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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Humanas e Sociais


Departamento de Letras
Pós Graduação em Letras: Mestrado – Estudos da Linguagem
PGL103- Discurso e História
Prof.º Dr.º Alexandre Agnolon
Aluno: Luiz Fernando Etelvino Benevenutto
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WEST, Martin. Iambus. In: Studies in greek elegy and iambus. Berlin/New York,
Walter de Gruyter, 1974.

Martin E. West foi um proeminente acadêmico na área de estudos clássicos; seu


estudo, embasado nas fontes antigas sobre o Iambo, aparece como parte da obra Studies in
Greek Elegy and Iambus. Iremos ressaltar alguns dos aspectos, de forma geral, sobre as
considerações feitas por West a respeito do Iambo.

O iambo era comumente usado pelos antigos para se referir a um tipo de poema que
utilizava um metro específico, os trímetros e os tetrâmetros. Porém, a discussão de West
procura confirmar se, a termo, o ἴαμβο poderia ser relacionado estritamente a um determinado
tipo de metro. O metro iâmbico, segundo West, teria esse nome por ser uma característica do
Iambo, poema notório por seu caráter invectivo e vituperioso; West ainda alerta que o iambo
não significa correlativamente uma invectiva em específico. As origens etimológicas do
termo, embora fragmentadas, estão próximas do significado de satirizar, no sentido da
“comicidade ridícula”, apesar da invectiva ser a característica mais marcante do gênero.
Continuando a apresentar as consultas e hipóteses de Martin West, a origem do termo
do iambo está associado ao contexto de performance, ou seja, o iambo era um gênero
praticado para uma audiência ou então em ocasiões religiosas, principalmente, pela
comparação a três palavras associadas ao culto dionisíaco, todas com o elemento -amb- na sua
formação. A performance, provavelmente realizada por um “comediante”, era parte das
festividades dionisíacas. Em meio às considerações sobre o iambo como um gênero praticado
em contextos públicos específicos, West apresenta a história da personagem mitológica
Iambe. Ela aparece como alguém que animou Deméter através de ataques hilários, depois de
ele ter passado por um período de tristeza e sem se alimentar. Não há dúvidas, segundo West,
que Iambe é a base mítica de algum ritual zombeteiro, provavelmente de conteúdos
considerados baixos e sem decência1, o que explicaria a relação da sátira, até mesmo o
vitupério, ao iambo.

Para analisar as questões suscitadas por West, traremos os nomes de alguns


iambógrafos que ilustram seu texto: Arquíloco, Sêmonides de Amorgos e Hipônax. O
conteúdo das invectivas mais famosas de Arquíloco são os poemas a Lycambes e suas filhas.
A história conta que Lycambes acompanhava Telesicles (futuro pai de Arquíloco) a Delfos, na
ocasião que o oráculo anunciou que o primeiro filho que o cumprimentasse quando estivesse
fora do navio seria “imortal e digno de ser cantado”2. O filho a cumprimentá-lo foi Arquíloco.
Um casamento foi arranjado entre Arquíloco e uma das filhas de Lycambes, Neóbule. Mas
após Lycambes quebrar o contrato, Arquíloco desferiu iambos com tamanha fúria que eles se
enforcaram de tanta vergonha. (Segundo as fontes antigas, somente as filhas). West coloca em
questão se as filhas de Lycambes e a toda a narrativa são reais. Costumeiramente, admite-se
que os suicídios são de fundo mítico, o que não apenas reforça a hipótese de que toda a
narrativa seja fictícia e de que o iambo era composto para ocasiões específicas, com
personagens criadas para a dada situação. A hipótese de West é a de que Lycambes e suas
filhas poderiam ser personagens em alguma ocasião tradicional, com bases rituais, aos quais
eram representadas por meio de iambos performatizados. Para entender melhor, leia-se o
fragmento 196aW, VV.24-283, de Arquíloco: “Entenda isso agora: Néobule/ que outro homem
possua/ Ai!Ai! Mulher passada, tão débil,/ tua flor virginal já murchou e/ o encanto, que
outrora existia”. Temos a ideia de que tipo de temas figuravam os versos de sílaba longa
seguida por uma breve, características do metro. Porém, o iambo foi mais notório por suas
invectivas, como podemos ver no fragmento de Arquíloco; mas nem sempre, reitero,
utilizava-se da invectiva. Dessa forma, o iambo pode ser considerado um gênero caracterizado
pela invectiva, mas a invectiva pode surgir em outro metro sem deixar de ser considerado um
iambo, assim como o metro iâmbico pode surgir em contextos não invectivos, como no
Marguites, atribuído a Homero. As invectivas de Hipônax a Búpalo e Athenis irão explorar o
caráter vituperioso adequado ao contexto do gênero. Enfim, nem todas as incertezas podem
ser sanadas; a tentativa de recuperação do contexto arcaico é fragmentada. Nesse sentido, há
que se garantir por hipóteses baseadas na consulta das fontes antigas.

1
Dionísio e Deméter são deidades associadas à produção na terra, à fertilidade. Podemos supor que o conteúdo
das sátiras tinha forte apelo sexual.

2
Tradução de Alexandre Agnolon.

3
Tradução de Alexandre Agnolon.
Semônides de Amorgos foi um poeta que praticava o iambo, mas não necessariamente
todos os seus poemas eram invectivas, apesar do forte conteúdo sexual de seus versos, além
da misoginia. Algumas de suas composições, segundo West, principalmente os fragmentos 1 e
7, falam das presunções das aspirações humanas, temática que tacitamente poderia figurar
uma elegia. Dada essa afirmação, ainda não se tem uma noção clara, ao menos expressa, por
Martin West, de uma classificação que abarcasse o escopo todo do termo ἴαμβο.

Após tecer considerações que buscam traçar uma categoria iâmbica de poemas;
questões sobre o metro, contexto de composição e performance, análise dos primeiros
iambógrafos e referências mitológicas sobre a etimologia do termo, (não nesta ordem
respectivamente) Martin West, de forma genérica, sugere o iambo como sendo a composição
para os tipos de conteúdos aos quais não se usaria a elegia, como conteúdo sexual explícito (o
que reforça a hipótese do surgimento do Iambo em rituais dionisíacos 4), invectivas e outras
variantes do considerado vulgar. Esses são os principais elementos, segundo West, associados
ao termo iambo, o que não exclui a sátira a caráteres humanos universais, próximos da
comédia Ática, ou então da “filosofia popular” encontrada em alguns fragmentos de
Sêmonides.

Definir o escopo do termo iambo é um trabalho arqueológico, tendo em vista que o


estudo feito por West se baseia em fontes antigas fragmentadas. Devido a isso, a origem do
termo e as demais conclusões são hipotéticas. São quadros pintados à meia luz. O que
podemos afirmar é o que o iambo é um tipo de composição associada a temas considerados
baixos, em comparação com a elegia, e explícitos, caracterizados (ou não) por um metro
específico, associados a contextos rituais e de performance.

4
Vale lembrar a narrativa de Arquíloco na qual o poeta foi levado ao tribunal por compor poemas que os
cidadãos consideram“muito iâmbicos”. Dionísio lançou um castigo aos homens os deixando impotentes.
Após descobrirem o ocorrido, encontraram uma nova maneira de louvor a Dionísio.

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