Você está na página 1de 9

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA

CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANOÁ - DF

Processo nº 2014.08.1.999000-9

FULANO DE TAL, devidamente qualificado nos autos do processo em


epíígrafe, por intermeí dio de seu advogado subscritor, naã o se conformando com a
respeitaí vel decisaã o que o pronunciou, vem, mui respeitosamente, aà i. presença de
Vossa Exceleê ncia, interpor, com fulcro no art. 581, IV, do Coí digo de Processo Penal

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

para que seja recebido e processado o presente recurso e, caso V. Exa. entenda que
deva ser mantida a respeitaí vel decisaã o, que seja encaminhado, com as inclusas razoã es,
ao Egreí gio Tribunal de Justiça.

Nestes termos, pede deferimento.

Paranoaí /DF, 14 de março de 2015.

Alexandre Carvalho
OAB/DF 35.428

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Recorrente: FULANO DE TAL


Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
Processo nº 2014.08.1.999000-9

RAZÕES DO RECURSO

Egreí gio Tribunal de Justiça,

Colenda Caê mara,

Douto Procurador de Justiça,

Em que pese o indiscutíível saber juríídico do Meritííssimo Juiz a quo,


impoã e-se a reforma da respeitaí vel sentença que pronunciou o recorrente, pelas razoã es
de fato e de direito a seguir expostas:

I – DO HISTÓRICO FÁTICO-PROCESSUAL

O recorrente foi denunciado no dia XX/XX/XXXX, com incurso nas


sansoã es do art. 121, §2º, I e IV, conjugado com os arts. 20, §3º e 29 caput, todos do
Coí digo Penal, sob a alegaçaã o de que este, juntamente com BELTRANO DE TAL, teria se
dirigido ao estabelecimento comercial intitulado BAR DA CIDADE, cujo endereço

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
encontra-se nos autos, e teria feito disparos de arma de fogo contra duas víítimas –
CAIO E TIÍCIO – ceifando-lhes a vida.

Consta, ainda, que TIÍCIO veio a oí bito por engano, pois segundo o Ilustre
Parquet, este teria sido confundido com MEÍ VIO.

Consta tambeí m na denuí ncia que o recorrente agiu incitado pela torpeza
de proporcionar aà suposta organizaçaã o criminosa integrada pelos demais reí us uma
aproximaçaã o do domíínio de atividades de narcotraí fico, a fim de evitar concorreê ncia
desempenhada pela víítima CAIO e outro traficante que atende pela alcunha de
“BONITO DO POÍ ”.

Ainda conforme a denuí ncia, o recorrente agiu de forma a surpreender as


víítimas, caracterizando, portanto, emprego de recurso apto, no míínimo, dificultar a
defesa das víítimas. Ressalta, tambeí m, que o recorrente e demais reí us no processo
supra associaram-se em bando armado com finalidade de promover traí fico ilíícito de
substaê ncias entorpecentes e para execuçoã es de crimes contra a vida.

Ainda no local do crime, consta nos autos que MEÍ VIO, que estava no
momento das execuçoã es, apoderou-se da arma da víítima CAIO durante uma semana,
entregando-a posteriormente aà Autoridade Policial.

Durante as investigaçoã es a prisaã o temporaí ria do recorrente foi


decretada e prorrogada. Quando do recebimento da denuí ncia, converteu-se em prisaã o
preventiva sob o argumento de garantia da ordem puí blica e convenieê ncia da instruçaã o
criminal.

No dia XX/XX/XXXX foi realizada a audieê ncia de instruçaã o, onde foram


ouvidas as testemunhas descritas na sentença de pronuí ncia. Foram ouvidos os
denunciados, que negaram participaçaã o no crime.

Em sede de alegaçoã es finais, o Ministeí rio Puí blico pugnou pela pronuí ncia
do recorrente em todos os termos da denuí ncia, por acreditar na existeê ncia de prova de
materialidade do crime e indíícios suficientes de autoria ou participaçaã o do recorrente
na açaã o criminosa.

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
A defesa do recorrente pleiteou pela impronuí ncia e, alternativamente, se
assim naã o entendesse o Douto Juíízo a quo, pela exclusaã o das qualificadoras e
absolviçaã o em relaçaã o ao homicíídio praticado contra TIÍCIO.

Em sííntese, saã o os fatos.

II - DIREITO

Com efeito, o Meritííssimo juíízo a quo deixou de observar fatos


relevantes constantes nos autos, conforme veremos a seguir.

Primeiramente, o que se sustenta nos autos eí o depoimento da


namorada da víítima CAIO – que alega ter visto “um indivííduo mais ou menos parecido
com FULANO DE TAL”. Disse, ainda, que “na hora do desespero eu nem vi direito, mas
de longe, na correria, de costas, me lembrou o FULANO DE TAL” e que “naã o posso
afirmar com certeza que era ele porque tumultuo aquele tanto de gente correndo pela
rua”.

Quando perguntada sobre quais as caracteríísticas fíísicas do autor que se


assemelhavam com as de FULANO DE TAL, esta respondeu “a altura e o corpo era
parecido e talvez a gordura”.

Em audieê ncia, ela respondeu que os ocupantes da moto estavam com


capacete com a viseira fechada e naã o tiraram o capacete e que naã o consegue recordar
nenhuma caracteríística da moto usada pelos autores, que “nem mesmo a cor. Nunca vi
tiro, entaã o fiquei com medo e corri”.

Emeí ritos Julgadores! Em meio a um tiroteio, de forma abalada e


desesperada como ela mesma descreveu, a namorada da víítima apenas supoã e se tratar
de algueí m especíífico porque se tem altura e corpo parecido com algueí m que ela
conhece. Uma informaçaã o taã o vaga naã o deveria ser um indíício no míínimo suficiente de
autoria.

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
O que se tem eí uma pessoa de altura mediana e estrutura corpoí rea
comum o bastante ao ponto de ser faí cil de ser encontrada em qualquer lugar.
Entretanto, a testemunha naã o se lembra de mais nada, naã o conseguiu visualizar
nenhuma caracteríística inerente ao recorrente, naã o viu o rosto por estar o autor do
fato de capacete no momento do crime.

Aleí m desse indíício falho tem-se o depoimento do acusado MEÍ VIO, que se
apresenta de forma ainda mais absurda e descabida.

MEÍ VIO, em seu depoimento de fl., diferentemente da atitude natural e


previsíível da namorada da víítima, detalha com invejaí vel precisaã o cada pormenor da
moto que alega ter sido utilizada na cena do crime, como se tivesse parado em frente
esta e apreciado cada minuí cia que possui de forma tranquila e paciente. Aponta
detalhes supostamente modificados da moto, como rodas de liga leve prateadas com
adesivos vermelhos, o que naturalmente demonstra que MEÍ VIO observou com cuidado
a antecedeê ncia o objeto descrito em seu depoimento.

Aponta, ainda com a mesma precisaã o, detalhes das roupas do autor do


delito, como uma sequeê ncia de 4 díígitos estampadas na blusa do autor, bem como
bolsos rasgados na calça jeans.

A partir do depoimento de MEÍ VIO eí possíível observar que este agiu


premeditadamente ao apontar FULANO DE TAL como sendo autor do fato delituoso, o
que soí corrobora o entendimento que o depoimento de MEÍ VIO estaí eivado de maí s
intençoã es e inverdades.

Quanto ao fato de ter se apoderado da arma pertencente a CAIO e de,


posteriormente teê -la entregue aà políícia, este fato deve ser observado com profunda
cautela.

EÍ indiscutíível que a víítima CAIO estava armado e, segundo a períícia,


mossas formadas por projeí teis foram feitas naquele dia na posiçaã o onde a víítima se
encontrava. Ou seja, CAIO efetuou disparos com sua arma.

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
Todavia, MEÍ VIO naã o tinha nenhum motivo para se apossar da referida
arma, jaí que os autores saííram da cena do crime apoí s sua consumaçaã o. No entanto,
MEÍ VIO recolheu a arma, alterando, inclusive, a cena do crime.

Graças ao esforço de MEÍ VIO em modificar os fatos, naã o se pode afirmar


em hipoí tese alguma que a arma que ele entregou a políícia eí a mesma arma utilizada
por CAIO. Apenas trata-se de um revoí lver Taurus, calibre 38, conforme descriçaã o de fl.,
arma considerada como comum e de faí cil aquisiçaã o.

Apoí s a consumaçaã o do delito, naturalmente MEÍ VIO espalhou o boato


acerca da autoria, com intuito de disseminar a suspeita desejada entre as possííveis
testemunhas necessaí rias para o processo e consequentemente obter a prisaã o do
recorrente.

Insta salientar que conforme Boletim de Ocorreê ncia feito no local dos
fatos, fl., a autoridade policial claramente descreve que “nenhuma pessoa presente no
local soube informar maiores dados sobre a motocicleta”.

EÍ , no míínimo, estranho se apegar ao depoimento de uma pessoa com


níítido intento de prejudicar o recorrente, que agiu friamente e se antecipou de todas
as informaçoã es detalhadas que culminariam na prisaã o de FULANO DE TAL.

Neste sentido, importa observar-se o entendimento jurisprudeê ncia


abaixo transcrito, in line:

“Para submeter alguém a julgamento perante o Tribunal do Júri, não bastam


rumores ou conjecturas, é mister a existência de indícios veementes ou alta
probabilidade da autoria de crime doloso contra a vida. A falta de indícios
suficientes da autoria do crime que lhe é imputado obriga à impronúncia do
réu (art. 409 do Cód. Proc Penal). Enquanto não extinta sua punibilidade,
poderá “ser instaurado processo contra o réu, se houver novas provas ” (art.
409, parág único, do Cód Proc. Penal) (destacamos)

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
Assim, o recorrente naã o deve ser submetido a julgamento perante o
Tribunal do Juí ri, por faltar plausibilidade dos indíícios oferecidos aos autos.

Se esta Colenda Caê mara assim naã o entender, avalia-se, entaã o, outros
termos da respeitaí vel sentença de pronuí ncia.

Naã o haí , nos autos, nenhuma prova de motivaçaã o torpe que poderia
incitar o recorrente a praticar o delito. Alegar que este pertence a uma facçaã o
criminosa oposta aà da víítima CAIO sem nenhum embasamento eí “dar tiro no escuro”.

A testemunha namorada de CAIO ao ser perguntada se conhece FULANO


DE TAL, respondeu que “conhece do bairro e que eí uma pessoa muito tranquila e
quieta, que nunca ouviu falar nada a seu respeito”.

A testemunha JOAÃ O DAS COUVES, em fl., trabalhava para CAIO no traí fico
de drogas e, ao ser perguntado se conhece FULANO DE TAL, este responder que “sim,
mas que naã o tem conhecimento de FULANO DE TAL no traí fico de drogas”.

As pessoas proí ximas da CAIO – namorada e “funcionaí rio” – certamente


saberiam de alguma desavença dele com o recorrente ateí mesmo para se manter em
alerta. No entanto, nenhuma delas demonstrou qualquer importaê ncia de FULANO DE
TAL na vida da víítima. O recorrente apenas eí uma pessoa sossegada, que naã o tinha
problema com CAIO.

Naã o eí possíível atribuir torpeza aà falta de motivo, Exceleê ncias! Naã o


merece ser acolhida a tese do paraí grafo segundo, inciso I, do Coí digo Penal.

Quanto ao inciso IV, nota-se que naã o houve recurso que dificultou a
defesa da víítima, visto que houve troca de tiros. A víítima CAIO habilidosamente
manuseou sua arma e efetuou disparos contra os autores.

Quanto aà víítima TIÍCIO, deve-se observar que houve um equíívoco claro


ao pronunciar o recorrente pelo homicíídio deste. Inicialmente naã o haí como saber qual
o responsaí vel pelo oí bito da víítima, posto que houve troca de tiros. TIÍCIO pode ter sido
atingido por CAIO quando este revidou os disparos. Naã o eí razoaí vel simplesmente
auferir culpa numa tentativa de jogar culpa em quem estaí situaçaã o de risco.

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
Entretanto, ao observar cuidadosamente os laudos da Seçaã o Teí cnica
Regional de Criminalíística de fls., o que se pode extrair eí justamente o oposto do que o
Ministeí rio Puí blico sustentou e que o Douto Magistrado a quo acatou. EÍ possíível
observar que o disparo que acertou a cabeça de TIÍCIO possui como orifíício de entrada
o lado direito – mesmo lado em que somente a víítima CAIO se encontrava. O lado
esquerdo de TIÍCIO estava virado para CAIO, jaí que este se encontrava sentado de
costas para a rua onde os autores chegaram, conforme depoimentos acostados aos
autos.

Segundo depoimento da namorada de CAIO, “tinha um boy sentado no


murinho, de costa pra rua, soí depois fiquei sabendo que era um boy tranquilo laí do
bairro, tem envolvimento com os comeí rcio laí naã o”.

Restou claro que os autores do delito naã o adentraram o estabelecimento,


estando laí somente as víítimas, o que naã o apenas pressupoã e, mas fornece a certeza de
que o projeí til que perfurou a cabeça de TIÍCIO levando-o a oí bito somente poderia ter
vindo da arma de CAIO, arma esta que naã o poderaí ser dada como a mesma entregue
por MEÍ VIO.

Sendo assim, o uí nico indíício que o MM. Juíízo a quo poderia obter era de
que TIÍCIO foi uma víítima da arma da tambeí m víítima CAIO, e naã o dos autores do crime,
o que naturalmente impede o recorrente de carregar tal homicíídio sequer em sua
pronuí ncia.

Quanto aà tese de erro sobre a pessoa da víítima, atribuíída ao homicíídio


de TIÍCIO, a proí pria namorada de CAIO deixou claro em audieê ncia que “conhece o
menino que eles falaram que era parecido com TIÍCIO, mas naã o daí para confundir os
dois naã o. Um era bem moreno e grande, o outro eí gordinho e sardento, com cabelo
ruivo”.

O depoimento acima apenas corrobora o fato de que TIÍCIO


definitivamente naã o era alvo do crime, nem mesmo por engano. Ele foi víítima da
reaçaã o de CAIO quando este revidou os tiros.

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br
Desta feita, resta inadmissíível sustentar a tese de homicíídio em relaçaã o
ao TIÍCIO, bem como a tese de erro sobre a pessoa da víítima.

III - PEDIDO

Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o presente Recurso,


despronunciando o recorrente FULANO DE TAL, por naã o haver indíícios, no míínimo,
crííveis de autoria ou participaçaã o no crime em julgamento.

Caso assim naã o entenda, que sejam decotadas as qualificadoras


atinentes aà s víítimas, por naã o haver no processo nenhuma alusaã o vaí lida a respeito da
torpeza e tampouco ao emprego de recurso que dificultou a defesa da víítima.

Requer, ainda, a consequente absolviçaã o sumaí ria em face do homicíídio


de TIÍCIO, por restar comprovado atraveí s da períícia e de depoimentos que TIÍCIO
somente pode ter recebido o tiro por algueí m que estivesse no local onde se
encontrava a tambeí m víítima CAIO, nos termos do art. 415 do CPP.

Na eventualidade de naã o ser este o entendimento, requer a impronuí ncia


em relaçaã o ao homicíídio de TIÍCIO, por falta de condiçoã es para se atribuir ao
recorrente a culpa pelo oí bito da víítima.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasíília/DF, 14 de março de 2015.

Alexandre Carvalho
OAB/DF 35.428

Brasíília-DF | SRTVS 701, Bloco O, 6º Andar, Sala 682, Ed. Multiempresarial, Asa Sul ∙ CEP 71.625-300
Telefone (61) 8131.6955 / (61) 9591-3383 | www.alexandrecarvalhoadvocacia.com.br

Você também pode gostar