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Direito à prevenção de acidentes e

doenças profissionais
-
Mala pedagógica
-
APRESENTAÇÃO GERAL

IBJC POEFDS

HUGO DIONISIO
IMPORTÂNCIA DA SHST

6.304.316 de acidentes de trabalho por ano de


acordo com o relatório de 2003 da DGEEP

18.198 doenças profissionais diagnosticadas e


reparadas pelo CNPCRP em 1997
157 acidentes mortais, classificados enquanto tal,
em 2007, de acordo com a IGT
Milhões de Euro perdidos por ano
Quase 2.000.000 de dias de trabalho perdidos por
ano, de acordo com a DGEEP (2003)
Porquê a Segurança, higiene e saúde no
trabalho?

•A SHST é um investimento e não um custo


•A SHST abrange todas as pessoas de uma empresa,
desde o topo à base da hierarquia
•A SHST é um critério de qualidade
•A SHST é um critério de humanização do trabalho
•O trabalho deve ser prestado com dignidade pessoal
e social, conforme preconiza a Constituição da
República Portuguesa
•Em última análise, é do direito à vida de que
falamos
QUE OBJECTIVOS PERSEGUE A SHST ?

•A melhoria das condições de trabalho de todos os


trabalhadores, colaboradores e dirigentes de uma empresa
•A motivação de todos os que trabalham, do topo à base da
hierarquia
•O aumento da produtividade e da qualidade, evitando as
perdas essencialmente materiais decorrentes dos acidentes
de trabalho
•A humanização do trabalho, considerando que é um ser
humano que desempenha a actividade laboral
•A qualidade de vida no trabalho e o desenvolvimento sócio-
laboral
•A redução de perdas e danos decorrentes da sinistralidade,
visando uma gestão racional dos recursos
Conceitos importantes:

•Prevenção
•Acidente profissional
•Quase acidente
•Doença profissional
•Doença relacionada com o trabalho
•Risco profissional
•Perigo profissional
•Local de trabalho
•Posto de trabalho
•Protecção colectiva
•Protecção individual
•Acções sobre o risco de trabalho
PREVENÇÃO

Conjunto das medidas, previstas ou tomadas, em todas as fases da actividade


de uma organização, que têm em vista evitar acidentes e doenças
profissionais, ou, numa fase prévia, eliminar, limitar ou limitar as
consequências dos riscos profissionais identificados.

A prevenção de que falamos assenta nas seguintes características:


•Prevenção dinâmica
•Processo inacabado
•Direcção ou caminho que se persegue no sentido de uma, cada vez, maior
eficácia na evicção dos acidentes e doenças profissionais
•Melhoria contínua no sentido da eliminação total da sinistralidade
•Medidas cuja direcção prioritária irrefutável é a protecção da saúde dos
trabalhadores
ACIDENTE

Todo o acontecimento do qual resultam lesões para um ou mais


trabalhadores, ou ainda para a comunidade, em resultado do
trabalho.

QUASE ACIDENTE

Acontecimentos que independentemente de originarem ou não uma


doença ou acidente, resultam da manifestação de um risco.

NOTA: Estas situações devem, sempre, ser alvo de um processo de investigação das
suas causas concretas, remotas e imediatas.
DOENÇA PROFISSIONAL

As doenças directamente resultantes do trabalho constantes


da lista oficial de doenças profissionais.

DOENÇAS RELACIONADAS COM O TRABALHO

São doenças adquiridas por causa do trabalho, mas que não


constam da lista oficial das doenças profissionais.

Nota: Estas últimas doenças são as que mais problemas sociais escondem, na medida em
que o processo de reparação, normalmente, não se lhes aplica.
RISCO PROFISSIONAL

São todas as situações que podem a curto, médio ou longo


prazo, causar lesões aos trabalhadores ou à comunidade em
resultado do trabalho.

PERIGO
Fonte ou situação com um potencial para o dano em termos de
lesões ou ferimentos para a saúde ou o ambiente de trabalho.
O perigo é o factor constante, que permanece, pelo que, o que
pode ser alterado é o risco, nomeadamente através da aplicação
de medidas de prevenção e protecção
LOCAL DE TRABALHO

Local geográfico onde se situam os vários postos de trabalho


de uma empresa ou estabelecimento.

POSTO DE TRABALHO

Local onde um trabalhador desenvolve uma actividade


específica, inserido numa determinada unidade produtiva,
integrada num determinado local de trabalho.
PROTECÇÃO COLECTIVA

Sistema de prevenção assente na tomada de medidas de


carácter infra-estrutural que combatem os riscos
profissionais na origem, anulando ou limitando
substancialmente os seus efeitos.

PROTECÇÃO INDIVIDUAL

Sistema de prevenção assente na tomada de medidas de


carácter individual que se limitam a limitar as consequências
dos riscos profissionais sobre a saúde dos trabalhadores,
individualmente considerados.

Nota: a lei manda dar prioridade à colectiva e só depois á individual (CT,


273.º/2/f))
AS ACÇÕES SOBRE O RISCO de uma forma geral visam
sobretudo:

•ELIMINAR RISCOS quando os combatem na origem, anulando


totalmente os seus efeitos.
•LIMITAR RISCOS quando os combatem na origem mas apenas
limitam mais ou menos os seus efeitos.
•LIMITAR AS CONSEQUÊNCIAS quando não incidem sobre os
riscos, mas sobre os seus efeitos, reduzindo a sua gravidade sobre
a saúde dos trabalhadores.
ENQUADRAMENTO JURÍDICO DA SHST
– Código do Trabalho e
Regulamentação

Estes diplomas legais estabelecem entre


outras coisas:

•Princípios gerais para a SHST


•Obrigações da entidade patronal
•Direitos e deveres dos
trabalhadores
•Organização das actividades
•Representação dos trabalhadores
•Actividades de inspecção
Princípios gerais de prevenção (artigo
272.º/3 do CT):

1. Planificação e organização da prevenção de riscos


profissionais;

2. Eliminação dos factores de risco e de acidente;

3. Avaliação e controlo dos riscos profissionais;

4. Informação, formação, consulta e participação dos


trabalhadores e seus representantes;

5. A promoção e vigilância da saúde dos trabalhadores.


Obrigações da entidade empregadora

De acordo com o artigo 273.º do Código do Trabalho, a


entidade patronal possui um dever geral de prevenção.
Este dever geral de prevenção fundamenta-se no facto de a
entidade empregadora estar responsabilizada pela exploração
de uma actividade produtiva com um fim lucrativo.
Desta forma, o legislador atribui-lhe um conjunto de obrigações
com vista à protecção da saúde dos trabalhadores em todos os
aspectos relacionados com o trabalho, das quais destacamos as
seguintes:
Obrigações da entidade empregadora (cont.)

•Assegurar condições de segurança, higiene e saúde em todos os


aspectos relacionados com o trabalho
•Avaliar e combater os riscos profissionais na origem dando sempre
prioridade à protecção e colectiva e só depois à individual
•Planificar e programar as actividades de prevenção na empresa
•Organizar o trabalho, tentando sempre reduzir os efeitos nocivos
do mesmo na saúde dos trabalhadores
•Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos
perigoso
•Exigir de todos o cumprimento das prescrições de SHST
•Criar um sistema de prevenção e combate a incêndios,
de actuação em caso de emergência, primeiros socorros e
actuação em caso de perigo grave e eminente
•Formar, informar e consultar os trabalhadores sobre as
medidas de prevenção tomadas e a tomar
Como veremos mais adiante, para prosseguir estas
actividades o empregador deverá contratar ou constituir
um serviço de prevenção na empresa
Importante:

Estas condições e medidas de prevenção deverão


abranger todos os trabalhadores da empresa, incluindo os
temporários, os trabalhadores cedidos ocasionalmente e
independentes ou ao serviço de outras empresas.

Por outro lado, os trabalhadores possuem, igualmente, um


conjunto de deveres e obrigações, cujo cumprimento
deverá ser exigido pelo empregador.
DEVERES DOS TRABALHADORES

Estabelece o artigo 274.º do Código os


seguintes deveres e obrigações para os
trabalhadores:

•cumprir as prescrições de SHST, sejam legais,


convencionais ou estabelecidas pelo empregador
•Zelar pela sua segurança e saúde bem como
pela dos outros
•Utilizar correctamente todos os instrumentos de
trabalho e de prevenção que lhe são
disponibilizados pelo empregador
DEVERES DOS TRABALHADORES

•Cooperar na empresa pela melhoria do sistema de


prevenção
•Comunicar aos seu responsável hierárquico e aos
serviços as situações que do seu ponto de vista se
podem transformar em perigos graves e eminentes
•Participar nas acções de formação, informação e
consulta desenvolvidas pelo empregador
DIREITOS DOS TRABALHADORES

•Direito à informação

O empregador deve, tanto no acto da admissão, como


quando se verifiquem alterações que o justifiquem, dar
informação actualizada sobre:
•Os riscos existentes na empresa e as medidas para os
combaterem
•As medidas e instruções a adoptar em caso de perigo grave
e eminente, primeiros socorros, evacuação e combate a
incêndios
DIREITOS DOS TRABALHADORES

Direito à consulta

Os trabalhadores, bem como os seus representantes, devem


ser consultados sobre as matérias e medidas de prevenção,
em geral, que se pretendam implementar na empresa.

A consulta dos trabalhadores é muito importante. Aplicar


uma medida de prevenção a um conjunto de pessoas, sem
lhes pedir a opinião, é um sério risco que se corre da medida
ser inadequada.
Esta consulta deve ser realizada por escrito, pelo menos,
duas vezes por ano.
DIREITOS DOS TRABALHADORES

•Direito à proposta

Os trabalhadores e seus representantes


podem apresentar proposta que
contribuam para minimizar os riscos
profissionais.

O método mais utilizado nas empresas


para promoção do direito à proposta, é
a célebre caixa de sugestões, mas
podem existir outras formas. O
trabalhador tem o direito de propor e o
dever de aderir.
DIREITOS DOS TRABALHADORES

•Direito à formação

Cabe ao empregador formar os trabalhadores em matéria de


SHST para que estes possam cumprir as prescrições de SHST
estabelecidas na empresa pelo empregador.

Salvo raras excepções, o incumprimento de normas de SHST


pelos trabalhadores ou outros colaboradores, está associado à
falta de formação ou informação.
DIREITOS DOS TRABALHADORES

•Direito à representação

Todos os trabalhadores, independentemente do seu vínculo


contratual, podem eleger e serem eleitos representantes
para a SHST.

De acordo com o artigo 278.º do Código do Trabalho, os


sindicatos representados ou 20% dos trabalhadores da
empresa, poderão eleger os seus representantes para a
SHST, a quem cabe ser o porta voz das preocupações e
exigências de todos perante a entidade patronal.
DIREITOS DOS TRABALHADORES

Processo eleitoral

O direito à representação exerce-se após a eleição dos


representantes para a SHST. Este processo estrutura-se
nas seguintes fases:

1. Convocatória pelo sindicato ou 20% dos trabalhadores da


empresa
2. Comunicação para a entidade empregadora e para a
Direcção geral das relações de trabalho (DGERT)
3. Publicação da convocatória em BTE e publicitação da
mesma pelo empregador
4. Constituição da comissão eleitoral
5. Constituição do caderno eleitoral
DIREITOS DOS TRABALHADORES

Processo eleitoral (cont.)

6. Constituição das Listas eleitorais


7. Organização das mesas, boletins e urnas de voto
8. Realização do acto eleitoral
9. Apuramento do acto eleitoral
10.Acta
11.Publicação dos resultados
12.Início de actividade

Nota: O processo está previsto nos artigos 265.º e seguintes


da Regulamentação do Código do Trabalho (Lei 35/2004).
Direito à recusa de trabalhar

De acordo com o artigo 274.º do Código do Trabalho, o


trabalhador, tem o direito de se afastar, ou de afastar
outros do seu posto de trabalho, em caso de perigo grave
e eminente que não pode ser afastado, que ponha em
causa a sua segurança e a de terceiros.

Para que não seja responsabilizado mais tarde, o


trabalhador não pode ter contribuído intencionalmente ou
negligentemente para a verificação do perigo.
Organização dos serviços de SHST na empresa

De acordo com a Regulamentação do Código do Trabalho, a


entidade patronal deverá constituir ou contratar serviços,
para eu possa cumprir os seus deveres e obrigações em
matéria de SHST.

O tipo de serviços em matéria de SHST, que deverá existir


numa qualquer empresa ou entidade pública ou privada,
podem ser os seguintes:
•Serviços de higiene e segurança
•Medicina do trabalho ou saúde ocupacional
Serviços de higiene e segurança
Estes serviços podem ser de 3 modalidades diferentes:

1. Serviços externos (empresas até 400 trabalhadores,


desde que não exerçam uma actividade de risco elevado)
2. Serviços interempresas (quando várias empresas formam
um serviço que sirva para todas)
3. Serviço Interno (para empresas com mais de 400
trabalhadores, ou mais de 50, se exercer actividade de
risco elevado)
Serviços de higiene e segurança
Existem, porém, situações em que os serviços de SHST podem
ser assegurados de forma diferente:

• Nas empresas ou estabelecimentos, que no seu conjunto, num


raio de 50 Km, não possuam mais do que 9 trabalhadores, as
actividades de SHST podem ser asseguradas pelo próprio
empregador ou por um trabalhador designado, desde que com
formação adequada
• No caso de algumas actividades (agricultura, vendedores
ambulantes, domésticas) as actividades de medicina no
trabalho podem ser asseguradas pelo serviço Nacional de
Saúde
Importância dos serviços de higiene e segurança:

•Execução das actividades necessárias ao cumprimento das


obrigações da entidade empregadora (previstas no artigo
273.º do código do Trabalho)
•Desenvolvimento das actividades previstas no artigo 240.º da
Regulamentação do Código do Trabalho, qualquer que seja a
modalidade adoptada
•Concepção, implementação e execução do sistema de
prevenção
Serviços de medicina do trabalho

•Devem ser assegurados por um médico do trabalho


•O médico deverá assegurar uma actividade regular,
de 1 hora/mês por cada 10 ou 20 trabalhadores, em
empresas industriais ou comerciais e serviços,
respectivamente.
•O médico será responsável pela execução de exames
de saúde:
- admissão – antes da admissão ou nos dez dias
seguintes
- periódicos – anuais para trabalhadores abaixo
dos 18 anos e mais de 50
Serviços de medicina do trabalho (cont.)

- ocasionais – sempre que haja uma alteração substancial


na empresa, ou uma ausência do trabalhador superior a 30
dias
•Cabe também ao médico do trabalho a constituição de uma
ficha clínica de cada trabalhador, sujeito a sigilo profissional
•Face aos resultados dos exames deve ainda o médico
proceder à constituição de uma ficha de admissão
•O médico é responsável por actividades de saúde preventiva,
estritamente. Deve desenvolver as actividades médicas
tendentes a evitar a ocorrência de sinistros laborais.
Deveres do trabalhador face aos serviços

O trabalhador deverá cooperar na execução das medidas de


SHST na empresa, nomeadamente:
-Tomar conhecimento da informação e participar na
informação
-Comparecer nos exames médicos destinados a garantir a
sua saúde e segurança
-Prestar informações, no momento da admissão que
permitam a avaliação da sua capacidade física e psicológica
Prescrições gerais de segurança para a organização
do trabalho
Decreto Lei 347/93 e Portaria 987/93

Estas prescrições são estabelecidas da seguinte forma:


1. Condições estruturais:
• Pé direito
• Edificação e licenciamento
• Área de trabalho
• Qualidade do ar
• Instalação eléctrica
• Vias de circulação
• Vias de emergência
• Sinalização
Prescrições gerais de segurança para a organização
do trabalho
Decreto Lei 347/93 e Portaria 987/93

2. Prevenção e combate a incêndios:


• Suficiência e qualidade do equipamento
• Localização e visibilidade do equipamento

3. Condições ambientais:
• Ventilação e qualidade do ar
• Captação de substâncias aéreas nocivas
• Temperatura
• Iluminação
• Isolamento térmico
Prescrições gerais de segurança para a organização
do trabalho
Decreto Lei 347/93 e Portaria 987/93

3. Condições estruturais – aplicações

• Pavimentos
• Janelas e clarabóias
• Portas e portões
• Divisórias transparentes
Prescrições gerais de segurança para a organização
do trabalho
Decreto Lei 347/93 e Portaria 987/93

3. Condições estruturais – Estruturas de apoio

• Locais de descanso
• Vestiários
• Chuveiros
• Cacifos e armários
• Lavatórios
• Sanitários
• 1.ºs socorros
• Apoio a deficientes e mulheres grávidas
Bibliografia utilizada

• Legislação mencionada, consultada a partir


“Segurança e Saúde no Trabalho” de Fernando
Cabral e Manuel M. Roxo, 2000, Almedina
•“Resumos de normas internacionais do
trabalho”, 1988, CGTP-In e OIT
•Manual de Higiene e Segurança no Trabalho,
5ª edição, Alberto Miguel, Porto Editora, 2000

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