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4. Aqui ficam algumas notas caraterísticas deste episódio de Lucas: A) Neste dealbar da vida
pública de Jesus, é dito que todo o povo está em febril expetativa e se pergunta se João não
será o Messias esperado. B) João responde claramente que não é o Messias, mas aquele que
prepara a Vinda do Messias, reunindo o povo e voltando-o para o Senhor, cumprindo quanto
disse o Anjo a Zacarias: «fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos
para os pais (…), para preparar para o Senhor um povo pronto a recebê-lo» (Lucas 1,17; cf.
Malaquias 3,24 acerca de Elias). C) Cumprida esta sua missão, João sai de cena, pois é
metido na prisão por Herodes Antipas (Lucas 3,19-20), não estando, portanto, presente na
cena do Batismo de Jesus! D) Em Lucas, João não entra nas praias do Novo Testamento.
Escreve: «A Lei e os Profetas até João; daí para a frente, é evangelizado o Reino de Deus»
(Lucas 16,16). Por isso, e ao contrário do que sucede em Mateus e Marcos, que dão a notícia
da prisão de João depois do Batismo de Jesus (Mateus 4,12; Marcos 1,14), Lucas fá-lo
prender antes do Batismo de Jesus, com a intenção clara de que seja o Espírito Santo a
batizar Jesus (veja-se a rutura entre Lucas 3,20 e 21). O Evangelho de Lucas é também
chamado o Evangelho do Espírito Santo; daí, o protagonismo dado ao Espírito Santo. E) O
narrador faz-nos ver outra vez o povo todo reunido e batizado, antes de nos pôr a todos a
contemplar a primeira ação de Jesus batizado com o Espírito: Jesus em Oração, tema caro a
Lucas (é também chamado o Evangelho da Oração), e, no contexto do Batismo, exclusivo de
Lucas! F) O narrador desenha logo a seguir uma verdadeira coreografia celeste: o céu
aberto, o Espírito Santo que desce como uma pomba (tempo novo: a pomba sai da Palestina
em setembro/outubro e regressa com a Primavera), uma voz vinda do céu, isto é, de Deus,
declarando, de acordo com o Salmo 2,7: «Tu és o meu Filho, o Amado, em Ti pus o meu
enlevo» (Lucas 3,21-22).
5. A partir do Batismo de Jesus no Jordão, é missão da Igreja Una e Santa, toda Batizada e
Confirmada, viver esta intimidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e seguir o seu
Senhor, passo a passo, ao longo do inteiro Ano Litúrgico, para ver bem como faz Jesus, o
Filho Amado, Batizado com o Espírito Santo. O que faz Jesus e como faz Jesus, é quanto
devemos fazer nós também, dado que também nós fomos Batizados com o Espírito Santo e
elevados à condição de filhos adotivos (Gálatas 4,4-7).
6. Pelos motivos expostos, o Jordão é o rio de Cristo e dos cristãos. E, por esta razão, muitas
Igrejas Orientais chamam «Jordão» à água da fonte batismal, que todos os anos é benzida
precisamente neste Dia da Festa do Batismo do Senhor.
8. Verdadeiramente, Deus é a vida deste Servo, que Ele ampara, leva pela mão e modela.
Linguagem de criação, confidência e providência.
9. Há ainda a registrar uma expressão forte para dizer a missão de mansidão confiada por
Deus a este seu Servo: «Não fará ouvir desde fora a sua voz». Ora, se não faz ouvir a sua
voz desde fora, só a pode fazer ouvir desde dentro. O grande pensador do século XX, de
origem hebraica, Emmanuel Levinas, glosava, nas suas lições talmúdicas, este texto em
sentido messiânico, escrevendo que «o Messias é o único Rei que não reina desde fora». Se
não reina desde fora, então não reina com poder, dinheiro, armas ou decretos. Se não reina
desde fora, então só pode reinar desde dentro, aproximando-se das pessoas, descendo ao
nível das pessoas, amando as pessoas. Jesus vai assumir a identidade deste Servo e vai
cumprir por inteiro a sua missão.
10. E não nos esqueçamos que a sua bela missão de Filho e de Servo terá de ser também a
nossa bela missão de filhos e de servos.
12. Para não esquecer: esta bela missão de Jesus, Batizado com o Espírito no Jordão e
declarado o Filho Amado, deve ser a nossa bela missão de Batizados com o Espírito Santo e
filhos amados de Deus. É ainda como filhos que devemos hoje entoar também as notas
deste Gloria in excelsis Deo do Antigo Testamento, que é o belíssimo Salmo 29. A voz (qôl)
que por sete vezes se ouve no Salmo bem pode ser a Voz do Pai que se dirige ao Filho no
Batismo do Jordão e continua a ressoar na pregação Apostólica como se do setenário dos
dons do Espírito Santo ou dos Sacramentos se tratasse. Escreveu São Gregório Magno: «A
voz de Deus troa admiravelmente porque, como força escondida, penetra nos nossos
corações».
Enviadas em missão
À semelhança, claro,
E de misericórdia o vestiram.
António Couto