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Neste trabalho, a participação é entendida enquanto envolvimento ativo dos atores da
comunidade educacional nos processos decisórios da instituição. Refere-se a ter voz ativa,
mesmo que muitas vezes não seja a decisiva. Relaciona-se, portanto, a possibilidades
deliberativas que, por sua vez, não se concentram apenas no gestor, mas sim são diluídas com
os demais componentes da escola e sua comunidade. Segundo Betini (2009, p. 127),
“participação e democracia na escola buscam autonomia e independência de todos os seus
integrantes, de todos os envolvidos no processo educacional. A direção democrática da escola
extrapola o seu limite e forma a consciência crítica de participação do cidadão na sociedade,
desenvolvendo a competência da cidadania, da política, atuando como um instrumento de
formação”.
2
a realidade, os avanços e as dificuldades na tarefa institucional de cumprir sua
função político-pedagógica de formação integral 2 do estudante. Trata-se,
portanto, de uma reflexão coletiva que, a partir das dificuldades apontadas,
compartilha compromissos e responsabilidades.
2
Fazemos referência à formação integral do estudante pois, em nosso entendimento, além do
aspecto cognitivo, a instituição educacional deve promover o desenvolvimento de outros
aspectos, como o afetivo, o social, o físico e o político, além de promover a criticidade, a
criatividade e a sensibilidade, numa perspectiva emancipatória que permita a atuação
solidariamente responsável nos coletivos aos quais pertença. Para além da dimensão
individual, a formação alcança uma dimensão social.
3
sentido oposto, ou seja, a disseminação de mais uma tarefa burocrática no
cotidiano institucional.
De outro modo, as Avaliações Institucionais sustentadas em paradigmas
emancipadores, situarão os sujeitos dos processos educacionais como aqueles
que possuem maior autoridade intelectual e profissional para avaliar resultados
e práticas educativas de forma que a participação corresponda a um
compromisso com as ações requeridas no processo para a qualificação da
educação na instituição.
Parece-nos, então, que se faz necessário olhar as Avaliações
Institucionais de forma mais apurada, sobretudo, para as formas de
participação ali exercidas. Nesta segunda década do século XXI, em
decorrência até mesmo da legislação educacional3 vigente em esferas federais,
estaduais e municipais de nosso país4, a Avaliação Institucional passou a ser
facilmente localizada nos documentos oficiais de instituições de Educação
Superior e em redes/sistemas estaduais e municipais.
Importante ressaltar, todavia, como bem lembra Dias Sobrinho (2005),
que os processos coletivos, principalmente quando relacionados à avaliação e
transformação em educação, surtem efeito apenas quando há um
comprometimento solidário que, por sua vez, emerge de processos fortalecidos
de crítica, discussão e reflexão coletiva. E, ainda:
3
Como exemplo de legislação referente à avaliação institucional temos: Lei 10.861 de 14 de
abril de 2004, que institui o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior);
Decreto nº 48.744, de 28 de dezembro de 2011, que institui o Sistema Estadual de Avaliação
Participativa no Rio Grande do Sul (SEAP/RS) e Resol. SME 05/2008, que instituiu a Avaliação
Institucional nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental do município de Campinas - SP.
4
E também em Portugal, com a Lei n.º 31/2002, de 20 de Dezembro, que instituiu “um sistema
de avaliação da educação e do ensino não superior” com carácter obrigatório. (FIALHO, 2009,
100).
4
dos sujeitos, reflexão, diálogo, divisão e compartilhamento de poderes e
responsabilidades, ou seja, necessita de um clima institucional, que, de acordo
com Leite (2005, p. 111) estimula determinados valores, como a consulta, a
discussão, a transparência, a confiança nas relações e a responsabilidade
democrática.
Acreditamos que, embora a Avaliação Institucional, a partir das
considerações aqui anunciadas, já contemple a característica participativa dos
segmentos educacionais (gestores, corpo docente, funcionários, alunos e
famílias e demais participantes da comunidade), é relevante destacar, assim
como ressaltado no início desta seção, que em virtude de alguns dispositivos
legais e da ausência do clima institucional, a Avaliação Institucional pode ter
passado a fazer parte do contexto de algumas escolas e universidades sem
que, para tanto, o sentido de participação fosse contemplado em sua
complexidade, numa perspectiva emancipadora.
Dessa forma, sustentados pelos estudos de Leite (2005), acreditamos
ser relevante a existência de uma avaliação institucional com forte
característica participativa de seus atores. Assim, para que a vertente
participação se fortaleça no processo de avaliação institucional, cuja
concretização ocorre pelo posicionamento ativo dos sujeitos, sobretudo nas
tomadas de decisões referentes ao Projeto Político-Pedagógico da instituição
(e não apenas como instância consultiva), insistiremos em práticas de
Avaliação Institucional Participativa (AIP) numa perspectiva de
responsabilização partilhada e não apenas Avaliação Institucional (AI).
A partir dos estudos de Leite (2005), temos que a Avaliação Institucional
Participativa vincula-se a uma democracia forte, “entendida como regime de
governo que se caracteriza pela formação de uma comunidade capaz de
resolver suas questões e conflitos através de uma política de participação, de
autocrítica e autolegislação” (LEITE, 2005, p. 109). Trata-se, portanto, de um
processo em que não há modelos prontos a serem adquiridos. Sua construção
se dá ao longo do tempo e com o envolvimento dos sujeitos com vistas a tornar
5
a instituição menos burocrática e realmente comprometida em realizar a
avaliação de suas condições e finalidades5.
Em síntese, a Avaliação Institucional Participativa, na perspectiva que
anunciamos, entende que todos os envolvidos devem possuir vez e, ao
colocarem-se diante de reflexões e debates, a partir de suas vivências e de
seus conhecimentos, identificarem necessidades e pactuarem compromissos6,
vislumbrando melhorias reais para a instituição. Diante de um coletivo
constituído, a responsabilização também é participativa, pois os atores
institucionais, incluídos no processo de deliberação das ações escolares,
convergem para a construção de compromissos partilhados em prol de uma
qualidade educacional que, em confronto com as lógicas mercadológicas e
7
numa perspectiva contrarregulatória , coloca-se a favor dos processos
emancipatórios (FREITAS; SORDI, 2013, p. 91).
Dessa forma, com o olhar direcionado a AIP, as próximas reflexões
serão norteadas pelo paradigma exposto em que, a partir da participação ativa
de todos os segmentos, com potência de decisão nas definições de objetivos
em prol do bem comum, ocorre a promoção da formação integral dos
5
Apesar de não haver modelos prontos de AIP, a autora destaca alguns princípios que
sustentam a avaliação institucional com forte característica participativa, são eles: a)
democracia direta: auto legislação, autocrítica e cidadania ativa; b) práxis política: construção
da democracia e da aprendizagem política antes e durante o processo com impacto nas
reformas realizadas; c) participação dos sujeitos: protagonismo de diferentes atores, em que
todos podem exercer funções de governo por períodos alternados; d) instituição como bem
público: instituição pertencente ao cidadão e a sociedade, em prol do bem comum, sem
vincular-se a interesses individuais associados a empresas ou partidos; e) avaliação como bem
público: avaliação da ação pedagógica, de sua responsabilidade social e do bem comum.
(LEITE, 2005, p. 110-111).
6
Quando falamos em compromissos pactuados, recorremos ao princípio de qualidade
negociada defendida por Bondioli (2004). Nessa direção, Bondioli aponta o coletivo como força
na busca por um trabalho que gere bons frutos, conduzindo para um caminho de qualidade
definido a partir do diálogo e da negociação entre os envolvidos no processo. A partir da
elaboração do Projeto Político-Pedagógico coletivo, são estabelecidos critérios de avaliação
que são retomados e reformulados conforme as ações são executadas. A qualidade
negociada, contudo, completa Betini (2009, p. 125) “não dispensa o conhecimento que vem de
fora, mas prioriza o conhecimento do real que se constrói dentro da escola. É um processo de
reflexão constante da escola sobre a sua prática, em busca das transformações necessárias e
desejáveis, em interface com o poder público e suas responsabilidades”.
7
Freitas (2005) explicita a contrarregulação como “a resistência propostitiva que cria
compromissos ancorados na comunidade mais avançada da escola (interna e externa), com
vistas a que o serviço público se articule com os seus usuários para, quando necessário,
resistir à regulação (contrarregulação) e, quando possível, avançar tanto na sua organização
como na prestação de serviços da melhor qualidade possível (justamente para os que têm
mais necessidade), tendo como norte a convocação de todos para o processo de
transformação social” (p.912).
6
estudantes com vistas à construção de uma cultura verdadeiramente
democrática, com pactos de compromissos e responsabilização compartilhada.
7
interna das mesmas, enfatizando a necessidade da instituição reunir
informações sobre sua realidade e de estimular o desenvolvimento de uma
discussão sobre avaliação. Contudo, em 1998, a Comunidade Europeia
implementou o Projeto Avaliação da Qualidade da Educação Escolar, “que
criou as bases para o estabelecimento de práticas de auto avaliação” (FIALHO,
2009, p. 102).
Apesar de ser um projeto para toda a Comunidade Europeia, o único
país a dar sequência foi Portugal que, por sua vez, realizou seu próprio
trabalho a partir do Projeto Qualidade XXI (1999-2002). Tal projeto procurou
simplificar os procedimentos, e reforçar o caráter participativo da autoavaliação,
tendo como eixo de discussão os resultados da aprendizagem, os processos
internos vividos em sala de aula e na escola e, ainda, a interação com o
contexto. Desenvolvido em duas etapas, a primeira, a partir da autoavaliação,
pretendia que a instituição avaliasse seu desempenho e funcionamento,
recolhendo dados sobre sua realidade. Em uma segunda fase, partindo das
conclusões obtidas na primeira, havia a elaboração de um plano de ação, com
medidas e procedimentos que levariam à melhoria educativa da instituição.
Na experiência do Projeto Qualidade XXI, os grupos criados para a
autoavaliação escolar eram acompanhados por um agente externo a
instituição, conhecido como “amigo crítico”9, cuja função era prestar assessoria
para o desenvolvimento do processo avaliativo. Coelho, Sarrico e Rosa (2008,
p.61), destacam que neste projeto, como cada escola possuía uma experiência
diferente na realização de práticas autoavaliativas, elas não foram efetivadas
em um mesmo ritmo. Dizem, também, que o grande obstáculo para a
continuidade do programa foi quando as instituições não puderam mais contar
com o auxílio do “amigo crítico”, uma vez que a verba destinada para sua
contratação deixou de ser repassada.
A avaliação ganhou ainda mais espaço, no cenário português, com as
iniciativas de descentralização 10 , pois, dessa forma, a avaliação estaria a
9
MacBeath (2005), reportando-se a Costa e Killick (1993), identifica o amigo crítico como
alguém de confiança que coloca questões provocatórias, fornece dados para serem analisados
através de diferentes olhares e critica, como amigo, o trabalho de outra pessoa, constituindo-se
num apoiador do sucesso desse trabalho.
10
As primeiras iniciativas de descentralização ocorreram com o Decreto-Lei 115-A/98
introduziu o Regime de autonomia, administração e gestão das escolas. Após dez anos, é
8
serviço de acompanhar a qualidade das instituições, tornando-se, portanto,
uma iniciativa de prestação de contas do serviço público. Como o próprio
decreto menciona: “A maior autonomia tem de corresponder maior
responsabilidade” (Decreto-Lei 75/2008).
Dessa forma, em Portugal, a Lei nº 31/2002, de 20 de dezembro de
2002, instituiu o sistema de avaliação para a educação básica e o ensino
superior. Tal sistema é composto pela autoavaliação da instituição e a
realização da avaliação externa. A lei determina que, ao ser obrigatória, a
autoavaliação deve ocorrer permanentemente. Não há um modelo de
autoavaliação a ser seguido11, entretanto, de acordo com o artigo 13 da lei,
cabe ao Conselho Geral acompanhar os resultados e, a partir deles, emitir
recomendações. Fialho (2009) destaca, porém, que ao não existir uma
regulamentação quanto ao seu formato, muitas instituições não iniciaram o
processo de implementação da avaliação institucional e ficaram aguardando
novas orientações. Foi em 2006, quando o Ministério da Educação adotou o
Programa de Avaliação Externa das Escolas para aferir a efetividade da
autoavaliação, que as instituições começaram a se mobilizar.
Neste contexto, o autor analisa alguns desafios vividos pelas escolas no
processo de implementação da avaliação institucional, dentre eles, a falta de
experiência e da cultura de se autoavaliar. Frente a uma imposição legal, as
instituições viram-se diante da necessidade de implementar a autoavaliação
sem que antes houvesse uma sensibilização e reflexão sobre sua importância.
Como vemos, apesar dos programas e a determinação legal para que
ela ocorra, a Avaliação Institucional Participativa ancorada na democracia forte,
a partir do envolvimento e da participação ativa dos atores escolares, com
vistas à melhoria institucional e dos seus processos educativos, ainda não é
percebida no contexto português.
9
Temos, assim, a imposição da Avaliação Institucional, a partir de uma
legislação. A Avaliação Institucional Participativa, entretanto, precisa ser
desejada por seus membros e quando imposta, parece-nos não conduzir à
reflexão crítica que direcionada a melhorias.
10
Participativa deve ser consolidada por seus membros que, conforme se
apropriam dos princípios da AIP, podem realizar o processo por si só.
12
Pelo Decreto nº 48.744, de 28 de dezembro de 2011.
13
A avaliação institucional, de acordo com o desenho proposto pela Secretaria Estadual de
Educação, deveria acontecer em quatro etapas: 1 - a fase local, cuja finalidade é fazer com que
a escola crie um grupo de avaliação, com representantes de cada segmento escolar, para a
efetivação da avaliação institucional; 2 – fase regional, responsável por acompanhar os
processos avaliativos locais e organizar os dados enviados a Secretaria; 3 – fase estadual,
através de um Grupo de Monitoramento, acompanha os trabalhos regionais, coordena e envia
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não foram planejadas a partir do envolvimento dos segmentos e da
comunidade. As etapas previstas, assim como os instrumentos utilizados nas
reuniões, foram prescritas pela Secretaria Estadual de Educação.
Em consequência desse não envolvimento inicial, as reuniões de
segmentos na escola pesquisada, por exemplo, não eram coletivas
(PERLEBERG, DUTRA, XAVIER, 2013). As avaliações eram realizadas em
momentos diferentes com os representantes dos segmentos. Dessa forma, o
encontro dos alunos aconteceu em uma semana e, após quatorze dias, foi
realizada a reunião com os pais no período da tarde e com os professores e
funcionários a noite. Não houve, portanto, a troca de informações, o debate
coletivo acerca das necessidades e de como superá-las, além de não ocorrer o
compartilhamento de responsabilidades e compromissos.
Há que se considerar, assim como destaca Leite (2005, p. 121), que
para a efetivação da AIP é necessário tempo. De acordo com seu modo de
pensar, o tempo pode configurar um limitador severo da Avaliação Institucional
Participativa, pois há conflitos organizacionais já que ao se realizar a avaliação
– com necessária dedicação de momentos de escuta, diálogo, troca de ideias,
reflexões, pesquisa de novas possibilidades e soluções – as outras tarefas
institucionais devem acontecer e também exigem empenho dos sujeitos. Para
superar tal limitador, é possível que muitas instituições recorram ao simples
envio de questionários e, até mesmo, ao não encontro dos segmentos e,
consequentemente, a não constituição do coletivo.
Nas reuniões de segmento, para a concretização da política gaúcha de
avaliação, havia cadernos com questões a serem respondidas. Após responder
as questões, o Conselho de Escola, junto com a Comissão Representativa de
Elaboração e Acompanhamento da Avaliação Institucional, reunia as
informações coletadas a fim de disponibilizá-las no site do Sistema Estadual de
Avaliação. Segundo os autores:
os dados a uma Universidade parceira; 4 – fase da avaliação externa, onde a Universidade, por
sua vez, realiza a interpretação dos dados produzidos nas diferentes fases.
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sistema, em três deles encontram-se as dimensões, os indicadores e
os descritores que abrangem cada questão, os outros dois
apresentam orientações para o desenvolvimento do trabalho e um
roteiro de avaliação dos alunos (PERLEBERG, E. A.; DUTRA, C. S.;
XAVIER, M. Q, 2013, p. 05).
13
inércia de avaliar o outro, no caso o aluno. Ainda há o senso comum de que a
avaliação está associada apenas ao apontamento de erros que,
contraditoriamente, em muitos casos, não são considerados como motes para
a transformação. A avaliação, em uma perspectiva emancipadora, trabalha a
favor do diagnóstico das dificuldades, contudo, seu maior objetivo é a análise
dos processos com vistas às melhorias reais na formação dos estudantes.
Dessa forma, para além das fragilidades, a cultura de avaliação que
concebemos parte do princípio de que os atores institucionais e sua
comunidade são protagonistas em sua tarefa de analisar e identificar
obstáculos, pactuar compromissos e responsabilidades, reivindicar o que
entender como necessário, acompanhar e enriquecer as potencialidades numa
busca constante de formação mútua de crianças, jovens e adultos.
14
das demais atividades universitárias. Segundo a autora, tal integração foi
possível, pois, além da livre adesão ao processo, por meio do PAIUB 14
(Programa de Avaliação Institucional nas Universidades Brasileiras), a Unijuí
tinha como principio elevar sua produção e seus serviços através da avaliação
promovida por sua comunidade interna e externa.
Após a realização de reuniões de sensibilização, a Universidade adotou,
para a realização da avaliação, a apresentação da realidade institucional com
seus resultados e dinâmica de trabalho analisados em assembleias
comunitárias. Para as assembleias, além dos atores internos a instituições,
atores externos foram convidados como, por exemplo, estudantes egressos,
representantes do mercado de trabalho e, também, dos movimentos sociais. A
reflexão ganhava profundidade com o olhar crítico proporcionado por
especialistas em avaliação, convidados a auxiliar no processo.
Na experiência da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, observamos que, ao estabelecer a instituição como foco de
análise, as aprendizagens obtidas, a partir do envolvimento dos sujeitos e suas
reflexões, favoreceram o pacto de qualidade e de compromisso enquanto
estratégia de contrarregulação, na luta pela busca de uma educação
construída para e pelos próprios atores. Lembramos que a finalidade primeira
de uma instituição educativa, seja escola ou universidade, deve ser a formação
e, pelo que percebemos com o relato apresentado, a reflexão coletiva
proporcionou avanços pedagógicos que, além de trazerem ganhos qualitativos
na formação dos estudantes, promoveu a melhoria de questões
organizacionais.
Ainda quanto à contrarregulação, ela se faz enquanto potência das
práticas de AIP por permitir que a instituição se autoavalie, independentemente
de ações do Estado, favorecendo sua atuação com vistas a diminuir as
barreiras burocráticas que atingem o fazer cotidiano da escola/universidade.
14
Proposta de avaliação das universidades públicas. Com uma duração média de dois anos, o
Programa desenvolvia-se em três fases: 1ª avaliação interna envolvendo todos os segmentos,
2ª avaliação externa realizada por especialistas e 3ª a reavaliação a partir dos achados das
fases anteriores. O PAIUB contava com adesão voluntária e o MEC, por sua vez, repassava os
recursos para as universidades que, ao aderirem, recebiam aprovação do projeto apresentado.
Em abril de 2004 o referido programa foi substituído pelo SINAES.
15
Ao defini-las [AIP], contribui-se para visualizar um processo de
desenvolvimento que pode tornar as instituições menos burocráticas.
Instituições realmente educativas, para realizar uma avaliação de
suas condições e finalidades de existência, independem do Estado.
Na AP se pode visualizar um processo de avaliação que em sua
intencionalidade democrática atravessa colegiados e administrações
universitárias, construindo uma espécie de currículo oculto para
aprendizagem e produção de conhecimento social (LEITE, 2005, p.
110).
16
Ainda quanto aos avanços obtidos a partir da experiência da Avaliação
Institucional Participativa na referida universidade, os atores participantes
destacaram: a luta pela universidade pública e gratuita, a criação de um novo
modo de pensar a universidade, troca de opiniões e experiências e a
percepção de que nada se faz sozinho (LEITE, 2005, p. 102).
Como anuncia Leite (2005, p. 109), a AIP potencializa a formação de
comunidades que almejam a transformação de interesses individuais e
privados em bens públicos e comuns. As transformações ocorrem, sobretudo,
nos momentos de troca, diálogo, debate e reflexão proporcionados pelo
encontro dos diversos segmentos que, ao demonstrarem suas vivências e
conhecimentos, exercitam a escuta e a exposição de ideias. Dessa forma, uma
grande potencialidade das experiências de AIP é o aspecto formativo de seus
sujeitos (funcionários, professores, gestores, alunos e demais envolvidos com o
ambiente institucional). Em outras palavras, trata-se de “uma forma de
produção de conhecimento social em construção coletiva” (MENDES, 2012, p.
193).
O aspecto formativo e a construção coletiva também estão presentes
na proposta de Avaliação Institucional da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC/SP). Segundo Sousa, Marcondes e Acosta (2008), a
autoavaliação realizada pela PUC/SP, a partir de 2005, preocupava-se em
proporcionar que todos os seus segmentos conhecessem a realidade
institucional para propor soluções de melhoria.
15
Mais detalhes ver: http://www.est.edu.br/downloads/pdfs/legislacao_cpa_17655.pdf.
17
No entanto, como todo processo formativo, a formação em avaliação e,
sobretudo em Avaliação Institucional Participativa, requer encontros e tempos
disponíveis para estudo, pesquisa e reflexão. A PUC/SP, ao deparar-se com a
necessidade de aprimorar a reflexão acerca de sua realidade e sobre o
processo avaliativo, percebeu que era preciso intensificar os debates entorno
do tema e, consequentemente, refinar o olhar de seus atores, por meio de
formação coletiva. A formação, nesse sentido, é mais uma vez ressaltada pelas
autoras:
18
Na etapa de comunicação negociada realizada na PUC/SP há algo que
merece nossa atenção: a integração com o Projeto Politico-Pedagógico (PPP)
da instituição. A autoavaliação, nesse sentido, promove a dinamicidade do
PPP16 da universidade e, a partir das análises e reflexões, novos acordos e
ações são formalizados e a ele são integrados.
De acordo com Bondioli (2004), com a elaboração do Projeto Político-
Pedagógico coletivo, critérios de avaliação são estabelecidos, retomados e
reformulados conforme as ações são executadas. A unidade
escolar/universidade deve consultar permanentemente o seu Projeto Político-
Pedagógico. É nele que os problemas identificados pelo coletivo poderão ser
registrados, simbolizando um “contrato entre a escola e a comunidade”
(DALBEN, 2008, p.29). Através do PPP, o coletivo poderá definir ações que
poderão ser desenvolvidas pelo próprio grupo, assim como traçar ações para
serem efetuadas em parcerias com outras instituições. É, portanto, uma
ferramenta fundamental na conciliação entre planejamento e ação, uma vez
que as tarefas executadas e os êxitos obtidos também se constituem em
referência inicial para novas conquistas e as atitudes vivenciadas podem
iluminar o presente com vistas ao futuro.
Nesse mesmo sentido de olhar para dentro da instituição, tendo como
norte seu Projeto Político-Pedagógico e a realidade por ela vivenciada,
trazemos, ainda, a experiência de Avaliação Institucional Participativa
desenvolvida no município de Campinas, interior do estado de São Paulo, nas
escolas municipais de Ensino Fundamental.
Segundo Sordi e Souza (2012), a experiência iniciu-se em 2002 com
uma parceria entre a Secretaria de Educação do município e o Laboratório de
Observação e Estudos Descritivos (LOED), da Faculdade de Educação da
UNICAMP. Em sua fase inicial, após estudos e debates, onze escolas aderiram
ao processo de avaliação, no ano 2005. Houve, ainda, nos anos seguintes, a
construção do Plano de Avaliação Institucional Participativa, com consequente
publicação da Resolução SME 05/2008, que estendeu o processo de Avaliação
16
Proposta de trabalho da escola elaborada coletivamente que orienta a ação dos atores,
constituindo-se em um instrumento vivo e dinâmico (FREITAS et. al., 2009, p. 40).
19
Institucional Participativa a todas as suas escolas de ensino fundamental que,
em 2014, somam 44 unidades.
Dessa forma, com a Resolução SME 05/2008, ficou estabelecida a
constituição, nessas unidades, de uma Comissão Própria de Avaliação – CPA.
Tal Comissão reune-se mensalmente, com data marcada em calendário
escolar, para discutir as questões da escola e pensar encaminhamentos
possíveis. Há, também, datas agendadas de reunião das CPAs com o Dirigente
Municipal da Secretaria de Educação para discussão de ações empreendidas
pela escola, de reivindicações verticais ascendentes e encaminhamentos
possíveis17.
Analisando publicação da Secretaria Municipal de Educação em 2012
(SORDI; SOUZA, 2012), foi possível observar registros escritos de diferentes
segmentos da CPA, depondo sobre sua participação e suas percepções do
processo. Nesse sentido, apresentamos em seguida, alguns recortes da
elaboração realizada por funcionários de escolas, por estudantes, pais e
professores, quanto ao processo vivido.
Duas funcionárias de uma EMEF trazem a ideia de caminhada, ou seja,
de processo na busca comum por uma escola melhor e acena, ainda, a
importância dos encontros com o titular da pasta da Secretaria.
17
Observamos que no ano de 2013 não houve a realização dessas reuniões entre CPAs e
Dirigente Municipal.
20
Os estudantes registram seu entusiasmo em participar de um coletivo e
discutir o que é bom para todos.
Todos que passaram pela CPA sabem a emoção e a garra que é ser
um membro de um grupo que não é simplesmente um grupo qualquer
e sim um grupo de pessoas que colocam seus pensamentos em prol
dos seus companheiros sem pensar apenas em si mesmos [...]
deixamos de lado toda a individualidade [...] somos todos
incomodados que um dia mudaremos o mundo (SORDI; SOUZA,
2012, p. 108).
21
educacional, a prática proporcionada pela realização de debates, alternância
de poderes, possibilidades de exposição de opiniões e, sobretudo, a busca
coletiva de possíveis soluções, contribui com o aprimoramento da atuação do
sujeito em sua família, sua comunidade local e, consequentemente, na
sociedade de modo geral. A escola/universidade, nesse sentido, é privilegiado
espaço de tal exercício, principalmente porque a vivência da democracia é
recente e os locais destinados a sua prática ainda são raros.
Assim, nossa reflexão é a de romper com a ilusão de que por existir a
possibilidade do voto ou de responder a questionários, vivenciamos um
contexto em que as oportunidades são iguais e que os êxitos dependem dos
esforços pontuais. Com propostas fortalecidas na participação e nos princípios
democráticos que defendemos ao longo deste ensaio, nos posicionamos –
mesmo conhecendo as dificuldades e os obstáculos do percurso – pela
construção de uma sociedade realmente comprometida com o bem comum de
crianças, jovens e adultos.
22
exige tempo histórico, ruptura com o estabelecido e mudança. Exige nuclear a
ação pelo coletivo e não pelo individual.
Como potencialidade, a ideia de que é possível olhar para a instituição
educacional de dentro para fora, um olhar plural, pensando a instituição como
ela é e como pode ser com o compromisso de agir e de reivindicar. A
potencialidade da AIP, também está, como apontado por várias vezes nas
experiências que apresentamos, nos aspectos formativos, proporcionados
pelos momentos de escuta, estudo e reflexão da realidade, vivenciados na
constituição do coletivo institucional.
Como desafio percebemos a exigência de formar-se “para” e “na” AIP,
rompendo com o mercadológico disposto e construir outra cultura de avaliação.
O desafio é não desistir quando não se consegue o que se pretendia e voltar à
cilada de culpar o outro desconstituido-se da escola. É colocar o nós à frente
do eu e do eles. Contudo, anterior a todos esses desafios, está o de levar tal
debate para fora dos muros acadêmicos, num cenário permeado por
concepções onde a meritocracia ganha espaço no contexto educacional sem
que, para tanto, ocorra uma profunda reflexão das condições das instituições,
das concepções individualistas e dos interesses particulares que muitas vezes
perpassam pelos mais variados âmbitos da sociedade, atingindo,
consequentemente, a educação.
Por isso, concentramos nossos esforços em realizar uma reflexão sobre
os caminhos percorridos pelas instituições que se atreveram a efetuar, apesar
das fragilidades e desafios, o exercício de se autoavaliar. Dessa forma,
concordamos com Sordi e Souza (2009), que a análise das variadas
experiências nos possibilita refinar o olhar para as particularidades e
especificidades dos processos vivenciados, como ferramenta na construção de
novas possibilidades e propostas.
23
desconforta, pela proposição de uma outra alternativa (SORDI;
SOUZA, 2009, p.11).
Referências Bibliográficas
24
FREITAS, L. C. Avaliação e Contra-regulação da escola pública. Educ. Soc.,
Campinas, vol. 26, n. 92, p. 911-933, Especial - Out. 2005.
25