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Uma Exposição da

TULIP
C. H. Spurgeon
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Traduzido dos originais em Inglês

Via: SpurgeonGems.org
Adaptado a partir de The C. H. Spurgeon Collection, Version 1.0, Ages Software.

Tradução por Camila Rebeca Teixeira


Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Janeiro de 2017

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com permissão de


Emmett O’Donnell em nome de SpurgeonGems.org, sob a licença Creative Commons Attribution-
NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
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Sumário
Introdução: Uma Defesa do Calvinismo .............................................................................. 4

1 • Depravação Total do Homem ou Incapacidade Humana (T de TULIP — Total Depravaty) .17


2 • Eleição Incondicional (U de TULIP — Unconditional Election)..........................................31
3 • Expiação Limitada ou Redenção Particular (L de TULIP — Limited Atonement) .................50
4 • Chamado Eficaz ou Graça Irresistível (I de TULIP — Irresistible Grace) ............................65
5 • Perseverança dos Santos (P de TULIP — Perseverance of the Saints) ..............................78

Apêndices
A1 • A Salvação Pertence Ao Senhor (Sermão Nº 131) .......................................................93
A2 • A Gloriosa Predestinação (Sermão Nº 1043) ............................................................. 107
A3 • Eleição Particular (Sermão Nº 123).......................................................................... 123
A4 • As Doutrinas da Graça Não Levam ao Pecado (Sermão Nº 1735) ................................ 137

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Introdução
Uma Defesa do Calvinismo

[Nota: Esta mensagem foi extraída da Autobiografia de C. H. Spurgeon, Volume 1]

É algo grandioso iniciar a vida Cristã crendo em boa e sólida doutrina. Algumas pessoas
têm recebido vinte diferentes “evangelhos” em alguns anos; quantos mais eles aceitarão
antes de chegar ao final de sua jornada, seria difícil de prever. Agradeço a Deus que Ele
cedo me ensinou o Evangelho, e eu tenho estado tão perfeitamente satisfeito com ele, que
eu não careço de qualquer outro. A mudança constante de credo resultará certamente em
perdas. Se uma árvore tiver que ser arrancada duas ou três vezes por ano, você não
precisará construir um grande depósito para armazenar as maçãs. Quando as pessoas estão
sempre mudando seus princípios doutrinários, elas não são susceptíveis de produzir muito
fruto para a glória de Deus. É bom que os jovens crentes comecem com um firme apego
àquelas grandes doutrinas fundamentais que o Senhor nos ensinou em Sua Palavra. Por
que, se eu cresse no alguns pregam sobre a salvação temporária, passageira, que dura
apenas por um momento, eu dificilmente seria grato por isso; mas quando sei que aqueles a
quem Deus salva, Ele salva com uma salvação eterna, quando sei que Ele lhes dá uma
justiça eterna, quando eu sei que Ele estabelece-os sobre um eterno fundamento de amor
sem fim, e que Ele os trará para o Seu reino eterno, oh! então maravilho-me, e assombro-
me que uma bênção como esta pudesse ter sido alguma vez dada a mim!

“Silêncio, minh’alma! Adore, e maravilhe-se!


Pergunte: 'Oh! por que tão grande amor para comigo?'
A graça colocou-me no número
Da família do Salvador: Aleluia!
Graças, graças eternamente, a Ti!”

Eu suponho que haja algumas pessoas cujas mentes naturalmente se inclinam em


direção à doutrina do livre-arbítrio. Eu apenas posso dizer que a minha se inclina mui
naturalmente para as Doutrinas da Graça Soberana. Às vezes, quando vejo na rua algumas

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das piores pessoas, eu sinto como se meu coração devesse irromper em lágrimas de
gratidão por Deus nunca ter me deixado agir como aquelas pessoas! Eu tenho pensado que
se Deus tivesse me deixado sozinho e não tivesse me tocado por Sua graça, que grande
pecador eu teria sido! Eu teria ido o mais longe possível no pecado, mergulhado nas
profundezas do mal, nem eu teria parado qualquer vício ou loucura se Deus não me tivesse
impedido. Eu sinto que eu teria sido um rei dos pecadores, se Deus me tivesse deixado
sozinho. Eu não consigo entender a razão pela qual sou salvo, exceto sobre o fundamento
que Deus quis que fosse assim. Eu não posso, mesmo se eu buscar mui sinceramente,
descobrir qualquer tipo de razão em mim mesmo pela qual eu deveria ser um participante da
Divina graça. Se não estou neste momento sem Cristo, é somente porque Cristo Jesus
cumpre a Sua vontade em mim, e esta vontade foi que eu estivesse com Ele onde Ele está,
e devesse compartilhar de Sua glória. Eu não posso colocar a coroa em nenhum outro lugar,
senão sobre a cabeça dAquele cuja graça poderosa me salvou de ir para dentro do abismo.

Olhando para o meu passado, eu posso ver que o alvorecer de tudo foi a partir de Deus
e de Deus eficazmente. Eu não tomei nenhuma tocha para acender o sol, foi o sol que me
iluminou. Eu não comecei a minha vida espiritual, não, antes, eu preferia recalcitrar e lutar
contra as coisas do Espírito, quando Ele me chamou, em um tempo que eu não corria após
Ele; havia um ódio natural em minha alma em relação a tudo que é santo e bom. Advertências
eram ineficazes quanto a mim, alertas eram lançados ao vento, trovões eram desprezados;
e quanto aos sussurros de Seu amor, eles foram rejeitados como sendo menos do que nada
e vaidade. Mas, seguro estou, eu posso dizer agora, falando em nome de mim mesmo, “Ele
somente é a minha salvação”. Foi Ele Quem transformou meu coração, e me trouxe de
joelhos diante dEle. Eu posso, verdadeiramente, dizer com Doddridge e Toplady:

“A graça ensinou minha alma a orar,


E fez meus olhos transbordarem,”

E, chegando a este ponto, posso acrescentar:

“Esta graça tem me preservado até hoje,


E não me abandonará.”

Bem posso lembrar-me da maneira pela qual eu aprendi as Doutrinas da Graça em um


único instante. Como todo homem, por natureza, eu nasci Arminiano, eu ainda acreditava
nas velhas coisas que eu ouvira continuamente a partir do púlpito, e não via a graça de Deus.
Quando eu estava vindo para Cristo, eu pensei que estava fazendo tudo sozinho, e embora
eu buscasse ao Senhor sinceramente, eu não tinha ideia de que o Senhor estava me

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buscando. Eu não acho que o jovem convertido é a princípio consciente disso. Lembro-me
de no mesmo dia e hora em que eu primeiramente recebi aquelas verdades em minha própria
alma, quando elas foram, como diz John Bunyan, queimadas em meu coração como com
um ferro quente, e lembro-me como eu senti que eu havia crescido, de repente, de um bebê
a um homem; que eu havia feito progressos no conhecimento das Escrituras, por ter
encontrado, de uma vez por todas, a chave para a verdade de Deus. Em uma noite, durante
a semana, quando eu estava sentado na casa de Deus, eu não estava pensando muito sobre
o sermão do pregador, porque eu não cria naquilo. O pensamento me ocorreu: “Como você
veio a ser um Cristão?”, “Busquei ao Senhor”, respondi eu. “Mas como você veio a buscar o
Senhor?”. A verdade passou pela minha mente em um momento, eu não teria procurado por
Ele, a menos que tivesse havido alguma influência prévia em minha mente para me fazer
buscá-lO. “Eu orei”, pensei eu, mas então eu me perguntei: “Como cheguei a orar?”, “Fui
induzido a orar pela leitura das Escrituras”, repliquei comigo mesmo. “Como vim a ler as
Escrituras? Eu li, mas o que me levou a fazer isso?”. Então, em um momento, eu vi que Deus
estava no princípio de tudo isso, e que Deus era o Autor da minha fé, e assim toda a Doutrina
da Graça se abriu para mim, e desta Doutrina eu não me afastei até o presente, e desejo
fazer desta a minha confissão constante: “Eu atribuo a minha conversão inteiramente a
Deus”.

Uma vez fui a um culto onde o texto era: “Escolherá para nós a nossa herança” [Salmos
47:4]; e o bom homem que ocupava o púlpito era um Arminiano. Assim, quando ele começou,
disse: “Esta passagem se refere totalmente à nossa herança física, ela não tem relação com
o nosso destino eterno, pois”, disse ele, “nós não carecemos que Cristo escolha para nós na
questão do Céu ou inferno. É tão simples e fácil, que todo homem que tem um pouco de
senso comum escolherá o Céu, e qualquer pessoa compreenderia que não deve escolher o
inferno. Nós não temos nenhuma necessidade de alguma inteligência superior, ou de
qualquer grandioso Ser, para escolher o Céu ou o inferno por nós. Isso é deixado ao nosso
próprio livre-arbítrio, e temos bastante sabedoria dada a nós, e meios corretos para julgar
por nós mesmos”, e, portanto, como ele muito logicamente inferiu, não havia necessidade
de que Jesus Cristo, ou que qualquer outra pessoa, fizesse uma escolha por nós. Nós
poderíamos escolher a herança por nós mesmos sem qualquer auxílio. “Ah!”, eu pensei,
“mas, meu bom irmão, pode ser bem verdade que nós poderíamos, mas eu acho que nós
precisaríamos de algo mais do que o senso comum antes que pudéssemos escolher
corretamente”.

Em primeiro lugar, deixe-me perguntar: não devemos, todos nós, admitir uma soberana
providência, e a designação da mão de Jeová, como os meios pelos quais nós viemos a este

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mundo? Aqueles homens que pensam que, posteriormente, nós somos deixados em nosso
livre-arbítrio para escolher isso ou aquilo para dirigir os nossos passos, devem admitir que
nossa entrada no mundo não ocorreu a partir de nossa própria vontade, mas que Deus teve,
então, que escolher por nós. Que circunstâncias eram aquelas em nosso poder que nos
levaram a eleger certas pessoas para serem nossos pais? Ele não poderia me fez nascer
com a pele de um africano, nascido de uma mãe ímpia que cuidaria de mim em sua “tribo”,
e me ensinaria a curvar-me diante de deuses pagãos, tão facilmente como me concedeu a
uma mãe piedosa, que a cada manhã e noite dobraria seus joelhos em oração por mim? Ou,
talvez Ele, se tivesse do Seu agrado, não poderia dar-me algum libertino para ter sido meu
pai, de cujos lábios eu poderia ter desde cedo ouvido temerosas e imundas obscenidades?
Deus não poderia ter me colocado onde eu poderia ter tido um pai bêbado, que teria me
enclausurado no próprio calabouço da ignorância, e me conduzido às cadeias do crime? Não
foi a providência de Deus que eu tivesse uma tão feliz porção, que os meus pais fossem
Seus filhos, e se que se esforçaram para me educar no temor do Senhor?

John Newton costumava contar e rir de uma história curiosa sobre uma boa mulher que
disse, a fim de provar a doutrina da eleição: “Ah! senhor, o Senhor deve ter me amado antes
de eu nascer, ou então Ele não teria visto nada em mim para me amar depois”. Tenho certeza
de que isso é verdade no meu caso; eu creio na doutrina da eleição, porque estou certo de
que, se Deus não me tivesse escolhido, eu nunca O teria escolhido; e tenho certeza que Ele
me escolheu antes de eu nascer, ou caso contrário Ele nunca teria me escolhido depois; e
Ele deve ter me eleito por razões desconhecidas para mim, pois eu nunca poderia encontrar
qualquer razão em mim mesmo pela qual Ele deveria ter olhado para mim com amor especial.
Então, eu sou obrigado a aceitar esta grande doutrina bíblica.

Lembro-me de um irmão Arminiano me dizendo que ele tinha lido as Escrituras por
muitas e muitas vezes, e nunca conseguiu encontrar a doutrina da eleição nelas. Ele
acrescentou que ele estava certo de que ele a teria encontrado se ela estivesse ali, pois ele
lia a Palavra de joelhos. Eu disse a ele: “Eu acho que você lê a Bíblia em uma postura muito
desconfortável, e se você tivesse lido em sua poltrona, teria sido mais provável que você a
compreendesse. Ore por todos os meios, e quanto mais, melhor, mas é uma certa
superstição pensar que há alguma coisa na postura em que o homem se coloca para a
leitura, e quanto a ter lido toda a Bíblia vinte vezes sem ter encontrado nada sobre a doutrina
da eleição, a maravilha é se você encontrou alguma coisa em absoluto. Você deve ter
galopado através dela a um ritmo tal que não era susceptível de ter qualquer ideia inteligível
sobre o sentido das Escrituras”.

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Se seria maravilhoso ver um rio saltar caudaloso da terra, o que seria contemplar um
vasto manancial do qual todos os rios da terra imediatamente irrompessem borbulhando, um
milhão deles emergindo? Que visão isso seria! Quem pode concebê-lo? E ainda assim, o
amor de Deus é aquela fonte, a partir da qual todos os rios da misericórdia têm alegrado a
nossa raça, da qual todos os rios da graça no tempo, e de glória no porvir têm a sua origem.
Minha alma, detém-te naquele manancial sagrado, e adore, e magnifique, para todo o
sempre a Deus, o nosso Pai, que nos amou!

No início, quando este grande universo estava na mente de Deus, como florestas não
nascidas; muito tempo antes dos ecos acordarem as solidões; antes que os montes
nascessem; e longo antes que a luz brilhasse através do céu, Deus amou as Suas criaturas
escolhidas. Antes que houvesse algum ser criado, quando o éter não era agitado pela asa
de um anjo, quando o espaço em si não tinha uma existência, quando havia nada exceto
Deus somente, mesmo então, naquela solidão da Deidade, e naquela intensa calma e
profundidade, as Suas entranhas se moviam com amor por Seus eleitos. Seus nomes
estavam escritos em Seu coração, e, Eles eram, então, queridos de Sua alma. Jesus amou
Seu povo antes da fundação do mundo, desde a eternidade! e quando Ele me chamou pela
Sua graça, Ele me disse: “Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te
atraí” (Jeremias 31:3).

Depois, na plenitude do tempo, Ele me comprou com o Seu sangue; Ele deixou que o
Seu coração sangrasse em uma profunda ferida aberta por mim, muito antes que eu O
amasse. Sim, quando Ele veio pela primeira vez até mim, eu não O desprezei? Quando Ele
bateu na porta e pediu para entrar, eu não O afastei, e desprezei, apesar de Sua graça? Ah,
eu posso me lembrar que eu muitas vezes o fiz, até que, finalmente, pelo poder de Sua graça
eficaz, Ele disse: “Eu devo, eu entrarei”, e então Ele converteu o meu coração, e me fez amá-
lO. Mas, mesmo até agora eu teria resistido a Ele, se não fosse por Sua graça. Bem, em
seguida, uma vez que Ele me comprou quando eu estava morto em pecados, não se segue,
como consequência necessária e lógica, que Ele deve ter me amado primeiro? Será que
meu Salvador morreu por mim, porque eu cria em Deus? Não; eu nem existia, então; eu tinha
nenhuma existência nessa ocasião. Poderia o Salvador, portanto, ter morrido, porque eu
tinha fé, quando eu ainda não havia nascido? Isso seria possível? Isso poderia ter sido a
origem do amor do Salvador por mim? Oh! não; meu Salvador morreu por mim muito antes
que eu cresse. “Mas”, diz alguém, “Ele previu que você teria fé, e, portanto, Ele te amou”. O
que Ele previu sobre a minha fé? Ele previu que eu deveria ter fé de mim mesmo, e que eu
deveria crer nEle a partir de mim mesmo? Não; Cristo não poderia prever isso, porque
nenhum Cristão alguma vez dirá que sua fé se originou em si mesmo sem o dom e sem a

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ação do Espírito Santo. Encontrei-me com um grande número de crentes, e conversei com
eles sobre este assunto; mas eu nunca conheci alguém que poderia colocar a sua mão em
seu coração, e dizer: “Eu cri em Jesus sem a assistência do Espírito Santo”.

Apego-me à doutrina da depravação do coração humano, porque eu me encontro


depravado de coração, e tenho provas diárias que na minha carne não habita bem algum.
Se Deus entra em aliança com o homem antes da queda, o homem é uma tão insignificante
criatura que isso deve ser um ato de graciosa condescendência da parte do Senhor; mas se
Deus entra em aliança com o homem pecador, ele é, então, uma tão ofensiva criatura que
isso deve ser, da parte de Deus, um ato de pura, abundante e soberana graça. Quando o
Senhor entrou em aliança comigo, tenho certeza de que foi tudo por graça, nada mais do
que graça. Quando me lembro que covil de feras e aves impuras que era meu coração, e
quão forte era a minha vontade não-regenerada, quão obstinado e rebelde contra a
soberania do governo Divino, sempre me sinto inclinado a tomar o menor lugar na casa de
meu Pai, e quando eu entrar no Céu, isso será entre o menor dos menores de todos os
santos, e com o principal dos pecadores.

O saudoso Sr. Denham colocou, na legenda de seu retrato, um texto admirável: “A


salvação pertence ao Senhor”. Este é apenas um epítome do Calvinismo, é a soma e a
substância do mesmo. Se alguém perguntar-me o que eu quero dizer por um Calvinista, eu
respondo: “Ele é alguém que diz que a salvação pertence ao Senhor”. Não consigo encontrar
nas Escrituras nenhuma outra doutrina além desta. É a essência da Bíblia. “Só ele é a minha
rocha e a minha salvação” [Salmos 62:6]. Diga-me qualquer coisa contrária a esta verdade,
e será uma heresia; diga-me uma heresia, e encontrarei a sua essência aqui, ou seja, que
ela se afastou desta grande, desta fundamental rocha da verdade: “Deus é a minha rocha e
a minha salvação”.

Qual é a heresia de Roma, senão a adição de algo aos perfeitos méritos de Jesus
Cristo, a propositura de que as obras da carne auxiliam em nossa justificação? E qual é a
heresia do Arminianismo, senão a adição de algo à obra do Redentor? Cada heresia, se
trazida à pedra de toque, se desvelará aqui. Eu tenho minha própria opinião particular de que
não há tal coisa como pregar Cristo e Ele crucificado, a menos que nós preguemos o que
hoje é chamado Calvinismo. Calvinismo é um apelido; Calvinismo é o Evangelho, e nada
mais. Eu não acredito que nós podemos pregar o Evangelho, se não pregarmos a justificação
pela fé, sem obras; nem a menos que nós preguemos a soberania de Deus em Sua
dispensação da graça; nem a menos que exaltemos o eletivo, imutável, eterno, inabalável,
conquistador amor de Jeová; nem penso que podemos pregar o Evangelho, a menos que

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nos baseemos no resgate especial e particular do Seu povo eleito e escolhido, o que Cristo
operou na cruz; nem posso eu compreender um Evangelho que permite que os santos
venham a cair depois de serem chamados, e consente que os filhos de Deus sejam
queimados no fogo da condenação após terem uma vez crido em Jesus. Tal evangelho eu
abomino.

“Se alguma vez pudesse ocorrer,


Que as ovelhas de Cristo se perdessem,
Minha inconstante e fraca alma, infelizmente!
Cairia mil vezes por dia.”

Se algum querido santo de Deus pudesse perecer, então, todos poderiam; se um dos
participantes do Pacto fosse perdido, então todos poderiam se perder; e então não há
nenhuma promessa evangélica verdadeira, a Bíblia é apenas uma mentira, e não há nada
nela que seja digno de minha aceitação. Eu serei um infiel no momento em que eu creia que
um santo de Deus alguma vez pode cair finalmente. Se Deus me amou uma vez, então Ele
me amará para sempre. Deus tem uma mente controladora; Ele organizou tudo em Seu
gigantesco intelecto, muito antes de fazê-lo; e uma vez tendo estabelecido, Ele nunca o
alterará. “Isso será feito”, diz Ele, e a mão de ferro do destino o determina, e é trazido à
existência. “Este é o meu propósito”, e isso permanece, nem a terra ou o inferno podem
alterá-lo. “Este é o meu decreto”, diz Ele, “promulguem isso, vós, santos anjos, arranquem
da porta do Céu, ó, demônios, se puderem; mas vocês não podem alterar o decreto, ele será
estabelecido para sempre”. Deus não revoga os Seus planos; por que Ele deveria? Ele é
Todo-Poderoso, e, portanto, pode realizar a Sua vontade. Por que deveria? Ele é o Todo-
sábio, e, portanto, não pode ter planejado de forma errada. Por que deveria? Ele é o Deus
eterno, e, portanto, não pode morrer antes de Seu plano ser realizado. Por que Ele mudaria?
Vós átomos inúteis da terra, coisas efêmeras de um dia, vós insetos rastejantes sobre este
jardim da existência, vós podeis mudar os vossos planos, mas Ele nunca, nunca mudará os
Seus. Ele me disse que Seu plano é salvar-me? Se for assim, eu estou seguro para sempre.

“Meu nome das palmas das Suas mãos


A eternidade não apagará;
Gravado em Seu coração permanece,
Em marcas de indelével graça.”

Eu não sei como algumas pessoas, que acreditam que um Cristão pode cair da graça,
conseguem ser felizes. Deve ser algo muito louvável que eles sejam capazes de passar um
dia sem desespero. Se eu não cresse na doutrina da perseverança final dos santos, eu acho

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que seria de todos os homens o mais miserável, porque eu careceria de qualquer


fundamento do conforto. Eu não poderia dizer, seja qual fosse a condição de meu coração,
que eu seria como um manancial de água, cujo fluxo não falha; antes, eu teria que comparar-
me com uma nascente intermitente, que pode parar de repente, ou um reservatório, que eu
não teria nenhuma razão para esperar que estaria sempre cheio. Acredito que os mais felizes
dos Cristãos e os mais verdadeiros dos Cristãos são aqueles que nunca se atrevem a duvidar
de Deus, mas quem tomam a Sua Palavra simplesmente como é, e creem, e não fazem
perguntas, apenas sentem a certeza de que se Deus disse algo, assim será. Presto de boa
vontade o meu testemunho, que eu não tenho nenhuma razão, nem mesmo uma sombra de
uma razão, para duvidar de meu Senhor, e eu desafio o céu, e a terra, e o inferno, para
trazerem qualquer prova de que Deus não é verdadeiro. Das profundezas do inferno eu
chamo os demônios, e desta terra eu convoco os crentes experimentados e aflitos, e ao Céu
apelo, e desafio a longa experiência da hoste lavada pelo sangue, e não há de ser encontrado
nos três domínios, uma única pessoa que possa testemunhar um fato que refute a fidelidade
de Deus, ou enfraqueça a Sua reivindicação pela confiança de Seus servos. Há muitas
coisas que podem ou não podem acontecer, mas isso eu sei que acontecerá:

“Ele deve apresentar a minha alma,


Sem mancha e completa,
Diante da glória de Sua face,
Com alegrias divinamente grandiosas.”

Todos os propósitos do homem têm sido derrotados, mas não os propósitos de Deus.
As promessas do homem podem ser quebradas, muitas delas são feitas para serem
quebrados, mas todas as promessas de Deus serão cumpridas. Ele é um fazedor de
promessa, mas Ele nunca foi um quebrador de promessa; Ele é um Deus que guarda a
promessa, e cada um de Seu povo provará que é assim. Esta é a minha grata confiança
pessoal, “O Senhor aperfeiçoará o que me toca” [Salmos 138:8], eu sou indigno, perdido
pecador e arruinado em mim mesmo, mas Ele, ainda assim, me salvará, e

“Eu, no meio da multidão lavada pelo sangue,


Agitarei a palma, e usarei a coroa,
E bradarei a vitória.”

Eu vou para a terra que o arado nunca orou, um lugar que é mais verde do que os
melhores pastos da terra, e mais rico do que as suas colheitas mais abundantes já vistas.
Irei para um edifício de arquitetura mais lindo do que alguém alguma vez edificou; ele não é
de projeto mortal, é “de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” [2

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Coríntios 5:1]. Tudo o que conhecerei e desfrutarei no céu, será dado a mim pelo Senhor, e
eu direi, quando finalmente comparecer perante Ele:

“A graça toda a obra deve coroar


Ao longo de dias eternos;
Ela estabelece no Céu a pedra do pináculo,
E bem merece o louvor.”

Eu sei que há alguns que pensam que é necessário para o seu sistema de teologia
limitar o mérito do sangue de Jesus, se o meu sistema teológico necessitasse de tal limitação,
gostaria de lançá-lo aos ventos. Eu não posso, eu não me atrevo a permitir o pensamento
de encontrar uma acomodação em minha mente, isso parece tão perto da semelhança de
blasfêmia. Na obra consumada de Cristo, eu vejo um oceano de mérito; meu prumo não
encontra fundo, meu olho não descobre nenhum litoral. Deve haver eficácia suficiente no
sangue de Cristo, se Deus assim o quisesse, para ter salvado não somente a todos neste
mundo, mas a totalidade de dez mil mundos, se eles tivessem transgredido a lei de seu
Criador. Uma vez admitida a infinitude do assunto, e o limite está fora de questão. Tendo
uma Pessoa Divina por uma oferta, não é consistente conceber um valor limitado; limitações
e medida são termos inaplicáveis ao sacrifício Divino. A intenção do propósito Divino fixa a
aplicação da oferta infinita, mas não a transforma em uma obra finita.

Pense a quantos Deus já concedeu a Sua graça. Pense nas incontáveis hostes do Céu;
se tu fosses introduzido hoje, tu encontrarias tão fácil contar as estrelas, ou as areias do mar,
como contar as multidões dos que estão diante do trono mesmo agora. Eles vieram do
Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e eles estão sentados à mesa com Abraão, e com
Isaque, e com Jacó no Reino de Deus; e ao lado daqueles no Céu, pense sobre os salvos
na terra. Bendito seja Deus, que os Seus escolhidos na terra devem ser contados por
milhões, eu creio, e os dias estão chegando, dias melhores do que estes, quando haverá
multidões sobre multidões levadas a conhecer o Salvador, e a alegrarem-se nEle. O amor
do Pai não é para alguns apenas, mas para uma mui grande companhia. “Uma multidão, a
qual ninguém podia contar”, será encontrada no Céu.

Um homem pode contar até valores muito elevados; coloquem os Newtons para
trabalhar, as calculadoras mais poderosas, e eles podem contar grandes números, mas Deus
e só Deus pode contar a multidão de Seus remidos. Eu acredito que haverá mais no Céu do
que no inferno. Se alguém me pergunta por que eu acho que sim, eu respondo, porque
Cristo, em tudo, deve “ter a preeminência”, e eu não posso conceber como Ele poderia ter a
preeminência se deverá haver mais pessoas nos domínios de Satanás do que no Paraíso.

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Além disso, eu nunca li que haverá no inferno uma grande multidão, que ninguém podia
contar. Alegro-me em saber que as almas de todos os infantes, assim que eles morrem, logo
seguem o seu caminho para o Paraíso. Pense em que multidão deles há! Então, já existem
no Céu miríades inumeráveis dos espíritos dos justos aperfeiçoados, os remidos de todas as
nações, e tribos, e povos, e línguas, até agora; e há melhores tempos próximos, quando a
Religião de Cristo será universal; quando:

“Ele reinará de um extremo ao outro,


Com influência ilimitada.”

Quando reinos inteiros se prostrarão diante dEle, e as nações nascerão em um dia, e


nos mil anos do grande estado milenar haverá salvos suficientes para compensar todas as
deficiências dos milhares de anos que se passaram anteriormente. Cristo será Mestre em
todos os lugares, e o Seu louvor ecoará em todas as terras. Cristo terá a preeminência, por
fim; Seu cortejo será maior do que aquele que assistirá a carruagem do sombrio monarca do
inferno.

Algumas pessoas amam a doutrina da expiação universal, porque elas dizem: “É tão
bonita. É uma bela ideia a que Cristo teria morrido por todos os homens; ela recomenda a si
mesma”, dizem eles, “pois, em relação instintos da humanidade, há algo nela cheio de alegria
e beleza”. Admito que existe, mas a beleza pode estar muitas vezes associada com a
falsidade. Há muito que eu possa admirar na teoria da redenção universal, mas apenas
mostrarei o que a suposição envolve necessariamente. Se Cristo, em Sua cruz, intencionou
salvar todos os homens, então Ele pretendia salvar os que estavam perdidos antes dEle
morrer. Se a doutrina for verdadeira, que Ele morreu por todos os homens, então Ele morreu
por alguns que estavam no inferno antes que Ele viesse a este mundo, pois, sem dúvida,
havia até então miríades que foram lançadas ali por causa de seus pecados. Mais uma vez,
se fosse a intenção de Cristo salvar todos os homens, quão deploravelmente Ele tem sido
decepcionado, pois temos Seu próprio testemunho de que existe um lago que arde com fogo
e enxofre, e nesse abismo de aflição têm sido lançadas algumas das próprias pessoas que,
segundo a teoria da redenção universal, foram compradas com o Seu sangue. Isso me
parece uma concepção mil vezes mais repugnante do que qualquer uma dessas
consequências que dizem ser associadas com a Doutrina Cristã e Calvinista da redenção
especial e particular. E pensar que meu Salvador morreu pelos homens que estavam ou
estão no inferno, parece uma suposição horrível demais para eu sustentar.

Imagine por um momento que Cristo fosse o Substituto para todos os filhos dos
homens, e que Deus, após ter punido o Substituto, posteriormente venha a punir os próprios

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pecadores, parece entrar em conflito com todas as minhas noções sobre a justiça Divina.
Que Cristo tenha oferecido uma expiação e satisfação pelos pecados de todos os homens,
e que depois alguns desses mesmos homens sejam punidos pelos pecados os quais Cristo
já havia expiado, parece-me ser a iniquidade mais monstruosa que jamais poderia ter sido
imputada a Saturno, a Juno, à deusa dos Thugs, ou às divindades pagãs mais diabólicas.
Que Deus não permita que alguma vez pensemos assim sobre Jeová, que é justo, sábio e
bom!

Não há nenhuma alma vivente que apegue-se mais firmemente as Doutrinas da Graça
do que eu, e se algum homem me pergunta se eu me envergonho de ser chamado Calvinista,
eu respondo: Desejo ser chamado de nada, senão de Cristão; mas se você me perguntar se
eu compartilho das compressões doutrinárias que foram sustentadas por João Calvino, eu
respondo, que eu sustento a maioria delas, e me regozijo em reconhecer isso. Mas longe
esteja de mim, mesmo imaginar que Sião não contém nada, senão Cristãos Calvinistas
dentro de seus muros, ou que não há nenhum salvo que não sustente nossos pontos de
vista. Coisas mui terríveis foram ditas sobre o caráter e a condição espiritual de John Wesley,
o príncipe moderno dos Arminianos. Apenas posso dizer a respeito dele que, enquanto eu
detesto muitas das doutrinas que ele pregou, ainda assim, quanto ao homem em si, eu tenho
uma reverência ao segundo que não era Wesleyano; e se houvesse necessidade de dois
apóstolos serem adicionado ao número dos doze, acredito que não poderiam ser
encontrados dois homens mais aptos para isso, do que George Whitefield e John Wesley. O
caráter de John Wesley permanece além de qualquer imputação de auto-sacrifício, zelo,
santidade e comunhão com Deus; ele viveu muito acima do nível normal dos Cristãos
comuns, e foi um “dos quais o mundo não era digno”. Creio que há multidões de homens que
não conseguem ver estas verdades, ou, pelo menos, não podem vê-las na maneira em que
as colocamos, os quais, apesar disso, receberam a Cristo como seu Salvador, e são tão
queridos ao coração do Deus da graça, como o firme Calvinista, dentro ou fora do Céu.

Eu acho que não sou diferente de qualquer um dos meus irmãos Hiper-Calvinistas
quanto ao que eu creio, mas eu discordo deles no que eles não acreditam. Eu não sustento
nada menos do que eles, mas eu sustento um pouco mais, e, eu acho, um pouco mais da
verdade revelada nas Escrituras. Não só existem algumas doutrinas fundamentais, pelas
quais podemos orientar o nosso navio Norte, Sul, Leste ou Oeste, mas à medida que
estudamos a Palavra, começaremos a aprender algo sobre o Noroeste e Nordeste, e tudo o
mais que fica entre os quatro pontos cardeais. O sistema da verdade revelada nas Escrituras
não é simplesmente uma única linha reta, mas duas; e nenhum homem jamais terá um
entendimento correto do Evangelho até que ele saiba como olhar para as duas linhas ao

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mesmo tempo. Por exemplo, eu li em um livro da Bíblia: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem.
E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água
da vida” [Apocalipse 22:17]. No entanto, eu sou ensinado, em outra parte da mesma Palavra
inspirada, que “isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se
compadece” [Romanos 9:16]. Eu vejo, em uma passagem, Deus, em providência, presidindo
tudo, e ainda assim eu vejo, e eu não posso deixar de ver, que o homem age como lhe
agrada, e que Deus deixou as suas ações, em grande medida, à sua própria livre-agência.

Agora, se eu declarasse que o homem era tão livre para agir que não havia controle de
Deus sobre suas ações, isso seria ir muito perto do ateísmo. E se, por outro lado, devo
declarar que Deus controla todas as coisas de tal maneira que o homem não é livre o
bastante para ser responsável, eu seria conduzido neste exato momento ao Antinomianismo
ou fatalismo. Que Deus predestina, e ainda assim o homem é responsável, são dois fatos
que poucos podem ver claramente. Acredita-se que estas duas verdades são inconsistentes
e contraditórias, uma em relação a outra. Se, então, eu encontro ensinado em uma parte da
Bíblia que tudo é predestinado, isso é verdade; e se eu encontro, em outra Escritura, que o
homem é responsável por todas as suas ações, isso é verdadeiro; e é apenas a minha tolice
que me leva a imaginar que essas duas verdades alguma vez podem se contradizer. Eu não
acredito que elas podem alguma vez ser fundidas transformando-se em uma, em qualquer
bigorna terrena, mas elas certamente serão apenas uma na eternidade. Elas são duas linhas
que são quase tão paralelas, que a mente humana que as segue mais à distância nunca
descobrirá que elas convergem, mas elas convergem, e elas se encontrarão em algum lugar
na eternidade, perto do trono de Deus, de onde procede toda a verdade.

Costuma-se dizer que as doutrinas que cremos têm uma tendência a levar-nos a pecar.
Eu ouvi afirmado mui positivamente, que aquelas grandes doutrinas que amamos, e que
encontramos nas Escrituras, são doutrinas licenciosas. Não sei quem terá a audácia de fazer
esta afirmação, quando eles considerarem que os mais santos dos homens têm crido nelas.
Peço ao homem que se atreve a dizer que o Calvinismo é uma Religião licenciosa, o que ele
pensa sobre o caráter de Agostinho, ou de Calvino, ou de Whitefield, os quais, em eras
sucessivas foram os grandes expoentes do sistema da graça; ou o que ele dirá sobre os
Puritanos, cujas obras estão cheias destas doutrinas? Se um homem fosse um Arminiano
naqueles dias, ele seria considerado como o mais vil dos hereges, mas agora nós somos
vistos como hereges, e eles como ortodoxos. Nós voltamos à velha escola; podemos traçar
nossa descendência desde os apóstolos. É aquela veia de livre graça, correndo através da
pregação dos Batistas, que nos preservou como uma denominação. Se não fosse por isso,
não permaneceríamos onde estamos hoje. Nós podemos traçar uma linha dourada até o

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próprio Jesus Cristo, através de uma santa sucessão de poderosos pais, os quais todos
sustentaram estas verdades gloriosas; e podemos perguntar a respeito deles: “Onde você
encontrará homens mais santos e melhores no mundo?”.

Nenhuma doutrina é tão projetada para preservar o homem do pecado quanto a


doutrina da graça de Deus. Aqueles que a chamaram de “uma doutrina licenciosa” não
conheciam nada sobre ela. Pobres criaturas ignorantes, eles pouco sabiam que a sua própria
vil doutrina era a mais licenciosa debaixo do Céu. Se eles conhecessem a graça de Deus
verdadeiramente, eles logo veriam que não havia nada que conservasse da apostasia como
um conhecimento de que somos eleitos de Deus desde a fundação do mundo. Não há nada
como uma crença em minha perseverança eterna, e na imutabilidade da afeição de meu Pai,
que possa manter-me perto dEle por um simples motivo de gratidão. Nada faz um homem
tão virtuoso quanto a crença na verdade. A doutrina apóstata em breve gerará uma prática
apóstata. Um homem não pode ter uma crença errônea sem, aos poucos, ter uma vida
errônea. Eu creio que uma coisa naturalmente gera a outra. De todos os homens, os que
têm a mais desprendida piedade, a mais sublime reverência e a mais ardente devoção são
aqueles que creem que eles são salvos pela graça, sem as obras, por meio da fé, e isto não
vem deles mesmos, é dom de Deus. Os Cristãos devem tomar cuidado, e perceber que isso
é sempre assim, a menos que Cristo seja crucificado novamente e exposto ao vitupério.

“Não a nós, SENHOR, não a nós,


Mas ao teu nome dá glória, por amor da tua
Benignidade e da tua verdade.
Porque dirão os gentios: Onde está o seu Deus?
Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou.”
(Salmos 115:1-3)

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1
Depravação Total do Homem ou Incapacidade
Humana
(T de TULIP — Total Depravaty)

Sermão Nº 82. Um sermão pregado na manhã do Dia do Senhor, 7 de março de 1858.


Por C. H. Spurgeon, no Music Hall, Royal Surrey Gardens.

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6:44).

“Ir a Cristo” é uma frase muito comum na Sagrada Escritura. Ela é usada para expressar
aqueles atos da alma, onde simultaneamente deixando a nossa justiça própria e os nossos
pecados, nós fugimos para o Senhor Jesus Cristo e recebemos a Sua justiça como sendo a
nossa veste e Seu sangue como sendo a nossa expiação. Ir a Cristo, então, envolve
arrependimento, autonegação e fé no Senhor Jesus Cristo. Isso resume em si todas as
coisas que são os requisitos necessários destas grandes demandas do coração, tais como
a crença nas verdades de Deus, a sinceridade da oração a Deus, a submissão da alma aos
preceitos do Evangelho de Deus e todas aquelas coisas que acompanham o alvorecer da
salvação na alma. Ir a Cristo é exatamente a única coisa essencial para a salvação do
pecador. Aquele que não vem a Cristo, faça o que fizer, ou pense o que pensar, ainda está
em “fel da amargura e nos laços da iniquidade”. Ir a Cristo é o primeiro efeito da regeneração.
Logo que a alma é vivificada, descobre seu estado perdido, fica aterrorizada com isso, busca
por um refúgio e crê que Cristo é um refúgio adequado, foge para Ele e repousa nEle. Onde
não há este ir a Cristo, é certo que ainda não existe nenhuma vivificação; onde não há
vivificação, a alma está morta em delitos e pecados, e estando morta, não pode entrar no
Reino dos Céus. Temos diante de nós agora um anúncio muito surpreendente — alguns
chegam a dizer que é muito desagradável. Ir a Cristo, embora descrito por algumas pessoas
como sendo a coisa mais fácil em todo o mundo, é em nosso texto declarado ser uma coisa

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total e inteiramente impossível a qualquer homem, visto que o Pai precisa trazê-lo a Cristo.
Deve ser o nosso negócio, então, discorrer sobre esta declaração. Não duvidamos que isso
sempre será ofensivo à natureza carnal; todavia, a ofensa da natureza humana é, por vezes,
o primeiro passo para fazê-la prostrar-se diante de Deus. E se este é o efeito de um processo
doloroso, podemos esquecer a dor e regozijar-nos com as consequências gloriosas!

Eu me esforçarei nesta manhã, antes de tudo, para ressaltar a incapacidade do homem,


no que isso consiste. Em segundo lugar, o trazer do Pai, o que é e como é exercido sobre a
alma. E, então, concluirei observando um doce consolo que pode ser extraído deste texto
aparentemente árido e terrível.

I. Primeiro, então, a incapacidade do homem. O texto diz: “Ninguém pode vir a mim, se
o Pai que me enviou o não trouxer”. No que consiste esta incapacidade?

Em primeiro lugar, não se encontra em qualquer defeito físico. Se para ir a Cristo o


mover do corpo ou andar com os pés fosse de alguma ajuda, certamente o homem teria todo
o poder físico para ir a Cristo nesse sentido. Lembro-me de ter ouvido uma reivindicação
Antinomiana muito tola que ele não cria que qualquer homem tinha o poder de caminhar até
a Casa de Deus, a menos que o Pai o trouxesse. Agora, o homem era claramente tolo porque
ele deveria ter visto que enquanto um homem estivesse vivo e tivesse pernas, era tão fácil
para ele andar até a Casa de Deus como à casa de Satanás! Se ir a Cristo inclui a
pronunciação de uma oração, o homem não tem defeito físico a esse respeito. Se ele não
for mudo, ele pode proferir uma oração tão facilmente quanto ele pode proferir blasfêmia. É
tão fácil para um homem cantar uma das canções de Sião, como cantar uma música profana
e libidinosa. Não há falta de força física para ir a Cristo que seja necessária no que diz
respeito à força física que o homem mui certamente tem. E nenhuma parte da salvação
consiste no que está total e inteiramente no poder do homem sem qualquer assistência do
Espírito de Deus. Nem, novamente, esta incapacidade reside em qualquer deficiência
mental. Eu posso crer que esta Bíblia é verdadeira tão facilmente quanto eu posso crer que
qualquer outro livro é verdadeiro. Tanto quanto crer em Cristo é um ato da mente, eu sou tão
capaz de crer em Cristo quanto eu sou capaz de crer em qualquer outro. Que a sua
declaração seja exatamente a verdade, é inútil dizer-me que eu não posso crer nela. Eu
posso crer na declaração de Cristo, tanto quanto posso crer na declaração de qualquer outra
pessoa. Não há deficiência nas faculdades da mente — ela é tão capaz de avaliar um mero
ato mental da culpa do pecado, pois é capaz de avaliar a culpa do assassinato! É tão possível
para mim exercer a ideia mental de buscar a Deus, quanto é de exercer o pensamento de

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ambição. Eu tenho toda a força mental e poder que seria, eventualmente, necessário, na
medida em que, de algum modo, o poder mental é necessário para a salvação. Não, não há
nenhum homem tão ignorante que seja capaz de alegar a falta de intelecto como uma
desculpa para rejeitar o Evangelho. O defeito, então, não reside nem no corpo nem no que,
teologicamente falando, somos obrigados a chamar de mente. Não é qualquer falta ou
deficiência nisso, embora seja uma vicissitude da mente — a corrupção ou a ruína dela —
que, afinal, é a própria essência da incapacidade do homem!

Permita-me mostrar-lhe no que realmente consiste essa incapacidade do homem. A


incapacidade encontra-se profundamente em sua natureza. Pela Queda e pelo nosso próprio
pecado, a natureza do homem tornou-se tão degradada, depravada e corrupta, que é
impossível para ele ir a Cristo sem a assistência de Deus, o Espírito Santo! Agora, na
tentativa de demonstrar como a natureza do homem o incapacita a ir a Cristo, você deve
permitir-me usar uma figura. Você vê uma ovelha, quão voluntariamente ela se alimenta da
forragem! Você nunca soube que uma ovelha buscou carniça, ela não conseguiria viver com
a comida do leão. Agora me traga um lobo e você me pergunta se um lobo não comeria
grama, se ele não seria tão dócil e tão domesticado quanto as ovelhas. Eu respondo que
não, porque sua natureza é contrária a isso. Você diz: “Bem, ele tem orelhas e pernas. Ele
não pode ouvir a voz do pastor e segui-lo onde quer que o pastor o guiar?”. Eu respondo,
certamente. Não há uma causa física pela qual ele não possa fazê-lo, mas a sua natureza o
proíbe, e, portanto, eu digo que ele não pode fazê-lo. O leão não pode ser domesticado?
Não é possível que a sua ferocidade seja removida? Provavelmente, ele pode até ser
subjugado para que se torne aparentemente inofensivo, mas sempre haverá uma distinção
notável entre ele e as ovelhas, porque há uma diferença de natureza. Agora, a razão pela
qual o homem não pode ir a Cristo não é porque ele não consegue ir, tanto quanto o seu
corpo ou seu mero poder mental está em causa. O homem não pode vir a Cristo porque sua
natureza é tão corrupta que ele não tem nem a vontade nem a capacidade para ir a Cristo a
menos que seja atraído pelo Espírito.

Mas, permita-me dar uma ilustração melhor. Você vê uma mãe com seu bebê em seus
braços. Você coloca uma faca em sua mão e diz-lhe para apunhalar o coração do bebê. Ela
responde mui sinceramente: “Eu não posso”. Agora, na medida em que o seu poder corporal
está em consideração, ela poderia, se quisesse. Existe a faca e há a criança. A criança não
resistiria e ela tem força mais do que suficiente na mão para esfaqueá-la imediatamente.
Mas ela está muito certa quando ela diz que não pode fazê-lo! Como um mero ato da mente,
é bem possível que ela poderia pensar em tal coisa como matar a criança e ainda assim ela
diz que não pode pensar em tal coisa. E ela não diz falsamente, pois a sua natureza materna

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a proíbe de fazer uma coisa que a sua alma abomina. Simplesmente porque ela é mãe dessa
criança, ela sente que não pode matá-la. É assim mesmo com um pecador. Ir a Cristo é tão
desagradável para a natureza humana que, embora, na medida em que as forças físicas e
mentais estão em consideração — e estes têm apenas um pequeno alcance no que diz
respeito à salvação — os homens poderiam ir se quisessem; é estritamente correto dizer que
eles não podem e não querem, a menos que o Pai que enviou a Cristo os trouxer! Entremos
um pouco mais profundamente no assunto e tentaremos mostrar-lhe no que essa
incapacidade do homem consiste em suas várias particularidades.

1. Em primeiro lugar, a incapacidade consiste na obstinação da vontade humana. “Oh”,


diz o Arminiano, “os homens podem ser salvos se quiserem”. Nós respondemos: “Meu caro
senhor, todos nós acreditamos nisso. Mas é exatamente se eles querem que é a dificuldade.
Nós afirmamos que nenhum homem vem a Cristo a menos que ele seja atraído. Não, nós
não afirmamos isto, mas o próprio Cristo o afirma: ‘Não quereis vir a mim para terdes vida’
(João 5:40). E enquanto ‘não quereis’ permanecer registrado nas Sagradas Escrituras, Cristo
não crerá em qualquer doutrina da liberdade da vontade humana”. É estranho ver como as
pessoas, quando se põe a falar sobre o livre-arbítrio, falam sobre coisas das quais elas não
entendem nada. “Ora”, diz alguém: “Eu creio que os homens podem ser salvos se quiserem”.
Meu caro senhor, de modo algum esta não é a questão. A questão é: Alguma vez os homens
já foram naturalmente dispostos a submeter-se aos termos humilhantes do Evangelho de
Cristo? Nós declaramos, sob a autoridade das Escrituras, que a vontade humana é tão
desesperadamente má, tão depravada e tão inclinada a tudo o que é vil, tão pouco disposta
a tudo o que é bom, que sem a influência poderosa, sobrenatural e irresistível do Espírito
Santo, nenhum ser humano alguma vez será compelido em direção a Cristo! Você responde
que os homens, por vezes, são dispostos sem a ajuda do Espírito Santo. Eu respondo:
Alguma vez você já conheceu alguém com quem isso aconteceu? Dezenas e centenas, não,
milhares de Cristãos, jovens e velhos, que possuíam opiniões diferentes e com quem eu
conversei jamais puderam afirmar que vieram a Cristo por si mesmos sem que houvessem
sido atraídos. A confissão universal de todos os verdadeiros crentes é esta: “Eu sei que a
menos que Jesus Cristo tivesse me buscado quando eu era um perdido e estranho ao
rebanho de Deus, eu estaria a esta mesma hora vagando longe dEle e amando essa
distância”. Em comum acordo, todos os crentes afirmam a verdade de Deus de que os
homens não virão a Cristo até que o Pai que enviou a Cristo, os atraia.

2. Novamente, não somente a vontade é obstinada, mas o entendimento é obscurecido.


Disso nós temos abundante prova bíblica. Não estou agora fazendo meras afirmações, mas
declarando doutrinas com a autoridade dos ensinos encontrados nas Sagradas Escrituras e

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conhecidos na consciência de todos os Cristãos: que o entendimento do homem é tão


obscuro que ele não pode por qualquer meio entender as coisas de Deus, até que o seu
entendimento seja iluminado! O homem é por natureza cego. A cruz de Cristo, tão cheia de
glórias, resplendor e atrativos não o atrai porque ele é cego e não pode ver as suas belezas.
Fale com ele sobre as maravilhas da criação, mostre a ele o arco-íris colorido que atravessa
o céu, deixe-o contemplar as glórias de uma paisagem, ele é bem capaz de ver todas estas
coisas; mas fale com ele das maravilhas do Pacto da Graça; fale com ele sobre a segurança
do crente em Cristo; conte-lhe sobre as belezas da Pessoa do Redentor e verás que ele é
muito surdo para todas as suas descrições! Você é como aquele que toca uma música
agradável, é verdade, mas ele não se importa, ele é surdo, ele não tem o entendimento! Ou,
para retornar ao verso que tão especialmente observamos em nossa leitura: “Ora, o homem
natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” [1 Coríntios 2:14], e enquanto
ele é um homem natural, não está em seu poder discernir as coisas de Deus. “Bem”, diz
alguém, “eu acho que cheguei a um julgamento muito razoável em matéria de teologia. Eu
acho que entendo quase todos os pontos”. Isso pode ser verdade quanto à letra, mas quanto
ao espírito dela — na verdade, a aceitação disso na alma e a compreensão real do mesmo
— é impossível que você o tenha alcançado, a menos que tenha sido atraído pelo Espírito!
Pois, enquanto as Escrituras permanecerem verdadeiras, quando dizem que os homens
carnais não podem entender as coisas espirituais, deve ser verdade que você não chegou a
uma compreensão espiritual das Escrituras a menos que tenha sido regenerado e feito um
homem espiritual em Cristo Jesus. Assim, a vontade e a compreensão são duas grandes
portas, ambas trancadas impedindo o nosso ir a Cristo! E até que estas sejam abertas pelas
doces influências do Espírito Divino, elas estarão sempre fechadas para qualquer coisa como
ir a Cristo.

3. Mais uma vez, as afeições, que constituem uma grande parte do homem, são
depravadas. O homem, como ele é antes de receber a graça de Deus, ama toda e qualquer
coisa, exceto as coisas espirituais! Se você precisar de uma prova disso, olhe ao seu redor.
Não precisa de nenhum monumento à depravação das afeições humanas. Olhe para todos
os lugares; não há uma rua, nem uma casa, não, nem um coração que não ostente sobre si
a triste evidência desta verdade terrível! Por que os homens não são encontrados no Sabath
universalmente reunindo-se para a casa de Deus? Por que não somos mais constantemente
encontrados lendo nossas Bíblias? Por que a oração é um dever quase completamente
negligenciado? Por que Jesus Cristo é tão pouco amado? Por que mesmo os Seus
seguidores professos são tão frios em seus afetos para com Ele? De onde surgem essas
coisas? Certamente, queridos irmãos e irmãs, não podemos rastreá-los até nenhuma outra

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fonte além dessa: a corrupção e vício das afeições! Amamos o que devemos odiar e odiamos
o que devemos amar! É exatamente por causa da natureza humana, da natureza humana
caída, que o homem ama a vida presente mais do que a vida vindoura. É apenas devido ao
efeito da Queda que o homem ama o pecado mais do que a justiça e os caminhos deste
mundo mais do que os caminhos de Deus. E mais uma vez o repetimos: até que estas
afeições sejam renovadas e transformadas pelas atrações graciosas do Pai, não é possível
que qualquer homem ame o Senhor Jesus Cristo!

4. Além disso, a consciência também foi corrompida pela Queda. Eu acredito que não
há erro mais flagrante cometido por teólogos do que quando eles dizem às pessoas que a
consciência é o vice-regente de Deus na alma e que é um daqueles poderes que conserva
a sua antiga dignidade e permanece em pé em meio à queda de outras faculdades! Meus
irmãos e irmãs, quando o homem caiu no jardim, a humanidade inteiramente caiu! Não houve
uma única coluna no templo da humanidade que permaneceu de pé. É verdade que a
consciência não foi destruída. O pilar não foi quebrado. Ela caiu, e caiu em uma única peça
e aqui ela permanece sozinha, a remanescente mais poderosa da obra outrora perfeita de
Deus no homem! Mas que a consciência está caída, tenha certeza. Olhe para os homens.
Quem entre eles é o possuidor de uma “boa consciência para com Deus”, senão o homem
regenerado? Você imagina que se as consciências dos homens sempre falassem em voz
alta e clara para eles, eles viveriam na prática diária em atos que estão em oposição ao que
é correto, como a escuridão se opõe à luz? Não, amado; a consciência pode me dizer que
eu sou um pecador, mas a consciência não pode me fazer sentir que eu sou um pecador! A
consciência pode me dizer que tal e tal coisa é errada, mas como é errada, a própria
consciência desconhece. Será que a consciência de qualquer homem não iluminado pelo
Espírito alguma vez lhe diz que seus pecados mereciam a condenação? Ou se a consciência
faz isso, ela alguma vez leva qualquer homem a sentir uma aversão ao pecado como
pecado? Em verdade, a consciência alguma vez levou algum homem a tal autorrenúncia ao
ponto dele abominar completamente a si mesmo e todas as suas obras e o fez ir a Cristo?
Não, a consciência embora não esteja morta, está arruinada! Seu poder está prejudicado;
ela não tem aquela clareza no olhar, aquela força da mão e aquele estrondo da voz que tinha
antes da Queda. Ela deixou, em grande medida, de exercer sua supremacia na cidade de
Alma Humana. Então, amados, torna-se necessário, por isso mesmo — porque a consciência
é depravada — que o Espírito Santo intervenha para nos mostrar a nossa necessidade de
um Salvador e atrair-nos ao Senhor Jesus Cristo.

“Ainda assim”, diz alguém, “pelo que você falou, parece-me que você considera que a
razão pela qual os homens não vão a Cristo é porque eles não querem ir, em vez de eles

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não poderem ir”. É verdade, verdadeiríssimo! Eu acredito que a maior razão da incapacidade
do homem é a obstinação de sua vontade. Uma vez superado isso, eu acho que a grande
pedra é revolvida do sepulcro e a parte mais difícil da batalha já está ganha. Todavia, permita-
me ir um pouco além. Meu texto não diz: “Ninguém quer vir”, mas diz: “Ninguém pode vir”.
Agora, muitos intérpretes acreditam que o pode aqui não é senão uma forte expressão que
não possui nenhum significando além da palavra quer. Tenho certeza de que isso não é
correto. Há no homem não só a falta de vontade de ser salvo, mas há uma falta de poder
espiritual para ir a Cristo. E isso eu provarei a todos os Cristãos, de qualquer modo. Amados,
falo a vocês que já foram iluminados pela graça Divina. A sua experiência não lhe ensina
que há momentos em que você tem uma vontade de servir a Deus e ainda assim não têm o
poder? Você, às vezes, não foi obrigado a dizer que você quis crer, mas você já teve que
orar: “Senhor, ajude a minha incredulidade”? Porque, embora dispostos o suficiente para
receber o testemunho de Deus, a sua própria natureza carnal era muito forte para você, e
sentiu que precisava de ajuda sobrenatural. Você é capaz de entrar em seu quarto a qualquer
hora que você quiser e cair sobre seus joelhos e dizer: “Agora é minha vontade que eu seja
muito sério na oração e que eu meu aproxime de Deus”? Eu pergunto, você encontra o seu
poder igual à sua vontade? Você pode dizer, mesmo no tribunal do próprio Deus, que você
tem certeza que não está enganado em sua vontade. Você está disposto a ser forte nas
devoções. É sua vontade que a sua alma não se desvie de uma pura contemplação do
Senhor Jesus Cristo, mas você encontra que não pode fazer isso, mesmo quando está
disposto, sem a ajuda do Espírito de Deus!

Agora, se o vivificado filho de Deus encontra uma incapacidade espiritual, quanto mais
o pecador que está morto em delitos e pecados? Se até mesmo o Cristão maduro, depois
de 30 ou 40 anos, encontra-se, por vezes, disposto e ainda impotente — se tal é a sua
experiência — não parece mais do que provável que o pobre pecador que ainda não creu
encontre-se necessitando de força, bem como de vontade? Porém, mais uma vez, há um
outro argumento. Se o pecador tem força para ir a Cristo, gostaria de saber como devemos
entender essas descrições contínuas do estado do pecador que se encontra na Santa
Palavra de Deus? Ora, é dito que o pecador está morto em delitos e pecados. Você afirmará
que a morte implica nada mais do que a ausência de uma vontade? Certamente um cadáver
é tão incapaz quanto relutante. Ou, novamente, todos os homens não veem que há uma
distinção entre a vontade e o poder? O cadáver não pode ser suficientemente vivificado de
obter uma vontade e ainda ser tão impotente que não possa levantar tanto quanto a sua mão
ou pé? Será que já vimos casos em que as pessoas foram apenas suficientemente
reanimadas para dar provas de vida, e ainda têm estado tão perto da morte que não poderiam
realizar a menor ação? Não há uma clara diferença entre a disposição da vontade e a ação

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do poder? É certo, no entanto, que, quando a vontade é dada, o poder seguirá. Faça um
homem disposto e ele será feito poderoso; pois, quando Deus dá a vontade, Ele não aflige o
homem, fazendo-lhe desejar o que ele é incapaz de ter! No entanto, Ele faz uma tal divisão
entre a vontade e o poder que deve ser visto que ambas as coisas são dons muito distintos
do Senhor Deus.

Então, eu devo fazer mais uma pergunta. Se isso fosse tudo o que é necessário para
fazer um homem disposto, você imediatamente não rebaixaria o Espírito Santo? Não temos
o costume de dar toda a glória da salvação operada em nós a Deus, o Espírito? Mas agora,
se tudo o que Deus o Espírito faz por mim é me dispor a fazer essas coisas por mim mesmo,
não sou em grande medida participante com o Espírito Santo na glória? Não deveria eu me
levantar e ousadamente dizer: “É verdade que o Espírito me deu a vontade de fazê-lo, mas
ainda assim eu o fiz e nisso me gloriarei, pois se eu mesmo fiz essas coisas sem a assistência
do alto, eu não lançarei a minha coroa aos Seus pés! A coroa é minha, eu a obtive e a
segurarei”? Na medida em que o Espírito Santo é sempre representado na Escritura como a
Pessoa que opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, segundo a Sua boa vontade,
afirmamos ser uma inferência legítima que Ele deve fazer para nós algo mais do que
meramente fazer-nos dispostos. Portanto, deve haver outra coisa além da necessidade da
vontade em um pecador, deve haver necessidade absoluta e real de poder.

Agora, antes de eu concluir esta declaração, permita que eu me dirija a você por um
momento. Sou muitas vezes acusado de pregar doutrinas que podem provocar um grande
dano. Bem, não negarei a acusação, porque não tenho o cuidado de responder sobre esta
questão. Eu tenho minhas testemunhas aqui presentes para provar que as coisas que eu
tenho pregado têm produzido uma grande quantidade de dano, mas não provocaram dano
à moral ou à Igreja de Deus. O dano tem sido feito à causa de Satanás! Não há um ou dois,
mas muitas centenas de pessoas que se alegram nesta manhã que foram aproximados de
Deus. De profanadores de Sabath, bêbados ou pessoas mundanas, eles foram levados a
conhecer e a amar o Senhor Jesus Cristo. E se isso representa qualquer dano, que Deus,
em Sua infinita misericórdia, envie-nos mil vezes mais!

Mas, além disso, que verdade há no mundo que não causará dano a um homem que
escolhe distorcê-la e fazer dela um dano? Vocês que pregam a redenção universal gostam
muito de proclamar a grande verdade da misericórdia de Deus ao máximo. Mas, como vocês
ousam pregar isso? Muitas pessoas convertem isso em dano, adiando o dia da graça e
pensando que a última hora será tão útil como a primeira. Ora, se nós nunca devemos pregar
qualquer coisa que o homem possa perverter e abusar, manteremos as nossas bocas

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fechadas para sempre! Ainda assim, diz alguém: “Bem, se eu não posso me salvar, e não
posso ir a Cristo, devo ficar quieto e não fazer nada”. Se os homens dizem assim, sobre as
suas próprias cabeças estará o castigo deles! Temos muito claramente dito que existem
muitas coisas que você pode fazer! Ser encontrado continuamente na Casa de Deus está
em seu poder. Examinar a Palavra de Deus com diligência está em seu poder. Renunciar o
seu pecado exterior, abandonar seus vícios, tornar a sua vida honesta, sóbria e justa está
em seu poder. Para estes você não precisa de nenhuma ajuda do Espírito Santo. Todos
esses você pode fazer sozinho. Contudo, realmente ir a Cristo não está em seu poder até
que seja regenerado pelo Espírito Santo!

E observe, a sua falta de poder não é desculpa, vendo que você não tem vontade de ir
e está vivendo em rebelião deliberada contra Deus! Sua falta de poder reside principalmente
na obstinação de sua natureza. Suponha que um mentiroso diga que não está em seu poder
falar a verdade, que ele tem sido um mentiroso por tanto tempo que ele não pode deixar de
sê-lo. Isso é uma desculpa para ele? Suponha que um homem que há muito tempo envolveu-
se em luxúria diga-lhe que ele encontra que seus desejos têm se apegado a ele como uma
grande corrente, de modo que ele não pode se livrar deles. Você consideraria isso como uma
desculpa? Na verdade, isso de modo algum serve como desculpa! Se um alcoólatra se
tornou tão vilmente um bêbado que ele encontra ser impossível passar em frente a um bar
sem entrar ali, você, por isso, o desculparia? Não, porque sua incapacidade de reformar suas
atitudes reside na sua natureza, a qual ele não tem nenhum desejo de restringir ou dominar.
Tanto aquilo que é feito como aquilo que faz com que algo seja feito — ambos sendo
originados a partir da raiz do pecado — são dois males que não podem desculpar um ao
outro. É porque você aprendeu a fazer o mal que você não pode agora aprender a fazer o
bem, e ao invés, portanto, de deixá-lo sentar-se para desculpar-se, permita-me dar-lhe um
alerta em vez de um assento para a sua preguiça; que você seja alertado por isso, e
despertado! Lembre-se que permanecer sentado é ser condenado por toda a eternidade! Oh,
que Deus, o Espírito Santo, faça uso desta Sua verdade de uma maneira muito diferente!
Antes que eu conclua, eu confio que será proveitoso mostrar-lhe como esta verdade que
aparentemente condena homens e os aprisiona, é, contudo, a grande verdade de Deus que
tem sido abençoada com a conversão dos homens!

II. Nosso segundo ponto é: as atrações do Pai. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que
me enviou o não trouxer”. Como, então, o Pai atrai os homens? Os teólogos Arminianos
geralmente dizem que Deus chama os homens pela pregação do Evangelho. Muito

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verdadeiro. A pregação do Evangelho é o instrumento para atrair homens, mas deve haver
algo mais do que isso. Permita-me perguntar para quem Cristo dirige estas palavras? Ora,
para o povo de Cafarnaum, onde muitas vezes Ele tinha pregado, onde pesarosa e
claramente proferiu as condenações da lei e os convites do Evangelho! Naquela cidade Ele
tinha feito muitas obras e operado muitos milagres! Na verdade, tal ensino e tal atestado
milagroso Ele concedeu àqueles, que Ele declarou que Tiro e em Sidom teriam se
arrependido há muito tempo em saco e cinza se tivessem sido abençoados com tais
privilégios! Agora, se a pregação do próprio Cristo não capacitou aqueles homens a irem a
Cristo, não pode ser possível que tudo o que foi pretendido pelo “trazer do Pai” era
simplesmente “pregar”. Não, irmãos e irmãs, vocês devem observar novamente que Ele não
diz: ninguém pode vir a Mim, se o ministro não o chamar, mas se o Pai não o trouxer! Agora,
há algo como ser atraído pelo Evangelho e atraído pelo ministro sem, contudo, ser atraído
por Deus. É claro que é ao atrair da parte de Deus que é intencionado, uma atração pelo
Deus Altíssimo, a Primeira Pessoa da gloriosíssima Trindade, enviando a Terceira Pessoa,
o Espírito Santo, para compelir os homens a irem a Cristo! Outra pessoa se vira e diz com
um sorriso: “Então, você acha que Cristo arrasta os homens para Si mesmo, ao ver que eles
não estão dispostos!”. Lembro-me de estar reunido uma vez com um homem que me disse:
“Senhor, você prega que Cristo toma as pessoas pelos cabelos de suas cabeças e arrasta-
as para Si mesmo”. Perguntei-lhe se ele poderia se referir à data do sermão em que eu
preguei esta doutrina extraordinária, pois se ele conseguisse, eu seria muito grato. No
entanto, ele não conseguiu. Mas, disse eu, embora eu não creia que Cristo arrasta as
pessoas para Si mesmo pelos cabelos de suas cabeças, eu creio que Ele as atrai pelo
coração tão poderosamente quanto a sua caricatura sugere! Observe que no trazer do Pai
não há qualquer compulsão. Cristo nunca obrigou qualquer homem a ir a Ele contra a sua
vontade. Se um homem não está disposto a ser salvo, Cristo não lhe salva contra a sua
vontade!

Como, então, o Espírito Santo o atrai? Ora, ao fazê-lo disposto. É verdade que Ele não
usa de “persuasão moral”. Ele conhece um método melhor para alcançar o coração. Ele vai
para a fonte secreta do coração e Ele sabe como, por alguma misteriosa operação, virar a
vontade para a direção oposta à que ela seguia, de modo que, como Ralph Erskine
paradoxalmente coloca, o homem é salvo “com pleno consentimento contra a sua vontade”,
ou seja, contra a sua antiga vontade, ele é salvo! Mas ele é salvo com consentimento
completo, pois ele é feito disposto no dia do poder de Deus. Não imagine que alguém quer
ir para o Céu esperneando e lutando por todo o caminho contra a mão que o atrai. Não
conceba que qualquer homem será mergulhado no sangue do Salvador, enquanto ele está
se esforçando para fugir do Salvador. Ah não! É bem verdade que em primeiro lugar o

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homem não está disposto a ser salvo. Quando o Espírito Santo exerce Sua influência em
relação ao coração, o texto é cumprido: “Leva-me Tu; correremos após Ti” [Cânticos 1:4].
Seguimos enquanto Ele nos atrai, felizes em obedecer a voz que uma vez havíamos
desprezado.

Porém a essência da questão reside na conversão da vontade. Como isso é feito


nenhuma carne conhece. Este é um daqueles mistérios que é claramente perceptível como
um fato, mas cuja causa nenhuma língua pode contar e nenhum coração pode imaginar. A
maneira aparente, porém, em que o Espírito Santo opera, podemos dizer-lhe. A primeira
coisa que o Espírito Santo faz quando Ele vem ao coração de um homem é isso, Ele
encontra-o com uma muito boa opinião sobre si mesmo. E não há nada que impeça um
homem de ir a Cristo como uma boa opinião de sobre si mesmo. “Ora”, diz o homem, “eu
não quero ir a Cristo. Eu tenho tão boa justiça quanto qualquer um possa desejar. Sinto que
posso entrar no Céu por meus próprios méritos!”. O Espírito Santo desvela o seu coração,
faz com que ele veja o câncer repugnante que está ali corroendo a sua vida, revela a ele
toda a escuridão e corrupção daquele abismo do Inferno, o coração humano. Em seguida, o
homem fica horrorizado: “Eu nunca pensei que eu era assim! Oh, aqueles pecados que eu
achava que eram pequenos, cresceram a uma imensa estatura. O que eu pensei ser um
montículo, cresceu tornando-se uma montanha! Era apenas um hissopo, mas agora tornou-
se um cedro do Líbano. “Oh”, diz o homem consigo mesmo, “eu tentarei e reformar-me-ei.
Farei boas ações suficientes para lavar estas ações malignas”. Em seguida, vem o Espírito
Santo e mostra-lhe que ele não pode fazer isso. Ele tira toda sua força e poder imaginários,
de modo que o homem cai de joelhos em agonia e clama: “Oh, uma vez pensei que eu
poderia me salvar por minhas boas obras, mas agora eu acho que

Se o meu pranto fluísse para sempre,


Se o meu zelo não conhecesse trégua,
Tudo isso não poderia expiar o pecado,
Tu deves salvar, e Tu somente!”

Em seguida, o coração afunda e o homem está prestes a desesperar-se. E ele diz: “Eu
nunca serei salvo. Nada pode me salvar”. Em seguida, vem o Espírito Santo e mostra ao
pecador a cruz de Cristo, dá-lhe olhos ungidos com colírio celestial e diz: “Olhe para aquela
Cruz. Aquele homem morreu para salvar os pecadores. Você sente que você é um pecador.
Ele morreu para salvá-lo”. E Ele capacita o coração a crer e ir a Cristo, e quando vem a Cristo
por este doce atrair do Espírito, ele encontra “a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, [a qual] guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo

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Jesus” [Filipenses 4:7]. Agora, você claramente perceberá que tudo isso pode ser feito sem
qualquer compulsão. O homem é atraído tão voluntariamente, como se ele não houvesse
sido atraído de modo algum. E ele vem a Cristo com pleno consentimento, com um
consentimento tão pleno como se nenhuma influência secreta alguma vez houvesse sido
exercida sobre seu coração. Mas esta influência deve ser exercida, ou então nunca houve e
nunca haverá qualquer homem que possa ou queira ir ao Senhor Jesus Cristo!

III. E agora nós reunimos as nossas conclusões e encerramos tentando fazer uma
aplicação prática da doutrina; e, nós confiamos, uma aplicação consoladora. “Bem”, diz
alguém, “se o que este homem prega é verdade, o que será de minha religião? Pois, você
sabe que eu tenho me esforçado por um longo tempo e eu não gosto de ouvi-lo dizer que
um homem não pode salvar-se. Eu acredito que o homem pode e eu quero perseverar. Mas
se eu crer no que você diz, devo desistir de tudo e começar de novo”. Meu querido amigo,
será algo muito feliz se você assim o fizer. Não pense que de modo algum eu estarei perplexo
se você fizer isso! Lembre-se, o que você está fazendo é construir sua casa sobre a areia e
é apenas um ato de caridade se posso estremecê-la um pouco para você. Permita-me
assegurar-lhe, em nome de Deus, que se a sua religião não tem base melhor do que a sua
própria força, ela não subsistirá no tribunal de Deus! Nada durará para a eternidade, exceto
o que veio desde a eternidade! A menos que o Deus Eterno tenha operado uma boa obra
em seu coração, tudo o que você tenha feito será arruinado no último dia do juízo. É
completamente inútil para você ser um frequentador de igreja ou de capela, um bom
observador do Sabath, fazer uma grande quantidade de orações. É absolutamente vão que
você seja honesto com seus próximos e respeitável em sua conversação. Se você espera
ser salvo por essas coisas, é tudo em vão se você confiar nelas! Vá em frente, seja tão
honesto quanto quiser. Guarde o Sabath perpetuamente; seja tão santo quanto você puder.
Eu não irei dissuadi-lo destas coisas. Deus me livre! Aperfeiçoe sua prática destas coisas,
mas oh, não confie nelas! Porque, se você confiar, descobrirá que elas falharão quando você
mais precisar delas. E se houver qualquer outra coisa que você encontrou ser capaz de fazer
sem ajuda da graça Divina, quanto mais cedo você puder se livrar da esperança que foi
presumida por causa disso, é melhor para você; pois confiar em qualquer coisa que a carne
possa fazer é uma abominável ilusão!

Um céu espiritual deve ser habitado por homens espirituais e a preparação para o Céu
deve ser operada pelo Espírito de Deus. “Bem”, exclama outro, “eu tenho estado sob um
ministério em que me foi dito que eu poderia, a partir de minha própria escolha, arrepender-

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me e crer, e a consequência é que tenho feito isso dia após dia. Eu pensei que eu poderia
vir em um dia bem como em outro; que eu apenas tinha que dizer: ‘Senhor, tem piedade de
mim’, e, crer, e então, eu seria salvo. Agora, você retirou toda esta esperança de mim,
senhor. Sinto o assombro e o horror tomando conta de mim”. Novamente eu digo: “Meu caro
amigo, estou muito feliz por isso! Este era o efeito que eu esperava produzir pela graça de
Deus. Eu oro para que você sinta isso muito mais. Quando você não tiver esperança de
salvar a si mesmo, terei esperança de que Deus já começou a salvar! Assim como você diz:
“Oh, eu não posso ir a Cristo. Senhor, atraia-me, ajude-me”, eu me regozijo por você! Aquele
que tem uma vontade, embora ele não tenha poder, tem a graça iniciada em seu coração e
Deus não o deixará até que a obra esteja terminada! Mas, pecador descuidado, saiba que a
sua salvação pende agora nas mãos de Deus! Oh, lembre-se que você está inteiramente nas
mãos de Deus. Você pecou contra Ele e se Ele quiser condená-lo, você é condenado! Você
não pode resistir à Sua vontade, nem frustrar o Seu propósito. Você tem merecido a Sua ira
e se Ele quiser derramar a plenitude desta ira sobre sua cabeça, você não pode fazer nada
para reverter isso. Se, por outro lado, Ele escolhe salvar-te, Ele é capaz de salvá-lo
completamente! Mas você está tanto em Suas mãos quanto a traça debaixo de seus próprios
dedos. Ele é o Deus que você está irritando todos os dias. Você não treme ao pensar que o
seu destino eterno agora paira sobre a vontade dAquele que você tem irritado e indignado?
Isso não faz seus joelhos baterem um no outro e o seu sangue coagular? Se o faz, me alegro
na medida em que este pode ser o primeiro efeito da atração do Espírito em sua alma. Oh,
trema ao pensar que o Deus a Quem você tem irritado é o Deus de Quem a sua salvação ou
a sua condenação depende inteiramente! Trema e “beije o Filho, para que se não ire, e
pereça no caminho, quando em breve se acender a sua ira” [Salmos 2:12]. Agora, a reflexão
consoladora é esta, alguns de vocês nesta manhã estão conscientes de que vocês estão
indo a Cristo. Vocês não começaram a derramar lágrimas penitenciais? O seu quarto não
testemunha a sua preparação em oração para ouvir a Palavra de Deus? E durante o culto,
nesta manhã, o seu coração não disse dentro de você: “Senhor, salva-me, ou eu pereço,
pois eu não posso salvar a mim mesmo”? E você não poderia agora levantar-se em seu lugar
e cantar:

“Oh, graça soberana, subjugue o meu coração!


Eu gostaria de ser levado em triunfo, também,
Voluntariamente se feito um cativo do meu Senhor,
A cantar o triunfo da Sua Palavra”?

E, eu mesmo não ouço você dizer em seu coração: “Jesus, Jesus, toda minha confiança
está em Ti. Eu sei que nenhuma justiça própria pode me salvar, mas só Tu. Ó Cristo, deixe-

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me afundar ou faça com que eu nade, eu me lanço sobre Ti”? Oh, meus irmãos e irmãs,
vocês são atraídos pelo Pai, porque vocês não poderiam ter vindo a menos que Ele vos
tivesse atraído! Doce pensamento! E se Ele chamou vocês, sabem qual é a inferência
deleitosa? Permita-me repetir apenas um texto, e que isso lhe console: “Há muito que o
Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com
benignidade te atraí” [Jeremias 31:3]. Sim, meus pobres irmãos e irmãs pranteadores, na
medida em que vocês agora vão a Cristo, Deus vos chamou! E na medida em que Ele vos
chamou, esta é uma prova de que Ele vos amou desde antes da fundação do mundo! Deixe
que o coração salte dentro de vocês que são um dos Seus! O seu nome estava escrito nas
mãos do Salvador quando elas foram pregadas no madeiro maldito. Seu nome brilha no
peitoral do Sumo Sacerdote hoje. E estava ali antes que a estrela da manhã conhecesse o
seu lugar ou os planetas percorressem o seu caminho.

Alegrai-vos no Senhor, vós que veem a Cristo, e bradem de alegria todos os que foram
atraídos pelo Pai! Porque esta é a sua prova — seu testemunho solene — que dentre os
homens vocês foram escolhidos na eleição eterna e que devem ser preservados pelo poder
de Deus, mediante a fé, para a salvação que está prestes a se revelar!

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2
Eleição Incondicional
(U de TULIP — Unconditional Election)

Sermão Nº 41 e 42. Um sermão pregado na manhã do Dia do Senhor, 2 de setembro de 1855,


Por C. H. Spurgeon, em New Park Street Chapel, Southwark.

“Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por
vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e
fé da verdade; para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a
glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessalonicenses 2:13-14).

Se não houvesse outro texto na Palavra Sagrada, exceto este único, eu acho que todos
nós deveríamos ser obrigados a receber e reconhecer a veracidade da grande e gloriosa
doutrina da antiga escolha de Deus de Sua família. Mas parece haver um preconceito
inveterado na mente humana contra esta doutrina, e embora a maioria das outras doutrinas
venha a ser recebida por Cristãos professos, algumas com cautela, outras com prazer, esta
parece ser mais frequentemente ignorada e rejeitada. Em muitos dos nossos púlpitos seria
considerado um pecado e alta traição pregar um sermão sobre a eleição porque eles não
poderiam fazer o que eles chamam de um discurso “prático”.

Eu acredito que eles se desviaram da verdade. Tudo o que Deus revelou, Ele o fez para
um propósito. Não há nada na Bíblia que não possa, sob a influência do Espírito de Deus,
ser transformado em um discurso prático, pois “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil”
para alguns fins de utilidade espiritual. É verdade, ela não pode ser transformada em um
discurso do livre-arbítrio — o qual bem conhecemos — mas pode ser transformada em um
discurso prático sobre a livre graça. E a prática da livre graça é a melhor prática quando as
verdadeiras doutrinas do amor imutável de Deus são pregadas aos corações dos santos e

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pecadores. Agora, eu confio que nesta manhã alguns de vocês que estão assustados com o
próprio som dessa palavra dirão “eu vou dar-lhe uma audiência justa. Deixarei de lado meus
preconceitos, eu apenas ouvirei o que este homem tem a dizer”.

Não feche seus ouvidos e diga imediatamente: “É alta doutrina”. Quem o autorizou a
chamá-la de alta ou baixa? Por que você deve opor-se à doutrina de Deus? Lembre-se do
que aconteceu com as crianças que encontraram falhas no Profeta de Deus e exclamaram:
“Sobe, calvo; sobe, calvo”. Não diga nada contra as doutrinas de Deus, para que nunca
ocorra que algum animal vil saia da floresta e o devore também. Há outras desgraças ao
lado do aberto julgamento do Céu — tome cuidado para que elas não caiam sobre sua
cabeça. Deixe de lado seus preconceitos, ouça com calma, escute imparcialmente, ouça o
que a Escritura diz.

E quando você receber a verdade, se aprouver a Deus revelar e manifestar a verdade


à sua alma, não tenha vergonha de confessá-la. Confessar que você estava errado ontem é
apenas reconhecer que você é um pouco mais sábio hoje. Em vez de ser uma reflexão sobre
si mesmo, é uma honra para o seu julgamento e mostra que você está crescendo no
conhecimento da verdade de Deus. Não tenha vergonha de aprender e de deixar de lado
suas antigas doutrinas e pontos de vista. Porém, assuma o que você pode ver mais
claramente estar na Palavra de Deus. E se você não a vê estar aqui na Bíblia — seja o que
for que eu diga, ou quaisquer autoridades a que eu possa me referir — eu imploro a você
que, assim como ama a sua alma, o rejeite. E se deste púlpito você já ouviu coisas contrárias
a esta Santa Palavra, lembre-se que a Bíblia deve ser ter a primazia e o ministro de Deus
deve estar debaixo dela.

Nós não ficaremos acima da Bíblia para pregar, devemos pregar com a Bíblia acima de
nossas cabeças. Depois de tudo o que temos pregado, estamos bem conscientes de que o
monte da verdade é maior do que os nossos olhos podem discernir, nuvens e escuridão
estão ao redor de seu cume e não podemos discernir seu topo. No entanto, vamos tentar
pregá-la tão bem quanto pudermos. Mas desde que somos mortais e sujeitos a errar, exerça
o seu julgamento, “mas provai se os espíritos são de Deus” [1 João 4:1], e se em meio à
madura sobre seus joelhos dobrados você for levado a ignorar a eleição — algo que eu
considero ser totalmente impossível — então a rejeite; não a ouça ser pregada, mas creia e
confesse o que você considera ser a Palavra de Deus. Eu não posso dizer mais do que isso
a título de introdução.

Agora, primeiramente, falarei um pouco sobre a veracidade dessa doutrina: “Por vos
ter Deus elegido desde o princípio para a salvação”. Em segundo lugar, tentarei provar que

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esta eleição é absoluta: “Deus elegeu desde o princípio para a salvação”, não devido a
santificação, mas “em santificação do Espírito, e fé da verdade”. Em terceiro lugar, esta
eleição é eterna, porque o texto diz: “Deus elegeu desde o princípio”. Em quarto lugar, é
pessoal: “Por vos ter Deus elegido”.

Depois, vamos olhar para os efeitos da doutrina; vejamos o que ela produz. E, por
último, se Deus nos permitir, vamos buscar olhar para as suas tendências e ver se ela é
realmente uma doutrina terrível e licenciosa. Iremos até a flor e como verdadeiras abelhas,
veremos se existe algum mel nela, se qualquer bem pode vir dela, ou se o que nela há é
puro mal.

I. Em primeiro lugar, devo tentar provar que a doutrina é verdadeira. E permita-me


começar com um argumentum ad hominen. Eu falarei com vocês de acordo com as suas
diferentes posições e circunstâncias. Há alguns de vocês que pertencem à Igreja da
Inglaterra e estou feliz em ver tantos de vocês aqui. Embora agora e depois eu certamente
direi algumas coisas muito duras sobre a Igreja e o Estado, mas eu amo a antiga Igreja, pois
ela tem em sua comunhão muitos ministros piedosos e santos eminentes. Agora eu sei que
vocês são grandes crentes no que os Artigos declaram ser a sã doutrina. Vou dar-lhes uma
amostra do que eles afirmam sobre a eleição, de modo que se vocês acreditam neles, vocês
não podem evitar aceitar a eleição. Lerei uma parte do 17º Artigo sobre a predestinação e
eleição: “Predestinação para a vida é o propósito eterno de Deus, no qual (antes da fundação
do mundo) Ele continuamente decretou pelos Seus conselhos, secretos para nós, libertar da
maldição e condenação aqueles a quem Ele escolheu em Cristo a partir da humanidade e
trazê-los por meio de Cristo à salvação eterna, como vasos de honra. Portanto, os que são
dotados de um tão excelente benefício de Deus são chamados segundo o propósito de Deus
pelo Seu Espírito que opera no tempo devido; eles através da graça obedecem ao chamado;
são justificados gratuitamente; eles são feitos filhos de Deus por adoção; eles são feitos
semelhantes à imagem de Seu Filho unigênito Jesus Cristo; eles andam religiosamente em
boas obras e, finalmente, pela misericórdia de Deus, alcançam a bem-aventurança eterna”.

Agora, eu acho que qualquer membro da Igreja Anglicana, se ele é um crente sincero
e honesto na Igreja Mãe, deve ser um profundo crente na doutrina da eleição. É verdade, se
ele se voltar a determinadas outras partes do Livro de Oração, ele encontrará coisas
contrárias às doutrinas da livre graça e totalmente desvinculadas do ensino bíblico. Mas se
ele olhar para os Artigos, ele verá que Deus escolheu Seu povo para a vida eterna.
Entretanto, eu não sou tão desesperadamente apaixonado por este livro como você pode

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ser; e eu usei apenas este Artigo para mostrar-lhe que, se você pertence ao Estabelecimento
da Inglaterra você, pelo menos, não deveria fazer nenhuma objeção a essa doutrina da
predestinação.

Outra autoridade humana pela qual gostaria de confirmar a doutrina da eleição é o velho
Credo Valdense. Se você ler o Credo dos antigos Valdenses, emanando deles em meio ao
ardor da perseguição, você verá que aqueles renomados mestres e confessores da fé Cristã
mui firmemente receberam e abraçaram essa doutrina como sendo uma parte da verdade
de Deus. Eu copiei de um livro antigo um dos artigos de sua fé: “Que Deus salva da corrupção
e perdição aqueles a quem Ele escolheu desde a fundação do mundo, não devido a qualquer
disposição, fé ou santidade que antes viu neles, mas a partir de Sua pura misericórdia em
Cristo Jesus, Seu Filho, passando por todo o restante de acordo com a razão irrepreensível
de Sua própria vontade e justiça”. Não é nenhuma novidade, então, que eu não esteja
pregando nenhuma doutrina nova. Eu amo proclamar essas fortes doutrinas antigas que se
chamam pelo apelido Calvinismo, mas que são certa e realmente a verdade revelada de
Deus, como é em Cristo Jesus. Através desta verdade eu faço uma peregrinação até o
passado e enquanto eu sigo, eu vejo pai após pai, confessor após confessor, mártir após
mártir levantando-se para apertar a minha mão. Se eu fosse um Pelagiano, ou um crente na
doutrina do livre-arbítrio, eu deveria ter que caminhar por séculos sozinho. Aqui e ali, um
herege sem nenhuma característica muito honrosa se levantaria e me chamaria de irmão.
Mas, considerando que este é o padrão de minha fé, eu verei a terra dos povos antigos com
os meus irmãos e irmãs; vejo multidões que confessam o mesmo que eu confesso e
reconhecem que esta é a religião da própria Igreja de Deus.

Eu também lhes concedo um trecho da antiga Confissão Batista. Nós somos Batistas
nesta congregação, a maior parte de nós pelo menos, e nós gostamos de considerar o que
os nossos próprios antepassados escreveram. Cerca de duzentos anos atrás os Batistas se
reuniram e publicaram os seus artigos de fé para pôr fim a certos relatos contra a sua
ortodoxia, os quais haviam se espalhado pelo mundo. Viro-me para este antigo livro, que
acabei de publicar, a Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, e eu encontro o seguinte
no terceiro Capítulo: “Por meio do decreto de Deus e para manifestação da Sua glória, alguns
homens e anjos são predestinados ou preordenados para a vida eterna por meio de Jesus
Cristo, para o louvor de Sua gloriosa graça; outros são deixados a agir em seus pecados
para a sua justa condenação, para o louvor da Sua gloriosa justiça. Esses anjos e homens,
assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; e o seu
número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído. Aqueles da
humanidade que são predestinados para a vida, Deus, antes da fundação do mundo, de

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acordo com o Seu propósito eterno e imutável, e o secreto conselho e beneplácito de Sua
vontade, os escolheu em Cristo, para a glória eterna, por Sua pura livre graça e amor, não
por qualquer outra coisa na criatura, como condições ou causas que O movessem a isso”.

Quanto a estas autoridades humanas, eu não me importo que alguém ataque qualquer
uma destas três. Não me importa o que eles dizem a favor ou contra essa doutrina. Eu só os
usei como uma espécie de confirmação para a sua fé, para mostrar-lhes que enquanto eu
possa ser blasfemado como um herege e como um hiper-Calvinista, no final das contas eu
sou apoiado pela antiguidade. Todo o passado fica do meu lado. Eu não ligo para o presente.
Dê-me o passado e eu espero pelo futuro. Que o presente se mostre hostil a mim, eu não
me importo. Que uma série de Igrejas de Londres tenha deixado as grandes doutrinas
fundamentais de Deus, não importa. Se um punhado de nós ficarmos sozinhos sustentando
firmemente a soberania do nosso Deus, se nós formos cercados por inimigos, sim, e até
mesmo por nossos próprios irmãos e irmãs que deveriam ser nossos amigos e ajudantes,
não importa; se pudermos apenas contar com o passado: o nobre exército de mártires, a
gloriosa hoste de confessores. Eles são nossos amigos. Eles são as testemunhas da verdade
e eles estão conosco. Com estes por nós, não diremos que estamos sozinhos, mas podemos
exclamar: “Eis que Deus reservou para Si sete mil que não dobraram os joelhos a Baal”. Mas
o melhor de tudo é que Deus está conosco!

A grande verdade de Deus é sempre a Bíblia e somente a Bíblia. Meus ouvintes, vocês
não creem em qualquer outro livro além da Bíblia, não é? Se eu pudesse provar isso a partir
de todos os livros da Cristandade, se eu voltasse à Biblioteca de Alexandria e o provasse a
partir de lá, nem por isso vocês creriam mais. Porém, vocês certamente crerão no que está
na Palavra de Deus. Eu escolhi alguns textos para ler para vocês. Gosto de dar-lhes uma
completa série de textos quando eu temo que desconfiarão de uma verdade de modo que
vocês possam ser estar aptos a duvidar, se vocês em verdade, não crerem. Apenas
permitam-me citar uma lista de passagens onde o povo de Deus é chamado de eleitos. É
claro que se as pessoas são chamadas eleitos, deve haver eleição. Se Jesus Cristo e Seus
apóstolos estavam acostumados a chamar os crentes pelo título de eleitos, devemos
certamente acreditar que eles de fato assim o eram, caso contrário, o termo nada significaria.
Jesus Cristo diz: “E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria;
mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias... Porque se levantarão
falsos cristos, e falsos profetas, e farão sinais e prodígios, para enganarem, se for possível,
até os escolhidos... “E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os
quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu” (Marcos 13:20, 22, 27). “E
Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que

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tardio para com eles?” (Lucas 18:7) Juntamente com muitas outras passagens que podem
ser citadas, nas quais tanto a palavra “eleitos”, ou “escolhidos”, ou “predestinados”, ou
“ordenados”, é mencionada; ou a expressão “as minhas ovelhas”, ou alguma designação
semelhante, mostrando que o povo de Cristo se distingue do restante da humanidade. Mas,
vocês têm concordâncias e não vou incomodá-los com muitos textos. Ao longo das Epístolas,
os santos são constantemente chamados de “os eleitos”. Em Colossenses encontramos
Paulo dizendo: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de
misericórdia...” (Colossenses 3:12). Quando ele escreve a Tito, ele chama a si mesmo
“Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus...”.
Pedro diz: “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”. Então, se vocês forem a João,
descobrirão que ele aprecia muito a palavra. Ele diz: “O ancião à senhora eleita” [2 João 1:1].
E ele fala de “tua irmã, a eleita” [v. 13]. E sabemos onde está escrito: “A vossa co-eleita em
babilônia” [1 Pedro 5].

Eles não tinham vergonha da palavra naqueles dias. Eles não tinham medo de falar
sobre isso. Hoje em dia a palavra foi revestida com diversidades de significado e as pessoas
têm mutilado e estragado a doutrina, de modo que eles fizeram dela uma verdadeira doutrina
de demônios. Eu confesso que muitos que se dizem crentes nela têm se desviado para o
Antinomianismo. Mas não obstante isso, por que eu deveria ter vergonha dela, se os homens
a distorcem? Nós amamos a verdade de Deus quando ela está sendo torturada, bem como
quando ela está andando livremente. Se ali estivesse um mártir a quem nos amamos antes
dele chegar na máquina de torturas, nós o amaríamos ainda mais depois que este esteve
estendido ali.

Quando a verdade de Deus está presa à máquina de tortura, nós não a chamamos de
falsidade. Nós amamos não vê-la ali, mas a amamos mesmo quando ela está presa para ser
torturada, porque podemos discernir quais de suas proporções adequadas teriam sido se
não fossem distorcidas e torturadas pela crueldade e invenções dos homens. Se você ler
muitas das Epístolas dos pais antigos, os encontrará sempre escrevendo para o povo de
Deus como “eleitos”. De fato, o termo de uso comum entre muitas das Igrejas pelos Cristãos
primitivos, para se referirem uns aos outros, era “eleitos”. Eles amiúde usariam o termo uns
para com os outros mostrando que era geralmente crido que o povo de Deus era
manifestamente “eleito”.

Mas agora vamos aos versos que provarão positivamente a doutrina. Abram as suas
Bíblias e voltem-se para João 15:16 e lá verão que Jesus Cristo escolheu o Seu povo, pois
Ele diz: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que

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vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome
pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda” (João 15:16). Então, no verso 19: “Se vós fôsseis do
mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi
do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”. Então, no capítulo 17, versos 8 e 9: “Porque
lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido
que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que me deste, porque são teus”.

Vá para Atos 13:48: “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra


do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna”. Eles podem
tentar distorcer esta passagem se eles quiserem, mas ela diz: “ordenados para a vida
eterna”, no original tão claramente quanto é possível. E não nos preocupamos com todos os
diferentes comentários sobre a mesma. Vocês quase não precisam ser lembrados de
Romanos 8, porque eu confio que todos vocês estão bem familiarizados com esse capítulo
e o compreendem a esta altura. Nos versos 29 e seguintes, ele diz: “Porque os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como
nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os
escolhidos de Deus?”.

Além disso, seria necessário repetir a totalidade do capítulo 9 de Romanos. Enquanto


este capítulo permanecer na Bíblia, nenhum homem será capaz de provar o Arminianismo.
Enquanto estiver escrito ali, nem as distorções mais grosseiras desta passagem jamais serão
capazes de eliminar a doutrina da eleição das Escrituras. Leiamos versos como estes:
“Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito
de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que
chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor”. Depois, leia os versos 22 e 23: “E que
direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com
muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição. Para que também desse a
conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes
preparou”.

Depois, vá para Romanos 11:7: “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas
os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos”. No verso 5 do mesmo capítulo nós

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lemos: “Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição
da graça”. Vocês todos, sem dúvida lembram da passagem em 1 Coríntios 1:26-29: “Porque,
vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos
os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas
loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo
para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e
as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele”.

Novamente, lembrem-se da passagem em 1 Tessalonicenses 5:9: “Porque Deus não


nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo”,
e, então você tem o meu texto, que eu penso ser o suficiente. Mas, se vocês precisarem de
mais, podem encontrá-los em seu tempo livre se nós não tivermos afastado muitas de suas
suspeitas quanto à doutrina não ser verdadeira. Parece-me, meus amigos, que esta
quantidade esmagadora de testemunho das Escrituras deve fazer cambalear aqueles que
se atrevem a rir desta doutrina. Que diremos daqueles que tantas vezes a desprezaram e
negaram o seu caráter Divino? Que diremos a todos aqueles que criticaram a sua justiça e
se atreveram a desafiar a Deus e chamá-lO de um tirano Todo-Poderoso, quando eles
ouviram falar de Sua eleição de muitos para a vida eterna? Você pode, ó Rejeitador, eliminar
esta doutrina da Bíblia? Você pode pegar o canivete de Jeoiaquim e cortá-la, extirpando-a
da Palavra de Deus?

Vocês querem ser como as mulheres aos pés de Salomão e ter o seu filho partido ao
meio para que tenham a sua metade? Esta doutrina não está aqui nas Escrituras? E não é
o seu dever curvar-se diante dela e humildemente reconhecer o que você não entende,
recebê-la como a verdade, mesmo que você não possa compreender o seu significado? Eu
não tentarei provar a justiça de Deus em ter eleito, assim, alguns e deixado outros. Eu
buscarei justificar o meu Mestre. Ele falará por Si mesmo e Ele diz: “Mas, ó homem, quem
és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me
fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um
vaso para honra e outro para desonra?”. “Ai daquele que diz ao pai: Que é o que geras? E à
mulher: Que dás tu à luz?”. “Eu formo a luz, e crio as trevas... eu, o Senhor, faço todas estas
coisas” [Romanos 9:20; Isaías 45:10, 7]. Quem és tu que replicas contra Deus? Trema e
beije o Seu cajado; curve-se e submeta-se ao Seu cetro; não rejeites a Sua justiça, e não
conteste os Seus atos diante de seu julgamento, ó homem! Mas, há alguns que dizem: “É
difícil para Deus escolher alguns e deixar outros”. Agora, vou fazer-lhe uma pergunta. Existe
algum dentre vocês aqui nesta manhã que deseja ser santo, que deseja ser regenerado,
deixar o pecado e andar em santidade? “Sim, existe”, diz alguém, “eu desejo”. Então, Deus

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te elegeu. Mas outro diz: “Não. Eu não quero ser santo. Eu não quero deixar os minhas
concupiscências e meus vícios”. Porque tu reclamas, então, que Deus não te elegeu? Pois,
se você fosse eleito, não gostaria disso, de acordo com sua própria confissão. Se Deus
tivesse escolhido você para a santidade, nesta manhã você não diria não se importa com
isso. Você não reconhece que prefere a embriaguez em relação à sobriedade, a
desonestidade em relação à honestidade? Você ama os prazeres deste mundo mais do que
a religião, então, por que você reclama que Deus não o escolheu para a religião?

Se você ama a religião, Ele te escolheu para isso. Se você o deseja, Ele te escolheu
para isso. Se não o deseja, que direito tem de dizer que Deus deveria ter dado a você o que
você não deseja? Supondo que eu tivesse em minha mão algo que você não valoriza e eu
dissesse que eu o darei a uma determinada pessoa, você não teria direito a reclamar pelo
fato de eu não dar aquilo a você. Você não poderia ser tão tolo para reclamar que o outro
tem aquilo com o que você não se importa. De acordo com sua própria confissão, muitos de
vocês não querem a religião, não querem um novo coração e um espírito reto, não querem
o perdão dos pecados. Você não quer santificação. Você não quer ser eleito para essas
coisas, então por que você reclama?

Você considera essas coisas apenas como cascas e por que você deve queixar-se de
Deus, que as deu para aqueles a quem Ele escolheu? Se você crê que elas sejam boas e
as deseja, elas estão ali para você. Deus dá liberalmente a todos aqueles que desejam, mas
antes de tudo Ele os faz desejar; caso contrário, eles nunca desejariam. Se você ama essas
coisas, Ele o elegeu para elas e você pode tê-las. Mas se você não as deseja, quem é você
para que encontre falha em Deus quando é a sua própria vontade desesperada que o impede
de amar estas coisas? Suponha que um homem na rua diga: “Que vergonha é que não posso
ter um assento na capela para ouvir o que este homem tem a dizer”. E suponha que ele diz:
“Eu odeio o pregador, não consigo suportar a sua doutrina, mas ainda assim é uma vergonha
eu não tenha um assento”.

Você esperaria que um homem dissesse isso? Não, você imediatamente diria: “Aquele
homem não se importa com isso. Por que ele se perturba com o fato de outras pessoas terem
o que elas valorizam e ele despreza?”. Você não gosta da santidade, você não gosta da
justiça. Se Deus me elegeu para estas coisas, no que Ele te prejudica por isso? “Ah, mas”,
dizem alguns, “eu pensei que isso significava que Deus elegeu alguns para o Céu e alguns
para o Inferno”. Essa é uma questão muito diferente da doutrina evangélica. Ele elegeu
homens à santidade e à justiça e através disso, para o Céu. Você não deve dizer
simplesmente que Ele elegeu estes para o Céu e outros somente para o Inferno. Ele elegeu

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você para a santidade se você ama a santidade. Se alguém dentre vocês quer ser salvo por
Jesus Cristo, Ele te elegeu para ser salvo. Se alguém dentre vocês deseja ter a salvação,
você é eleito para tê-la, se você a deseja sincera e seriamente. Mas, se você não a deseja,
porque você seria tão absurdamente tolo a ponto de reclamar porque Deus dá a salvação, a
qual você não aprecia, para outras pessoas?

II. Assim eu tentei dizer algo sobre a verdade da doutrina da eleição. E agora,
brevemente, permita-me dizer que a eleição é absoluta, ou seja, não depende do que somos.
O texto diz: “por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação”. Porém, nossos
oponentes dizem que Deus escolhe as pessoas porque elas são boas, que Ele as escolhe
por causa das diversas obras que fizeram. Agora, pedimos em resposta a isto, que obras
são estas pelas quais elege o Seu povo? Elas são o que comumente chamamos de “obras
da lei”? Obras de obediência que a criatura pode realizar? Se assim for, nós lhe
respondemos: se os homens não podem ser justificados pelas obras da lei, parece-nos
bastante claro que eles não podem ser eleitos pelas obras da lei. Se eles não podem ser
justificados por suas boas ações, eles não podem ser salvos por elas.

Outrossim, o decreto de eleição não poderia ter sido formado mediante boas obras.
“Mas”, dizem outros, “Deus os elegeu na previsão de sua fé”. Ora, é Deus quem dá a fé; Ele,
portanto, não poderia elegê-los devido à fé que Ele previu. Ali estão vinte mendigos na rua e
eu determinei dar a um deles um real. Será que alguém diria que eu determinei dar àquele
mendigo um real — que eu o elegi para ter o dinheiro — porque eu previa que ele o teria?
Isso seria falar absurdo. De modo semelhante, dizer que Deus elegeu homens porque previu
que teriam fé — que é a salvação em semente — seria muito absurdo para que nós o
ouçamos por um só momento.

A fé é um dom de Deus. Toda virtude vem dEle. Portanto, a fé não pode tê-lO feito
eleger os homens, porque ela é o Seu dom. Eleição, temos certeza, é absoluta e
completamente independente das virtudes que os santos têm posteriormente. E se um santo
for tão santo e devoto quanto Paulo? E se ele for tão corajoso quanto Pedro, ou ame como
João? Ainda assim, ele não poderia reivindicar nada, senão o que ele recebeu de seu
Criador.

Eu nunca conheci um santo de qualquer denominação que pensou que Deus o salvou
porque previu que ele teria estas virtudes e méritos. Agora, meus irmãos, as melhores joias
que um santo, alguma vez, venha a possuir, se elas são joias da nossa própria feitura, não

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são puras. Há algo de terra misturado a elas. A maior graça que já possuímos, como tendo
sido originada em nós mesmos, tem algo de terrenal sobre ela. Sentimos isso quando
estamos mais purificados, quando somos mais santificados e nossa linguagem deve ser
sempre:

“Eu sou o principal dos pecadores,


Jesus morreu por mim.”

Nossa única esperança, o nosso único fundamento, ainda paira sobre a graça como
manifesta na Pessoa de Jesus Cristo. E estou certo de que devemos absolutamente rejeitar
e ignorar todo o pensamento de que nossas graças — que são dons de nosso Senhor, são
a plantação de Sua destra — alguma vez poderiam ter motivado o Seu amor. E nós sempre
cantaremos:

“O que havia em nós que poderia merecer estima


Ou dar deleite ao Criador?
Foi assim, ó Pai, nós sempre cantaremos,
Porque pareceu bem aos Teus olhos.”

“Ele terá misericórdia de quem Ele tiver misericórdia”. Ele salva porque Ele quer salvar.
E se você me perguntar por que Ele me salva, só posso dizer: porque Ele quis. Existe algo
em mim que deve recomendar-me a Deus? Não, eu rejeito tudo. Eu não tinha nada para me
recomendar. Quando Deus me salvou, eu era o mais repugnante, perdido e arruinado da
raça. Eu estava diante dEle como uma criança em meu sangue. Em verdade, eu não tinha
poder para me ajudar. O quão miserável eu me senti e reconheci ser! Se você já teve algo
para recomendar-se a Deus, eu nunca tive. Eu estarei contente em ser salvos pela graça,
graça pura e sem mistura. Eu não posso me orgulhar de mérito algum. Se você pode fazê-
lo, ainda assim eu não posso. Devo cantar:

“A livre graça somente, desde o início até o fim,


Conquistou minha afeição, e firmemente segurou minh’alma.

III. Em seguida, em terceiro lugar, esta eleição é eterna. “Por vos ter Deus elegido desde
o princípio para a salvação”. Alguém pode responder-me quando foi o princípio? Anos atrás
pensávamos que o princípio deste mundo foi quando Adão foi posto sobre ele. Mas
descobrimos que milhares de anos antes Deus estava preparando a matéria desforme para
torná-la uma morada apropriada para o homem, colocando raças de criaturas sobre ela que

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poderiam morrer e deixar para trás as marcas de Sua obra e habilidade maravilhosa antes
que Ele colocasse a Sua mão sobre o homem. Mas isso não foi o princípio, pois Apocalipse
nos aponta para um período de tempo antes que este mundo fosse criado, para os dias em
que as estrelas da manhã foram geradas, quando como gotas de orvalho, dos dedos das
estrelas da manhã e constelações escorreram da mão de Deus. Quando, por Seus próprios
lábios, Ele lançou densas órbitas, quando com a Sua própria mão enviou cometas, como
raios, vagando pelo céu para encontrar um dia a sua própria órbita.

Voltamos aos anos passados, quando os mundos foram feitos e sistemas formados,
mas ainda não temos sequer nos aproximado do princípio. Até que possamos ir ao momento
em que todo o universo dormia na mente de Deus, ainda por nascer, até que entremos na
eternidade onde Deus o Criador vivia sozinho, tudo repousando nEle, toda a criação
descansando em Seu gigantesco pensamento poderoso, não teremos chegado ao princípio.
Podemos retornar continuamente aos séculos e séculos. Podemos voltar, se podemos usar
tais palavras estranhas, a eternidades inteiras e nunca chegaremos ao princípio. Nossas
asas podem cansar-se, nossa imaginação desfaleceria. Se ela pudesse ultrapassar os
relâmpagos reluzindo em majestade, poder e rapidez, logo se cansariam antes que
pudessem chegar ao princípio.

Mas Deus desde o princípio escolheu o Seu povo. Quando o éter não havia sido agitado
pela asa de um anjo, quando o espaço não tinha limites, ou não tinha uma existência, o
silêncio universal reinava e nenhuma voz ou sussurro quebrava a solenidade do silêncio.
Quando não existia ser algum e nenhum movimento, nem o tempo e nada além do próprio
Deus, sozinho em Sua eternidade, quando sem a canção de um anjo, sem a presença até
mesmo dos querubins, muito antes dos seres vivos nascerem, ou que as rodas da carruagem
de Yahwéh fossem formadas, mesmo então, “no princípio era o Verbo”, e no início o povo
de Deus eram um com a Palavra e, “no princípio vos escolheu para a vida eterna”. Nossa
eleição, então, é eterna. Eu não pararei para provar isso, eu apenas percorro estes
pensamentos para o benefício de jovens iniciantes, de modo que eles possam entender o
que queremos dizer com eleição eterna e absoluta.

IV. E, em seguida, a eleição é pessoal. Aqui, novamente, os nossos adversários têm


tentado derrubar a eleição, dizendo-nos que é uma eleição de nações, e não de pessoas.
Mas aqui o Apóstolo diz: “Deus vos escolheu desde o princípio”. É o mais miserável ardil na
terra afirmar que Deus não escolheu pessoas, mas nações, porque a mesma objeção que
há contra a escolha das pessoas encontra-se contra a escolha de uma nação. Se não fosse

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justo escolher uma pessoa, seria muito mais injusto escolher uma nação, uma vez que as
nações são apenas a união de multidões de pessoas. Escolher uma nação parece ser um
crime mais gigantesco — se a eleição fosse um crime — do que escolher uma pessoa.

Certamente escolher dez mil seria considerado pior do que escolher um, pois
diferenciar uma nação inteira do restante da humanidade parece ser uma maior
extravagância nos atos da Soberania Divina do que a eleição de um pobre mortal, e deixar
de fora outros. Mas o que são nações, senão homens? O que são povos inteiros, senão
combinações de diferentes indivíduos? Uma nação é feita deste e daquele indivíduo. E se
você me disser que Deus escolheu os judeus, eu digo, então, Ele escolheu tais e tais homens
judeus. E se você disser que Ele escolhe a Grã-Bretanha, então eu digo que Ele escolhe tais
e tais britânicos. Assim, no final das contas isso e aquilo é a mesma coisa. Eleição, então, é
pessoal; ela deve ser assim. Todo mundo que lê este texto e outros como ele, verá que a
Escritura continuamente fala do povo de Deus, um por um, e fala deles como tendo sido os
sujeitos especiais da eleição:

“Nós somos filhos, por meio da eleição de Deus,


Nós que cremos em Jesus Cristo.
Por desígnio eterno,
Nós recebemos graça soberana.”
Sabemos que a eleição é pessoal.

V. O outro pensamento é — pois, o meu tempo voa rápido demais para permitir que eu
demore nesses pontos — que a eleição produz bons resultados. “Por vos ter Deus elegido
desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade”. Como
muitos homens confundem a doutrina da eleição completamente! E como a minha alma
queima e ferve com o pensamento dos terríveis males que têm ocorrido pela perversão e
rejeição dessa gloriosa porção da gloriosa verdade de Deus!

Quantos há que disseram a si mesmos: “Eu sou eleito”, e se assentaram na preguiça e


em coisas piores do que isso! Eles disseram: “Eu sou o eleito de Deus”, e com as duas mãos
praticaram a iniquidade. Eles rapidamente correm para cada coisa impura, porque eles
disseram: “Eu sou o filho escolhido de Deus, independentemente das minhas obras, portanto,
eu posso viver como eu quiser e fazer o que eu quiser”. Oh, amados! Permitam-me
solenemente advertir cada um de vocês para não irem além da verdade — ou, melhor, para
não transformar a verdade em erro, pois não podemos ir além dela. Podemos ultrapassar a

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verdade, nós podemos transformar o que era para ser doçura e para o nosso consolo, em
uma mistura terrível para a nossa destruição.

Digo a você que já houve milhares de homens que foram arruinados por uma má
compreensão da eleição, os quais disseram: “Deus me elegeu para o Céu e para a vida
eterna”, mas eles se esqueceram do que está escrito, Deus vos elegeu “em santificação do
Espírito, e fé da verdade”. Esta é a eleição de Deus: eleição para a santificação e fé. Deus
escolhe o Seu povo, para sermos santos e para sermos crentes. Quantos de vocês aqui,
então, são crentes? Quantos de minha congregação podem colocar as mãos sobre o coração
e dizer: “Eu confio em Deus que eu sou santificado”? Existe alguém dentre vocês que diz:
“sou eleito”?

Um de vocês diz: “eu confio que sou eleito”, mas eu refresco a sua memória sobre
algum ato pecaminoso que você cometeu durante os últimos seis dias. Outro de vocês diz,
“sou eleito”, mas eu gostaria de olhar em seu rosto e dizer: “Eleito? Você é um hipócrita muito
maldito e isso é tudo que você é”. Outros diriam: “sou eleito”. Mas eu gostaria de lembrá-los
que eles negligenciam o propiciatório e não oram. Oh, amados! Nunca pensem que vocês
são eleitos, a menos que vocês sejam santos. Vocês podem vir a Cristo como um pecador,
mas vocês não podem vir a Cristo como uma pessoa eleita até que vocês possam ver a sua
própria santidade. Não interpretem mal o que eu digo; não digam, “sou eleito”, e ainda assim
pensem que podem viver em pecado.

Isso é impossível. Os eleitos de Deus são santos. Eles não são puros, eles não são
perfeitos, eles não são impecáveis, mas considerando as suas vidas como um todo, eles são
pessoas santas. Eles são diferenciados e distintos de outros, e ninguém tem o direito de
concluir ser eleito, exceto por viver em santidade. Ele pode ser eleito e ainda assim estar nas
trevas, contudo, ele ainda não tem o direito de crer ser eleito. Isso não pode ser dito, a menos
que haja evidência. O homem pode vir a viver um dia, mas ele está morto no presente. Mas
se você está andando no temor de Deus, tentando agradá-lO e obedecer aos Seus
mandamentos, não duvide que o seu nome foi escrito no Livro da Vida do Cordeiro desde
antes da fundação do mundo.

E, para que isso não seja muito elevado para você, observe a outra marca de eleição,
que é a fé na verdade de Deus. Quem crê na verdade de Deus e crê em Jesus Cristo é eleito.
Eu frequentemente encontro-me com pobres almas que estão temerosas e se preocupam
com esse pensamento: “E se eu não for eleito?”. “Oh, senhor”, eles dizem, “eu sei que eu
coloco a minha confiança em Jesus. Eu sei que creio no Seu nome e confio em Seu sangue.
Mas e se eu não for eleito?”. Pobre querida criatura! Você não sabe muito sobre o Evangelho

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ou você nunca falaria assim, pois aquele que crê é eleito. Aqueles que são eleitos, são eleitos
para a santificação e para a fé. Se você tiver fé, você é um dos eleitos de Deus. Você pode
conhecer isso e deve saber disso, pois é uma certeza absoluta.

Se você, como um pecador, olha para Jesus Cristo nesta manhã e diz:

“Nada em minhas mãos eu trago,


Simplesmente à Tua cruz me agarro,”

você é eleito. Eu não tenho medo da eleição, pobres santos ou pecadores trementes.
Há muitos teólogos que dizem o seguinte: “A eleição não tem nada a ver com você”. Isso é
muito ruim, porque a pobre alma não deve ser silenciada assim. Se você pudesse silenciá-
la assim, estaria bem, mas ela pensará sobre isso, e isso não pode ajudá-la. Diga-lhe, então:
se você crer no Senhor Jesus Cristo, você é eleito. Se você se lançar sobre Jesus, você é
eleito. Eu digo a você, principal dos pecadores, nesta manhã, em Seu nome, que se você for
a Deus sem quaisquer obras próprias, lançar-se no sangue e na justiça de Jesus Cristo, se
vier agora e confiar nEle, você é eleito, você foi amado por Deus desde antes da fundação
do mundo, pois você não poderia fazê-lo a menos que Deus lhe tivesse dado o poder e
tivesse escolhido você para fazer isso.

Agora você está salvo e seguro se apenas vier e lançar-se sobre Jesus Cristo e desejar
ser salvo e ser amado por Ele. Mas, não pense que qualquer homem será salvo sem fé e
sem santidade. Não concebam, meus ouvintes, que algum decreto ocorrido nas misteriosas
eras eternas salvará as vossas almas, a menos que creiam em Cristo. Não se sentem e
imaginem que vocês serão salvos sem fé e santidade. Isso é uma heresia mui abominável e
maldita, e tem arruinado milhares. Não descanse na eleição como um travesseiro para você
para dormir, ou você pode ser arruinado. Deus não permita que eu esteja costurando
travesseiros para que você repouse confortavelmente em seus pecados. Pecador! Não há
nada na Bíblia que alivie os seus pecados. Mas se você está condenado, ó homem, se você
está perdida, ó mulher, você não encontrará nesta Bíblia uma gota para refrescar a sua
língua, ou uma doutrina para aliviar a sua culpa. Sua condenação será inteiramente por sua
culpa e seu pecado grandemente merece condenação, pois se você não crê, você está
condenado. “Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”, “E não quereis vir a mim
para terdes vida” [João 10:26; 5:40].

Não imagine que a eleição desculpe o pecado, não sonhe com isso, não adormeça na
doce complacência do pensamento de sua irresponsabilidade. Você é responsável.
Devemos pregar as duas coisas. Devemos afirmar a soberania Divina e a responsabilidade

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humana. Devemos ter a eleição, mas temos que dobrar os seus corações, temos que
anunciar a verdade de Deus a você. Temos que falar com você e lembrá-lo disso, que
enquanto está escrito: “Eu sou o teu ajudador”, também está escrito: “Ó Israel, destruíste a
ti mesmo” [Oséias 13:9 – tradução literal).

VI. Agora, finalmente, quais são as verdadeiras e legítimas tendências de concepções


corretas sobre a doutrina da eleição? Primeiro, vou dizer-lhes que a doutrina da eleição
verdadeiramente criará santos, sob a bênção de Deus. E, em segundo lugar o que ela fará
pelos pecadores, se Deus os abençoar. Primeiro, encontro que a eleição, aos olhos de um
santo, é uma das doutrinas mais humilhantes em todo o mundo, de modo a remover toda a
confiança na carne ou toda dependência de qualquer coisa, exceto de Jesus Cristo. Quantas
vezes nós nos revestimos de nossa justiça própria e nos vangloriamos com as falsas pérolas
e pedras preciosas de nossas próprias obras e feitos? Começamos a dizer: “Agora serei
salvo, porque eu tenho esta e aquela evidência”. Em vez disso, é a fé simples que salva,
aquela fé e somente aquela que une ao Cordeiro, independentemente das obras, embora
seja produtiva delas.

Quantas vezes nós nos apoiamos em alguma obra que não a do nosso próprio Jesus
Amado, e confiamos em alguma força diferente da que vem do alto? Agora, se nós queremos
nos livrar disto, devemos considerar a eleição. Pare, minha alma, e considere isso. Deus
amou você antes de você ter uma existência. Ele amou você quando morta em delitos e
pecados e enviou Seu Filho para morrer por você. Ele a comprou com o Seu sangue precioso
antes que você pudesse dizer o Seu nome. Então, como você pode se orgulhar? Eu não
conheço nada que seja mais humilhante para nós do que esta doutrina da eleição. Tenho,
por vezes, caído prostrado quando me esforço para entendê-la. Eu tenho estendido minhas
asas e, como águia subo em direção ao sol. Constante tem sido o meu olhar e verdadeiro
meu voo por um tempo. Mas, quando chego perto disto e aquele pensamento me sobrevém:
“Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”, eu fico perdido em seu brilho. Fico
maravilhado com o pensamento poderoso, e das alturas estonteantes minha alma aterrissa,
prostrada e quebrantada, dizendo: “Senhor, eu não sou nada, sou menos do que nada. Por
que eu? Por que eu?”.

Amigo, se você quer ser humilhado, estude a eleição, pois isso lhe fará humilde sob a
influência do Espírito de Deus. Aquele que se orgulha de sua eleição não é eleito; e aquele
que é humilhado sob um senso da eleição pode acreditar que ele é eleito. Ele tem todas as

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razões para crer que ele o é, pois este é um dos efeitos mais benditos da eleição, o qual nos
ajuda a nos humilharmos diante de Deus.

Outrossim, a eleição no Cristão deve torná-lo muito destemido e muito ousado. Nenhum
homem será tão ousado quanto aquele que crê que ele é eleito de Deus. Com que se
preocupará um homem, se ele é escolhido de seu Criador? Ele se preocupará com o triste
chilrear de alguns pequeninos pardais quando ele sabe que ele é uma águia de uma raça
real? Será que ele se preocupará quando o mendigo o apontar, quando o sangue real do
Céu corre em suas veias? Será que ele temerá se o mundo inteiro for contra ele? Se contra
ele a terra estiver completamente coberta de um exército armado, ele permanece em perfeita
paz, pois ele está no lugar secreto do tabernáculo do Altíssimo, no grande pavilhão do Todo-
Poderoso.

“Eu sou de Deus”, diz ele, “eu sou diferente dos outros homens. Eles são de uma raça
inferior. Eu não sou nobre? Eu não sou um dos aristocratas do Céu? O meu nome não está
escrito no Livro de Deus?”. Ele se importa com o mundo? Não; como o leão que não se
preocupa com o latido do cão, ele sorri para todos os seus inimigos, e quando eles chegam
muito perto dele, ele move-se e despedaça-os. Ele se importa com estes? Ele caminha sobre
eles como um colosso, enquanto homenzinhos caminham sob ele e não o compreendem.

Sua fronte é de ferro, o seu coração é de seixo; ele se importa com o homem? Não; se
um assobio viesse de todas as partes do mundo, ele poderia sorrir, pois ele diria:

“Aquele que fez de Deus o seu refúgio,


Encontrará mui segura habitação”.

Eu sou um dos seus eleitos. Sou escolhido de Deus e precioso, que o mundo me rejeite,
eu não temo. Ah, vocês professos de longa data, alguns de vocês se encurvarão como os
salgueiros. Há poucos Cristãos-carvalho hoje em dia que podem suportar a tempestade, e
vou dizer-lhes a razão: É porque vocês não creem que são eleitos. O homem que sabe que
é eleito será sente-se muito enobrecido para pecar, ele não vai rebaixar-se de modo a
cometer os atos das pessoas comuns.

O crente na verdade de Deus dirá: “Eu comprometerei os meus princípios? Eu mudarei


as minhas doutrinas? Deixarei de lado meus pontos de vista? Eu esconderei o que eu creio
ser verdade? Não! Desde que eu sei que eu sou um dos eleitos de Deus, nas próprias faces
de todos os homens falarei a verdade de Deus, não importa o que diga o homem”. Nada faz
um homem tão verdadeiramente ousado quanto sentir que ele é eleito de Deus. Ele não
tremerá, ele não se moverá, aquele que sabe que Deus o escolheu.

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Além disso, a eleição nos fará santos. Nada sob a influência graciosa do Espírito Santo
pode fazer um Cristão mais santo do que o pensamento de que ele é eleito. “Pecarei”, diz
ele, “depois de Deus ter me escolhido? Transgredirei depois de tanto amor? Desviar-me-ei
depois de tanta bondade amorosa e terna misericórdia? Não, meu Deus, desde que Tu me
elegeste, eu Te amarei, viverei para Ti:

“Visto que Tu, o Deus eterno,


Meu Pai se fez.”

Entregar-me-ei para ser Teu para sempre, pela eleição e pela redenção, lançando-me
a Ti e solenemente consagrar-me-ei ao Teu serviço.

E agora, por fim, para os ímpios. O que a eleição diz para você? Primeiro, vocês ímpios,
vos desculparei por um momento. Há muitos de vocês que não gostam da eleição e não
posso culpá-los por isso, porque eu tenho ouvido pregarem a eleição, e concluírem dizendo:
“Eu não tenho uma palavra a dizer ao pecador”. Agora, eu digo que vocês não devem gostar
desse tipo de pregação e eu não os culpo por isso. Mas, eu digo, coragem, tenha esperança,
ó pecador, pois, a eleição é uma realidade!

Portanto, longe de desesperar e desencorajar você, isso é algo muito esperançoso e


alegre, a saber, o fato de que há uma eleição. E se eu lhe dissesse que talvez ninguém fosse
salvo, não sendo ninguém ordenado para a vida eterna? Você não tremeria e dobraria as
mãos em desespero e diria: “Então, como posso ser salvo, uma vez que ninguém é eleito?”.
Mas, eu digo que há uma multidão de eleitos, além de toda a contagem, uma quantidade que
nenhum mortal pode contar. Portanto, anime-se, pobre pecador! Lance fora o seu desânimo,
você não pode ser eleito assim como qualquer outro? Pois, não há uma quantidade
inumerável eleita! Há alegria e conforto para você!

Então, não somente tenha coragem, mas vá e experimente o Mestre. Lembre-se, se


você não for eleito, você não perde nada com isso. O que fizeram os quatro leprosos dizer:
“Vamos nós, pois, agora, e passemos para o arraial dos sírios; se nos deixarem viver,
viveremos, e se nos matarem, tão-somente morreremos” [2 Reis 7:4]? Oh, pecador, venha
até o trono de misericórdia eletiva! Você pode morrer onde está. Vá a Deus, e mesmo
supondo que Ele o rejeitará, suponha que a Sua mão erguida o afaste — o que é algo
impossível — ainda assim, você não perderá nada. Você não será mais condenado por isso.
Além disso, supondo que você está condenado, você teria a satisfação de, pelo menos, ser
capaz de levantar os olhos no Inferno e dizer: “Deus, eu pedi misericórdia a Ti e Tu não a
concedeste. Busquei por misericórdia, mas Tu recusaste”.

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Você nunca dirá isso, ó pecador! Se você for até Ele e pedir, você receberá; porque Ele
nunca rejeitou ninguém! Isso não traz esperança para você? Que embora haja um número
determinado, ainda assim, é verdade que todos os que buscam pertencem a esse número.
Vá e busque, e se você for o primeiro a ir para o Inferno, diga aos demônios que você pereceu
assim, diga aos demônios que você é alguém que foi lançado fora, depois de ter ido a Jesus
como um pecador culpado. Digo a você que isso desonraria o Eterno — com reverência ao
Seu nome — e Ele não permitiria tal coisa. Ele tem zelo pela Sua honra e Ele não permitiria
que um pecador dissesse tal coisa.

Mas ah, pobre alma! Não pense, portanto, que você perde qualquer coisa por vir. Há
ainda mais um pensamento; você ama o pensamento sobre a eleição nesta manhã? Você
está disposto a admitir a sua justiça? Você diz: “eu sinto que estou perdido, e que eu mereço
isso; e se o meu irmão é salvo eu não posso murmurar. Se Deus me destruir, eu o mereço,
mas se Ele salva a pessoa sentada ao meu lado, Ele tem o direito de fazer o que quer com
o que é Seu próprio e eu não sofro nenhum dano por isso”.

Você pode dizer isso honestamente e de coração? Se assim for, então a doutrina da
eleição teve seu correto efeito sobre o seu espírito e você não está longe do Reino dos Céus.
Você foi trazido até onde deveria estar, onde o Espírito quer que você esteja, e sendo assim,
nesta manhã, vá em paz! Deus perdoou os seus pecados. Você não sentiria desta forma, se
não fosse perdoado, não sentiria isso se o Espírito de Deus não estivesse agindo em você.
Alegre-se, então, nisso! Deixe a sua esperança descansar na Cruz de Cristo. Não pense
sobre a eleição, mas em Cristo Jesus. Descanse em Jesus — Jesus primeiro, por último e
sem fim.

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3
Expiação Limitada ou Redenção Particular
(L de TULIP — Limited Atonement)

Sermão Nº 181. Um sermão pregado na manhã do Dia do Senhor, 28 de fevereiro de 1858.


Por C. H. Spurgeon, no Music Hall, Royal Surrey Gardens.

“Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir,
e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20:28)

Quando pela primeira vez foi meu dever ocupar este púlpito e pregar neste salão, minha
congregação assumiu a aparência de uma massa irregular de pessoas vindas de todas as
ruas desta cidade para ouvir a Palavra. Eu era, na ocasião, simplesmente um evangelista
pregando a muitos que não tinham ouvido o Evangelho antes. Pela graça de Deus, uma
mudança mui abençoada ocorreu e agora em vez de ter um grupo irregular reunido, minha
congregação é tão constante quanto a de qualquer ministro em toda a cidade de Londres!
Posso, a partir deste púlpito, observar os rostos dos meus amigos que ocuparam os mesmos
lugares, tanto quanto possível, nestes muitos meses. E eu tenho o privilégio e o prazer de
saber que uma proporção muito grande, certamente, três quartos das pessoas que se
reúnem aqui não são pessoas que se veem aqui devido à curiosidade, mas são meus
ouvintes regulares e constantes. E observo que as minhas características também mudaram!
Antes eu era um evangelista, mas o meu ofício agora é ser o vosso pastor. Vocês uma vez
foram um grupo heterogêneo reunido para me ouvir, mas agora somos unidos pelos laços
do amor. Pela associação, temos crescido em amor e respeito uns para com os outros e
agora vocês se tornaram as ovelhas do meu pasto e os membros do meu rebanho. E eu
tenho agora o privilégio de assumir a posição de um pastor neste lugar, bem como na capela
onde eu trabalho à noite. Eu penso que é razoável para o julgamento de todas as pessoas

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que, assim como a congregação e o ministro passaram por mudanças, o próprio ensino deve,
em alguma medida, ter sofrido alguma diferença.

Tem sido o meu desejo falar-lhes das verdades simples do Evangelho. Muito
raramente, neste lugar, eu tenho tentado adentrar às coisas profundas de Deus. Um texto
que eu pensei ser adequado para minha congregação para a noite, eu não faria disso
assunto de discussão neste lugar na parte da manhã. Há muitas doutrinas altas e
misteriosas, com que muitas vezes tenho tido a oportunidade de lidar em particular, as quais
eu não tomei a liberdade de falar com vocês como uma reunião de pessoas que casualmente
se reuniam para ouvir a Palavra. Mas agora, uma vez que as circunstâncias foram mudaram,
o ensino também será mudado. Não vou agora simplesmente limitar-me à doutrina da fé ou
ao ensino do Batismo de crentes. Eu não me deterei sobre questões superficiais, mas devo
ousar, à medida que Deus me guiar, a introduzir aquilo que está na base da religião, que nós
afirmamos com tanto amor. Não me envergonharei de pregar diante de vocês a doutrina da
soberania Divina. Eu não titubearei em pregar a doutrina da eleição da maneira mais irrestrita
e aberta. Não terei medo de anunciar a grande verdade da perseverança final dos santos.
Eu não reterei aquela verdade inquestionável das Escrituras, a saber, o chamado eficaz dos
eleitos de Deus. Tentarei, conforme Deus me ajudar, não omitir nada de vocês que se
tornaram o meu rebanho. Visto que muitos de vocês agora “provaram que o Senhor é bom”,
vamos nos esforçar para expor todo o sistema das Doutrinas da Graça, para que os santos
sejam edificados e cresçam em sua santíssima fé!

Começo esta manhã com a doutrina da redenção. “Veio... para dar a sua vida em
resgate de muitos”. A doutrina da redenção é uma das doutrinas mais importantes do sistema
da fé. Um erro nesse ponto conduzirá inevitavelmente a um erro por todo o sistema de nossa
crença! Agora, você está ciente de que existem diferentes teorias da redenção. Todos os
Cristãos sustentam que Cristo morreu para redimir, mas nem todos os Cristãos ensinam a
mesma redenção! Somos diferentes quanto à natureza da expiação e quanto à concepção
da redenção. Por exemplo, o Arminiano afirma que Cristo, quando morreu, não morreu com
a intenção de salvar qualquer pessoa em particular. Os Arminianos ensinam também que a
morte de Cristo não significa, por si só, a garantia inquestionável da salvação de qualquer
homem vivo. Eles acreditam que Cristo morreu para tornar possível a salvação de todos os
homens, ou que, por fazer alguma coisa, qualquer homem que quiser pode alcançar a vida
eterna!

Consequentemente, eles são obrigados a afirmar que se a vontade do homem não


ceder e voluntariamente entregar-se à graça Divina, então a expiação de Cristo seria inútil!

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Eles afirmam que não havia nenhuma particularidade e especialidade na morte de Cristo.
Segundo eles, Cristo morreu tanto por Judas no Inferno quanto para Pedro que subiu ao
Céu! Eles acreditam que para aqueles que são lançados ao fogo eterno, houve tão
verdadeira e real redenção consumada, quanto para aqueles que agora estão diante do trono
do Altíssimo! Ora, nós não cremos em tal coisa! Nós afirmamos que Cristo, quando morreu,
tinha um objetivo em vista e que esse objetivo será cumprido mui seguramente e sem sombra
de dúvida! Medimos o desígnio da morte de Cristo pelo efeito da mesma. Se alguém nos
perguntar: “O que Cristo designou fazer por meio de Sua morte?”, nós respondemos fazendo-
lhe outra pergunta: “O que Cristo fez, ou o que Cristo fará por meio de Sua morte?”. Nós
declaramos que a medida do efeito do amor de Cristo é a medida do Seu propósito! Não
podemos assim contrariar a nossa razão ao pensar que a intenção do Deus Todo-Poderoso
poderia ser frustrada ou que o propósito de algo tão grande quanto a expiação poderia, de
algum modo, falhar. Nós afirmamos — não temos medo de dizer no que cremos — que Cristo
veio a este mundo com a intenção de salvar “uma multidão, a qual ninguém podia contar”
[Apocalipse 7:9]. E acreditamos que, como resultado disso, que cada pessoa por quem Ele
morreu deve, sem sombra de dúvida, ser purificada do pecado e permanecer lavado em Seu
sangue diante do trono do Pai. Nós não cremos que Cristo fez qualquer expiação eficaz por
aqueles que estão condenados para sempre! Não nos atrevemos a pensar que o sangue de
Cristo foi derramado com a intenção de salvar aqueles a quem Deus previu que nunca seriam
salvos, e alguns dos quais já estavam no Inferno quando Cristo, segundo o relato de alguns
homens, morreu para salvá-los!

Tenho, portanto, apenas declarado a nossa teoria da redenção e pontuado as


diferenças que existem entre duas grandes partes na Igreja professa. Agora, o meu esforço
será mostrar a grandeza da redenção de Cristo Jesus. E ao fazê-lo, espero ser habilitado
pelo Espírito de Deus para anunciar todo o grande sistema da redenção, de modo que seja
compreendido por todos nós, mesmo se todos nós não pudermos aceitá-lo. Vocês devem ter
isso em mente, que alguns de vocês, talvez, podem estar prontos para disputar sobre as
coisas que eu afirmo. Mas vocês serão lembrados que isso não é nada para mim. Em todos
os momentos ensinarei as coisas que eu afirmo serem verdadeiras, sem considerar
quaisquer oposições das reações humanas! Vocês têm a liberdade de fazer o mesmo em
seus próprios lugares e pregar aquilo que creem em suas próprias assembleias, como eu
reivindico o direito de pregar na minha, plenamente e sem hesitação!

Cristo Jesus “deu a sua vida em resgate de muitos”. E por esse resgate Ele operou
para nós uma grande redenção. Eu devo me esforçar para mostrar a grandeza desta
redenção, medindo-a em cinco maneiras. Observaremos a sua grandeza, em primeiro lugar,

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a partir da hediondez da nossa própria culpa, da qual Ele nos libertou. Em segundo lugar,
medirei a Sua redenção pela severidade da justiça Divina. Em terceiro lugar, devo mensurá-
la pelo preço que Ele pagou: as dores que Ele sofreu. Depois, vamos procurar ampliar isto,
observando a libertação que Ele realmente consumou. E vamos concluir observando o
grande número daqueles por quem esta redenção foi feita, que em nosso texto são descritos
como “muitos”.

I. Primeiro, então, veremos que a redenção de Cristo não foi pouca coisa, se nós
apenas a medirmos, em primeiro lugar, pelos nossos próprios pecados. Meus irmãos e irmãs,
olhem por momento para a caverna do poço de onde foram cortados e para a rocha de onde
foram tirados. Vocês que foram lavados, purificados e santificados, façam uma pausa por
um momento e olhem para trás, para o antigo estado da sua ignorância. Pense nos pecados
que cometiam, nos crimes para os quais vocês se apressavam, na rebelião contínua contra
Deus, na qual era o seu hábito de vida. Um pecado pode arruinar uma alma para sempre.
Não está no poder da mente humana compreender o infinito do mal que dorme no coração
de um único pecado! Há uma infinidade de culpa oculta na transgressão contra a majestade
do Céu. Se, então, vocês e eu tivéssemos pecado apenas uma vez, nada além de uma
infinitamente valiosa expiação poderia ter lavado o pecado e feito satisfação por ele! Mas,
vocês e eu pecamos uma vez? Não, meus irmãos e irmãs, as nossas iniquidades são mais
numerosas do que os cabelos da nossa cabeça! Elas têm poderosamente prevalecido contra
nós! Nós também podemos tentar contar as areias da praia, ou contar as gotas que formam
o oceano, tanto quanto contar as transgressões que marcaram as nossas vidas! Voltemos à
nossa infância. Quão cedo começamos a pecar! Como nós desobedecemos nossos pais e
mesmo assim aprendemos a fazer da nossa boca a casa das mentiras! Na nossa infância,
quão cheios de lascívia e desobediência estávamos! Obstinada e insensatamente
preferíamos o nosso próprio caminho e nos irritávamos contra todas as restrições que os
nossos pais piedosos nos impunham. Nem a nossa juventude nos tornou sóbrios.
Descontroladamente muitos de nós mergulhamos na dança do pecado! Nós nos tornamos
mestres na iniquidade. Nós não só pecamos, mas nós ensinamos os outros a pecar. E quanto
à sua maturidade, vocês que entraram no auge da vida, podem ser mais sóbrios
exteriormente, podem estar um pouco livres da dissipação de sua juventude, mas quão
pouco os homens têm se tornado melhores! A menos que a soberana graça de Deus tenha
nos regenerado, não estamos melhores agora do que estávamos quando começamos. E
mesmo que ela tenha operado, ainda assim, temos pecados dos quais nos arrepender, pois

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todos nós colocamos nossas bocas no pó, lançamos cinzas sobre a nossa cabeça e
clamamos: “imundo! imundo!”.

E oh, vocês que estão cansados, que têm se inclinado sobre os seus bordões e
suportado a idade avançada; os pecados não continuam apegados às suas vestes? As suas
vidas estão tão alvas quanto os cabelos brancos que coroam suas cabeças? Vocês não
sentem ainda que a transgressão suja as orlas de seus mantos e estraga a sua pureza?
Quantas vezes agora vocês se jogam na lama, de modo que mesmo as suas roupas vos
abominam! Voltem os seus olhos para os sessenta, setenta, oitentas anos durante os quais
Deus tem poupado suas vidas, vocês por um momento podem pensar que é possível que
possam numerar as suas incontáveis transgressões ou calcular o peso dos crimes que vocês
cometeram? Oh, estrelas do céu! O astrônomo pode medir a sua distância e dizer sua altura;
mas oh, vós, pecados da humanidade, vós superais todos os pensamentos! Oh, vós, altas
montanhas! A casa da tormenta, o berço da tempestade! O homem pode subir os seus
cumes e ficar admirado com a sua neve; mas vós, montes do pecado, vossa altura é mais
alta do que os nossos pensamentos podem alcançar! Vós, abismos de transgressões, vós
sois mais profundos do que nossa imaginação se atreve a adentrar. Vocês me acusam de
difamar a natureza humana? É porque vocês não a conhecem! Se Deus já houvesse
desvelado os seus corações para vocês, seriam testemunhas de que tão longe de exagerar,
minhas pobres palavras não conseguem descrever a desesperança de nosso mal! Oh, se
pudéssemos, cada um de nós, olhar para os nossos corações hoje, se nossos olhos fossem
transformados de modo a ver a iniquidade, que está gravada como com ponta de diamante
em nossos corações de pedra; estariam, então, dizendo ao ministro que embora ele possa
representar a desesperança da culpa, ainda assim ele não consegue por qualquer meio
superá-la! Quão grande, então, amados, devia ser o resgate de Cristo quando Ele nos salvou
de todos esses pecados? Os homens por quem Jesus morreu, por maior que sejam seus
pecados, quando eles creem, são santificados de todas as suas transgressões! Embora eles
possam ter cometido todos os vícios e toda concupiscência que Satanás poderia sugerir e
que a natureza humana poderia realizar, ainda assim, uma vez que creem, pela graça de
Deus, toda a sua culpa é lavada! Anos após anos podem tê-los revestido com as trevas, até
que o seu pecado ter se tornado duplamente maligno, mas no momento em que ele crê, um
momento triunfante da confiança em Cristo, a grande redenção tira a culpa de muitos anos!
Não, mais! Se fosse possível que todos os pecados que os homens cometeram em
pensamento, palavra ou ação desde que os mundos foram criados ou o tempo começou
estivessem sobre uma miserável cabeça, a grande redenção é toda-suficiente para remover
todos esses pecados e lavar o pecador de modo que se torne mais alvo que a neve!

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Oh, quem medirá as alturas da toda-suficiência do Salvador? Em primeiro lugar, diga


quão grande é o pecado e, em seguida, lembre-se que, como o dilúvio de Noé prevaleceu
sobre os cumes dos montes da terra, assim o fluxo da redenção de Cristo prevalece sobre
os topos das montanhas de nossos pecados! Nos tribunais do Céu há homens hoje que
antes eram assassinos, ladrões, bêbados, adúlteros, blasfemos e perseguidores! Mas eles
foram lavados, eles foram santificados! Pergunte-lhes de onde o brilho de suas vestes veio
e de onde obtiveram a sua pureza e eles, em uma só voz, dirão a você que eles lavaram as
suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro! Oh, vocês, consciências pesadas! Ó
queridos cansados e sobrecarregados! Ó vocês que estão gemendo por causa do pecado!
A grande redenção agora proclamada a vocês é toda-suficiente para as suas necessidades!
E apesar de seus numerosos pecados excederem as estrelas do céu, aqui há uma expiação
por todos eles, um rio que pode transbordar todos eles e levá-los para longe de você para
sempre!

Esta, então, é a primeira mensuração da expiação: a grandeza de nossa culpa.

II. Agora, em segundo lugar, temos que medir a grande redenção pela severidade da
justiça Divina. “Deus é Amor”, sempre amoroso, mas a minha próxima proposição, afinal,
não interfere nesta afirmação: Deus é severamente justo, inflexivelmente severo em Seus
lidares com a humanidade! O Deus da Bíblia não é o Deus da imaginação de alguns homens
que dão tão pouco peso à malignidade do pecado como se Deus lidasse com o pecado sem
exigir qualquer punição por ele. Deus não é o que os homens imaginam, como se as nossas
transgressões fossem coisas tão pequenas, tais meros pecadinhos que o Deus do Céu é
leniente para com eles que os deixa impunes! Não. Senhor, o Deus de Israel declarou sobre
isso: “O Senhor vosso Deus é um Deus zeloso”. É a Sua própria declaração: “Eu não terei
culpado por inocento” [Êxodo 34:7]. “A alma que pecar, essa morrerá” [Ezequiel 18:4].
Aprendam, meus amigos, a olhar para Deus como sendo tão severo em Sua justiça, como
se Ele não fosse amoroso, e ainda assim, tão amoroso como se Ele não fosse severo! Seu
amor não diminui Sua justiça, nem a Sua justiça, mesmo em mínimo grau, contradiz o Seu
amor. As duas coisas estão docemente unidas na expiação de Cristo.

Entretanto, observem, nunca podemos compreender a plenitude da expiação até que


tenhamos primeiro nos apegado à verdade bíblica da imensa justiça de Deus. Nunca houve
uma palavra mal falada, nem um pensamento mal concebido, nem uma má ação feita, pelo
qual Deus não punirá uma ou outra pessoa. Ele terá a satisfação de você ou então de Cristo!
Se você não tem nenhuma expiação para apresentar, por meio de Cristo, você deve para

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sempre pagar a dívida que você nunca poderá pagar, em miséria eterna; pois, tão certo
quanto Deus é Deus, Ele antes perderá a Sua Divindade a permitir que um pecado fique
impune, ou uma partícula de rebelião não seja vindicada! Você pode dizer que este caráter
de Deus é frio, rígido e severo. Eu não posso ajudar quanto ao que você diz sobre isso. No
entanto, é verdade. Tal é o Deus da Bíblia! E embora nós repetimos, é verdade que Ele é
amor, não é mais verdade que Ele é amor do que Ele é cheio de justiça, pois, cada coisa boa
reúne-se em Deus e é levada à perfeição; enquanto o amor chega a consumar a beleza, a
justiça chega à severidade da inflexibilidade nEle. Ele não tem nenhuma tortuosidade, nada
a consertar em seu caráter. Nenhum atributo de algum modo predomina de forma a lançar
sombra sobre o outro. O amor tem o seu pleno domínio e a justiça não tem limite mais estreito
do que o Seu amor. Oh, então, amados, quão grande deve ter sido a substituição de Cristo
quando Ele satisfez a Deus por todos os pecados de Seu povo! Deus exige a punição eterna
pelo pecado do homem. E Deus preparou um Inferno no qual Ele lança os que morrem
impenitentes.

Oh, meus irmãos e irmãs, vocês podem pensar qual deve ter sido a grandeza da
expiação que foi a substituição para toda essa agonia que Deus teria lançado sobre nós se
Ele não a tivesse derramado sobre Cristo? Vejam! Vejam! Olhem com solenidade para das
sombras que nos separam do mundo dos espíritos e vejam aquela casa de miséria que os
homens chamam de Inferno! Vocês não podem suportar o espetáculo! Lembrem-se que
naquele lugar há espíritos pagando para sempre a sua dívida para com a justiça Divina, mas
que alguns deles estão lá há seis mil anos sufocados nas chamas, eles não estão mais perto
de quitar a sua dívida do que quando começaram! E quando dez mil vezes dez mil anos
tiverem passado, eles não terão feito mais satisfação a Deus por sua culpa do que fizeram
até agora! E agora, vocês podem compreender o pensamento da grandeza da mediação do
seu Salvador quando Ele pagou a sua dívida e a pagou toda de uma única vez, de modo que
agora não há um centavo de dívida do povo de Cristo para com o seu Deus, a não ser uma
dívida de amor? Para a justiça o crente não deve nada! Embora ele devia originalmente tanto
que a eternidade não seria suficiente para quitar o pagamento da mesma, ainda assim, em
um momento Cristo pagou tudo! O homem que crê é inteiramente santificado de toda culpa
e liberto de toda punição através do que Jesus fez! Pensem, então, em quão grande é a Sua
expiação, posto que Ele fez tudo isso!

Devo apenas fazer uma pausa aqui e proferir outra frase. Há momentos em que Deus
o Espírito Santo mostra aos homens a severidade da justiça em sua própria consciência. Há
um homem aqui hoje que acaba de ter seu coração partido com um senso de pecado. Uma
vez era um homem livre, um libertino, escravo de ninguém. Mas agora a seta do Senhor

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penetra firmemente em seu coração e ele veio sob uma escravidão pior do que a do Egito!
Eu o vejo hoje, ele me diz que a sua culpa o persegue em toda parte. O escravo, guiado pela
estrela polar, pode escapar das crueldades de seu mestre e chegar a outra terra onde ele
pode ser livre, mas este homem sente que se ele vagasse pelo mundo inteiro, ele não
conseguiria escapar da culpa. Ele que tem estado preso por muitas correntes e não
consegue encontrar uma chave que possa desprendê-lo e libertá-lo! Este homem diz que ele
tentou orações, lágrimas e boas obras, mas não é possível tirar as algemas dos pulsos. Ele
ainda se sente como um pecador perdido, e a alforria parece-lhe impossível, não importando
o que ele venha a fazer! O preso na masmorra é, às vezes, livre em pensamento, embora
não no corpo. Através das paredes da masmorra, seu espírito salta e voa para as estrelas,
livre como a águia que de ninguém é escrava. Mas este homem é um escravo em seus
pensamentos, ele não consegue ter um pensamento luminoso, feliz!

Sua alma está abatida dentro dele. Seu espírito está acorrentado e ele está
extremamente aflito. O preso, às vezes, se esquece de sua prisão durante o sono, mas esse
homem não consegue dormir. À noite ele sonha com o Inferno; durante o dia, ele parece
senti-lo. Ele carrega uma fornalha ardente dentro de seu coração e faça o que quiser, ele
não consegue apagá-la. Ele foi confirmado, ele foi batizado, ele toma o sacramento,
frequenta uma igreja ou uma capela. Ele considera todas as leituras e obedece a toda regra,
mas o fogo ainda queima. Ele dá dinheiro aos pobres; ele está pronto para entregar o seu
corpo para ser queimado. Ele alimenta o faminto, ele visita os doentes, ele veste o despido,
mas o fogo ainda queima; faça o que quiser, ele não consegue apagá-lo! Ó, você filho do
cansaço e lamento! Isso que você sente é a justiça de Deus severamente perseguindo-te; e
feliz será você quem sente isso; por agora é a você que eu prego este Evangelho da glória
do Deus bendito! Você é o homem por quem Jesus Cristo morreu! Para você Ele satisfez a
inflexível justiça. E agora tudo o que você tem que fazer para obter a paz e a consciência é
apenas dizer ao seu adversário que lhe persegue: “Olhe aqui! Cristo morreu por mim! Minhas
boas obras não poderiam fazer você parar; nem minhas lágrimas poderiam apaziguar-te.
Olhe aqui! Lá está a Cruz! Ali esteve o Deus sangrando! Ouça a Seu brado ao morrer! Veja-
O espirar! Agora você não está satisfeita?”. E quando você fizer isso, você terá a paz de
Deus que excede todo o entendimento, a qual guardará o seu coração e seu pensamento
por meio de Jesus Cristo seu Senhor, e então, você conhecerá a grandeza de Sua expiação!

III. Em terceiro lugar, podemos medir a grandeza da redenção de Cristo, pelo preço que
Ele pagou. É impossível para nós sabermos o quão grande foram as dores do nosso

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Salvador, mas ainda algum vislumbre destas dores nos renderá uma pequena ideia da
grandeza do preço que Ele pagou por nós. Ó Jesus, quem descreverá a Tua agonia?

“Venham, todas as fontes


Estejam em minha cabeça e olhos. Venham, nuvens e chuva!
Minha dor tem necessidade de todas as águas
Que a criação produziu. Que cada veia
Extraia um rio para abastecer meus olhos,
Meus cansados e lacrimejantes olhos, muito secos para mim,
A menos que obtenha novos fluxos, novas fontes
Para jorrá-las a partir de e em conformidade à minha condição.”

Ó Jesus! Tu foste um sofredor desde o Teu nascimento, um homem de dores e


sofredor! Os Teus sofrimentos vieram sobre Ti como em uma chuva perpétua até a última
temível hora de escuridão. Depois, não em uma chuva, mas em uma nuvem, uma torrente,
uma catarata de tristeza Tuas agonias caíram sobre Ti. Veja-O além! É uma noite de geada
e frio, mas Ele está ao relento. Anoiteceu. Ele não dorme, Ele está em oração. Ouça os Seus
gemidos! Ou se algum homem lutou como Ele luta? Vá e olhe o Seu rosto! Já houve tal
sofrimento em um semblante mortal, como o que você contempla? Ouça as Suas próprias
palavras? “A minha alma está cheia de tristeza até a morte” [Mateus 26:38]. Ele se levanta.
Ele é tomado por traidores e é preso. Vamos ao lugar onde agora Ele estava envolvido em
agonia. Ó Deus! O que é isto que vemos? O que é esta mancha no chão? É sangue! De
onde veio? Ele tinha alguma ferida que escorria por causa de Sua terrível luta? Ah, não. “O
seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” [Lucas 22:44].
Oh, agonias, que ultrapassam a palavra pela qual nós as nomeamos! Oh, sofrimentos, que
não podem ser pronunciados pela linguagem! O que é isso que assim conseguiu atingir a
estrutura bendita do Salvador e fez que com todo o Seu corpo suasse sangue?

Este é o início, o começo da tragédia. Siga-o com tristeza, você Igreja entristecida, para
testemunhar a consumação da mesma. Ele é arrastado pelas ruas. Ele está primeiramente
em um tribunal, depois em outro. Ele é lançado perante o Sinédrio e condenado. Ele é
ridicularizado por Herodes, Ele é julgado por Pilatos. Sua sentença é pronunciada: “Crucifica-
o!”. E agora a tragédia vem ao seu clímax. Suas costas são feridas. Ele é amarrado à
pequena coluna romana. O azorrague sangrento provoca sulcos em Suas costas. Suas
costas estão avermelhadas pelo escorrer do sangue, um manto carmesim O proclama
imperador da miséria! Ele é levado para a sala da guarda. Seus olhos estão cobertos, em
seguida, eles Lhe batem na face e dizem: “Profetiza, quem é que te feriu?” [Lucas 22:64].

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Eles cospem em Seu rosto. Eles fazem uma coroa de espinhos e colocam-na com força
sobre Suas frontes. Eles colocam sobre Ele uma capa cor de púrpura.

Eles se inclinam e zombam dEle. Ele permanece em silêncio. Ele não responde a uma
palavra. “Quando o injuriavam, não injuriava”, mas entregava-se Àqueles que Ele veio servir.
E agora eles O levam com muito escárnio e zombaria, e O conduzem deste lugar e O
arrastam pelas ruas. Emagrecido pelo jejum contínuo e deprimido com agonia de espírito,
Ele tropeça sob a Sua cruz. Filhas de Jerusalém! Ele desmaia em suas ruas! Eles O
levantam. Eles colocaram a Sua cruz sobre outros ombros e O apressam, talvez, com
varapaus, até que finalmente, Ele chega ao monte da desgraça. Os rudes soldados O
prendem e ferem nas costas. O madeiro transversal é colocado debaixo dEle, Seus braços
são esticados para alcançar a distância necessária. Os pregos são cravados. Quatro
martelos em um momento introduzem quatro pregos nas partes mais sensíveis de Seu corpo!
E ali jaz sobre o Seu próprio local de execução, morrendo na Sua cruz. Ainda não acabou.
A cruz é erguida pelos rudes soldados. Há um encaixe preparado para isso. A cruz é fixada
no lugar, o qual eles enchem com terra. E ali ela permanece.

Mas, olhem para os membros do Salvador, como eles tremem! Cada osso ficou fora da
junta quando a cruz foi erguida! Como Ele brada! Como Ele suspira! Como Ele soluça! Não
só isso; ouça como, finalmente, Ele grita em agonia: “Deus Meu Deus, Deus Meu, por que
me desamparaste?”. Ó sol, não admira que tu tenhas fechado os teus olhos para não mais
comtemplar um ato tão cruel! Ó rochas!, não admira que vós tenhais vos fendido e rasgado
os vossos corações com compaixão quando teu Criador morreu! Nenhum homem sofreu
como este! Mesmo a própria morte cedeu e muitos daqueles que estavam em seus túmulos
se levantaram e entraram na cidade. Este, contudo, é apenas o exterior. Confiem em mim,
irmãos e irmãs, o interior era muito pior. O que o nosso Salvador sofreu em Seu corpo não
foi nada comparado com o que Ele suportou em Sua alma! Você não pode imaginar e eu não
posso ajudá-lo a cogitar o que Ele suportou interiormente. Suponham por um momento —
para repetir uma frase que muitas vezes tenho usado — suponhamos que um homem foi ao
Inferno, suponhamos que o seu tormento eterno fosse condensado em uma hora? E, então,
suponham que isso fosse multiplicado pelo número dos salvos, que é um número além de
toda quantificação humana, e agora vocês podem pensar que grande condensação de
miséria haveria nos sofrimentos de todo o povo de Deus se fossem punidos por toda a
eternidade?

E lembrem-se que Cristo teve que sofrer algo equivalente a todos os Infernos de todos
os Seus redimidos! Eu nunca posso expressar esse pensamento melhor do que usando

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essas palavras muitas vezes repetidas: parecia que o Inferno havia sido colocado em Seu
cálice, Ele o tomou: “Em um grandioso desígnio de amor, Ele bebeu a condenação até o fim”.
De modo que não havia mais nada de todas as dores e misérias do Inferno eterno que o Seu
povo deveria sofrer! Eu não digo que Ele sofreu o mesmo, mas que Ele suportou um
equivalente a tudo isso e ofereceu a Deus a satisfação por todos os pecados de todo o Seu
povo, e consequentemente, pagou a Ele um equivalente por todo o castigo deles! Agora,
vocês podem imaginar, vocês podem supor o que é a grande redenção de nosso Senhor
Jesus Cristo?

IV. Serei muito breve sobre o próximo ponto. A quarta forma de medir as agonias do
Salvador é esta: devemos considerá-las pela libertação gloriosa que Ele consumou.

Levante-se, crente, levante-se em seu lugar e hoje testemunhe a grandeza do que o


Senhor tem feito por você! Deixe-me dizer isso para você! Contarei a sua experiência e a
minha de uma só vez. Houve um tempo em que minha alma estava sobrecarregada com o
pecado. Eu havia me revoltado contra Deus e transgredido gravemente. Os terrores da lei
tinham domínio sobre mim. As dores da convicção se apoderaram de mim. Vi-me culpado.
Olhei para o céu e vi um Deus irado jurando punir-me. Olhei para baixo de mim e vi um
Inferno com a boca aberta, pronto para me devorar! Busquei, pelas boas obras, satisfazer a
minha consciência. Mas tudo em vão! Esforcei-me, por participar das cerimônias da religião,
apaziguar as dores que eu sentia interiormente, mas tudo se mostrou sem efeito. Minha alma
estava cheia de tristeza quase até a morte. Eu poderia ter dito com aquele antigo sofredor:
“a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a vida” [Jó 7:15].
Esta era a grande questão que sempre me afligia: “Pequei. Deus deve me punir. Como Ele
pode ser justo se Ele não me punir? Então, uma vez que Ele é justo, o que será de mim?”.
Finalmente, meus olhos se voltaram para essa doce Palavra que diz: “o sangue de Jesus
Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” [1 João 1:7]. Tomei esse texto, fui para o
meu quarto. Ali sentei-me e meditei. Eu vi Alguém pendurado numa cruz. Era o meu Senhor
Jesus. Ali estavam a coroa de espinhos e os emblemas de miséria inigualável e
incomparável. Olhei para Ele e os meus pensamentos daquela Palavra que diz: “Esta é uma
palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores” [1 Timóteo 1:15]. Então, eu disse dentro de mim: “Este Homem morreu pelos
pecadores? Eu sou um pecador. Então, Ele morreu por mim! Aqueles por quem Ele morreu,
Ele salvará. Ele morreu pelos pecadores. Eu sou um pecador. Ele morreu por mim! Ele me

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salvará”. Minha alma invocou aquela verdade. Olhei para Ele, e enquanto eu “via o fluxo de
Seu sangue redentor de almas”, o meu espírito se alegrou, pois eu pude dizer:

“Nada em minhas mãos eu trago,


Simplesmente à Tua cruz me apego!
Nu eu olho para Ele por veste,
Desamparado, Eu venho a Ele por graça!
Sujo, eu corro para esta fonte,
Lava-me, Salvador, ou morro!”

E agora, crente, você dirá o restante. No momento em que você creu, o seu fardo caiu
de seu ombro e você tornou-se leve como o ar. Em vez de trevas, houve luz! Em vez de
vestes de opressão, você teve vestes de louvor. Quem falará da sua alegria desde então?
Você tem cantado na terra os hinos do Céu e na sua alma reconciliada você tem antecipado
o Sabath eterno dos remidos. Porque você creu, entrou no descanso. Sim, conte isso para
todo o mundo: os que creem, pela morte de Jesus, são justificados de todas as coisas a partir
das quais eles não poderiam ser libertos pelas obras da lei! Diga isso nos céus: ninguém
pode acusar os eleitos de Deus! Diga isso na terra: os redimidos de Deus estão livres do
pecado aos olhos de Yahwéh! Diga isso mesmo ao Inferno: os eleitos de Deus nunca irão
para este lugar, Cristo morreu pelos Seus eleitos e quem os condenará?

V. Apressei-me para o último ponto que é o mais doce de todos! Jesus Cristo, somos
informados em nosso texto, veio ao mundo, “para dar a sua vida em resgate de muitos”. A
grandeza da redenção de Cristo pode ser medida pela extensão do Seu desígnio. Ele deu a
Sua vida “em resgate de muitos”. Devo agora retornar a esse ponto controverso novamente.
Aqueles de nós que somos comumente apelidados pelo título de Calvinistas (e não estamos
envergonhados disso. Nós pensamos que Calvino, afinal, sabia mais sobre o Evangelho do
que quase qualquer homem não-inspirado que já viveu!), somos muitas vezes acusados de
limitar a expiação de Cristo, porque dizemos que Cristo não fez uma expiação por todos os
homens, ou todos os homens seriam salvos. Agora, a nossa resposta a isso é que, por outro
lado, os nossos adversários O limitam, não nós! Os Arminianos dizem que Cristo morreu por
todos os homens. Pergunte a eles o que querem dizer com isso. Cristo morreu, de modo a
assegurar a salvação de todos os homens? Eles dizem: “Não, certamente não”. Fazemos-
lhes a próxima pergunta: “Cristo morreu, de modo a assegurar a salvação de qualquer
homem em particular?”. Eles respondem: “Não”. Eles são obrigados a admitir isso, se eles
forem consistentes. Eles dizem: “Não, Cristo morreu para que qualquer homem possa ser

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salvo se”; e então, seguem citando determinadas condições de salvação. Dizemos, então,
que somente voltaremos para a declaração anterior: “Cristo não morreu para que sem dúvida
assegurasse a salvação de qualquer um, não é?”. Você deve dizer: “Não”. Você é obrigado
a dizê-lo, por que você acredita que mesmo depois que um homem foi perdoado, ele ainda
pode cair da graça e perecer. Agora, quem é que limita a morte de Cristo?

Ora, você! Você diz que Cristo não morreu de modo a assegurar infalivelmente a
salvação de ninguém. Nós nos escusamos, quando você diz que nós limitamos a morte de
Cristo! Nós dizemos: “Não, meu caro senhor, é você que o faz. Nós dizemos que Cristo
morreu de modo que Ele infalivelmente garantiu a salvação de uma multidão que ninguém
pode contar, que através da morte de Cristo não só podem ser salvos, mas são salvos, serão
salvos e de maneira alguma correrão o risco de serem qualquer outra coisa, senão salvos!
Você acolhe bem a sua expiação. Você pode sustentá-la. Nós nunca renunciaremos à nossa
por causa disso”.

Agora, amados, quando vocês ouvirem alguém rindo ou zombando da Expiação


Limitada, poderão dizer-lhe isso. A expiação geral é como uma ponte grande e larga que vai
apenas até a metade do caminho; ela não vai até a outra margem do rio; só professa
percorrer metade do caminho; não assegura a salvação de ninguém. Ora, eu, antes, poria
meu pé em cima de uma ponte tão estreita quanto Hungerford, que percorresse todo o
caminho, do que em uma ponte tão larga quanto o mundo, se esta não percorresse todo o
caminho até a outra margem do rio. Disseram-me que é meu dever dizer que todos os
homens foram resgatados e me informaram que há um mandado bíblico para isso: “O qual
se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”
[1 Timóteo 2:6]. Agora, este parece ser um grande argumento, de fato, para o outro lado da
questão! Por exemplo, veja aqui: “Eis que toda a gente vai após ele” [João 12:19]. Será que
todo o mundo seguia a Cristo? “Então ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a
província adjacente ao Jordão” [Mateus 3:5]. Toda a Jerusalém ou toda a Judéia foi batizada
no Jordão? “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno” [1 João
5:19]. Será que “todo o mundo” aqui significa o mundo todo? Se assim for, como podia ser
então, que houvessem alguns que eram “de Deus”? As palavras, “mundo” e, “todos”, são
usados em cerca de sete ou oito sentidos diferentes nas Escrituras. E é muito raro que,
“todos” signifique todas as pessoas consideradas individualmente! As palavras são
geralmente usadas para significar que Cristo redimiu alguns de todos os tipos — alguns
judeus, alguns gentios, alguns ricos, alguns pobres — e que Ele não restringiu a Sua
redenção, quer a judeus ou a gentios.

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Deixando a controvérsia, no entanto, agora responderei a uma pergunta. Diga-me,


então, senhor, por quem Cristo morreu? Responda-me uma ou duas perguntas e eu vou lhe
dizer se Ele morreu por você. Você precisa de um Salvador? Você sente que você precisa
de um Salvador? Você está, nesta manhã, consciente de pecado? O Espírito Santo te
ensinou que você está perdido? Então, Cristo morreu por você e você será salvo! Nesta
manhã, você está consciente de que não tem esperança no mundo, mas somente em Cristo?
Você sente que por si mesmo não pode oferecer uma expiação que satisfaça a justiça de
Deus? Você desistiu de toda confiança em si mesmo? E você pode dizer sobre seus joelhos:
“Senhor, salva-me, ou pereço”? Cristo morreu por você!

Se você está dizendo nesta manhã: “Eu sou tão bom quanto deveria ser. Eu posso
chegar ao Céu por minhas próprias boas obras”, então, lembre-se da Escritura que diz de
Jesus: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento” [Lucas
5:32]. Enquanto você estiver nesse estado eu não tenho expiação a pregar para você! Mas
se nesta manhã você se sentir culpado, miserável, consciente de sua culpa e está disposto
a ter a Cristo como seu único Salvador, eu posso não somente dizer-lhe que você pode ser
salvo, mas o que é melhor ainda, que você será salvo! Quando você estiver despojado de
tudo, apenas espere em Cristo. Quando você estiver preparado para vir de mãos vazias e
ter a Cristo como o seu tudo e você mesmo como nada, então você pode olhar para Cristo e
dizer: “Tu querido, Tu ensanguentado Cordeiro de Deus! Suas dores foram suportadas por
mim. Por Tuas pisaduras eu sou sarado e por Teus sofrimentos eu sou perdoado”. E depois
veja que paz de espírito tu terás, pois, se Cristo morreu por ti, tu não serás perdido! Deus
não punirá duas vezes por uma coisa.

Se Deus puniu a Cristo pelo seu pecado, Ele nunca punirá você. “A justiça de Deus não
pode exigir duas vezes o pagamento; primeiro da mão do Fiador ensanguentado, e depois
novamente da minha”. Podemos, hoje, se cremos em Cristo, ir até o trono de Deus, ficar ali,
e se for dito: “Você é culpado?”. Podemos dizer: “Sim, culpado”. Mas, se outra pergunta for
feita: “O que você tem a dizer para que não seja punido por sua culpa?”. Podemos responder:
“Grande Deus, tanto a Sua Justiça e Seu amor são as nossas garantias que não me punirás
pelo pecado. Pois, Tu não puniste a Cristo pelo nosso pecado? Como Tu podes, então, ser
justo, como Tu podes ser Deus, se puniste a Cristo, o Substituto, e depois punisses os
próprios homens?”.

Sua única pergunta é: “Cristo morreu por mim?”. E a única resposta que podemos dar
é: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo,
para salvar os pecadores”. Você pode escrever seu nome entre os pecadores? Não entre os

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pecadores impenitentes, mas entre aqueles que sentem isso, que lamentam, se entristecem
e buscam a misericórdia por causa disso? Você é um pecador? Após haver sentido,
conhecido e professado isso, você agora é convocado a crer que Jesus Cristo morreu por
você, porque você é um pecador, você está ordenado a lançar-se sobre esta grande Rocha
inamovível e encontrar segurança eterna no Senhor Jesus Cristo!

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4
Chamado Eficaz ou Graça Irresistível
(I de TULIP — Irresistible Grace)

Sermão Nº 73. Um sermão pregado na Manhã do Dia do Senhor, 6 de abril de 1856.


Por C H. Spurgeon, em New Park Street Chapel, Southwark.

“E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu,
desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa” (Lucas 19:5)

Não obstante a nossa firme convicção de que a maioria de vocês está bem instruída
nas doutrinas do Evangelho eterno, somos constantemente lembrados em nossa conversa
com jovens convertidos quão absolutamente necessário é repetir nossas lições anteriores e
repetidamente afirmar e provar mais e de novo as doutrinas que são o fundamento da nossa
santa religião. Os nossos amigos, portanto, a que há muitos anos a grande doutrina do
chamado eficaz foi ensinada, crerão que enquanto eu prego de modo muito simples nesta
manhã, o sermão é destinado para aqueles que são jovens no temor do Senhor, para que
eles possam melhor e de coração compreender este excelente ponto de partida, o chamado
eficaz de homens pelo Espírito Santo.

Usarei o caso de Zaqueu como uma grande ilustração da doutrina do chamado eficaz.
Vocês se lembram da história. Zaqueu tinha curiosidade de ver o maravilhoso homem, Jesus
Cristo, que estava virando o mundo de cabeça para baixo e causando uma imensa comoção
na mente dos homens. Nós, por vezes, encontramos falha na curiosidade e dizemos que é
pecaminoso vir à casa de Deus por este motivo. Eu não tenho certeza que devemos nos
ariscar a fazer tal afirmação. O motivo não é pecaminoso, embora certamente não seja
virtuoso; no entanto, tem sido muitas vezes provado que a curiosidade é um dos melhores
aliados de graça. Zaqueu, movido por esse motivo, desejava ver Cristo, mas havia dois

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obstáculos no caminho: primeiro, havia uma multidão de pessoas de modo que ele não
conseguiria chegar perto do Salvador; em segundo lugar, ele era tão excessivamente baixo
que não havia esperança por olhar por cima das cabeças das pessoas de modo a ter um
vislumbre dEle.

O que ele fez? Ele fez o que os meninos estavam fazendo — pois, os meninos dos
tempos antigos eram, sem dúvida, assim como os meninos contemporâneos — eles haviam
subido em galhos de árvore para ver Jesus enquanto Ele passava. Embora sendo velho,
Zaqueu sobe e ali se senta entre as crianças. Os meninos ficam com muito medo do severo
e velho publicano que os seus pais temiam, para empurrá-lo para baixo ou causar-lhe
qualquer inconveniente. Olhem para ele ali. Com que ansiedade ele está olhando para baixo,
para ver quem é o Cristo, pois o Salvador não tinha nenhuma distinção pomposa. Ninguém
está andando diante dEle com um cetro de prata. Ele não trazia um bastão dourado na mão,
Ele não tinha vestido pontifício. Na verdade, Ele estava apenas vestido como aqueles ao seu
redor. Ele tinha uma capa como a de um camponês comum, feita de uma só peça de alto a
baixo. Zaqueu mal conseguia distingui-lO. No entanto, antes que ele tivesse uma visão de
Cristo, Cristo fixou Seus olhos sobre ele e estando de pé debaixo da árvore, Ele olha para
cima e diz: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”. Zaqueu
desce. Cristo vai para sua casa. Zaqueu se torna seguidor de Cristo e entra no reino dos
céus.

1. Agora, em primeiro lugar, o chamado eficaz é uma verdade Divina muito graciosa.
Você pode imaginar isso a partir do fato de que Zaqueu era uma pessoa a quem suporíamos
ser o último a ser salvo. Ele pertencia a uma má cidade, Jericó, uma cidade que tinha sido
amaldiçoada e ninguém suspeitaria que alguém que viesse de Jericó seria salvo. Foi perto
de Jericó que o homem caiu entre ladrões — nós confiamos que Zaqueu não teve
participação nisso — mas há alguns que, enquanto eles são publicanos, podem ser ladrões
também. Nós também podemos esperar convertidos de St. Giles, ou das partes mais baixas
de Londres, dos piores e mais vis antros de infâmia, como a partir de Jericó naqueles dias.
Ah, meus irmãos, não importa de onde vocês veem, podem vir de uma das ruas mais sujas,
uma das piores favelas de Londres, se graça eficaz vos chama, é um chamado eficaz, que
não faz distinção de lugar. Zaqueu tinha também um péssimo modo de tratar com as pessoas
e provavelmente as enganava a fim de enriquecer a si mesmo. Na verdade, quando Cristo
entrou em sua casa, havia um murmúrio universal que Ele se hospedaria com um homem
que era um pecador. Mas, meus irmãos, a graça não conhece distinção. A graça não faz

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acepção de pessoas. Deus chama quem Ele quer e Ele chamou aquele que era pior dentre
os publicanos, na pior das cidades, o pior dos homens de negócios. Além disso, Zaqueu era
um dos menos prováveis de serem salvos porque ele era rico. É verdade, ricos e pobres são
bem-vindos, ninguém tem a menor desculpa para desespero por causa de sua condição,
mas é um fato que “não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos”,
os que são chamados, “porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem
ricos na fé” [1 Coríntios 1:26; Tiago 2:5].

Porém, mesmo aqui a graça não conhece distinção. O rico Zaqueu é chamado desde
a árvore. Ele desce e é salvo. Eu pensei ser um dos maiores exemplos da condescendência
de Deus, que Ele olhasse para baixo, para o homem. Mas, vou dizer-lhe que houve uma
condescendência maior do que esta, quando Cristo olhou para cima, para ver Zaqueu. Deus
olhar para baixo sobre as Suas criaturas é misericórdia, mas Cristo se humilhar, de modo
que Ele olhe para cima, para uma das Suas próprias criaturas, isso é misericórdia, de fato!
Ah, muitos de vocês que já subiram na árvore de suas próprias boas obras e se penduraram
nos ramos de suas santas ações e estão confiando no livre-arbítrio da pobre criatura, ou
descansando em alguma ideia mundana. No entanto, Cristo olha para cima até mesmo para
os pecadores orgulhosos e chama-os para baixo. “Desce”, diz ele, “hoje me convém pousar
em tua casa”. Se Zaqueu fosse um homem humilde de espírito, sentado à beira do caminho,
ou aos pés de Cristo, então admiraríamos a misericórdia de Cristo. Mas aqui ele está
exaltado e Cristo olha para ele e manda-o descer.

2. Esse também foi um chamado pessoal. Havia meninos na árvore, bem como Zaqueu,
mas não havia nenhum engano em relação á pessoa que foi chamada. Foi, “Zaqueu, desce
depressa”. Existem outros chamados mencionados nas Escrituras. Diz-se, especialmente:
“Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”. Agora, é o chamado eficaz que é
intencionado pelo Apóstolo quando disse: “aos que chamou, a estes também justificou”
[Romanos 8:30]. Há um chamado geral que muitos homens, sim, todos os homens rejeitam,
a menos que depois haja um chamado pessoal, em particular, que nos faz Cristãos. Vocês
serão minhas testemunhas que foi um chamado pessoal que lhes trouxe ao Salvador. Foi
algum sermão que levou vocês a sentirem que eram, sem dúvida, as pessoas intencionadas.

O texto, talvez, fosse: “Tu és Deus que me vê” [Gênesis 16:13]. E, talvez, o ministro
insistiu particularmente sobre a palavra “me”, de modo que pensaram que os olhos de Deus
estavam fixados sobre vocês. E antes da conclusão do sermão, vocês imaginaram Deus
abrindo os livros para condená-los e vosso coração sussurrou: “Esconder-se-ia alguém em

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esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor” [Jeremias 23:24]. Vocês poderiam
estar pendurados na janela, ou estar no corredor lotado, mas vocês tinham uma convicção
solene de que o sermão fora pregado para vocês e não para outras pessoas. Deus não
chama o Seu povo em multidão, mas em unidades.

“Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni, que quer dizer: Mestre”
[João 20:16]. Jesus vê Pedro e João pescando à beira do lago e diz-lhes: “Sigam-Me”. Ele
vê Mateus, sentado à mesa na recebedoria, e diz-lhe: “Levanta-te e segue-Me”, e Mateus o
seguiu. Quando o Espírito Santo vem a um homem, a seta de Deus entra em seu coração,
ela não arranha o seu capacete, ou faz alguma um pequeno dano na armadura, ela penetra
entre os espaços da armadura, entrando na medula da alma. Vocês já sentiram, queridos
amigos, este chamado pessoal? Vocês se lembram quando uma voz disse: “Levanta-te, Ele
te chama”. Vocês podem olhar para trás quando disseram: “Meu Senhor, meu Deus”, quando
sabiam que o Espírito estava lutando com vocês e disseram: “Senhor, eu venho a Ti, pois eu
sei que Tu me chamas”? Eu poderia chamar todos vocês por toda a eternidade, mas se Deus
chamar alguém, haverá mais efeito através de Seu chamado pessoal do que de meu apelo
geral às multidões.

3. Em terceiro lugar, é um chamado vivificante. “Zaqueu... depressa”. O pecador,


quando ele é chamado pelo ministério ordinário, responde: “Amanhã”. Ele ouve um sermão
notável e ele diz: “Eu me converterei a Deus aos poucos”. As lágrimas rolam pelo seu rosto,
mas elas são enxugadas. Alguma bondade aparece, mas como a nuvem da manhã, é
dissipada pelo sol da tentação. Ele diz: “Eu solenemente prometo a partir deste momento
reformar minha vida. Depois que mais uma vez eu consentir com meu pecado favorito,
renunciarei os meus desejos e me decidirei por Deus”. Ah, isso é apenas o chamado de um
ministro e não serve para nada. O Inferno, dizem, está cheio de boas intenções. Estas boas
intenções são geradas por chamados gerais.

A estrada para a perdição é colocada sobre ramos de árvores onde os homens estão
sentados, pois muitas vezes eles abaixam os ramos das árvores, mas eles mesmos não
descem. A palha colocada diante da porta de um homem doente faz com que as rodas dos
transportes que passam na rua façam menos barulho. Assim, há alguns que espalham
promessas no caminho do arrependimento e assim, descem mais facilmente e sem fazer
barulho, rumo à perdição. Mas o chamado de Deus não é um chamado para amanhã. “Hoje,
se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação” [Hebreus
3:15]. A graça de Deus sempre vem com urgência, e se você for atraído por Deus, correrá

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para Deus e não estará falando sobre adiamentos. O amanhã não está escrito no almanaque
de tempo.

O amanhã está no calendário de Satanás e em nenhum outro lugar. Amanhã é uma


pedra esbranquiçada pelos ossos dos marinheiros que foram destruídos sobre ela. Amanhã
é a luz do guincho brilhando no litoral, atraindo pobres navios à destruição. Amanhã é o
cálice do idiota que fica no sopé do arco-íris, mas que ninguém jamais encontrou. Amanhã é
a ilha flutuante de Loch Lomond, que ninguém jamais viu. Amanhã é um sonho. Amanhã é
uma ilusão. Amanhã, sim, amanhã você pode levantar seus olhos no Inferno, estando em
tormentos. O relógio acolá diz “hoje”. Seus sussurros pulsam “hoje”. Eu ouço meu coração
falar enquanto bate, e ele diz, “hoje”. Tudo grita “hoje”. E o Espírito Santo está em união com
essas coisas e diz: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”.
Pecadores, vocês estão inclinados agora para buscar o Salvador? Vocês estão suspirando
uma oração agora? Vocês estão dizendo: “Agora ou nunca! Eu devo ser salvo agora”? Se
estiver, então, espero que seja um chamado eficaz, pois Cristo, quando faz um chamado
eficaz, diz: “Zaqueu, depressa”.

4. Outrossim, é um chamado humilhante. “Zaqueu, desce depressa”. Muitas vezes um


ministro chamou os homens ao arrependimento com um chamado que os tornou orgulhosos,
exaltou-os em sua própria estima e levou-os a dizer: “Eu posso voltar para Deus quando eu
quiser. Eu posso fazê-lo sem a influência do Espírito Santo”. Eles foram chamados a subir e
não a descer.

Deus sempre humilha um pecador. Será que não me lembro quando Deus me disse
para descer? Um dos primeiros passos que eu tive que dar foi descer de minhas boas obras.
E oh, que queda foi aquela! Então eu fiquei em pé sobre a minha própria autossuficiência e
Cristo disse: “Desce! Eu derrubei as suas boas obras e agora terei que derrubar a sua
autossuficiência”. Bem, eu cai novamente e eu tinha certeza de que eu havia ido ao chão,
mas Cristo disse: “Desce!”. E Ele me fez descer até algum ponto em que senti que não era
salvável. “Desça, senhor! Desça, mais”. E eu desci, até que eu tive que tornar cada ramo da
árvore das minhas esperanças em desespero. Então, eu disse: “Não posso fazer nada. Eu
estou perdido”. As águas estavam passando em volta da minha cabeça e estava sem a luz
do dia e me encontrei ser estranho à comunidade de Israel.

“Desça ainda mais baixo, senhor! Você é muito orgulhoso para ser salvo”. Então, eu fui
trazido para baixo para ver minha corrupção, minha maldade, minha imundícia. “Desce”, diz

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Deus, quando Ele quer salvar. Agora, pecadores orgulhosos, não é de nenhuma utilidade
que vocês se orgulhem, que subam em árvores, pois Cristo trará vocês para baixo. Oh, vocês
que habitam com a águia na rocha escarpada, vocês descerão de sua exaltação, vocês
descerão pela graça ou vocês descerão pela vingança, um dia. Ele “depôs dos tronos os
poderosos, E elevou os humildes” [Lucas1:52].

5. Em seguida, é um chamado afetuoso. “Hoje me convém pousar em tua casa”. Vocês


podem facilmente imaginar como os rostos na multidão mudaram! Eles pensaram que Cristo
era o mais santo e melhor dos homens e estavam prontos para fazê-lo rei. Mas Ele diz: “Hoje
me convém pousar em tua casa”. Houve um pobre judeu que esteve na casa de Zaqueu, ele
esteve “no tapete”, como dizem nas aldeias do país quando alguém é lavado diante da
justiça, e ele recordou que tipo de casa era. Ele se lembrou de como ele foi levado para lá e
suas concepções dela era algo como as que uma mosca teria sobre a teia de aranha depois
de já ter escapado de lá uma vez.

Houve outro que teve quase todos os seus bens levados; a ideia que ele tinha de andar
até lá era como entrar em uma cova de leões. “O quê?”, eles disseram, “este homem santo
entrará em tal cova como esta, onde nós, pobres coitados fomos roubados e maltratados?
Já era ruim o suficiente Cristo falar com ele em cima da árvore, mas a ideia de ir para a sua
casa!”. Eles todos murmuravam sobre Ele ser “um convidado de um homem que era um
pecador”. Bem, eu sei que alguns de Seus discípulos pensaram que isso era muito
imprudente, que poderia ferir o Seu caráter e que Ele poderia ofender as pessoas. Eles
pensaram que ele poderia ir ver este homem durante a noite, como Nicodemos, e dar-lhe
uma audiência quando ninguém o visse! Reconhecer tal homem publicamente era o ato mais
imprudente Ele poderia cometer.

Por que Cristo agiu assim? Porque Ele daria a Zaqueu um chamado afetuoso. “Eu não
entrarei e ficarei na sua porta ou olharei de sua janela, mas entrarei em sua casa, a mesma
onde os gritos das viúvas têm chegado aos seus ouvidos e você os têm ignorado. Entrarei
na sua sala, onde o choro dos órfãos nunca o levou a ter compaixão. Irei lá, onde, como um
leão voraz você tem devorado a sua presa. Irei lá, onde você maculou a sua casa e a tornou
infame. Eu irei para o lugar onde clamores subiram aos céus, vindo dos lábios daqueles a
quem você oprimiu.

“Entrarei em sua casa e lhe darei uma bênção”. Oh, que afeição houve nisso! Pobre
pecador, meu mestre é muito afetuoso. Ele entrará em sua casa. Que tipo de casa você tem?

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Uma casa que você tornou infeliz com a sua embriaguez, uma casa que você contaminou
com a sua impureza, uma casa que você maculou com a sua maldição e blasfêmia, uma
casa onde você está realizando um comércio ilegal do qual você ficaria feliz em se livrar?
Cristo diz: “Eu entrarei em sua casa”. E eu conheço algumas casas nas quais agora Cristo
vem todas as manhãs, as quais antes eram antros de pecado. Marido e mulher que antes só
conseguiam brigar e lutar, dobram seus joelhos em oração. Cristo vai até lá na hora do jantar,
quando o trabalhador chega em casa para as suas refeições. Alguns dos meus ouvintes
malmente podem ter uma hora para as suas refeições, mas eles têm palavras de oração e a
leitura das Escrituras. Cristo vem até eles. Onde as paredes eram cobertas com canções
lascivas e imagens vãs, há um almanaque Cristão em um só lugar. Há uma Bíblia sobre a
cômoda, e, embora seja apenas um quarto em que vivem, se um anjo entrasse e Deus
dissesse: “O que você viu naquela casa?”, “Vi bons móveis, pois há uma Bíblia lá; aqui e ali
um livro religioso; as imagens sujas foram jogadas fora e queimadas. Não há cartas no
armário do homem agora. Cristo entrou em sua casa”. Oh, que bênção termos o nosso Deus
em casa, assim como alegavam os romanos! Nosso Deus é um Deus do lar. Ele vem viver
com o Seu povo! Ele ama as tendas de Jacó.

Agora, pobres pecadores maltrapilhos, vocês que vivem no antro imundo em Londres,
se tais pessoas estão aqui, Jesus diz a vocês: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me
convém pousar em tua casa”.

6. Novamente, este não era apenas um chamado afetuoso, mas foi um chamado
permanente. “Hoje me convém pousar em tua casa”. Um chamado comum é assim: “Hoje eu
entrarei em sua casa por uma porta e sairei pela outra”. O chamado comum que é dado pelo
Evangelho a todos os homens é um chamado que opera sobre eles por um tempo e depois
está tudo acabado, mas o chamado salvífico é um chamado permanente. Quando Cristo fala,
Ele não diz: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém ver a tua casa”. Não. Ele diz:
“me convém pousar em tua casa. Estou indo sentar-me para comer e beber contigo. Estou
indo ter uma refeição contigo. Hoje me convém pousar em tua casa”.

“Ah”, diz alguém, “você não pode dizer quantas vezes eu fiquei impressionado, senhor.
Muitas vezes tive uma série de solenes convicções e eu pensei que realmente era salvo,
mas tudo desvaneceu, como um sonho. Quando alguém acorda, tudo com o que ele sonhou,
desapareceu. Assim foi comigo”. Mas, ah, pobre alma, não se desespere. Você sente os
esforços da graça toda-poderosa dentro do seu coração ordenando que você se arrependa
hoje? Se for assim, será um chamado permanente. Se Jesus está operando em sua alma,

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Ele virá e ficará no seu coração e o consagrará para a Si mesmo para sempre. Ele diz: “Eu
irei, e habitarei com você e o farei para sempre. Eu chegarei e direi:

‘Aqui Eu farei o meu descanso permanente,


Não mais sairei,
Não mais serei um estranho ou um convidado,
Mas o Mestre desta casa.’”

“Oh”, você diz, “é isso o que eu quero. Eu quero um chamado permanente, algo que
durará. Eu não quero uma religião passageira, mas uma religião permanente”. Bem, esse é
o tipo de chamado que Cristo faz. Seus ministros não podem fazê-lo, mas quando Cristo fala,
Ele fala com poder e diz: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua
casa”.

7. Há uma coisa, porém, que eu não posso esquecer, a saber, que esse era um
chamado necessário. Basta lê-lo outra vez: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me
convém pousar em tua casa”. Não era uma coisa que Ele poderia fazer ou não, este era um
chamado necessário. A salvação de um pecador é tanto uma questão de necessidade em
relação a Deus, quanto o cumprimento de Seu Pacto que a chuva não mais inundaria o
mundo. A salvação de cada filho comprado pelo sangue de Deus é uma coisa necessária
por três razões: É necessária porque é o propósito de Deus. É necessária porque é a compra
de Cristo e é necessária porque é a promessa de Deus. É necessário que o filho de Deus
seja recolhido. Alguns teólogos acham que é muito errado colocar uma ênfase na palavra
“deve”, especialmente na passagem onde se diz: “E era-lhe necessário passar por Samaria”.
“Ora”, eles dizem, “Ele precisou passar por Samaria, porque não havia outra maneira que
Ele pudesse ir e, portanto, Ele foi forçado a seguir por esse caminho”. Sim, senhores, nós
respondemos, sem dúvida. Mas, então não poderia ter havido outra maneira. A providência
fez com que Ele devesse passar por Samaria e que Samaria devesse estar na rota que Ele
escolhera.

“Era-Lhe necessário passar por Samaria”. A providência fez com que o homem
construísse Samaria diretamente na estrada e a graça compeliu o Salvador a dirigir-Se
naquela direção. Não foi dito: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje posso pousar em tua
casa”, mas “me convém”. O Salvador sentiu uma necessidade forte. Isso era tão
verdadeiramente necessário quanto o fato de que o sol deve dar-nos luz durante o dia e a

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lua de noite; há exatamente tanta necessidade que cada filho comprado pelo sangue de
Deus seja salvo.

“Hoje me convém pousar em tua casa”. E oh, quando o Senhor diz isso — que Lhe
convém — então, Ele irá. O que disse, então, o pobre pecador, em outras vezes que nós o
chamamos: “Devo deixá-lO entrar, afinal? Há um estranho na porta. Ele está batendo agora,
Ele já havia batido antes, eu devo deixá-lO entrar?”. Mas desta vez é: “me convém pousar
em tua casa?”. Não houve bater na porta, mas a porta foi desintegrada em átomos! E para
dentro Ele andou — Eu devo, irei, quero ir — Eu não Me preocupo em proteger a sua vileza,
a sua incredulidade. Eu devo, Eu vou, Me convém pousar em tua casa”. “Ah”, diz alguém,
“eu não acredito que Deus alguma vez me fará crer no que você acredita, ou me tornará um
Cristão em absoluto”. Ah, mas se Ele apenas disser: “Hoje me convém pousar em tua casa”,
não haverá resistência em você. Há alguns Metodistas entres vocês que desprezam a própria
ideia de ser um hipócrita; “O que, senhor? Você acha que eu alguma vez me transformaria
em um de seus religiosos”. Não, meu amigo, eu não acho isso; eu tenho certeza. Se Deus
diz “Me convém”, não há nenhuma oposição contra isso. Que Ele diga “deve”, e isso será
feito

Vou apenas contar-lhe uma anedota provando isso. “Um pai estava prestes a enviar
seu filho para a faculdade, mas como ele conhecia a influência a qual ele estaria exposto,
ele estava com uma profunda solicitude e preocupado com bem-estar espiritual e eterno de
seu filho querido. Temendo que os princípios da fé Cristã que ele tinha se esforçado para
incutir em sua mente fossem rudemente removidos, mas confiando na eficácia da Palavra,
que é viva e eficaz, ele comprou, sem que o seu filho soubesse, uma bela cópia da Bíblia e
a depositou no fundo da mala. O jovem começou a sua carreira universitária. As restrições
de uma educação piedosa logo foram quebradas e ele passou da especulação para a
dúvidas e das dúvidas a uma negação da realidade da religião. Depois de ter ficado, em sua
própria estima, mais sábio do que seu pai, ele descobriu um dia, enquanto vasculhava a sua
mala, com grande surpresa e indignação o depósito sagrado. Tirou-o e enquanto deliberava
sobre o que faria com a Bíblia, determinou que a usaria como papel para limpar a máquina
de barbear durante o barbear-se. Assim, cada vez que ele fazia barba, ele arrancava uma
folha ou duas do Livro Santo e, assim, usou-o até que quase a metade do volume foi
destruído.

Mas enquanto ele estava cometendo este ultraje com o Livro Sagrado, um texto num
momento e depois, alcançou o seu olho e foi como uma flecha aguda ao seu coração. Por
fim, ele ouviu um sermão, que desvelou a ele a sua própria condição e sua exposição à ira

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de Deus. Ele voltou o seu pensamento para a impressão que ele havia recebido da última
folha rasgada do volume bendito, ainda que insultado. Se mundos estivessem à sua
disposição, ele livremente abriria mão deles, se isso o ajudasse a desfazer o que tinha feito.
Finalmente, ele encontrou perdão aos pés da Cruz. As folhas rasgadas daquele santo volume
trouxeram cura para sua alma, pois o fizeram repousar na misericórdia de Deus, que é
suficiente para o principal dos pecadores.

Digo-vos que não há um réprobo andando pelas ruas e contaminando o ar com suas
blasfêmias; não há uma criatura perdida, de modo a ser quase tão maligna quanto o próprio
Satanás, a qual não está ao alcance da misericórdia — se ele é um filho da vida — se Deus
lhe diz: “Hoje me convém pousar em tua casa”, então Ele certamente o fará.

Agora você sente, meu caro ouvinte, algo em sua mente que parece dizer que você se
posicionou contra o Evangelho por longo tempo, mas hoje você não consegue mais manter-
se afastado? Você sente que uma mão forte o tem segurado e você ouve uma voz dizendo:
“Pecador, Me convém pousar em tua casa. Você muitas vezes desprezou a Mim, muitas
vezes riu de Mim, você muitas vezes cuspiu no rosto da misericórdia, muitas vezes Me
blasfemou, mas pecador, Me convém pousar em tua casa. Ontem, você bateu a porta na
cara do missionário. Você queimou o folheto, você riu do ministro, amaldiçoou a casa de
Deus, você profanou o Sabath, mas pecador, Me convém pousar em tua casa, e Eu
pousarei”?

“O quê? Senhor”, você diz, “pousar em minha casa! Ora, ela está cheia de iniquidade.
Pousar em minha casa! Ora, não há uma cadeira ou uma mesa, senão as que clamarão
contra mim. Pousar em minha casa!? Ora, todas as vigas e pisos se levantariam e diriam
que eu não sou digno de beijar a orla de Tua veste. O que? O Senhor, pousar, em minha
casa!?”, “Sim”, diz Ele, “Me convém. Há uma necessidade forte, Meu amor poderoso me
constrange e se você me deixará ou não, estou determinado a fazer com que você esteja
disposto e você deve Me deixar entrar”.

Isso não te surpreende, pobre temeroso, você que pensava que o dia da graça havia
desaparecido e que o sino de sua destruição havia anunciado o seu enterro? Oh, não
surpreende você que Cristo não só pede-lhe para vir a Ele, mas convida a Si Mesmo para a
sua mesa, e ainda mais, quando você gostaria de afastá-lO, Ele gentilmente diz: “Me convém
entrar”? Apenas imagine Cristo indo atrás de um pecador, pleiteando, chamando-o para que
Ele o salve; e isso é exatamente o que Jesus faz com os Seus escolhidos.

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O pecador foge dEle, mas a livre graça o persegue e diz: “Pecador, venha a Cristo”. E
se nossos corações estão fechados, Cristo põe a mão pela porta e se não o abrirmos, mas
apenas o repelirmos friamente, Ele diz: “Me convém entrar”. Ele chora por nós até que as
Suas lágrimas nos conquistam. Ele clama por nós até que os Seus gritos prevaleçam, e
finalmente, em Sua própria hora bem determinada, Ele entra em nosso coração e ali habita.
“Me convém pousar em tua casa”, disse Jesus.

8. E agora, por fim, este chamado foi eficaz, pois vemos os seus frutos. A porta de
Zaqueu foi aberta, a sua mesa colocada, o seu coração foi generoso, a sua consciência foi
aliviada, alegre ficou a sua alma. “Senhor”, ele diz, “eis que eu dou aos pobres metade dos
meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” [Lucas
19:8]. Assim se foi uma parte de seus bens. Ah, Zaqueu, você irá para a cama hoje à noite
bem mais pobre do que quando se levantou nesta manhã, porém infinitamente mais rico
também!

Pobre, muito pobre, em bens deste mundo, em comparação com o que você era quando
você subiu aquela figueira. Porém, mais rico, infinitamente mais rico em tesouro celeste.
Pecador, saberemos se Deus o chamou por isso: Se Ele chamou, este será um chamado
eficaz, não um chamado que você ouve e depois esquece, mas um que produz boas obras.
Se Deus o chamou nesta manhã, esse copo de embriaguez será abaixado, erguidas serão
as orações. Se Deus o chamou nesta manhã, não haverá uma persiana abaixada em sua
loja, mas todas, e você terá posto um aviso: “Esta loja está fechada no Sabath e não mais
será aberta neste dia”.

Amanhã haverá tais e tais divertimentos mundanos, mas se Deus o chamou, você não
irá. E se você tiver roubado alguém (e quem sabe pode haver um ladrão aqui), se Deus o
chamar, haverá uma restauração do que você roubou, você desistirá de tudo o que você tem,
de modo que você seguirá a Deus com todo seu coração. Nós não acreditamos que um
homem seja convertido a menos que ele renuncie ao erro de seus caminhos, a menos que,
na prática, ele seja levado a conhecer que o próprio Cristo é o Mestre de sua consciência e
que a Sua lei é o seu prazer.

“Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”. E, ele
apressou-se e desceu e recebeu Jesus com alegria. “E, levantando-se Zaqueu, disse ao
Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa
tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação

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a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e
salvar o que se havia perdido” [Lucas 19:8-10].

Agora, uma ou duas lições. A lição para os soberbos. Desce, coração orgulhoso, desce!
A misericórdia corre nos vales, mas não vai ao topo da montanha. Desce, desce, espírito
exaltado! A cidade elevada, Ele a rebaixa até ao chão e depois a edifica. Há também uma
lição para a pobre alma desesperada: eu estou contente de vê-la na casa de Deus, nesta
manhã; é um bom sinal. Não me importa o motivo pelo qual você veio. Talvez, você soube
que havia um estranho tipo de homem que pregava aqui. Não se preocupe com isso. Você
é tão estranho quanto ele é. É necessário que haja homens estranhos para se reunirem com
outros homens estranhos.

Ora, eu tenho muitas pessoas aqui. E se eu pudesse usar uma figura, eu deveria
compará-los a um grande montão de cinzas, misturado com um pouco de pó de ferro. Agora,
meu sermão, se for ajudado com graça Divina, será uma espécie de ímã, não atrairá qualquer
partícula de pó das cinzas, elas permanecerão exatamente onde estão; mas atrairá o pó de
ferro. Tenho um Zaqueu ali. Há uma Maria lá em cima. Um João lá em baixo, uma Sara, ou
um William, ou Tomé ali — os escolhidos de Deus — eles são pó de ferro na congregação
de cinzas e meu Evangelho, o Evangelho do Deus bendito, como um grande ímã, os atrai
para fora do montão.

Ali vêm eles. Por quê? Porque houve uma força magnética entre o Evangelho e os seus
corações. Ah, pobre pecador, venha a Jesus, creia em Seu amor, confie em Sua
misericórdia. Se você tem o desejo de vir, se você está forçando o seu caminho em meio às
cinzas para chegar a Cristo, então é porque Cristo está chamando você. Oh, todos vocês
que se reconhecem como pecadores — cada homem, mulher e criança dentre vocês — sim,
vocês pequenas crianças (pois, Deus me deu alguns de vocês para que sejam o meu
galardão), vocês se sentem pecadores?

Então, creiam em Jesus e sejam salvos. Muitos de vocês vieram aqui por curiosidade.
Oh, que vocês possam ser encontrados e salvos. Angustiado estou por vocês, para que não
afundem no Inferno. Oh, ouçam a Cristo, enquanto Ele fala com vocês. Cristo diz: “Desce”.
Nesta manhã, vão para casa e humilhem-se diante de Deus. Vão e confessem as suas
iniquidades, que pecaram contra Ele. Vão para casa e digam a Ele que vocês estão
desgraçados, arruinados sem a Sua graça soberana. Depois, olhem para Ele, com a certeza
de que Ele olhou primeiro para vocês. Vocês dizem: “Senhor, oh, eu estou disposto suficiente
a ser salvo, mas estou com medo que Ele não esteja disposto”.

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Parem! Parem! Não falem mais disso! Vocês sabem que isso é, em parte, uma
blasfêmia? Não como um todo. Se vocês não fossem ignorantes, eu lhes diria que era uma
blasfêmia completa. Vocês não podem olhar para Cristo antes que Ele tenha olhado para
vocês. Se vocês estão dispostos a serem salvos, Ele vos concedeu essa vontade. Creia no
Senhor Jesus Cristo e seja batizado e você será salvo. Espero que o Espírito Santo esteja
chamando você.

Jovem lá em cima, jovem na janela, desça depressa! Homem velho, sentado nestes
bancos, desça! Comerciante no corredor, se apresse. A Idosa e a jovem, que não conhecem
a Cristo, oh, que Ele olhe para vocês! Velha avó, ouça o chamado gracioso. E você, jovem
rapaz, Cristo pode estar olhando para você; eu confio que Ele está, e diz-lhe: “desce
depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa”.

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5
Perseverança dos Santos
(P de TULIP — Perseverance of the Saints)

Sermão Nº 872. Um sermão pregado na manhã do Dia do Senhor, 23 de maio de 1869.


Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo.” (Filipenses 1:6)

Os perigos que acompanham a vida espiritual são do tipo mais terrível; a vida de um
Cristão é uma sequência de milagres. Veja uma faísca permanecer no meio do oceano, veja
uma pedra pendurada no ar, veja a saúde florescer em uma colônia de leprosos e o cisne
branco em os rios sujos, e você vê um retrato da vida Cristã. A nova natureza é mantida viva
entre as garras da morte, conservada pelo poder Divino contra a destruição instantânea, pois
não poderia continuar por meio de nenhum poder menor do que o Divino. Quando o Cristão
instruído olha em seu redor, ele se vê como uma pomba indefesa voando para o seu ninho,
enquanto contra ela dezenas de milhares de flechas são atiradas. A vida Cristã é como o
voo frenético daquela pomba, enquanto segue em seu caminho entre as flechas mortais do
inimigo e, por um milagre permanente, escapa ilesa. O Cristão iluminado vê a si mesmo
como sendo um viajante de pé no caminho estreito de um cume elevado, à direita e à
esquerda há abismos insondáveis que podem destruí-lo; se não fosse pela graça Divina —
que faz seus pés como os pés da corça, de modo que ele é capaz de saltar sobre os montes
— ele teria muito antes caído para a sua perdição eterna. Infelizmente, meus irmãos e irmãs,
temos visto muitos professos da religião caírem assim!

É o grande e permanente sofrimento da igreja Cristã que muitos no meio dela se tornam
apóstatas; é verdade que eles não pertencem verdadeiramente a ela, mas antes não era
possível saber disso. Não poucas de suas estrelas mais brilhantes foram engolidas pela

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noite. Aqueles que pareciam mui prováveis de serem árvores frutíferas na vinha de Cristo
acabaram por ser obstáculos no solo ou como árvores venenosas, pingando veneno em
torno de si mesmas. O jovem Cristão, portanto, se ele é observador, teme após afivelar o
seu cinto em meio às felicitações de amigos, ele pode retornar da batalha vergonhosamente
derrotado. Ele não se orgulha porque, como um cavaleiro galante, ele coloca seu cinto
reluzente, mas enquanto ele afivela seu capacete e toma a sua espada, ele teme voltar para
o acampamento com seu escudo danificado e seu elmo arrastado no pó. Para tal pessoa
consciente dos perigos espirituais e com receio de que não seja derrotado por eles, a
doutrina do texto produzirá um grande e valioso encorajamento. Se formos ajudados a expor
a doutrina da perseverança final dos santos, de modo a recomendar esta verdade de Deus
aos seus entendimentos e confirmá-la em suas almas, teremos o maior prazer no coração,
porque a verdade fará vocês felizes, fortes e gratos!

Sem mais prefácio, vamos expor as palavras do apóstolo, a fim de mostrar


detalhadamente a razão de sua confiança; depois, em segundo lugar, apoiaremos essa
confiança por novos argumentos; e, em seguida, em terceiro lugar, procuraremos extrair
determinadas aplicações excelentes a partir da doutrina que o texto indubitavelmente ensina.

I. Primeiro, vamos expor as próprias palavras do apóstolo.

Ele fala sobre uma boa obra iniciada em “todos os santos em Cristo Jesus que estão
em Filipos”. Com isso, ele intenciona a obra da graça Divina na alma, que é a operação do
Espírito Santo. Esta é eminentemente uma boa obra, uma vez que nada opera senão o bem
no coração que é o sujeito da mesma. Trazer um homem da escuridão para a luz é bom;
livrá-lo da escravidão da sua corrupção natural e torná-lo livre para ser um homem do Senhor
é bom; é bom para ele; é bom para a sociedade; é bom para a igreja de Deus; é bom para a
glória do próprio Deus. É tão bom que aquele que a recebe torna-se o herdeiro de todo o
bem, e além disso, o favorecedor e autor de mais bem! Este bem é o melhor que um homem
pode receber. Fazer com que um homem seja saudável no corpo e rico em propriedades,
educar sua mente e treinar suas faculdades; todos estas coisas são boas, mas em
comparação com a salvação da alma, eles afundam em insignificância! A obra da
santificação é uma boa obra no sentido mais elevado possível, uma vez que influencia um
homem por meio de bons motivos, o leva às boas obras, o introduz entre os homens de bem,
dá-lhe a comunhão com os bons anjos, e por fim, o faz semelhante ao próprio bom Deus.

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Além disso, a vida interior é uma boa obra, porque ela flui e origina-se da pura bondade
de Deus. Como é sempre bom mostrar misericórdia, assim é preeminentemente bom da
parte de Deus agir sobre homens pecadores e caídos, a fim de renová-los, segundo a
imagem dAquele que os criou. A obra da graça tem sua raiz na bondade Divina do Pai. É
semeada pela bondade abnegada do Filho e é diariamente regada pela bondade do espírito
Santo. Origina-se bem e se desenvolve bem, e por isso é totalmente boa. O apóstolo chama
de “obra” e no sentido mais profundo é de fato um trabalho converter uma alma. Se o Niágara
de repente fosse feito subir em vez de sempre correr para baixo da sua altura rochosa, não
seria um milagre como mudar a vontade vil e as paixões ferozes dos homens; tornar branco
o etíope ou remover as manchas do leopardo é, proverbialmente uma dificuldade, mas estas
são apenas obras superficiais, pois renovar a própria essência da humanidade e remover o
pecado e sua influência do coração do homem, isto é não apenas o dedo de Deus, mas o
erguer de Seu braço. A conversão é uma obra comparável à criação de um mundo. Somente
Aquele que formou os céus e a terra poderia criar uma nova natureza. É uma obra
incomparável, é única e inigualável, vendo que o Pai, o Filho e o Espírito todos devem
cooperar nisso: para a implantação da nova natureza no Cristão são necessários o decreto
do Pai Eterno, a morte do sempre bendito Filho e a plenitude da operação do adorável
Espírito. É um trabalho de fato! Os trabalhos de Hércules eram apenas ninharias em
comparação com este; pois, matar leões e hidras, e limpar estábulos de Augias, tudo isso é
brincadeira de criança em comparação com renovar um espírito reto na natureza caída do
homem!

Observe que o apóstolo afirma que esta boa obra foi iniciada por Deus. O apóstolo não
acreditava, evidentemente, naqueles poderes notáveis que alguns teólogos atribuem ao
“livre arbítrio”; ele não era um adorador daquela moderna Diana dos Efésios, pois ele declara
que a boa obra foi iniciada por Deus, de onde deduzo que o menor desejo gracioso que
finalmente floresce na flor perfumada da oração fervorosa e da fé humilde é a obra de Deus.
Não, pecador, você nunca estará na frente de Deus! O primeiro passo para acabar com a
separação entre o filho pródigo e seu pai é tomado pelo pai, não pelo filho! A meia-noite
nunca busca o sol; poderia antes a escuridão encontrar dentro de si os raios da luz ou o
Hades desenvolver as sementes do Céu ou a Geena descobrir em seu fogo os elementos
da luz eterna, assim também poderia acontecer que a natureza corrupta extraísse de si
mesma as sementes da vida nova e espiritual ou o anelo pela santidade e por Deus! Eu
tenho ouvido ultimamente, para minha profunda tristeza, certos pregadores falando de
conversões como consistindo em desenvolvimentos. Então, a conversão não é senão o
desenvolvimento de graças escondidas dentro da alma humana? Não é! Tal teoria é uma
mentira completa! Não há dentro do coração do homem nenhum grão ou vestígio de bem

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espiritual. Quanto a todo bem, ele está alienado, insensível, morto e ele não pode ser
restaurado a Deus, senão por uma ação do alto que está totalmente fora dele mesmo! Se
você pudesse desenvolver o que está no coração do homem, você produziria um diabo, pois
esse é o espírito que opera nos filhos da desobediência! Desenvolva essa mente carnal que
é inimizade contra Deus e você não pode por qualquer possibilidade ser reconciliado com
Deus, e o resultado é o Inferno. O fato é que a vida Divina se apartou do homem natural; o
homem está morto em pecado e a vida deve vir até ele a partir do Doador da vida ou ele
permanecerá morto para sempre. A obra que há na alma de um verdadeiro Cristão não é de
sua própria iniciativa, mas é iniciada pelo Senhor!

É ainda implícito no texto que Aquele que começou a obra deve desenvolvê-la. “Aquele
que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará”. O apóstolo não diz muito, contudo ele se
faz entender, ou seja, que Deus deve realizar esta obra ou então ela nunca será realizada.
Ao longo da estrada do pecado para o Céu, desde a primeira taça de vinho até a entrada
alegre para o banquete, a música e a dança dos espíritos glorificados, cada passo que damos
deve ser através da capacitação que provém da graça Divina. Cada bem que há em um
Cristão, não apenas começa, mas é aperfeiçoado e é consumado pela força da graça de
Deus por meio de Jesus Cristo. Se meu dedo estiver no ferrolho de ouro do paraíso e meu
pé estiver em sua soleira de jaspe, eu não daria o último passo, de modo a entrar no Céu a
menos que a graça Divina que me impulsionasse e concedesse plena e justamente
completar a minha peregrinação! A salvação é uma obra de Deus e não do homem! Esta é
a teologia que Jonas aprendeu na grande universidade do grande peixe, na universidade do
grande abismo; seria muito bom que muitos de nossos teólogos atuais fossem enviados para
esta universidade! A erudição humana, muitas vezes, incha-se com a ideia da suficiência
humana, mas aquele que é educado e disciplinado na faculdade de uma experiência
profunda e levado a conhecer a vileza de seu próprio coração, enquanto ele olha de perto
para os seus próprios ídolos, confessará que do início ao fim a salvação não é do que quer,
nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia!

Mas o que o apóstolo principalmente intenciona dizer no verso é que esta boa obra que
é iniciada nos crentes por Deus, a qual só pode ser feita por Deus, certamente será assim
continuada. Observe que ele se declara confiante nesta verdade de Deus. Por que Paulo
precisa escrever de forma tão positiva: “tendo por certo isto mesmo”? Certamente, como um
homem inspirado, ele poderia simplesmente ter escrito: “Aquele que em vós começou a boa
obra”; mas ele nos dá, além da inspiração do Espírito Santo, a confiança que tinha sido
operada nele como o resultado de sua própria fé pessoal. Ele mesmo havia sido mui
graciosamente preservado e ele tinha sido favorecido pessoalmente com tão visões claras

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do caráter de Deus e do Senhor Jesus Cristo, de modo que se sentia bastante confiante de
que Deus não deixaria Sua obra inacabada. Ele sentiu em seu próprio espírito que, não
obstante, o que qualquer um pudesse afirmar, ele estava totalmente assegurado e ficaria
com a verdade e a defenderia com toda a força, a saber, que Aquele que começou a boa
obra em Seu povo certamente a completará no devido tempo.

Na verdade, queridos amigos, há um bom argumento nas palavras do apóstolo, pois se


o Senhor começou a boa obra, por que Ele não a aperfeiçoaria e completaria? Qual seria o
motivo para que Ele detivesse a Sua mão? Quando um homem começa uma obra e a deixa
inacabada é frequentemente por falta de poder; os homens dizem da torre inacabada: “Este
homem começou a edificar e não pôde acabar” [Lucas 14:30]. A falta de planejamento ou de
capacidade deve ter parado a obra, mas você pode supor que o Senhor, o Onipotente,
pararia uma obra por causa de dificuldade imprevista que Ele não seria capaz de superar?
Ele vê o fim desde o início; Ele é todo-poderoso; Seu braço não está encolhido; nada é
demasiado difícil para Ele; seria uma vil imaginação sobre a sabedoria e o poder de Deus
crer que Ele começou uma obra que não a conduzirá, no devido tempo, a uma conclusão
feliz! Deus não começou a obra na alma de qualquer homem sem a devida deliberação e
conselho; desde toda a eternidade Ele sabia as circunstâncias em que esse homem seria
colocado, e Ele previu a dureza do coração humano e a inconstância do amor humano. Se,
então, Ele considerou sábio começar, como pode-se supor que Ele mude e altere a Sua
determinação? Não pode haver nenhuma razão concebível para Deus deixar inacabada tal
obra; o mesmo motivo que ditou o início ainda deve estar em operação, e Ele é o mesmo
Deus, portanto, deve haver o mesmo resultado, ou seja, Ele continuará a fazer o que
começou.

Onde há um caso de Deus iniciar qualquer obra e deixá-la incompleta? Mostre-me por
uma vez um mundo abandonado e lançado fora incompleto! Mostre-me um universo fora da
roda do Grande Oleiro, com a forma em esboço, o barro meio moldado e a forma deformada
por incompletude! Aponte-me, peço, a uma estrela, um sol, um satélite — não, eu vou
desafiá-lo na terra — aponte-me uma planta, uma formiga, um grão de pó que tenha sobre
si qualquer aparência de incompletude! Tudo que o homem completa, mesmo que ele
capriche tanto quanto quiser, quando é colocado sob o microscópio, está apenas mais ou
menos acabado, porque o homem só chegou a um certo estágio e não pode ir além disso.
Está perfeito aos seus olhos fracos, mas não é a perfeição absoluta; porém, todas as obras
de Deus são concluídas com cuidado maravilhoso; Ele, com precisão molda o pó da asa de
uma borboleta, como aqueles corpos celestes que alegram a noite silenciosa. No entanto,
meus irmãos e irmãs, alguns gostariam de nos convencer que esta grande obra da salvação

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das almas é iniciada por Deus, e, em seguida, abandonada e deixada incompleta; e que
haverá espíritos perdidos para sempre, embora sobre os quais Espírito Santo uma vez
exerceu Seu poder santificador, por quem o Redentor derramou Seu sangue precioso e a
quem o Pai Eterno uma vez olhou com olhos de amor complacente! Eu não acredito em tal
coisa! A repetição de tais crenças coagula o meu sangue com horror!

Tais crenças soam como uma blasfêmia! O que o Senhor começa, Ele completará e se
Ele coloca Sua destra em qualquer obra, Ele não parará até que a obra esteja consumada,
se for atacar Faraó com pragas Ele, finalmente, afogar seus cavaleiros no Mar vermelho ou
se for conduzir o Seu povo pelo deserto, como ovelhas Ele finalmente os trará à terra que
mana leite e mel. Nada faz Yahwéh Se desviar de Sua intenção. “Porventura diria ele, e não
o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”. “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó
filhos de Jacó, não sois consumidos” [Números 23:19; Malaquias 3:6]. Há muita
argumentação nas simples palavras que o apóstolo usa. Ele está confiante no que conhece
do caráter de Deus, que Aquele que começou a boa obra em Seus santos a aperfeiçoará até
o dia de Cristo. Observe o tempo mencionado no texto, a boa obra deve ser aperfeiçoada no
dia de Cristo, que supomos ser a segunda vinda de nosso Senhor. O Cristão não será
aperfeiçoado até que o Senhor Jesus Cristo desça do Céu com alarido, com a trombeta de
arcanjo e voz de Deus. Mas, você diz, e sobre aqueles que morreram antes de Sua vinda?
O que ocorre com eles? Eu respondo que sua alma é, sem dúvida, aperfeiçoada e eles são
feitos idôneos para participar da herança dos santos na luz. Mas a Sagrada Escritura não
considera um homem assim perfeito quando a alma é aperfeiçoada, ela considera o corpo
como sendo uma parte dele mesmo e assim o corpo não subirá novamente da sepultura até
a vinda do Senhor Jesus; nesta ocasião nós seremos revelados e seremos semelhantes a
Cristo quando Ele for revelado em Sua Segunda Vinda. Aquele dia da Segunda Vinda é
definido como o dia da conclusão da obra que Deus começou, quando estaremos sem
mancha nem ruga ou coisa semelhante; corpo, alma e espírito verão a face de Deus de forma
irrepreensível e para sempre nos alegraremos com os prazeres que estão à destra de Deus.
É por isso que nós olhamos para a frente: Deus, que fez com que nos arrependêssemos,
também nos santificará completamente; Aquele que fez as lágrimas fluírem, também
enxugará todas as lágrimas dos mesmos olhos; Aquele que fez com que fôssemos ao pó e
à cinza da penitência, ainda nos vestirá com o belo linho branco que é a justiça dos santos!
Aquele que nos trouxe à cruz, também nos levará até a coroa! Deus que nos fez olhar para
Aquele que nós traspassamos e nos lamentar sobre Ele, também nos levará a ver o Rei em
Sua beleza e a terra que está mui distante. A mesma querida mão que feriu e depois sarou,
nos acariciará nos últimos dias! Aquele que olhou para nós quando estávamos mortos em
pecado e nos chamou para a vida espiritual, também continuará a nos considerar com favor

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até que nossa vida seja consumada na terra onde não há morte, nem tristeza e nem gemidos!
Essa é a verdade de Deus que o texto evidentemente nos ensina.

Sinto-me obrigado a fazer uma colocação aqui, embora saia um pouco do tema. É o
seguinte: Admira-me muito aqueles de nossos irmãos e irmãs Cristãos que sustentam a
doutrina da perseverança final dos cristãos e ainda assim permanecem na Igreja Anglicana,
pois sua permanência nela é totalmente inconsistente com tal crença! Você dirá: “Como? A
doutrina da perseverança final não é ensinada nos 39 artigos da Igreja Anglicana?”. Sem
dúvida, é; mas é uma contradição com o que é ensinado no Catecismo do Livro de Oração
Comum. No Catecismo, e em partes da liturgia, somos claramente ensinados que as crianças
são nascidas de novo e feitas membros de Cristo no Batismo. Agora, ser regenerado ou
nascido de novo é certamente o início de uma boa obra Divina na alma; e, em seguida, de
acordo com este texto e de acordo com a doutrina da perseverança final, uma obra tão Divina
que foi iniciada, certamente será aperfeiçoada até o dia de Cristo. Ora, ninguém será tão
imprudente em afirmar que a boa obra que de acordo com o Livro de Oração Comum é
iniciada em uma criança em seu assim chamado “batismo”, é sem sombra de dúvida
aperfeiçoada no dia de Cristo; pois, infelizmente, vemos essas pessoas regeneradas
bebendo, mentindo, praguejando; nós as vemos na prisão, condenados por todos os tipos
de crimes; temos conhecido até os que são enforcados! Se eu fosse um clérigo evangélico
e cresse na doutrina da perseverança final, deveria ao mesmo tempo renunciar a uma igreja
que ensina uma mentira tão intolerável quanto essa: que há uma obra da graça iniciada em
uma criança inconsciente em todos os casos quando a água é aspergida pelas mãos
sacerdotais! Nenhuma tal obra é iniciada e, consequentemente, nenhuma tal obra é
aperfeiçoada; tudo que envolve a questão do batismo infantil, tal como é praticado na Igreja
Episcopal Anglicana, é uma perversão da Escritura, um insulto a Deus, uma paródia da
verdade de Deus e um engano para as almas dos homens! Que todos os que amam o Senhor
e odeiam o mal, saiam desta igreja que cada vez mais apostata, para que não sejam
participantes das pragas que virão sobre ela no dia de sua visitação!

II. Em segundo lugar, devemos mostrar o fundamento adicional para nossa crença na
doutrina da perseverança final dos santos.

Nosso primeiro fundamento deve ser o ensino expresso das Sagradas Escrituras.
Porém, meus queridos amigos, citar todas as passagens bíblicas que ensinam que os santos
perseverarão em seu caminho, seria citar uma grande parte da Bíblia, pois, ao meu ver, a
Escritura está repleta desta verdade de Deus. E eu já disse muitas vezes que se alguém

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conseguisse me convencer de que a Escritura não ensina a perseverança dos crentes, eu


rejeitaria a Escritura completamente, como se Ele nada ensinasse, como sendo um livro
incompreensível para um homem simples, pois, de todas as doutrinas, esta parece ser a
mais evidente. Leia o nono verso do capítulo 17 do Livro de Jó e ouça o testemunho do
patriarca: “E o justo seguirá o seu caminho firmemente, e o puro de mãos irá crescendo em
força”. Não é: “o justo será salvo, faça o que quiser”; isso nós nunca cremos e nunca
creremos, mas sim: “o justo seguirá o seu caminho”, seu caminho de santidade, seu caminho
de devoção, seu caminho de fé, ele seguirá neste caminho e ele crescerá no mesmo, pois
aquele que tem as mãos puras “irá crescendo em força”, como o hebraico o coloca, ou como
se dissesse: “será cada vez mais forte”. No Salmo 125, leia o primeiro e segundo versos: “Os
que confiam no SENHOR”, esta é a descrição especial de um crente, “serão como o monte
de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Assim como estão os montes à
roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do seu povo desde agora e para sempre”.
Aqui há dois exemplos de espigas retirados daqueles ricos feixes que podem ser
encontrados no Antigo Testamento.

Quanto ao Novo Testamento, quão peremptórias são as palavras de Cristo, no capítulo


10 de João, verso 28: “E dou-lhes a vida eterna”, não a vida temporal que pode morrer, “e
nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é
maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”. O apóstolo nos diz,
no capítulo 11 de Romanos, verso 29, que “os dons e a vocação de Deus são sem
arrependimento”. Ou seja, sejam quais forem os dons que o Senhor dá, Ele nunca muda de
ideia quanto a tê-los concedido, de modo a tomá-los de volta; e qualquer que Ele chama,
não importa quem seja, Ele nunca Se arrepende; não há inconstância na misericórdia Divina;
Seus dons e vocação são sem arrependimento. Seguindo aquela temível passagem no sexto
capítulo de Hebreus, que tem suscitado tantos questionamentos, você encontra o apóstolo,
que parece à primeira vista ter ensinado que os crentes possam apostatar, nos versos 9 e
10 negando qualquer tal ideia! “Mas de vós, ó amados”, ele diz, “esperamos coisas melhores,
e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto
para se esquecer da vossa obra e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes,
enquanto servistes aos santos; e ainda servis”. O apóstolo Pedro, que não costuma
administrar muito conforto aos santos, mas lida muito severamente com a hipocrisia, colocou
isso muito fortemente no primeiro capítulo de sua primeira epístola, no quinto verso, onde
ele diz sobre todos os eleitos segundo a presciência de Deus, que “mediante a fé estais
guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo”.

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Irmãos e irmãs, no capítulo 54 de Isaías, que eu li para vocês nesta manhã, com muitos
outros para o mesmo efeito, dificilmente podem conceber ser verdade que os filhos de Deus
podem ser lançados fora e que Deus possa abandonar aqueles a quem que de antemão
conheceu! A Bíblia parece ser lançada fora e despojada de sua vida, se o amor imutável de
Deus for negado! A palavra de Deus é colocada na eira, e somente o joio é recolhido e o
trigo é lançado fora, se você tirar dela o seu constante e incessante ensino de que o “caminho
dos justos é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até ser dia perfeito” [Provérbios
4:18].

Mas, além dos testemunhos expressos da Escritura, temos todos os atributos de Deus
para apoiar esta doutrina, pois se os que creem em Cristo não são salvos, então certamente
todos os atributos de Deus estão em perigo; se Ele começa e não finaliza a Sua obra todo o
Seu caráter é desonrado. Onde está Sua sabedoria? Por que Ele começará o que Ele não
tinha a intenção de concluir? Onde está o Seu poder? Os espíritos malignos não dirão para
sempre “que ele não conseguiu fazer o que Ele não fez”? Não será uma constante zombaria
ao longo dos corredores do Inferno que Deus começou a obra e, em seguida, a parou? Eles
não dirão que a obstinação do pecado do homem era maior do que a graça de Deus, que
era muito difícil para Deus dissipar a dureza do coração humano? Não haveria um insulto
sobre a onipotência da graça Divina? E que diremos da imutabilidade de Deus, se Ele lançar
fora aqueles a quem ama? Como pensaremos que Ele não muda? Como o coração humano
alguma vez será capaz de olhar para Ele como imutável, se depois de amar, Ele odiar? E,
meus irmãos e irmãs, onde estará a fidelidade de Deus às promessas que Ele fez uma e
outra vez, e assinou e selou com juramentos por duas coisas imutáveis, nas quais é
impossível que Deus minta? Onde estará a Sua graça se Ele lançar fora aqueles que confiam
nEle, se depois de ter nos extasiado com goles de amor, Ele não nos leve a beber do
manancial? É completamente em vão para nós, portanto, confiar, se Sua promessa pode ser
esquecida e Sua mente pode ser mudada. Portanto, não precisamos falar dos Ebenézers no
passado como algo que nos consola para o futuro, caso o Senhor já tenha rejeitado os Seus
filhos, pois o passado não é garantia do que Ele pode fazer nos próximos dias! Mas a
veracidade de Deus em relação à Sua promessa, a fidelidade de Deus para com o Seu
propósito, a imutabilidade de Deus em Seu caráter e o amor de Deus em Sua essência, todos
estes provarão que Ele não abandona e nem abandonará a alma para a qual Ele olhou com
misericórdia, até que a grande obra seja consumada.

Além disso, como pode ser que o justo, afinal, caia da graça e pereça, se você recordar
a doutrina da expiação? A doutrina da expiação, como nós a sustentamos e cremos que
esteja na Escritura, é esta: Jesus Cristo prestou à justiça Divina uma satisfação pelos

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pecados de Seu povo; Ele foi punido no lugar deles. Agora, se Ele assim o fez e eu não creio
que quaisquer outras expiações tenham algum valora, se Ele realmente foi o nosso sacrifício
vicário satisfatório, então, como o filho de Deus poderia ser lançado no Inferno? Por que ele
seria lançado lá? Seus pecados foram colocados sobre Cristo, o que o condenaria? Cristo
foi condenado em seu lugar! Em nome da justiça eterna, a qual permanecerá, mesmo que o
céu e a terra estremeçam e se abalem, como pode um homem por quem Cristo derramou
Seu sangue ser tido como culpado diante de Deus quando Cristo levou a sua culpa e foi
punido em seu lugar? Aquele que crê deve certa e finalmente ser levado à glória, a expiação
exige isso e uma vez que ele não pode ir à glória sem a perseverança na santidade, ele deve
então perseverar ou então a expiação é uma coisa que não tem eficácia e força.

A doutrina da justificação também prova isso. Todo homem que crê em Jesus é
justificado de todas as coisas das quais ele não poderia ser justificado pela lei de Moisés. O
apóstolo Paulo diz em relação a um homem que é justificado como sendo completamente
livre da possibilidade de acusação. O som do trovão da santa jactância do apóstolo não
permanece em seus ouvidos: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus”? Se nada
pode ser dito em acusação a eles; se não há acusador, quem os condena? Se Deus
considera os crentes justos e retos por meio da justiça de Seu Filho amado; se eles
revestiram o Seu manto maravilhoso, o belo linho branco da justiça do Salvador, onde há
espaço para que algo seja feito contra eles, até o ponto de que eles sejam condenados? E
se não são acusados e nem condenados, eles devem perseverar em seu caminho e ser
salvos!

Mais ainda, meus irmãos e irmãs, a intercessão de Cristo no Céu é uma garantia da
salvação de todos os que confiam nEle. Lembrem-se do caso de Pedro: “Simão, Simão, eis
que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” [Lucas 22:31-32]. E esta
oração de Cristo preservou Pedro e o fez chorar amargamente depois de ter caído em
pecado. Semelhante oração do nosso Pastor sempre vigilante é feita por todos os Seus
eleitos; dia e noite, Ele roga, vestindo o peitoral como nosso grande Sumo Sacerdote diante
do trono de Deus e se Ele intercede pelo Seu povo, como eles perecerão, a menos que, de
fato, a Sua intercessão perdesse a sua autoridade?

Além disso, não se lembram de que cada crente é dito ser “um com Cristo”? “Porque
somos membros do seu corpo”, diz o apóstolo, “da sua carne, e dos seus ossos” [Efésios
5:30], e a imaginação de vocês é tão depravada que podem imaginar Cristo, a Cabeça, unido
a um corpo no qual os membros frequentemente decaem; mãos e pés e os olhos, talvez,

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apodrecendo, de modo que haja a necessidade que membros novos sejam criados em seu
lugar? A metáfora é demasiada atroz para que eu ouse continuar a falar sobre ela! “Porque
eu vivo, e vós vivereis” [João 14:19], esta é a imortalidade que abrange todos os membros
do corpo de Cristo; não há temor de que o justo volte para o pecado e se entregue às suas
antigas corrupções, pois a santidade que está em Cristo, pelo poder vital do Espírito Santo,
penetra todo o sistema do corpo espiritual e o menor membro é preservado por meio da vida
de Cristo!

Novamente, a vida interior do Cristão é uma garantia de que ele não voltará ao pecado.
Leia passagens como estas: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da
incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pedro 1:23).
Agora, se essa semente é incorruptível, vive e permanece para sempre, como dizem alguns
entre vocês que os justos se tornam corruptos e caem da graça? Ouçam o Mestre: “Mas
aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se
fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. Como vocês dizem, então, que
essa água que Jesus dá seca e deixa de fluir? Ouçam-nO mais uma vez: “Assim como o Pai,
que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá
por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o
maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre” (João 6:57-58). A vida que
Jesus implanta no coração de Seu povo está vinculada à Sua própria vida, “porque já estais
mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3:3). “Quando
Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em
glória” [Colossenses3:4]. O Espírito Santo habita em nós! “Não sabeis que os vossos corpos
são templos do Espírito Santo?” [1 Coríntios 3:16]. Ó amado, o próprio Deus morreria se o
Cristão perecesse, uma vez que a vida de Deus é eterna e é essa vida que Cristo nos deu!
“E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão”
[João 10:28].

Deixo a doutrina com os seus entendimentos, a Palavra de Deus está em suas mãos e
que o Espírito de Deus coloque para além da dúvida em sua alma que é mesmo assim.
Lembrem-se, não é a doutrina de que todo aquele que crê em Cristo será salvo, faça o que
ele fizer, mas a doutrina é esta: que todo homem que crê em Jesus receberá o espírito de
santidade e será conduzido no caminho da santidade, de força em força, até que ele venha
à perfeição que Deus operará em nós na vinda de Seu Filho querido.

III. Por último, precisamos extrair certas inferências úteis desta doutrina.

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Uma das primeiras é esta: há muito nesta verdade de Deus que traz conforto a um filho
de Deus que caminha hoje em trevas e não vê a luz. Você sabe que há algum tempo atrás
o Senhor Se revelou a você; lembre-se dos tempos quando as promessas eram
peculiarmente doces, quando a Pessoa de Cristo era revelada à sua visão espiritual em toda
a Sua glória; então, amado, se alguma temporária depressão do espírito agora o oprime, se
alguma tribulação pessoal está ocorrendo com você, ouça as palavras: “Eu, o Senhor, não
mudo” [Malaquias 3:6]. Acredite que mesmo quando Ele esconde a Sua face, Ele ainda ama
você! Não O julgue por providências exteriores, julgue-O pelos ensinamentos de Sua
Palavra. Faça como os navegantes fazem quando eles remam para trás para conduzirem o
barco para frente; obtenha conforto do passado, tome tições de consolo dos altares de ontem
para inflamar os sacrifícios de hoje:

“Determinado a salvar, Ele viu ao longo do seu caminho,


Quando como escravo cego de Satanás, você brincava com a morte;
E Ele ensinou você a confiar em Seu nome,
E, até agora, Ele lhe guardou, e isso para envergonhá-lo?”

Esta doutrina deve sugerir a todos os Cristãos a necessidade de diligência constante,


de modo que ele persevere até o fim. “O quê?”, diz alguém, “esta é uma inferência a partir
da doutrina? Eu tinha pensado o inverso, pois, se o crente perseverará em seu caminho,
qual a necessidade de diligência?”. Eu respondo que o mal-entendido encontra-se no
opositor. Se o homem perseverará em santidade até o fim da vida, certamente há a
necessidade de que ele deve ser mantido em santidade e a doutrina que ele será preservado
é um dos seus melhores meios para produzir o resultado desejado. Se algum de vocês deve
estar bem certo de que em uma determinada linha de negócio você juntaria uma grande
soma de dinheiro, faria com que a sua confiança o fizesse negligenciar o negócio? Isso o
levaria a ficar na cama o dia todo ou de algum modo o faria abandonar a sua posição? Não,
a garantia de que você seria diligente e prosperaria, faria você ser diligente!

Tomarei emprestarei uma metáfora dos esportes da época, como Paulo fez em relação
aos jogos da Grécia: Se qualquer piloto de corridas estivesse confiante de que estava
destinado a vencer, isso o faria diminuir a velocidade? Napoleão acreditava ser ele mesmo
o filho do destino, isso paralisou as suas forças? Para mostrar que a certeza de algo não
impede um homem de correr atrás dele, mas sim anima-o, vou contar-lhes uma anedota
minha, que aconteceu comigo quando eu era apenas uma criança de cerca de 10 anos ou
menos. O sr. Richard Knill, de feliz e gloriosa memória, um zeloso trabalhador para Cristo,
sentiu-se movido, não sei porque, a me levar colocar em seu colo na casa do meu avô e

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proferir palavras como estas, que foram estimadas pela família e por mim, especialmente:
“Esta criança”, disse ele, “pregará o Evangelho, e ele pregará para as maiores congregações
do nosso tempo”. Eu cri em sua palavra e minha posição aqui hoje é, em parte, motivada por
tal crença. Isso não impediu a minha diligência para estudar, porque eu cria que eu estava
destinado a pregar o Evangelho a grandes congregações, de modo algum, estas palavras
contribuíram para que isso se tornasse realidade! Orei, busquei e me esforcei tendo sempre
presente a Estrela de Belém diante de mim que viria o dia em que pregaria o Evangelho.
Semelhantemente, a crença de que um dia seremos perfeitos nunca impede qualquer
verdadeiro crente de ser diligência, antes é o maior incentivo possível para fazer o homem
lutar contra as corrupções da carne e buscar perseverar de acordo com a promessa de Deus.

“Bem, mas”, diz alguém, “se Deus garante a perseverança final a um homem, por que
ele precisa orar por isso?”. Senhor, ele ousaria orar por isso se Deus não o tivesse garantido?
Não me atrevo a orar por aquilo que não é prometido, mas assim que está prometido, então,
peço por isso! E quando eu vejo algo prometido na Palavra de Deus, eu me esforço por isso.
“Diga o que quiser”, diz alguém, “você é inconsistente”. Ah, bem, meu caro amigo, somos
obrigados a explicar da melhor forma possível, mas não somos obrigados a dar entendimento
para aqueles que não têm nenhum! É difícil tentar fazer as coisas parecem claras para os
olhos míopes; às vezes, acontecerá que as pessoas não conseguem ver as verdades de
Deus que particularmente não querem ver; mas a prática é o principal e espero que por nosso
argumento prático provemos que, enquanto aqueles que pensam que eles podem cair da
graça correm riscos terríveis, e caem, contudo, aqueles que sabem que não cairão, se eles
realmente creram, ainda assim buscam andar com todo cuidado e vigilância! Eu busco viver
como se a minha salvação dependesse de mim mesmo, e então, volto para o meu Senhor,
sabendo que a salvação absolutamente não depende de mim, em qualquer sentido.
Gostaríamos de viver como a doutrina oposta é suposta fazer os homens viverem, que é
exatamente como a doutrina Calvinista realmente faz os homens viverem, ou seja, com
seriedade de propósito e com graciosa gratidão a Deus — que é, afinal, a influência mais
poderosa — por ter assegurado a nossa salvação por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.

Outra questão extraída do texto é esta: aprendamos a partir do texto a como perseverar.
Irmãos e irmãs, vocês observarão que a razão para o apóstolo crer que os Filipenses
perseverariam não era porque eles eram pessoas muito boas e sinceras, mas porque Deus
havia começado a obra! Assim, o nosso fundamento para a perseverança deve ser o nosso
descanso em Deus. Há um querido irmão sentado aqui nesta manhã, um membro desta
igreja, que outrora era um membro de outra denominação de Cristãos; uma noite, quando
ele era muito jovem, e, recentemente convertido, ele se ajoelhou para orar e sentiu-se frio e

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morto, e não orou muitos minutos, porém foi para a cama. Mal deitou, um horror da escuridão
veio sobre ele, e disse para si mesmo: “Eu caí da graça”. Tão boa alma ele era e é que se
levantou da cama e começou a orar, mas não obteve melhora e às cinco horas da manhã,
ele foi até o seu líder de classe! Ele começou a bater na porta e gritou para despertá-lo. “O
que você quer?”, disse o líder de classe, quando ele abriu a janela. A resposta foi: “Oh, eu
caí da graça!”, “Bem”, disse o líder da classe, “se tiver caído da graça, vá para casa e confie
no Senhor”. “Mas”, disse meu amigo, “eu tenho confiado”. Sim, e se ele conhecesse a grande
verdade antes, ele não teria sido afetado com tal absurdo como o de ter caído da graça!
“Caiu da graça? Então vá e simplesmente confie no Senhor”. Sim, e é isso que todos nós
devemos fazer, caídos ou não! Não devemos confiar de modo superficial, mas sempre
descansar sobre o querido Cristo que morreu na cruz. “Senhor, se eu não sou um santo, e
muitas vezes eu temo que não tenho nada a ver com a santidade, ainda assim, Senhor, eu
sou um pecador e Tu morreste para salvar os pecadores e eu me agarrarei a isso! Ó precioso
sangue, se eu nunca experimentei o seu poder purificador; se até agora tenho estado em fel
da amargura e nos laços da iniquidade, ainda ali está o velho e grande Evangelho da cruz:
‘Quem crer e for batizado será salvo’. Senhor, eu creio hoje, se eu nunca cri antes! Ajude a
minha incredulidade”. Esta é a verdadeira teoria da perseverança: é perseverar em ser nada
e deixar que Cristo seja tudo! É perseverar em descansar total e simplesmente no poder da
graça que há em Cristo Jesus.

Por último, esta doutrina tem uma palavra para os não-convertidos. Eu sei que teve
para mim. Se alguma coisa neste mundo me levou ao desejo de ser um Cristão, em primeiro
lugar, foi a doutrina da perseverança final dos santos. Eu já tinha visto companheiros de
minha infância, um pouco mais avançados do que eu, que para mim eram como padrões de
tudo o que é excelente, eu já os havia visto estudando em grandes cidades ou lançarem-se
em negócios pessoais, e logo sua excelência moral se foi; em vez de serem exemplos, eles
chegaram a ser pessoas contra as quais os jovens foram alertados pela sua preeminência
no vício. Este pensamento me ocorreu: “Essa também pode ser minha situação nos próximos
anos! Existe alguma maneira pela qual um caráter santo pode ser assegurado para o futuro?
Existe alguma maneira pela qual um jovem, tomando cuidado, seja impedido de cair em
impureza e maldade?”. E eu descobri que se eu colocasse a minha confiança em Cristo, eu
tinha a promessa de que eu perseveraria em meu caminho e cresceria em força! E embora
eu temia que eu nunca pudesse ser um verdadeiro crente, e assim obter a promessa
cumprida a meu respeito, porque eu era tão indigno, contudo a sonoridade disso sempre me
encantou. “Oh, se eu pudesse apenas ir a Cristo e esconder-me como uma pomba em Suas
feridas, então eu estaria seguro! Se eu pudesse apenas tê-lO para me lavar dos meus
pecados passados, então o Seu Espírito me guardaria do pecado futuro e eu seria

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preservado até o fim”. Isso não atrai você? Oh, eu espero que haja alguns que serão atraídos
por tal salvação como esta! Nós não pregamos nenhum Evangelho frágil que não suportará
o seu peso! Não é nenhuma carruagem cujos eixos se quebrarão ou cujas rodas serão
retiradas. Este não é um alicerce de areia que pode afundar no dia do dilúvio! Aqui é o Deus
eterno comprometendo-Se a Si mesmo por aliança e juramento que Ele escreverá a Sua lei
em seu coração; que você não se desviará dEle; Ele irá guardar você para que não vagueie
em pecado; mas se por um tempo você se desviar, Ele vai restaurá-lo novamente para os
caminhos da justiça! Ó rapazes e moças, venham para cá! Lancem-se em sua porção com
Cristo e Seu povo. Confiem nEle! Confiem nEle! Confiem nEle e, então, esta preciosa
verdade será sua e esta experiência será ilustrada em sua vida:

“Meu nome das palmas das Suas mãos


A eternidade não apagará!
Gravado em Seu coração permanece
Em marcas de indelével graça!
Sim, eu até o fim perseverarei,
Tão certo quanto o penhor é dado;
Mais felizes, porém não mais seguros,
Estão os espíritos glorificados no Céu”.

Porção da Escritura lida antes de Sermão — Isaías 54.

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Apêndices

A1
A Salvação Pertence Ao Senhor
(Sermão Nº 131)

Um sermão pregado na manhã do Dia do Senhor, 10 de Maio de 1857.


Por C. H. Spurgeon, no Music Hall Royal Surrey Gardens.

“Ao SENHOR pertence a salvação!” (Jonas 2:9, ARA)

JONAS aprendeu esta sentença de boa teologia em uma faculdade estranha. Ele
aprendeu isso na barriga da baleia, na parte inferior das montanhas, com as ervas daninhas
envoltas sobre a cabeça, quando ele supôs que a Terra com seus ferrolhos estaria sobre ele
para sempre! A maioria das grandes verdades de Deus tem que ser aprendida por
dificuldades. Elas devem ser gravadas em nós com o ferro quente da aflição, caso contrário,
nós não as receberemos realmente. Nenhum homem é competente para julgar em questões
do Reino de Deus, até que primeiro ele tenha sido experimentado, uma vez que há muitas
coisas a serem aprendidas nas profundezas que nunca podemos conhecer nas alturas.
Descobrimos muitos segredos nas cavernas do mar, que, se tivéssemos subido ao Céu, que
nunca poderíamos ter imaginado. Ele atenderá às necessidades do povo de Deus como um
pregador que, ele mesmo, teve essas necessidades. Consolará melhor a Israel de Deus
aquele que necessitou de consolo. E pregará melhor a salvação quando sentiu sua própria
necessidade dela. Jonas, quando ele foi entregue ao seu grande perigo, por ordem de Deus,
o peixe tinha obedientemente deixado seus grandes abismos e entregue a sua carga em

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terra seca, em seguida, Jonas foi capaz de julgar. E este foi o resultado de sua experiência
sob o seu problema: “Ao SENHOR pertence a salvação!”.

Por, salvação, aqui, não apenas compreendemos a salvação especial que Jonas
recebeu da morte, pois de acordo com o Dr. Gill, há algo muito especial no original, na
palavra, “salvação”, tendo mais uma letra do que normalmente tem, quando se refere apenas
a alguma libertação temporária, para que só possamos compreendê-la, aqui, como em
relação à grande obra da salvação da alma, que é eterna. Que “ao SENHOR pertence a
salvação!”, nesta manhã, eu tentarei mostrar da melhor forma possível. Em primeiro lugar,
me esforçarei para explicar a doutrina. Então, vou tentar mostrar-lhes como Deus tem nos
guardado de cometer erros e nos restringiu para nos fazer crer no Evangelho. Depois, vou
discorrer sobre a influência dessa verdade sobre os homens. E vou concluir, mostrando-lhes
a contrapartida da doutrina. Vendo que toda verdade tem seu anverso, assim essa também
tem.

I. Primeiro, então, para iniciar pela explicação, vamos EXPOR ESTA DOUTRINA. A
doutrina de que a salvação é do Senhor, ou de Yahwéh. Devemos entender por isso, que o
conjunto da obra pela qual os homens são salvos de seu estado natural de pecado e ruína e
são transportados para o Reino de Deus e feitos herdeiros da felicidade eterna é de Deus e
dEle somente. “Ao SENHOR pertence a salvação!”.

Para começar, então, no princípio, o plano de salvação é inteiramente de Deus.


Nenhum intelecto humano e nenhuma inteligência criada ajudou Deus no planejamento da
salvação. Ele planejou o caminho, assim como Ele mesmo, o realizou. O plano de salvação
foi concebido antes da existência dos anjos. Antes que a estrela da manhã arremessasse
seus raios através na escuridão, quando ainda o imóvel éter não havia sido ventilado pela
asa do serafim e quando a solenidade do silêncio nunca havia sido perturbada pela canção
angelical, Deus tinha concebido uma maneira pela qual Ele poderia salvar o homem, que,
em Sua soberania, Ele decretou, que cairia. Ele não criou os anjos para consultar com eles.
Não, de Si mesmo Ele fez isso! Podemos realmente fazer a pergunta: “Com quem Ele tomou
conselho? Quem O instruiu quando Ele planejou a grande arquitetura do templo de
misericórdia? Com quem tomou Ele conselho, quando cavou as profundezas do amor, que
sem elas não poderia jorrar as fontes da salvação? Quem O ajudou?”. Ninguém! Ele fez isso
sozinho. Na verdade, se os anjos tivessem existência nesta ocasião, eles não poderiam ter
ajudado a Deus. Eu posso muito bem supor que se um conclave solene daqueles espíritos
fosse realizado, se Deus lhes houvesse dito: “Os homens vão se rebelar. Eu vos declaro que

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vou puni-los. Minha justiça, inflexível e severa exige que eu o faça. Mas ainda tenciono ter
misericórdia”. Se Ele tivesse colocado a questão para os esquadrões celestes de poderosos:
“Como pode ser isso? Como pode a Justiça ter suas exigências cumpridas e como pode a
Misericórdia reinar?”, os anjos estariam sentados em silêncio até agora, não poderiam ter
ditado um plano! Teria ultrapassado o intelecto angélico o ter concebido o caminho pelo qual
a justiça e a paz deveriam se reunir e o juízo e misericórdia se beijarem. Deus concebeu isso
porque sem Deus não poderia ter sido concebido! É um plano muito esplêndido para ter sido
o produto de qualquer mente, exceto da mente que depois o cumpriu. A “salvação” é mais
velha do que a criação. É “do Senhor”.

E, como era do Senhor no planejamento, assim era do Senhor em execução. Ninguém


tem ajudado a proporcionar a salvação. Deus fez tudo sozinho. O banquete de misericórdia
é servido por um Anfitrião, esse anfitrião é Aquele a quem o gado sobre milhares de outeiros
pertence! Mas nenhum deles contribuiu com iguarias ao banquete real. Ele fez tudo sozinho.
O banho real de misericórdia, onde as almas escurecidas são lavadas, estava cheio desde
as veias de Jesus, nem uma gota foi dada por qualquer outro ser. Ele morreu sobre a cruz e
como um Expiador, Ele morreu sozinho! Nenhum sangue dos mártires se mistura com o
fluxo. Nenhum sangue dos confessores e dos heróis da cruz entrou no rio da expiação. Ele
está cheio a partir das veias de Cristo e de nenhum outro lugar! Ele tem feito tudo isso.
Expiação é a obra exclusiva de Jesus. Na cruz lá eu vejo o Homem que “pisou sozinho o
lagar.” Ali no jardim eu vejo o Conquistador solitário que veio para a luta sozinho, cujo próprio
braço lhe trouxe a salvação, e cuja Onipotência O susteve. “Ao SENHOR pertence a
salvação!”. Quanto às suas disposições Yahwéh — Pai, Filho e Espírito — proveram tudo!

Até agora, todos estamos de acordo, mas agora teremos de separar-nos um pouco.
“Ao SENHOR pertence a salvação!”, na aplicação da mesma. “Não”, diz o Arminiano, “Não
é! A salvação é do Senhor na medida em que Ele faz tudo o que Ele pode fazer para o
homem. Mas há algo que o homem deve fazer, que se ele não fizer isso, ele perecerá”. Esse
é o caminho Arminiano da salvação. Agora, na semana passada eu pensei sobre essa
mesma teoria da salvação quando eu estava ao lado daquela janela da Castelo Carisbrooke
do qual o rei Carlos, de memória infeliz e injusta, tentou fugir. Eu li no livro de viagem que
tudo estava previsto para sua fuga, seus seguidores dispunham de meios na parte inferior
da parede para capacitá-lo a fugir através do país e na costa tinham seus barcos mantidos
prontos para levá-lo para outra terra! Na verdade, tudo estava pronto para a sua fuga. Mas
aqui estava uma circunstância importante: seus amigos tinham feito tudo o que podiam; ele
deveria fazer o restante. Porém esse fazer o restante foi justamente o ponto e peso da

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batalha — era sair da janela — da qual ele não foi capaz de escapar por qualquer meio, de
modo que tudo o que os seus amigos fizeram para ele foi inútil, até onde lhes dizia respeito.

É assim, com o pecador. Se Deus houvesse fornecido todos os meios de fuga e só


exigisse que ele saísse do calabouço, ele teria permanecido lá por toda a eternidade! Ora,
não está o pecador, por natureza, morto em pecado? E se Deus exige que ele torne-se vivo
e, em seguida, Ele fará o restante para ele, então, na verdade, meus amigos, não somos
favorecidos por Deus, absolutamente, como tínhamos pensado! Pois se Ele exigir tudo isso
de nós e nós podemos fazê-lo, podemos fazer o restante sem a Sua ajuda! Os Romanistas
têm um seu próprio milagre extraordinário sobre São Dennis, de quem eles contam a lenda
mentirosa que depois de que sua cabeça estava decapitada, ele tomou-a em suas mãos e
andou 2000 milhas com ela! Sobre o que é dito um gracejo: “Caminhar tanto quanto as 2.000
milhas, não é nada! É somente no primeiro passo em que há alguma dificuldade”.

Então eu acredito que, se isso for feito, todo o restante pode ser facilmente realizado!
E se Deus requer do pecador — morto em pecado — que ele dê o primeiro passo, então Ele
requer apenas o que torna a salvação tão impossível sob o Evangelho, como sempre foi sob
a Lei, porque o homem é tão incapaz de crer quanto ele é de obedecer, e tem tanto poder
para vir a Cristo quanto ele tem para ir ao Céu sem Cristo! O poder deve ser dado a ele a
partir do Espírito. Ele está morto em pecado. O Espírito deve vivificá-lo. Ele está preso em
pés e mãos e acorrentado pela transgressão. O Espírito deve cortar as amarras e, em
seguida, ele saltará para a liberdade! Deus deve vir e arrancar as barras de ferro para fora
dos suportes e, em seguida, ele poderá escapar da janela e fazer uma boa fuga depois! Mas
a menos que a primeira coisa seja feita para ele, ele deve perecer, tão certo sob o Evangelho
como ele teria perecido sob a Lei! Eu deixaria de pregar, se eu acreditasse que Deus, na
questão da salvação, exigisse qualquer coisa do homem, que Ele próprio não tenha também
se empenhado para conceder! Quantos eu tenho frequentemente pendurado em meus lábios
sobre o pior dos personagens, homens cujas vidas se tornaram tão terrivelmente ruins que
os lábios da moralidade se recusariam a dar uma descrição do seu caráter? Quando eu entro
no meu púlpito, devo crer que estes homens estão fazendo alguma coisa antes que o Espírito
de Deus opere neles? Se assim for, eu viria aqui com um coração fraco, sentindo que eu
nunca poderia induzi-los a fazer a primeira parte! Mas agora vou para o meu púlpito com
uma firme confiança; Deus, o Espírito Santo encontrará com estes homens nesta manhã!
Eles são tão ruins quanto eles podem ser. Ele colocará um novo pensamento em seus
corações! Ele lhes dará novos desejos. Ele lhes dará novas vontades e aqueles que odiavam
a Cristo desejarão amá-lO! Aqueles que uma vez amaram o pecado, pelo Divino Espírito de
Deus, serão levados a odiá-lo e aqui está a minha confiança: o que eles não podem fazer,

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na medida em que eles são fracos por meio da carne, Deus, enviando o Seu Espírito em
seus corações, fará por eles e neles; e assim eles serão salvos!

“Bem, então”, diz alguém, “isso fará as pessoas sentarem e cruzarem os braços”;
senhor, não vai! Mas se os homens o fizessem, eu não poderia ajudá-los; meu negócio, como
eu já disse muitas vezes neste lugar, não é provar a você a razoabilidade de qualquer
verdade, nem defender qualquer verdade das suas consequências. Tudo o que faço aqui —
e eu quero dizer para sustenta-lo — é apenas para afirmar a verdade porque está na Bíblia!
Então, se você não gosta, você deve resolver a disputa com meu Mestre, e se você acha
que não é razoável, você deve discutir com a Bíblia. Permita que os outros defendam a
Escritura e provem que é verdade. Eles podem fazer o seu trabalho melhor do que eu; o meu
é apenas a simples obra de proclamar. Eu sou o mensageiro. Falo a mensagem do meu
Mestre. Se você não gosta da mensagem, discuta com a Bíblia, não comigo! Enquanto eu
tenho a Escritura do meu lado, eu ousarei e desafiarei você a fazer qualquer coisa contra
mim! “Ao SENHOR pertence a salvação!”. O Senhor tem que aplicá-la, para fazer o relutante,
disposto; fazer o ímpio, piedoso; e trazer o desprezível rebelde aos pés de Jesus, caso
contrário a salvação nunca será cumprida! Deixe esta única coisa ser desfeita e você terá
quebrado o elo da cadeia, a própria ligação que era necessária para a sua integridade. Tire
o fato de que Deus começa a boa obra e que Ele nos envia o que os antigos teólogos
chamam graça preservadora — tire isso e você terá estragado toda a salvação, você tomou
a pedra angular para fora do arco e ela cai! Então não há mais nada.

E agora sobre o próximo ponto iremos novamente discordar um pouco. “Ao SENHOR
pertence a salvação!”, quanto à preservação da obra no coração de qualquer homem.
Quando um homem é feito um filho de Deus, ele não tem dado a ele um estoque de graça
que dure para sempre. Mas ele tem graça para esse dia. E ele deve ter graça para o dia
seguinte, graça para o próximo e graça para o próximo, até os últimos dias, ou então o
começo seria de nenhum proveito. Como um homem não se faz espiritualmente vivo, desta
forma, ele não pode manter-se assim. Ele pode se nutrir de alimento espiritual e assim
preservar a sua força espiritual. Ele pode andar nos mandamentos do Senhor, e assim
desfrutar de descanso e paz, mas ainda assim, a vida interior é dependente do Espírito tanto
em relação à sua existência quanto após a sua primeira geração! Eu realmente acredito que
mesmo que fosse a minha porção colocar o meu pé sobre o limiar de ouro do Paraíso e
colocar esse polegar sobre a porta de pérolas, eu nunca cruzaria o limiar, a menos que me
fosse concedida graça para dar esse último passo, de forma que eu pudesse entrar no Céu!
Nenhum homem de si mesmo, mesmo quando convertido, tem qualquer poder, exceto tal
poder que é diária, constante e eternamente infundido nele pelo Espírito! Mas os Cristãos

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muitas vezes estabelecem-se como senhores independentes. Eles obtêm um pequeno


estoque da graça na mão e dizem: “Minha montanha permanece firme, eu nunca serei
abalado”. Mas ah, não decorre muito tempo antes que o maná comece a apodrecer. Ele só
foi concebido para ser o maná para o dia e nós o guardamos para o dia seguinte e, por isso,
nós falhamos! Devemos ter graça fresca:

“Pois dia após dia o maná caiu,


Oh! aprenda bem essa lição.”

Então busque dia após dia para graça fresca! Frequentemente, também, o Cristão quer
ter o suficiente para um mês concedido a ele em um momento. “Oh”, ele diz, “que série de
problemas tem ocorrido, como poderei enfrenta-los todos? Oh! que eu tivesse graça
suficiente para suportar por todos eles!” Meus queridos amigos, vocês terão o suficiente para
os seus problemas, quando eles vierem, um por um! “Como seus dias, assim será a sua
força”. Mas a sua força nunca será como seus meses, ou como suas semanas. Você terá a
sua força como você tem o seu pão. “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia”. Dá-nos hoje a
nossa graça diária. Mas por que você começará a incomodar-se sobre as coisas de amanhã?
As pessoas comuns dizem: “Atravesse a ponte quando você chegar nela”. Esse é um bom
conselho! Faça o mesmo. Quando um problema vem, ataque-o, e abata-o, e domine-o! Mas
não comece agora, para evitar suas aflições. “Ah, mas eu tenho tantos”, diz alguém. Por isso
eu digo, não procure mais do que antes de suas necessidades. “Basta a cada dia o seu mal”.
Faça como fez o valente grego, que, quando ele defendeu seu país da Pérsia, não foi lutar
nas planícies, mas ficou na estreita passagem das Termópilas. Lá, quando as miríades
vieram a ele, eles tinham que vir um por um e ele os abateu à terra. Tivesse se aventurado
na planície, ele teria sido logo devorado e sua mão cheia teria sido derretida como uma gota
de orvalho no mar. Fique na passagem estreita de hoje e combata os seus problemas, um
por um. Não se apresse nas planícies do amanhã, pois lá você será derrotado e morto. Como
o mal é suficiente assim a graça será! “Ao SENHOR pertence a salvação!”

Mas, por fim, sobre este ponto. A perfeição final da salvação é do Senhor. Logo, logo,
os santos da terra serão santos na luz. Seus cabelos brancos como a neve pela idade devem
ser coroados com a alegria perpétua e juventude eterna. Seus olhos, inundados de lágrimas,
serão feitos brilhante como estrelas, para nunca mais serem obscurecidos por tristeza. Seus
corações que agora tremem devem ser feitos alegres e firmes e postos para sempre como
pilares no Templo de Deus! Suas tolices, seus fardos, suas dores, seus problemas, estão
prestes a acabar! O pecado estará morto, a corrupção será removida e um céu de pureza
imaculada e de paz sem mistura será deles para sempre! Mas ainda deve ser por graça.

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Como foi a fundação, como deve ser a pedra de topo. Aquele que lançou sobre a terra o
primeiro fundamento deve colocar no Céu a pedra superior. Como eles foram resgatados de
sua conversa suja pela graça, assim eles devem ser resgatados da morte e da sepultura por
graça, também, e eles devem entrar no céu cantando:

“A salvação do Senhor somente,


A graça é um mar sem limites!”

Podem haver Arminianos aqui, mas eles não serão Arminianos lá! Eles podem dizer
aqui: “É da vontade da carne”, mas no Céu eles não pensarão assim! Aqui eles podem atribuir
algo à criatura, mas lá eles lançarão as suas coroas aos pés do Redentor e reconhecerão
que Ele fez tudo isso! Aqui eles podem, por vezes, exibir um pouco de si mesmos e ostentar
um pouco de sua própria força, mas ali, “Não a nós, não a nós,” deve ser cantado com
sinceridade intensa e com ênfase mais profunda do que alguma vez cantei aqui em baixo!
No Céu, quando a graça deverá ter feito o seu trabalho, esta verdade de Deus deverá se
destacar em resplandecentes letras de ouro: “Ao SENHOR pertence a salvação!”

II. Assim eu tentei expor o Evangelho. Agora vou mostrar-lhe COMO DEUS TEM
PRESERVADO ESTA DOUTRINA.

Alguns disseram que a salvação, em alguns casos, é o resultado do temperamento


natural. Bem, senhor, Deus respondeu eficazmente o seu argumento. Você diz que algumas
pessoas são salvas porque são naturalmente religiosas e inclinadas a serem boas?
Infelizmente eu ainda não encontrei com qualquer um desta classe de pessoas. Mas eu
suponho que por um momento existissem essas pessoas. Deus tem incontestavelmente se
oposto à sua objeção, pois, por estranho que pareça, o grande número daqueles que são
salvos, são apenas as pessoas mais improváveis do mundo de terem sido salvas, enquanto
um grande número de pessoas que pereceram antes eram exatamente as próprias pessoas
que, se a disposição natural tivesse alguma relação com isso, poderíamos esperar vê-las no
Céu! Ora, há alguém aqui que em sua juventude foi uma criança de muitas loucuras. Muitas
vezes, sua mãe lamentou por ele, e chorou, e gemeu sobre as andanças de seu filho, pois
com um grande espírito feroz ele não podia tolerar nem freio nem rédea, com rebeliões
perpétuas e explosões de raiva ardente, ela disse: “Meu filho, meu filho, o que será de você
quando estiver em seus anos mais maduros? Certamente você transgredirá partes da lei e
da ordem [pública] e será uma vergonha para o nome do seu pai!” Ele cresceu. Na juventude,
ele era selvagem e desenfreado, mas, a maravilha das maravilhas, de repente ele se tornou

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um novo homem, mudado, mudou completamente [...]. Ele sentou-se a pés dela, ele alegrou
o coração dela, e aquele perdido, impetuoso tornou-se gentil, suave, tão humilde como uma
criancinha e obediente aos mandamentos de Deus. Você diz: Maravilha das maravilhas!

Mas há um outro aqui. Ele era um jovem justo, quando apenas uma criança ele falava
sobre Jesus. Muitas vezes, quando sua mãe tinha-lhe no colo, ele fez-lhe perguntas sobre o
céu, ele era um prodígio, uma maravilha de piedade em sua juventude! Conforme ele
cresceu, as lágrimas escorriam pelo seu rosto em qualquer sermão, ele mal podia suportar
ouvir sobre a morte sem um suspiro. Às vezes, sua mãe o pegou, como ela pensou, sozinho
em oração. E como ele está agora? Ele acaba nesta manhã de vir do pecado! Ele tornou-se
o vil devasso, desesperado! Ele já foi longe em todos os tipos de maldade, e luxúria, e
pecado, e tornou-se mais terrivelmente corrupto do que outros homens poderiam ter sido!
Seu espírito iníquo, uma vez confinado, tem se desenvolvido agora, ele aprendeu imitar o
leão em sua virilidade, como uma vez ele imitou a raposa em sua juventude. Eu não sei se
você já se encontrou com um caso assim. Mas muito frequentemente é assim. Eu sei que eu
posso dizer que em minha congregação alguns abandonados, companheiros de ímpios
tiveram seus corações quebrados e foram levados a chorar e clamar a Deus por misericórdia.
Por Sua graça renunciaram seus pecados vis, enquanto algumas donzelas ouviram o mesmo
sermão e se havia uma lágrima derramada, ela ainda continua exatamente o que ela era,
“sem Deus e sem esperança no mundo”. Deus tomou as coisas vis deste mundo, e escolheu
o Seu povo a partir dos mais duros dos homens, a fim de que Ele possa provar que não é a
disposição natural, mas que “Ao SENHOR pertence a salvação!”, por si só!

“Bem”, mas alguns dizem, “é o ministro que eles ouvem quem converte os homens.”
Ah, isso é uma grande ideia, com certeza completa! Nenhum homem, senão um tolo a
entretêm! Encontrei-me com um homem há algum tempo atrás que me garantiu que ele sabia
de um ministro que tinha nele uma quantidade muito grande de poder para converter.
Falando de um grande evangelista na América ele disse: “Aquele homem, senhor, tem a
maior quantidade de poder de conversão que eu já vi um homem possuir. E o Sr. Fulano de
Tal, em uma cidade vizinha, eu acho que é o segundo com ele”. Naquela época, este poder
de conversão estava sendo exibido, duzentas pessoas foram convertidas pelo poder de
conversão deste segundo melhor, e se uniram à Igreja em poucos meses. Fui para o lugar
algum tempo depois, ele estava na Inglaterra, e eu disse: “Como é que os seus convertidos
progridem?” “Bem”, disse ele, “Eu não posso dizer muito sobre eles”. “Quantos daqueles 200
que você recebeu há um ano atrás permanecem firmes?” “Bem”, ele disse, “Eu não temo por
muitos deles. Nós já convertemos 70 deles da embriaguez”. “Sim”, eu disse: “Foi o que
pensei, esta é a finalidade da grande experiência de poder para converter!”. Se eu pudesse

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converter todos vocês, qualquer outra pessoa poderia desconvertê-los! O que um homem
pode fazer, outro homem pode desfazer. É somente o que Deus faz que é permanente!

Não, meus irmãos e irmãs, Deus cuidou para que nunca seja dito que a conversão é
do homem, pois geralmente Ele abençoa aqueles que parecem ser os mais improváveis de
serem úteis! Eu não espero ver o maior número de conversões neste lugar como eu tinha há
um ano atrás, quando eu tinha muito menos ouvintes. Você pergunta por quê? Por que, há
um ano atrás eu era injuriado por todos. Pois, mencionar o meu nome era referir o nome do
palhaço mais abominável que já viveu! A mera declaração disto trazia juramentos e
maldições. Com muitos homens, este era um nome de desprezo, chutaram sobre a rua como
uma bola de futebol. Mas então Deus deu-me almas por centenas de pessoas que foram
adicionados à minha Igreja, e em um ano foi a minha felicidade ver pelo menos um mil,
pessoalmente, que então haviam sido convertidos! Eu não espero isso agora. Meu nome
agora é algo apreciado e os grandes da terra não acham nenhuma desonra para ser lançada
aos meus pés. Mas isso me faz temer que o meu Deus me abandonou, agora que o mundo
me estima. Eu preferiria ser desprezado e caluniado do que qualquer outra coisa! Da
assembleia que você considera tão grande e fina, eu prontamente partiria, se por tal perda
eu pudesse ganhar uma maior bênção.

“Deus escolheu as coisas vis deste mundo”. E, portanto, eu acho que quanto mais
estimado eu for, pior é a minha posição; terei muito menos expectativa que Deus me
abençoará. Ele colocou o Seu “tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder
seja de Deus e não do homem”. Um pobre ministro começou a pregar, uma vez, e todo o
mundo falou mal dele, mas Deus o abençoou. Vez após vez eles voltaram e o afagavam. Ele
era o homem, uma maravilha! Deus o deixou! Isso tem ocorrido muitas vezes. Lembremo-
nos, em todos os momentos de popularidade, que: “Crucifica-o, crucifica-o” segue
rapidamente o “Hosana”. A multidão que se porta com fidelidade hoje, pode se transformar
no punhado de amanhã, pois os homens não amam a clareza no falar. Devemos aprender a
ser desprezados, aprender a ser caluniados, e então aprenderemos a ser úteis por Deus! Eu
muitas vezes tenho caído em meus joelhos, com o suor quente que vem da minha testa, sob
alguma calúnia fresca derramada sobre mim. Em uma agonia de dor meu coração tem
estado bem perto de ser quebrado até que finalmente eu aprendi a arte de suportar tudo e
não me preocupar com ninguém! E agora a minha dor corre em outra direção. Que é
exatamente o oposto. Temo que Deus me abandone, para provar que Ele é o autor da
salvação, que não está no pregador, que não está entre a multidão, que não está na atenção
que isso possa atrair, mas em Deus e em Deus somente!

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E isso eu espero conseguir dizer de coração, se for feito semelhante à lama das ruas,
novamente; se for a chacota dos tolos e a canção do bêbado mais uma vez me fará mais útil
ao meu Mestre e mais útil à sua causa, eu preferia isso a toda esta multidão ou a todos os
aplausos que o homem poderiam dar! Orem por mim, queridos amigos, orem por mim, para
que Deus ainda me faça o meio de salvação das almas. Pois eu temo que Ele possa dizer:
“Eu não vou ajudar aquele homem, para que o mundo não diga que ele fez isso”, pois: “Ao
SENHOR pertence a salvação!”, e assim deve ser, até o fim do mundo.

III. E agora: QUAL É — QUAL DEVE SER A INFLUÊNCIA DESSA DOUTRINA


SOBRE OS HOMENS?

Ora, em primeiro lugar, para os pecadores, esta doutrina é um grande aríete contra o
seu orgulho! Vou dar-lhe uma figura. O pecador em seu estado natural, me faz lembrar de
um homem que tem um castelo forte quase impenetrável e próximo para o qual ele fugiu. Há
o fosso exterior. Há um segundo fosso. Há os muros altos e então, depois, há a masmorra
na qual o pecador se refugiará. Agora, o primeiro fosso que gira em torno do lugar de
confiança do pecador são suas boas obras. “Ah”, ele diz: “Eu sou tão bom quanto o meu
vizinho! Vinte xelins por libra, prontamente, o dinheiro exato eu sempre pago. Eu não sou um
pecador. Dou o dízimo da hortelã e do cominho. Eu sou um bom e respeitável senhor, de
fato!” Bem, quando Deus vem a operar nele, para salvá-lo, Ele envia o Seu exército em todo
o primeiro fosso. E, enquanto eles passam por esse, eles gritam: “Ao SENHOR pertence a
salvação!” E o fosso está seco, pois se é do Senhor como ele pode ter boas obras? Mas
quando isso é feito, ele tem um segundo entrincheiramento: as cerimônias. “Bem”, ele diz,
“Eu não confiarei nas minhas boas obras, mas eu fui batizado, fui confirmado, não tomo o
sacramento? esta será a minha confiança!”, “Ao longo do fosso! Ao longo do fosso!”. E os
soldados vão de novo, gritando: “Ao SENHOR pertence a salvação!”. O segundo fosso está
seco, é tudo terminado quanto a isso.

Agora eles vêm para a primeira parede forte. O pecador, olhando para ele, disse: “Eu
posso arrepender-me, eu poderei crer sempre que eu quiser. Eu salvarei a mim mesmo pelo
arrependimento e fé”. Até que venham os soldados de Deus, Seu grande exército da
convicção, e eles derrubam esse muro ao chão, clamando: “Ao SENHOR pertence a
salvação!”. Sua fé e seu arrependimento devem ser todos renunciados, ou então você não
crerá nem se arrependerá do pecado. E agora, o castelo é tomado! As esperanças do homem
são todas cortadas. Ele sente que não é de si mesmo. O castelo do eu é vencido e a grande

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bandeira sobre a qual está escrito: “Ao SENHOR pertence a salvação!”, é exibida sobre as
ameias.

Mas, a batalha ocorre de novo? Ah, não, o pecador se retirou para o calabouço, no
centro do castelo. E agora ele muda suas táticas. “Eu não posso me salvar”, diz ele, “por isso
eu vou me desesperar. A salvação não é para mim”. Agora, este segundo castelo é tão difícil
de tomar quanto o primeiro, pois o pecador se senta e diz: “Eu não posso ser salvo, eu irei
perecer”. Mas Deus ordena aos soldados que tomem o castelo, também clamando: “Ao
SENHOR pertence a salvação!”. Embora a salvação não pertença ao homem, ela pertence
de Deus. “Ele é capaz de salvar perfeitamente”, embora você não possa salvar a si mesmo.
Esta espada, você vê, corta de duas maneiras. Corta a baixo o orgulho, em seguida, corta o
crânio do desespero. Se alguém diz que pode salvar a si mesmo, ela corta ao meio seu
orgulho de uma vez! E se outro homem diz que não pode ser salvo, ela corta e destrói
completamente o seu desespero, pois ela afirma que ele pode ser salvo, visto que: “Ao
SENHOR pertence a salvação!”. Isso é o efeito que esta doutrina tem sobre o pecador; que
ela tenha esse mesmo efeito sobre você!

Mas qual influência isso tem sobre o santo? Ora, esta é a pedra angular de toda a
dignidade. Eu te desafio a ser heterodoxo, se você acredita nesta verdade de Deus! Você
será sadio na fé, se você aprender a soletrar esta frase: “Ao SENHOR pertence a salvação!”.
E se você sentir isso em sua alma, você não se orgulhará. Você não conseguirá ser! Você
lançará tudo aos Seus pés, confessando que você não fez nada, a não ser o que Ele lhe
ajudou a fazer e, portanto, a glória deve ser do mesmo ao qual pertence a salvação. Se você
crer nisso, você não será desconfiado. Você dirá: “Minha salvação não depende de minha
fé, mas do Senhor. Minha preservação não depende de mim mesmo, mas de Deus, que me
guarda. Meu ser levado para o Céu já não repousa em minhas próprias mãos, mas nas mãos
de Deus! Você, quando as dúvidas e temores prevalecerem, cruzará os braços, olhará para
cima e dirá:

“E agora os meus olhos da fé são fracos,


Eu confio em Jesus, afunde ou nade.”

Se você mantiver isso em sua mente, você estará sempre alegre. Não pode ter causa
para perturbar-se aquele que sabe e sente que sua salvação pertence a Deus! Vamos,
legiões do Inferno. Vamos, demônios do abismo!

“Aquele que me ajudou me leva além,


E me faz mais que vencedor, também.”

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A salvação não repousa sobre este pobre braço, senão eu me desesperaria, mas ali no
braço do Onipotente, o braço no qual os pilares dos céus se apoiam! “A quem temerei? O
Senhor é a minha força e a minha vida, de quem me recearei?”

E isso pode, pela graça, encorajar você a trabalhar para Deus. Se você tivesse que
salvar seus vizinhos, você poderia se sentar e não fazer nada. Mas uma vez que “Ao
SENHOR pertence a salvação!”, vá em frente e prospere! Vá e pregue o Evangelho. Vá e
anuncie o Evangelho em todos os lugares. Conte-o em sua casa, anuncie-o na rua, anuncie
em todas as terras e todas as nações, pois isso não é de você mesmo, é “do Senhor.” Por
que os nossos amigos não vão para a Irlanda para pregar o Evangelho? A Irlanda é uma
vergonha para a Igreja Protestante. Por que não ir e pregar lá? Um ano atrás, uma
quantidade de nossos corajosos ministros foi lá para pregar. Eles o fizeram bem bravamente.
Eles foram para lá e voltaram novamente e isto é a soma total da expedição gloriosa contra
o Papado! Mas por que voltaram? Porque eles foram apedrejados! Bons homens
complacentes! Será que eles não pensam que o Evangelho nunca se espalhará sem
algumas pedras? Mas eles poderiam ter morrido! Mártires bravos, eles seriam! Deixe-os
estar matriculados na crônica escarlata! Será que os mártires do passado, que os Apóstolos,
recearam ir para qualquer país, porque eles teriam sido mortos? Não, eles estavam prontos
para morrer! E se meia dúzia de ministros tivessem sido mortos na Irlanda, teria sido a coisa
mais bela do mundo pela liberdade no futuro, pois, depois disso, as pessoas não se
atreveriam a nos tocar! O braço forte da Lei teria lhes abatido. Depois, conseguiríamos
passar por todas as aldeias da Irlanda, e em paz! Os policiais logo poriam fim a tal
assassinato infame! Isto teria despertado o Protestantismo da Inglaterra para reivindicar a
liberdade que é nosso direito; não há, como dar-lhes outro lugar! Nós nunca veremos uma
grande mudança até que tenhamos alguns homens em nossas fileiras que estejam dispostos
a ser mártires! Esse fosso profundo nunca pode ser atravessado até que os corpos de alguns
de nós devam preenchê-lo, e depois disso, será um trabalho fácil pregar o Evangelho ali!

Nossos irmãos deveriam ir lá mais uma vez. Eles podem deixar os seus lenços brancos
em casa e a pena branca também, e sair com um coração valente e um espírito ousado! E
se as pessoas zombarem e escarnecerem, deixe-os a escarnecer e zombar! George
Whitefield disse, quando ele pregou em Kennington Common, onde jogaram gatos mortos e
ovos podres nele, “este é apenas o adubo do Metodismo, a melhor coisa do mundo para
fazê-lo crescer. Joguem tão rápido quanto puderem, por favor!”. E quando uma pedra lhe
cortava a testa, ele parecia pregar melhor por meio de um pequeno derramamento de
sangue. Oh! para tal homem atrever-se diante da multidão, e então, a multidão não precisaria
ser desafiada! Vamos lá, lembrando que, “ao SENHOR pertence a salvação!”, e que em cada

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lugar e em cada momento, preguemos a Palavra de Deus, acreditando que a Palavra de


Deus é mais do que apropriado para o pecado do homem e que Deus ainda será Mestre
sobre toda a terra!

Minha voz falha novamente e meus pensamentos, também. Eu estava cansado nesta
manhã quando eu vim a este púlpito e eu estou cansado agora. Às vezes eu estou alegre e
feliz e me sinto no púlpito como se eu pudesse pregar para sempre. Em outros momentos,
eu me sinto feliz em encerrar. Mas ainda com tal texto, eu gostaria de poder ter acabado com
toda a força que os lábios mortais conseguissem reunir. Oh! que os homens soubessem
disso, que a salvação pertence a Deus! Pérfido, não jure contra Ele, em cuja mão está a tua
vida! Desprezador, não despreze Aquele que pode salvá-lo ou destruí-lo! E você hipócrita,
não procure enganar Aquele, de quem a salvação vem e que, portanto, sabe muito bem se
a sua salvação veio dEle!

IV. E agora, no final, deixe-me dizer O QUE É O CONTRÁRIO DESTA VERDADE. A


salvação pertence a Deus, então a condenação pertence ao homem! Se algum de vocês
será condenado, você não terá ninguém para culpar além de si mesmo. Se algum de vocês
morrer, a culpa não será colocada à porta de Deus. Se você está perdido e lançado fora,
você terá que arcar com todas as culpas e todas os tormentos da consciência, sozinho; você
estará para sempre no inferno e refletirá: “Eu me destruí. Eu cometi o suicídio de minha
própria alma. Eu fui meu próprio destruidor. Eu não posso colocar nenhuma culpa em Deus”.
Lembre-se, se salvo, você deve ser salvo por Deus, somente, mas se perdido você perdeu
a si mesmo, por si só. “Convertei-vos, tornai-vos, por que morrereis, ó casa de Israel?” Como
minha última frase vacilante eu ordeno que você pare e pense. Ah, meus ouvintes! Meus
ouvintes! É uma coisa horrível pregar a tal massa como esta. Mas o outro Domingo, quando
eu desci as escadas, fiquei impressionado com uma frase memorável, proferida por alguém
que estava ali. Ele disse: “Há 8.000 pessoas, nesta manhã, sem desculpa no dia do juízo”.
Gostaria de pregar de modo que isto sempre pudesse ser dito! E se eu não consigo, oh, que
Deus tenha misericórdia de mim por amor do Seu Nome!

Mas agora lembre-se! Você tem alma! Essa alma será condenada ou salva! O que
será? Maldita para sempre ela será a menos que Deus o salve, a menos que Cristo tenha
misericórdia de você, não há esperança para você! Caia de joelhos! Clame a Deus por
misericórdia! Agora, levante o seu coração em oração a Deus. Pode ser agora o momento
em que você será salvo! Antes que a próxima gota de sangue corra em suas veias, você
pode encontrar a paz! Lembre-se, que a paz deve ser obtida AGORA. Se você sente agora

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a sua necessidade de paz, ela deve ser obtida agora! E como? Por meio de uma simples
solicitação a Ele! “Pedi e vos será dado, procurai e achareis”.

“Mas se os seus ouvidos recusam


A linguagem da Sua graça,
Seus corações crescem duros, como Judeus teimosos,
Nessa corrida descrente;
O Senhor com vingança Se vestiu,
Deverá levantar a mão e jurar,
‘Você que desprezam Meu repouso prometido
Não terão parte lá’.”

Oh! que vocês não sejam desprezadores, para que vocês não se “assombrem e
pereçam!” Agora, que vocês possam correr para Cristo e serem aceitos no Amado. É a minha
última e melhor oração. Que o Senhor possa ouvi-la! Amém.

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A2
A Gloriosa Predestinação
(Sermão Nº 1043)

Pregado na manhã do Dia do Senhor, 24 de março de 1872.


Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à


imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
(Romanos 8:29)

Você deve ter notado que, neste capítulo, Paulo havia exposto uma profunda
experiência espiritual interior. Ele escreveu sobre o espírito de escravidão e o espírito de
adoção, as fraquezas da carne e a ajuda do Espírito Santo. Ele escreve sobre a espera pela
redenção do corpo e os gemidos inexprimíveis. Era muito natural, portanto, que uma
profunda experiência espiritual deveria levá-lo a uma percepção clara das Doutrinas da
Graça, pois tal experiência é uma escola em que só as grandes verdades de Deus são
efetivamente aprendidas. A falta de profundidade na vida interior representa a maior parte
do erro doutrinário na Igreja.

Som de convicção do pecado, profunda humilhação por causa dele e uma sensação de
completa fraqueza e indignidade naturalmente conduzem a mente à crença nas Doutrinas
da Graça; enquanto superficialidade nessas questões deixa um homem contente com um
credo superficial. Esses ensinamentos, que são comumente chamados de doutrinas
Calvinistas são geralmente mais amados e melhor recebidos por aqueles que tiveram muitos
conflitos da alma e por isso aprenderam a força da corrupção e da necessidade de graça.

Observe, também que Paulo neste capítulo estava tratando dos sofrimentos do tempo
presente e embora, por fé, ele fale deles como muito insignificantes em comparação com a
glória que há de ser revelada, contudo, sabemos que eles não eram pequenos em seu caso.

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Ele era um homem de muitas provações. Ele passou de uma tribulação para outra, por causa
de Cristo. Ele nadou por muitos mares de aflição para servir à Igreja. Não me admira,
portanto, que em suas epístolas ele sempre discorre sobre as doutrinas da presciência,
predestinação e amor eterno, porque estes são um rico tônico para um espírito desfalecido.
Para estar animado em muitas coisas que de outra forma o deprimiriam, o crente pode valer-
se dos mistérios incomparáveis da graça de Deus que são vinhos puros, bem purificados!

Sustentado pela graça distintiva um homem aprende a gloriar-se nas tribulações, e


fortalecido no amor eletivo, ele desafia o ódio do mundo e as provações da vida. O sofrimento
é a escola da ortodoxia. Amiúde um Jonas que rejeita as Doutrinas da Graça de Deus só
precisa ser colocado na barriga do grande peixe para que ele venha a clamar como o mais
firme defensor da livre graça: “Ao SENHOR pertence a salvação!” (Jonas 2:9, ARA).
Professos prósperos que não fazem nenhum negócio entre as ondas e vagas de Davi podem
depositar um pequeno estoque pela ancoragem abençoada do propósito eterno e amor
eterno, mas aqueles que estão arrojados com a tormenta e desconsolados são de outra
mente. Deixe estas poucas sentenças bastarem para um prefácio. Eu não as proferi no
espírito de controvérsia, mas o contrário.

O nosso texto começa com a expressão: “os que dantes conheceu também os
predestinou”, e muitos sentidos foram dados para esta palavra: “dantes conheceu”, embora,
neste caso, um louva a si mesmo mais do que qualquer outro. Alguns têm pensado que isso
significa simplesmente que Deus predestinou homens cuja história futura de antemão
conheceu. O texto diante de nós não pode ser assim entendido, porque o Senhor conhece o
histórico de cada homem, anjo e diabo. Por mera presciência cada homem é conhecido de
antemão e ainda ninguém afirmará que todos os homens são predestinados a serem
conforme à imagem do Senhor Jesus.

Mas é ainda afirmado que o Senhor previu que exerceriam arrependimento, quem
creriam em Jesus, e que perseverariam em uma vida coerente até o fim. Isto é facilmente
concedido, mas um leitor deve usar lentes de aumento muito poderosas antes que ele seja
capaz de descobrir o sentido no texto! Ao olhar atentamente para a minha Bíblia, novamente,
eu não percebo tal declaração. Onde estão as palavras que você adicionou “os que dantes
conheceu arrepender-se, crer e perseverar na graça?”. Eu não as encontro nem na versão
em Inglês nem no original em Grego. Se eu pudesse lê-los assim, a passagem certamente
seria muito fácil e alteraria grandemente as minhas opiniões doutrinárias! Mas, como eu não
encontro essas palavras lá, implorando seu perdão, eu não acredito nelas.

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Todavia, não importa quão sábia e aconselhável uma interpolação humana possa ser,
ela não tem autoridade conosco, nós nos curvamos à Sagrada Escritura, e não ao que os
lustrosos teólogos podem optar por colocar sobre ela. Nenhum indício é dado no texto de
virtude prevista mais do que de pecado previsto, e, portanto, somos levados a encontrar um
outro significado para a palavra. Nós entendemos que a palavra “conhecer” é frequentemente
usada nas Escrituras, não apenas como “conhecimento”, mas também para favor, amor e
complacência. Nosso Senhor Jesus Cristo dirá, no julgamento, concernente a determinadas
pessoas: “Eu nunca vos conheci” [Mateus 7:23], mas isso não significa que Ele não os
conhecia, pois Ele conhece cada homem! Ele conhece os maus, assim como os justos. O
significado desta passagem é: “Nunca vos conheci de modo a sentir qualquer complacência
em você ou qualquer favor para contigo”. Veja também João 10:14-15 e 2 Timóteo 2:19. Em
Romanos 11:2, lemos: “Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu”, onde o sentido,
evidentemente, tem a ideia de primeiro amor, e é por isso deve ser entendido aqui. Aqueles
a quem o Senhor olhou com favor como Ele os previu, Ele predestinou para serem conformes
à imagem de Seu Filho. Eles são, como Paulo coloca em sua carta aos Efésios:
“predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho
da sua vontade” [Efésios 1:11].

Estou ansioso não para me demorar sobre assuntos controversos, mas para alcançar
o tema do meu sermão desta manhã. Aqui temos, de acordo com o texto, que a nossa
conformidade com Cristo é o objetivo da predestinação. Temos, por outro, a predestinação
como a força impulsora pela qual esta conformidade será alcançada. E temos, em terceiro
lugar, o Primogênito diante de nós como o fim último da predestinação e da conformidade:
“a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.

I. Observe então, com cuidado, que NOSSA CONFORMIDADE A CRISTO É O


OBJETIVO SAGRADO DA PREDESTINAÇÃO. A predestinação em si mesma não vou
sondar agora. As coisas mais profundas devem ser deixadas com Deus. Penso que foi Bispo
Hall, que uma vez disse: “Dou graças a Deus, pelo fato de que, eu não sou de Seu conselho,
mas sou de Sua corte”. Se eu não consigo entender, eu não vou questionar, porque não sou
Seu conselheiro, contudo vou adorar e obedecer, porque eu sou, por Sua graça, Seu servo.

Ora, hoje, vendo que estamos aqui para ensinar o objetivo de Sua predestinação, será
o nosso labor bendizer a Deus por Ele ter estabelecido tal objetivo, e oramos para que
sejamos participantes no mesmo. Aqui está o caso. O homem foi originalmente criado à
imagem de Deus, mas por causa do pecado essa imagem foi desfigurada e agora, nós

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nascemos neste mundo trazendo, não a imagem celestial de Deus, mas na imagem terrena
do Adão caído. “Nós trouxemos”, diz o Apóstolo, na primeira Epístola aos Coríntios, “a
imagem do terreno” [1 Coríntios 15:49].

O Senhor, em infinita graça, decidiu que uma multidão a qual nenhum homem não pode
contar, chamada aqui de “muitos irmãos”, deve ser restaurada à imagem e forma particular
que o Seu Filho Eterno exibe. Para isso Jesus Cristo veio ao mundo e nasceu à nossa
imagem, para que, através de Sua graça, possamos ter Sua imagem. Ele se tornou um
participante das nossas fraquezas e enfermidades para que possamos ser participantes da
natureza Divina em toda a sua excelência e pureza. Portanto, a única coisa a que o Senhor
está trabalhando em nós através do Seu Espírito, tanto pela providência quanto pela graça,
é a semelhança do Senhor do Céu. Ele está cada vez mais transformando o eleito, para
remover sua contaminação do pecado e moldá-lo segundo o modelo perfeito de Seu Filho,
Jesus Cristo — o segundo Adão, que é o primogênito entre os “muitos irmãos” [Veja 1
Coríntios 15:45-49].

Agora, observe que esta conformidade com Cristo encontra-se em vários aspectos:

Em primeiro lugar, devemos ser conformados a Ele em nossa natureza. Qual era a
natureza de Cristo, então, como Divino? Não devemos nos intrometer nisto, mas sabemos
que Ele era, na verdade, da natureza de Deus. “Gerado, não criado”, diz o Credo de Atanásio,
e ele, em verdade, também diz: “de uma só substância com o Pai”. Ora, nós também, ainda
que em nossa conversão sejamos feitos novas criaturas, somos também descritos como
sendo: “gerados de novo para uma viva esperança” [1 Pedro 1:3]. Pois ser gerado é algo
mais do que ser feito — este é um trabalho mais pessoal de Deus — e o que é gerado está
em mais proximamente ligado a Deus do que alguém que apenas é criado. Assim como
Cristo estava, como o Unigênito do Pai, muito acima das meras criaturas, assim também o
ser gerado de Deus, no nosso caso, significa muito mais do que até mesmo a primeira e
perfeita criação poderia implicar.

A humanidade nosso bendito Senhor, quando Ele veio a este mundo, passou por um
parto que era um tipo notável do nosso segundo nascimento. Ele nasceu para este mundo
em um lugar muito humilde, em meio a bois e na manjedoura. Mas Ele não careceu nem das
canções dos anjos nem da adoração das hostes celestiais! Contudo, nós também nascemos
do Espírito, sem a observação humana, homens deste mundo não viam nenhuma glória em
nossa regeneração, pois não foi realizada por rituais místicos ou com pompa sacerdotal. O
Espírito de Deus nos encontrou em nossa humilhação, e vivificou-nos sem pompa exterior.
No entanto, nesse mesmo momento, em que os olhos humanos não viram nada, os olhos

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seráficos contemplaram as maravilhas da graça, e anjos no Céu se regozijaram por um


pecador que se arrependeu, cantando mais uma vez: “Glória a Deus nas alturas!”.

Quando nosso Senhor nasceu, alguns espíritos escolhidos saudaram o Seu


nascimento. Uma Ana e um Simeão estavam prontos para tomar a criança recém-nascida
em seus braços e bendizer a Deus por ela. E da mesma forma, havia alguns que saudaram
nosso novo nascimento com muita gratidão. Amigos e simpatizantes que assistiram à nossa
salvação se alegraram quando viram em nós a verdadeira vida celestial, e de bom grado eles
nos levaram para os braços da edificação dos crentes! Talvez, também, havia alguém que
teve dores de parto, até que Cristo, a esperança da glória, fosse formado em nós; e quão
feliz foi quando o Espírito nos fez ver que nascemos de Deus! Como o nosso pai espiritual
ponderou cada palavra gentil que pronunciamos em agradecimento a Deus pelos bons sinais
da graça que poderiam ser encontrados em nossa conversação!

Então, também, um pior do que Herodes procurou matar-nos. Satanás estava ansioso
que a criança recém-nascida da graça fosse condenada à morte, e, portanto, enviou ferozes
tentações para nos matar. Mas o Senhor encontrou um abrigo para a nossa vida espiritual
infantil e preservou a criancinha viva. Em nós a viva e incorruptível semente habitou e
cresceu. Muitos de vocês que nasceram de novo e se tornaram conformes à imagem de
Cristo por causa de seu novo nascimento, e agora vocês são participantes de Sua natureza.
Não é possível para nós sermos Divinos, mas está escrito que somos feitos “participantes
da natureza divina” [2 Pedro 1:4]. Nós não podemos ser exatamente como Deus é, contudo,
assim como trouxemos a imagem do terreno assim também traremos a imagem do celestial,
seja o que essa imagem possa ser.

No novo nascimento nos confere a imagem de Cristo assim como o nosso primeiro
nascimento nos marcou com uma semelhança com os nossos pais segundo a carne. Nosso
primeiro nascimento nos deu a humanidade, nosso segundo nascimento nos aliançou com
a Divindade. À medida que fomos concebidos em pecado, no primeiro, e formados em
iniquidade, no entanto, na regeneração nosso novo homem se renova para o pleno
conhecimento, segundo a imagem dAquele que nos criou. Aquele que santifica e os que são
santificados, vêm todos de um mesmo, por cuja causa Ele não se envergonha de chamar-
lhes irmãos. Além disso, essa conformidade com Cristo encontra-se em relacionamento
assim como na natureza. Nosso Senhor é o Filho do Altíssimo, o Filho de Deus! E, na
verdade, amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos
de ser, mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O
veremos como Ele é.

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Yahwéh declarou que Ele será um Pai para nós e que nós seremos Seus filhos e filhas.
Tão certo como Jesus é um Filho, assim certamente nós seremos, pois o mesmo Espírito dá
testemunho de ambos, como está escrito: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos
corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” [Gálatas 4:6]. Quando Jesus veio ao
mundo como o Filho de Deus, Ele não ficou sem provas atestadas. Em Sua primeira aparição
pública, quando Ele veio para as águas do Batismo, foi assinalado por uma voz excelente
que veio da glória, que dizia: “Este é meu Filho amado” e descendo o Espírito, como uma
pomba, pousou sobre Ele.

Assim é também conosco. A voz de Deus na Palavra testemunhou a nós o amor de


nosso Pai celestial, e o Espírito Santo deu testemunho com o nosso espírito que somos filhos
de Deus. Quando pela primeira vez nós ousamos vir a público e dizer: “nós estamos do lado
do Senhor”, alguns de nós tiveram símbolos sagrados de filiação que nunca foram
esquecidos por nós. E muitas vezes, desde então, temos recebido selos renovados de nossa
adoção do Grande Pai de nossos espíritos. “Aquele que crê no Filho tem em si o
testemunho”, de modo que ele pode, com seus irmãos, dizer claramente: “sabemos que já
passamos da morte para a vida” [1 João 3:14].

Deus nos deu a plena certeza e testemunho infalível, e em tudo isso nos alegramos.
Nós acreditamos em Jesus, e está escrito: “A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” [João 1:12]. Nosso Senhor foi
declarado ser o Filho de Deus pelas ações que Ele realizou, tanto para com Deus e para
com o homem. A medida que o Filho serviu Seu Pai — você pode ver a natureza de Deus
nEle — em Sua profunda simpatia para com Deus e em Sua imitação exata de Deus. Tudo
o que Deus teria feito sob as circunstâncias, Jesus fez. Você percebe de uma vez, por Seus
feitos, que Sua natureza era Divina. Suas obras deram testemunho dEle. Era sempre
evidente que Ele agia para com Deus como um filho para com um pai.

Agora na proporção em que a determinação de Deus foi realizada em nós, agimos em


relação a Deus como filhos para um pai amoroso. E enquanto os filhos das trevas falam de
si próprios, e como seu pai, que é um mentiroso, falam a mentira; e como seu pai, que é um
assassino, agem com ira e amargura. Contudo os filhos de Deus falam a verdade, pois Deus
é a verdade. E eles são cheios de amor, pois Deus é amor. E sua vida é luz, pois o seu Deus
é luz. Eles sentem que eles devem agir, nas circunstâncias em que são colocados, como
eles supõem que Jesus teria agido, que é o sempre bendito Filho do Pai.

Além disso, Cristo operou milagres de misericórdia para com os homens que provaram
ser Ele o Filho de Deus. É verdade que podemos não operar milagres, mas nós podemos

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fazer obras que caracterizam os filhos de Deus. Nós não podemos partir o pão e multiplicá-
lo. Podemos, no entanto, generosamente distribuir o que temos e assim, em alimentar os
famintos, provaremos que somos filhos de nosso Pai que está nos céus. Nós não podemos
curar o doente com nosso toque, contudo, podemos cuidar dos doentes e assim, em amor
para com o sofrimento nós podemos provar que somos filhos do terno e sempre compassivo
Deus.

Mas o nosso Senhor nos disse que obras maiores do que as Suas próprias faremos
porque Ele se foi para Seu Pai, e essas maiores obras nós fazemos. Nós podemos fazer
milagres espirituais. Hoje, não podemos ir ao túmulo do pecador morto, e dizer: “Lázaro, vem
para fora”? E não tornou Deus muitas vezes os mortos a ressuscitá-los pela nossa palavra,
pelo poder do Seu Espírito? Hoje, também, nós podemos pregar o Evangelho de Jesus
Cristo, lançando-o sobre nós como se fosse a nossa capa, e aquele que toca a orla do
mesmo, não deverá ele também ser curado hoje, como quando Jesus estava entre os
homens? Este dia, se não partimos peixes e pães de cevada, trazemos-lhe melhor comida!
Este dia, se não podemos dar aos homens a abertura dos olhos e os ouvidos, ainda no
ensino do Evangelho de Jesus, pelo poder do Espírito, o olho mental é clareado e ouvido da
alma também é purgado, de modo que em cada filho de Deus, na proporção em que ele
trabalha com o poder do Espírito para Cristo, as obras que ele faz dão testemunho de que
ele é um filho de Deus! Seu zelo em fazê-las prova que ele tem o espírito de um filho de
Deus. E o resultado dessas obras prova que Deus opera nele como Ele nunca operar em
alguém, senão em Seus próprios filhos. Portanto, em relação, à natureza, nós somos
conformes à imagem de Cristo!

Em terceiro lugar, devemos ser conformes à imagem de Cristo em nossa experiência.


Esta é a parte do assunto a partir do qual o nosso espírito covarde muitas vezes recua, mas
se fôssemos sábios, não seria assim. Qual foi a experiência de Cristo neste mundo? tal será
a nossa! Podemos resumir como se referindo a Deus, aos homens, ao Diabo, e a todos os
males.

Sua experiência no que diz respeito a Deus, o que foi isso? “Ainda que era Filho,
aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” [Hebreus 5:8]. Embora sem pecado, Ele
não esteve sem sofrimento. O primogênito da família Divina esteve mais severamente
castigado do que qualquer outro da casa. Ele foi ferido de Deus e oprimido até que, como o
clímax de tudo, Ele clamou Eloi, Eloi, lama sabactâni? Oh! a amargura daquele grito: “Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?” [Marcos 15:34]. Isto foi o Pai esmagando o
Primogênito! E, se você e eu, irmãos e irmãs, devemos ser conformes à imagem do

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Primogênito, embora possamos esperar de Deus amor mui paternal, também podemos
contar que Ele mostrará Sua disciplina paterna. Se vocês estiverem sem disciplina, da qual
todos são feitos participantes, são então bastardos, e não filhos! Mas, se vocês são
verdadeiros filhos, como o Primogênito, a vara fará vocês inteligente e às vezes você vai ter
que dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, “Porque o Senhor corrige o
que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata
como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?” [Hebreus 12:6-7]. Se estamos
predestinados para sermos conformes à imagem de Seu Filho, o Senhor nos predestinou
para muitas tribulações, e, através delas herdaremos o Reino!

Vejamos agora nossa querida Cabeça Pactual em Sua experiência em relação aos
homens. “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” [João 1:11]. “Era desprezado,
e o mais rejeitado entre os homens” [Isaías 53:3]. Ele disse: “Afrontas me quebrantaram o
coração, e estou fraquíssimo” [Salmos 69:20]. Agora, os irmãos, na própria proporção em
que estamos conformes à imagem de Cristo, teremos de “sair, pois, a ele fora do arraial,
levando o nosso vitupério” [Hebreus 13:13]. O discípulo, se é verdadeiro não está acima do
seu mestre, nem o servo acima do seu Senhor. Se chamaram o dono da casa Belzebu, muito
mais eles chamarão os de Sua casa por algum título ainda mais infame se eles puderem
inventar. Os santos de Deus não devem esperar coroas onde Cristo encontrou uma cruz!
Eles não devem achar que andarão em triunfo por aquelas ruas, que viram o Salvador
apressado para a morte de um malfeitor. Devemos sofrer com Ele, se quisermos ser
glorificados com Ele. A comunhão em Seus sofrimentos é necessária para a comunhão em
Sua glória.

Em seguida, considere a experiência de nosso Senhor no que diz respeito ao príncipe


das potestades do ar. Satanás não era amigo de Cristo, mas encontrando-O no deserto, ele
veio a Ele com esse maldito “se”: “Se você é o Filho de Deus” [Lucas 4:3]. Com que ataque
à Sua filiação o demônio começou a batalha. “Se você é o Filho de Deus”. Você sabe como
três vezes ele atacou-o com as tentações que são mais susceptíveis para poder atrair a
pobre humanidade, mas Jesus venceu todos elas. O arqui-inimigo, o velho dragão, sempre
foi mordiscando o calcanhar do nosso grande Miguel, que para sempre esmagou sua cabeça.
Estamos predestinados a sermos conforme a Cristo a esse respeito — a sutileza e crueldade
da serpente nos atacarão, também — uma cabeça tentada envolve membros tentados.

Satanás deseja ter-nos e peneirar-nos como trigo. Ele atacou o Pastor e ele nunca
deixará de se preocupar com as ovelhas. Na medida em que somos da descendência da
mulher, deve haver inimizade entre nós e a semente da serpente. E, contra o mal, toda a

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vida de nosso Senhor foi uma batalha perpétua. Ele estava lutando contra o mal em lugares
altos e em baixo; o mal entre os sacerdotes e entre as pessoas; o mal da religiosidade, no
farisaísmo e o mal vestido de filosofia entre os saduceus. Ele lutou em todos os lugares. Ele
era o inimigo de tudo o que havia de errado, falso, egoísta, profano ou impuro. E você e eu
devemos ser conformados com Cristo a este respeito. Devemos ser santos, inocentes,
incontaminados e separados dos pecadores. Vós sois de Deus, filhinhos, e o mundo inteiro
jaz no maligno.

Em quarto lugar. Devemos ser conformes a Cristo Jesus em Seu caráter. Tempo e
habilidade igualmente não nos deixam falar disso. Eu só oro para que o Espírito de Deus
possa fazer nossas vidas falarem a este respeito. Ele foi consagrado a Deus, assim devemos
ser. O zelo da casa de Deus o consumiu, por isso deve nos consumir também. Ele entrou na
casa de Seu Pai, por isso devemos sempre estar ocupados. Em relação ao homem, Ele era
todo amor, façamos o mesmo. Ele era gentil, amável e terno, e como Ele foi, devemos ser
neste mundo. Ele não quebrou a cana quebrada, nem apagou o pavio que fumegava, nem
nós deveríamos. No entanto, Ele foi severo na denúncia de todos os males, assim devemos
ser. Pureza, santidade, altruísmo, todas as virtudes devem brilhar em nós como elas
brilhavam nEle. Ah, e bendito seja o Deus que elas também brilharão pela obra do Espírito!

Nosso texto fala não só do que deveríamos ser, mas o que havemos de ser, por que
estamos predestinados a ser conformes à imagem do Filho de Deus! Meus irmãos e irmãs,
este é um modelo glorioso! Eis que maravilho-me nele! E graças a Deus por isso! Você não
deve conformar-se com o mais poderoso dos apóstolos, um dia você será mais puro do que
foram Paulo ou João, enquanto aqui em baixo! Você não será conformado com o mais
sublime dos profetas, vocês serão como Mestre dos profetas! Você não deve se contentar
com a sua própria concepção do que é belo e encantador, a concepção perfeita de Deus
encarnado em Seu próprio Filho é ao que você certamente será trazido pela predestinação
de Deus!

Apenas mais uma sentença sobre outro ponto. Devemos ser conformes a imagem de
Seu Filho, em quinto lugar, quanto à nossa herança, pois Ele é herdeiro de todas as coisas,
e porque somos menos herdeiros, uma vez que todas as coisas são nossas? Ele é herdeiro
deste mundo. “Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste
debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves
dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares” [Salmos 8:6-8].
Nós não vemos, ainda, todas as coisas postas sob o homem, mas vemos Jesus que fora
feito um pouco menor que os anjos pelo sofrimento da morte, foi coroado de glória e honra!

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E na Pessoa de Jesus Cristo neste dia, nós, os homens feitos à Sua imagem, teremos
domínio sobre todas as coisas, sendo todos feitos reis e sacerdotes para Deus, e em Cristo
Jesus seremos ordenados a reinar com Ele para todo o sempre! “Se nós somos filhos, somos
logo herdeiros também” [Romanos 8:17], diz o apóstolo. Portanto, tudo o que Cristo tem, nós
temos, e embora possamos ser muito pobres e desconhecidos, no entanto, tudo o que
pertence a Cristo pertence a nós. “O melhor de toda a terra do Egito será vosso”, disse José
a seus irmãos. E Jesus diz isso para todo o Seu povo: “Tudo é vosso, porque sois de Cristo,
e Cristo é de Deus” [1 Coríntios 3:23].

Devo concluir este ponto, o tempo passou rápido demais nesta manhã quando me
estendi sobre este tema deleitoso, observando que devemos ser conformados com Cristo na
Sua glória. Vamos pensar em nossos corpos, por que é um ponto cercado de consolo, uma
vez que Ele transformará o nosso corpo abatido e a o fará semelhante ao Seu corpo glorioso!
Nós somos como Adão, agora, na fraqueza e dor, e seremos em breve como ele na morte,
retornaremos ao pó de onde fomos tirados. Mas ressuscitaremos para uma vida melhor! E
então nos vestiremos de glória e incorrupção à imagem do segundo Adão, o Senhor do Céu!

Conceba as belezas do Redentor ressuscitado! Deixe sua fé e sua imaginação


operarem juntas para retratarem as glórias indizíveis do Emanuel, Deus conosco, como Ele
está sentado à direita do Pai! Tal e tão brilhante serão as nossas glórias no dia da redenção
do corpo! Vamos contemplar a Sua glória! Vamos estar com Ele onde Ele está, e nós
seremos, nós mesmos, gloriosos em Sua glória! Ele está exaltado? Você também deverá ser
exaltado! Ele é o Rei? Você não estará descoroado! Ele é um vencedor? Você também terá
uma palma! Ele é cheio de alegria e regozijo? Assim também, sua alma transbordará com
delícias! Onde Ele está, cada santo estará por longos tempos!

Desta maneira, em grande medida, o sagrado fim da predestinação.

II. Agora, observe que a PREDESTINAÇÃO É A FORÇA IMPULSORA PARA ESTA


CONFORMIDADE. Esta verdade de Deus se divide assim: É a vontade de Deus que nos
conforma à imagem de Cristo, em vez de nossa própria vontade. É nossa vontade agora,
mas era a vontade de Deus quando não era a nossa vontade, e isso só se tornou de acordo
a nossa vontade quando estas se converteram, porque a graça de Deus nos fez dispostos
voluntariamente no dia do Seu poder. Nós não podemos ser feitos como Cristo a contragosto,
o consentimento da vontade é essencial para a semelhança com Cristo! Recusar-se à
obediência seria desobediência. Naturalmente, nunca faremos o bem sem Deus, mas Deus

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opera em nós o querer e o efetuar. Deus nos trata como homens responsáveis e inteligentes,
e não como pedra ou metal. Ele nos fez agentes livres e Ele nos trata como tal. Estamos
dispostos agora a sermos conformados à imagem de Jesus. Sim, estamos mais do que
dispostos, estamos ansiosos e desejosos por isso! Mas, contudo, a força motriz principal e
primeira não estava em nossa vontade, mas na vontade de Deus, e hoje a força imutável
que é melhor para ser dependente não está em nossa inconstante, débil vontade, mas na
vontade imutável e onipotente de Deus. A força que está nos conformando a Cristo é a
vontade de Deus na predestinação!

E assim também, é antes uma obra de Deus do que nossa obra. Estamos trabalhando
com Deus na questão de nos tornarmos semelhantes a Cristo. Não devemos ser passivos
como a madeira ou mármore, devemos estar sempre em oração, vigilante, fervorosos,
diligentes, obedientes, sinceros e crendo, mas ainda assim a obra é de Deus. A santificação
é a obra do Senhor em nós. “Tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” [Isaías
26:12]. Desde o início, e agora, e até o fim: “Aquele que tem trabalhado em nos a mesma
coisa é Deus, que também nos deu o penhor do Espírito”. Não há santidade em nós como
que originado em nós mesmos. Não há coisa boa em nós de nossa própria feitura. “Toda a
boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto” [Tiago 1:17]. “Não a nós, SENHOR, não a nós,
mas ao teu nome dá glória” [Salmos 115:1].

Entretanto, a verdade é que somos agentes livres, mas o Senhor é o Oleiro, nós somos
o barro sobre a roda, e é Sua obra, e não a nossa, que nos torna semelhantes a Cristo. Se
existir um contato do nosso dedo em qualquer parte sobre o recipiente, este contato estraga,
e não embeleza. É só onde a mão de Deus esteve que o vaso começa a assumir a forma do
modelo. Assim, amados, toda a glória deve ser dada Deus não a nós. É uma grande honra
para qualquer homem ser semelhante a Cristo, Deus não tem a intenção de que Seus filhos
não devam ter nenhuma honra, pois Ele coloca honra sobre Seu próprio povo. Mas, a
verdadeira glória está com Ele, pois Ele nos fez e não a nós mesmos. Não podemos dizer,
nesta manhã, com o coração agradecido: “Pela graça de Deus sou o que eu sou”? E nós não
sentimos que vamos colocar todas as nossas honras sejam elas quais forem, aos Seus
queridos pés que, de acordo com a Sua grande misericórdia, nos predestinou para sermos
conformes à imagem de Seu Filho?

III. Agora eu devo ir para o terceiro ponto com brevidade. Ele docemente transparece
que o FIM ÚLTIMO DE TUDO ISSO É CRISTO. “Predestinados para sermos conformes à
imagem de seu Filho, para que Ele”. “Ele”, Deus está sempre dirigindo em algo para Ele, Seu

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Filho bem-amado. Ele visa a sua própria glória na glória de Seu Filho amado. Embora, Ele
nos abençoe, o texto do último domingo, ainda é verdade: “Por amor de mim, por amor de
mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a
outrem” [Isaías 48:11]. É por causa de um superior, Alguém melhor do que nós, é “para que
Ele seja o primogênito”.

Agora, se eu entendi a passagem que está diante de nós, esta significa que: Em
primeiro lugar, Deus nos predestina para sermos como Jesus para que Seu Filho amado
possa ser o primeiro de uma nova ordem de seres elevados acima de todas as outras
criaturas, e mais próximos de Deus do que quaisquer outras existências. Ele era o Senhor
dos anjos, serafins e querubins que obedeciam seus decretos. Mas o Filho desejava estar
na cabeça de uma raça de seres maiores mais próximos a Ele do que quaisquer espíritos
existentes. Não havia nenhum parentesco entre o Senhor Jesus e os anjos, pois a qual dos
anjos o Pai disse a qualquer momento: “Tu és meu Filho?” [Hebreus 1:5]. Eles são, por
natureza, servos, e Ele é o Filho, esta é uma grande distinção. O Filho Eterno desejou
associação com os seres que deveriam ser filhos como Ele era, no sentido de que Ele poderia
estar em uma relação estreita como sendo para eles na natureza e filiação.

E o Pai, por isso, ordenou que uma semente de quem Ele escolheu que deveria ser
conforme à imagem do Filho, que Seu Filho pudesse ser cabeça e ser o primeiro entre uma
ordem de seres mais próximos de Deus do que qualquer outra. A serpente disse a Eva:
“Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis
como Deus, sabendo o bem e o mal” [Gênesis 3:5]. Essa mentira, tinha nela, algo de
verdadeiro, pois pela graça soberana nos tornamos tal. Não houve criaturas obedientes do
mundo desse tipo, conhecendo o bem e o mal, nos dias de glória do Éden. Os anjos do Céu
tinham conhecido o bem, e somente o bem, e preservados pela graça não caíram. O espírito
maligno tinha caído, e ele conhecia o mal, mas ele tinha esquecido do bem e era incapaz de
alguma vez escolhê-lo novamente. Ele agora está para sempre banido da esperança de
restauração. Mas aqui estamos nós que conhecemos o bem e o mal! Nós conhecemos tanto
um quanto o outro. E agora está gerada em nós uma natureza que ama a santidade e não
pode pecar, porque é nascida de Deus, no tornamos agentes livres, sim, nós somos mais
livres do que jamais fomos. E ainda nesta vida, e na vida por vir, nosso caminho é como o
dos justos que brilha mais e mais até ser dia perfeito! Os anjos não conhecem o mal. Eles
nunca tiveram que lutar com o mal conhecido e sentido interiormente. Eles ainda não
experimentaram os caminhos do prazer pecaminoso. E, pela graça que eles são
transformados a partir deles, de modo com pleno propósito de coração eles se apegarão à
santidade para sempre.

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Jesus agora prossegue em uma corrida assediada, mas vitoriosa, extremamente


tentado, mas capacitado a superar! Com júbilo e alegremente para sempre deverá ser o
nosso prazer em fazer a vontade do Pai. Para sempre com Cristo, à nossa frente, estaremos
muito próximos do trono eterno, os mais achegados dos servos, porque também filhos, os
mais firmemente inclinados para o bem, porque uma vez conhecemos a amargura do mal!
Embora Cristo tenha tido que beber o cálice de sofrimento pelo pecado, nós também
tomamos um gole dele. Nós conhecemos o horror causado pela culpa e, portanto, no futuro
seremos por toda a eternidade uma raça mais nobre, mais livre para servir, e servindo a
Deus de certo modo mais nobremente do que qualquer outra criatura no universo! Suponho
que este é o significado do texto: que o Senhor quer que Cristo seja o primeiro de uma ordem
mais nobre de seres.

Mas, em segundo lugar, o objetivo da graça é que haja alguém no Céu com quem Cristo
possa manter uma conversa fraternal. Observe a expressão, “muitos irmãos”, não que Ele
seja o primogênito entre muitos, mas entre os “muitos irmãos”, que devem ser como Ele.
Nosso bendito Senhor se deleita na comunhão, tal é a grandeza de Seu coração que Ele não
quis estar sozinho em Sua glória, mas associado em Sua felicidade. Agora, eu falo com a
respiração suspensa. Deus pode fazer todas as coisas, mas eu não vejo nenhuma maneira
pela qual Ele poderia dar ao Seu Filho Unigênito seres que deveriam ser semelhantes a Ele,
exceto através dos processos que descobrimos na economia da graça.

Aqui estão os seres que conhecem o mal, e também conhecem o bem. Aqui estão os
seres colocados sob obrigações infinitas por laços de amor e gratidão a escolher sempre o
bem. Aqui estão os seres com uma natureza tão renovada que sempre serão seres santos,
e esses seres podem comungar com o Deus encarnado mediante o sofrimento, de uma
maneira que os anjos não podem. Eles podem discutir sobre a pena de culpa como os anjos
não podem, sobre as crises do coração, sobre conflitos, acusações e quebrantamento de
espírito como os anjos não podem, e para eles o Senhor Jesus pode revelar a glória da
santidade, a felicidade de vencer o pecado e a doçura da benevolência, como só eles podem
compreender!

Homens renovados são feitos companheiros aptos para o Filho de Deus! Ele deve
festejar com tanto mais alegria, porque comerão o pão com Ele em Seu reino! Ele se alegra
quando declara o nome do Senhor a Seus irmãos! Ele se alegra em sua alegria, e nos
alegraremos na alegria dEle. Sem dúvida, no entanto, o texto significa que estes irão sempre
amar e honrar o Senhor Jesus Cristo. Os filhos olham para o primogênito. No Oriente, o
primogênito é o senhor e rei da casa. Nós amamos Jesus agora, e O estimamos como o

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nosso Cabeça e Chefe. Como nós, quando uma vez chegarmos ao Céu, O amaremos e
adoraremos como o nosso querido Irmão mais velho com quem estaremos em termos de
familiaridade mais próximos em obediência reverente! Quão alegremente vamos servi-lO!
Como O adoraremos com entusiasmo! Não precisaremos altear nossas vozes até que se
tornem como trovão, ou como muitas águas, ou certamente não seremos capazes de louvá-
lO como gostaríamos?

Se há trabalho a fazer para Ele em eras futuras, seremos os primeiros a nos oferecer
para o serviço. Se houver batalhas a serem travadas nos tempos vindouros com outras raças
rebeldes; se houver servos necessários para voar ao longo dos vastos domínios do infinito
para levar mensagens de Yahwéh, que voarão tão rapidamente como veremos quando uma
vez estivermos em Seus átrios, nós habitaremos não como meros servos, mas como
membros da família real, participantes da natureza Divina, mais próximos ao próprio Deus.
Que felicidade saber que Ele, que é “Deus, verdadeiramente”. E assenta-se no trono eterno,
é também da mesma natureza que nós, de nossa parentela, que não se envergonha, mesmo
em meio aos direitos de glória, de chamar-nos irmãos! Ó irmãos, que honras são as nossas!
Que tal herança está diante de nós! Quem entre nós iria querer trocar de lugar com Gabriel?
Nós não teremos nenhuma necessidade de invejar os anjos, pois o que eles são, senão
espíritos ministradores, servidores nos salões de nosso Pai? Somos filhos, e filhos que de
maneira nenhuma pertencem a ordem inferior! Não há filhos de uma ordem secundária como
os filhos de Abraão nascidos de Quetura, ou como o filho da escrava, mas somos Isaques
de Deus nascido segundo a promessa! Somos herdeiros de tudo o que Ele tem, uma
semente amada do Senhor para sempre! Oh! que alegria deve encher nossos espíritos, nesta
manhã, com a perspectiva que este texto revela, que assegura a predestinação!

Talvez o nosso pensamento mais amplo sobre o texto é este: Deus era tão bem
satisfeito com o Seu Filho, e via tais belezas nEle que Ele determinou multiplicar a Sua
imagem: “Meu amado”, Ele disse, “Tu serás o modelo pelo qual eu vou formar minhas mais
nobres criaturas. Vou, por Tua causa, fazer homens capazes de conversar conTigo, e ligados
a Ti por laços de amor, devem ser os mais próximos e semelhantes a mim mesmo, em todas
as coisas Tu és”. Eis que, a partir da cunha do Céu, peças de ouro de valor inestimável são
enviadas, e cada um tem a imagem e a inscrição do Filho de Deus. O rosto de Jesus é mais
agradável a Deus do que todos os mundos! Seus olhos são mais brilhantes do que as
estrelas! Sua voz é mais doce do que a felicidade, por isso, o Pai quis que a beleza de Seu
Filho fosse refletida como que em 10.000 espelhos, nos santos, bem como Ele e Seus
louvores cantados por milhares de vozes daqueles que O amam, porque Seu sangue os
salvou.

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O Pai sabia o quão feliz Seu Filho seria ao unir os Seus escolhidos conSigo, pelas Suas
antigas delícias com os filhos dos homens. Como o pastor ama as suas ovelhas, como um
rei ama seus súditos, assim Jesus ama ter o Seu povo à Sua volta. Mas ainda mais profundo
é o mistério, uma vez que não é bom para o homem ficar sozinho. E quanto a esta causa
que o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e eles serão uma só carne,
assim é com Cristo e Sua Igreja. Ele foi feito como ela para sua salvação, e agora ela é feita
como Ele para Sua honra. De que maneira poderia o Pai dar maior honra ao Seu Filho do
que através da formação de uma raça semelhante a Ele que serão os muitos irmãos, entre
os quais Ele é o bem amado Primogênito?

Agora, irmãos e irmãs, dir-lhes-ei esta palavra e lhes enviarei para casa. Retenha o seu
Modelo diante você! Você vê o que você está para tornar-se, portanto, coloque Cristo diante
de seus olhos sempre. Você vê para o que você está predestinado a ser, anele a isso! Olhe
para isto todos os dias. Deus trabalha, e Ele opera em você o querer e o efetuar segundo
Sua própria boa vontade. Irmãos, lamentem por seus fracassos! Quando vocês verem algo
em si mesmos que não é semelhante a Cristo, lamentem por causa disto, pois isso deve ser
retirado. Há muitas escórias que devem ser consumidas. Você não pode mantê-las, pois a
predestinação de Deus não deixará você reter alguma coisa sobre você que não está de
acordo com a imagem de Cristo. Clamem veementemente ao Espírito Santo para continuar
a Sua obra santificadora em vocês! Roguem a Ele para não ficar ofendido e indignado, e,
portanto, em qualquer medida detenha Sua mão. Clame: “Senhor, me molde! Derrama-me
como cera e ponha o Teu selo sobre mim até que a imagem de Cristo seja claramente
formada ali”.

Acima de tudo, comunguem muito com Cristo. Comunhão é a fonte de conformidade.


Viva com Cristo e em breve você crescerá à imagem de Cristo. Dizem de Aquiles, o maior
dos heróis Gregos que quando ele era criança o alimentaram com medula de leão e isso o
fez corajoso. Alimente-se de Cristo e serás como Cristo. Dizem, por outro lado, do
sanguinário Nero que tornou-se assim por que foi amamentado por uma mulher de feroz
natureza bárbara. Se tomarmos nossa nutrição do mundo, seremos mundanos, mas se
vivermos em Cristo e habitarmos nEle, nossa conformidade com Ele será facilmente
conseguida, e seremos reconhecidos como irmãos daquela família abençoada da qual Jesus
Cristo é o primogênito.

Como eu gostaria que todas as pessoas presentes tivessem uma porção no texto! Eu
lamento que alguns não tenham, pois aquele que não crê no Filho não tem a vida, e, portanto,

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não pode ter a conformidade com um Cristo vivo! Deus conceda a todos o crer em Cristo,
agora e para sempre. Amém e amém.

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A3
Eleição Particular
(Sermão Nº 123)

Pregado na manhã do Dia do Senhor, 22 de março de 1858.


Por C. H. Spurgeon, no Music Hall, Royal Surrey Gardens.

“Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa
vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum.
Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” (2 Pedro 1:10-11 — ARA)

É extremamente desejável que nas horas de adoração e na Casa de Oração nossas


mentes estejam, tanto quanto possível, despojadas de todo pensamento mundano. Embora
os negócios da semana lutarão muito naturalmente conosco para atentar contra o Sabath, é
o nosso negócio guardar o Dia do Senhor da intrusão de nossas preocupações mundanas,
como guardaríamos um oásis da erupção esmagadora da areia. Tenho sentido, no entanto,
que hoje devemos estar rodeados por circunstâncias de dificuldade peculiar no esforço para
trazer nossas mentes para questões espirituais, pois de todos os tempos, talvez, os tempos
eleitorais sejam os piores. Quão importantes, nas mentes da maioria dos homens, são as
questões políticas que, muito naturalmente, após a pressa da semana, combinadas com a
prossecução envolvente das eleições, estamos aptos a trazer os mesmos pensamentos e os
mesmos sentimentos para a Casa de Oração e especular, talvez, mesmo no local de culto,
se um conservador ou um liberal retornará para o nosso município. Ou se para a cidade de
Londres não deverá ser devolvido Lord John Russell, Barão de Rothschild ou o Sr. Currie.
Eu pensei, esta manhã: “Bem, é inútil minha tentativa de parar este grande trem em seu
progresso! As pessoas só agora estão indo em um ritmo expresso sobre estas questões.
Acho que será sábio e, em vez de me se esforçar para virá-los em cima da linha, eu vou virar
os pontos de sinalização, de modo que eles ainda possam continuar as suas atividades com
a mesma rapidez de sempre, mas em uma nova direção! Deverá ser a mesma linha. Eles

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ainda devem estar viajando seriamente para a eleição, mas, talvez, eu possa ter alguma
habilidade para virar os pontos para que eles tenham a possibilidade de considerar a eleição
de uma forma bastante diferente!”.

Quando o Sr. Whitefield foi uma vez solicitado a usar sua influência em uma eleição
geral, ele respondeu ao seu senhorio que lhe solicitou que ele sabia muito pouco sobre
eleições gerais, mas que, se o seu senhorio tomasse o seu conselho, ele faria sua própria
“vocação e eleição firme”, o que foi uma observação muito adequada. Eu não iria, no entanto,
dizer a quaisquer pessoas aqui presentes, para desprezarem o privilégio que vocês têm
como cidadãos. Longe esteja de mim fazê-lo! Quando nós nos tornamos Cristãos, nós não
deixamos de sermos Ingleses! Quando nós nos tornamos professantes da religião, nós não
cessamos de ter os direitos e privilégios que a cidadania nos tem concedido. Sempre teremos
a oportunidade de usar o direito de votar, usemo-lo como que diante do Deus Todo-
Poderoso, sabendo que por todas as coisas, seremos levados a prestar contas e para que
entre os demais seja visto que confiamos nisto. E lembremo-nos de que somos os nossos
próprios governantes, em grande parte, e que, se na próxima eleição escolhermos
governadores errados, não teremos ninguém para culpar além de nós mesmos; porém de
forma errada podemos agir depois, a menos que exercitemos toda a prudência e a oração
ao Deus Todo-Poderoso para dirigir nossos corações a uma escolha certa neste assunto.
Que Deus assim nos ajude e que o resultado seja para a Sua Glória, embora esse resultado
possa ser inesperado para qualquer um de nós!

Tendo dito tanta coisa, deixe-me, então, voltar aos pontos e trazê-los para uma reflexão
sobre a sua própria vocação particular e eleição, ordenando-lhes, nas palavras do Apóstolo:
“Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e
eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira
é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo”. Temos aqui, em primeiro lugar, dois pontos fundamentais na religião: “Vocação
e eleição”; temos aqui, em segundo lugar, um bom conselho: “confirmar a vossa vocação e
eleição”, ou melhor, assegurar-nos de que somos vocacionados e eleitos. E, em seguida, em
terceiro lugar, temos algumas razões dadas pelas quais devemos usar esta diligência para
ter a certeza de nossa eleição, porque, por um lado, devemos assim ser conservados de cair
e, por outro lado, vamos ter “amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo”.

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I. Em primeiro lugar, então, estão as DUAS QUESTÕES IMPORTANTES NA


RELIGIÃO, as duas secretas para o mundo, apenas para serem entendidas por aqueles que
foram vivificados pela graça Divina: “Vocação e eleição”.

Pela palavra “vocação”, nas Escrituras, entendemos duas coisas: uma, o chamado
geral, que na pregação do Evangelho é dado a toda criatura debaixo do céu. O segundo
chamado (o qual aqui se tem em mente) é o chamado especial, o que chamamos de
chamado eficaz, através do qual Deus secretamente, no uso de meios, pelo poder irresistível
do Espírito Santo, chama dentre a humanidade um determinado número dos que Ele tinha
antes eleito. Ele os chama de seus pecados, para os tornar justos, desde a sua morte em
delitos e pecados para tornarem-se homens de vida espiritual e de seus interesses
mundanos para se tornarem amantes de Jesus Cristo. Os dois chamados diferem muito.
Como Bunyan muito belamente coloca: “Por Sua chamada comum, Ele não dá nada. Por
sua chamada especial, Ele sempre tem algo para dar. Ele também tem uma voz chocante
para eles que estão sob Sua asa e Ele tem um clamor para dar o alarme quando vê o inimigo
vir”. O que temos que obter como absolutamente necessário para nossa salvação é uma
vocação especial, feita em nós — não aos nossos ouvidos, mas aos nossos corações — e
não para o nosso mero entendimento carnal, mas para o homem interior, pelo poder do
Espírito. E então a outra coisa importante é a eleição. Como sem vocação não há salvação,
assim, sem eleição não há vocação! A Sagrada Escritura nos ensina que Deus nos escolheu
desde o princípio, para que sejamos salvos para a santificação através de Jesus Cristo. Diz-
nos que todos os que são ordenados para a vida eterna, crerão; e que sua crença é o efeito
de serem ordenados para a vida eterna, desde antes de todos os mundos! Por mais que isso
possa ser contestado, pois frequentemente é, primeiro você deve negar a autenticidade e
Inspiração plena das Escrituras Sagradas antes que você possa legítima e verdadeiramente
negar isso. E uma vez que, sem dúvida, eu tenho muitos aqui que são membros da Igreja
Episcopal, permita-me dizer-lhes o que eu tenho dito muitas vezes anteriormente: “Vocês,
de todos os homens, são os mais inconsistentes no mundo a menos que vocês acreditem
na Doutrina de Eleição, pois se ela não é ensinada nas Escrituras, não existe esta coisa de
uma certeza absoluta, que é ensinada em seus artigos”. Nada pode ser mais fortemente
expresso, nada mais definitivamente estabelecido que a Doutrina da Predestinação no Livro
de Oração Comum. Embora nos seja dito o que já sabemos, que a Doutrina é um alto mistério
e só deve ser cuidadosamente manipulada por homens que são iluminados.

No entanto, sem dúvida, é a Doutrina da Escritura que aqueles que são salvos são
salvos porque Deus os escolheu para serem salvos e são chamados como o efeito de da
primeira escolha de Deus! Se algum de vocês contesta isto, eu estou sobre a autoridade das

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Sagradas Escrituras. Sim, e se fosse necessário recorrer à tradição, que tenho a certeza que
não é, e nenhum Cristão jamais faria isso, então eu o conduziria sobre essa questão. Para
que eu possa traçar esta Doutrina através dos lábios de uma sucessão de homens santos,
a partir deste momento presente até os dias de Calvino. De lá para Agostinho e de lá para
Paulo, ele mesmo, e até mesmo para os lábios do Senhor Jesus Cristo! A Doutrina é, sem
dúvida ensinada nas Escrituras e não fossem os homens orgulhosos demais para se
humilhar a ela, seria universalmente crida e recebida como sendo não outra senão a Verdade
manifesta de Deus! Ora, senhores, vocês não acreditam que Deus ama Seus filhos? E vocês
não sabem que Deus é imutável? Portanto, se Ele os ama, agora, Ele deve sempre os amar!
Você não acredita que se os homens são salvos, é Deus quem os salva? E se assim for,
você pode ver qualquer dificuldade em admitir que, porque Ele os salva, deve ter havido um
propósito para salvá-los, um propósito que existia antes de todos os mundos? Será que
vocês não me concedem isso? Se vocês não vão, eu tenho que deixá-los com as Escrituras,
elas mesmas. E se elas não os convencerem sobre esta questão, então eu devo deixá-los
não convencidos! Será perguntado, no entanto, por que está “vocação” aqui colocada antes
de “eleição”, visto que a eleição é eterna e a vocação acontece no tempo? Eu respondo,
porque vocação é a primeira para nós. A primeira coisa que você e eu podemos conhecer é
a nossa vocação; não podemos dizer se estamos eleitos até que sintamos que somos
chamados! Devemos, antes de tudo, provar a nossa vocação, e, em seguida, nossa eleição
é certamente firmada. “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou,
a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” [Romanos 8:30].
A vocação vem em primeiro lugar em nossa apreensão. Somos pelo Espírito de Deus
chamados a partir de nosso mau estado, regenerados e transformados em novas criaturas,
e, em seguida, olhando para trás, vemos a nós mesmos como sendo mais seguramente
eleitos porque fomos chamados!

Aqui, então, eu penso ter exposto o texto. Há duas coisas que você e eu devemos
provar para saber se estamos seguros de nós mesmos: se somos chamados e se somos
eleitos. E ó, queridos amigos, este é um assunto sobre o qual você e eu deveríamos estar
muito ansiosos, pois considere que coisa honrosa é ser eleito! Neste mundo julga-se uma
coisa poderosa ser eleito para a Casa do Parlamento. Mas quanto mais honroso é ser eleito
para a vida eterna? Ser eleito para a “igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”.
Ser eleito para ser um companheiro dos anjos, para ser um dos favoritos do Deus vivo, para
habitar com o Altíssimo entre os mais belos dos filhos da luz, mais próximo do Trono eterno!
A eleição neste mundo é apenas uma coisa de curta duração, mas a eleição de Deus é
eterna. Que um homem seja eleito para uma cadeira na Câmara, sete anos deve ser o
período mais longo que ele pode manter a sua eleição. Mas se você e eu somos eleitos de

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acordo com o Propósito Divino, vamos manter nossos assentos quando a estrela da manhã
cessar de brilhar! Quando o sol tiver escurecido pela idade e quando as colinas eternas se
prostrarão de fraqueza, se somos escolhidos de Deus e preciosos, então somos escolhidos
para sempre, pois Deus não muda nos objetos da Sua eleição! Aqueles a quem Ele ordenou,
Ele ordenou para a vida eterna: “Jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”
[João 10:28].

Vale a pena sabermos se nós mesmos somos eleitos, pois nada neste mundo pode
fazer um homem mais feliz ou mais valente do que o conhecimento de sua eleição. “Não
obstante”, disse Cristo aos Apóstolos, “alegrai-vos, não porque... e sim porque o vosso nome
está arrolado nos céus” [Lucas 10:20], este é o consolo mais doce, o mel que cai com as
gotas mais preciosas de todos, o conhecimento de sermos escolhidos por Deus! E isto,
também, amados, faz um homem valente. Quando um homem pela diligência tenha atingido
a garantia de sua eleição, você não pode torná-lo um covarde. Você nunca pode fazê-lo
chorar, [nem] “sair”, mesmo na batalha mais pesada. Ele detém o padrão firme e corta seus
inimigos com a espada da Verdade de Deus. “Não fui eu ordenado por Deus para ser o porta-
estandarte desta Verdade? Eu devo, eu vou apoiá-la, apesar de todos vocês”, ele diz a todos
os inimigos! “Eu não sou um rei escolhido? Inundações de água podem lavar a unção
sagrada da brilhante fronte de um rei? Não, nunca! E se Deus me escolheu para ser um rei
e um sacerdote diante dEle para todo o sempre, aconteça o que acontecer ou venha o que
vier — os dentes do leão, a fornalha ardente, a lança, a tortura, a estaca — todas essas
coisas são menos do que nada, sabendo que eu sou escolhido de Deus para a salvação!”.

Tem-se dito que a Doutrina da Eleição naturalmente faz os homens fracos. É uma
mentira! Pode parecer assim, em teoria, mas na prática sempre tem sido encontrado ser o
inverso. Os homens que acreditaram na predestinação e se mantêm firmes e seguros por
ela sempre fizeram as obras mais valentes. Há um ponto em que esta é semelhante até com
a fé de Maomé, as obras que eram feitas por ele foram feitas principalmente a partir de uma
firme confiança de que Deus lhe havia ordenado o seu trabalho. Nunca teria Cromwell
impulsionado seus inimigos para sua frente se não tivesse sido na força severa desta
onipotente verdade. Escassamente será encontrado um homem forte o suficiente para fazer
grandes e valorosos feitos a menos que, confiante no Deus da providência, ele olhe para os
acontecimentos da vida como sendo guiados por Deus! Ele então se entrega à firme
predestinação de Deus, para ser preservado pela corrente de Sua vontade, contrário a todas
as vontades e todos os desejos do mundo! “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada
vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição”.

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II. Venham, então, aqui ao segundo ponto: UM BOM CONSELHO. “Fazer firme a vossa
vocação e eleição”. Não para Deus, pois elas são certas para Ele; façam com que elas sejam
seguras para vocês mesmos! Assegurem-se delas. Estejam plenamente satisfeitos com elas.
Em muitos de nossos lugares dissidentes de culto, muitíssimo incentivo é feito para que
duvidem. Uma pessoa vem perante o pastor e diz: “Ó, senhor, eu estou com muito medo que
eu não estou convertido. Eu tremo que eu não seja um filho de Deus. Oh! eu temo que eu
não sou um dos eleitos do Senhor”. O pastor estenderá as mãos para ele e dirá: “Querido
irmão, você está certo, desde que você possa duvidar”. Agora, eu defendo que isto é
totalmente errado! A Escritura nunca diz: “Aquele que dúvida será salvo”, mas, “aquele que
crê”. Pode ser verdade que o homem está em bom estado. Pode ser verdade que ele precisa
de um pouco de conforto. Mas as dúvidas não são coisas boas, nem deveríamos encorajá-
lo em suas dúvidas; nosso negócio é para o encorajar para longe de suas dúvidas e, pela
graça de Deus, para instá-lo a “fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição”, não
duvidar, mas para ter certeza disso! Ah, eu ouvi alguns céticos hipócritas dizerem: “Oh, eu
tive tais dúvidas se eu sou do Senhor”, e eu pensei comigo mesmo: “Então tenho muitas
grandes dúvidas a seu respeito”. Tenho ouvido alguns dizerem que tremem assim porque
eles têm medo que não sejam do povo de Deus e os companheiros preguiçosos se sentam
nos bancos no Domingo e apenas ouvem o sermão, nunca pensando em serem diligentes!
Eles nunca fazem bem, talvez sejam inconsistentes em suas vidas e, depois, falem sobre
duvidar. É bem certo que eles deveriam duvidar; é bom que duvidem e se não duvidassem,
poderíamos começar a duvidar por eles! Homens ociosos não têm direito a segurança. A
Escritura diz: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa
vocação e eleição”.

Plena segurança é uma excelente aquisição. É proveitoso para um homem estar certo
nesta vida e absolutamente seguro de sua própria vocação e eleição. Mas como ele pode ter
certeza? Agora, muitos de nossos ouvintes mais ignorantes imaginam que a única maneira
que eles têm de assegurarem-se de sua eleição é por alguma revelação, um sonho e algum
mistério! Tenho gozado de muitas fartas risadas à custa de algumas pessoas que confiaram
em suas visões! Realmente, se você tivesse passado entre tantos tons de ignorantes
Cristãos professos como eu, e tivesse que resolver muitas dúvidas e medos, você estaria
tão infinitamente enjoado de sonhos e visões que você diria, tão logo que uma pessoa
começasse a falar sobre eles, “agora, apenas segure sua língua!”. “Senhor”, disse uma
mulher, “eu vi luzes azuis na sala da frente, quando eu estava em oração e eu pensei que
eu vi o Salvador no canto e disse para mim mesma que eu estou salva”. [O Sr. Spurgeon
aqui narrava uma notável história de uma pobre mulher que teve uma ilusão singular]. E
ainda há dezenas de milhares de pessoas em todas as partes do país e membros, também,

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de entidades Cristãs, que não têm melhores fundamentos de sua crença de que eles são
chamados e eleitos, do que uma visão igualmente ridícula, ou a audição igualmente absurda
de uma voz!

Uma jovem veio até mim há algum tempo. Ela queria se unir à Igreja e quando lhe
perguntei como ela sabia ser convertida, ela disse que estava em baixo na parte inferior do
jardim e ela pensou ter ouvido uma voz e ela pensou ter visto algo nas nuvens que diziam
para ela tal-e-tal. “Bem”, eu disse a ela, “essa coisa pode ter sido o meio de fazer o bem para
você, mas se você colocar qualquer confiança nisso, isto acabará com você”. Um sonho,
sim, e uma visão muitas vezes podem levar os homens a Cristo. Tenho conhecido muitas
pessoas que foram trazidas a Ele por eles, além de uma dúvida, embora tenha sido
misterioso para mim como ocorreu. Mas quando os homens expressam isso como uma prova
de sua conversão, é um erro; você pode ter 50 mil sonhos e 50.000 visões e você pode ser
um tolo por tudo isso, e de todos ser o maior pecador por tê-los visto! Não há melhor
evidência para se ter do que tudo isso: “procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a
vossa vocação e eleição”.

“Como, então”, diz alguém, “devo confirmar minha vocação e eleição?”. Desta maneira:
se você quer sair de um estado de dúvida, saia de um estado de ociosidade. Se você quer
sair de um estado de tremor, saia de um estado de mornidão indiferente, pois tibieza, e
dúvida, e preguiça, e tremor muito naturalmente andam de mãos dadas! Se você quiser
desfrutar da eminente graça da plena certeza de fé sob a influência e assistência do Bendito
Espírito, faça o que a Escritura diz a você: “Procurai, com diligência cada vez maior, confirmar
a vossa vocação e eleição”. Em que você será diligente? Note como a Escritura nos deu uma
lista. Seja diligente em sua fé. Tome cuidado que a sua fé seja do tipo correto, que não seja
um credo, mas uma crença; que não seja uma mera crença da doutrina, mas um recebimento
da Doutrina em seu coração e a iluminação prática da Doutrina em sua alma! Tome cuidado
que a sua fé resulte da necessidade, que você creia em Cristo, porque não há nada mais
para se acreditar. Cuide para que esta fé seja simples, pendurada sozinha em Cristo, sem
qualquer outra dependência, senão em Jesus Cristo e nEle crucificado. E quando você tiver
sido diligente sobre isso, empregue diligência ao lado de sua coragem.

Trabalhe para obter virtude. Suplique a Deus que Ele lhe conceda o rosto de um leão,
que você nunca tenha medo de qualquer inimigo, por mais que ele possa zombar ou ameaçá-
lo, mas que você possa, com a consciência reta, ir em frente, corajosamente confiando em
Deus e tendo, com a ajuda do Espírito Santo, conseguido isto, estude bem as Escrituras e
obtenha conhecimento. Pois um conhecimento da doutrina tende muito a confirmar a fé.

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Tente entender a Palavra de Deus. Obtenha uma ideia sensata, espiritual dela. Obtenha, se
puder, uma Teologia Sistemática além da Bíblia de Deus. Junte as Doutrinas. Obtenha
conhecimento real, teológico, fundado sobre a Palavra infalível. Obtenha um conhecimento
da ciência que é mais desprezada, mas que é a mais necessária de todas, a ciência de Cristo
e dEle crucificado e das grandes Doutrinas da Graça.

E quando você tiver feito isso, “adicione à sua temperança conhecimento”. Tome
cuidado como o seu corpo, seja temperado ali. Tome cuidado com a sua alma, seja
temperado aqui. Não se embriague com orgulho. Não se exalte com a autoconfiança. Seja
temperado. Não seja cruel com os seus amigos, nem amargo com os seus inimigos. Obtenha
a temperança dos lábios, a temperança da vida, a temperança do coração, a temperança do
pensamento. Não seja apaixonado, não se deixe levar por qualquer vento de doutrina.
Obtenha temperança e, em seguida, adicione a isto, pelo Espírito Santo de Deus, a
paciência. Peça-Lhe para dar-lhe a paciência que resiste às aflições, que, quando for
provada, sairá como o ouro. Estabeleça-se com paciência, para que você não murmure em
suas enfermidades, para que você não amaldiçoe a Deus em suas perdas, nem fique
deprimido em suas aflições. Ore sem cessar, até que o Espírito Santo tenha lhe encorajado
com paciência a perseverar até o fim!

E quando você tiver isso, obtenha a piedade. Piedade é algo mais do que religião. A
maioria dos homens religiosos podem ser os homens mais ímpios e às vezes um homem de
Deus pode parecer irreligioso. Deixe-me explicar este aparente paradoxo. Um homem
realmente religioso é um homem que suspira por sacramentos, frequenta igrejas e capelas
e é aparentemente bom, mas não vai mais longe. Um homem piedoso é um homem que não
olha muito para a veste como para a pessoa, ele não olha para a forma exterior, mas a graça
interior e espiritual. Ele é um homem piedoso, bem como atento à religião. Alguns homens,
no entanto, são piedosos e, em grande medida, desprezam a forma. Eles podem ser
piedosos sem nenhum grau de religião. Mas um homem não pode ser integralmente justo
sem ser piedoso, no verdadeiro significado de cada uma dessas palavras, embora não no
sentido vulgar geral delas.

Adicione à sua paciência um olhar para Deus. Viva diante de Sua vista, habite perto
dEle! Busque por comunhão com Ele e você terá piedade. E depois disso, adicione amor
fraternal. Seja amoroso em relação a todos os membros da Igreja de Cristo. Tenha um amor
por todos os santos de todas as denominações. E, em seguida, adicione a isso caridade, que
abra os braços para todos os homens e os ame. E quando você tiver tudo isso, então você
conhecerá a sua vocação e eleição! E apenas na proporção em que vocês praticarem essas

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regras celestiais de vida, desta forma celestial, vocês virão a saber que são vocacionados e
que vocês são eleitos. Mas por nenhum outro meio vocês podem alcançar este conhecimento
a não ser pelo testemunho do Espírito, testemunhando com o vosso espírito que vocês são
nascidos de Deus e então, testemunhando em vossa consciência que vocês não são o que
vocês eram, mas são um novo homem ou mulher em Cristo Jesus e são, portanto, chamados
e eleitos.

Um homem ali diz que ele é eleito. Ele se embriaga. Sim, você é eleito pelo Diabo,
senhor. Essa é a sua única eleição. Outro homem diz: “Bendito seja Deus, eu não me importo
com evidências [nem] um pouquinho. Eu não sou tão legalista como você é!” Não, eu ouso
dizer que você não é. Mas você não tem nenhum grande motivo para bendizer a Deus sobre
isso, pois, meu caro amigo, se você não tem aquelas evidências de um novo nascimento,
olhe por si mesmo, “de Deus não se zomba, o que o homem semear, isso também ceifará”.
“Bem”, diz o outro, “mas eu acho a Doutrina da Eleição uma Doutrina muito licenciosa”.
Pense nisto o tempo que quiser, mas, por favor, testemunhe sobre como eu a tenho pregado
hoje, não há nada de licencioso nela! Muito provavelmente você é licencioso e gostaria de
tornar a Doutrina licenciosa, se você acreditou nela. Mas “para o puro todas as coisas são
puras”. Aquele que recebe a Verdade de Deus em seu coração não costuma pervertê-la e
desviar-se para maus caminhos.

Ninguém, repito, ninguém tem o direito de acreditar ser um eleito de Deus a menos que
ele tenha sido regenerado por Deus! Nenhum homem tem o direito de acreditar ser alguém
que foi vocacionado a menos que a sua vida esteja, em grande parte, de acordo com a sua
vocação e ele ande dignamente de acordo com sua vocação! Fora com uma eleição que lhe
permite viver em pecado! Fora com ela! Fora com ela! Isso nunca foi o desígnio da Palavra
de Deus e nunca foi a Doutrina dos Calvinistas também! Ainda que tenhamos sido
enganados e nossos ensinamentos pervertidos, nós sempre estivemos mantidos de pé por
isto: estas boas obras, apesar de não adquirirem nenhum grau de mérito para a salvação,
no entanto, são evidências necessárias para a salvação! E a menos que elas ocorram nos
homens, a alma ainda está morta, sem vocação e não regenerada. Quanto mais você vive
para Cristo, mais você O imitará. Quanto mais sua vida se conforma a Ele e mais
simplesmente você se pendura sobre Ele pela fé, o mais seguro você estará de sua eleição
em Cristo e da sua vocação, pelo Seu Espírito Santo. Que o Santo de Israel conceda a doce
garantia da graça proporcionando-lhe “sinais para o bem” nas graças que Ele permite que
você manifeste!

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III. E agora, concluirei, dando-lhes A JUSTIFICATIVA DO APÓSTOLO sobre o motivo


pelo que você deve confirmar a sua vocação e eleição.

Eu coloco um dos meus próprios para começar. É porque, como eu disse, isto fará você
muito feliz. Os homens que duvidam de sua vocação e eleição não podem estar cheios de
alegria. Os santos mais felizes são aqueles que conhecem e acreditam nisto. Você sabe que
os nossos amigos dizem que este é um imenso deserto e você sabe a minha resposta para
eles é que eles mesmos fazem todo o barulho. Não seria muito uivante se eles olhassem
para cima um pouco mais e olhassem para baixo um pouco menos, pois pela fé eles iriam
fazê-lo florescer como a rosa e dar a ela a excelência e glória do Carmelo e Sarom! Mas,
eles uivam tanto porque eles não creem. Nossa felicidade e nossa fé são, em grande medida,
proporcionais. Elas são gêmeas siamesas para o Cristão. Elas devem florescer ou decair
juntas:

“Quando eu posso dizer que o meu Deus é meu,


Então, posso a todas as minhas mágoas renunciar!
Posso percorrer o mundo debaixo dos meus pés,
E tudo o que a terra chama bom ou excelente.”

Mas ah,

“Quando prevalecem dúvidas sombrias,


Tenho medo de chamá-lO de meu,
Os fluxos de consolo parecem falhar,
E todas as minhas esperanças declinam.”

Só a fé pode fazer um Cristão ter uma vida feliz. Mas agora, pelas razões de Pedro.
Primeiro, “porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”. “Talvez”, diz
alguém: “em atenção à eleição podemos esquecer nossa caminhada diária e, como o velho
filósofo que olhou para as estrelas, podemos andar e cair em uma vala!”. “Não, não”, diz
Pedro, “se você cuidar da sua vocação e eleição, você não tropeçará, mas com os olhos lá
em cima, à procura de sua vocação e eleição, Deus cuidará de seus pés e você nunca cairá!”
Não é muito notável que, em muitas igrejas e capelas, você não ouve muitas vezes um
sermão sobre o dia de hoje? É sempre sobre a velha eternidade, ou então sobre o milênio;
ou sobre o que Deus fez antes que o homem foi feito, ou então sobre o que Deus fará quando
todos estiverem mortos e enterrados. É uma pena que eles não nos dizem algo sobre o que
devemos fazer hoje, agora, em nossa caminhada diária e conversação! Pedro remove essa
dificuldade. Ele diz: “Este ponto é um ponto de vista prático, pois você só pode responder à

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sua eleição por si mesmo, tomando cuidado com sua prática. E enquanto você está tão
cuidando de sua prática e assegurando-se de sua eleição, você está fazendo o melhor
possível para se preservar de cair”. E não é desejável que um verdadeiro Cristão seja
preservado de cair? Observe a diferença entre cair e sair do caminho. O verdadeiro crente
nunca pode cair e perecer caído, mas ele pode cair e ferir-se. Ele não deverá cair e quebrar
o pescoço. Porém uma perna quebrada é ruim o suficiente, [mesmo] sem o pescoço
quebrado. “Ainda que caia, não ficará prostrado” [Salmos 37:24]. Mas isso não é razão pela
qual ele deva correr contra uma pedra! Seu desejo é que a cada dia ele possa crescer em
santidade, que de hora em hora, ele possa ser mais completamente renovado até ser
conformado à imagem de Cristo, que ele possa entrar em eterna bem-aventurança! Se,
então, você cuidar de sua vocação e eleição, você está fazendo a melhor coisa do mundo
para evitar que você caia, pois ao fazê-lo você nunca cairá.

E agora, o outro motivo e então terei quase concluído. “Pois desta maneira é que vos
será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo”. Uma “ampla entrada” por vezes tem sido ilustrado desta maneira: Você vê o navio
acolá? Depois de uma longa viagem, ele se aproximava do porto, mas está muito danificado,
as velas estão rasgadas em tiras e ele está em uma condição tão desamparada que não
pode chegar ao porto, um rebocador a vapor está puxando-o com a maior dificuldade
possível. Isso é justamente como o que está sendo “dificilmente salvo”. Mas você vê que
outro navio? Ele fez uma viagem próspera e agora, carregado até a beira da água, com as
velas todas levantadas com as lonas brancas preenchidas pelo vento, ele atraca no porto
alegre e nobremente. Essa é uma “ampla entrada”! E se você e eu somos ajudados pelo
Espírito de Deus para acrescentar à nossa fé, virtude e assim por diante, teremos, no final,
“amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.

Há um homem que é Cristão. Mas, infelizmente, há muitas inconsistências em sua vida


pelas quais ele tem que lamentar. Ele está ali, morrendo em sua cama. O pensamento de
sua vida passada corre sobre ele. Ele clama: “Ó Senhor, tem piedade de mim, pecador”, e a
oração é atendida. Sua fé está em Cristo e ele será salvo. Mas, oh, ele tem dores na sua
cama: “Ah se eu tivesse servido melhor o meu Deus! E estes meus filhos, se eu os tivesse
criado melhor, na disciplina e na admoestação do Senhor!”. “Estou salvo”, diz ele, “mas,
infeliz, muito infeliz! Embora seja uma grande salvação, não posso apreciá-la ainda. Estou
morrendo em tristeza, e nuvens, e escuridão. Eu confio, eu espero ser reunido aos meus
pais, mas eu não tenho obras que me sigam, ou muito poucas, de fato, pois embora eu esteja
salvo, eu estou somente salvo, salvo ‘como pelo fogo’”. Aqui está outro. Ele, também, está
morrendo. Pergunte a ele em quem a sua dependência está, ele lhe diz: “Eu não descanso

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em nenhum outro lugar senão em Jesus”. Mas observe como ele olha para trás para sua
vida passada. “Em tal lugar”, ele diz, “eu preguei o Evangelho e Deus me ajudou”. E, embora
sem orgulho sobre si, ele não vai elogiar-se pelo que ele fez; ainda assim, ele levanta as
mãos para o céu e bendiz a Deus que, durante uma vida longa ele tem sido capaz de manter
as suas vestes brancas. Que ele serviu o seu Mestre. E agora, como um pé de milho
totalmente maduro, ele está prestes a ser recolhido ao celeiro de seu Mestre. Ouça-o! Não
é sua frágil língua presa em tremor, mas “Vitória! Vitória! Vitória!”, é o seu grito de morte, ele
fecha os olhos e morre como um guerreiro em sua glória. Essa é a “ampla entrada”. Agora,
o homem que “com diligência cada vez maior, confirma a sua vocação e eleição”, deve
assegurar para si “uma ampla entrada no reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Que imagem terrível é sugerida nestas palavras do Apóstolo, “salvos como pelo fogo”!
Deixe-me tentar apresentá-la a você. O homem chegou à borda do Jordão. O tempo chegou
para ele morrer. Ele é um crente, apenas um crente. Mas sua vida não foi o que ele poderia
desejar. Nem tudo o que ele agora deseja que ela fosse. E agora a severa morte vem até
ele, e ele tem que dar o seu primeiro passo rumo ao Jordão. Julgue seu horror quando as
chamas cercam seus pés! Ele pisa na areia quente das correntes. Ele dá o próximo passo.
Seu cabelo está bem próximo do fim. Embora seus olhos estejam fixos no céu, do outro lado
da costa, o rosto ainda está marcado com horror. Ele dá mais um passo e ele é todo banhado
no fogo. Outro passo e até seus próprios lombos estão em chamas, “salvo, assim como pelo
fogo”. Uma mão forte lhe agarra e lhe arrasta para frente através da corrente. Mas quão
terrível deve ser a morte, mesmo do Cristão, quando ele é salvo “como pelo fogo”! Lá na
beira do rio, atônito, ele olha para trás e vê as chamas líquidas através do qual ele foi
chamado a andar como consequência de sua indiferença nesta vida. Salvo ele está, graças
a Deus! E seu Céu será grande, e sua coroa será dourada, e sua harpa será doce, e seus
hinos serão eternos e sua felicidade imperecível, mas o seu momento moribundo, o último
artigo da morte, foi obscurecido pelo pecado. E ele foi salvo “como pelo fogo”!

Observe o outro homem. Ele também tem que morrer. Ele frequentemente temia a
morte. Ele mergulha o primeiro pé no Jordão. Enquanto seu corpo treme, seus fracos pulsos
se encerram e até mesmo seus olhos estão quase fechados. Seus lábios mal podem falar,
mas ele ainda diz: “Jesus, Tu estás comigo, estás comigo, passando pela corrente”; ele dá
mais um passo e as águas começam agora a refrescá-lo. Ele mergulha sua mão e prova a
corrente e diz para aqueles que estão o assistindo em lágrimas, que morrer é abençoado. “A
corrente é doce”, diz ele, “não é amargo, é uma bênção morrer!”. Então, ele dá mais um
passo e quando ele está bem próximo de ser submergido no córrego e perder a visão, diz
ele:

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“E quando você ouvir a corda do meu olho quebrar,


Como é doce o meu rolar dos minutos,
Uma palidez mortal em minha face,
Mas glória em minha alma!”

Essa é a “ampla entrada” do homem que corajosamente serviu o seu Deus, que, pela
graça Divina, teve um caminho sem nuvens e sereno, que, por diligência, tem “feito firme a
sua vocação e eleição” e, portanto, como uma recompensa, não de dívida, mas da Graça,
entrou Céu com mais altas honras e com maior facilidade do que outros igualmente salvos,
mas não salvos de forma tão esplêndida!

Apenas mais um pensamento. Diz-se que a entrada deve ser “ministrada para nós”.
Isso me dá uma doce sugestão que, acho, foi colocada por Doddridge. Cristo abrirá as portas
do céu, mas o trem celeste das virtudes — as obras que nos seguem — subirão conosco e
ministrarão uma entrada para nós. Às vezes penso que se Deus me permitir viver e morrer
para o bem dessas congregações, de modo que muitos deles sejam salvos, quão doce será
entrar no céu e quando eu for para lá, ter uma entrada ministrada a mim não por Cristo,
sozinho, mas por alguns de vocês a quem eu tenho ministrado! Alguém deve me encontrar
no portão e dizer: “Ministro, você causou a minha salvação!”. E outra e outro e outro virão
todos a exclamar o mesmo! Quando Whitefield entrou no Céu, aquele servo altamente
honrado do Senhor, eu acho que posso ver os anfitriões correndo para o portão ao seu
encontro! Existem milhares de lá que foram trazidos a Deus por ele! Oh! como eles
escancararam os portões! E como eles louvam a Deus que ele tenha sido o meio de trazê-
los para o Céu! E como a eles ministram uma entrada abundante! Haverá alguns de vocês,
talvez, no Céu, com coroas sem estrelas, pois que vocês nunca fizeram bem aos seus
semelhantes. Você nunca foi o meio de salvar almas, você terá coroas sem estrelas. Mas
“os que a muitos ensinam a justiça”, “vocês são estrelas, sempre e eternamente”. E uma
entrada será abundantemente ministrada a eles. Eu quero obter uma coroa pesada no céu,
não para usar, mas para ter todo o presente mais caro para dar a Cristo! E você deve desejar
o mesmo, que você possa ter todas as maiores honras e assim ter mais para lançar aos Seus
pés, com: “Não a nós, mas ao Teu Nome, ó, Cristo, seja a glória”. “Por isso, irmãos, procurai,
com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição”.

E agora, para concluir. Há alguns de vocês com os quais este texto não tem nada a
fazer. Você não pode “fazer firme a sua vocação e eleição”, pois você não foi vocacionado!
E você não tem o direito de acreditar que você é eleito, se você nunca foi chamado. Para
alguns de vocês, deixe-me dizer, não perguntem se vocês estão eleitos, em primeiro lugar,

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mas perguntem se vocês são chamados. E vão para a Casa de Deus e dobrem os joelhos
em oração. E que Deus, em Sua infinita misericórdia, os chamem! E observem isto, se algum
de vocês pode dizer:

“Nada em minhas mãos eu trago,


Simplesmente a Tua Cruz me agarro.”

Se algum de vocês, renunciando à sua autojustiça, agora puder vir a Cristo e tomá-lO
para ser o seu Tudo-em-Todos, você é chamado, você é eleito! “Faça firme a sua vocação e
eleição”, e siga o seu caminho regozijando-se! Que Deus o abençoe. E ao Pai, Filho e
Espírito Santo, seja a glória para sempre! Amém.

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A4
As Doutrinas da Graça Não Levam ao Pecado
(Sermão Nº 1735)

Pregado na manhã do Dia do Senhor, 19 de agosto de 1883.


Por C. H. Spurgeon, no Exeter Hall.

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça. Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas
debaixo da graça? De modo nenhum.” (Romanos 6:14-15)

Na última manhã de Sabath eu tentei mostrar que a substância e essência do


verdadeiro Evangelho é a doutrina da graça de Deus; de fato, se você tirar a graça de Deus
do Evangelho você terá extraído dele seu próprio sangue vital e não há mais nada que valha
a pena pregar nem acreditar, ou que valha a pena lutar. A graça é a alma do Evangelho, sem
ela, o Evangelho está morto. A graça é a música do Evangelho, sem ela o Evangelho é
silenciado quanto a todo o consolo. Eu também procurei expor a Doutrina da Graça, em
termos breves, ensinando que Deus trata com os pecadores sobre a base da pura
misericórdia, considerando-os culpados e condenados, Ele concede livre perdão,
completamente independente do caráter passado, de quaisquer boas obras que possam ser
previstas. Movido apenas por piedade, Ele elaborou um plano para o resgate do pecado e
de suas consequências, um plano em que graça é a característica principal.

Por favor gratuito, Ele providenciou na morte de Seu Filho amado, uma expiação
através da qual a Sua misericórdia pode ser justamente concedida. Ele aceita todos aqueles
que depositam a sua confiança nesta expiação, a escolha da fé como o caminho da salvação,
para que possa ser totalmente por graça. Nisto, Ele atua, por um motivo encontrado dentro
de Si mesmo, e não por causa de qualquer motivo encontrado na conduta do pecador —
passado, presente ou futuro. Tentei mostrar que esta graça de Deus flui para o pecador
desde os tempos antigos e começa suas operações sobre ele quando não há nada de bom

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nele, operando nele o que é bom e aceitável, e continua a operar nele assim, até que a ação
da graça é consumada e o crente é recebido na glória para a qual ele foi feito para alcançar.

A graça começa a salvar e continua até que tudo seja consumado. Do princípio ao fim,
de “A” a “Z” do alfabeto celestial, tudo na salvação é por graça e graça somente! Tudo é livre
favor, nada por mérito. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós,
é dom de Deus”. “Assim, pois, não é daquele que quer, nem daquele que corre, mas de Deus
que usa de misericórdia”. Tão logo esta doutrina é posta em uma luz clara, os homens
começam a tergiversar. Ela é o alvo de ataque para toda a lógica carnal. A mente não
renovada nunca gostou e nunca gostará dela; é demasiado humilhante para o orgulho
humano que enfatiza a nobreza da natureza do homem. Que os homens são salvos pela
caridade Divina, que eles devem ser salvos como criminosos condenados recebem o perdão
pelo exercício da prerrogativa real, ou então perecem em seus pecados, é um ensinamento
que eles não podem suportar!

Somente Deus é exaltado na soberania de Sua misericórdia, o pecador não pode fazer
melhor do que humildemente tocar o cetro de prata e aceitar o favor imerecido apenas porque
Deus quer dar-lhe! Isso não é agradável para as grandes mentes dos nossos filósofos e para
os grandes filactérios dos nossos moralistas e, por isso, eles se voltam dão meia volta e
combatem contra o império da graça. Imediatamente o homem não regenerado procura
artilharia com a qual lutar contra o Evangelho da graça de Deus! E uma das maiores armas
que ele já inventou foi a declaração de que as Doutrinas da graça de Deus conduzem à
libertinagem! Se grandes pecadores são salvos gratuitamente, logo, os homens mais
facilmente tornar-se-ão grandes pecadores, e se, quando a graça de Deus regenera um
homem, ela permanece com ele, então os homens irão inferir que podem viver como eles
quiserem e ainda serão salvos.

Esta é a objeção constantemente repetida, a qual já me fizeram até que ela me fatigou
com seu ruído vão e falso. Tenho quase vergonha de ter que refutar tão detestável
argumento! Eles se atrevem a afirmar que os homens terão licença para se fazerem
culpados, porque Deus é misericordioso! E eles não hesitam em dizer que, se os homens
não são salvos por suas obras, eles vão chegar à conclusão de que o seu comportamento é
algo indiferente e que eles podem muito bem pecar para que a graça abunde! Nesta manhã,
eu quero falar um pouco sobre essa noção, pois em parte é um grande erro e em parte é
uma grande mentira. Em parte, é um erro, porque provêm de uma concepção errônea e em
parte é uma mentira, porque os homens conhecem melhor, ou poderiam conhecer melhor se
eles quisessem.

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Gostaria de começar por admitir que a acusação parece algo provável. Parece muito
provável que, se quisermos ir para cima e para baixo do país e dizer: “O próprio chefe dos
pecadores pode ser perdoado através da fé em Jesus Cristo, pois Deus está mostrando
misericórdia até ao mais vil dos vis”, então o pecado parecerá ser uma coisa sem valor. Se
estamos em todos os lugares a clamar: “Venham, pecadores, venham e sejam bem-vindos,
e recebam perdão gratuito e imediato através da graça soberana de Deus”, parece provável
que alguns podem vilmente responder: “Vamos pecar sem cessar, para que possamos
facilmente obter o perdão”. Mas o que parece ser provável não é, por isso, certo! Ao contrário,
o improvável e o inesperado mui frequentemente acontecem. Em questões de influência
moral, nada é mais enganoso do que a teoria. Os caminhos da mente humana não devem
ser estabelecidos com um lápis e compassos, o homem é um ser singular.

Mesmo aquilo que é lógico, nem sempre é inevitável, pois as mentes dos homens não
são regidas pelas regras das escolas. Eu acredito que a inferência de que os homens seriam
levados a pecar por causa da graça soberana não tem lógica, mas, sim o próprio inverso; e
atrevo-me a afirmar que, como uma questão de fato, homens ímpios, via de regra, não
defendem a graça de Deus como uma desculpa para o seu pecado! Como regra geral, são
demasiado indiferentes para se preocuparem com razões para tudo! E se eles oferecem uma
desculpa, que geralmente é muito frágil e superficial. Pode haver alguns homens de mentes
perversas que usaram esse argumento, mas não há contabilização para os loucos de
entendimento caído. Eu sagazmente suspeito que em todos os casos em que tal raciocínio
tem sido apresentado, foi um mero pretexto e de nenhuma maneira um fundamento que
satisfez a própria consciência do pecador.

Se os homens se desculpam, é geralmente de alguma maneira velada, para a maioria


deles seria totalmente vergonhoso declarar o argumento em termos simples. Eu questiono
se o próprio Diabo teria encontrado raciocínio semelhante: “Deus é misericordioso, portanto,
sejamos mais pecaminosos”. Essa inferência é tal que eu não gosto de acusar meus
semelhantes com ela, apesar de que nossos opositores moralistas não hesitam em
rebaixarem-se a este ponto! Seguramente, nenhum ser inteligente pode realmente
convencer-se de que a bondade de Deus é uma razão para ofendê-lO mais do que nunca! A
insanidade moral produz raciocínio estranho, mas é minha convicção solene de que muito
raramente os homens consideram praticamente a graça de Deus como sendo um motivo
para o pecado. Aquilo que parece tão provável à primeira vista não é assim, quando
chegamos a considerá-lo.

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Eu admito que alguns seres humanos transformaram a graça de Deus em libertinagem,


mas confio quem ninguém jamais vá argumentar contra qualquer doutrina por conta do uso
perverso feito pelos vadios. Toda a verdade de Deus não pode ser pervertida? Existe uma
única doutrina das Escrituras que mãos desgraçadas não têm distorcido para o mal? Será
que não existe uma alegada ingenuidade quase infinita em homens maus para fazerem o
mal a partir do bem? Se devemos condenar uma verdade por causa do mau comportamento
de indivíduos que professam crer nela, nós iríamos ter que condenar nosso Senhor, Ele
próprio, pelo que Judas fez isso, e nossa santa fé morreria nas mãos dos apóstatas e
hipócritas!

Vamos agir como homens racionais. Nós não encontrarmos falha nas cordas porque
pobres criaturas insanas têm-se enforcado com elas! Nem pedimos que as mercadorias de
Sheffield possam ser destruídas porque as ferramentas afiadas são instrumentos de
assassinos. Pode parecer provável que a doutrina da livre graça será feita uma licença para
o pecado, mas uma melhor convivência com o funcionamento curioso da mente humana
corrige a noção. Caída como a natureza humana é, ainda é humana e, portanto, não têm a
amabilidade para com certas formas do mal, como, por exemplo, com a ingratidão
desumana. Dificilmente um homem apresentaria um comportamento de ferir aqueles que
continuamente lhes concedem benefícios.

O caso faz-me lembrar da história de uma meia-dúzia de meninos que tiveram pais
severos, acostumados a acoitá-los a cada passo de suas vidas. Outro rapaz estava com
eles, que era carinhosamente amado por seus pais e conhecido por ser assim. Esses jovens
cavalheiros se reuniram para realizar um conselho sobre roubar um pomar. Eles estavam,
todos eles, ansiosos a respeito disso com exceção do jovem agraciado, que não concordou
com a proposta. Um deles gritou: “Você não precisa ter medo! Se nossos pais nos pegarem
nesta ação, estaremos quase mortos, mas seu pai não colocará a mão sobre você”. O
menino respondeu: “E você acha que porque o meu pai é bom para mim, portanto, eu farei
o que é errado e o aborrecerei? Eu não farei nada disso ao meu querido pai! Ele é tão bom
para mim que eu não posso maltratá-lo”.

Parece que o argumento dos vários meninos não era demasiado convincente para seu
companheiro, a conclusão oposta era tão lógica e evidentemente carregava peso com ela.
Se Deus é bom para quem não merece, alguns homens irão para o pecado, mas há outros
de ordem mais nobre aos quais a bondade de Deus os leva ao arrependimento. Eles
desprezam o argumento semelhante ao de um animal, a saber, que quanto mais amoroso
Deus é, mais rebelde nós poderemos ser, e eles sentem que é uma coisa má rebelar-se

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contra o Deus de bondade. A propósito, não posso deixar de observar que tenho conhecido
pessoas que objetam a má influência das Doutrinas da Graça que não estavam de modo
algum qualificadas, por sua própria moralidade, para serem juízes do assunto! A moral
assumirá uma forma pobre quando pessoas imorais se tornam suas guardiãs!

A doutrina da justificação pela fé é frequentemente contestada como prejudicial para a


moral. Um jornal, há algum tempo, citou um verso de um de nossos hinos populares:

“Alguém cansado, trabalhando, se arrastando,


Por que labutas tanto?
Cesse seu fazer, tudo foi feito
Há muito, muito tempo atrás!

Até que à obra de Jesus você se agarre


Por uma fé simples,
Fazer é uma coisa mortal,
Fazer termina em morte.”

Isto é denominado ensino pernicioso! Quando li o artigo, senti um profundo interesse


nele que corrige Lutero e Paulo, e eu me perguntei quanto ele havia bebido, a fim de elevar
sua mente a tal ponto de conhecimento teológico! Eu encontrei homens pleiteando contra as
Doutrinas da Graça sobre o fundamento de que elas não promovem a moralidade, a quem
eu poderia ter justamente respondido: “O que a moralidade tem a ver com você, ou você com
ela?”. Estes paladinos de boas obras não são, muitas vezes, os que as praticam! Vamos
legalistas olhem para suas próprias mãos e línguas, e deixem o Evangelho da graça e seus
advogados responderem por si mesmos!

Olhando para trás na história, vejo sobre suas páginas uma refutação desta calúnia
muitas vezes repetida. Quem se atreve a sugerir que os homens que acreditavam na graça
de Deus foram mais pecadores do que outros pecadores? Com todos os seus defeitos,
aqueles que jogam pedras contra eles seriam poucos, se eles primeiro provarem ser
superiores a eles em caráter, quantos deles foram os patronos do vício, ou os defensores da
injustiça? Passo sobre o ponto na história Inglesa, quando esta doutrina era muito forte na
terra; quem eram os homens que sustentavam estas doutrinas mais firmemente? Homens
como Owen, Charnock, Manton, Howe! E eu não hesito em adicionar Oliver Cromwell! Que
tipo de homens eram esses? Será que eles cederam à licenciosidade de uma corte? Será
que eles inventaram um Livro de Esportes para diversão nos Sabaths? Será que eles viviam
em cervejarias e em locais de folia?

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Todo historiador irá dizer-lhe que a maior culpa desses homens, aos olhos de seus
inimigos, era que eles eram muito precisos para a geração em que viviam, por isso eles os
chamavam Puritanos e os condenavam como detentores de uma teologia sombria!
Senhores, se houve maldade na terra, naquele dia, ela deveria ser encontrada com o partido
teológico que pregava a salvação pelas obras! Os cavalheiros com suas tranças efeminadas
e os cabelos perfumados, cujo discurso era temperado de palavrões, foram os defensores
da salvação pelas obras e todos, embebidos com luxúria, defenderam o mérito humano!

Mas os homens que criam na graça somente eram de outro estilo. Eles não estavam
nas câmaras de tumultos e libertinagem! Onde estavam? Eles podiam ser encontrados em
seus joelhos clamando a Deus por ajuda em tentação e em tempos de perseguição eles
podiam ser encontrados na prisão, alegremente sofrendo a perda de todas as coisas por
amor à verdade de Deus! Os Puritanos foram os homens mais piedosos sobre a face da
terra! Os homens não são muito incoerentes ao apelidá-los por sua pureza e ainda dizerem
que as suas doutrinas levam ao pecado? Nem este é um exemplo solitário nesta instância
do Puritanismo; toda a história confirma esta regra, e quando se diz que estas doutrinas
produzirão pecado, eu apelo aos fatos, e deixo o oráculo responder como isto ocorreu. Se
queremos alguma vez ver uma Inglaterra pura e piedosa, devemos ter uma Inglaterra
evangelizada! Se queremos acabar com a embriaguez e os males sociais, deve ser pela
proclamação da graça de Deus!

Os homens devem ser perdoados pela graça de Deus, renovados pela graça de Deus,
transformados pela graça de Deus, santificados pela graça de Deus e preservados pela
graça de Deus! E quando isso acontecer, a idade de ouro alvorecerá! Mas enquanto eles
estão apenas ensinando suas regras e fazendo de si mesmo sua própria força, é trabalho
em vão! Você pode chicotear um cavalo morto por muito tempo antes que ele se mova; você
precisa vivificá-lo, ou então todas as suas chicotadas falharão. Ensinar a andar aos homens
que não têm pés é trabalho vão; e assim é a instrução moral antes da graça conceder um
coração para amar a santidade! O Evangelho, por si só, supre os homens com motivação e
força, portanto, é o Evangelho que devemos ver como o reformador real dos homens!

Lutarei, nesta manhã, com a objeção diante de nós conforme eu encontrar força. As
Doutrinas da Graça, todo o plano de salvação pela graça, é mormente promotor da
santidade. Onde quer que ele venha, nos ajuda a dizer: “De modo nenhum”, para a pergunta:
“Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça?”. Isso eu
colocarei à clara luz do sol. Gostaria de chamar a atenção para cerca de seis ou sete pontos.

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I. Em primeiro lugar, você verá que o Evangelho da graça de Deus promove a


verdadeira santidade nos homens, lembrando que A SALVAÇÃO QUE É OPERADA É A
SALVAÇÃO DO PODER DO PECADO. Quando pregamos a salvação para o mais vil dos
homens, alguns supõem que queremos dizer por isto uma mera libertação do inferno e uma
entrada no céu. Isto inclui tudo aquilo e resulta nisso, mas isso não é o que queremos dizer!
O que queremos dizer por salvação é o seguinte: a libertação do amor ao pecado, o resgate
do hábito do pecado, a libertação do desejo de pecar. Agora escute. Se é assim, que aquele
dom da libertação do pecado é o dom da graça Divina, de que forma esse dom, ou a
distribuição gratuita dele, produzirá pecado? Não vejo qualquer perigo. Pelo contrário, eu
digo ao homem que proclama uma graciosa promessa de vitória sobre o pecado: “Faça tudo
rapidamente, vá para cima e para baixo em todo o mundo e conte aos mais vis dos homens
que Deus está disposto, por Sua graça, a libertá-los do amor ao pecado e fazer deles novas
criaturas”.

Suponha que a salvação que pregamos é esta: “Vocês que vivem vidas ímpias e
perversas podem desfrutar de seus pecados e ainda escapar do castigo”? Isso seria
verdadeiramente maldoso! Mas se é isso: “Vocês que vivem as vidas mais ímpias e
perversas podem ainda, por crer no Senhor Jesus, ter a possibilidade de mudar suas vidas
de modo que vocês deverão viver para Deus em vez de servir o pecado e Satanás”? Que
mal pode vir para a moral mais pudica? Portanto, eu digo espalhe tal Evangelho e deixe-o
circular por todas as partes do nosso vasto império! Que todos os homens o ouçam, se eles
governam na Câmara dos Lordes ou sofrem na casa da servidão! Diga-lhes em todos os
lugares que a livre e infinita graça de Deus está disposta a renovar os homens e as mulheres
e torná-los novas criaturas em Cristo Jesus! É possível quaisquer más consequências virem
da proclamação mais livre desta notícia? Os piores homens estariam, tão alegres que iríamos
vê-los abraçando esta verdade de Deus, pois estes são os que mais precisam dela!

Digo a cada um de vocês, quem quer que seja, qualquer que seja a sua condição
passada: Deus pode renovar você de acordo com o poder de Sua graça para que você que
está vindo a Ele, como morto, como ossos secos, possa ser vivificado por Seu Espírito! Essa
renovação será vista em pensamentos santos, palavras puras e atos de justiça para a glória
de Deus. Em grande amor, Ele está preparado para operar todas estas coisas em todos os
que creem. Por que deveria alguém estar com raiva de tal declaração? Que mal pode vir
dela? Eu desafio o adversário mais astuto a se opor, sobre o fundamento da moral, à vontade
de Deus dando aos homens novos corações e espíritos retos, mesmo como Lhe apraz!

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II. Em segundo lugar, não deixe que seja esquecido, como uma questão de fato que O
PRINCÍPIO DO AMOR TEM SIDO RECONHECIDO COMO TENDO GRANDE PODER SO-
BRE OS HOMENS. Na infância da história, as nações sonharam que o crime poderia ser
abatido pela severidade e depositaram confiança em castigos atrozes, mas a experiência
corrige o erro. Nossos antepassados temiam a falsificação, que é uma fraude problemática
que interfere na confiança que deve existir entre homem e homem. Para eliminá-la, eles
fizeram da falsificação um crime capital. Ai dos assassinos condenados por essa lei! No
entanto, o uso constante da forca nunca foi suficiente para acabar com o crime. Muitos crimes
foram criados e multiplicados pela penalidade que deveria suprimi-los.

Alguns crimes quase cessaram quando a pena contra eles foi expressa. É um fato
notável a respeito dos homens que se eles são proibidos de fazerem uma coisa, eles logo
se dispõem a fazê-la, embora nunca tivessem pensado em fazer isso antes! A lei ordena a
obediência, mas não a promove — muitas vezes cria desobediência — e uma penalização
excessivamente pesada tem sido conhecida por provocar um crime. A lei falha, mas o amor
vence! O amor em qualquer caso torna o pecado infame. Se alguém roubar outro, seria
suficientemente ruim. Mas suponha que um homem roubou o seu amigo que o ajudou muitas
vezes quando estava em necessidade? Todo mundo diria que seu crime foi mais
vergonhoso. O amor marca o pecado na testa com um ferro em brasa. Se um homem
matasse um inimigo, o crime seria grave, mas se ele matasse seu pai, a quem ele deve a
sua vida, ou a sua mãe, em cujas mamas ele foi amamentado na infância, então todos
clamarão contra o monstro! À luz do amor, o pecado é visto como excessivamente maligno.

E isso não é tudo. O amor tem um grande poder de constrangimento para a mais
elevada forma de virtude. Atos aos quais um homem não pode ser compelido no terreno da
lei, os homens têm feito com alegria por causa do amor. Será que os nossos bravos
marinheiros do barco salva-vidas obedecem uma lei do Parlamento? Não, eles iriam com
indignação se revoltar contra serem forçados a arriscar suas vidas! Mas eles vão fazer isso
livremente para salvar seus semelhantes. Lembre-se que o texto do apóstolo: “Porque
apenas alguém morrerá por um justo”, diz ele, “pois poderá ser que pelo bom alguém ouse
morrer” [Romanos 5:7]. A bondade ganha o coração e a pessoa está pronta para morrer pelo
amável e generoso! Veja como os homens têm jogado fora suas vidas por grandes líderes.
Este foi um provérbio imortal de um soldado francês ferido. Ao procurar a bala o cirurgião
cortou profundamente e o paciente gritou: “Um pouco mais baixo e você tocará o imperador”,
querendo dizer que o nome do imperador estava escrito em seu coração!

Em vários casos notáveis, os homens têm-se jogado nas garras da morte para salvar
um líder a quem amavam. O dever detém o forte, mas o amor lança seu corpo no caminho

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da bala mortal! Quem pensaria em sacrificar a sua vida no fundamento da lei? Só o amor
não reputa a vida tão cara quanto o serviço do bem-Amado! O amor a Jesus cria um
heroísmo do qual a lei não sabe nada. Toda a história da Igreja de Cristo, quando ela foi fiel
ao seu Senhor, é uma prova disso. A bondade, também, operando pela lei do amor, muitas
vezes transformou o mais indigno, e nisto provou-se que não é um fator do mal.

Temos ouvido muitas vezes a história do soldado que havia sido reduzido para o nível
mais baixo, açoitado e preso, e, no entanto, apesar de tudo isso ele ainda se embebedava e
se portava mal. O comandante um dia disse: “Eu tentei quase tudo com esse homem e não
pude fazer nada com ele. Vou tentar mais uma coisa”. Quando ele foi trazido, o oficial se
dirigiu a ele e disse: “Você parece incorrigível, de forma que já se tentou de tudo com você;
não parece haver nenhuma esperança de uma mudança na sua má conduta. Estou
determinado a ver se outro plano terá algum efeito. Embora você mereça flagelação e longo
encarceramento, vou perdoá-lo livremente”. O homem ficou muito comovido com o perdão
inesperado e imerecido, e tornou-se um bom soldado. A história usa a verdade em sua testa,
todos nós percebemos que isso provavelmente acabaria assim! Essa anedota é um bom
argumento de tal forma que eu vou lhe dar outra.

Um bêbado acordou numa manhã de seu sono de embriaguez com suas roupas sobre
ele assim como ele rolou abaixo na noite anterior. Ele viu sua única criança, sua filha, Millie,
colocando seu café da manhã. Voltando aos seus sentidos, ele disse a ela: “Millie, por que
você permanece comigo?”, ela respondeu, “porque você é meu pai, e porque eu te amo”. Ele
olhou para si mesmo e viu que criatura embrutecida pelo álcool, áspera, inútil, ele era, e
respondeu-lhe: “Millie, você realmente me ama?”, clamou a criança, “sim, pai, eu amo, e eu
nunca vou te deixar, porque quando a mamãe morreu, ela disse: ‘Millie, permaneça com o
seu pai e sempre ore por ele, e um dia desses, ele vai parar de beber e ser um bom pai para
você’, assim eu nunca vou te deixar”. Será maravilhoso quando eu acrescentar que, como a
história tem dito, o pai de Millie lançou fora sua bebida e se tornou um homem Cristão? Teria
sido mais impressionante se não tivesse! Millie estava tentando a livre graça, não era? De
acordo com nossos moralistas o que ela deveria ter dito: “Pai, você é um desgraçado horrível!
Eu fiquei com você por tempo suficiente! Agora eu tenho que deixá-lo, ou então eu vou estar
incentivando outros pais a ficarem bêbados”. Sob tal negociação adequada eu temo que pai
de Millie teria continuado um bêbado até que ele se embebedaria no inferno. Mas o poder
do amor fez um homem melhor. Não provam esses casos que o amor imerecido tem uma
grande influência para o bem?

Ouça outra história. Nos antigos tempos das perseguições, vivia em Cheapside uma
pessoa temente a Deus e participante das reuniões secretas dos santos. E perto dele,

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morava um sapateiro pobre cujas necessidades eram muitas vezes aliviadas pelo
comerciante. Mas o pobre homem era um ser problemático para lidar e, mui ingrato, pela
esperança de recompensa, denunciou uma informação contra seu amável amigo a respeito
da religião. Essa acusação teria trazido o comerciante à morte na fogueira, se não tivesse
encontrado um meio de fuga. Retornando para sua casa, o homem ferido não mudou seu
comportamento generoso para com o sapateiro maligno, mas, ao contrário, era mais liberal
do que nunca! O sapateiro estava, no entanto, em um clima de mal e evitou o bom homem
com toda sua força, fugindo em sua aproximação.

Um dia, ele foi obrigado a encontra-lo face a face e o homem Cristão perguntou-lhe,
delicadamente: “Por que você me evita? Eu não sou seu inimigo. Eu sei de tudo o que você
fez para me prejudicar, mas eu nunca tive um pensamento de raiva contra você. Espero ter
ajudado você e eu estou disposto a fazê-lo, enquanto eu viver, apenas sejamos amigos”.
Você se maravilha que eles apertaram as mãos? Será que você questiona se, em pouco
tempo, o pobre homem foi encontrado na reunião dos Lolardos? Todas essas histórias
repousarão sobre o fato certo de que a graça tem um estranho poder de subjugar e levar os
homens à bondade, atraindo-os com cordas de amor [...]. O Senhor sabe que maus como os
homens são, a chave do seu coração está pendurada no prego do amor. Ele sabe que sua
bondade toda-poderosa, embora muitas vezes cause perplexidade, triunfará no final!

Acredito que meu ponto está provado. Para mim é assim. No entanto, devemos
prosseguir.

III. Não há temor de que as Doutrinas da Graça levarão os homens ao pecado, porque
SUAS OPERAÇÕES SÃO CONECTADAS COM UMA REVELAÇÃO ESPECIAL DA
MALIGNIDADE DO PECADO. A iniquidade é feita para ser extremamente amarga antes de
ser perdoada ou quando é perdoada. Quando Deus começa a lidar com um homem visando
apagar seus pecados e fazê-lo Seu filho, Ele geralmente faz com que ele veja seus maus
caminhos em toda a sua hediondez. Ele o faz olhar para o pecado com os olhos fixos, até
que ele clame como Davi: “Meu pecado está sempre diante de mim!”. No meu caso, quando
sob a convicção do pecado, meu olho mental não conheceu nenhum objeto animador, a
minha alma viu apenas escuridão e uma tempestade horrível. Parecia que uma mancha
horrível fora pintada em meus olhos!

A culpa, como um mordomo sombrio, fechou as cortinas da minha cama, pelo que eu
não descansei, mas em meus sonos antecipava a ira vindoura. Eu senti que eu tinha ofendido
a Deus e que essa era a coisa mais terrível que um ser humano poderia fazer. Eu estava

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fora de ordem com o meu Criador, fora de ordem com o universo, eu tinha amaldiçoado a
mim mesmo para sempre, e me perguntei por que eu não senti imediatamente o roer do
verme imorredouro. Mesmo a essa hora uma visão do pecado faz com que as emoções mais
terríveis habitem em meu coração. Qualquer homem ou mulher aqui que tenha passado por
essa experiência, ou algo parecido, sempre sentirá um profundo horror do pecado. A criança
queimada teme o fogo. “Não”, diz o pecador ao seu tentador, “você me enganou uma vez e
eu então sofri em consequência, mas não voltarei a ser iludido. Eu já fui liberto, como um
tição tirado do fogo, e eu não posso voltar para as chamas”.

Pelas operações da graça somos levados a nos cansarmos do pecado, nós detestamos
tanto ele quanto os seus prazeres imaginários. Gostaríamos de exterminá-lo totalmente do
solo de nossa natureza. É um anátema, assim como Amaleque era a Israel. Se você, meu
amigo, que não detesta cada coisa pecaminosa, temo que ainda estás em fel de amargura,
pois certamente um dos frutos do Espírito é um amor à santidade e um ódio a todo caminho
de falsidade. A experiência interior profundamente proíbe o filho de Deus de pecar; ele
conheceu dentro de si o seu julgamento e sua condenação e, portanto, é uma coisa
abominável para ele. Existe uma inimizade tanto feroz quanto sem fim, entre a semente
escolhida e a prole da serpente do mal, portanto, o medo que a graça será abusada é
abundantemente salvaguardado.

IV. Lembre-se, também, que não somente o homem é perdoado, consequentemente


colocado contra o pecado pelo processo de convicção, PORÉM TODO HOMEM QUE
PROVA DA GRAÇA SALVÍFICA DE DEUS É FEITO UMA NOVA CRIATURA EM CRISTO
JESUS. Agora, se as Doutrinas da Graça nas mãos de um homem comum podem ser
perigosas, ainda elas deixam de ser assim nas mãos de alguém que é vivificado pelo Espírito
e criado novamente à imagem de Deus. O Espírito Santo vem sobre o eleito e transforma-o,
sua ignorância é removida, suas afeições são alteradas, o seu entendimento é iluminado, a
sua vontade é subjugada, seus desejos são refinados, sua vida é transformada, na verdade,
ele é como um recém-nascido, para quem todas as coisas se tornaram novas. Esta mudança
é comparada nas Escrituras à ressurreição dentre os mortos, a uma criação e um novo
nascimento.

Isso acontece em todos os homens que se tornam um participante da livre graça de


Deus. “Necessário vos é nascer de novo”, disse Cristo a Nicodemos, e os homens graciosos
nasceram de novo! Alguém disse outro dia: “Se eu acreditasse que eu estou eternamente
salvo, eu viveria em pecado”. Talvez você fizesse isso, mas se você fosse renovado no
coração, você não o faria! “Mas”, diz alguém, “se eu acreditasse que Deus me amou desde

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antes da fundação do mundo e que, portanto, eu serei salvo, gostaria de aproveitar


completamente o pecado”. Talvez você e o Diabo o fariam, mas os regenerados filhos de
Deus não são assim baseados na natureza! Para eles, a graça abundante do Pai é um
vínculo para a justiça que eles nunca pensam em quebrar, eles sentem os doces
constrangimentos da sagrada gratidão e o desejo de aperfeiçoar a santidade no temor do
Senhor.

Todos os seres vivem de acordo com a sua natureza e o homem regenerado apresenta
os instintos sagrados de sua mente renovada! Clamando por santidade, guerreando contra
o pecado, esforçando-se por ser puro em todas as coisas, o homem regenerado coloca
emprega todas as suas forças para alcançar o que é puro e perfeito. Um novo coração faz
toda a diferença! Dada uma nova natureza, todas as propensões funcionam de uma forma
diferente, e as bênçãos de amor Todo-poderoso não envolvem perigo, mas conduzem às
mais elevadas aspirações!

V. Uma das principais garantias para a santidade do perdoado é encontrada no


caminho da purificação através da EXPIAÇÃO. O sangue de Jesus santifica, assim como o
perdoa. O pecador descobre que seu perdão gratuito custou a vida de seu melhor Amigo e,
para sua salvação, o próprio Filho de Deus agonizou até mesmo em suor de sangue e morreu
abandonado por Seu Deus. Isso lhe causa uma lamentação sagrada pelo pecado como se
ele olhasse para o Senhor a quem ele traspassou. O amor a Jesus arde dentro do peito do
pecador perdoado, pois o Senhor é o seu Redentor e, por isso, ele sente uma indignação
queimando contra o malvado assassino, o pecado. Para alguém, todo o mal é detestável,
uma vez que ele mesmo foi aspergido com o sangue do Salvador.

Como o pecador penitente ouve o grito: “Eloí, sabactâni”, ele fica horrorizado ao pensar
que Alguém tão puro e bom fosse abandonado pelo Céu por causa do pecado que Ele
carregou no lugar de Seu povo. A partir da morte de Jesus a mente chega à conclusão de
que o pecado é excessivamente maligno aos olhos do Senhor, pois se a justiça eterna não
poupou nem mesmo o bem-Amado Jesus quando o pecado foi imputado sobre Ele, quanto
menos ela poupará os homens culpados? Deve ser uma coisa indizivelmente cheia de
veneno o que pode fazer até mesmo o Imaculado Jesus sofrer tão terrivelmente!

Nada pode ser imaginado ter maior poder sobre as mentes graciosas do que a visão
de um Salvador crucificado denunciando o pecado por meio de todas as Suas feridas, e por
cada gota de sangue. O quê? Viver no pecado que matou Jesus? Encontrar prazer naquilo
que causou a Sua morte? Brincar com aquilo que colocou Sua glória no pó? Impossível!

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Assim, você vê que os dons da livre graça, quando comunicados por um lado traspassado,
jamais tendem a sugerir autoindulgência em relação ao pecado, mas o contrário.

VI. Em sexto lugar, um homem que se torna participante da graça Divina e recebe a
nova natureza é, após isso, para sempre UM PARTICIPANTE DA DIÁRIA AJUDA DO
ESPÍRITO SANTO DE DEUS. Deus, o Espírito Santo se digna a habitar no peito de cada
homem a quem Deus salva por Sua graça. Isso não é um excelente meio de santificação?
Pois, por qual processo pode o homem ser mais bem guardado do pecado do que por ter o
Espírito Santo, habitando nele como vice-regente dentro de seus corações? O Espírito,
sempre bendito, conduz os crentes a vigiarem mais em oração, e que tal poder de santidade
é encontrado no filho da graça que fala com o Pai celestial! O homem tentado corre para o
seu quarto, derrama a sua tristeza em Deus, olha para as feridas que fluem de seu Redentor
e sai forte para resistir à tentação.

A Palavra de Deus, também, com seus preceitos e promessas, é uma fonte inesgotável
de santificação. Se não fosse que nós, todos os dias, tomássemos banho na fonte sagrada
da força eterna, poderíamos em breve ficar enfraquecidos e indecisos, mas a comunhão com
Deus nos renova para nossa guerra vigorosa contra o pecado. Como é possível que as
Doutrinas da Graça poderiam sugerir pecado aos homens que constantemente se
aproximam de Deus? O homem renovado também é, pelo Espírito de Deus, muitas vezes
vivificado em sua consciência, de maneira que aquilo que antes não o incomodava como
pecador, é visto em uma luz mais clara e é, consequentemente, condenado. Sei que certos
assuntos são pecaminosos para mim, hoje, que não pareciam assim há 10 anos atrás, o meu
juízo, eu confio, tem se tornado cada vez mais limpo da cegueira do pecado.

A consciência natural é insensível e dura, mas a consciência graciosa cresce mais e


mais em sensibilidade até que, por fim, torna-se tão sensível como uma ferida aberta. Aquele
que tem mais graça é mais consciente de sua necessidade de mais graça. O agraciado
muitas vezes tem medo de colocar um pé diante do outro, com medo de agir errado. Você
nunca sentiu este santo temor, essa cautela sagrada? É por este meio que o Espírito Santo
impede que sua liberdade Cristã nunca se transforme em licenciosidade, ou se atreva a fazer
da graça de Deus um argumento para a loucura! Então, além disso, o bom Espírito nos
conduz à alta e sagrada comunhão com Deus, e eu desafio qualquer homem a viver no
monte com Deus e, em seguida, descer a transgredir como homens mundanos! Se você já
caminhou no piso do palácio da glória e viu o Rei em Sua formosura, até que a luz de Seu
semblante foi o seu céu, você não pode se contentar com a tristeza e escuridão das tendas
da maldade!

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Mentir, enganar, fingir, como os homens do mundo fazem, já não será mais para você.
Você é de outra raça e sua conversa está acima deles, “sua fala te denuncia”. Se você, de
fato, viver com Deus, o perfume dos palácios de marfim estará sobre você e saberão que
você tem estado em habitações diferentes das deles. Se o filho de Deus se conduz mal, em
qualquer grau, ele perde, até certo ponto, a doçura de sua comunhão e somente enquanto
ele caminha cuidadosamente com Deus é que ele goza de plena comunhão, de modo que
estar aumentando ou diminuindo na comunhão se torna uma espécie de disciplina paternal
na casa do Senhor. Nós não temos nenhum tribunal com um juiz, mas temos uma casa com
Sua paternidade, Seu sorriso e Sua vara! Nós não estamos sem ordem na família do amor,
pois o nosso Pai nos trata como filhos. Assim, de mil maneiras, todo o perigo da nossa
presunção sobre a graça de Deus é efetivamente removido.

VII. A INTEIRA ELEVAÇÃO DO HOMEM QUE É FEITO PARTICIPANTE DA GRAÇA


DE DEUS é também um conservante especial contra o pecado. Atrevo-me a dizer, embora
possa ser controvertido, que o homem que acredita nas gloriosas Doutrinas da Graça
geralmente é um homem de modos muito mais elevados do que a pessoa que não tem
opinião sobre o assunto. O que a maioria dos homens pensa? Pão e manteiga, aluguel de
casa e roupas. Mas os homens que consideram a beleza das doutrinas do Evangelho
pensam sobre a Aliança eterna, a predestinação, o amor imutável, o chamado eficaz, Deus
em Cristo Jesus, a obra do Espírito, a justificação, a santificação, a adoção e semelhantes
temas nobres! Ora, é um refrigério apenas olhar para o catálogo destas grandes verdades
de Deus!

Os outros são como crianças brincando com pequenos montes de areia na praia. Mas
o que crê na livre graça caminha entre colinas e montanhas! Os temas dos pensamentos em
torno desta torre são ascendentes, alpes sobre alpes! A estatura mental do homem aumenta
com sua proximidade e ele e se torna um ser pensativo, comungando com sublimidades.
Isso não é pouca coisa, para algo tão apto a rastejar como o medíocre intelecto humano!
Desta forma a libertação dos vícios vulgares e das paixões degradantes deverá ser
promovida, eu digo que não é pouca coisa! Irreflexão é a mãe prolífica de pecado! É um sinal
de esperança quando as mentes começam a vaguear entre as verdades sublimes de Deus.

O homem que foi ensinado por Deus a pensar não vai tão facilmente pecar como o ser
cuja mente está enterrada debaixo de sua carne. O homem já obteve uma visão diferente de
si mesmo da que o levava ao caminho do desperdício do seu tempo com a ideia de que não
havia nada melhor para ele do que ser feliz enquanto podia. Ele diz: “Eu sou um dos
escolhidos de Deus, ordenado para ser Seu filho, Seu herdeiro, coerdeiro com Jesus Cristo!

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Estou separado para ser um rei e sacerdote para Deus e, como tal, não posso ser ateu, nem
viver para objetivos comuns da vida”. Ele se eleva no objetivo de sua busca, ele não pode
viver para si mesmo, pois ele não é seu, ele é comprado por um preço. Agora, ele vive na
presença de Deus e viver para ele é real, sério e sublime! Ele cuida para não juntar ouro com
o ancinho do avarento, pois ele é imortal e deve buscar bens eternos.

Aquele que sente que nasceu para propósitos Divinos e pergunta: “Senhor, o que
queres que eu faça?”, sente que Deus o amou de modo que o seu amor pode fluir para os
outros. A escolha de Deus em relação a qualquer homem tem uma influência sobre todo o
restante. Ele elegeu um José dentre uma família inteira, uma nação inteira, não, o mundo
inteiro pôde ser preservado vivo quando a fome havia rompido o sustento do pão. Nós
somos, cada um, como uma lâmpada acesa para que possamos brilhar no escuro e acender
outra luz. Novas esperanças unem-se ao homem que é salvo pela graça. Seu espírito imortal
goza vislumbres do eterno. Como Deus o amou no tempo, ele acredita que o mesmo amor
o abençoará na eternidade. Ele sabe que seu Redentor vive e que nos últimos dias ele deve
contemplá-lO e, portanto, ele não tem medo do futuro.

Mesmo enquanto aqui embaixo ele começa a cantar as canções dos anjos, pois seus
espíritos veem ao longe o vislumbre da glória que ainda está para ser revelada! Assim, com
corações alegres e luminosos passos eles vão para o futuro desconhecido como
alegremente vão a uma festa de casamento! Existe um pecador aqui, um pecador culpado,
alguém que não tem mérito, nenhuma pretensão de misericórdia que seja? Existe alguém
disposto a ser salvo pela livre graça de Deus através da fé em Jesus Cristo? Então deixe-
me dizer-lhe, pecador, não há uma palavra no livro de Deus contra você, e nem uma linha
ou sílaba, mas tudo está a seu favor! “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação,
que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”, mesmo o principal! Jesus veio
ao mundo para salvar você! Apenas confie e descanse nEle!

Vou dizer-lhe aquilo que deveria fazer você buscar a Cristo de uma vez: é o pensamento
de Seu maravilhoso amor! Um filho libertino tinha sido uma grande tristeza para seu pai. Ele
lhe havia roubado e desonrado e, finalmente, acabou por trazer suas cãs com tristeza à
sepultura. Ele era um filho horrível e desgraçado, ninguém poderia ter sido mais desgraçado!
No entanto, ele participou do funeral de seu pai e ele ficou para ouvir o que seria lido. Talvez
tenha sido a principal razão pela qual ele estava lá. Ele havia totalmente concebido em sua
mente que seu pai iria vedá-lo até mesmo de um xelim, e ele quis fazer disso algo muito
desagradável para o restante da família. Para sua grande surpresa, quando o testamento foi
lido, ele transcorreu mais ou menos assim: “Quanto ao meu filho, Richard, embora ele tenha
temerariamente desperdiçado minhas posses, e embora ele tenha muitas vezes entristecido

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meu coração, eu queria que ele soubesse que eu o considero como sendo ainda meu querido
filho e, portanto, em sinal do meu amor eterno, deixo-lhe a mesma participação que ao
restante de seus irmãos”.

Ele saiu da sala. Ele não podia suportar. O amor surpreendente de seu pai o havia
dominado! Ele desceu para o executor na manhã seguinte e disse: “Você está certo de que
leu corretamente?”, “Sim, eu li. Está lá”. “Então”, ele disse, “eu me sinto pronto para me
amaldiçoar, pois eu sempre entristeci meu querido velho pai. Oh, que eu pudesse trazê-lo
de volta!”. O amor nasceu neste coração baseado em uma exibição inesperada de amor. O
seu caso não pode ser semelhante? Nosso Senhor Jesus Cristo morreu, mas Ele deixou em
Seu Testamento que os principais dos pecadores são objetos escolhidos de Sua
misericórdia! Ao morrer, Ele orou: “Pai, perdoa-lhes”. Ressuscitado, Ele intercede pelos
transgressores. Os pecadores estão sempre em Sua mente, a sua salvação é o Seu grande
objetivo. Seu sangue é para eles, o Seu coração é para eles, a Sua justiça é para eles, Seu
Céu é para eles!

Venha, ó culpado, e receba a sua parte! Estenda a mão da fé e agarre a sua porção!
Confie em Jesus, com sua alma e Ele te salvará! Deus o abençoe. Amém.

Porção lida antes do Sermão: Romanos 6

Hinos “Nosso Próprio Hinário” — 136, 980, 645.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos
Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!

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2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
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na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
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encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
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de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
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Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
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para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
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Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
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Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
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se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
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nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
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por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
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também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
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Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
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interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
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produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não OEstandarteDeCristo.com
veem; porque as que se veem são temporais, e as que se 154
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo

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