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Promoção de saúde: a convergência


entre as propostas da vigilância da saúde
e da escola cidadã

Health promotion: convergence between


the principles of health surveillance
and socially responsible schools

Denise Aerts 1,2


Gehysa Guimarães Alves 2,3
Maria Walderez La Salvia 4
Claídes Abegg 1,5

Abstract Este artigo discute a convergência das propos-


tas do modelo de atenção da vigilância da saú-
1 Programa de Pós-Graduação The authors discuss the convergence between de e da escola-cidadã desenvolvidas na Cidade
em Saúde Coletiva,
health surveillance and socially responsible de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, a par-
Universidade Luterana
do Brasil, Canoas, Brasil. schools from a health promotion perspective in tir da década de 90. O texto está estruturado
2 Coordenadoria Geral Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil. em quatro momentos. No primeiro, apresenta-
de Vigilância da Saúde,
The aim of health promotion strategies is to pro- se a discussão da proposta da promoção de sa-
Secretaria Municipal
de Saúde de Porto Alegre, vide the population with the necessary means to úde como vem sendo analisada nas últimas dé-
Porto Alegre, Brasil. improve their health. One of the explanatory cadas. No segundo, discute-se a proposta da vi-
3 Faculdade de Odontologia,
paradigms for health surveillance is the social gilância da saúde e seus elementos constituti-
Universidade Luterana
do Brasil, Canoas, Brasil. production of health, acknowledging the influ- vos na organização do sistema municipal de
4 Centro de Saúde Vila dos
ence of living conditions on the population’s saúde. No terceiro, apresenta-se a proposta da
Comerciários, Secretaria
Municipal de Saúde de Porto
health. The main thrust of schools that promote escola-cidadã e suas características essenciais.
Alegre, Porto Alegre, Brasil. citizenship is social inclusion, achieved through Por último, discute-se a convergência teórica
5 Programa de Pós-Graduação
education by recognizing the needs and possi- percebida pelas autoras, à luz de quatro dos
em Odontologia, Universidade
Federal do Rio Grande do
bilities of students and empowering citizens by cinco campos de ação da promoção da saúde.
Sul, Porto Alegre, Brasil. raising awareness of their rights and duties. The
convergence between health surveillance and
Correspondência
D. Aerts socially responsible schools is demonstrated in A promoção da saúde
Programa de Pós-Graduação four fields of health promotion: development of
em Saúde Coletiva,
personal capacities by providing information Em nenhum outro momento falou-se tanto
Universidade Luterana
do Brasil. and health education to empower people for em promoção da saúde como na década atual.
Av. Ganzo 238, healthier choices; strengthening of community Em 1986, na 1 a Conferência Internacional de
Rorto Alegre, RS
action for better health; creation of health- Promoção de Saúde, foi publicada a Carta de
90150-070, Brasil.
daerts@via-rs.net friendly public and private environments; and Ottawa, que ampliou o significado da concep-
construction of healthy public policies, involv- ção de promoção como conjunto de ações vol-
ing both government and nongovernmental or- tadas para a prevenção das doenças e riscos in-
ganizations. dividuais para uma visão que considera a influ-
ência dos aspectos sociais, econômicos, políti-
Health Promotion; Educational Models; Inter- cos e culturais sobre as condições de vida e sa-
sectorial Action úde 1. Assim, a saúde é compreendida enquan-
to qualidade de vida e não apenas como ausên-

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cia de doença, determinando que os proble- sobre a promoção colocaram em relevo a im-
mas de saúde sejam enfrentados valendo-se de portância do entorno, uma vez que pode ser um
ações intersetoriais, visto que extrapolam a grande obstáculo para a saúde (violência, desem-
responsabilidade exclusiva do setor saúde. prego, poluição) ou proteger a saúde dos indi-
A Carta de Ottawa para Promoção de Saúde víduos (proteção ambiental, inclusão social) 5.
propõe cinco campos de ação para a promoção A IV Conferência Internacional de Promo-
de saúde da coletividade: ambientes suporti- ção da Saúde, em Jacarta – 1997, procurou avan-
vos à saúde, facilitadores das escolhas saudá- çar nas discussões dos fatores que impedem a
veis, objetivando promover saúde por intermé- concretização do novo conceito de saúde e co-
dio da criação de condições de vida e trabalho loca como principal ameaça para sua execução
que conduzam à saúde e ao bem-estar; cons- o aumento da pobreza. A Carta de Jacarta pro-
trução de políticas públicas saudáveis, impli- põe novas ações frente a essa ameaça: a coope-
cando abertura de espaços nas agendas dos ração internacional e a criação de novas parce-
formuladores de políticas públicas de todos os rias (http://www.who.int/hpr/NPH/docs/jakarta
setores, tornando as escolhas saudáveis as mais _declaration_portuguese.pdf, acessado em 05/
fáceis; fortalecimento da ação comunitária, Jan/2004).
priorizando a participação de indivíduos e co- O conceito de promoção da saúde traz co-
munidades nas tomadas de decisões de ques- mo princípios norteadores um conjunto de va-
tões que dizem respeito à sua saúde; desenvol- lores éticos, como a vida, a solidariedade, a
vimento de habilidades pessoais, enfatizando a eqüidade e a cidadania, e uma série de estraté-
divulgação de informações sobre a saúde, edu- gias que visam concretizar a cooperação e par-
cação para a saúde, nas escolas, universidades, cerias 2. A importância dessas, quer sejam em
locais de trabalho e qualquer espaço coletivo de nível internacional ou local, entre diferentes
forma a permitir que as pessoas tenham mais atores e instituições, entre o público e o priva-
controle sobre sua saúde; e reorientação dos do, entre distintos setores, é inquestionável e
serviços de saúde, de um enfoque curativo pa- determinante do êxito da promoção da quali-
ra um enfoque preventivo de promoção de sa- dade de vida das populações.
úde, com a formação de profissionais capazes O diálogo intersetorial é difícil, pois é preci-
de acompanhar esta mudança 2,3. so respeitar a visão do outro e sua contribuição
Assim, a promoção da saúde passou a ser para a construção de soluções para os proble-
vista como uma estratégia mediadora entre mas levantados, entretanto, pode ser uma im-
pessoas e ambiente, visando aumentar a parti- portante estratégia de reconstrução da esfera
cipação dos sujeitos e da coletividade na modi- pública (http://www.cedaps.org.br/opniao_
ficação dos determinantes do processo saúde- construcao.htm, acessado em 05/Jan/2004).
doença, como emprego, renda, educação, cul- Além disso, a colaboração de vários setores, vi-
tura, lazer e hábitos de vida. Desse modo, bus- sando a um objetivo único, oferece uma série
ca proporcionar aos povos meios necessários de vantagens: aumentar o conhecimento e a
para melhorar sua saúde, cabendo ao estado a compreensão entre setores, diminuindo as ri-
responsabilidade de reduzir as diferenças, as- validades e esclarecendo o papel de cada um;
segurar a igualdade de oportunidades e pro- assegurar o planejamento de ações de saúde ba-
mover os meios que permitam a todos desen- seadas no conhecimento ampliado das neces-
volver um melhor controle sobre ela 4. sidades da comunidade; e garantir que as in-
A partir da Conferência de Ottawa, em formações sobre saúde recebidas pelo público
1986, vários outros encontros e conferências sejam uniformizadas 6.
têm sido organizados no intuito de aprofundar A intersetorialidade pode ser definida co-
a discussão da promoção da saúde, incluindo mo a articulação de saberes e experiências na
estratégias importantes como políticas públi- identificação participativa de problemas cole-
cas saudáveis (http://www.who.int//hpr/NPH/ tivos, nas decisões integradas sobre políticas e
docs/adelaide-recommendations.pdf, acessado investimentos, com o objetivo de obter retor-
em 05/Jan/2004), meio ambiente favorável à nos sociais na perspectiva da inclusão social e
saúde (http://www.who.int/hpr/NPH/sundsval_ superação do modelo de desenvolvimento só-
statement.pdf, acessado em 05/Jan/2004) e de- cio-econômico atualmente vigente 7.
senvolvimento sustentável (http://www.who. O cerne da ação intersetorial localiza-se na
int/violence_injury_prevention/media/em/ gestão pública de um território bem definido.
633.pdf, acessado em 05/Jan/2004). As discussões Nesse sentido, a cidade é um espaço privilegia-

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do que pode ser viabilizado politicamente, me- novos parâmetros curriculares apontam para a
diante um novo olhar e um novo agir sobre a necessidade de planejar o trabalho institucio-
realidade, definindo democraticamente os pro- nal levando em consideração as especificida-
blemas prioritários, cuja redução ou controle des locais, regionais e culturais.
necessita de habilidades e compromissos de O grande desafio, hoje, consiste em desen-
diversos setores. A implementação da interse- volver uma sociedade mais saudável, estimu-
torialidade deve se dar por meio de um plane- lando o planejamento de políticas públicas ca-
jamento que envolva todos os setores, para que pazes de promover a saúde, investindo em pes-
todos tenham claras as suas responsabilidades quisas e ações que incidam na melhoria da
e funções, conhecendo as interfaces necessá- qualidade de vida das populações e estimulan-
rias (www.redeunida.org.br:8080\forum\salas\ do a participação popular.
3, acessado em 05/Jan/2004). Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a estra-
Idealmente, a coordenação dessas ações fi- tégia da promoção da saúde concretiza-se de
cará a cargo do prefeito municipal, já que é a diferentes formas na dependência da especifi-
pessoa capaz de fazer a articulação entre os di- cidade de cada área: na Polícia, com a proposta
versos setores governamentais. Essa liderança de Polícia Social, Democrática ou Comunitária;
garante o desencadeamento de ações interseto- na Educação, com a Escola Cidadã; e na Saúde,
riais necessárias ao desenvolvimento de uma ci- com a Vigilância da Saúde. No entanto, essas
dade saudável, onde os atores sociais orientam propostas tiveram origem dentro dos diferen-
suas ações a fim de transformar a cidade em um tes setores, sem que se perceba uma política
espaço de produção social da saúde, construin- municipal articuladora de tais iniciativas. No
do uma melhor qualidade de vida para seus mo- que diz respeito à Vigilância da Saúde e à Esco-
radores. Nesse sentido, a saúde é colocada co- la Cidadã, percebe-se a convergência teórica
mo objeto de todas as políticas públicas. das duas propostas, embora ela não tenha sido
Contudo, a abordagem intersetorial extra- planejada nos respectivos setores.
pola a esfera do próprio governo. A promoção
da saúde deve ser assumida como responsabi-
lidade de todos os setores, visto que os gover- O modelo da vigilância da saúde
nos sozinhos são incapazes de responderem
pelas demandas sociais que determinam a sa- Tomou-se como referência para o entendimen-
úde. Em função disso, exige o comprometimen- to de modelo ou modo de atenção, três defini-
to de toda a sociedade. No entanto, o poder exe- ções de autores brasileiros. A primeira define-o
cutivo municipal é responsável por conduzir o como um conceito capaz de articular o técnico
processo de viabilização de uma cidade saudá- e o político, incorporando contribuições soci-
vel e o setor saúde por desencadear a discus- ais, culturais, políticas, clínicas, éticas, jurídi-
são e a inclusão dos outros setores. Essa tarefa cas, administrativas, dentre outras 10. A segun-
exige uma ação coordenada de todos os impli- da, de Carvalho & Ribeiro 11, define-o como a
cados: governo, organizações não governamen- maneira como são organizadas e combinadas
tais, meios de comunicação e população. Sem as diferentes ações de intervenção no processo
isso, é difícil viabilizar uma sociedade mais fra- saúde e doença; e a terceira, proposta por Paim
terna e humana 8 (http://www.cedaps.org.br/ 12, como as combinações tecnológicas utiliza-

opniao_construcao.htm, acessado em 05/Jan/ das pela organização dos serviços de saúde em


2004). determinados espaços-populações, incluindo
Na estratégia intersetorial, a saúde e a edu- ações sobre o ambiente, grupos populacionais,
cação devem poder ser pensadas de forma mais equipamentos comunitários e usuários de di-
integradora. Em maio de 2001, foi assinada ferentes unidades prestadoras de serviços com
uma portaria interministerial que elaborou os distinta complexidade. Assim, entende-se vigi-
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação. lância da saúde como um modelo de atenção.
Esses parâmetros apontam para a construção Os modelos de atenção à saúde que mais se
de uma nova cultura em que a saúde e a edu- destacaram ao longo da história brasileira fo-
cação trabalhem com temas transversais – plu- ram o sanitarista, na primeira metade do sécu-
ralidade cultural, ética, orientação sexual, ci- lo XX, o médico-assistencial privatista, ainda
dadania, meio ambiente, trabalho, consumo – presente nos dias de hoje, e os alternativos.
com base em situações concretas vivenciadas O modelo sanitarista, por organizar suas
no cotidiano das populações. Assim, o conhe- atividades fundamentalmente na forma de
cimento deve ser tratado como algo que é cons- campanhas e programas dirigidos a problemas
truído e apropriado, fruto da interação e coo- específicos, como dengue, tuberculose e imu-
peração entre sujeitos que são diferentes 9. Os nizações, dificulta o desenvolvimento de ativi-

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dades rotineiras das equipes de saúde e, ao atu- de vida, conflitos, interesses, projetos e sonhos,
ar de forma paternalista, desresponsabiliza a ou seja, a forma como as pessoas vivem, se or-
população pela busca de sua própria saúde. ganizam, adoecem e morrem. É esse território
O modelo médico-assistencial tem como que deverá ser “esquadrinhado” de modo a pro-
principal característica ser voltado para a de- porcionar o conhecimento da realidade de sa-
manda espontânea, ou seja, aos indivíduos que úde que é permeada pela dinâmica das rela-
procuram os serviços de saúde. Conseqüente- ções sociais, econômicas, políticas e culturais.
mente, aqueles que não percebem com seus Além disso, deve-se dar ênfase aos problemas,
problemas ou desconhecem as medidas pre- identificando a diferença entre o que é e o que
ventivas disponíveis não se beneficiam com os deveria ser, de acordo com os valores desejá-
serviços oferecidos. Uma das maiores críticas a veis do ponto de vista dos atores sociais. A pac-
esse modelo consiste em sua incapacidade de tuação entre as necessidades sentidas pela po-
impactar significativamente os níveis de saúde pulação e os problemas identificados pela equi-
da coletividade 12. pe de saúde deve subsidiar as ações de plane-
Os modelos médico-assistencial e sanita- jamento e programação dos serviços de saúde.
rista não conseguiram responder plenamente Trabalhar com problemas de saúde significa en-
às necessidades da população. Com isso, ob- tender a representação social das necessidades
servou-se, especialmente a partir da década de sanitárias, derivadas das condições de vida 13.
80, o surgimento de propostas alternativas, Logo, esse modelo de atenção tem como su-
buscando concretizar os princípios e diretrizes jeito a equipe de saúde e a população, elegen-
da Constituição Brasileira: acesso universal, hi- do como objeto de trabalho os danos, riscos,
erarquização, descentralização e participação necessidades e determinantes dos modos de
popular. vida e saúde. Sua prática deve transcender os
O modelo da vigilância da saúde tem como espaços institucionais do sistema de saúde,
objetivo instituir um novo modo de relação com ampliando-se para órgãos governamentais ou
a população sob responsabilidade dos serviços não, envolvendo diversos grupos sociais. No
de saúde, em que não só os indivíduos devem momento em que a equipe de saúde sai a “cam-
ser vistos em sua integralidade como também po” para conhecer o seu território, interage com
o atendimento deve ser pautado no acolhimen- a população e estabelece outra relação com ela.
to e respeito pelo outro. “A vigilância da saúde Esse novo jeito de fazer saúde exige que os
é uma nova forma de resposta social organiza- profissionais desempenhem o papel de educa-
da aos problemas de saúde, referenciada pelo dores, sendo capazes de auxiliar a população
conceito positivo de saúde e pelo paradigma da sob sua responsabilidade a tornar-se agente na
produção social da saúde. Por conseguinte, essa promoção e proteção de sua saúde e da saúde
prática tem de, a um tempo, recompor o fracio- da cidade. Para tanto, devem desencadear um
namento do espaço coletivo de expressão da do- processo de aprendizagem, no qual o ensinar e
ença na sociedade, articular as estratégias de in- o aprender possam se efetivar de uma forma
tervenção individual e coletiva e atuar sobre to- relacional e não hierárquica. Nesse sentido, as
dos os nós críticos de um problema de saúde, pessoas devem ser o elemento central de todas
com base em um saber interdisciplinar e em um as ações (primazia das pessoas), tendo mais
fazer intersetorial” 13 (p. 243-4). controle sobre suas próprias vidas (apodera-
Portanto, a vigilância da saúde utiliza como mento), sendo capazes de identificar fatores
paradigma explicativo, a determinação social que afetam sua saúde e, com isso, exercendo
do processo saúde-doença, reconhecendo a im- maior controle sobre eles (viabilização) (Hills
portância das condições de vida sobre as con- M, em documento distribuído na Oficina para
dições de saúde da população, indo buscar na professores de promoção da saúde, realizada
promoção estratégias de intervenção na reali- durante o VI Congresso Brasileiro de Saúde Co-
dade. Tem como características: intervenção letiva em Salvador, 2000).
sobre problemas de saúde; ênfase em proble- Em Porto Alegre, esse modelo de atenção
mas que requerem atenção e acompanhamen- vem sendo delineado desde o início da década
to contínuo; operacionalização do conceito de de 90, com a reorganização da rede básica, a
risco; articulação entre as ações de promoção, municipalização plena da gestão, culminando
prevenção, recuperação e reabilitação; atuação com a completa territorialização do município,
intersetorial e ações sobre o território 14. onde cada serviço de saúde passou a ser res-
A dimensão de território é inerente à vigi- ponsável pela população moradora em sua
lância da saúde. Território é um espaço em per- área, estando referida a uma gerência distrital.
manente construção e significa a área geográfi- Na III Conferência Municipal de Saúde, em
ca e tudo o que existe dentro dela. É o espaço maio de 2000, foi discutida a concepção de sa-

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úde em sua perspectiva de “qualidade de vida”, Essa proposta surgiu como resposta à buro-
podendo melhorar ou piorar conforme as ações cratização do ensino e sua ineficiência, pois o
desencadeadas sobre os fatores que lhes deter- sistema oficial de ensino não conseguia garan-
minam. O modelo de atenção da vigilância da tir a qualidade e a inclusão social, uma vez que
saúde foi reafirmado, embasado por esse con- trabalhava os conteúdos completamente des-
ceito ampliado de saúde, sendo reconhecido o colados da realidade vivenciada pelos alunos e
Programa Saúde da Família como uma estraté- suas famílias. A escola cidadã ou democrática
gia para a viabilização desse modelo 15. tem como eixos norteadores a integração entre
No ano de 2002, ocorreu a necessária com- educação e cultura, escola e comunidade; a de-
patibilização dos territórios dos distritos sani- mocratização das relações de poder dentro da
tários e das regiões do orçamento participati- escola; o enfrentamento da repetência e da
vo, territórios de planejamento, gestão e parti- avaliação; a visão interdisciplinar; e a forma-
cipação da população no governo municipal. ção permanente dos educadores (http://www.
Hoje, o município conta com cinqüenta ser- paulofreire.org/pf/reflexao.htm, acessado em
viços básicos de saúde e sessenta e duas (62) 05/Jan/2004).
equipes do Programa Saúde da Família (PSF). A escola contribui na construção de valores
Contudo, com o convênio assinado com o go- pessoais, crenças, conceitos e maneiras de co-
verno federal para a execução do Projeto Muni- nhecer o mundo e interfere diretamente na
cipal de Expansão da Saúde da Família os ser- produção social da saúde, na medida em que
viços básicos passarão a funcionar dentro da atua na exclusão ou na inclusão social. Reco-
lógica do PSF 16. Com isso, atuar na vigilância nhecendo isso, a escola cidadã tem como dire-
da saúde passa a ser a lógica que deverá norte- triz central a inclusão social e contribui para a
ar todos os serviços básicos de saúde nos pró- promoção da saúde na proporção em que bus-
ximos anos. ca formar sujeitos críticos, criativos e consci-
entes e que proporciona a aprendizagem de
acordo com as necessidades e possibilidades
A proposta da escola cidadã dos alunos 18.
Todavia, para que as aprendizagens sejam
A escola, espaço socialmente reconhecido para significativas, é necessário construir um pro-
desenvolver o ato pedagógico, é uma institui- cesso dialógico no qual aprender e ensinar
ção em que o ser humano passa longa e impor- possam se efetivar em um clima agradável e
tante etapa de sua vida. Por sua missão educa- prazeroso e, com isso, contribuir para a saúde
tiva ser complementar à missão da família, a física e mental de alunos, professores e funcio-
escola contribui na construção de valores pes- nários.
soais e dos significados atribuídos a objetos e A escola inclusiva, reafirmada a partir da
situações, entre eles a saúde. Declaração de Salamanca, na Conferência Mun-
Tomando-se a educação como um proces- dial de Educação Especial, em 1994, garante o
so dialógico, problematizador e inclusivo, que direito à educação independentemente de di-
visa à construção da consciência crítica sobre ferenças individuais (http://paidos.rediris.es/
o ser e o estar no mundo, observam-se várias genysi/recursos/doc/leyes/dec_sal.htm, aces-
tentativas de mudanças pedagógicas em diver- sado em 05/Jan/2004). A inclusão baseia-se na
sas cidades do Brasil. valorização da diversidade humana, no direito
A escola saudável é aquela que possui um de pertencimento e na busca de soluções para
ambiente solidário e propício ao aprendizado, o desafio da presença do diferente.
por isso ela deve estar engajada no desenvolvi- Em Porto Alegre, os projetos político-peda-
mento de políticas públicas saudáveis e na es- gógicos das escolas expressavam a necessidade
timulação da criação de entornos favorecedo- de tempos e espaços escolares não excludentes
res à saúde, na aprendizagem de comporta- e pautados pela necessidade concreta e histó-
mentos que permitam a proteção do meio am- rica dos alunos e suas famílias. Valendo-se des-
biente, na conservação de recursos naturais e sa discussão entre Conselho Municipal de Edu-
na implicação cada vez maior da população cação, Secretaria Municipal de Educação e Re-
em projetos de promoção da saúde. de Municipal de Ensino, foi proposta a escola
Em Porto Alegre, a proposta pedagógica da por ciclos de formação 19.
escola cidadã, instituída na Secretaria Munici- Essa escola abre a possibilidade de o aluno
pal de Educação em 1995, é um desdobramen- aprender os conteúdos durante um tempo que
to do projeto municipal Cidade Constituinte, pode ser maior que um ano. Assim sendo, hou-
em que estão delineadas as políticas desejadas ve a mudança curricular do regime seriado pa-
para a cidade 17. ra os ciclos de formação, cuja estrutura é de

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CONVERGÊNCIA ENTRE VIGILÂNCIA DA SAÚDE E ESCOLA CIDADÃ 1025

três ciclos com três anos cada, totalizando no- Convergências entre escola cidadã
ve anos de ensino fundamental. e vigilância da saúde
Esse tipo de organização alicerça-se numa
visão de currículo processual, considerando as Ao se analisar a proposta da vigilância da saú-
realidades vividas pelos alunos, e procura cons- de e a da escola cidadã, percebe-se que ambas
truir um processo educativo interativo. Tal mu- estão pautadas no referencial teórico da pro-
dança não se limita à discussão de conteúdos e moção de saúde, ocorrendo uma convergência
carga horária, ela busca a inter-relação entre as conceitual explicitada em quatro dos cinco
áreas do conhecimento e entre essas e a socie- campos de ação da promoção de saúde.
dade 19. Com base nessa visão, o investimento
pedagógico privilegia o que o aluno já sabe e as Desenvolvimento de habilidades pessoais, por
possibilidades de continuar avançando no pro- meio de informações e educação em saúde,
cesso de aprendizagem. visando proporcionar escolhas mais saudáveis
O ciclo é uma estratégia de enfrentamento
ao fracasso escolar, na medida em que leva em A escola cidadã contribui para a promoção da
conta as características dos alunos em suas di- saúde ao mesmo tempo em que busca formar
ferentes faixas etárias e realidades sócio-cultu- cidadãos conscientes de seu estar “no” e “com”
rais. Como esses ciclos não terminam no final o mundo, refletindo criticamente sobre sua vi-
de um ano, oferecem a possibilidade aos alu- da e caminhos para construí-la de uma forma
nos de recuperarem, no ano seguinte, os con- saudável. Tem como ideal um ensino voltado
teúdos não apreendidos. para a realidade do aluno e o desenvolvimento
A realidade em que vivem os alunos, suas de sua autonomia, intentando transformar a
características sócio-culturais, seus valores e escola num espaço em que haja desejo e ale-
crenças são investigados por intermédio de gria na construção do conhecimento.
uma pesquisa sócio-antropológica, realizada A vigilância da saúde privilegia, entre suas
periodicamente com a comunidade, que busca ações, a educação em saúde, entendida como
conhecer como e onde vivem os alunos e suas uma prática social que cria oportunidade aos
famílias e quais são suas necessidades, proble- cidadãos de identificação de seus problemas
mas e expectativas. O conhecimento gerado de saúde e das situações que os determinam,
com a pesquisa subsidia a escolha e a organiza- incentivando a procura de soluções coletivas.
ção dos conteúdos e atividades pedagógicas 20. Tem o papel de potencializar as capacidades
Como o currículo é organizado, fundamen- dos sujeitos e dos grupos populacionais para
tando-se nessa realidade, discute temas transver- incidirem positivamente em suas trajetórias de
sais e atuais que contribuem para um ambiente vida, o que implica intervir nas relações sociais
mais saudável. Ademais, trabalha pela inclusão que constroem ao longo do tempo.
social, estimulando a participação da população A escola e o serviço de saúde atuam na vida
nas discussões escolares e possibilita aos seus alu- cotidiana, discutindo valores, crenças, mitos,
nos uma maior participação na sociedade a partir hábitos e estilos de vida em momentos em que
da experiência de cidadania vivida na escola. os indivíduos estão mais suscetíveis à reflexão
A proposta prevê ainda o acompanhamen- sobre esses aspectos. Nessa perspectiva, é de
to sistemático do aluno e, ao invés de esperar especial importância a atuação desses setores
que ele(a) reprove, os professores devem aten- junto a crianças e adolescentes, sujeitos em de-
dê-los ao longo do ano, trabalhando o reforço senvolvimento, na construção de projetos sau-
do conteúdo e o acolhimento dos alunos. Com dáveis de vida. Um exemplo disso, em relação
essas medidas, muitos alunos que estavam “pre- a meninas, é a questão da gestação na adoles-
destinados” ao insucesso passam a ter a possi- cência. Para as mais pobres, muitas vezes, a
bilidade de seguir os seus estudos e aprender maternidade coloca-se como um projeto de vi-
os conteúdos 21. da, sendo a única alternativa ao desenvolvi-
A escola promove a saúde na proporção em mento profissional obstaculizado pela falta de
que consegue assegurar condições saudáveis caminhos. Para os meninos, acontece situação
tanto no espaço da sala de aula como dentro semelhante: a afirmação da identidade social
do espaço escolar. Condições saudáveis pro- pode se dar pela vinculação a grupos que se
movem um ambiente propício à aprendizagem, utilizam de condutas anti-sociais, como o rou-
buscam estimular as relações entre as pessoas, bo ou uso de drogas lícitas e ilícitas, colocan-
promovem a participação e a criatividade do do-os no caminho da violência. Em tais situa-
aluno e entendem que a auto-estima e a auto- ções, a saúde e a educação devem atuar con-
nomia são aspectos fundamentais para a pro- juntamente, contribuindo para a construção
moção da saúde 18. de projetos alternativos de vida.

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1026 Aerts D et al.

Fortalecimento da ação comunitária na prevê, semelhante à vigilância da saúde, o re-


busca da melhoria das condições de saúde conhecimento do território, a saída dos profes-
sores da escola, com o objetivo de conhecer a
A escola cidadã e a vigilância da saúde propõem realidade dos alunos e, a partir daí, organizar o
o reconhecimento do território sob responsabi- conteúdo de forma a que ele não seja exclu-
lidade dos trabalhadores de cada setor como es- dente e preconceituoso. Utilizando como tema
tratégia para o planejamento de suas ações. Es- gerador do ensino os conteúdos levantados nes-
se processo de desvelamento da realidade, cha- se trabalho de campo, mediante a identificação
mado de pesquisa sócio-antropológica, na es- de problemas e necessidades dos grupos popu-
cola, e de territorialização, na saúde, permite lacionais, é possível desencadear um aprendi-
uma aproximação com a população, sua cultura zado mais concreto, voltado para a qualidade
e o reforço à participação popular. Nessa pers- de vida e o sentido de cidadania.
pectiva, território é entendido como um espaço Tanto no enfoque da vigilância da saúde co-
em permanente construção, permeado por uma mo na proposta da escola cidadã em Porto Ale-
dinâmica social em que pessoas interagem en- gre, verifica-se um investimento com intuito de
tre si e com as instituições que ali atuam, e não oferecer a seus diferentes usuários informações
apenas como um espaço geográfico 13. que os instrumentalizem na busca de ambientes
Na escola, os conteúdos trabalhados estão de vida e de trabalho saudáveis. Essas informa-
permeados por valores e crenças dos professo- ções visam promover a saúde, prevenir o adoeci-
res em relação a diferentes aspectos. Na saúde, mento e reduzir as situações que vulnerabilizam
a atuação dos profissionais também é influen- os indivíduos e os grupos populacionais.
ciada por sua percepção do mundo, muitas ve- A proposta do Ministério da Educação e Cul-
zes distanciada da realidade em que vivem os tura 23 acerca de temas transversais concretiza-
grupos populacionais por eles atendidos. Daí a se na escola cidadã com a discussão sobre os
importância do reconhecimento da cultura lo- determinantes da qualidade de vida e com a
cal e da pactuação de necessidades e proble- participação das famílias na vida escolar. Nos
mas identificados pela população e técnicos e serviços de saúde, a transversalidade se faz
de ações a serem desenvolvidas. É no reconhe- presente com o desenvolvimento de ações de
cimento dos diferentes saberes e culturas que vigilância epidemiológica, sanitária e ambien-
se viabiliza a participação popular. tal e ações de atenção e educação em saúde,
A formalização de espaços para essa parti- voltadas para indivíduos e coletividade.
cipação existe tanto nas propostas da vigilân- Ao se pensar na promoção da saúde via cri-
cia da saúde como na escola cidadã, via conse- ação de ambientes saudáveis, é necessário in-
lhos municipais de saúde, conselhos escolares, cluir, além do já mencionado, o meio físico e a
conferências locais e nacionais e outros fóruns estrutura da organização, da administração e
instituídos para a discussão de questões perti- da gestão das instituições públicas 5. Tanto na
nentes às duas áreas. No entanto, sua efetiva- saúde como na educação, os conselhos locais e
ção precisa ser construída cotidianamente por municipais configuram-se em espaços poten-
profissionais e população. cializadores de uma maior participação da so-
ciedade na gestão dessas instituições.
Criação de ambientes favoráveis à saúde
Construção de políticas públicas
Para o processo de transformação da vida, é saudáveis, envolvendo órgãos
fundamental a compreensão da determinação governamentais e não governamentais
do social, político, cultural e do meio físico so-
bre a saúde de indivíduos e coletividades; po- A construção de políticas públicas saudáveis
rém, para viabilizar essa compreensão, é preci- requer a atuação na perspectiva da intersetori-
so discutir de que forma estilos, hábitos e con- alidade, reconhecendo que a saúde é determi-
dições de vida e trabalho influenciam as for- nada por processos externos a ela. Assim, a in-
mas de adoecer, morrer e receber os cuidados tersetorialidade deve ser entendida como um
de saúde. Ainda que a Constituição garanta os processo articulado e integrado de formulação
mesmos direitos a todos os cidadãos, as desi- e implementação de políticas públicas, com a
gualdades na qualidade de vida fazem com que integração de estruturas, recursos e processos
seja imperioso perseguir a eqüidade, atuando organizacionais, sendo as responsabilidades
sobre as iniqüidades com ações voltadas para partilhadas pelos setores governamentais, não
os determinantes dos problemas de saúde 22. governamentais e pela sociedade civil 9. Além
A proposta da escola cidadã propicia a iden- disso, possibilita aos envolvidos a aprendiza-
tificação de temas transversais, uma vez que gem do conviver com o outro, o respeito pelas

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CONVERGÊNCIA ENTRE VIGILÂNCIA DA SAÚDE E ESCOLA CIDADÃ 1027

diferenças e a percepção de que a multiplicida- mo o completo bem estar biopsicossocial, situ-


de de olhares contribui para o planejamento de ação essa impossível de ser alcançada 18. Nesse
ações mais integralizantes e totalizadoras. sentido, os profissionais da saúde podem cola-
A escola cidadã busca a inter-relação com borar com a escola ao compartilhar conheci-
outras instituições para a elaboração e o de- mentos e práticas que auxiliem o entendimen-
senvolvimento de suas atividades educativas, to da saúde como direito do cidadão, instru-
proporcionando a pais, alunos, professores e mentalizando-a acerca das questões sociais
funcionários a vivência de experiências inter- mais abrangentes que determinam o “estar ou
setoriais. Essas vivências, problematizadas em não saudável”.
sala de aula e em outros espaços escolares, As atividades em sala de aula e na escola
propiciam a identificação da ação intersetorial devem incluir a saúde como tema gerador, po-
como estratégia central no enfrentamento das dendo as diferentes disciplinas articularem
iniqüidades. Na vigilância da saúde, a interse- seus conteúdos programáticos com as condi-
torialidade se faz presente em praticamente to- ções de vida da população, possibilitando a re-
das as ações voltadas à coletividade, mediante construção do conceito de saúde.
problemas e necessidades identificadas pela A educação e a saúde têm papel fundamen-
própria população. tal na mobilização de redes sociais, envolven-
do setores governamentais, não governamen-
tais e sociedade para o enfrentamento da ex-
Considerações finais clusão social, promovendo a qualidade de vida
e a cidadania. Isso requer o reconhecimento da
O presente artigo coloca em evidência a ine- realidade e da cultura local, uma sociedade ci-
quívoca convergência teórica do modelo de vil organizada e participativa e relações hori-
atenção da vigilância da saúde e da proposta zontais e ações complementares entre os parti-
da escola cidadã, pois ambas se embasam na cipantes (http://www.upeg.br/nupes/intersetor.
estratégia da promoção da saúde. htm, acessado em 05/Jan/2004).
Ao organizar-se por ciclos, a escola cidadã No entanto, o que se vê na prática é que nem
respeita o aprendizado do aluno, que também sempre os serviços de saúde e a escola conse-
ocorre por ciclos. Com isso, evita a exclusão e a guem concretizar o que suas propostas teóri-
repetência escolar, uma vez que os professores cas prevêem: seu planejamento com base no
dispensam uma maior atenção aos processos reconhecimento das necessidades locais, a con-
individuais de aprendizagem, possibilitando tribuição para uma prática de inclusão social
que o aluno vá construindo suas aprendiza- que auxilie a diminuir as iniqüidades e o estímu-
gens ao longo do ciclo. lo e fortalecimento da participação popular.
A escola cidadã é uma escola promotora da Frente às propostas setoriais desenvolvidas
saúde; porém, todas as escolas podem e devem na cidade de Porto Alegre, em especial a Vigi-
trabalhar nessa perspectiva. Para tanto, é ne- lância da Saúde e a Escola Cidadã, acredita-se
cessário aprofundar a reflexão com os alunos ser fundamental que o poder público munici-
sobre a saúde enquanto resultante do processo pal assuma seu papel de gestor, articulando as
social, dado que, muitas vezes, é abordada ape- diferentes estratégias implementadas e cons-
nas como ausência de doença, em uma pers- truindo políticas públicas saudáveis interseto-
pectiva de responsabilidade individual, ou co- riais, embasadas na promoção da saúde.

Resumo

Os autores discutem a convergência entre o modelo de cia entre o modelo de atenção da vigilância da saúde e
atenção da vigilância da saúde e a proposta da escola- a proposta da escola cidadã se explicita em quatro cam-
cidadã, com base na promoção da saúde, em Porto Ale- pos de ação da promoção da saúde: o desenvolvimento
gre, Rio Grande do Sul, Brasil. A vigilância da saúde de habilidades pessoais, por meio de informações e edu-
tem como paradigma explicativo a produção social da cação em saúde, visando proporcionar escolhas mais
saúde, reconhecendo a importância das condições de saudáveis; o fortalecimento da ação comunitária na
vida sobre a saúde da população. A escola cidadã tem busca da melhoria das condições de saúde; a criação
como diretriz central a inclusão social, proporcionan- de ambientes favoráveis à saúde, públicos e privados; a
do a aprendizagem de acordo com as necessidades e construção de políticas públicas saudáveis, envolvendo
possibilidades dos alunos e a formação de cidadãos órgãos governamentais e não governamentais.
conscientes de seus direitos e deveres. A estratégia da
promoção da saúde busca proporcionar aos povos mei- Promoção da Saúde; Modelos Educacionais; Ação In-
os necessários para melhorar sua saúde. A convergên- tersetorial

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1028 Aerts D et al.

Colaboradores

Todos os autores participaram desde a revisão de li-


teratura e análise de material documental até a reda-
ção final do artigo.

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):1020-1028, jul-ago, 2004

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