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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CONSTITUCIONAL

MÓDULO ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Professores: Zélia Luiza Pierdoná e José Carlos Francisco

1. Material pré-aula

a. Tema

Ativismo Judicial

b. Noções Gerais

Segundo Soraya Lunardi e Dimitri Dimoulis1, “o termo ativismo é


utilizado, desde meados do século XX, com o intuito de criticar a
atuação dos juízes que interferem, com critérios subjetivos, em
questões sociais controvertidas que deveriam ser decididas pelos
poderes legitimados pelo voto popular”.

Para o professor Elival da Silva Ramos2, o ativismo Judicial é o


resultado da função jurisdicional exercida além dos limites
estabelecidos pelo ordenamento jurídico visando adequar
determinada norma à realidade social.

Atualmente, o Ativismo Judicial é considerado como um dos


momentos mais importantes do constitucionalismo brasileiro,
marcado pela intensa atividade exercida pelo Supremo Tribunal
Federal.

c. Legislação e Súmulas

Constituição Federal de 1988: artigo 5º, XXXV; artigos 92 a 126.

1
LUNARDI, Soraya Regina Gasparetto; DIMOULIS, Dimitri. Efeito transcendente, mutação constitucional
e reconfiguração do controle de constitucionalidade no Brasil. In: Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais. Belo Horizonte, ano 2, n. 5, p. 217-238, 2008.
2
RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: Parâmetros Dogmáticos. São Paulo: Saraiva, 2010.

1
Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de
órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente
a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público,
afasta sua incidência, no todo ou em parte.
[Súmula Vinculante 10]

d. Julgados/Informativos

O princípio da reserva de plenário previsto no art. 97 da Constituição


(e a que se refere a Súmula Vinculante 10) diz respeito à declaração
de ‘inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público’.
Atos normativos têm como características essenciais a abstração, a
generalidade e a impessoalidade dos comandos neles contidos. São,
portanto, expedidos sem destinatários determinados e com finalidade
normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontram na mesma
situação de fato abrangida por seus preceitos. O decreto legislativo
que estabelece a suspensão do andamento de uma certa ação penal
movida contra determinado deputado estadual não possui qualquer
predicado de ato normativo. O que se tem é ato individual e concreto,
com todas as características de ato administrativo de efeitos
subjetivos limitados a um destinatário determinado. Atos dessa
natureza não se submetem, em princípio, à norma do art. 97 da
CF/88, nem estão, portanto, subordinados à orientação da Súmula
Vinculante 10. [Rcl 18.165-AgR, rel. min. Teori Zavascki, j. 18-10-
2016, P, DJE de 10-5-2017.]

A discussão acerca de autuação fiscal isolada revela pretensão de


natureza meramente patrimonial, inapta à configuração do conflito
federativo qualificado atrativo da competência originária prevista no
art. 102, I, f, da Constituição Federal. (...) A possibilidade de
inscrição do autor nos cadastros de inadimplentes do governo federal
em razão do não pagamento do crédito tributário discutido mostra-se
igualmente insuficiente para configurar o conflito federativo
qualificado, uma vez que a competência originária desta Suprema
Corte se fixa a partir do pedido principal deduzido no feito, e não do
pedido acessório.

2
[ACO 2.023 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 16-12-2016,1ª T, DJE de
13-3-2017.]

O Tribunal, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação


direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 3º da Resolução
TJ/TP/RJ 1/2014 do Plenário do Tribunal de Justiça do Rio Janeiro,
que dispõe sobre regras de processo eleitoral no Poder Judiciário
estadual. O Colegiado (...) considerou que, ao estabelecer a
possibilidade de "o Desembargador ser novamente eleito para o
mesmo cargo, desde que observado o intervalo de dois mandatos", o
art. 3º da Resolução impugnada contraria as balizas estabelecidas no
art. 102 da Lei Complementar 35/1979 (Loman), recepcionado pela
Constituição, nos termos do seu art. 93. [ADI 5.310, rel. min.
Cármen Lúcia, j.14-12-2016, P, Informativo 851.]

Promoção por antiguidade na magistratura tocantinense.


Inobservância dos critérios estabelecidos na lei orgânica da
magistratura nacional – LOMAN. Impossibilidade de reconhecimento
de tempo de serviço público no Estado ou de tempo de serviço
público. Contrariedade ao art. 93 da Constituição da República.
Validade da adoção do critério de idade para desempate: precedente.
Confirmação da medida cautelar deferida parcialmente a
unanimidade. Ação direta julgada parcialmente procedente para
declarar a inconstitucionalidade do art. 78, § 1º, III e IV, da Lei
Complementar tocantinense 10/1996. [ADI 4.462, rel. min. Cármen
Lúcia, j. 18-8-2016, P, DJE de 14-9-2016.]

Ressalvadas as hipóteses previstas em tratados, convenções e regras


de direito internacional, os órgãos integrantes do Poder Judiciário
brasileiro acham-se delimitados, quanto ao exercício da atividade
jurisdicional, pelo conceito – que é eminentemente jurídico – de
território. É que a prática da jurisdição, por efeito de autolimitação
imposta pelo próprio legislador doméstico de cada Estado nacional,
submete-se, em regra, ao âmbito de validade espacial do
ordenamento positivo interno. O conceito de jurisdição encerra não só
a ideia de potestas, mas supõe, também, a noção de imperium, a
evidenciar que não há jurisdição onde o Estado-juiz não dispõe de
capacidade para impor, em caráter compulsório, a observância de

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seus comandos ou determinações. Nulla jurisdictio sine imperio.
Falece poder, ao STF, para impor, a qualquer legação diplomática
estrangeira sediada em nosso País, o cumprimento de determinações
emanadas desta Corte, tendo em vista a relevantíssima circunstância
de que – ressalvadas situações especificas (...) – não estão elas
sujeitas, em regra, à jurisdição do Estado brasileiro. A questão do
exercício, por juízes e tribunais nacionais, do poder jurisdicional: a
jurisdição, embora teoricamente ilimitável no âmbito espacial, há de
ser exercida, em regra, nos limites territoriais do Estado brasileiro,
em consideração aos princípios da efetividade e da submissão. [HC
102.041, rel. min. Celso de Mello, j. 20-4-2010, 2ª T, DJE de 20-8-
2010.]

O ato normativo sob o crivo da fiscalização abstrata de


constitucionalidade contempla, em seus artigos 1º, 3º, 5º, 6º e 7º,
normas estritamente regulamentadoras do procedimento legal
de habeas corpus instaurado perante o Juiz de primeira instância, em
nada exorbitando ou contrariando a lei processual vigente, restando,
assim, inexistência de conflito com a lei, o que torna inadmissível o
ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade para a sua
impugnação, porquanto o status do CPP não gera violação
constitucional, posto legislação infraconstitucional. As disposições
administrativas do ato impugnado (artigos 2º, 4° 8°, 9º, 10 e 11),
sobre a organização do funcionamento das unidades jurisdicionais do
Tribunal de Justiça, situam-se dentro dos limites da sua autogestão
(artigo 96, inciso I, alínea a, da CRFB). Fundada diretamente na
Constituição Federal, admitindo ad argumentandum impugnação pela
via da ação direta de inconstitucionalidade, mercê de materialmente
inviável a demanda. In casu, a parte do ato impugnado que versa
sobre as rotinas cartorárias e providências administrativas ligadas à
audiência de custódia em nada ofende a reserva de lei ou norma
constitucional. [ADI 5.240, rel. min. Luiz Fux, j. 20-8-2015,
P, DJE de 1º-2-2016.]

É inconstitucional, por extravasar os limites do inciso II do art. 96 da


CF, lei que institui Sistema de Gerenciamento dos Depósitos Judiciais,
fixa a destinação dos rendimentos líquidos decorrentes da aplicação
dos depósitos no mercado financeiro e atribui ao Fundo de

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Reaparelhamento do Poder Judiciário a coordenação e o controle das
atividades inerentes à administração financeira de tal sistema.
Matéria que não se encontra entre aquelas reservadas à iniciativa
legislativa do Poder Judiciário. [ADI 2.909, rel. min. Ayres Britto, j.
12-5-2010, P, DJE de 11-6-2010.] Vide ADI 2.855, rel. min. Marco
Aurélio, j. 12-5-2010, P, DJE de 17-9-2010

Não há necessidade de pedido das partes para que haja o


deslocamento do incidente de inconstitucionalidade para o Pleno do
tribunal. Isso porque é dever de ofício do órgão fracionário esse
envio, uma vez que não pode declarar expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, nem
afastar sua incidência, no todo ou em parte. [Rcl 12.275 AgR, rel.
min. Ricardo Lewandowski, j. 22-5-2014, P, DJE de 18-6-2014.]

O art. 97 da Constituição, ao subordinar o reconhecimento da


inconstitucionalidade de preceito normativo a decisão nesse sentido
da "maioria absoluta de seus membros ou dos membros dos
respectivos órgãos especiais", está se dirigindo aos tribunais
indicados no art. 92 e aos respectivos órgãos especiais de que trata o
art. 93, XI. A referência, portanto, não atinge juizados de pequenas
causas (art. 24, X) e juizados especiais (art. 98, I), os quais, pela
configuração atribuída pelo legislador, não funcionam, na esfera
recursal, sob regime de plenário ou de órgão especial. [ARE 792.562
AgR, rel. min. Teori Zavascki, j. 18-3-2014, 2ª T, DJE de 2-4-2014.]

e. Leitura sugerida

- BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e


Legitimidade Democrática. In: Revista Consultor Jurídico, 22 de
dezembro de 2008. Disponível em http://www.conjur.com.br/2008-
dez-22/judicializacao_ativismo_legitimidade_democratica

- NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito


Constitucional. “Poder Judiciário” (p. 1478). Revista dos Tribunais:
2017.

5
- RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: Parâmetros Dogmáticos.
São Paulo: Saraiva, 2010.
__________________. Entrevista de Elival da Silva Ramos à
revista Consultor Jurídico, publicado em 1 de Agosto de 2009.
Disponível em: http://www.conjur.com.br/2009-ago-01/entrevista-
elival-silva-ramos-procurador-estado-sao-paulo

f. Leitura complementar

- AMARAL JÚNIOR, José Levi Mello do (coord.). Estado de direito e


ativismo judicial. São Paulo: Quartier Latin, 2010.

- BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 31ª ed. São


Paulo: Malheiros, 2016.

- BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo:


Saraiva.

- COUTINHO, Jacinto Miranda (org.); FRAGALE FILHO, Roberto (org.);


LOBÃO, Ronaldo (org.). Constituição e ativismo judicial: limites e
possibilidades da norma constitucional e da decisão judicial. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011.

- DANTAS, Frederico Wildson da Silva. O princípio constitucional da


inafastabilidade: estudo com enfoque no ativismo judicial. In: Revista
Esmafe: Escola de Magistratura Federal da 5ª Região, Recife, n. 17,
p. 83-113, mar. 2008. Disponível em
http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/handle/2011/26878

- FELLET, André Luiz Fernandes (org.); PAULA, Daniel Giotti de


(org.); NOVELINO, Marcelo (org.). As novas faces do ativismo
judicial. Salvador: Juspodivm, 2011.

- GUEDES, Néviton. O juiz entre o ativismo judicial e a


autocontenção. In: Revista Consultor Jurídico, 23 de julho de 2012.
Disponível em http://www.conjur.com.br/2012-jul-23/constituicao-
poder-juiz-entre-ativismo-judicial-autocontencao

6
- LUNARDI, Soraya Regina Gasparetto; DIMOULIS, Dimitri. Efeito
transcendente, mutação constitucional e reconfiguração do controle
de constitucionalidade no Brasil. In: Revista Brasileira de Estudos
Constitucionais. Belo Horizonte, ano 2, n. 5, p. 217-238, 2008.

- MARTINS, Ives Gandra da Silva. O ativismo judicial e a ordem


constitucional. In: Revista Brasileira de Direito Constitucional, São
Paulo, n. 18, p. 23-38, jul./dez. 2011. Disponível em
http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/47096/ativismo_
judicial_ordem_martins.pdf?sequence=1

- REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. Ativismo judicial e Estado de


direito. In: Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa
Maria, v. 4, n. 1, mar. 2009. Disponível em
http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/40977/ativismo_
judicial_estado.pdf?sequence=1

- SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. ed., São Paulo:


Malheiros.

- TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 14ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2016.

- TEDESCO, Aline Lazzaron. Ativismo, hermenêutica e humanização


da atividade judicial. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre,
n. 58, fev. 2014. Disponível em:
http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/74349/ativismo_
hermeneutica_humanizacao_tedesco.pdf?sequence=1

- VASCONCELOS, Clever. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. São


Paulo: Saraiva, 2017.

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