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Os passos pelo Paço

Caminhando pelos arredores da praça quinze em uma esquina literal e filosófica da História
brasileira, me deparo com um frondoso edifício que ocupa um quarteirão. Lá está o Paço
imperial, um legítimo edifício de arquitetura colonial. Repleto de valor cultural, a obra construída
por volta de 1743. Em minha memória afetiva o nome “Paço” não faz jus ao edifício, afinal “Paço”
o refere a ser um pequeno palácio e para mim ele é enorme. Nele couberam muitas das mais
fantásticas exposições que já visitei quando criança.
Revisitar o edifício agora enquanto estudante de arquitetura é algo mais do que a palavra
“interessante” poderia descrever. Agora, um olhar analítico e quase técnico desmiuça os detalhes
antes apenas mágicos. É possível ler o que o edifício diz e compreender de onde a mágica surge.
As proporções da Praça XV com o edifício bem me parecem exatas, a longa área aberta,
conjugada ao baixo gabarito do Paço ajudam o vento a correr e me tocam, trazendo o ar de uma
cidade e sua história no coração do um Rio de Janeiro Colonial de José Fernandes Pinto Alpoim
(Arquiteto da obra). Por perto vizinhos nobríssimos como a Igreja Nossa Senhora do Monte do
Carmo, o Chafariz de Mestre Valentim e a Praça XV montam o cenário ideal para o edifício.
Poderia passar horas analisando cada um deles, e no fundo todos compõem-se como
protagonistas da cidade, cada um em seu valor.
Adentrando o pátio central, após passar pela tradicional loja Arlequim, é possível se mergulhar.
As texturas, as sacadas, as proporções, a madeira e as telhas vistas de baixo. Nada que não se
pudesse ver do lado de fora, porém, de dentro após ultrapassar o limite entre o edifício e a rua, a
inserção no cenário colonial se amplia. O invólucro do imponente edifício se abre parcialmente
ao observador, mas nunca totalmente, aliás acredito que a curiosidade seja de valor
característico a edificações anteriores ao modernismo. Uma curiosidade inerente a uma obra que
não pode oferecer grandes vãos livres e espaços fluentes. Suas paredes portantes e suas janelas
robustas exigem o permeio, a descoberta, a presença. Estão em via contrária a uma Farmsworth
House que em apenas uma foto revela-se completamente desnuda(exceto o banheiro).
Lembro-me da frase: “A percepção do Paço se torna mais clara a cada passo.” Essa era a
história que meu pai contava quando me levava ao edifício. Dizia-me que o paço assim se
chamava pois só ia se desnudando conforme caminhávamos. Eu extasiado com a arquitetura em
minha frente acreditava. A cada limite ou passagem do edifício, todo compartimentado,
descobria um novo mistério. Não faltavam salas de exposições ou espaços controversos que em
minha cabeça geravam fascínio. Do lado de fora pedras robustas compunham o que era a cidade
e seu tempo enquanto por dentro lisas paredes brancas se faziam apáticas para que meus olhos
pudessem observar as obras expostas.
Bons anos se passaram e refletindo vejo que quase nada mudou. Até hoje ainda é o Paço e
meus passos, assim, como mágica. Dizem que desde pequenos já damos sinais do que viríamos a
ser, talvez por isso tenha escolhido que quero ser arquiteto, aquele que orquestra essa magia.
Quando conheci o edifício ainda não sabia ler, sendo assim acreditava que o Paço se chamava
assim por causa de meus “passos” necessários. Hoje estudando arquitetura me sinto um pouco
triste em saber que chama-lo de Paço nada mais é do que chamar esse “gigante” de pequeno
palácio. Prefiro a versão de minhas descobertas pela arquitetura e pela História.

FAU-UFRJ
DHT- Arquitetura Brasileira 1
Professora_Carina Mendes
Aluno_Pedro Morais

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