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Síntese Do Livro Da Regina Helena de Freitas Campos
Síntese Do Livro Da Regina Helena de Freitas Campos
Introdução - ( p.9-34)
- Anos 60: a utilização de teorias e métodos da psicologia em trabalhos em comunidades de baixa renda
foi denominada “Psicologia Comunitária” ou “Psicologia na comunidade”. Visava deselitizar a psicologia
e melhor as condições de vida da população trabalhadora (favelas, associações bairro, bairros populares
etc.)
-Anos 70: reação à opressão política e dominação econômica e ideológica do período militar.(Silvia
Lane)
-Anos 80 e 90: a psicologia na comunidade passa à psicologia da comunidade, tomando como unidade
de análise o grupo comunitário, e a psicologia comunitária, que toma como objeto de análise o sujeito
construído sócio-historicamente.
- Enfatiza:
Uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do
lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidades, níveis de consciência
identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos grupos comunitários. Visa o
desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de
um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade. (...) Seu
problemas central é a transformação do indivíduo em sujeito.
-Estratégias de Ação:
1- reunião com os morados das comunidades para análise das necessidades e possíveis soluções;
2- formar sujeitos capazes de desenvolver e dar continuidade aos projetos, mediante envolvimento
afetivo com os objetivos e programas propostos;
3- psicólogo como mediador/facilitador da definição pela própria comunidade das prioridades;
Um CUIDADO:
“[...] a existência de trabalhos comunitários que, por sua origem paternalista e objetivos
assistenciais, levam à manutenção de consciências fragmentadas pelo idealismo e
individualismo, e, de fato, impedindo qualquer avanço tanto na ação como na consciência
(p.28).
Quando se procura resgatar a subjetividade, esta implica em identidade, categoria que leva ao
conhecimento da singularidade do indivíduo que se exprime em termos afetivos,
motivacionais, através das relações com os outros – ou seja, na vida grupal. (p.31)
Atividade: Concebida como o meio que favorece a apropriação dos significados culturais pelo
homem. Isso significa dizer que o homem, ao atuar na sociedade, constrói o seu mundo
interno ao mesmo tempo em que transforma o mundo no qual está inserido.
Consciência: Também construída a partir da relação com o outro, norteia a relação do homem
frente às experiências da vida cotidiana. Produto das relações sociais, depende do mundo
externo para se desenvolver, ou seja, das condições externas como o trabalho, a vida social e a
linguagem.
Grupos:
[...] seja como recurso de pesquisa participante, seja como referência teórica, são os espaços
privilegiados para uma análise teórico-prática dos avanços das consciências individuais
envolvidas no processo.
É no contexto grupal que nos identificamos com o outro e é nele também que nos
diferenciamos deste, e assim construímos a nossa identidade, sendo o grupo condição para a
sua manutenção ou metamorfose.
Porém, é também nas relações grupais que sentimos a ação do poder, o qual tanto pode negar
a nossa identidade como redefini-la. Há o poder do ‘bom falante’ – aquele que entende de
tudo, e assim, impõe o seu pensamento aos demais, como uma verdade absoluta. Neste jogo, o
participante ‘expressionista’ se sente perdido pois ‘ele (o outro) é estudado’, ‘ele sabe falar
bem’, e ‘precisamos de um líder’. E a conclusão acaba sendo: ‘deixa ele decidir...’ Desta forma
cristalizamos a nossa identidade, nos submetendo a um poder autoritário e espúrio,
esquecendo que em um grupo, por princípio, somos todos iguais em direitos e deveres. (p.33)
Conceito de comunidade aparece no Brasil nos anos 70, quando um ramo da psicologia social
se autoqualificou de comunitária.
A sociedade, na teoria de Marx, não é harmoniosa, mas conflitiva, sendo que o harmonioso e o
conflito não são determinados pela presença ou ausência de valores comunitários, mas por
problemas nas relações de produção. O individualismo, inimigo das relações comunitárias, é
fruto do “fetiche” da mercadoria, do trabalho alienado e produtor de mais valia.
Marx também se rendeu ao comunitarismo, enquanto ética da vida social e digna e justa.
Porém, sua idéia de comunidade não se refere à volta ao passado perdido no sentido de
superar o individualismo. Acredita na vasta associação de nações na comunidade transnacional
e encontra na classe trabalhadora a estrutura para a redenção ética da humanidade:
“Proletariado de todos os países, uni-vos”.
Antes dos anos 70, comunidade aparece em alguns estudos como sinônimo de sociedade.
O psicólogo, que na fase anterior se confundia com o educador social, com o assistente social e
com o clínico fora do consultório, agora se tornou ‘militante’ com o objetivo de promover a
passagem da consciência de classe em si à consciência de classe para si, favorecendo a
‘tomada de consciência’ (expressão fundamental da psicologia comunitária) da exploração e
da alienação e a organização da população em movimentos de resistência e de reivindicação.
Comunidade passou a ser entendida como lugar que reúne pares da classe trabalhadora,
considerada o agente social capaz de realizar a intencionalidade prática da teoria crítica, isto é,
a negação da exclusão no capitalismo mantida pela exploração da mais-valia e pela alienação
do homem do produto de seu trabalho.
Se comunidade contém individualidade, não pode ser trabalhada como unidade consensual,
sujeito único. Só a ação conjunta não a caracteriza, ao contrário, a homogeneização pode
negá-la, pois ela deve oferecer um espaço total de atitudes particulares. Isso não significa abrir
mão de idéias comuns, mas de consenso fechado e conseguido às custas da ditadura das
necessidades (Heller:1992), incentivando o exercício da comunicação livre, onde todos
participam com igual poder e competência argumentativa no processo de ressignificação da
vida social.
Os valores comunitários devem ser interiorizados como projeto individual para se transformar
em ação. Devem ser pensados e sentidos como necessidade.
Um pouco de história
a. “trabalho em comunidade” era expressão dos anos 40/50. Mudanças do modelo produtivo
de agropecuário para agroindustrial. Necessidade de mão de obra especializada no sistema
fabril (atendiam aos interesses das elites econômicas). Década de 50 Brasília é construída e JK
adota a filosofia de “crescer 50 anos em 5 anos”. Crescem a inflação, desemprego, pobreza...
b. Nos anos 60, O Brasil e vários países da América Latina enfrentam período de graves
confrontos entre, de um lado, o Estado e as forças Capitalistas, e de outro, as necessidades
básicas da população e a participação da sociedade civil nas discussões políticas e societárias;
ALGUMAS DIFERENÇAS.
A psicologia DA comunidade (anos 90) tornou-se uso frequente. Passou a se referir às práticas
ligadas às questões da saúde, que envolviam atividades que se realizam através da mediação
de algum órgão prestador de serviços no qual o psicólogo trabalhava.
“Relação é uma coisa que não pode ser ela mesma, se não houver outra”.
Ex.: O conflito, a exclusão, são relações, pois ninguém pode brigar sozinho, e se há exclusão, há
alguém que exclui, e alguém que é excluído.
Grupo: o que constitui um grupo é a existência (ou não) de relações. É preciso ter algo em
comum entre as pessoas. Para transformar um grupo é preciso transformar as relações
existentes no grupo.
Relação vem da palavra “relativo” (que é contrário de absoluto, completo, fechado). Assim, o
grupo visto a partir das relações pressupõe um processo de relações dinâmicas, mutáveis.
Multidão (massa) – existência de um grande número de pessoas que estejam num mesmo
lugar. Amontoado de gente que não chega a se conhecer. Há um objetivo, mas não há relação
entre as pessoas além do fato de estarem no mesmo local. A certeza da impunidade (ninguém
sabe quem fez o quê) aumenta a irresponsabilidade (campo de futebol).
Público também são multidões, mas sem contato físico, A única ligação é o fato de estarem
sintonizados (rádio, televisão, leitores mesmo jornal etc.). Não se conhecem, não se
relacionam. As relações são unilaterais/unidirecionais. Ex. Os meios de comunicação de massa
que detêm grande possibilidade de manipular e condicionar as pessoas.
Tipos de relações
Relações de Dominação:
Poder- capacidade de uma pessoa ou grupo para executar uma ação. Tem o poder na medida
que “pode” fazer alguma coisa.
Dominação: definida como uma “relação” entre pessoas (entre grupos), através da qual uma
das partes “rouba”, se apodera do poder (capacidade) de outros. É uma relação assimétrica,
desigual, injusta...
Origem da dominação
Ideologia: uso de formas simbólicas (significados, sentidos) para criar, sustentar e reproduzir
determinados tipos de relação. É o que vai dar sentido / significado às coisas (tem sempre
uma conotação de valor, positivo ou negativo). Pode servir para sustentar relações justas/
éticas, como para criar e sustentar relações assimétricas, desiguais, injustas... relações de
dominação.
Dominação Econômica – é a forma mais geral. Acontece sempre que alguém rouba, expropria,
a capacidade (poder) de trabalho de outras pessoas. O trabalho humano é a fonte única de
riqueza das nações. É só trabalho que pode ser explorado.
Dominação Cultural (mais difícil de se detectar) – Cultura é todo agir humano. É um conjunto
de relações entre pessoas, entre grupos, que se sedimentaram (cristalizaram), de tal modo que
passam a ser pensadas e tratadas como parte da própria natureza das pessoas e das coisas.
Geralmente essas relações cristalizadas são assimétricas, desiguais. Possui várias formas:
Um tipo de vida em sociedade ‘onde todos são chamados pelo nome’. O que significa
uma vivência em sociedade onde a pessoa, além de possuir um nome próprio (manter
sua identidade e singularidade), tem possibilidade de participar, de dizer sua opinião,
de manifestar seu pensamento, de ser alguém. (p.95)
O trabalho comunitário:
a. Respeito pelo “saber” dos outros. Prestar atenção no que as pessoas dizem e
fazem. Pede-se licença para entrar, conviver, compartilhar;
Sexo e Gênero
Os humanos interpretam e dão nova dimensão a seu ambiente físico e social através da
simbolização.
Ser uma fêmea não significa ser uma mulher e ser um macho não significa ser um homem.
A construção cultural do gênero é evidente quando se verifica que ser homem ou ser mulher
nem sempre supõe o mesmo em diferentes sociedades ou em diferentes épocas.
Na Europa (1972) Ann Oakley apontou para a necessidade de diferenciação entre macho e
fêmea e Gênero, na classificação social de masculino e feminino. Aprofundando o tema, além
de contar como um modo de produção, toda a sociedade possui um sistema de gênero:
conjunto de arranjos através dos quais a sociedade transforma a biologia sexual em
produtos da atividade humana e nos quais essas necessidades transformadas são satisfeitas.
Inclui componentes como a divisão sexual do trabalho e definições sociais para os gêneros e
os mundos sociais que estes conformam.(p.183-184)
A visão de gênero como construção cultural e histórica implica tratar com categorias
simbólicas, cujas características principais são dar prioridade à interpretação construída em
uma dialética entre o dado concreto e o esquema explicativo.
Através da capacidade humana de criar e manipular símbolos, os sistemas simbólicos vêm a ser
condição e consequência da interação social. No entanto, é necessário lembrar que esta
capacidade simbólica, tanto de produzir como de interpretar, de ler a realidade e de
significar, tem sido e ainda de certa forma é, unilateral e excludente, posto que se faz
prioritariamente desde o ângulo masculino. (p.184)
Atualmente, nas culturas ocidentais, o poder social é identificado com atributos considerados
como masculinos. Pessoas do sexo masculino ou feminino podem desempenhar papéis,
através dos quais o poder pode ser exercitado, mas eles permanecem como papéis
masculinos. (p.186).
Exemplo: [...] crenças disseminadas de que os recursos têm sido escassos desde a aurora da
existência humana; que a inteligência é herdada e pode ser medida acuradamente; e que,
embora a discriminação racial e sexual possa ser objetivada, ela está baseada em
inferioridade e superioridade naturais.
Essas noções têm um paralelo nas religiões que apresentam razões de ordem divina para a
existência da desigualdade de raça e sexo. (p.186)
Relações antagônicas (rivalidades entre jovens e idosos, pobres e ricos, negros e brancos
etc.) estruturam a dependência e a submissão.
Subordinação de gênero: quando as mulheres não estão no controle das instituições que
determinam as políticas que afetam as mulheres. Ex.: direitos reprodutivos.
Assim, o modo de produção, em si mesmo, não pode ser invocado como a base da
subordinação feminina. (p.192)
Desde que a hierarquia de gênero emerge com a formação de classe e do estado, pode-se
perguntar: se a biologia não é destino, então por que são as mulheres e não os homens que
se tornaram subordinadas?
Na formação do Estado, tanto as mulheres da elite quanto as das classes produtoras tiveram
sua autoridade diminuída. Na medida em que o estado vai se formando e a distância entre
as classes produtoras vai aumentando, torna-se cada vez mais necessário que os grupos de
parentesco das sociedades iniciais deixem de ser autônomos, pois necessitam providenciar
produtos e serviços para o suporte da elite não produtiva. A reprodução nesse sentido geral
de continuidade, se torna cada vez mais politizada. Nessa espécie de crise da reprodução
social é que está a origem da hierarquia de gênero (Gailey,1987). (p.192-193).
As religiões sustentadas pelo Estado, os militares e outras instituições não baseadas no
parentesco, atuavam de diferentes modos para promover a reprodução das relações
hierárquicas através de noções de obediência, aceitação, controle da sexualidade e linhas de
parentesco sancionadas pelo próprio estado.
O controle sobre o trabalho e, através do trabalho, dos produtos, é o principal item político
na formação do Estado. A existência de uma esfera de tributação da produção destinada
para as autoridades civis e a continuação parcial da produção através das linhas de
parentesco, inicia a fragmentação da divisão do trabalho pelos integrantes dos grupos de
parentesco. A divisão entre as esferas pública/civil e parentesco/doméstica também abala
unidade da identidade social por parentesco. [...] A esfera civil cria a situação na qual as
pessoas podem ser consideradas somente em termos de seu sexo (identidades abstratas: um
homem adulto, uma mulher adulta), independentemente de seus papéis familiares (pai, mãe,
filha). (p.193).
A razão pela qual as mulheres recebem extrema sujeição ideológica está relacionada com a
abstração na divisão civil do trabalho e supressão da autonomia dos grupos de parentesco
na reprodução. As mulheres (pobres) são capazes de trabalhar e de produzir outros
trabalhadores pertencentes à classe trabalhadora, tornando-se foco principal do controle
estatal. (p.194)
As mulheres da elite tinham para seu reconhecimento somente sua capacidade biológica de
reprodução, já que eram tão improdutivas quanto os homens de sua classe. Assim, sua
sexualidade e alianças maritais eram ainda mais supervisionadas que as da classe
trabalhadora. Fertilidade fora de lugar poderia causar tumulto político.
Com a transposição das relações de parentesco para a esfera doméstica, o poder político das
mulheres dentro da elite declina e com o tempo as mulheres em geral são vistas
abstratamente de uma maneira que as relaciona com a reprodução biológica, afastada da
cultura e basicamente ligada à natureza.(194)
O Gênero na Psicologia
As pesquisas transculturais revelam que, de uma maneira geral, os homens são vistos como
mais ativos, com mais necessidade de realização, de domínio, de autonomia, sendo também
mais agressivos. Já as mulheres seriam vistas como mais fracas, menos ativas, mais
preocupadas com suas necessidades afiliativas de afeto. Os pesquisadores e pesquisadoras
admitem que é necessário cautela na generalização desses resultados, já que existe uma
grande variabilidade, lado a lado com semelhanças através da cultura. (p.196).