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De acordo com Michael Heiser em seu livro "Demons: What the Bible Really
Says About the Powers of Darkness", a teologia do Antigo Testamento (AT)
e do Novo Testamento (NT) em relação aos demônios é consistente em sua
visão de que os demônios são seres reais, criados por Deus como anjos, mas
que se rebelaram contra ele e se tornaram maléficos.
No entanto, Heiser observa que a visão da autoridade e poder dos
demônios muda um pouco entre o AT e o NT. No AT, os demônios são
retratados como sendo subservientes a Deus e limitados em seu poder,
sendo usados como instrumentos do juízo divino sobre as nações. Já no NT,
a autoridade e poder dos demônios são enfatizados em maior medida,
especialmente em relação ao seu controle sobre as pessoas que estão
possuídas.
No geral, Heiser enfatiza que a visão bíblica dos demônios deve ser
entendida dentro do contexto mais amplo da teologia bíblica, que
reconhece a soberania de Deus sobre todas as coisas, incluindo os poderes
demoníacos.
Sempre que pensamos em teologia, no que concerne a sua cosmovisão é
preciso nos perguntarmos a respeito dos textos na língua original. Quais
eram os termos hebraicos para demônios no AT?
No Antigo Testamento, os termos hebraicos usados para descrever os
demônios incluem "shedim" e "se'irim".
A palavra "shedim" é usada para se referir a espíritos maus, e aparece
algumas vezes no Antigo Testamento, como em Deuteronômio 32:17 e
Salmo 106:37. A palavra "se'irim" é geralmente traduzida como "bodes",
mas também é usada em contextos que sugerem uma conexão com
espíritos maus. Por exemplo, em Levítico 17:7, é dito que os israelitas não
devem mais oferecer sacrifícios aos "se'irim" (bodes) no deserto, mas sim
devem oferecer sacrifícios somente a Deus.
Também há algumas outras palavras que são usadas no Antigo Testamento
para se referir a espíritos malignos, como "ruach ra'" (espírito maligno) e
"lilith" (uma figura mítica que é frequentemente associada a espíritos
malignos na tradição judaica).
No entanto, é importante ressaltar que esses termos não são usados com
frequência no Antigo Testamento, e a ênfase no AT está mais em destacar a
soberania de Deus sobre todas as coisas, incluindo as forças malignas. É no
Novo Testamento que há uma maior ênfase na atuação dos demônios e em
sua oposição à obra de Cristo e ao evangelho.
No primeiro capítulo do livro "Demons: What the Bible Really Says About
the Powers of Darkness", Michael Heiser destaca dois termos hebraicos
usados no Antigo Testamento para descrever os espíritos maus:
"shedim": como mencionei anteriormente, "shedim" é uma palavra
hebraica usada para se referir a espíritos maus. Heiser destaca que esta
palavra é encontrada em Deuteronômio 32:17 e em outros lugares do
Antigo Testamento, e é muitas vezes traduzida como "demônios" ou
"espíritos malignos".
"mazzalot": este termo hebraico é usado em Isaías 47:13 para se referir a
adivinhação e astrologia. Heiser argumenta que este termo é importante
porque a adivinhação e a astrologia eram frequentemente associadas com
a invocação de espíritos malignos no mundo antigo. A menção de
"mazzalot" em Isaías 47:13, portanto, pode ser vista como uma referência
aos espíritos maus que estavam por trás dessas práticas.
Heiser também destaca que há outras palavras usadas no Antigo
Testamento que têm conotações negativas, como "nachash" (serpente),
"repha'im" (espíritos dos mortos) e "'owph" (ave de rapina). Embora essas
palavras não sejam usadas especificamente para se referir a espíritos
malignos, elas são frequentemente associadas com práticas ocultas e
idolatria no Antigo Testamento.
Mas afinal de conta, segundo a Bíblia hebraica, quem fora o rebelde original
segundo Heiser?
Segundo Michael Heiser, o rebelde original foi um ser celestial conhecido
como "ha-Satan" (o adversário) ou simplesmente Satanás.
Heiser baseia essa afirmação em uma análise cuidadosa das passagens
bíblicas que mencionam Satanás e sua queda. Por exemplo, argumenta que
as referências a Satanás em passagens como Jó 1-2 e Zacarias 3 indicam que
Satanás é um ser real que se opõe a Deus e a seu plano divino.
Além disso, Heiser observa que há uma tradição judaica e cristã que
identifica Satanás como o líder dos anjos caídos que se rebelaram contra
Deus no início da história cósmica. Essa tradição é baseada em passagens
como Isaías 14:12-15 e Ezequiel 28:12-19, que falam de um ser celestial que
se elevou em orgulho e foi lançado à terra.
Essa tradição é consistente com a visão bíblica dos demônios como seres
criados por Deus que se rebelaram contra ele e se tornaram maléficos. No
entanto, ele também enfatiza que a Bíblia não fornece muitos detalhes
sobre a queda de Satanás e dos anjos caídos, e que há limites para o que
podemos afirmar com certeza sobre esses eventos cósmicos.
Mas quem foi satanás no judaísmo do segundo templo, ou melhor como
fora interpretado segundo a visão de Heiser?
De acordo com o autor, a visão judaica do segundo templo de Satanás era
influenciada pela tradição bíblica, mas também por outras crenças e
tradições religiosas do mundo antigo.
Heiser destaca que a literatura judaica do segundo templo, como os livros
apócrifos e os pergaminhos do Mar Morto, apresenta Satanás como um ser
celestial que se opõe a Deus e tenta desviar os seres humanos do caminho
da retidão. No entanto, essa literatura também apresenta uma variedade
de outras figuras demoníacas e maléficas, algumas das quais podem ter sido
influenciadas pelas crenças pagãs e helenísticas da época.
Para os judeus do segundo templo, a crença em Satanás e outros espíritos
malignos era uma maneira de explicar a presença do mal e da doença no
mundo. Essa crença também servia como uma forma de resistência contra
o domínio romano e outros poderes opressivos, que eram vistos como
agentes do mal e da corrupção.
As três rebeliões:
De acordo com Michael Heiser, a Bíblia não oferece uma descrição
detalhada das rebeliões dos seres celestiais contra Deus. No entanto, ele
tenta fornecer uma explicação especulativa baseada em uma leitura
cuidadosa de passagens bíblicas relevantes.
Ele argumenta que a primeira rebelião ocorreu quando Satanás, que era um
dos principais anjos de Deus, se rebelou e tentou estabelecer seu próprio
reino independente pela cobiça de ser igual ao Altíssimo (não de vencê-lo).
Essa rebelião pode ter envolvido outros anjos que se juntaram a Satanás em
sua revolta. No entanto, Heiser enfatiza que não há detalhes suficientes na
Bíblia para determinar com certeza a natureza ou a extensão dessa rebelião
e nem sequer que um terço dos anjos seguiram o adversário de deus, vide
a má interpretação do livro de apocalipse.
Heiser também fala de uma segunda rebelião que pode ter ocorrido durante
a época de Enoque, que é mencionado em Gênesis capítulo 6. O autor
especula que essa rebelião vinculava-se aos anjos vigilantes que se
envolveram com seres humanos e produziram uma raça de gigantes
conhecida como os nefilins.
Quanto à terceira rebelião, Heiser sugere que ela ocorreu durante a
construção da Torre de Babel, conforme descrito em Gênesis 11. Ele diz que
os construtores da Torre de Babel estavam tentando criar um caminho para
o céu, a fim de desafiar Deus e estabelecer seu próprio reino independente.
Isso pode ter envolvido seres caídos, que estavam cooperando com os
construtores da torre.
De acordo com o autor, há algumas indicações na Bíblia que sugerem a
presença de deuses (elohim) caídos durante a construção da Torre de Babel.
Por exemplo, em Deuteronômio 32:8-9, é mencionado que Deus dividiu as
nações de acordo com o número de filhos de Deus, o que sugere que esses
"filhos de Deus" tinham alguma influência sobre as nações. Além disso, em
Salmos 82, é mencionado que os "deuses" (em hebraico, "elohim") são
responsáveis pelo governo da terra, mas serão julgados por Deus. Heiser
argumenta que esses "deuses" são seres caídos que governavam as nações.
Há aí uma clara conexão entre a história da Torre de Babel em Gênesis e a
visão de Nabucodonosor em Daniel 2. Em ambos os casos, há uma tentativa
de alcançar a divindade através de uma torre ou imagem.
No caso de Nabucodonosor, ele teve um sonho sobre uma grande estátua
feita de vários materiais, que representava vários impérios mundiais. A
estátua foi destruída por uma pedra que caiu do céu, representando o reino
de Deus. O autor sugere que a estátua de Nabucodonosor pode ter sido
uma tentativa de alcançar a divindade por meios humanos, assim como a
Torre de Babel.
Além disso, Heiser também diz que os "príncipes" ou “deuses” das nações
mencionados em Daniel 10:13 e 20 podem ter sido os mesmos seres
caídos mencionados em Salmos 82 e Deuteronômio 32:8-9, que estavam
envolvidos na tentativa de rebelar-se contra a ordem do mundo.
Vale també, a ressalva de como Heiser interpreta a ideia de que Deus criou
tudo do nada.
Ao que parece o autor aceita a ideia de que Deus criou tudo do nada ("ex
nihilo"), mas ele argumenta que essa ideia não é muito enfatizada na
Bíblia. Em vez disso, ele sugere que a Bíblia apresenta Deus como um
"organizador" ou "arranjador" que dá forma e ordem ao caos pré-
existente, o que poderia se encaixar ainda que de inadequado ao ser
divino de Platão que plasma a matéria.
Do ponto de vista linguístico, Heiser aponta que o verbo hebraico "bara"
(criar) é usado apenas em relação a Deus na Bíblia, mas nem sempre
implica a criação a partir do nada. Ele cita alguns exemplos em que o verbo
"bara" é usado para descrever a criação de coisas que já existiam em
potencial, como os seres humanos em Gênesis 1:27 e o fogo em Isaías
45:7. Heiser sugere que, nesses casos, "bara" pode ser entendido como
"dar forma" ou "designar".
No entanto, o teólogo enfatiza que isso não significa que a criação a partir
do nada não seja uma ideia bíblica válida. Ele argumenta que a ênfase na
ordem e organização da criação na Bíblia pode ser vista como uma
resposta à ideia de que o universo era governado por vários deuses
caóticos e desorganizados, comuns na cultura do Antigo Oriente Médio. A
ideia de um Deus único e ordenado que traz ordem ao caos seria uma
afirmação da superioridade de Deus sobre esses outros deuses.
Heiser diz que o Antigo Testamento apresenta o que ele chama de
"henoteísmo monolátrico", o que significa que há reconhecimento de que
outros deuses existem (no sentido de uma pluralidade de seres), mas
apenas um é digno de adoração e devoção, o Deus criador. Essa é uma
visão diferente do monoteísmo absoluto, que nega a existência de outros
deuses, porém, no henoteísmo judaíta Deus não é meramente o líder de
um panteão de deuses, é o criador de tudo.
E como já vimos o autor aborda com veemência a questão dos "filhos de
Deus" mencionados em Gênesis 6:2, que se relacionaram com as "filhas
dos homens". Ele é categórico em dizer que essa expressão se refere a
seres sobrenaturais, possivelmente anjos que tomaram forma humana e
tiveram relações sexuais com mulheres. Ele sugere que essa interpretação
é apoiada por outras referências a seres sobrenaturais na Bíblia, como Jó
1:6 e 2:1, onde os "filhos de Deus" se apresentam perante o Senhor.
Podemos inclusive fazer aqui uma associação com as ideias de Rene Girard
que atesta que o sacrifício de Cristo acabaria com a prática de sacrifícios
rituais pagãos que envolviam mortes de animais e até de humanos.
Mas se a vitória de Cristo foi tão avassaladora, como Heiser explica a
continuidade do mal no mundo depois da vitória de Cristo? Os principados
foram derrotados mas continuam atuando fazendo novas tentativas de
dominação?
Infelizmente sim, Heiser acredita que embora os poderes demoníacos
tenham sido derrotados na cruz e na ressurreição de Cristo, eles ainda
exercem influência no mundo e continuam a tentar dominá-lo. Ele vê a
continuidade do mal no mundo como resultado da natureza da escolha
humana e da capacidade de resistência dos poderes espirituais.
Embora Cristo tenha vencido as potestades e principados, eles ainda têm
uma influência residual no mundo e nos corações dos homens que não
foram redimidos. Além disso, os poderes demoníacos ainda têm liberdade
para agir dentro dos limites estabelecidos por Deus, e são capazes de
enganar e tentar os seres humanos. Portanto, a vitória de Cristo sobre as
potestades e principados é uma vitória decisiva e completa, mas ainda há
uma tensão entre o presente e o futuro, entre a vitória já conquistada e a
vitória final que ainda está por vir. Heiser acredita que essa tensão é uma
parte inevitável da condição humana enquanto o mal continuar existindo
no mundo.
Vale notar também que Heiser faz uma distinção clara entre a ideia de
"filhos de Deus" no Antigo Testamento e a relação única de Jesus como
Filho do Altíssimo e segunda pessoa da trindade, neste caso ele está
admitindo a tradição da Igreja que corrobora com os evangelhos, onde
Jesus como logos divino é gerado antes de qualquer criação, sendo o Filho
eterno de Deus, gerado pelo Pai antes de tudo. Ele é co-igual e co-eterno
com o Pai e o Espírito Santo, e não é uma criação, mas uma parte da
divindade. Essa é uma das diferenças fundamentais entre a visão cristã de
Jesus como Filho de Deus e a ideia de "filhos de Deus" presentes no Antigo
Testamento e outras tradições antigas.
Outro ponto bem esclarecedor é a necessária distinção entre Satan e
Lúcifer. De acordo com Heiser, a palavra "Lúcifer", que não é um nome
próprio aparece apenas uma vez na Bíblia, no livro de Isaías, e se refere a
um rei humano (Isaías 14:12) mas Heiser argumenta que isso não é
sustentado pelo texto em si, no máximo podemos inferir um duplo
sentido. Ele também aponta que a ideia de Satanás como "anjo caído" não
é claramente ensinada na Bíblia, e que a referência de Paulo a Satanás
como "um anjo de luz" (2 Coríntios 11:14) provavelmente se refere à sua
capacidade de se disfarçar e enganar, em vez de sugerir que ele era
originalmente um anjo bom. Cristo é conhecido no livro do apocalipse
como a estrela da alva, o verdadeiro portador de Luz, já o primeiro caído,
que não seria necessariamente um anjo, nos termos de gênesis 6,
somente usa a aparência da luz.
Assim sendo, Heiser vê Satanás como um ser criado por Deus, mas não
necessariamente como um anjo destituído. Ele argumenta que a figura de
Satanás na Bíblia é multifacetada e que sua identidade é complexa. Em
alguns textos bíblicos, Satanás é retratado como um acusador, um
adversário, um tentador e um enganador, enquanto em outros textos é
associado a um dragão, uma serpente e um leviatã.
Em vez de se concentrar na origem de Satanás, Heiser enfatiza a
importância de entender o papel que ele desempenha na história da
salvação e como os cristãos podem resistir às suas tentações e enganos.
Satanás foi criado como um ser divino, mas escolheu rebelar-se contra
Deus, tornando-se assim um ser maléfico e opositor a Deus e à
humanidade. Em outras palavras, Satanás não foi originalmente criado
como um ser maligno, mas escolheu livremente rebelar-se contra Deus, o
que o levou a sua atual condição.
De fato, a ideia de um ser divino criado que se rebelou contra Deus pode
ser considerada semelhante à ideia de um anjo caído. No entanto, a
distinção que Heiser faz é que a descrição de Satanás na Bíblia não se
encaixa com a descrição de um anjo caído, mas sim com a descrição de um
ser divino com características próprias e específicas. Ele argumenta que o
termo "anjo caído" é usado de forma muito geral e abrangente, e que essa
ideia pode obscurecer a compreensão das características e motivações
específicas de Satanás descritas na Bíblia.
Na visão do autor, "deuses" e "anjos" são categorias distintas de seres
espirituais. Os "deuses" seriam seres espirituais superiores, criados por
Deus para exercer funções específicas, como governar nações ou povos. Já
os "anjos" seriam seres espirituais menores, criados por Deus para servir
como mensageiros e executores de Sua vontade.
Satanás seria um desses seres divinos maiores, que caiu e se colocou
contra Deus, mas não seria um anjo como geralmente é entendido na
tradição cristã. Heiser argumenta que a identidade e natureza exata de
Satanás ainda é um mistério, mas a partir de várias passagens bíblicas e
estudos comparativos com outras tradições religiosas antigas, ele sugere
que Satanás seria um ser divino rebelde, com uma posição de destaque no
mundo espiritual, como ele estava presente no éden, pode-se especular
que fosse como que um guardião ou querubim do jardim de Deus, quem
sabe um ser que gerenciasse o próprio éden.
Questões filosóficas:
Como o autor trabalha a questão filosófica da suposta tentativa do diabo
em vencer Deus? Inicialmente sabemos que do ponto de vista filosófico
isso é um absurdo, pois não se pode vencer o criador da existência e mais
ainda, aquele que a fundamenta. Então como Heiser trabalha essa questão
em seu livro e na tradição cristã?
Fato é que o autor, enquanto teólogo, aborda essa questão a partir da
perspectiva bíblica, e não tanto filosófica. Ele argumenta que a rebelião de
Satanás contra Deus não é uma tentativa de vencê-lo ou superá-lo, mas
sim uma expressão de sua vontade de ser como Deus ou até mesmo ser
adorado como Deus. Essa rebelião é considerada uma ofensa a Deus e
uma afronta à sua autoridade e soberania. Como Deus é Ser, mas também
fundamento de ser, aquele que se rebela contra Deus destina-se ao nada
absoluto ou à redução niilista. Negar a Deus significaria dedicar-se à
ausência do mal que o bem de Deus provoca, a saber, o vazio e a
destruição. O efeito disto, antes da sentença, é na verdade o inferno.
Inferno portanto, em termos filosóficos é negar o fundamento da
existência e sua eternidade perene. Satanás não pode negar Deus como
fundamento, mas pode negá-lo como ser, restando-lhe o não ser.
Agora do ponto de vista teológico, Heiser enfatiza que a vitória final de
Cristo sobre Satanás é certa, e que a tentativa de Satanás de se opor a
Deus é fadada a um fracasso retumbante.
Podemos dizer que do ponto de vista cristão, não há realmente uma
tentativa efetiva do diabo em vencer Deus, mas sim uma rebelião contra
sua autoridade e soberania.
O objetivo de é ser adorado como Deus. Ele simula uma competição para
enganar e seduzir a humanidade a segui-lo em vez de seguir a Deus. Essa
ideia é baseada em passagens bíblicas que falam sobre Satanás se
apresentando como um anjo de luz (2 Coríntios 11:14) e tentando enganar
Jesus no deserto (Mateus 4:1-11). Assim, a ideia de uma competição entre
Deus e Satanás é vista como uma forma de alegoria anedótica para
representar a luta entre o bem e o mal, e não como uma tentativa real do
diabo em vencer Deus.
Essa por fim é a distinção fundamental entre o judaísmo do segundo
templo e o zoroastrismo.
Heiser inclusive diz que a influência persa no judaísmo do segundo templo
pode realmente ser vista em várias áreas, como a ideia de anjos e
demônios, a noção de um Messias que derrotaria as forças do mal, e a
crença na ressurreição dos mortos. Mas ele também nota que, embora o
judaísmo do segundo templo tenha sido influenciado pela religião
zoroastrista, os judeus não aceitaram a totalidade da teologia zoroastrista,
até porque o mais certo seria falar de uma influência mútua entre esses
povos. Os judeus incorporaram ideias e conceitos que se encaixavam em
sua própria teologia e prática religiosa mas a influência persa no judaísmo
do segundo templo não deve ser vista como uma ameaça à integridade da
fé judaica, antes como um reflexo da realidade histórica e cultural na qual
o judaísmo se desenvolveu. O judaísmo do segundo templo se
desenvolveu em um contexto complexo e multifacetado, que incluía
influências de várias culturas e religiões diferentes. Em outros termos a
acusação de céticos contra o judaísmo do segundo tempo, dizendo que
este é dualista e equipolente na relação entre forças do bem e do mal, é
falsa. A ideia de que o judaísmo do Segundo Templo era dualista é uma
visão equivocada. Embora seja verdade que a crença em anjos e demônios
esteja presente na religião judaica dessa época, não é correto dizer que
essas entidades eram consideradas iguais em poder e influência.