Você está na página 1de 11

No encalço de um “theatrinho” perdido: memórias do Theatro da Beneficente ou Chapéu de Sol,

de 1875 a meados de 1890 *

* Thais Vasconcelos Franco de Sá Ávila, mestranda do


Programa de Pós-Graduação em Letras e Artes

Por onde anda a memória dos teatros de Manaus? Infelizmente a resposta para
esta pergunta não é de fácil elaboração. Por certo, deve haver um acervo de documentos
guardado nas casas de familiares de grandes vultos amazonenses, artistas, historiadores
e colecionadores de Manaus. Para acessá-los, no entanto, é necessário que além de
investigar sua localização, nós consigamos a gentileza destes guardiões de nos mostrar
algo.
Felizmente, temos acesso aos periódicos de circulação local, encontrados
virtualmente no website da Biblioteca Nacional e na Biblioteca Pública do Estado do
Amazonas, tais como o Jornal do Amazonas, o Jornal do Commercio, o Amasonas, o
Correio de Manaós, A Platéa, dentre tantos outros. Estes periódicos permitem aos
pesquisadores uma investigação minuciosa acerca dos hábitos de consumo cultural,
traçando um mapa das produções artísticas apresentadas na capital amazonense e, claro,
servindo de registro para gerações posteriores.
Embora tenhamos acumulado, com decorrer do tempo, um acervo inestimável de
fotografias e estudos contemplando o Teatro Amazonas, por outro lado, possuímos
pouquíssimo (ou quase nada) em memória de outros teatros de Manaus.
É reconhecível a dedicação de pesquisadores que se empenharam em reaver as
memórias teatrais amazonenses e por isso, encontramos registros em algumas de suas
obras e em páginas amareladas dos jornais.
Desde a descrição de Avé-Lallemant, sobre o teatro “porco-espinho”1, avistado
em sua visita a Manaus, em 1859; o anúncio do Theatro Phizico com apresentações de
mágicos e pequenas orquestras , encontrado na Estrella do Amazonas (1854 – 1863), em
1858; as críticas sobre o trabalho incansável de Lima Penante, em seu Theatro
Variedade Cômica, entre 1867 e 1869; passando, ainda, pelo “primeiro teatro levantado
no Amazonas”, segundo o Jornal do Commercio (AM), um barraco de madeira2, criado
sob o pretexto de angariar fundos para construção do Hospital Beneficente Portuguesa,

1
AVÉ-LALLEMANT, Robert. No Rio Amazonas (1859). São Paulo: Edusp, 1980.
2
Jornal do Commercio (1910 – 1920), na edição de número 4439, no ano 1916.

1
em meados de 1875 – o Theatro Beneficente; até o Teatro Amazonas, que monopolizou
a atenção da crítica teatral e dos informes e que até hoje é o único ponto de referência
do teatro amazonense, dentre outros tantos que abrem as portas e se fecham,
acompanhando as modificações da sociedade e que, aos poucos, tentamos resgatar para
que não se percam com o passar dos anos.
A princípio, o foco deste trabalho estava em compor uma análise iconográfica de
alguma gravura que representasse o interior de um teatro, e que não fosse o Teatro
Amazonas, visto que muito já foi escrito e analisado sobre sua estrutura. No entanto,
esta ideia foi se afastando de seu objetivo principal, uma vez que registros fotográficos
ou simplesmente pictóricos são per si uma raridade nos acervos da cidade de Manaus.
Certamente não podemos nos olvidar de que a fotografia, no século XIX,
relacionava-se diretamente com poderes políticos, entidades públicas e com figurões da
dita “high society”, além da “mitológica” selva amazônica e seus habitantes. Logo,
muitos dos registros fotográficos que temos são ora de indígenas produzidos pelos
próprios fotógrafos, com acessórios pitorescos – como é o caso do alemão Albert
Frisch, ora de monumentos, prédios estatais, ruas de Manaus e obras públicas de
remodelamento urbano, muito registrados por Felipe Fidanza, ou o acervo de George
Hubner e tantos outros.
É preciso fazer um trabalho arqueológico nos escritos destas épocas para
encontrar arquivos da memória dos outros teatros. Em um breve experimento, foi
digitado no website do Google o seguinte termo: “Teatros em Manaus”. O resultado se
deu em menos de 1,04 segundos, para que aparecessem aproximadamente 553.000
resultados – porém, todos da sala de espetáculo do Teatro Amazonas, de ângulos e
lentes diferentes.
O presente estudo ganhou outra prioridade: a busca de imagens e descrições que
representem as origens do teatro na cidade de Manaus. E neste, caso, o ponto de partida
desta pesquisa deve dar-se a partir da descrição já citada anteriormente sobre o Theatro
Beneficente, constituído pela Sociedade Beneficente Portuguesa, em 1875.
Tentaremos aqui uma análise utilizando a vertente da dedução, um conceito
baseado na Cripto-História da Arte, desenvolvido por Vitor Serrão (2008). Este conceito
consiste em resgatar a memória de uma obra artística, ou qualquer monumento histórico
que faça parte da trajetória de determinada época. A análise documental e iconográfica
será fundamental para desenvolver esta metodologia. Por isso, veremos não só recortes

2
de jornais, obras publicadas por pesquisadores, mas também o acervo fotográfico que
retrate a cidade de Manaus do período datado de 1860 a 1902.
Iniciaremos com a seguinte imagem que foi encontrada em uma edição
comemorativa do Jornal do Commercio, na seção que se intitulava “As altas reportagens
- Reminiscências e Atualidades: Manaós antiga”, do ano de 1916. Faz referência a
construção do primeiro teatro de Manaus – realizado pela Sociedade Portuguesa.
Na ocasião, o teatro havia sido levantado para angariar fundos em prol da
abertura do Hospital Beneficente da Sociedade Portuguesa.

Jornal do Commercio, 1916, nº 4439


Lamentavelmente, a fotografia está em baixa resolução, impossibilitando que
apuremos se, de fato, havia um teatro assinalado pelo número três, conforme consta na
descrição do jornal que veremos a seguir.
A primeira mostra o quadro compreendido atualmente pelas ruas Lobo de
Almada, da Instalação e José Clemente, divisando-se ao fundo o quartel do
trinta e seis, cuja construção foi iniciada ao tempo da guerra do Paraguay. (...)
O barracão de madeira, assinalado pelo número três, foi o primeiro teatro
levantado no Amazonas. Organizada a Sociedade Beneficente Portuguesa,
para a construção do Hospital, e não possuindo a sua diretoria capitais para
levaravante essa nobre ideia, obteve do presidente da província, Domingos
Monteiro Peixoto, um grande terreno e ergueu no centro um teatrinho, para o
produto dos espetáculos iniciar o levantamento do hospital (...) A primeira
companhia que trabalhou no Theatro da Portuguesa Beneficente, veio do Pará
e era dirigida pelo popular ator Lima Penante, cognominado o Vasques do
Norte.
(Jornal do Commercio, 1916, nº 4439)

3
Há também outra imagem na mesma matéria do Jornal do Commercio, ambas
são descritas a partir das funções de cada prédio enumerado e ainda contam com
algumas informações acerca do contexto histórico das construções.
A informação de que este Theatro da Beneficente Portuguesa havia sido o
primeiro teatro de Manaus, é contestável. Além dos relatos de Avé-Lallemant e do
Theatro Phizico (1858), é sabida a existência do Teatro Variedade Cômica, do paraense
José de Lima Penante, por meados de 1868 – antes do início do funcionamento do
Theatro da Beneficente.
O Theatro Beneficente antes de ser ocupado pela companhia de Penante,
rececebeu antes, em 1875, números de mágicos e espetáculos cômicos, para então em
1877 receber o artista paraense em suas dependências. Mesmo Lima Penante tendo sido
de grande importância para o teatro amazonense, não se pode afirmar que sua
companhia inaugurou o Theatro Beneficente. Há mais de uma incongruência nas
informações acerca do uso do prédio, portanto, para trilhar um caminho de investigação
histórica é preciso que nos atentemos as fontes - inclusive de localização.
Possivelmente a localização descrita no Jornal do Commercio sobre a fotografia
supracitada está incorreta. O local do pequeno Theatro Beneficente deveria estar em um
amplo terreno – possivelmente a área da Praça General Osório, e não em uma rua cheia
de edificações, como é o que a fotografia precariamente nos mostra.
Em outra matéria encontrada no Jornal do Amazonas (1875, nº 61), o
“theatrinho” da Beneficente é descrito da seguinte forma: “incontestavelmente bem
situado, em lugar alto, bastante arejado, e no seu caráter de provisório satisfaz as
exigências do nosso pequeno público”.
O Relato do jornal teatral A Platéa descreve com mais detalhes a possível
localização do Theatro Beneficente:
Em 1885, quando os azares da sorte trouxeram o autor d'estas linhas
para esta moderna Chanaan, a única casa de espetáculos de Manaus
funcionava no terreno então pertencente á Sociedade Beneficente
Portuguesa, e atualmente ocupado pelo Paço Episcopal, n'um antigo
barracão levantado por aquela associação para os leilões em beneficio
do seu hospital em construção, e ao qual, pela forma circular de seu
telhado, e pelo esteio que o sustentava no centro, o publico dava o
nome tão típico quanto pitoresco de Chapéu de Sol. (A Plateia, 1907,
nº 03)

4
O autor da nota acima, que assina como Nemo, apesar de ironizar o Chapéu de
Sol com “telhas podres e minado de cupins”, chama-o de “modesto templo da arte”, e
relata sobre grandes atrizes e atores brasileiro que passaram por este humilde palco,
como Manoela Lucci e Xisto Bahia, ambos renomados nacionalmente. Finda-se o artigo
com uma atmosfera saudosista, relembrando o “pouco conforto theatral”, disfrutado
pelos pais dos leitores – e, finalmente, conclui que estes escritos sobre história permitem
ao leitor (veteranos, como o autor), avaliar com orgulho uma visão “num só golpe de
vista, do pardieiro da Praça General Osório ao Palácio do Largo de São Sebastião, do
Chapéu de Sol ao Theatro Amazonas”.
A publicação no Jornal do Commercio de 1916 relata ocupações prediais que
aconteceram a cerca de quarenta anos antes da matéria mencionada. É um curto espaço
de tempo para a história de maneira geral, no entanto, representa para o contexto do
Amazonas um período de grandes mudanças para a população do Estado.
Na edição de número 15, do Jornal do Amazonas, de 1875, na seção de
publicações solicitadas, há um artigo sobre a importância da aquisição de um teatro na
capital amazonense. É citado na publicação o Sr. Joaquim Pinto Ribeiro, um dos nobres
senhores que disponibiliza espontaneamente recursos para construção do Theatro, como
madeira e mão de obra3; bem como o Sr. José Ferreira de Barros, também pelo mesmo
feito.
Neste mesmo artigo, o autor desconhecido, descreve Manaus como uma capital
de província com uma população ilustre e que “ostenta luxo”, por tanto exige ter “gozos
e distrações”. Comparada a cidades de menor capital, Manaus, merecia, por assim dizer,
um local de diversões de cunho artístico, que para aquele tempo, não poderia ser outro
ambiente, que não o teatral.
Genesino Braga (1960) refere-se a Manaus daquela época como a “flor da
sociedade culta”4, a despeito do número de habitantes, que beirava os cinquenta mil, e
ainda, por sua peculiar localização, no meio da densa floresta amazônica. Braga fala,
nesta mesma obra, sobre a Manaus “afeiçoada aos requintes da civilização, nos campos
da política, da educação, das letras e das artes”. Situa-nos, de maneira um tanto
saudosista e poética, em qual patamar de desenvolvimento cultural a província se via.

3
Jornal do Amazonas, (1875 – 1888), na edição de número 15, no ano 1875.
4
BRAGA, Genesino. Fastígio e sensibilidade do Amazonas de ontem. Manaus: Sergio Cardoso & Cia
Ltda, 1960.

5
Com o desenvolvimento econômico eminente da cidade de Manaus, a sociedade
necessitava também por inovações culturais, entretenimento e atividades com as quais
pudessem realizar encontros sociais. E logo, também clamariam por um teatro suntuoso,
que substituísse a palha e a madeira pelo mármore e o ferro.
Segundo Páscoa (1997), em Manaus, no final do século XIX, a elite que
habitava a região urbana, não era de fato a classe endinheirada que circulava nos salões
frequentados por nobres e grandes burgueses do Rio de Janeiro. Ao contrário, aqui
estavam representantes de uma classe assalariada de variáveis encômios, mormente de
imigrantes, caso daqueles que teriam vindo para Manaus sob interesses da exploração
da borracha e donos de grandes empresas de serviços, comércio e suporte financeiro
(bancos, seguradoras, armazéns, etc).
Embora Manaus já pudesse ser chamada de cidade e não mais Lugar da Barra do
Rio Negro, conforme afirma Páscoa (1997), ainda estava em processo de
desenvolvimento, especialmente quando falamos da produção teatral no período que vai
da década de 1860 e 1880.
O olhar de Páscoa em sua obra sobre a vida musical de Manaus, na segunda
metade do século XIX, nos ajuda a localizar em uma linha temporal a existência dos
teatros na capital amazonense. Embora seu recorte seja sobre as manifestações
relacionadas ao cenário musical, os prédios que abrigavam os espetáculos aparecem
diversas vezes, em inúmeras citações de periódicos, reunidos pelo autor.
Nos periódicos é possível identificar informações fragmentadas, mas que se
reunidas de maneira em conformidade cronológica, tornam-se valiosas para esta
investigação. Por exemplo, observamos que no mesmo pavilhão onde fora construído o
Theatro Beneficente, também aconteciam leilões em virtude da construção do Hospital,
reuniões dos mais diversos teores; serviria, tmbém, como um auditório para os
encontros da Sociedade Portuguesa e outras que ali se reuniam. Logo este prédio se
tornaria um centro de encontro das figuras importantes da cidade, embora o Theatro
recebesse todo o tipo de público, naquela época.
Para pouco tempo depois cair em decadência “o mesquinho Theatro da
Beneficente Portuguesa”5, assim é chamado pelo Sr. Deputado Shaw, em assembleia
provincial do dia dois de junho de 1881, em razão da emenda que aumentava o valor
despendido para a construção do Teatro Amazonas. Apesar de parecer pejorativo, o

5
Amazonas (1866 a 1900), na edição de número 602, do ano 1881.

6
senhor Shaw, defendia que, mesmo sendo “mesquinho” o Theatro Beneficente, no ano
anterior, apresentara “peças de teatro moderno e até de fantasia”. Possivelmente com
intuito de dizer aos seus companheiros de assembleia que o montante de 120 contos a
ser investido em um novíssimo teatro não era necessário, uma vez que um teatro menor
pode agradar tanto quanto o outro mais “caro”.
Com estas “pistas” históricas nos periódicos, é possível notar a importância das
atividades do Theatro Beneficente para a cena cultural de uma Manaus jovem, mas que
já havia experimentado algumas apresentações teatrais durante a década de 1860, com a
Sociedade Dramática Thalia. Bento Aranha, na ocasião da inauguração desta sociedade,
proferiu um discurso que sugere que esta companhia tenha sido a primeira, quando
Manaus tinha apenas 15 anos de idade.6
A relevância do humilde Chapéu de Sol se reflete também em ocasiões de cunho
oficial, como é o caso do evento da instalação da assembleia provincial, em 4 de junho
de 1877, com nota publicada no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro7, afirmando
que na véspera da tal instalação da assembleia, o ator Lima Penante havia apresentado
uma série de cenas cômicas; o teatro, por sua vez, se encontrava decorado em grande
gala e que na chegada do presidente o hino nacional foi tocado em homenagem a
ocasião.
Apesar de não ter seu nome oficial, ou o apelido, citado pelos nobres sócios da
Sociedade Portuguesa, na ocasião da inauguração da Casa de Saúde, o Theatro
Beneficente e seus “moradores” do corpo artístico, receberam um agradecimento
indireto, na publicação do jornal A Caridade – distribuído sob os auspícios da
Sociedade Portuguesa Beneficente: “Não tenho flores de Retórica com que possa formar
um lindo buquê para ofertar-vos em dia de hoje (...) venho aqui com minha humilde
pena, agradecer-vos e a todos que concorreram para a realização de tão útil instituição”.
Assina J. Fontes Torres em A Caridade – 1893, volume único.
Ainda em A Caridade é possível identificar a razão humanista dos sócios da
Beneficente Portuguesa acerca das questões abolicionistas. Cabe aqui, também, a
lembrança de que o Theatro Beneficente muito serviu para reuniões Sociedade
Libertadora Amazonense8, para discussões e organização da administração desta
entidade que enfrentava a luta pela libertação dos escravos.

6
Amazonas (1866 a 1900), na edição de número 30, do ano 1867.
7
Jornal do Commercio - RJ (1870-1879), na edição de número 189, no ano 1877.
8
O Cearense - CE (1846 – 1891), na edição de número 163, do ano 1881.

7
Quanto a estrutura física do Theatro da Sociedade Beneficente Portuguesa, sabe-
se apenas o que foi relatado em publicações dos periódicos. O registro fotográfico ainda
está sendo buscado, por tanto, vamos tentar fazer uma análise acerca do evento desta
construção tão peculiar e de seus arredores.
Sabe-se que em 1877, há uma nota no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro,
sobre a saída de Lima Penante de Manaus9, fazendo referência ao seu trabalho
apresentado no Theatro Beneficente, segundo o correspondente do jornal, um teatro
“pequenino e mal construído”. Ora, se Manaus já ansiava por um teatro mais
confortável e mais bem acabado, certamente que o Chapéu de Sol não se encontrava na
lista dos teatros mais bonitos do Brasil. Era sim um “barracão-teatro”, da mesma
maneira que o Álbum do Amazonas (1901-1902) se refere ao Theatro Eden em suas
descrições sobre a capital.
Mario Ypiranga (2006) relata em seu livro Arquitetura - Tratado Sobre a
Evolução do Prédio Amazonense, as particularidades dos prédios das antigas ruas de
Manaus. Em uma das imagens publicadas em sua obra, veremos o “Ex-prédio da
fábrica, mandado levantar por Lobo D’Almada (...) Rua da Instalação da Província
esquina da Praça de Uruguaiana, atual de Dom Bosco.”

Foto retirada do livro Arquitetura - Tratado Sobre a Evolução do Prédio Amazonens, de


Mario Ypiranga, editado em 2006. Fonte: revista antiga
Este prédio acima talvez seja circunvizinho ao misterioso Theatro Beneficente,
mas ainda é preciso que outras fontes sejam localizadas, afim de que esta pesquisa não
se torne uma infeliz hipótese sem perspectiva de ser respondida. Sabe-se, até então, que
uma das prováveis localizações do Chapéu do Sol está entre a Praça Uruguaiana e a
Praça General Osório, ambas na Rua da Instalação (hoje Epaminondas), no mesmo
quarteirão ocupado, nos dias de hoje, pela área vizinha ao Colégio Militar e o Colégio
Dom Bosco.

9
Jornal do Commercio - RJ (1870 – 1879), na edição de número 341, do ano 1877.

8
Há um registro de venda do terreno pertencente a Sociedade Portuguesa, na
possivel localização do Theatro Beneficente, ao estado. Em 1892, o Governador do
Estado é autorizado a ressarcir a Sociedade Beneficente Portuguesa pela aquisição do
terreno na Praça General Osório, benfeitorias e materiais existentes no mesmo10.
Em 1907, no terceiro número de A Platéa, Nemo em seu artigo sobre o Theatro
Beneficente nos informa de que naquela data o local do Chapéu do Sol era ocupado pelo
Paço Episcopal, no entanto, como o terreno foi adquirido ainda é um dado obscuro.
11
Sabemos que o Colégio Dom Bosco foi fundado apenas em 1927 , com a ajuda da
Sociedade Beneficente Portuguesa, o que talvez explique a aquisição do terreno, mas
esta também fica no rol das hipóteses.
No entanto, há, ainda, outra possível localização sugerida por uma publicação no
Jornal do Amazonas, em 1882; acerca de uma passeata comemorativa em razão dos 242
anos da Independência de Portugal, anteriormente dominado por Castella. O itinerário
da “majestosa passeata” se iniciava no Theatro Beneficente, na Rua da Installação.12
Neste caso, temos outra hipótese de que nosso “theatrinho” não estava, necessariamente,
entre a Praça General Osório e a Uruguaiana. Embora estejam na mesma área, talvez o
Theatro Beneficente estivesse mais abaixo do terreno de onde está o Colégio Dom
Bosco. Mais uma vez, esta é uma possibilidade cercada de dúvidas ainda por sanar.
A partir das fontes de informação já citadas anteriormente, sabemos que nosso
“theatrinho” era feito de madeira, com um telhado circular de palha, com um esteio
central, era pequeno, no entanto atendia aos espectadores com camarotes de duas ordens
e cadeiras na plateia.
Em 1886, conforme anuncia o Jornal do Amazonas13, melhorias feitas no
Theatro são motivo de comemoração e são encontradas em letras garrafais no anúncio
do dia 11 de novembro. Confeccionados por Lima Penante, o arco do proscênio
(bambolina) e o pano de boca novos são atração da inauguração do “theatrinho”. Pouco
depois, em 25 de novembro do mesmo ano, uma nota abaixo do anúncio do espetáculo
semanal ressalta as “grandes reformas” pelas quais o teatro tem passado. Além do arco e
do pano de boca, novos cenários pintados por Penante aguardam o “generoso
acolhimento do benévolo público desta capital”.

10
Amazonas (1866 a 1900), na edição de número 3596, do ano 1892.
11
ANTONACCIO, Gaitano. Amazonas – a outra parte da história. Manaus: Imprensa Oficial do
Amazonas, 2001.
12
Amazonas (1866 – 1900), na edição de número 802, do ano 1882.
13
Jornal do Amazonas (1875 – 1888), na edição de número 1295, do ano 1886.

9
Em uma edição de O Cearense, de 1877, na seção "Noticias do Norte -
Amazonas"14 encontramos uma nota relatando um roubo no Theatro, onde os ladrões
haviam surrupiado castiçais, candeeiros e outros objetos da decoração da plateia.
Sugerindo que nosso humilde "theatrinho" tenha recebido algum tipo de ornamentação
em suas dependências.
Otoni Mesquita (2006) dedica um tópico do seu livro ao estudo da arquitetura
eclética em Manaus, no período que vai de 1852 a 1910. Em sua reflexão, pelos motivos
da origem de Manaus ter se dado com a circulação de diferentes culturas, a cidade acaba
tendendo para a estética Eclética15. Mesquita constata a partir da leitura de relatos como
o de Avé-Lallemant sobre o “porco-espinho”, a mistura entre visualidades relacionadas
a cultura indígena com elementos estéticos europeus.
Diante tantas indicações que constam nos periódicos citados anteriormente, é
possível desconfiarmos que, de fato, o terreno da Praça General Osório, onde hoje
encontramos o Colégio Dom Bosco, foi o solo do Chapéu de Sol, nosso Theatro da
Beneficente, que tanto alegrou a população da província amazonense. Sem descartar a
outra possível posição do teatro na Rua da Installação. Resta saber se há, e onde
encontramos uma imagem do nosso “modesto templo da arte”, do final do século XIX.
Há ainda uma "pulga atrás da orelha" de que o coreto da Praça General Osório seja o
16
nosso "theatrinho" reaproveitado e mantido na área até meados de 1920 . Segundo
Durango Duarte (2009), o antigo coreto da Praça General Osório em formato de
anfiteatro foi demolido pelo prefeito Antônio Maia, por volta da década de 1930.
Mas essa é ainda uma hipótese que há de ser investigada, em breve, por uma
pesquisa mais minuciosa.

Álbum do Amazonas - 1901 - 1902

14
O Cearense (1846 - 1891), na edição de número 53, de 1877.
15
MESQUITA, Otoni. Manaus: História e Arquitetura – 1852/1910. Manaus: Valer, 1999.
16
DUARTE, Durango. Manaus: entre o passado e o presente, Volume 1. Manaus: Mídia Ponto Comm,
2009.

10
Referências

ANTONACCIO, Gaitano. Amazonas – a outra parte da história. Manaus: Imprensa


Oficial do Amazonas, 2001.
AVÉ-LALLEMANT, Robert. No Rio Amazonas (1859). São Paulo: Edusp, 1980.
BRAGA, Genesino. Fastígio e sensibilidade do Amazonas de ontem. Manaus: Sergio
Cardoso & Cia Ltda, 1960.
DUARTE, Durango. Manaus: entre o passado e o presente, Volume 1. Manaus:
Mídia Ponto Comm, 2009.
PÁSCOA, Márcio. A Vida Musical em Manaus na Época da Borracha (1850-1910).
Manaus: Imprensa Oficial do Estado/Funarte, 1997.
MESQUITA, Otoni. Manaus: História e Arquitetura – 1852/1910. Manaus: Valer,
1999.
MONTEIRO, Mario Ypiranga. Arquitetura - Tratado Sobre a Evolução do Prédio
Amazonense. Manaus: Do Autor, 2006.

Periódicos

Amazonas - AM (1866 a 1900), na edição de número 30, do ano 1867.


Amazonas - AM (1866 – 1900), na edição de número 802, do ano 1882.
Amazonas - AM (1866 a 1900), na edição de número 3596, do ano 1892.
Jornal do Amazonas - AM (1875 – 1888), na edição de número 15, do ano 1875
Jornal do Amazonas - AM (1875 – 1888), na edição de número 1295, do ano 1886.
Jornal do Commercio - AM (1910 – 1920), na edição de número 4439, do ano 1916.
Jornal do Commercio - RJ (1870-1879), na edição de número 189, do ano 1877.
Jornal do Commercio - RJ (1870 – 1879), na edição de número 341, do ano 1877.
O Cearense - CE (1846 - 1891), na edição de número 53, do ano 1877.
O Cearense - CE (1846 – 1891), na edição de número 163, do ano 1881.

11

Você também pode gostar