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La Démonologie Platonicienne Histoire de La Notion de Daímon PDF
La Démonologie Platonicienne Histoire de La Notion de Daímon PDF
Resenha
qu’à Platon”, apresenta uma visão geral filosofia: religião, ética, cosmologia e psi-
dos conceitos de daímon na tradição cologia. São, então, organizados em duas
grega antes de Platão: nos poemas homé- categorias as diferentes figuras platônicas
ricos, na poesia, na tragédia, e nos filóso- de daímon: o daímon Eros, intermediário
fos pré-socráticos. Também organizado entre os homens e os deuses (Banquete
em categorias temáticas – daímon como 202 d-e), e uma categoria genérica de
entidade particular; como poder divino “daímones guardiões”, que reunem: o
indefinido; como deidade do destino; sinal daimonico (δαιμόνιον σημεῖον) de
como espírito vingativo; como alma dos Sócrates, o daímon pessoal (República X,
mortos; ou como gênio tutelar; o capítu- 617 d-e, 620 d-e, Fédon 107d), os “guar-
lo busca discernir a influência exercida diões dos mortais” de Hesíodo (Crátilo,
pela tradição anterior na daimonologia 397 e- 398 c, Político 271 c- 274d, Leis IV,
de Platão, permitindo compreender o 713 d-e), e o daímon identificado à parte
campo semântico de base e que tornou superior da alma, o νοῦ̋ (Timeu 90a-c)
possível a transposição filosófica da A primeira parte do capítulo é dedi-
noção de daímon no pensamento do cada a figura do daímon Eros, tal qual
filósofo. O autor parte, então, da defini- aparece no Banquete. Timotin aborda o
ção etimológica do termo daímon; sua papel de sua figura como personificação
raiz dai- associa δαίμων a δαίομαι e δαί̋ e do método filosófico e símbolo do cami-
aponta o significado de “partilha”, “repar- nho anagógico-iniciático em direção ao
tição”. Apoiando-se em autoridades tais suprasensível, que na sua ascendência
como Gernet e Detienne, Timotin assume vai progressivamente do particular ao
que o termo gira em torno da noção de geral e das realidades sensíveis às inte-
“repartição do destino”, e que as várias ligíveis. O daímon Eros, assim como o
acepções de daímones desse período tipo de discurso (mítico) que o coloca em
(potência divina indefinida, espírito vin- cena, cumpre a função intermediária de
gativo, gênio tutelar etc.) se organizam passagem de um saber contingente (δόξα)
prevalentemente em torno dessa noção para a verdadeira ciência (ἐπιστήμη). A
primária de “repartição”. E mesmo tendo figura do daímon Eros é, então, apro-
Hesíodo feito dos antigos homens da priada tanto como análogo mítico na
Raça de Ouro, daímones, “guardiões Filosofia, quanto patrono da religião
dos homens mortais”, Timotin identifica (iniciações, adivinhações, orações etc.).
Platão (particularmente em Banquete A segunda parte do capítulo dedica-se
203c-e) como o formulador da ideia dos aos “daímones guardiões”. É também,
daímones como mediadores entre deuses em todos estes variados casos, o discurso
e homens, que será o assunto abordado mítico que lhes introduzem, afirma o
no capítulo seguinte. autor, vinculando-os a variadas temáticas:
O terceiro capítulo, “Les figures pla- a vida filosófica (Apologia, República), a
toniciennes du daimōn”, trata, portanto, pedagogia socrática (Alcebíades I, Teete-
da noção de daímon utilizada por Platão, to), o destino e responsabilidade humana
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homogeneidade do cosmos, como, pela sição antogônica a Porfírio, é Jâmblico
sua função intermediária, a harmonia quem ditará as orientações desse tema às
que rege as relações entre os deuses e doutrinas posteriores, e Timotin mostra
os homens, fundamentando, assim, pre- como Proclo e Siriano herdaram essa
ces, oráculos e sacrifícios. Mais do que sua tradição.
isso, a daimonologia médio-platônica é Encerrando a investigação, o sexto
estritamente ligada, a partir de Fílon, a capítulo, “Le culte du daimōn intérieur.
uma teoria da providência que permite Du daimōn de Socrate au daimōn per-
levar a ação dos deuses à humanidade, sonnel”, trata do daímon pessoal que,
sem prejudicar a sua majestosa trans- obviamente, está estritamente ligado ao
cendência. Mas a partir de Jâmblico a daímon de Sócrates, assunto que sucitou
Teurgia entra em cena e sua abordagem diferentes opiniões e debates ao longo de
será determinante na daimonologia séculos. Dentre eles, tal daímon pode ser
posterior, particularmente na Teologia considerado externo, tal qual qual apare-
de Proclo. ce no Fédon ou na República, ou interno,
O quinto capítulo, “Démonologie et como a parte mais elevada da alma indi-
religion dans le monde gréco-romain”, vidual conforme sugerido em Timeu 90a-
destaca o grande valor da obra de Plu- c, segundo o autor; ou, ainda, como em
tarco. O foco é dado particularmente ao Plutarco (no mito do De Genio), ambos
seu cruzamento da daimonologia com interno e externo de uma só vez. Timotin
as práticas da religão cívica. O filósofo mostra como tal questão, aparentemente
de Queroneia desenvolve uma leitura insolúvel, encontra uma conciliação origi-
filosófica do mito, do rito, da mântica nal em Plotino (em Enéadas III.4). Outra
e da adivinhação oracular, e associa os grande questão duradoura foi se todos
daímones aos deuses passíveis (ἐμπαθεῖ̋ teriam um daímon guardião, ou apenas
θεοί) dos dramas mistéricos, preservan- certos seletos sábios, e ligava-se a ainda
do tanto a impassibilidade dos deuses outras questões, entre as quais a da “es-
superiores como o papel daímônico de colha de vida” (βίον αἵρεσι̋), e o modus
ligação com eles. Ademais, a passibili- communicandi entre a alma humana e
dade dos daímones parece dar crédito o mundo divino. Encontram-se, assim,
à controversa existência de daímones importantes contribuições de Plutarco,
maus, tema um tanto periférico em Apuleio, Plotino (o qual até então não
Plutarco e completamente ausente em tivera muita presença na pesquisa), e
Apuleio e Máximo, mas que ocupa um por último Jâmblico e Proclo, todos os
lugar central em Porfírio. Apuleio e Má- quais são lidados meticulosamente por
ximo de Tiro desenvolvem, a partir dos Timotin.
princípios formulados por Plutarco, uma Considerando que o último estudo
interpretação daimonológica da religião, com a abrangência do trabalho de Timo-
que se apresenta como a apologia filo- tin havia sido feito em fins do século XIX,
sófica de uma religião para a fé cívica e e a significativa quantidade de esutdos