro empírico arbitrário adotado (b) da liga metálica a ser fundida. Desta forma
nas práticas de fundição, chamado de “p”, o obteve-se a equação 4.4.
qual é a relação entre a altura e o diâmetro do
massalote.
(4.4)
4.1 APLICAÇÃO DA REGRA DE CHVORINOV

Com intuito de explicitar o módulo do


massalote em função de seu diâmetro e sua 4.3 UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA DAS
altura, realizou-se o seguinte procedimento REGRAS DE CHVORINOV E WLODAWER
matemático. Iniciou-se pela equação 4.1 que
apresenta o conceito da Regra de Chvorinov, Ao se analisar as equações 4.3 e 4.4,
onde K é um número maior que 1,0, Mm o percebe-se que há uma relação entre elas ex-
módulo do massalote e M o módulo da peça a pressa pela altura do massalote Hm. Sendo
ser fundida. assim, substituindo-se a equação 4.4 na equa-
ção 4.3, tem-se a equação 4.5 que após solu-
(4.1) cionada pelo Método de Cardano permite a
determinação do diâmetro do massalote sem
Sabendo-se que o módulo do alimen- a utilização do parâmetro empírico e arbitrá-
tador pode ser escrito como a relação entre rio “p” .
seu volume e a superfície de troca de calor,
tem-se a equação 4.2 (4.5)

(4.2) Observa-se que na equação 4.5 a única


incógnita é o diâmetro, tendo em vista que o
módulo do massalote, o rendimento metalúr-
Para efeito de cálculo, supõe-se um gico, o coeficiente de contração da liga me-
massalote cilíndrico, lateral e aberto, e uma tálica e o volume da peça a ser fundida são
vez definido seu volume e sua área de troca conhecidos.
de calor e aplicando-os na equação 4.2, tem-
se a equação 4.3 que apresenta o módulo do 4.4 EXEMPLO DE APLICAÇÃO
alimentador em função do seu diâmetro e al-
tura. Neste item será apresentada uma
aplicação do método proposto em uma peça
exemplo para fins de ilustração. E para efei-

22 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
to de comparação, será feita a conta inversa Para achar as raízes basta dividir o poli-
para se determinar um possível novo parâme- nômio da equação 4.6 por x-(-0,3093). A reso-
tro “p” para o método e compará-lo com os lução da equação de grau 2, após a determina-
valores de “p” e os volumes para os alimenta- ção de “y”, será resumida por entender a não
dores, utilizando-se dos Requisitos Térmicos e necessidade de se realizar todos os cálculos
Volumétricos isoladamente. passo a passo neste trabalho. Como raízes des-
Considere uma peça prismática com ta equação, tem-se “-1,7355m”, “0,4545m” e
base quadrada de (350x350)mm² e 550mm de “1,2645m”.
altura que será fundida em molde de areia O primeiro número da raiz foi descarta-
verde, onde serão adotados como coeficiente do, pois não há sentido físico em se ter um di-
de contração da liga metálica o valor de 0,15, âmetro negativo. E o último número também
considerar-se-á o módulo do massalote sendo foi descartado, pois se trata de um diâmetro
40% maior que o módulo da peça (K) e rendi- demasiadamente grande, o que oneraria mui-
mento metalúrgico do processo de 20%. to o processo, fugindo assim do objetivo deste
Calcula-se o volume da peça e sua área trabalho.
de troca de calor, considerando-se todo o seu Desta forma, adotou-se o diâme-
volume e toda sua área superficial, exceto tro para efeito de dimensionamento igual a
pela base do prisma. 400mm. Ao se utilizar este diâmetro na equa-
ção 4.3, obteve-se uma altura para o massalo-
te negativa, a qual foi desconsiderada. Desta
forma, aplicou-se o diâmetro encontrado na
equação 4.4.

Aplicando-se a equação 4.1 e a equa-


ção 4.2 adaptada à peça encontram-se os mó-
dulos do massalote e da peça, respectivamen-
te.
A relação p para metodologia do pre-
sente estudo é de 4 e o volume do massalote
dimensionado desta forma é de 0,201m³.
Utilizando-se do Método de Chvorinov
para resolução do mesmo problema, tem-se:

Nesta etapa encontra-se o diâmetro


necessário para o massalote de maneira que
ele atenda os Requisitos Térmicos e Volumé-
tricos simultaneamente. Isto é feito utilizan-
do-se a equação 4.5 que resume a intenção do
autor neste trabalho, resultando na equação
4.6. Utilizando-se do valor empírico “p”
recomendado pela prática que é um número
entre 1 e 3, tem-se que o diâmetro ficará entre
(4.6) 460mm e 530mm, que a altura do alimentador
oscilará entre 530mm e 1.380mm e o volume
do massalote poderá assumir os valores entre
Aplicando-se a solução matemática 0,117m³ e 0,229m³.
proposta por Cardano-Tartaglia, explícita pela Já para o Método de Wlodawer aplica-
equação 3.9, determina-se o diâmetro. do isoladamente, tem-se:

UNISOCIESC - Revista do IST 23


ARTIGOS
mente menor, sendo compensado pela altura
que por sua vez ficou maior que a calculada
pelos métodos clássicos. O volume por sua vez
é praticamente igual ao obtido com a Método
de Wlodawer e está compreendido no inter-
valo do volume calculado com o Método de
Chvorinov.

Utilizando-se do valor empírico “p” 6 CONCLUSÃO


recomendado pela prática que é um número
entre 1 e 3, tem-se que o diâmetro ficará entre O autor, através do presente traba-
440mm e 640mm, que a altura do alimentador lho, propôs uma metodologia algébrica para
oscilará entre 640mm e 1.320mm e o volume o dimensionamento dos alimentadores para
do massalote será igual a 0,202m³. sistemas de fundição lançando mão de uma
formulação matemática para resolver proble-
5 RESULTADO mas de equações polinomiais imperfeitas de
grau 3. E desta forma, não utilizando a rela-
Como resultado deste estudo, apresen- ção empírica entre a altura e o diâmetro do
tou-se uma equação que determina o diâme- massalote comumente utilizada na prática de
tro do massalote através da utilização simul- fundição.
tânea dos Métodos Chvorinov e Wlodawer, e Os resultados apresentados neste arti-
desta forma, podendo-se dispensar a adoção go mostram que os valores encontrados pelo
da relação empírica entre a altura do massa- método proposto se aproximam dos valores
lote e seu diâmetro, comumente chamada de calculados através da utilização dos Requisi-
“p” na prática de fundição. Esta formulação tos Térmicos e Volumétricos aplicados isolada-
foi apresentada na metodologia e é explicita mente. Este fato pode indicar que o parâme-
através da equação 4.5. tro “p” adotado normalmente nas fundições
Além do mais, com o objetivo de se pode ser dispensado.
realizar um estudo de caso para utilização Conclui-se desta forma, que a metodo-
de tal formulação, foi apresentado a aplica- logia proposta neste trabalho é um indicativo
ção da equação 4.5 a um problema comum de para que seja descartada a relação empírica
fundição, bem como foi realizado o mesmo entre a altura e o diâmetro do massalote nos
problema através dos Métodos de Chvorinov cálculos utilizados para seu dimensionamen-
e Wlodawer separadamente, para os quais o to. Todavia, o autor alerta para a necessidade
resultado é apresentado abaixo na Tabela 1. de se realizar ensaios práticos para verificar na
realidade física este fato. Pois somente após
Tabela 1 – Resultados do dimensionamento exaustivos ensaios para verificar que os novos
do alimentador valores propostos também garantem a sani-
dade da peça fundida, deixando-a livre de re-
chupes, é que o método pode ser validado por
completo.

Fonte: Produção do próprio autor

Observa-se através da Tabela 1 que o


método proposto chegou a resultados próxi-
mos aos obtidos com metodologias clássicas,
onde o diâmetro do massalote ficou ligeira-

24 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
REFERÊNCIAS SIMULTANEOUS USE OF THE RULES CHVORI-
NOV AND WLODAWER FOR SUPPLY OF EMPI-
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Casting Defects. American Foudrymen’s So- AND DIAMETER MASSALOTE THE CALCULA-
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GH THE METHOD CARDANO
ALVES, L. H. D. Utilização do método de Taguchi
na modelagem e otimização de vazios relacio- Abstract: This paper aims to conduct a comparati-
nados à solidificação em processo de fundi- ve study between the sizing massalotes, using the
ção de aço ABNT 1030. Tese (Doutorado), Univer- Chvorinov methods and Wlodawer alone and com-
sidade Estadual Paulista, 2010, Guaratinguetá – SP. paring them with a methodology proposed in this
study is the simultaneous use of two requirements.
ANSELMENT, R. E. Estudo do critério de Nyama Thus, the goal was to offer an analytical methodo-
na formação de porosidade em fundidos de logy casting massalotes sizing in which it was un-
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Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de method used to solve the problem equation was
São Carlos, 2005, São Carlos – SP. the Cardano-Tartaglia theory for solving polyno-
mial equations degree of imperfect 3. The results
BEELEY, P. R. Foundry Technology. London: But- indicate that when using this method, you get very
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thods usually employed . It follows from this that
BONOLLO, F.; ODORIZZI, S. Numerical Simula- the results indicate a waiver of the parameter “p”
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UNISOCIESC - Revista do IST 25


ARTIGOS

ESTUDO DA RELAÇÃO MOLAR ENTRE ETANOL:ÓLEO NA


PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Alessia P. Araújo 1 utilizada, mudanças no processo de produção


Carlos A. K. Gouvea 2 são necessárias, pois as características físicas e
Adriana E. da Costa 3 químicas do produto serão diferentes (KNO-
Janaina Karine Andreazza 4 THE et al., 2006).
O biodiesel teve grande ascensão de-
Resumo: O biodiesel é um combustível biode- corrente da preocupação com a escassez de
gradável com origem de fontes renováveis e combustíveis derivados do petróleo, ganhan-
pode ser obtido por diversos processos, como do destaque no Brasil a partir de 1970, onde se
craqueamento ou transesterificação. O pre- criou o Pró-óleo – Plano de Produção de Óleos
sente trabalho buscou encontrar as melhores Vegetais para Fins Energéticos, originado de
relações molares para a produção do biodie- uma crise do petróleo da época. Desde aquele
sel, variando a relação molar álcool: óleo em momento o biodiesel passou por uma desace-
diferentes condições de adição de catalisador leração e, atualmente, tem a obrigatorieda-
básico: preparado no meio reacional, na vés- de de ser adicionado ao diesel 5% e, a partir
pera e in situ. Como resultado, a relação molar de 2013, determinado pela Lei 11.097/2005, a
de excesso de etanol em 24:1 de óleo de soja introdução de 5% de biodiesel sobre o diesel
virgem foi à que se mostrou melhor para pro- (CHING E RODRIGUES, 2006).
duzir biodiesel nas condições predetermina- Para produção do biodiesel duas ro-
das pela ANP, indiferentemente do momento tas tecnológicas são amplamente difundidas
da preparação do catalisador, na temperatura e conhecidas, dentre elas, as mais utilizadas
de 70ºC no tempo de 2 horas. são a transesterificação e o craqueamento ca-
talítico. O termo transesterificação é utilizado
Palavras-chave: Biodiesel. Catálise básica. quando o método envolve uma catálise ácida,
Rendimento de reação. básica ou enzimática, pois há uma dupla troca
de acilgliceróis em ésteres de ácidos graxos. É
comum a reação acontecer em temperaturas
1 INTRODUÇÃO próximas de 45 a 60 °C (COSTA E OLIVEIRA,
2006).
O biodiesel é um biocombustível, as- Em geral, são utilizados álcoois de ca-
sim denominado pelo caráter renovável, de deia curta, como o álcool metílico e etílico, por
origem vegetal ou animal e tem um impor- permitirem a formação de um alcóxido reativo
tante papel no aumento na oferta de energia quando em contato com a base. A substituição
no Brasil e no mundo. O biodiesel pode ser do metanol pelo etanol por ser menos tóxico
produzido de uma grande variedade de ma- e por ser obtido a partir de fontes renováveis
térias-primas, que podem ser a maioria dos no Brasil. Quanto aos óleos, são triglicerídeos
óleos vegetais, gorduras de origem animal e formados, principalmente, por cadeias insatu-
também óleo de fritura usado. Dependendo radas, quando de origem vegetal (FERRARI et
da origem e da qualidade da matéria-prima al., 2005).

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: penaaraujo@gmail.com
2
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: gouvea@sociesc.org.br
3
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: aelcosta@sociesc.org.br
4
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: janaina.andreazza@sociesc.org.br

26 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
A reação de transesterificação é rea- Verifica-se na literatura que existem trabalhos
lizada na presença de catalisadores ácidos, em que a obtenção do biodiesel é feita com a
básicos ou enzimáticos, com as rotas com ca- produção do alcóxido na véspera, outros com
talisadores básicos sendo as mais estudadas, a produção momentos antes da adição do
embora a utilização de catalisadores ácidos fa- alcóxido sobre o óleo quente e adicionando
voreça uma menor produção de sabões, com álcool e hidróxido de sódio diretamente no
óleo, gerando o alcóxido in situ (FROEHNER
retirada da água em excesso no começo do
et al., 2007).
processo (FROEHNER et al., 2007). Assim, faz-se necessário estudar dife-
O catalisador básico reage com o me- rentes relações molares de etanol:óleo para
tanol ou etanol e forma alcóxido, que ataca que o rendimento da reação seja aumentado,
as carbonilas dos glicerídeos, formando novos bem como o tempo e temperatura possam ser
ésteres de cadeia menor. O rendimento da re- otimizados.
ação aumenta quando é utilizado um excesso O objetivo geral da pesquisa é o estu-
estequiométrico do agente de transesterifica- do de diversas relações molares etanol:óleo
ção (alcóxido) e também com a otimização de e a consequente avaliação do rendimento da
outros fatores como temperatura e agitação reação. Para atingir os objetivos do trabalho
(MILINSK, 2007). serão necessárias a realização das seguintes
O consumo desse combustível alter- etapas:
nativo é crescente e estimulado por políticas • Testar a transesterificação nas seguin-
tes relações etanol: óleo 6:1, 12:1 e 24:1;
públicas, demandando aporte de tecnologia
• Testar a transesterificação nas seguin-
para aumento da eficácia na reação. A reação tes condições de produção do alcóxido: no
de transesterificação realizada somente com dia, na véspera e in situ;
ácido demanda um tempo reacional longo, • Determinar a cinética da reação utili-
assim como elevadas temperaturas. A energia zando a razão molar etanol: óleo 12:1.
tem um custo elevado e, a possibilidade de
condução da reação em temperaturas meno- 2 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
res é favorável financeira e ambientalmente.
De igual modo, o tempo de reação é impor- Foram realizados ensaios de produção
tante para o aumento da produção e também de biodiesel com óleo de fritura usado e eta-
para economia de energia (LOPES, 2008). nol, catalisado com hidróxido de sódio, utili-
Lopes (2008, p.30) estudou algumas zando-se o ácido etanodióico (ácido oxálico)
como ativador da carbonila, A avaliação do
variáveis de processo na produção e na pu-
rendimento de cada reação de transesterifi-
rificação do biodiesel de soja via rota etílica, cação foi feita através do volume de biodie-
avaliando principalmente as relações volu- sel obtido. A variável em estudo é a relação
métricas de 1:4 e 1:10 de óleo e etanol, res- álcool/óleo, além dos demais parâmetros re-
pectivamente. Como resultado, o rendimento acionais como tempo de preparo do alcóxido
da reação diminui 8,25%, em média, quando e tempo de reação também sofrem variação
a temperatura foi inferior a 70 ºC e aumen- durante o processo de produção de biodiesel.
tou 17% quando a razão molar óleo de soja/
etanol passou de 1:4 para 1:10. Observou 2.1 PRODUÇÃO DO ALCÓXIDO
também um aumento médio no rendimento
de 12,25% quando a concentração de NaOH O alcóxido (produto da reação do eta-
passou de 0,5% para 1,5%, porém esse pes- nol com hidróxido de sódio) foi produzido em
três condições; na véspera, no dia e in situ,
quisador encontrou aumento de apenas 1%
com o objetivo de determinar qual apresen-
quando o tempo de reação foi elevado de
ta a melhor eficiência e maior rendimento da
0,5h para 2h. reação. Esse catalisador foi utilizado na con-
centração de 1% em relação a massa de óleo,

UNISOCIESC - Revista do IST 27


ARTIGOS
tendo sido utilizados diferentes volumes de etanol, nas razões de etanol:óleo de 6:1, 12:1 e 24:1.
Sua preparação ocorreu com 15 minutos de agitação a 60ºC, nos casos onde sua preparação foi
feita em separado, externa ao óleo.

2.2 PRODUÇÃO DO BIODIESEL

Foram produzidos biodiesel nas relações molares etanol:óleo de 6:1, 12:1 e 24:1, tendo
como base 225mL (250g) de óleo de soja usado (874,6g/mol), na temperatura de 70ºC, agitando
por 120 minutos.
Após a produção do biodiesel foi extraído o excesso de etanol não reagido com o uso de
um rotoevaporador. Com as razões molares apresentadas acima, foi calculado o rendimento pela
Equação 1 e realizada a caracterização do biodiesel produzido através da técnica de cromatogra-
fia gasosa, de acordo com a norma UNE-EN14103:2003.

Rendimento = volume de biodiesel / volume inicial de óleo x 100 (1)

Após serem encontrados as melhores condições da reação em relação às razões molares


etanol:óleo e a condição de preparação do alcóxido, foram realizados testes com variação do tem-
po, 15, 30, 60 e 120 minutos de reação. Após essa etapa, foi feita uma curva cinética da mesma. A
determinação do teor de éster foi realizada por cromatografia em fase gasosa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As reações de transesterificação utilizando diversas relações etanol: óleo foram executa-


das, correlacionando com as condições de obtenção do alcóxido; in situ, na véspera e no dia, no
tempo de 120 min, estando os resultados apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultados das Reações de Transesterificação

Fonte: Produção do próprio autor

28 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
Em relação às condições de preparação do alcóxido, observa-se que a condição de prepara-
ção do alcóxido in situ não é recomendável, pois por diversas vezes houve formação de emulsão
do óleo na fase polar formada, impedindo a separação dessas, prejudicando assim o processo para
a produção do biodiesel. Também é possível observar que, apesar das diferenças de volume de
biodiesel produzido com o alcóxido preparado na véspera e preparado no dia serem pequenas,
parece ser mais vantajoso utilizar o alcóxido produzido no dia. Esta afirmação é baseada no volu-
me de biodiesel obtido, pois este é maior do que em relação às outras condições testadas.
As densidades do biodiesel acima de 0,89 g/cm3 é um indício de que ainda tem presença
de óleo não transesterificado. Assim, entende-se que somente nas relações etanol: óleo de 12:1 e
24:1 a reação apresentou conversão acima de 90%. O resultado encontrado para a razão molar de
12:1 corrobora o trabalho de Kucek (2004, p.58).
Observando os resultados obtidos em relação às diferentes razões molares utilizadas, é
possível verificar que a relação etanol: óleo 6:1 não leva a produto que atenda ao definido pela
RN 17da ANP (Agência Nacional do Petróleo) na Lei nº 11.097, resultado também encontrado por
Kucek (2004). A relação de 24:1 mostrou mais favorável, uma vez que esta obteve teor de ésteres
acima de 96,5%.
A condição de razão 12:1 é adequada porque em comparação à preparação do alcóxido na
véspera houve um aumento em 15% no volume de biodiesel produzido com um teor de ésteres
de 98,1 %. É possível ainda afirmar que o teor de biodiesel obtido nas condições de alcóxido pro-
duzidos na véspera ou no dia são praticamente iguais, com variações próximas a 1%, para mais
ou para menos. Por essa razão e também por praticidade, os ensaios para obtenção da curva de
cinética da reação foi realizada com o alcóxido feito no dia, com os resultados obtidos estão dis-
postos na Tabela 2.

Tabela 2 – Resultados das Reações de Transesterificação 12:1 com Variação do Tempo

Fonte: Produção do próprio autor

A realização dos testes, utilizando a razão molar etanol: óleo de 12:1 permite obter a ciné-
tica da reação (Figura 1).

UNISOCIESC - Revista do IST 29


ARTIGOS
Figura 1 - Cinética da transesterificação na ANP de 96,5%, uma vez que a densidade en-
razão molar 12:1 contrada estava sempre atendendo a norma,
mesmo nas amostras que tiveram teor de éster
abaixo da especificação. A condição de razão
molar etanol: óleo de 12:1 mostra-se a mais
vantajosa por atender a especificação de teor
de éster formado e necessitar menos energia
para extração do excesso de etanol não rea-
gido. Por fim, a curva de variação do teor de
éster versus o tempo atende a uma cinética de
segunda ordem.

REFERÊNCIAS
Fonte: Produção do próprio autor AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO - ANP.
Resolução ANP Nº 7, de 19.3.2008 – DOU
A partir dos dados da Figura 1, ajus- 20/03/2008. Disponível em: <http://nxt.anp.
tou-se um polinômio aos dados, encontrando gov.br/NXT/gateway.dll/leg/leis/2005/lei%20
como valor de coeficiente de determinação 11.097%20-%202005.xml?f=templates$fn=-
muito próximo a 1,0: default.htm&sync=1&vid=anp:10.1048/enu>.
Acesso em: 30 jun 2015.
y = -0,0072x2 + 1,7058x - 2,8407 R² = 0,9974
CHING, W. H.; RODRIGUES, C. W. Cartilha Se-
Pelo fato do coeficiente de determina- brae Biodiesel. Rio de Janeiro: Sebrae, 2006.
ção satisfazer o polinômio, entende-se que o Disponível em: <http://www.biodiesel.gov.br/
ajuste próximo a 1,0 é satisfatório, sendo pos- docs/Cartilha_Sebrae.pdf>. Acesso em: 14 jun
sível admitir uma cinética de segunda ordem, de 2015.
ou seja, a concentração de ambos reagentes
influencia na velocidade da reação. COSTA, B. J.; OLIVEIRA, SONIA M. M. Produ-
ção do Biodiesel. Paraná: Tecpar, 2006. Dis-
4 CONCLUSÃO ponível em: <www.respostatecnica.org.br>.
Acesso em: 03 jun 2015.
Após a realização do estudo sobre as
diversas razões molares entre etanol: óleo e a FERRARI, R.A., OLIVEIRA, V.S., SCABIO, A. Bio-
melhor condição de preparação do alcóxido, diesel de soja – taxa de conversão em
concluiu-se que a utilização das relação eta- ésteres etílicos, caracterização físico-quí-
nol: óleo de 12:1 e 24:1 permitem obtenção mica e consumo em gerador de energia.
de biodiesel de modo a atender as exigências Química Nova, Vol. 28, No 1, 19-23, 2005.
da ANP (>96,5%). As condições de preparação
do alcóxido, apesar de não alterarem subs- FROEHNER, S., LEITHOLD, J; LIMA JR, L. F. Tran-
tancialmente os resultados, atestou-se que a sesterificação de óleos vegetais: carac-
preparação do alcóxido in situ pode compro- terização por cromatografia em camada
meter a separação das fases. Também é possí- delgada e densidade. Química Nova, Vol.
vel afirmar que a determinação da densidade 30, No. 8, 2016-2019, 2007.
do biodiesel não é um parâmetro capaz de
garantir que a esterificação foi completa ou KUCEK, K. T. Otimização da Transesterifica-
que o teor de éster atende a especificação da ção Etílica do Óleo de Soja em Meio Al-

30 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
calino, Dissertação de Mestrado do Programa STUDY OF ETHANOL:OIL MOLAR RATIO
de Pós-Graduação em Química, Departamen- FOR BIODIESEL PRODUCTION
to de Química do Centro de Ciências Exatas
da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: Abstract: Biodiesel fuel is a biodegradable
Biblioteca Central – UFPR, 2004. from renewable source and can be obtained
by various processes, such as cracking or tran-
LOPES, A. C. O. Estudo das Variáveis de sesterification. The aim of this study is to find
Processo na Produção e na Purificação do the best molar ratio for the biodiesel produc-
Biodiesel de Soja Via Rota Etílica. Disserta- tion, varying the alcohol:oil molar ratio un-
ção de Mestrado, Programa de Pós-Graduação der different conditions of addition of basic
em Engenharia Química, Universidade Federal catalyst: prepared in the reaction medium, on
de Alagoas. Maceió: Universidade Federal de the eve and “in situ”. As a result, the molar
Alagoas, 2008. ratio of ethanol excess for virgin soybean oil,
24:1, was the one that showed the best results
KNOTHE, G.; GERPEN, J. V.; KRAHL, J.; RAMOS, for producing biodiesel in the conditions pre-
L. P. Manual de Biodiesel. Blucher: São Pau- determined by ANP, regardless of the prepa-
lo, 2006. ration time of catalyst, at 70 °C and 2 hours of
reaction time.
MILINSK, M. C. Análise Comparativa entre
Oito Métodos de Esterificação na Deter- Keywords: Biodiesel. Basic catalysis. Yield re-
minação Quantitativa de Ácidos Graxos action.
em Óleo Vegetal. Tese de Doutorado, Pro-
grama de Pós-Graduação em Química, Depar-
tamento de Química do Centro de Ciências
Exatas da Universidade Estadual de Maringá.
Maringá: Biblioteca Central – UEM, 2007.

UNISOCIESC - Revista do IST 31


ARTIGOS

UTILIZAÇÃO DE BIOCONSERVANTE NATURAL PARA INIBIÇÃO


DA CONTAMINAÇÃO POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS EM
QUEIJO MINAS

Karine de Queiroga Bucholdz 1


direto o bioconservante também se mostrou
Glicia Gabriela Vieira 2 extremamente eficiente, sendo possível até
mesmo eliminar totalmente a contaminação
Resumo: O queijo minas frescal é um produ- quando em utilização mais diluída.
to extremamente perecível e em sua maioria
feito de maneira artesanal. Com isso, surge a Palavras-chave: Bioconservante. Bacterioci-
necessidade de se implantarem meios para au- nas. Queijo minas frescal. Staphylococcus au-
mentar a sua conservação e, dessa forma, im- reus.
pedir a proliferação de microrganismos, pois
estes são causadores de intoxicações alimen- 1 INTRODUÇÃO
tares que, dependendo da quantidade de sua
ingestão, em alguns casos pode levar à morte. Hoje, existem grandes problemas quan-
Os bioconservantes surgem como aliados no to à contaminação por microrganismos nos
combate dessas bactérias. São produtos natu- alimentos que podem causar grandes intoxi-
rais e que não afetam as características orga- cações, alergias e em muitos casos podem até
nolépticas do alimento, produzindo bacterio- causar mortes (FURTADO, 2010).
cinas que possuem ação bacteriocida capazes Dessa forma, para proteger os alimen-
de diminuir ou até mesmo inibir a contamina- tos quanto à ação dessas bactérias, são neces-
ção por microrganismos patogênicos e ainda sárias substâncias para aumentar a durabilida-
proteger os alimentos de possíveis contami- de e a segurança desses produtos alimentícios
nações. Em estudos a bacteriocina nisina foi com função de manter ou modificar o seu sa-
capaz de inibir microrganismos Gram-positivo, bor, ou ainda, mudar a sua textura. Nessa cate-
desta forma, neste trabalho, foram utilizadas goria se encontram os conservantes químicos,
bacteriocinas proveniente de 4 diferentes ce- também conhecidos como aditivos químicos
pas de lactobacilos, fermentados em melaço (EVANGELISTA, 2008).
de soja. Esta pesquisa teve como objetivo fa- Os produtos alimentícios, mesmo com
bricar artesanalmente o queijo minas frescal, pequenas doses de aditivos, não têm controle
sem o auxílio de qualquer tipo de conservação de ingestão e o seu consumo exagerado ele-
e testar a quantidade necessária do biocon- va a dose mínima permitida de conservantes,
servante para inibir o Staphylococcus aureus e agravando o problema com intoxicações ali-
analisar a eficiência do mesmo via método di- mentares, ao considerar que muitos produtos
reto e indireto. Através dos testes realizados, não contém um só, porém vários aditivos, que
o bioconservante apresentou-se eficiente con- com diferentes ações, poderão somar maiores
tra o Staphylococcus aureus, quando utilizado transtornos (EVANGELISTA, 2008).
na proporção de 0,4% de aplicação, reduzin- Os consumidores têm se preocupado
do em 61% a sua contaminação quando anali- cada vez mais com a saúde, valorizando os
sado pelo método indireto. Já para o método produtos naturais e buscando benefícios atra-

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: karine.buchholdz@sociesc.org.br
2
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: gabrielavieiraas@gmail.com

32 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
vés do consumo de alimentos nutritivos, mini- -primas. A contaminação nos alimentos acon-
mamente processados e menos artificiais. Com tece também por sua composição química,
isso existe a necessidade de substituir esses dessa forma carboidratos, lipídeos, vitaminas,
conservantes químicos, por conservantes na- sais minerais e diversos componentes presen-
turais, que garantam a mesma qualidade do tes nos alimentos faz com que cada um destes
produto a ser consumido (FURTADO, 2010). determine as características do tipo de micror-
Existem muitos agentes causadores de ganismo capaz de se desenvolver no produto
contaminação nos alimentos, que resultam (EVANGELISTA, 2008).
em sua alteração ou modificação, um grande Conhecer esses elementos que afetam
contaminante é o Staphylococcus aureus, que o crescimento microbiano e que facilitam a
é comumente encontrado nas fossas nasais, na contaminação é de extrema importância para
garganta e na pele dos seres vivos (EVANGE- que o controle adequado seja realizado, evi-
LISTA, 2008). Algumas das infecções causadas tando assim, a proliferação, ou então, dimi-
por esse microrganismo são agudas e podem nuição destes meios, a níveis aceitáveis, des-
disseminar para diferentes tecidos provocan- de que esses não gerem problemas à saúde
do focos metastáticos. Episódios mais graves, humana. Logo, esses fatores são divididos em
como bacteremia, pneumonia, osteomielite, intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínse-
endocardite, miocardite, pericardite e menin- cos medem a atividade de água (Aa), o pH, o
gite, também podem ocorrer (ANVISA, 2007). potencial de oxirredução, a composição dos
Devido aos perigos em relação a esse alimentos e substâncias antimicrobianas natu-
microrganismo e também quanto ao uso de ralmente presentes. Já os fatores extrínsecos
aditivos químicos, faz-se necessário um estudo estão associados à temperatura de armazena-
mais aprofundado de como um bioconservan- mento, umidade relativa, presença e concen-
te natural atua sobre este contaminante e se tração de gases e competição de microrganis-
este age com a eficácia esperada. O produto mos (ANDRADE, 2008).
escolhido para a realização do experimento As mudanças que frequentemente
foi o queijo minas frescal, por ser um alimen- ocorrem no processamento dos alimentos, fa-
to muito perecível, com um prazo de vida útil zem com que ainda haja a ocorrência de um
pequeno e fácil contaminação desses micror- número elevado de surtos e de casos de do-
ganismos, principalmente por ser fabricado de enças por intoxicações, pois a maneira como
maneira artesanal. isso é feito, e a grande procura de alimentos
Dessa forma, neste trabalho, foram uti- industrializados promovem uma preocupação
lizadas bacteriocinas proveniente de um mix com o controle microbiológico (ANDRADE,
de lactobacilos, fermentados em melaço de 2008).
soja. Esta pesquisa teve como objetivo fabricar Através da ingestão dos alimentos, os
artesanalmente o queijo minas frescal, sem o indivíduos estão suscetíveis a ingerir toxinas
auxílio de qualquer tipo de conservação e tes- microbianas, sendo a principal forma de con-
tar a quantidade necessária do bioconservan- taminação através de microrganismos, com
te para inibir o Staphylococcus aureus e anali- isto, cabe demonstrar os principais patógenos
sar a eficiência do mesmo via método direto e responsáveis por intoxicações e infecções hu-
indireto. manas.
O Staphylococcus aureus é o principal
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA agente responsável pela intoxicação estafilo-
cócica, que ocorre devido à ingestão de ali-
Os principais veículos de contamina- mentos que apresentam toxina pré-formada,
ção são constituídos pelo homem, animais, este pertence à classe dos microrganismos que
insetos, pássaros, ratos, mamíferos, pescados, podem contaminar os intestinos (ANDRADE,
aves, água contaminada, utensílios e matérias- 2008).

UNISOCIESC - Revista do IST 33


ARTIGOS
Existem duas classes de microrganis- Como as mãos são os membros mais
mos, os Gram-positivo e os Gram-negativo, utilizados na produção de alimentos, o nível
cuja diferença está na sua estrutura celular, de contaminação por Staphylococcus aureus
onde Gram positivas possuem uma espessa torna-se muito alto, devido à facilidade de
camada de peptideoglicano e as Gram nega- contaminação por meio destas (EVANGELISTA,
tivas possuem uma camada delgada de pep- 2008). Este patógeno é um dos principais res-
tídeoglicano e uma membrana externa lipí- ponsáveis pelos surtos de doenças transmissí-
dica, conforme demonstrado na Figura 1. O veis por alimentos. O que causa as intoxicações
Staphylococcus aureus se encontra na classe alimentares são as enterotoxinas produzidas
dos Gram-positivo e se apresenta na forma de pelo microrganismo (CIÊNCIA E TECNOLOGIA,
cocos em pares. É anaeróbico facultativo e se 2013).
desenvolve numa variação de temperatura de Os alimentos que geralmente são alvo
70C a 480C, a faixa de risco que é onde ocor- desse tipo de intoxicação estafilocócica são
as carnes de bovinos, suínos, aves e seus de-
re a produção das enterotoxinas, ocorre entre
rivados e também ovos. Tem-se também, leite
100C e 460C, acontecendo o maior desenvol-
e seus derivados, como os queijos cremosos,
vimento delas entre 400C e 450C. Em sua me-
bem como outros produtos derivados, como
lhor fase a enterotoxina é detectada em 4 a 5h
sanduíches, saladas de atum, doces recheados
(ANDRADE, 2008). com creme, chocolates e outros são geralmen-
te encontrados em surtos da doença. Os sinto-
Figura 1- Parede celular das bactérias gram- mas aparecem muito rapidamente após a in-
negativas e gram-positivas gestão, em forma de náuseas, vômitos e dores
abdominais (ANDRADE, 2008).
A toxina é termo resistente, mesmo a
100ºC por 30 minutos. Uma dose de toxina
menor que 1,0µg já produzirá os sintomas
de intoxicação e este nível de toxina é atin-
gido quando a população de S. aureus atinge
105UFC/g (CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2013).
A manipulação dos alimentos sem a
devida higienização é absolutamente con-
traindicada, principalmente quando o alimen-
to for muito perecível, como cremes, pescados
Fonte: Fox (2010) e preparações a base de ovo (EVANGELISTA,
2008).
Staphylococcus aureus está presente na Com as diversas formas de contamina-
maioria dos indivíduos em suas fossas nasais, ção existentes devido aos tipos de embalagens
na garganta e na pele; esse germe é capaz de e procedimentos de processamento, a utiliza-
se fixar nas camadas profundas da epiderme, ção de conservantes representa para a fabrica-
localizando-se nos folículos pilosos, onde ins- ção de produtos alimentícios, um de seus mais
talam o seu habitat (EVANGELISTA, 2008). importantes recursos na prevenção da conta-
Além desses lugares ele também se en- minação microbiológica dos alimentos (EVAN-
GELISTA, 2008).
contra presente nos ferimentos, furúnculos,
erupções e queimaduras sépticas, necessitan-
3 METODOLOGIA
do-se apenas de pequenos focos para que ele
chegue até os alimentos como milhares de
A metodologia empregada neste tra-
micro-organismos. Acontece através da fala balho para a sua realização foi baseada em
gerando respingos, dentre outras maneiras de pesquisas experimentais, realizadas nas de-
contato (ANVISA, 2007). pendências da UNISOCIESC Joinville - SC.

34 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
3.1 PREPARO DO INÓCULO pelo método indireto em espectrofotômetro
a 600nm.
Uma mistura contendo quatro cepas de
Lactobacillus: L. salivarius, L. reuteri, L. planta- 3.4 PRODUÇÃO DE QUEIJO MINAS
rum, L. agilis, foi utilizada para a preparação FRESCAL
do inóculo, que procedeu com a reativação
das cepas em Caldo e ágar MRS. Os microtu- O processo de fabricação do queijo mi-
bos ficaram armazenados a -18°C para poste- nas frescal aconteceu conforme as seguintes
rior utilização na produção do bioconservan- etapas: 1- 4 litros de leite foram padronizado
te. até a temperatura de 35°C, 2 – Adicionou-se o
fermento láctico na proporção conforme indi-
3.2 PADRONIZAÇÃO DO SUBSTRATO E cação do fabricante, 3 - Aguardou-se 30 min
PRODUÇÃO DO BIOCONSERVANTE para a coagulação do leite, 4 –Verificou-se o
ponto de corte da coalhada, 5 - Utilizando
O melaço de soja foi diluído com água uma faca, fez-se cortes na horizontal e vertical
destilada até alcançar a concentração de 10 tendo o cuidado de se obter cubos uniformes
°brix conforme tabela Stammer. O melaço de de aproximadamente 1,5 cm, 6 – Realizou-se a
soja foi enriquecido com 0,5% de extrato de homogeneização para que o soro se despren-
levedura, 0,5% de acetato de sódio e 0,2 % desse da massa, 7 - Retirou-se o todo o excesso
de citrato de amônio. O meio preparado foi de soro da massa, 8 – A massa foi prensada
esterilizado em autoclave a 121°C durante 15 em forma específica para formação do queijo,
minutos, e então, adicionado 0,5% de fosfa- conforme demonstra a Figura 2.
to de amônia estéril para evitar a precipitação
dos componentes. Figura 2- Queijo minas frescal pronto
Alíquotas contendo a mistura com ce-
pas de Lactobacillus foram transferidas para
um erlenmeyer contendo 250mL do meio de
cultura (melaço de soja 10%) preparado an-
teriormente. A fermentação ocorreu em uma
Incubadora Shaker com agitação de 110 rpm e
35°C durante 18 horas, após este período, adi-
cionou-se 5% do inibidor de protease EDTA.
Todas as amostras foram neutralizadas
com hidróxido de sódio 1N. Alíquotas conten-
do 10 mL do sobrenadante fermentado, foram
centrifugadas a 3000g durante 20 minutos.
Com o objetivo de remover os Lactobacillus o
bioconservante foi filtrado em membrana es-
téril com porosidade de 0,2µm e armazenado
em microtubo estéril.
Fonte: Produção do próprio autor
3.3 TESTE DE EFETIVIDADE DO
BIOCONSERVANTE
A etapa final seria a de salga, que neste
caso, não foi realizada, pois o NaCl é conside-
O teste de efetividade do bioconser-
rado um conservante e como um dos objetivos
vante tem o objetivo de verificar se este real-
era testar a eficácia do bioconservante quanto
mente possui atuação contra o microrganismo
a sua conservação, esta etapa foi desconsidera-
Staphylococcus aureus, antes de aplicá-lo ao
da.
queijo minas frescal. A análise foi realizada

UNISOCIESC - Revista do IST 35


ARTIGOS
verificação do processo de fabricação, foi evi-
3.5 PADRONIZAÇÃO DA CEPA E denciado o crescimento de microrganismos,
CONTAMINAÇÃO DO QUEIJO MINAS mesmo antes de ser contaminado intencional-
FRESCAL mente com o Staphylococcus aureus, devido a
flora natural do leite, dos utensílios e de sua
O Staphylococcus aureus utilizado foi manipulação, conforme demonstra a Figura 3.
adquirido no banco de cepas da Fundação An-
dré Tosello. Para padronização foi utilizado a Figura 3- Placa para cultura de
escala McFarland equivalente a 0.5. microrganismos

3.6 APLICAÇÃO DO BIOCONSERVANTE


PARA CONTROLE DE STAPHYLOCOCCUS
AUREUS EM QUEIJO MINAS FRESCAL

O queijo minas frescal previamente


contaminado por Staphylococcus aureus a
1%, recebeu a aplicação do bioconservante
nas concentrações de 0,2%, 0,4%, 0,6%, 0,8%
e 1,0% e deixou-se agindo por 24 horas em
temperatura ambiente.

3.7 VERIFICAÇÃO DA EFETIVIDADE DO


BIOCONSERVANTE Fonte: Produção do próprio autor

Para a verificação da efetividade do 4.1 CONTAMINAÇÃO DO QUEIJO


bioconservante, foram realizadas análises MINAS FRESCAL E APLICAÇÃO DO
pelo método indireto e pelo método direto. O BIOCONSERVANTE
método indireto de análise, foi realizado em
espectrofotômetro na absorbância de 600nm A contaminação do queijo minas fres-
e método direto foi realizado por contagem cal foi realizada na proporção de 1% de con-
de células viáveis, efetuando a diluição das taminante ao peso da amostra. A verificação
amostras até 10-6 UFC/mL e incubando-as em de que o queijo havia sido contaminado foi re-
estufa a 35ºC por 24 horas. Todos os testes fo- alizada via método indireto, pelo espectrofo-
ram realizados em duplicata e os valores apre- tômetro tendo um valor inicial de absorbância
sentados representam a média destes resulta- de 0,205 sem contaminação, e de 0,326 após a
dos. contaminação, confirmando dessa forma que
o queijo havia sido contaminado, pois houve
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES um aumento na densidade óptica.
Para a aplicação do bioconservante,
O bioconservante foi produzido por nas amostras de queijos já contaminadas, fo-
fermentação e apresentou redução do pH de ram adicionadas diferentes concentrações de
5,96 para 5,80 confirmada a acidificação de- bioconservante (Tabela 1), afim de se verificar
vido à produção de ácido láctico no substrato qual apresentou melhor resultado.
melaço de soja.
Em relação ao queijo minas frescal, 4.2 VERIFICAÇÃO DA EFETIVIDADE DO
ele é um produto extremamente perecível e BIOCONSERVANTE
de fácil contaminação já no seu processo de
fabricação. Ao ser realizada a análise para a Em análise sobre a efetividade da atua-

36 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
ção do bioconservante natural no queijo minas frescal contra o Staphylococcus aureus, foram re-
alizadas várias medições com diferentes concentrações de bioconservante obtendo os resultados
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Acompanhamento da inibição microbiana via método indireto (absorbância)

Fonte: Produção do próprio autor

Com base nos resultados acima, evidencia-se que o bioconservante aplicado na concentra-
ção de 0,4% foi o que obteve o melhor resultado, reduzindo até mesmo a contaminação natural
do queijo. Em complemento, foram realizadas análises pelo método direto (em placas), e os re-
sultados estão demonstrados nas Figuras 4, 5, 6 e 7, onde se observa, a diferença entre o queijo
contaminado e o queijo contaminado adicionado do bioconservante na concentração de 0,4%.
Figura 4 - Queijo Contaminado com Figura 5 - Queijo Contaminado com
Staphylococcus aureus (diluição 10-6UFC/mL) Staphylococcus aureus + Bioconservante
(diluição 10-6UFC/mL)

Fonte: Produção do próprio autor Fonte: Produção do próprio autor

UNISOCIESC - Revista do IST 37


ARTIGOS
taminação, e aplicação do bioconservante a
Figura 6 - Queijo Contaminado com 0,4%) o que não seria possível acontecer se o
Staphylococcus aureus (diluição 10-7UFC/mL) queijo não tivesse nenhuma outra contamina-
ção do processo de fabricação, mas conforme
mostrado na Figura 3, o queijo mesmo antes
da contaminação intencional com o Staphylo-
coccus aureus já estava contaminado com ou-
tros microrganismos obtidos durante o pro-
cesso de produção.
Segundo Rosa e Franco (2002), além de
inibir o crescimento de patógenos nos alimen-
tos fermentados, as bactérias lácticas presen-
tes no bioconservante, também trazem bene-
fícios a saúde. De acordo com o trabalho de
Filho (2010), também foi possível reduzir e até
mesmo eliminar o Staphylococcus aureus em
Fonte: Produção do próprio autor
queijo minas frescal, utilizando a bacterioci-
na nisina combinada com a bovicina hc5. Tais
Figura 7 - Queijo Contaminado com
comparações confirmam a veracidade dos re-
Staphylococcus aureus + Bioconservante sultados desta pesquisa.
(diluição 10-7UFC/mL)
5 CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados apresen-


tados, torna-se possível concluir que o bio-
conservante combateu a contaminação do
Staphylococcus aureus, para as diferentes con-
centrações utilizadas, obtendo valores ótimos
no uso de 0,4%, reduzindo em 61% a conta-
minação quando analisado pelo método indi-
reto.
Também pelo método direto, o bio-
conservante demonstrou eficácia, eliminando
totalmente a contaminação, cumprindo assim
Fonte: Produção do próprio autor o objetivo de testar a quantidade necessária
do bioconservante para inibir o Staphylococ-
Com base nos resultados apresentados, cus aureus e analisar a eficiência do mesmo,
é possível afirmar que o bioconservante feito utilizando um bioconservante natural que
a partir do melaço de soja, foi altamente efi- não altera as características organolépticas do
caz para todas as concentrações em que foi alimento, é proveniente de um subproduto in-
aplicado, mas obteve melhor resultado quan- dustrial, portanto de baixo custo quando com-
do aplicado na concentração de 0,4%. As fo- parado aos aditivos químicos e em pouquíssi-
tos indicam a redução total do nível de conta- ma quantidade.
minação inicial do patógeno. Dessa forma, este bioconservante é al-
Um fato relevante foi que o bioconser- tamente recomendável para a aplicação no
vante também teve ação sobre outros micror- queijo minas frescal, e ainda pode ser con-
ganismos não identificados, pois foi constata- siderada a hipótese de aplicação em outros
da uma redução pelo método indireto de uma alimentos. Segundo Nascimento, Moreno e
absorbância de 0,205 (quando não havia ne- Kuaye (2008) em seus estudos obteve-se como
nhuma contaminação) para 0,125 (após con- resultado que em presença de NaCl a eficiên-

38 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
cia das bacteriocinas tendem a aumentar. O bactérias lácticas produtoras de bacterio-
que pode ficar como uma proposta para tra- cinas e sua aplicação no controle de Lis-
balhos futuros, a realização deste experimen- teria monocygenes em queijo frescal de
to, porém em presença de cloreto de sódio, já leite de cabra. São Paulo: Universidade de
que neste trabalho o sal não foi utilizado para ciências farmacêuticas. Dissertação (Mestrado)
não interferir na conservação do queijo. – Área de bromatologia, 2010.

REFERÊNCIAS ROSA, C. M; FRANCO, B. D. G. M. Bacterioci-


nas de bactérias lácticas. USP, São Paulo, v.
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applied, reducing by 61% the contamination
FOX, Alvin. Membrana celular, esporos when analyzed by the indirect method. As for
e biossíntese macromolecular. Escola de the direct method, the biopreservative was
medicina da Carolina do Sul, Carolina do Sul: also extremely efficient and can eliminate
2010. contamination when more dilute usage.

FURTADO, Danielle Nader. Isolamento de Keywords: Biopreservative. Bacteriocins. Sta-

UNISOCIESC - Revista do IST 39


ARTIGOS

MONTAGEM E AUTOMAÇÃO DE UM BIODIGESTOR

Eduardo Claviso do Amaral1 sua estrutura química quando submetidas ao


aquecimento, contato com a água presente
Resumo: Este trabalho tem por objetivo de- nos alimentos, e as substâncias diversas encon-
monstrar como foi construído um biodigestor tradas nesses alimentos. Dessa forma, acumula
de escala laboratorial, provido de um sistema com o passar do tempo grande quantidade de
de monitoramento e controle computadoriza- resíduos orgânicos até o momento que se torna
do. O biodigestor tem como finalidade digerir inadequado para ser utilizado para promover
material orgânico residual do óleo de frituras as frituras ou para o consumo humano direto.
através de bactérias utilizadas no tratamento Esse óleo saturado pelo processo de frituras,
de efluentes. Como resultado desse processo di- deve ser encaminhado para descarte adequa-
gestivo, obteve-se a geração de biofertilizante do, caso contrário pode se tornar um efluen-
(adubo orgânico), o qual foi subsequentemen- te nocivo ao meio ambiente, contaminando o
te encaminhado para análise experimental em solo e lençóis freáticos quando descartado in-
outro projeto de pesquisa onde seria observa- devidamente ou quando simplesmente é des-
da a eficácia do biofertilizante no solo para o cartado na rede de esgoto domiciliar (BAIRD,
plantio. Simultaneamente à produção do bio- 2000).
fertilizante ocorre a geração de subprodutos Diante deste cenário, a empresa Eco-
como o biogás, por esse motivo, sensores de biosul do Brasil Ltda., localizada na cidade de
metano e monóxido de carbono foram insta- Araquari em Santa Catarina, realiza coleta do
lados para realizar a quantificação aproxima- óleo de frituras em estabelecimentos da ci-
da dos gases gerados dentro do biodigestor. dade de Araquari e região, com o intuito de
O modelo de biodigestor adotado para o pro- utilizar o óleo de frituras para a produção de
jeto foi um reator descontínuo, ou batelada, biodiesel. Como o óleo recolhido é muito sujo,
provido de agitador elétrico e uma bomba de primeiramente deve ser realizado o tratamen-
ar, ambos acionados pelo computador. Todo o to desse óleo por meio de filtragem, para que
processo de automação foi desenvolvido com haja a máxima separação do material sólido
a plataforma Italiana de prototipagem eletrô- orgânico, presente em meio líquido. O acúmu-
nica Arduino UNO R3, mostrando-se uma es- lo desse material sólido orgânico é denomina-
colha econômica e ao mesmo tempo capaz de do de Farináceo.
realizar as operações de controle do agitador Apesar do farináceo ter sido separado
e da bomba de ar, assim como integrar todos do óleo por filtragens, ele ainda retém uma
os sensores instalados no biodigestor. pequena porção deste óleo, fato que o torna
impróprio para ser utilizado como adubo or-
Palavras-chave: Biodigestor. Automação. Ar- gânico.
duino. A partir desta problemática, a proposta
desse trabalho é apresentar a construção de
um biodigestor e avaliar a possibilidade de
1 INTRODUÇÃO transformar o farináceo em um biofertilizante
de qualidade, bem como realizar o monitora-
O óleo vegetal utilizado para promo- mento em tempo real dos valores de tempe-
ver a fritura dos alimentos consumidos diaria- ratura e pressão e quantificar as emissões dos
mente nas cozinhas e restaurantes, alteram gases metano, monóxido de carbono e dióxido

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: eduardo.xyz@outlook.com

40 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
de carbono, ou seja, o biogás gerado durante como temperatura e concentração não variam
o processo de biodigestão. com a posição dentro do reator, mas variam
com o tempo (PEREIRA, 2013).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.2 PLATAFORMA ARDUINO
O Biodigestor é uma central tecnoló-
gica que acelera o processo de decomposição Na automação do Biodigestor apresen-
do substrato. Em um biodigestor os produtos tado no presente trabalho, foi utilizada a pla-
resultantes do processo de decomposição ou taforma de prototipagem eletrônica Arduino,
biodigestão se apresentam na forma gasosa, desenvolvida por Massimo Banzi e David Cuar-
o biogás, e na forma líquida que dependen- tielles no ano de 2005. O Arduino como é co-
do do substrato e da tecnologia utilizados po- nhecido, chegou ao mercado com o objetivo
dem ser usados como biofertilizantes. Apesar de permitir o desenvolvimento de controle de
do processo de biodigestão ser o mesmo para sistemas interativos de baixo custo e acessível
qualquer biodigestor, existem vários modelos a todos. O projeto foi criado pensando em ar-
dessas centrais que variam principalmente na tistas e amadores, ou seja, não é necessário ter
forma como processam a matéria orgânica conhecimentos prévios em eletrônica ou pro-
(MACHADO, 2015). gramação para iniciar-se no mundo Arduino.
Com o Arduino é possível enviar e re-
2.1 BIODIGESTOR DESCONTÍNUO ceber informações de praticamente qualquer
outro dispositivo eletrônico. Outra caracterís-
O Biodigestor é o local onde ocorre a tica importante é que todo material (softwa-
fermentação da biomassa. Isto pode ser um re, bibliotecas, hardware) é open-source, em
tanque, uma caixa, ou uma vala revestida e outras palavras, pode ser reproduzido e utili-
coberta por um material impermeável. O im- zados por todos sem a necessidade de paga-
portante é que, com exceção dos tubos de en- mento de royalties ou direitos autorais (BAS-
trada e saída, o biodigestor seja totalmente CONCELLO FILHO, 2008).
vedado, criando um ambiente anaeróbio (sem Em termos práticos, um Arduino é um
a presença de oxigênio), onde os micro-orga- pequeno computador passível de ser progra-
nismos degradam (decompõem) o material mado para processar entradas e saídas entre o
orgânico, transformando-o em biogás e bio- dispositivo e os componentes externos conec-
fertilizante. A transformação da matéria orgâ-
tados a ele. O Arduino é o que pode ser cha-
nica em gás é possível pela sua fermentação
mado de plataforma de computação física ou
anaeróbia (MANUAL BIODIGESTOR WINRO-
embarcada, ou seja, um sistema que pode inte-
CK, 2010).
ragir com seu ambiente por meio de hardware
Dos modelos possíveis para a constru-
e software (MCROBERTS, 2011).
ção de um biodigestor automatizado em es-
Para programá-lo utiliza-se a IDE, um
cala laboratorial, o reator descontínuo, que
software livre no qual o programador escreve
também é conhecido como reator batelada, é
o código na linguagem que o Arduino com-
uma opção viável.
preende, essa linguagem é baseada na lingua-
O reator descontínuo é um tanque com
gem de programação C e C ++.
agitação mecânica onde todos os reagentes
são introduzidos em seu interior de uma única A IDE permite que se escreva um pro-
vez. Em seguida os reagentes são misturados grama de computador, um conjunto de ins-
e reagem entre si por um período de tempo truções passo a passo, das quais é feito um
determinado pela natureza dos reagentes em upload para dentro do microprocessador do
questão, sendo que o produto obtido com a Arduino via cabo USB. Dessa forma, o Ardui-
reação, também é retirado de uma única vez no executará essas instruções interagindo com
do reator. Nesse tipo de sistema as variáveis o que estiver conectado a ele. No mundo da

UNISOCIESC - Revista do IST 41


ARTIGOS
programação em Arduino, esses programas dadeira maratona. O sistema supervisório veio
são conhecidos como sketches (rascunhos, ou para reduzir a dimensão dos painéis e melho-
esboços). rar a performance homem/máquina (CARNEI-
RO, 2007).
2.3 SENSORES Assim como na indústria, a utilização
do sistema supervisório, com recursos de mo-
O sensor, com certeza, é o elemento nitoramento de sensores, acionamento de
mais básico e comum em qualquer processo motores, bombas e outros dispositivos eletro-
de automação, principalmente industrial. É mecânicos via computador, veio para aprimo-
através desse dispositivo que todo o sistema é rar os trabalhos de pesquisa e desenvolvimen-
capaz de coletar informações da planta fabril to dentro dos laboratórios, possibilitando ao
e, com base nisso, executar determinada tare- pesquisador a obtenção de uma maior quanti-
fa (AGOSTINI, 2014). dade de medidas e resultados para sua análi-
Segundo Patsko (2006), a palavra sen- se em tempo real, sem a necessidade de estar
sor pode ser definida como “aquilo que sen- próximo do experimento para a coleta de da-
te”. Na eletrônica, um sensor é conhecido dos, pois tudo que ele precisa estará na tela
como qualquer componente ou circuito ele- computador.
trônico que permita a análise de uma determi- Segundo Carneiro (2007), supervisório
nada condição do ambiente, podendo ela ser é um software destinado a promover a inter-
algo simples como temperatura ou luminosi- face homem/máquina, onde proporciona uma
dade. Uma medida um pouco mais complexa supervisão plena de seu processo através de
como a rotação de um motor, a distância de telas devidamente configuradas. Possui telas
um carro até algum obstáculo próximo ou até que representam o processo, onde estas po-
mesmo eventos distantes do nosso cotidiano, dem ser animadas em função das informações
como a detecção de partículas subatômicas e recebidas pelo CLP (Controlador lógico pro-
radiações cósmicas. gramável), Arduino, etc.
Apesar de ser imensa a variedade de
sensores eletrônicos, pode-se dividi-los basica- 3 MATERIAL E MÉTODOS
mente em sensores analógicos e nos sensores
digitais. Essa divisão é feita de acordo com o 3.1 MATERIAIS
tipo de sinal elétrico que é gerado pelo com-
ponente, de acordo com às variações das con- Os materiais mais substanciais utiliza-
dições de entrada, ou seja, as condições ao dos para o desenvolvimento do projeto de au-
qual esse componente é submetido. tomação do biodigestor serão apresentados e
destacados a seguir, sendo que, para este pro-
2.4 SISTEMA SUPERVISÓRIO jeto, muitos componentes eletrônicos peque-
nos, discretos, foram utilizados, pois se trata
A utilização de microcomputadores e de uma montagem artesanal. Muitas peças,
computadores no dia-a-dia possibilitou mais foram adaptadas, assim como componentes
comodidade e rapidez. Na indústria, por eletrônicos que não serão apresentados em
exemplo, tem-se a necessidade de centralizar figuras destinadas a eles.
as informações de forma a termos o máximo
possível de informações no menor tempo pos- 3.1.1 FARINÁCEO
sível. Embora a utilização de painéis centrali-
zados venha a cobrir esta necessidade, muitas O substrato utilizado no processo de
vezes a sala de controle possui grandes exten- biodigestão foi o material orgânico prove-
sões com centenas ou milhares de instrumen- niente das filtragens do óleo usado de fritu-
tos tornando o trabalho do operador uma ver- ras, aqui denominado farináceo, figura 1. O

42 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
substrato foi cedido pela empresa Ecobiosul gestor. Esta plataforma é composta por uma
do Brasil Ltda., localizada na cidade de Ara- placa eletrônica que possui como sua CPU
quari em Santa Catarina. (Unidade Central de Processamento) um chip
micro controlador da família Atmel, mais es-
Figura 1 – Substrato, Farináceo. pecificamente um ATmega328. Possui 14 pinos
I/O (input/output) para sinais elétricos digitais
e mais 6 pinos de entrada para sinal elétrico
analógico. Este modelo de Arduino possibilita
também, a expansão destes pinos de entrada
e saída, a partir, de um shield, uma placa com-
plementar que se encaixa ao Arduino UNO
R3 expandindo a funcionalidade do Arduino
UNO R3, figura 3b.

3.1.4 Sensores eletrônicos

3.1.4.1 Sensor de temperatura DS18B20

O sensor de temperatura a prova de


água DS18B20 representado pela Figura 3c,
Fonte: Produção do próprio autor foi utilizado para realizar as leituras de for-
ma precisa que o sistema se encontra e que,
3.1.2 BIODIGESTOR através da programação correta deste sensor,
ele disponibiliza os valores de temperatura já
O modelo de biodigestor adotado para convertidos para a escala de graus Celsius. Este
a o projeto foi a de um reator descontínuo sensor a prova de água permite a sua instala-
(batelada), construído em material PVC e vo- ção dentro do reator, em contato direto com
lume de 0,05 m³, conforme figura 2. material orgânico úmido, seu sinal de saída é
uma tensão analógica, e sua faixa de opera-
Figura 2 – (a) Reator Descontínuo. (b) Motor ção está na faixa de -55 °C a +125 °C (graus
do agitador. (c) Entrada dos reagentes. (d) célsius).
Passagem para o cabeamento dos sensores.
3.1.4.2 Sensor de Gás

O sensor para a mensuração aproxima-


da do gás metano, emitido durante a digestão
anaeróbia parcial, no processo de biodigestão
foi o sensor eletrônico MQ-4, figura 3d.
O sensor para a mensuração aproxi-
mada do gás monóxido de carbono, também
emitido durante a digestão anaeróbia parcial
Fonte: Produção do próprio autor no processo de biodigestão foi o sensor ele-
trônico MQ-2, conforme figura 3e.
3.1.3 Arduino UNO R3 Estes sensores foram instalados no in-
terior do biodigestor próximos a tampa de
O Arduino UNO R3 apresentado na fi- estrada do substrato, ou seja, na parte supe-
gura 3a, foi a plataforma de desenvolvimento rior, para que não entrassem em contato com
utilizada para realizar a automação do biodi- o material orgânico dentro do mesmo. Seus

UNISOCIESC - Revista do IST 43


ARTIGOS
sinais de saída são uma tensão analógica, de um display LCD em inglês (liquid crystal dis-
modo que utilizando a programação adequa- play) e outros três periféricos menores em seu
da, eles serão capazes de detectar concentra- entorno. Apresenta também a IDE aberta no
ções aproximadas de 0 a 10.000 ppm (partícu- monitor do computador, figura 4b.
las por milhão) dos gases metano e monóxido
de carbono. Figura 4 – (a) Hardware. (b) Software.

Figura 3 – (a) Arduino UNO R3. (b) Shield de


expansão. (c) Sensor de temperatura DS18B20
a prova de água. (d) Sensor de Gás metano
MQ-4. (e) Sensor de Gás monóxido de carbo-
no MQ-2.

Fonte: http://www.robocore.net
Acessado em: 25/12/2013 5:39 PM

3.1.4.3 Supervisório
Fonte: Produção do próprio autor
O Arduino UNO R3 faz conexão via
cabo USB com o computador, que por sua vez, 3.2 MÉTODO DE PROGRAMAÇÃO
é utilizado na realização das programações
necessárias para o funcionamento dos senso- As programações finais desenvolvidas
res, para o acionamento das cargas, enfim, que possibilitam aos sensores de gás metano
controlar os eventos que acontecerão no bio- e gás monóxido de carbono entrarem em fun-
digestor. Esse controle é possível através da cionamento, tiveram base em uma extensa e
IDE (Ambiente integrado de desenvolvimen- complexa programação de (SHAO,2013), mes-
to) do Arduino que deve ser instalada no com- mo assim, o autor da programação adverte
putador. A IDE é um software destinado ao que seu projeto não é orientado para ser uti-
Arduino, possibilitando a comunicação entre lizado na indústria ou onde pessoas possam se
o homem e a máquina através de uma lingua- prejudicar por uma não conformidade dos va-
gem de programação baseada nas linguagens lores medidos pelos sensores, que funcionam
C e C++ de forma mais simplificada. com base nessas programações.
A figura 4a, apresenta o Arduino Uno Para programar o sensor de tempera-
R3 dentro de um painel plástico provido com tura, foi utilizado uma biblioteca específica

44 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
de acesso ao sensor DS18B20, disponível em to, assim como para o painel com display que
ARDUINO.CC (2013), de modo que já fornece envolve o Arduino e, também, para a alimen-
a programação necessária para que o sensor tação do motor do agitador que não aparece
possa fazer suas leituras e envia-las ao super- nesta imagem.
visório convertidas em graus Celsius. Todo o conjunto do biodigestor encon-
O sensor de pressão, o acionamento do tra-se conectado ao computador, que funcio-
agitador e o acionamento da bomba de ar fo- na como um supervisório de monitoração e
ram desenvolvidos de forma singular, utilizan- controle.
do a IDE do Arduino com base na leitura de
artigos, tutoriais, e pela evolução do apren- Figura 5 – Sistema Biodigestor completo
dizado durante o desenvolvimento do biodi-
gestor. Vários recursos avançados de progra-
mação baseados nas leituras de (MCROBERTS,
2011) foram utilizados para possibilitar a inte-
gração de todas as programações dos sensores
e periféricos do biodigestor em um único códi-
go fonte.

3.3 ADIÇÃO DOS REAGENTES

Para a realização do primeiro teste de


funcionamento do biodigestor foram adicio-
nados ao mesmo, 5 L (litros) do substrato fa-
rináceo, acrescido de 3 L de água, assim como
a inoculação das bactérias Bioma Trat X no
percentual teoricamente necessário para que
ocorresse a degradação do farináceo.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS

4.1 MONTAGEM FÍSICA DO BIODIGESTOR

A montagem do biodigestor foi reali- Fonte: Produção do próprio autor


zada de forma artesanal, todo o material uti-
lizado foi encontrado no mercado nacional, 4.2 DADOS OBTIDOS PELOS SENSORES
porém nenhuma peça ou acessório para esta
montagem era especifica, ou destinada a este 4.2.1 Aquisição de dados após 24h
tipo de projeto, pois a tecnologia de biodiges-
tores é pouco difundida dentro da nossa co- Ao ser realizado o primeiro teste de
munidade. funcionamento do biodigestor, o agitador e a
A figura 5 apresenta a aparência final bomba de ar utilizada para oxigenar o sistema
do projeto de montagem e automação, onde foram acionados, porém, alternando seus fun-
o reator cilíndrico mostrado anteriormente cionamentos para que fosse possível observar
na figura 2, está dentro de uma caixa isolada, as variações nas concentrações de gases emiti-
com os periféricos instalados ao seu redor. dos durante o processo de biodigestão.
Na parte inferior da imagem no canto No Quadro 1 são mostrados valores
direito da caixa, encontra-se a fonte de ali- médios coletados pelos sensores de gás mo-
mentação que distribui as tensões necessárias nóxido de carbono (CO) e pelo sensor de gás
para o funcionamento da bomba de ar e para metano (CH4), após o período de 24h.
uma água que não será utilizada neste proje-

UNISOCIESC - Revista do IST 45


ARTIGOS
Quadro 1 – Aquisição de dados após 24h de biodigestão

Fonte: Produção do próprio autor

Analisando as concentrações do gás CH4 quando o biodigestor está sob aeração e agitação,
verifica-se uma concentração de 31,6 ppm desse gás. Este valor pode ser interpretado da seguin-
te maneira: pelo fato das bactérias utilizadas na digestão do farináceo serem facultativas, isto
é, sobreviverem e se multiplicarem tanto na presença quanto na ausência de oxigênio, havendo
uma pequena quantidade do gás CH4 gerado. Nota-se também que, o fluxo de ar que entra no
biodigestor faz com que o gás CH4 presente no biodigestor circule com mais facilidade e seja iden-
tificado pelo sensor instalado no topo do biodigestor.
Porém, quando o fluxo de ar cessou e apenas o agitador continuava em funcionamento,
observou-se um decréscimo da concentração do gás CH4, de modo que sua concentração caiu para
1,91 ppm indicando que o modelo de sensor de CH4 utilizado possui suas limitações.
Analisando as emissões do gás CO, verificou-se uma concentração média de 25 ppm quan-
do o biodigestor está apenas com o agitador em operação, ou seja, sem o fluxo de ar influen-
ciando na leitura do sensor, fato que pode ser interpretado da seguinte maneira: Na presença de
oxigênio do ar, o processo de biodigestão favorece a geração do gás CO2 dentro do biodigestor,
dificultando a quantificação do gás CO. Além disso, foi constatada uma interferência eletromag-
nética causada pela bomba de ar, quando ligada em conjunto com o motor do agitador, influen-
ciando negativamente o funcionamento do sensor de CO.
Além dos sensores de gases, o Quadro 1 mostra a média da temperatura e da pressão no
interior do biodigestor durante as primeiras 24h de biodigestão.

4.2.2 Aquisição de dados após 72h

Após 72h de biodigestão os mesmos problemas identificados com os sensores de gases per-
sistiram, no entanto, valores diferentes foram registrados conforme mostra o Quadro 2.

Quadro 2 – Aquisição de dados após 72 h de biodigestão

Fonte: Produção do próprio autor

No Quadro 2 observa-se que uma diminuição aparente das emissões do gás CH4, apre-
sentando uma média de aproximadamente 14,5 ppm com o passar das 72h de biodigestão. Esse

46 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
valor pode ser um indicativo que está aconte- uma blindagem contra interferências eletro-
cendo uma fase de decaimento populacional magnéticas.
das bactérias dentro do biodigestor ou, até Para maior confiabilidade nas medi-
mesmo, uma falha do sensor que não pode ser ções realizadas pelo sensor de gás CO, foi
descartada. adquirido um equipamento padrão de medi-
No momento em que apenas o agita- ção, sendo possível comparar as leituras por
dor ficou em operação para possibilitar a lei- este equipamento e as leituras realizadas pelo
tura correta do sensor de CO, observou-se um sensor do biodigestor. As leituras do sensor se
aumento da concentração desse gás, chegan- mostraram muito próximas, com uma variação
do a uma média de 83 ppm. de aproximadamente 10% para mais em rela-
Houve também uma pequena variação posi- ção às leituras do padrão utilizado para com-
tiva na temperatura e na pressão dentro do paração.
biodigestor no decorrer das 72h. O sensor de temperatura também foi
comparado com leituras obtidas por dois ter-
5 CONCLUSÃO mômetros analógicos de uso laboratorial. As
leituras do sensor se mostraram muito próxi-
A plataforma eletrônica Arduino mos- mas, com desvios menores que 5% em relação
trou-se capaz de monitorar quatro sensores aos valores obtidos pelos termômetros ana-
eletrônicos simultaneamente, mostrar as lei- lógicos utilizados como padrão de medição.
turas realizadas por esses sensores em um dis- Já os sensores de CH4 e de pressão não foram
play LCD, além de possibilitar a comunicação comparados com outro equipamento de me-
de maneira simplificada com um computa- dição pela dificuldade de obtenção de tais
dor supervisório. De modo que possibilitou o equipamentos.
acompanhamento em tempo real das leituras Melhorias ainda podem ser realizadas
realizadas pelos sensores e, também, fazer o neste projeto, um supervisório mais sofistica-
acionamento da bomba de ar e do motor do do pode ser criado, as interferências eletro-
agitador instalados no biodigestor remota- magnéticas podem ser minimizadas e, com a
mente. implementação de sensores mais precisos, este
Alguns problemas com soluções já pre- equipamento pode alcançar melhores resulta-
vistas foram identificados no sistema de con- dos.
trole e automação deste biodigestor. Como a
bomba de ar e o motor do agitador são cargas REFERÊNCIAS
indutivas, essas cargas geram interferências
eletromagnéticas no microprocessador do Ar- AGOSTINI, Nestor. SENSORES E TRANSDU-
duino. Isto ocasiona eventuais interferências TORES Disponível em: <http://www.sibratec.
observadas no display LCD e também nas lei- ind.br/modulos/file.php?dir=binario/1001&fi-
turas realizadas pelos sensores de CO e CH4. le=AUTOMA%C7%C3O_IND_5_2014.pdf&id-
Neste caso, medidas para minimizar as down=255>. Acesso em: 19 de jul. 2015.
interferências que afetam o funcionamento
do microprocessador do Arduino podem ser ARDUINO.CC. SITE OFICIAL ARDUINO Dispo-
adotadas da seguinte maneira: Os cabos de nível em: < http://arduino.cc/>. Acesso em: 20
comunicação existentes nos sensores de gases dez. 2013.
podem ser substituídos por cabos revestidos
por uma malha (blindagem) contra interfe- BAIRD, C. Química ambiental. Editora LTC, 2ª
rência e, também, a substituição do painel Edição, 2000.
plástico que envolve o Arduino, pode ser subs-
tituído por um painel de alumínio, ou seja,

UNISOCIESC - Revista do IST 47


ARTIGOS
BASCONCELLO, FILHO D. O. O QUE AFINAL É ASSEMBLY AND AUTOMATION OF A
ARDUINO Disponível em: <http://www.robo- BIODIGESTER
tizando.com.br/curso_arduino_o_que_e_ar-
duino_pg1.php >. Acesso em: 21 dez. 2013. Abstract: This work aims to demonstrate how
was built a digester laboratory scale, equipped
CARNEIRO, Sebastião A. Supervisório In- with a computerized monitoring and control
touch. 2007. Coordenadoria de Automação system. The biodigester will aim to digest re-
Industrial – Secretaria de Educação Média e sidual organic material from the frying oil by
Tecnológica, CEFETES-ES, SERRA. bacteria utilized in wastewater treatment. As
result of this digestive process, obtained was
MACHADO, Gleysson B. BIODIGESTOR Dispo- the generation of biofertilizer (organic fer-
nível em: < http://www.portaldobiogas.com/ tilizer) which was subsequently forward to
biodigestor/ >. Acesso em: 20 de jul. 2015. another experimental analysis research pro-
ject, which would be observed in the effica-
MCROBERTS, Michael. ARDUINO BÁSICO Dis- cy of biofertilizer recovery soil for planting.
ponível em: < http://www.fema.com.br/ardui- Simultaneously the production of biofertili-
no/wp-content/uploads/2014/08/arduino.pdf zer occurs the generation of by-products and
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fertilizer occurs generating by-products such
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GENHARIA DE REATORES Disponível em: and pressure sensors installed in the digester,
<http://http://www.marco.eng.br/reatores/no- methane and carbon monoxide sensors were
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2015. quantification of the gases generated inside
the digester. The biodigester model adopted
MANUAL BIODIGESTOR WINROCK Disponí- for the project was a discontinuous reactor, or
vel em: http://www.neppa.uneb.br/textos/pu- batch, equipped with electric stirrer and an air
blicacoes/manuais/manual_biodigestor_win- pump, both activated by the computer. The
rock.pdf>. whole process of automation was been deve-
Acesso em: 14 de jul. 2015. loped with the Italian electronics prototyping
platform Arduino UNO R3 showing himself an
PATSKO, Luís F. FUNCIONAMENTO E UTI- economical choice and at the same time able
LIZAÇÃO DE SENSORES Disponível em: to perform the operation control of the stirrer
<http://www.maxwellbohr.com.br/downloads/ and the air pump as well as integrate all the
robotica/mec1000_kdr5000/tutorial_eletroni- sensors installed in the digester.
ca_ _aplicacoes_e_funcionamento_de_senso-
res.pdf>. Acesso em: 19 de jul. 2015. Keywords: Biodigester. Automation. Ardui-
no.
SITE ROBOCORE. Disponível em: <https://
www.robocore.net/modules.php?name=GR_
LojaVirtual>. Acesso em: 20 de dez. 2013.

SHAO, T. DEMO FOR MQ-2 GAS SENSOR


MODULE V1.1. Disponível em: <http://www.
sandboxelectronics.com/store/images/SEN-
000004/SEN-000004_Source.php>. Acesso em:
10 de nov. 2013.

48 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS

EQUIPAMENTO PARA ENSAIO DE FADIGA


EM VASOS DE PRESSÃO

Elias Inacio Jagiello 1 Neste enfoque o presente trabalho


Kassim S. Al-Rubaie 2 abrange as indústrias, os profissionais e o meio
acadêmico que de algum modo estão ligados
Resumo: Este trabalho apresenta os elemen- a vasos de pressão e necessitam de maiores
tos que constituem a construção de um equi- cnhecimentos em relação às teorias de dimen-
pamento para testes cíclicos em vasos de pres- sionamento em regime de fadiga.
são, também chamado de bancada de fadiga. O campo de atividades que tange os
Com o intuito de pressurizar os corpos de pro- vasos de pressão é de muita influência prin-
va estressando-os em um regime senoidal ou cipalmente para o trabalho dos engenheiros
irregular. Com capacidade de pressurizar 180 mecânicos, pois só eles em termos legais são
kgf/cm² (18 MPa), deslocar fluido na vazão de habilitados para desenvolver trabalhos nesta
12 litros por minuto e frequência de leitura área. A indústria também necessita de atenção
de até 4 Hz. A bancada apresenta aplicação especial, pois constantemente ela vem crescen-
abrangente em qualquer setor que confeccio- do, tem a necessidade de ser sustentável e tem
na vasos de pressão. São descritas as principais responsabilidade com o meio ambiente. Fazer
especificações técnicas dos elementos mecâni- este produto com um superdimensionamento,
cos, hidráulicos e eletrônicos. A captação dos ou, ao contrário, sem ter o conhecimento na
dados e sua qualidade auxiliam os técnicos e ciência é de fato arriscado (GROEHS, 2006).
engenheiros a desenvolverem novas teorias, No território nacional estes equipa-
confrontarem teorias existentes e ainda vali- mentos são construídos geralmente com a
darem equipamentos com construção duvido- norma americana ASME VIII D.1. É importante
sa. Seu desenvolvimento foi principalmente, deixar claro ao leitor que esta norma não faz
com foco na carência de equipamentos nacio- dimensionamento em vasos com regimes cícli-
nais para testes de fadiga em corpos de prova cos. No entanto um vaso de pressão pela sua
reais. Após sua finalização foram realizados natureza está submetido a regime de fadiga.
testes em 30 corpos de prova, obtendo dados E ao passar do tempo existem perdas de pro-
confiáveis e de qualidade aceitáveis. priedades mecânicas. Segundo (CASTRO e ME-
GGIOLARO 2015) a literatura não reconhece
Palavras-chave: Fadiga, Vasos de pressão, explicitamente a fundamental importância do
Bancada, Equipamento. estado inicial da peça e casos de carregamen-
tos complexos.
1 INTRODUÇÃO Na tentativa de promover maiores co-
nhecimentos referentes à fadiga de vasos de
Com a evolução contínua das indústrias pressão com detalhes específicos ou carrega-
brasileiras, o crescimento científico se obriga a mentos complexos, foi desenvolvida uma ban-
acompanhar a cadeia industrial. E as indústrias cada de testes que produz variação de pressão
buscam no conhecimento acadêmico a base no sistema ao qual foi ligado, simulando um
que as tornam competitivas e diferenciais. Ge- regime tanto de alto como de baixo cíclico, de
rando assim um ciclo de dependência entre forma controlada, coletando dados referentes
conhecimento, indústria e lucratividade. aos fenômenos que estão se reproduzindo no

1
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: ejagiello@gmail.com
2
Centro Universitário SOCIESC – UNISOCIESC - E-mail: kassim.alrubaie@sociesc.org.br

UNISOCIESC - Revista do IST 49


ARTIGOS

corpo de prova. Com isso, os engenheiros po- 2.1.1 Projeto Mecânico


derão tomar decisões relacionadas a estudos
práticos. Este capítulo define o projeto mecâni-
co e suas respectivas partes e são explanadas
2 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA características técnicas de cada componente.
Bacia de contenção [1] - Tem a finali-
2.1 DETALHAMENTO DA BANCADA dade de conter vazamentos e bloquear even-
tuais projeções de objetos no momento do
Seu funcionamento é gerenciado por rompimento. Esta parte do projeto pode ser
um sistema eletrônico, ligado ao painel hi- removida e não, necessariamente, precisa es-
dráulico. Em conjunto eles enviam e liberam a tar anexa à bancada, sendo assim, não existem
pressão do corpo de prova. No corpo de prova limitações para o tamanho geométrico do CP
(CP) existe um leitor de pressão chamado de a ser testado.
transdutor. É este acessório que faz a inter- Bancada [2] - É a estrutura para su-
pretação da pressão enviando sinal ao softwa- porte dos computadores, apoio das bombas
re. hidráulicas [3], fixação do painel hidráulico [4]
O software interpreta e comanda o e fixação do painel elétrico [8]. Internamente
painel hidráulico assim fechando o ciclo de existe o reservatório de óleo hidráulico e todo
funcionamento. Esta é a ideia básica do fun- cabeamento elétrico.
cionamento. Contudo a bancada pode ser des- Flauta [5] - É o conjunto de tubulações
membrada em três principais partes, projeto que direciona o fluxo de óleo para dentro do
mecânico, hidráulico e projeto eletrônico. A corpo de prova, ligada nas mangueiras hidráu-
seguir, as partes do sistema serão detalhada- licas, tem aparência esbelta e com saídas ao
mente definidas. A Figura 1 contém balões longo de seu comprimento. É possível sele-
indicando os respectivos componentes e no cionar a quantidade de saídas da flauta que
decorrer do texto os números destes balões estarão em serviço, ou seja, é possível testar
aparecerão entre chaves “[Nº]” indicando o apenas um CP ou até seis CPs que é o caso da
item que está sendo narrado. Figura 1. Para a flauta houve cálculos de di-
mensionamento da espessura da parede do
Figura 1 - Bancada de Fadiga tubo conforme a equação abaixo.

(1)

onde:

P = pressão interna (Pa)


R = raio de vaso (m)
S = tensão admissivel (Pa)
E = eficiência de soldagem
t = espessura (m)

2.1.2 Projeto Hidráulico

Fonte: Laboratório da Empresa ARXO Industrial O projeto hidráulico classificado como


do Brasil o mais complexo e crítico deste trabalho pelo
fato de possuir diversos agravantes como: vida

50 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS

útil superior a 30 milhões de ciclos; alta frequ- Reservatório - Capacidade para até 100 litros
ência de ciclagem; alta precisão na usinagem é utilizado para manter a troca térmica do óleo
das válvulas e rigorosa curva de repetitivida- e separação de alguma eventual partícula de
de. A figura 2 ilustra o esquema hidráulico metal.
completo, assim como a disposição dos itens. Óleo - Hidráulico 68.
O projeto hidráulico é composto por:
Moto bombas hidráulicas [3] - Tem a fun- 2.1.3 Projeto Eletrônico
ção de pressurizar os corpos de prova [11]. Po-
tência de 2 cv, vazão de deslocamento 12 lpm É um sistema informatizado que sincro-
e pressão máxima de 180 kgf/cm². niza todo o projeto, envia sinais elétricos para
Painel hidráulico [4] - Composto por: os devidos componentes e principalmente co-
a) Filtro com capacidade de filtragem de 5 mi- leta informações dos acontecimentos interno
cras; dos CPs. Equipado para coletar informações e
b) Tubos de passagem de 1/2 polegada com converter dados da extensometria resistiva, fa-
parede sch. 80; cilitando o monitoramento das tensões na pa-
c) Reguladores de pressão, por esfera e mola; rede do vaso. O projeto eletrônico conta com
d) Válvulas pilotadas por solenoide 5/2 os itens descritos abaixo:
vias; Transdutor de pressão [7] - Conecta-
e) Válvula de retenção por esfera e do com a flauta, é um medidor de pressão e
mola para evitar retorno. tem a função de enviar sinal digital para o sis-
tema. O transdutor está situado fora do fluxo
Figura 2 - Esquema Hidráulico do óleo, para não sofrer erros de medição devi-
do à dinâmica da passagem do fluido. Ele tam-
bém é diretamente responsável pela plotagem
gráfica de pressão que acontece internamente
aos CPs e pela inversão das válvulas solenoides,
possui velocidade de leitura de 100 Hz tensão
de 0 a 5 V;
Painel elétrico [8] - Tem a função de
conectar eletricamente todos os itens mencio-
nados acima, ele tem os botões tradicionais de
liga, desliga emergência, também equipado
com temporizadores e medidores de tempera-
tura;
Computador [9] - Possui configura-
ções convencionais, nele está instalado o sof-
tware SITRAD MOD. 64 responsável em fazer a
Fonte: Esquema enviado pelo fornecedor do leitura do sinal enviado pelo transdutor, tam-
painel bém responsável por plotar gráficos do regime
de trabalho sofrido pelos CPs;
Flauta [5] - É um distribuidor e direcionador Termopar [10] - Ou medidor de tem-
de óleo, que recebe pressão do painel hidráuli- peratura do óleo permite controlar os venti-
co e repassa aos CPs. ladores e consequentemente a faixa ideal de
Mangueiras [6] - Projetadas para uma vazão temperatura do óleo, permitindo que a faixa
de óleo de 15 lpm, conexão JIC e trama dupla, de viscosidade atinja valores ideais que oti-
vida infinita de fadiga e pressão máxima de mizam a fluidez e por consequência menor
600 bar, distribuem o óleo pelos caminhos per- tempo de pressurização e menor desgaste dos
tinentes. componentes mecânicos do projeto hidráulico.

UNISOCIESC - Revista do IST 51


ARTIGOS
Contador de ciclos - Componente di- O quarto teste, um dois mais importan-
gital capaz de contar até 6 dígitos. Utilizado tes é o teste de repetitividade que valida à mé-
para contagem de ciclos de pressurização e dia de pressão, a repetitividade, as variações e
despressurização, tensão de funcionamento todos os demais dados estatísticos do projeto.
24 V. A Figura 3 mostra o exposto à cima, esta fi-
gura é rica em detalhes. Além de identificar
3 TESTES os itens mencionados acima como repetitivi-
dade é possível também perceber os picos e
3.1 TESTES DE VALIDAÇÃO vales atingidos pela bancada, seu tempo entre
máximos e mínimos, os ângulos entre subida e
Este capítulo irá descrever as princi- descida assim como o tempo entre ciclos.
pais atividades realizadas na bancada após
sua montagem, os métodos de validação aqui Figura 3 - Curva de repetibilidade
propostos trazem uma base teórica de nature-
za estatística além do cruzamento de informa-
ções teóricas com práticas. Provando que os
ciclos trazem baixa variação amostral e cum-
prem a matemática do projeto.
Primeiramente foram realizados testes
para validação da contagem de ciclos. Feita de
forma redundante para certificar-se que não
existem variações. A tabela abaixo ilustra as
informações coletadas:

Tabela 1 - Validação da contagem de ciclos Fonte: Laboratório da Empresa ARXO


Industrial do Brasil

A Tabela 2 mostra os dados gráficos


convertidos na forma numérica, apresentando
uma visão geral do comportamento da repeti-
tividade da bancada de testes.
Fonte: Laboratório da Empresa ARXO Industrial
do Brasil Tabela 2 - Dados estatísticos

Esta contagem foi feita em diferentes


tempos e os resultados se mantiveram. Mos-
trando que os contadores instalados estão ok.
Posteriormente foram realizados os
testes de segurança para desarme do sistema
em caso de emergência. Sabe-se o tempo nor- Fonte: Produção do próprio autor
mal de um ciclo. Caso um ciclo atrase mais que
o definido, constitui uma condição fora do re- A partir deste ponto, foi utilizado o mé-
gime normal de trabalho, indicando um possí- todo de extensometria resistiva para validar a
vel rompimento do CP, quando isso acontece reposta e reação do CP quando submetido a
o temporizador interpreta o tempo maior que pressão interna.
normal e manda sinal para o painel elétrico e Utilizando a Equação 2 é possível con-
a bancada desliga. Este teste/sistema funcio- verter a tensão máxima admissível trazida
nou perfeitamente. pela norma ASME VIII D.1 em pressão interna.

52 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
E pela lei de Hooke, na equação 3 converter Figura 4 - Deformação medida por
tensão em deformação. extensometria

(2)

Os valores característicos de cada incógnita


são:
S = Tensão admissível = 114 (MPa)
E = Eficiência de soldagem = 1
t = Espessura do corpo de prova = 4,8.10-3 (m)
R = Raio do corpo de prova = 0,15 (m)

Ficando:
Fonte: Software D4, extensometria resistiva
(3)
A viscosidade do óleo está ligada à
Os valores característicos de cada incógnita temperatura do sistema, causando variações
são: de velocidade entre ciclos e mudança nos picos
e vales de pressão. Então faz-se necessário um
σ = Tensão admissível do material = 114 MPa. mecanismo de resfriamento. Foram utilizados
E = Módulo de elasticidade = 190 GPa. dois ventiladores industriais para este resfria-
ε = Deformação (mm/mm) mento, um direcionado ao painel hidráulico e
outro direcionado ao reservatório de fluido.
Um termopar instalado dentro do reservatório
interpreta e comanda o ligamento e o desliga-
mento dos resfriadores conforme necessidade.
O range de temperatura ideal encontrado foi
de 60 a 60,2 graus Celsius. Mantendo constante
a repetitividade dos picos e vales assim como a
velocidade entre ciclos. Validando os controles
Este número denota que o CP deverá de temperatura. A figura abaixo ilustra a vali-
deformar 600 µm/m no sentido circunferencial dação dos controles de temperatura.
quando aplicado à pressão de 36 kgf/cm² (Ja-
giello, 2015). A Figura 4 reforça o exposto aci- Figura 5 - Controle de Temperatura
ma. Esta imagem foi capturada do software de
extensometria resistiva (Micro Measurements
2015) no momento da aplicação da pressão,
ela mostra no canto superior direito o valor
de 619 µm. Este número está em torno de 3%
divergente do calculado na equação 3, isto
acontece devido a fatores, como por exemplo,
a propriedade do material desconforme, erros
humanos no momento da fixação do strain
gauge. Contudo este valor foi inferido como
dentro da tolerância e assim foi validado que
a pressão interna do CP produz a resposta es-
perada e a bancada de testes induz a pressão
para a deformação correta no corpo de prova. Fonte: Software Sitrad

UNISOCIESC - Revista do IST 53


ARTIGOS
4 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

Em paralelo a este trabalho foram exe- CASTRO, Jaime Tupiassú Pinho de; MEGGIO-
cutados testes de pressão em regime de fadiga LARO, Marco Antônio. Comentários sobre
em 33 corpos de prova para a defesa da disser- a automação do método ε-N para Dimen-
tação de mestrado do autor (Jagiello, 2015), sionamento à fadiga sob carregamentos
cuja intenção era estudar concentradores de complexos. PUC Rio, Rio de Janeiro, v. 1, p.1-
tensão na forma de defeitos superficiais. A 10, 01 maio 2015.
bancada mostrou ótimos resultados na obten-
ção de dados com qualidade e confiabilidade. FULL GAUGE CONTROLS (Org.). Software Si-
Comprovando seu funcionamento a qual foi trad. 2015. Disponível em: <http://www.sitrad.
designado. Operando por mais de 40 milhões com.br/>. Acesso em: 14 maio 2015.
de ciclos sem apresentar falhas.
Um fato observado é que a concepção GROEHS, Ademar Gilberto. Resistência dos
deste projeto não é apenas designado para materiais e vasos de pressão. 5. Ed. São Le-
testes de fadiga em vasos de pressão. Por opoldo: Unisinos, 2006
exemplo, esta bancada pode ser utilizada em
testes estáticos de pressão, testes em tubula- JAGIELLO, Elias Inacio. Analise teórica e ex-
ções, testes hidrostáticos, acionamento de pis- perimental de vasos de pressão submeti-
tões ou qualquer outra aplicação que designe dos à fadiga com influência de defeitos
deslocamento de pressão com patamares pré- superficiais. 2015. 116 f. Dissertação (Mestra-
definidos. Outro setor a ser beneficiado é o de do) - Curso de Mestrado em Engenharia Mecâ-
inspeção de vasos, pois sempre esteve despro- nica, Unisociesc, Joinville, 2015.
vido de tal modelo de equipamento.
O uso do óleo mostrou um custo supe- MICRO MEASUREMENTS (Unites States).
rior no desenvolvimento dos testes, compara- Stress analisys strain gauges. 2015. Dis-
do com o da água, a escolha do óleo foi de- ponível em:<http://www.vishaypg.com/micro-
vido aos componentes hidráulicos disponíveis measurements/>. Acesso em: 14 maio 2015.
no mercado, não estarem preparados para a
utilização com água.
A segurança que a bancada forne- EQUIPMENT FOR FATIGUE TEST ON
ce também foi tomada como aceitável, pois PRESSURE VESSELS
existe redundância em vários componentes,
e o fluido sendo incompressível torna-a ainda Abstract: This paper presents the elements
mais segura. that constitute the construction of an
A bancada apresentou grande impor- equipment for cyclic tests on pressure vessels,
tância para o mercado nacional e para a in- also called fatigue bench. The pressure vessels
dústria de vasos de pressão, este equipamento were pressurized with a sinusoidal or irregular
é capaz de validar projetos de forma prática e basis. To pressurize with 180 kgf /cm² (18 MPa),
confrontar com a teoria, ou ainda, testar itens a determined fluid with a flow rate of 12
que não estão totalmente definidos pela teo- liters per minute and a reading frequency of
ria. 4 Hz was moved to vessels. The fatigue bench
has broad application in any industry that
manufactures pressure vessels. For this fatigue
bench, it was described the main specifications
of mechanical, hydraulic, and electronic
elements. The collection of data and its quality
help technicians and engineers to develop new

54 UNISOCIESC - Revista do IST


ARTIGOS
theories, confronting existing theories and
further validating equipments with dubious
construction. The development of the bench
was mainly focused on the lack of national
equipments for fatigue tests on real pressure
vessels. After the completion of fatigue bench,
30 tests were carried out, obtaining reliable
and acceptable quality data.

Keywords: Fatigue, pressure vessels, Bench,


Equipment.

UNISOCIESC - Revista do IST 55


ARTIGOS
A Revista do Instituto Superior Tupy agradece a todo o grupo de consultores ad hoc pela valiosa
colaboração emprestando-nos sua significativa experiência.

Avaliadores

Drª. Alessandra N. Bassetto Berton Msc. Lidomar Becker


Dr. André Hideto Futami Msc. Luiz Carlos Camargo
Msc. Antônio Jose dos Santos Dr. Marcelo Teixeira dos Santos
Dr. Carlos Alberto Klimeck Gouvea Dr. Marco Aurélio de Oliveira
Dr. Carlos Emilio Borsa Dr. Mehran Misaghi
Msc. Carlos Roberto da Silva Filho Dr. Nazareno de Oliveira Pacheco
Msc. Clarissa Lussoli Lopes Dr. Norberto Fernando Kuchenbecker
Msc. Edicarsia Barbiero Pillon Msc. Oliveira
Msc. Ewandro Jose de Souza Dr. Orlando Preti
Msc. Fabiano Peixoto Drª. Palova Santos Balzer
Msc. Fernando Luiz Freitas Filho Esp. Paulo Rogério Pires Manseira
Msc. Ibere Roberto Duarte Msc. Roberta Tomasi Pires Hinz
Drª. Janaína Karine Andreazza Dr. Rogério Gomes Araújo
Drª. Janaina Lisi Leite Howarth Msc. Rosilaine Lima Lopes Zedral
Drª. Joelma Kremer Msc. Simone Laureano Angélica
Msc. Katiusca Wessler Msc. Solange Alves Costa Andrade de Oliveira

Ficha Catalográfica
(Catalogação na Fonte pela Biblioteca Visconde de Mauá da UNISOCIESC)

Revista do IST. –Joinville, SC: SOCIESC,1999-2015.


v.:il.;30cm.
Anual
ISSN 1678-3832
1.Ciência e tecnologia – Periódicos 2. Universidade e Faculdades – Periódicos
CDD 600

Ficha Catalográfica elaborada por: Telma Ap. Tupy de Godoy – Bibliotecária CRB14/77

56 UNISOCIESC - Revista do IST

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