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An analysis of the competitive and operational strategy of self-service


restaurants

Article  in  Gestão & Produção · December 1997


DOI: 10.1590/S0104-530X1997000300006

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Marcelo Giroto Rebelato


São Paulo State University
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UMA ANÁLISE SOBRE A ESTRATÉGIA
COMPETITIVA E OPERACIONAL DOS
RESTAURANTES SELF-SERVICE

Marcelo Giroto Rebelato


Doutorando pela Área de Engenharia de Produção
Escola de Engenharia de São Carlos - USP
Av. Dr. Carlos Botelho, 1465
São Carlos - SP - CEP 13560-250
e-mail: magiroto@sc.usp.br
v.4, n.3, p. 321-334, dez. 1997

Resumo

Os restaurantes comerciais do tipo self-service surgiram como uma opção de comida


rápida bem adaptada às novas necessidades da população brasileira. Formaram uma
indústria que cresce em todo o país e evolui em termos de oferta e de atendimento. Este artigo
analisa o fenômeno da refeição fora de casa e expõe a estratégia competitiva e operacional
dos restaurantes self-service “por quilo”. A partir de um estudo conduzido em uma empresa
do ramo, identifica e analisa as características dos processos presentes no sistema “por
quilo”, sugerindo mudanças internas na forma de diretrizes gerenciais.

Palavras-chave: restaurantes self-service, estratégia competitiva e operacional


dos restaurantes self-service, gestão dos sistemas self-service “por
quilo”.

1. Introdução

O
homem primitivo gastava boa parte possibilidades de cultivo ou armazenamento
de seu tempo tentando conseguir podiam ser muito limitadas. O homem
alimento para garantir sua subsis- desenvolveu instrumentos e elaborou estra-
tência. A obtenção da comida para satisfazer tégias para a caça, buscando obter a carne,
a fome era uma atividade constante e talvez sua principal fonte de energia. Mas o tempo
a sua principal preocupação, já que, passou e as coisas mudaram. Ele aprendeu
dependendo das condições ambientais, as a domesticar animais e desenvolveu a
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agricultura, chegando um dia à distribuição abertura do mercado, essas redes começaram


de alimentos em âmbito mundial. a se instalar aqui no início dos anos 80,
Milhares de anos mais tarde aquela reali- preferencialmente em shopping centers ou
dade inicial se inverteu. É notório que o em regiões de alta densidade populacional.
homem contemporâneo está muito menos Estima-se que em 1990 o país já contava
preocupado em obter comida para viver. Nas com cerca de 10.000 estabelecimentos no
cidades, os alimentos prontos estão ampla- ramo de serviços de alimentação.
mente disponíveis nos supermercados, (IGLESIAS FILHO, 1990).
lanchonetes e restaurantes. Obter comida O sucesso das cadeias de fast-food tam-
passou a ser uma coisa corriqueira. bém no Brasil se deve à tendência mundial
Os restaurantes fazem parte das vidas das de especialização do marketing. Conforme
pessoas desde os tempos antigos. Na Amé- KOTLER & ARMSTRONG (1993), a
rica, eles surgiram do modelo europeu de McDonald’s Corporation, atualmente a maior
tabernas e estalagens. As tabernas eram rede de serviços de alimentação do globo
casas públicas especializadas em bebidas e com mais de 11.000 lojas espalhadas por 50
fornecimento de alimentos para a população países, foi um dos exemplos mais notáveis
local. Já as estalagens localizavam-se à beira de como realizar um ótimo casamento entre
da estrada oferecendo cama e comida ao o mix ofertado e as novas necessidades da
viajante. No Brasil, o desenvolvimento da demanda: serviço rápido, limpeza e qualida-
indústria de restaurantes está associado à de. É neste contexto, segundo MUNDO
indústria de hotéis. Sua grande expansão se NETO (1996), que se inserem os restauran-
deu no período de 1930 a 1951, com a tes self-service. Eles nasceram como uma
abertura dos Hotéis Cassinos. Neste período, opção de fast-food ao consumidor brasileiro.
pouca notícia se teve de estabelecimentos Porém, no seu início, tanto a eficiência do
exclusivos para comer. Depois da proibição atendimento quanto a qualidade da refeição
dos Cassinos pelo governo, esta indústria se não eram seus pontos fortes. Os self-service
estagnou e, somente a partir de 1964 iniciou surgiram para competir com as lanchonetes
uma nova e contínua expansão até os dias e com os restaurantes a la carte de baixo
atuais. A introdução das redes internacionais preço. Seu início foi primordialmente uma
de fast-food no país é mais recente. Movidas opção mais popular de alimentação. Hoje,
pelo aumento populacional brasileiro e pela entretanto, este panorama foi alterado.

2. A Refeição Fora de Casa

A
refeição fora de casa deixou de ser no está o novo papel que a mulher assume
uma opção de lazer e passou a ser hoje na sociedade. Para MURARO (1971),
uma questão de necessidade. É uma as mulheres não querem mais o status de
tendência inserida dentro do que se pode donas de casa. Elas buscam a independência
chamar de terceirização dos serviços econômica e a realização profissional por
familiares, acompanhada pelo surgimento de meio de um trabalho remunerado. Além
outros serviços como venda de comida disso, as pessoas, de um modo geral, exigem
congelada, entrega de pizzas a domicílio e mais tempo de lazer no dia-a-dia e a taxa de
lavanderias rápidas. São serviços que expectativa de vida está crescendo (SHOEL
surgiram recentemente e que, tradicional- & IVY, 1981). Aliados a esses fatos,
mente, dentro do lar, eram executados pelas constata-se a tendência crescente da urba-
mulheres. Por isso, no centro deste fenôme- nização e o aumento da renda per capita,
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que pode ser entendido como uma melhor entrega de refeição a domicílio. Obviamente
distribuição da riqueza e potencializador dos que, para os que têm tempo disponível para
gastos individuais (MURDICK et al., 1990). preparar a refeição e o seu custo de mão-de-
São fatores que impactam fortemente na obra é zero, a mesma lógica não se aplica.
geração de demanda pelos serviços de Porém, o ritmo acelerado do trabalho
alimentação. exigido dos indivíduos inseridos economi-
O homem moderno acredita que pode camente nas sociedades capitalistas deste
exercer um controle considerável sobre o final de século, sejam eles trabalhadores
seu tempo e sabe que aproveitá-lo eficien- autônomos ou funcionários de empresas,
temente é essencial para o alcance de suas tem tornado o tempo das pessoas um recurso
metas. Ele busca alcançar algo e ser eficaz cada vez mais escasso. A ordem é comer
ao mesmo tempo (INKELES & SMITH, rápido pois, em geral, o tempo disponível
1981). Além disso, a busca pessoal por para isso é curto. Para esses, o restaurante é
maior produtividade e eficiência no trabalho uma ótima alternativa.
se tornaram importantes para a manutenção Para MUNDO NETO (1996) existe um
do emprego, uma questão de sobrevivência outro público que opta pelo restaurante
dentro de mercados de trabalho cada vez diariamente por uma questão de comodida-
mais competitivos (OFFE, 1991). Dessa de, não se interessando pela contabilidade
forma, a tendência observada nas pessoas mais vantajosa. Não querem mais lidar com
economicamente ativas que vivem nos a empregada em casa ou ter de ir ao
centros urbanos é dar menor atenção à supermercado para fazer a compra mensal,
refeição e maior atenção ao trabalho, já que ou mesmo porque precisam fazer um regime
a refeição não pode ser encarada como uma alimentar e os restaurantes self-service
atividade produtiva. geralmente ofertam uma grande variedade
Conforme PERRE (1996), do ponto de de saladas e pratos de baixa caloria. Um
vista da economia familiar, a população de outro público é o de terceira idade, que
classe média e alta começou a notar que, se come pouco e não se dispõe a fazer comida
pudesse contabilizar o tempo gasto com o em casa. Muitas vezes são pessoas sozinhas,
planejamento de compra dos alimentos, com viúvos ou viúvas, que encaram o restaurante
a compra, com organização dentro da casa, como uma ótima opção. Nos finais de
com a contratação de empregada para semana e feriados, entretanto, a refeição fora
preparar a comida, verificação do serviço, de casa tem outro sentido. As famílias vão
pagamento, etc., colocando tudo isso na ao restaurante como uma opção de lazer.
“ponta do lápis” e comparando com o preço São os dias de maior movimento nos
do restaurante, poderia ser vantajoso ter a restaurantes e por isso muitos deles ofertam
refeição fora de casa, ou mesmo em casa, já nesses dias um cardápio mais requintado,
que muitos restaurantes possuem serviço de com preços também diferenciados.

3. O Sistema de Fornecimento Self-Service “Por Quilo”

O
sistema de vendas “por quilo” foi modesta, composta apenas por arroz, feijão,
idealizado para baratear o preço uma porção de carne, três porções de salada
final ao consumidor. Segundo e dois acompanhamentos. Sempre bem
PERRE (1996) este sistema de fornecimento barato, às vezes para comer até mesmo em
aliado ao atendimento self-service nasceu pé e com sobremesa grátis. Hoje, entretanto,
com uma opção de cardápio extremamente o “por quilo” não é mais isso. Quem deseja
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um padrão de restaurante executivo com indústria, a economia de escala é primordial


uma refeição de melhor qualidade, com para garantir uma boa rentabilidade. Pode
várias opções de saladas, carnes, peixes, trabalhar sem garçons ou com pequeno
vinho e café expresso, também já pode número deles, servindo apenas as bebidas e
almoçar no “por quilo”. A maioria desses retirando pratos. A mesa de refeições
restaurantes só funciona durante o almoço utilizada é bem pequena, pois é necessário
porque seus clientes preferem ter o jantar em que comporte apenas o prato e nenhuma
casa, quando voltam do trabalho. outra vasilha, permitindo, portanto, que o
Os restaurantes self-service “por quilo” salão comporte mais mesas, maximizando
evoluíram e se superaram no momento em assim a capacidade de atendimento dos
que uma demanda mais sofisticada foi se clientes. Também não é necessário a toalha
revelando e os estabelecimentos foram de tecido. Uma pequena toalha descartável
descobrindo a ótima oportunidade a ser de papel pode ser utilizada, reduzindo o
explorada. O eixo da estratégia competitiva custo. O desperdício é mínimo porque cada
deixa assim de ser apenas o preço e passa a pessoa dimensiona o que está comprando e
valorizar mais a qualidade. É um sistema portanto não vai comprar o que não vai
que surgiu para suprir as deficiências do precisar. É o melhor sistema que se adapta
sistema a la carte. Os restaurantes a la carte às necessidades culturais e sociais brasileiras
são muito lentos do ponto de vista do do tipo refeição rápida, ainda mais conside-
atendimento. O cliente não quer esperar a rando-se que o hábito da grande maioria dos
comida ser preparada. O sistema “por brasileiros é almoçar com arroz e feijão.
quilo”, pela própria velocidade do atendi- Uma lacuna que as cadeias de fast-food não
mento, com um alto giro de vendas, barateia preencheram e os restaurantes self-service
o custo de manutenção da estrutura de souberam aproveitar (PERRE, 1996).
fornecimento, provando que, neste tipo de

4. Um Estudo de Caso

U
m estudo de caso foi conduzido em possibilitando, assim, a descoberta de
um restaurante comercial localizado novas facetas e problemáticas da organi-
na cidade de São Carlos (SP) com o zação. Além dos dois proprietários, fo-
objetivo de avaliar as questões estratégicas e ram entrevistados 14 funcionários: a
operacionais do negócio. Utilizou-se nesta nutricionista e o gerente do restaurante, o
investigação a abordagem qualitativa para o chefe da cozinha, três cozinheiros, uma
levantamento dos dados e identificação dos confeiteira, dois estoquistas, três garçons
fenômenos presentes na organização. A fase e dois ajudantes da copa;
investigatória foi conduzida por meio de b) exame do conteúdo de documentos
quatro diferentes caminhos: internos;
a) entrevista com os participantes da c) observações in loco;
organização pelo método da entrevista d) filmagens das operações normais no dia-
não-diretiva (THIOLLENT, 1981), se- a-dia, tanto das atividades de retaguarda
guindo-se um roteiro preestabelecido de (back-room) quanto das atividades de
questionamento sobre vários aspectos do “frente” (front-office) para facilitar a
trabalho, mas dando ao entrevistado análise posterior.
liberdade para que este pudesse colocar A empresa em questão foi criada em
também seus problemas e sentimentos, 1992 como um bar. Evoluiu rapidamente e
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mudou seu foco de negócio, trabalhando garçons são alocados em cada uma segundo
atualmente com serviço de buffet e restau- critérios de desempenho, já que alguns
rante self-service “por quilo”. No início das conseguem ser mais ágeis. Trabalham
atividades não havia nenhum funcionário também funcionários retirando os pratos
contratado. Os próprios sócios empreende- usados e limpando as mesas. Os funcioná-
dores faziam tudo: compravam os insumos, rios do front-office são subordinados a um
preparavam a comida, faziam a faxina, gerente (responsável direto por esta área)
pagavam as contas, etc. que trabalha diariamente acompanhando o
Com o tempo a empresa foi se expandin- desempenho dos garçons. Ele recepciona os
do e conquistando novos clientes. Opera, clientes que chegam, dando atenção ao
atualmente, com 45 pessoas contratadas e consumidor que está na fila de entrada
serve cerca de 18.000 refeições mensais. O esperando por uma mesa. Auxiliado por um
restaurante conseguiu, apesar de ter apenas funcionário, eles determinam a alocação dos
cinco anos de existência, estabelecer sólida consumidores em cada mesa, segundo o
reputação dentro do seu mercado. tamanho de cada grupo.
O sistema de fornecimento é estruturado A pesquisa de campo evidenciou que no
na divisão e especialização do trabalho. No trabalho, os funcionários apresentaram um
back-room, encontra-se o especialista em comportamento de dependência ao chefe
saladas, em carnes, em doces, em massas, o com relação a qualquer tarefa que se
estoquista, os lavadores, todos subordinados afastasse um pouco da sua rotina. De certo
a uma nutricionista. A empresa seleciona e modo, a empresa tira deles a motivação para
contrata pessoas já capacitadas para cada iniciativas próprias e encoraja-os a não
área. Em cada setor especializado, há um ou questionar. Adota-se a filosofia da recom-
mais ajudantes. Existe um bom nível de pensa e punição, no qual o elogio (quando o
capacitação individual em todos os setores resultado é o desejado) se alterna com a
com cozinheiros bastante experientes, repreensão verbal (quando o resultado é o
alguns com cursos de especialização em indesejado). Este mecanismo pode, realmen-
culinária. te, apresentar bons resultados. Entretanto,
A cozinha tem problemas de espaço em pode facilmente ser fonte de stress no
relação ao volume de alimentos processados trabalho, já que é difícil haver completa
diariamente, e os funcionários se queixam consistência na cobrança por parte dos
disso. Apesar desse fato, os equipamentos diferentes líderes. Na prática, é isto o que
utilizados são sempre substituídos por acontece.
outros mais sofisticados e específicos. Os dirigentes da empresa são naturalmen-
Existe real preocupação com a atuação te um foco das atenções dos funcionários.
tecnológica e a empresa investe continua- Possuem, por um lado, um estilo progressis-
mente em novos equipamentos. A tecnolo- ta, sempre preocupados com a melhoria do
gia é encarada como meio para o incremento fornecimento e com o acompanhamento das
da produtividade e um facilitador da garantia novas tecnologias de processamento. Por
da qualidade. outro lado, possuem um estilo demasiada-
A área do restaurante servida pelos gar- mente centralizador de trabalho. Isto faz
çons (front-office) é dividida em sete praças, com que os funcionários solicitem, mais do
sendo cada uma delas coberta por um que seria necessário, seu aval para pequenas
garçom. Como o movimento de clientes em coisas. Pôde-se verificar nos dirigentes certo
algumas praças é maior que em outras e as esgotamento causado pelas preocupações
praças não são todas do mesmo tamanho, os
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com todo tipo de problemas diários, muitos pode agir mais flexivelmente, transferindo
dos quais se repetem periodicamente. funcionários de outras áreas para o atendi-
O estudo revelou que o controle da quali- mento no front-office. A demanda não varia
dade, tanto da comida como do atendimento, apenas durante o dia. Semanalmente, verifi-
é conseguido por meio da liderança atuante. cou-se um progressivo crescimento de se-
Não existe um sistema de controle de gunda à domingo. Um considerável aumento
processos ou padrões documentados para a de 60% no número de refeições servidas.
qualidade. Os líderes, sempre presentes nas Pôde-se constatar que a gestão da capaci-
atividades do dia-a-dia, inspecionam e coor- dade tem, certamente, estreitos laços com a
denam o trabalho constantemente. Notou-se qualidade, uma característica intrínseca do
que há certa fragilidade neste mecanismo setor de serviços. O resultado da falta de
porque os próprios líderes se ressentem da capacidade nos horários de pico são as filas
falta de direcionamento sobre os objetivos que se formam. Elas certamente interferem
da qualidade em cada etapa do processo. na qualidade avaliada pelos consumidores.
Freqüentemente, diante de um problema, A fila é um fator que irrita o cliente e muita
eles próprios se sentem inseguros na tomada gente vai embora em busca de outro local
de decisão. para fazer a refeição. Além disso, a fila torna
A empresa fornece para os ingressantes o ambiente tumultuado e dificulta o trabalho
treinamento prático no próprio local. Não dos atendentes, dos garçons e o trânsito dos
existe um programa formal de treinamento, próprios clientes.
devidamente estruturado e sistematizado. A A empresa vive problemas com relação à
organização perde a oportunidade de trans- falta de profissionalização dos seus fornece-
mitir e explicitar seu entendimento e suas dores. Nesse ramo, é difícil encontrar
metas sobre os usuários, sobre o sistema e fornecedores confiáveis, não somente em
sobre a própria força de trabalho. Dessa termos de prazo de entrega como em termos
forma, contribui para a formação de um de qualidade dos produtos. Isto dificulta
conjunto de concepções individuais distintas sobremaneira o processo de compra que, na
por parte de cada empregado, acentuando a verdade, ocupa uma posição peculiar na
desuniformidade de comportamentos. estrutura da empresa.
O estudo de campo revelou as dificulda- Num processo de produção convencional
des de se gerenciar a capacidade de forneci- sob encomenda, o sistema produtivo inicia
mento. A grande variação da demanda no suas atividades baseado num planejamento
tempo é problemática para a empresa. Os prévio, que é executado sobre os pedidos
restaurantes self-service, na média, operam dos clientes. Nos restaurantes self-service a
com capacidade ociosa pois não trabalham produção não trabalha por encomenda. O
no horário do jantar e, mesmo que ofereçam cardápio, na verdade, tem de ter flexibilida-
serviço de buffet, é improvável que este de para acompanhar a oferta das matérias-
aconteça todos os dias. Entretanto, a primas. É claro que para isso existem
demanda no horário de almoço aumenta a limites. Eles são ditados pelos próprios
ponto de fazer a taxa de chegada de clientes consumidores. Ocorre que o processo de
ultrapassar a capacidade de atendimento. compras precisa trabalhar em perfeita
Observa-se então, pontualmente, falta de sincronia com o planejamento da produção.
capacidade. O principal recurso limitante Isto porque vários gêneros alimentícios
observado neste caso foi a capacidade física apresentam alta sazonalidade em termos de
instalada, já que a mão-de-obra de atendi- oferta. Em certas épocas, determinados
mento é um recurso sobre o qual a empresa produtos desaparecem do mercado ou sua
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oferta diminui bastante, elevando seus restaurante serve diariamente marmitas que
preços drasticamente. O planejamento da são montadas por alguns funcionários
produção precisa, então, adaptar-se à capacitados para isso. Apesar de não ser
disponibilidade das matérias-primas no expressivo o volume diário de marmitas
momento de confeccionar o cardápio a ser atualmente servidas, julga-se que existe uma
produzido. Neste ramo, comprar bem é vital boa porcentagem de demanda reprimida
para a viabilidade do lucro. neste segmento. A idéia parece criativa.
A capacidade de racionalização e apren- Pretende-se criar um sistema do tipo “drive
dizagem da empresa é fortemente prejudica- trought”, similar ao que existe atualmente
da pela falta de informações, sejam essas em alguns bancos, no qual os clientes
internas ou externas. A empresa conhece poderiam entrar com o carro por uma
mal a si própria e ao seu meio ambiente. Os passagem, fazer o pedido, pagar e receber as
indicadores de eficiência interna de cada marmitas sem sair do carro. Tudo muito
recurso ou área não estão disponíveis porque rápido e com preços mais atrativos que
não se criou mecanismos para isso. Os aqueles praticados no restaurante.
dados não são colhidos e processados. Não Outra idéia é a de abrir um restaurante
se conhece bem o comportamento do mais sofisticado, com mais qualidade em
mercado, sejam fornecedores, clientes ou termos dos aspectos “tangíveis” (talheres,
concorrentes. Com isso, o processo de pratos, mesas, apresentação do ambiente e
gerenciamento usualmente se baseia em dos funcionários e menu mais requintado) e
informações incompletas a respeito de no atendimento pessoal, tendo como alvo
possíveis cursos de ação e suas possíveis um público de mais alta renda. A terceira
conseqüências. O processo de decisão é opção é de atacar o ramo de comida
caótico porque explora um número muito industrial, pois a cidade de São Carlos é um
limitado de alternativas, baseando-se muitas pólo de desenvolvimento tecnológico
vezes em regras empíricas ou na intuição. atrativo às novas indústrias. Esta estratégia
Do ponto de vista da competição pode-se seria a mais ambiciosa porque exigiria
dizer que a empresa incomoda o mercado muitos investimentos em equipamentos,
concorrente muito mais do que é incomoda- capacitação de funcionários e domínio das
da por ele. Na verdade, os proprietários não tecnologias mais sofisticadas de processa-
se preocupam com a concorrência. Existe a mento de alimentos.
crença de que a empresa sempre vai estar Apesar disso, não se identifica realmente,
um passo a frente, pois acredita-se que há nos empreendedores, a motivação para
competência para isto. Os concorrentes nenhuma dessas opções estratégicas. A
(considerando os que trabalham com o empresa tem ainda muitas pendências
sistema “por quilo”), em termos de qualida- internas como problemas com o armazena-
de de atendimento e opções de cardápio, se mento dos insumos, controle do estoque,
posicionam, realmente, num patamar abaixo programação da produção e treinamento de
e estão distribuídos em outras regiões da pessoal. Também não possui um sistema de
cidade. A concorrência é muito mais custeio, nem tampouco um programa para o
“espacial”. controle e garantia da qualidade. Os
Nas entrevistas realizadas, pôde-se ob- proprietários, envolvidos no stress do dia-a-
servar que os empreendedores têm em mente dia (além do ritmo acelerado, a presença
várias alternativas para o negócio no futuro. constante no caixa é obrigatória pois não se
Uma delas é aprimorar o fornecimento de criou um mecanismo seguro para a cobran-
marmitas, que já existe atualmente. O ça) e diante do desafio das mudanças
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estruturais extremamente necessárias, mos- negócio. A intenção é de consolidar e


tram-se “sem fôlego” para pensar no futuro. organizar a empresa mais profissionalmente.
Na verdade, a estratégia declarada e A busca da Qualidade Total e satisfação de
assumida pelos proprietários é de não abrir todos os clientes, sem exceção, são as metas
nenhuma filial ou tentar outro tipo de atuais.

5. Gerenciando a Qualidade e a Capacidade nos Serviços de Alimentação

A
pesar do estudo ter sido conduzido além de saber articular como esta pode ser
sobre uma única empresa do ramo obtida. Centrar as intenções estratégicas na
de alimentação, crê-se que os implementação de algumas best-pratices é
pontos levantados neste caso podem implicitamente abandonar o conceito central
representar a realidade de muitas empresas da estratégia em favor de receitas genéricas
similares. Justifica-se, desse modo, as suges- de sucesso competitivo.
tões adiante apresentadas como um meio de Em uma experiência investigativa,
advertir e conscientizar os empreendedores NYQUIST et al. (1986) reportam dados
para a necessidade das mudanças internas. sobre as interações empregados/consu-
O primeiro ponto a ser levantado é com midores dentro de três categorias de
relação a falta de controle financeiro. prestação de serviços: hotéis, restaurantes e
WHITNEY (1996) lembra que não conhecer transporte aéreo, serviços que representam
os custos significa não conhecer a real um alto nível de contato entre clien-
lucratividade dos clientes, produtos e te/fornecedor. Os resultados da pesquisa
serviços. Os restaurantes comerciais são revelaram que 74% de todas as dificuldades
empresas que na sua grande maioria não vividas pelos funcionários provinham de
dispõem de sistema de custeio ou mesmo expectativas, por parte dos clientes, que
mecanismo de apropriação de custos. Este excediam a capacidade de atendimento da
desconhecimento, além de abalar economi- empresa. O restante das dificuldades dos
camente a empresa, a compromete também funcionários tinham como fatores causado-
financeiramente (em termos de fluxo de res os incidentes por alguma falha no
caixa). O desconhecimento provoca desvios sistema de prestação do serviço.
de caixa para fins não centrais ou estratégi- As conclusões de NYQUIST et al. (1986)
cos, comprometendo as oportunidades mais podem ser importantes para a empresa em
promissoras e revelando por fim, o desvio questão. Dentro dos serviços, atenção
de foco do negócio. especial deve ser dada ao entendimento de
Com relação à atual estratégia do negócio como os consumidores formam suas
declarada pelos proprietários, PISANO & expectativas, como identificar estas
HAYES (1995) lembram que a adoção de expectativas e como tratar efetivamente com
programas para o incremento das operações as expectativas desmedidas. Os empregados
— como JIT, TQM ou outra qualquer ouvidos naquela pesquisa sentiam-se des-
designação com três letras — não é uma preparados para responder às solicitações
estratégia para se obter uma vantagem excessivas ou irracionais dos clientes. A
competitiva. Num meio ambiente competiti- empresa deve preparar o funcionário para
vo e turbulento como o de hoje, as compa- ser um competente comunicador. Para isso,
nhias precisam de uma estratégia que deve ensiná-lo a antecipar-se às solicitações
especifique o tipo de vantagem competitiva dos clientes, de modo que possam propor
a ser perseguida no seu ramo de mercado, alternativas adequadas a cada situação. A
GESTÃO & PRODUÇÃO v.4, n.3, p. 321-329, dez. 1997 329

redução dos incidentes de comunicação são a) definição clara do serviço prestado;


vantajosas em termos de incremento da b) identificação e classificação dos consu-
satisfação do consumidor e redução da midores em termos de tarefas, poder,
rotatividade dos funcionários. características e necessidades;
A empresa estudada mostrou que tem c) determinação das expectativas dos
consciência da necessidade da capacitação consumidores com relação ao serviço
tecnológica mas não mostrou a mesma prestado;
disposição com relação ao investimento no d) mensuração contínua do grau de atendi-
treinamento e educação dos funcionários. mento das expectativas;
Para BOWEN & LAWLER (1992) o e) documentação contínua dos novos serviços
investimento nos funcionários é condição e novos processos de fornecimento;
necessária à excelência do sistema de f) estabelecimento e manutenção de mensura-
fornecimento. Eles sugerem a adoção do ções sobre desempenho do serviço.
empowerment dentro da empresa. O Conforme constatado na pesquisa de
empowerment não significa a eliminação da campo, não é possível, nos serviços de
hierarquia, da direção ou da responsabilida- alimentação, a utilização de estoques para
de de cada um. Significa encorajar e absorver as enormes flutuações nos níveis
recompensar os funcionários pela iniciativa de demanda. SASSER (1976) oferece
e pela imaginação. É capacitar o funcionário sugestões de como lidar com o problema,
para em seguida lhe dar liberdade para ser melhorando a utilização da capacidade. De
responsável por suas idéias, decisões e um lado, a direção da empresa pode
ações, liberando recursos e habilidades empregar alguns artifícios com o intuito de
individuais que, de outra forma, permanece- abrandar os períodos de pico de demanda:
riam inacessíveis ao indivíduo e à organiza- a) preço diferenciado — adoção de preços
ção. Quatro ingredientes são necessários ao diferenciados em horários de baixa de-
empowerment: manda na tentativa de transferir parte da
a) informações compartilhadas sobre a demanda nos horários de pico;
organização e sobre seu desempenho; b) desenvolver novas ofertas em horários de
b) recompensas baseadas no desempenho da baixa demanda — é possível incrementar
organização; o nível da demanda nos períodos em que,
c) capacitação aos funcionários para per- normalmente, ela é baixa. Por exemplo,
mitir-lhes entender e contribuir para o pode-se adicionar itens para o café da
desempenho da organização; manhã no menu;
d) poder para a tomada de decisões capazes c) desenvolver serviços complementares —
de influenciar o desempenho. são serviços alternativos ofertados junta-
Com relação ao gerenciamento da quali- mente com o serviço principal, na tenta-
dade de fornecimento, considera-se opor- tiva de aliviar os picos de demanda. Por
tuno para a empresa uma reestruturação nos exemplo, sabe-se que os clientes recla-
atuais mecanismos adotados. Neste cami- mam menos (enquanto esperam uma
nho, LAWTON (1991) defende que as mesa) se estiverem sentados em poltronas
empresas de serviços devem adotar a cultura e bem servidos, do que em pé numa fila;
centrada no consumidor em substituição à d) criar um sistema de reserva — é a pré-
hoje predominante cultura centrada no venda do serviço que possibilita à empre-
produtor, proveniente da manufatura. O sa se programar melhor conhecendo com
autor sugere seis passos para a criação da antecedência a demanda futura.
cultura centrada no consumidor:
330 GESTÃO & PRODUÇÃO v.4, n.3, p. 321-330, dez. 1997

Alternativamente, a empresa pode adotar altos investimentos em equipamentos ou


procedimentos com o objetivo de interferir mão-de-obra especializada, que podem
na capacidade, ajustando a oferta às não ser utilizados em toda sua capacida-
flutuações da demanda: de. Nestes casos, pode-se compartilhar
a) empregando funcionários em um só estes recursos com outras empresas,
período — a empresa pode manter uma utilizando-os conjuntamente;
base de funcionários em tempo integral e) instalações para expansão futura —
para operar o sistema em períodos de podem ser adquiridas instalações para
baixa demanda e recorrer a funcionários uso posterior.
em tempo parcial para os períodos de Um ponto particularmente delicado nos
maior movimento; serviços de alimentação, que pôde ser
b) maximizando a eficiência em horários de observado na pesquisa, é com relação à
pico — a análise do sistema pode revelar higiene de processamento, armazenagem e
caminhos para a maximização da capaci- manipulação de alimentos. É preciso ter em
dade nos períodos de pico de demanda mente que um único problema de contami-
com pequenos custos adicionais. Por nação alimentar pode ter conseqüências
exemplo, a execução de tarefas estrita- desastrosas para o empreendimento. As
mente essenciais, a mudança do arranjo- exigências da Vigilância Sanitária são
físico, o treinamento dos funcionários em insuficientes. As empresas desse ramo
diferentes funções, etc; devem buscar constantemente mais altos
c) aumentando a participação do consumi- padrões de higiene em cada etapa do
dor — a maior participação do consumi- processo de fornecimento visando diminuir
dor no fornecimento do serviço ajuda a esta face vulnerável do negócio. Os
aliviar a sobrecarga do sistema; procedimentos de higiene devem ser o
d) compartilhando a capacidade — o grande alvo do processo de treinamento de
fornecimento do serviço às vezes requer pessoal.

6. Conclusões

A
respeito da metodologia de o esclarecimento convenceu os entrevistados
investigação utilizada, há de se a responderem as perguntas com franqueza.
considerar que sempre existe o Muitos deles foram além do que foi
problema da distorção que se manifesta questionado, enriquecendo mais ainda o
desde a obtenção dos dados até a interpreta- processo de investigação.
ção final (THIOLLENT, 1983). Uma É preciso evidenciar que a abordagem de
dificuldade inicial experimentada nas investigação utilizada não foi a psicanalítica,
entrevistas com os funcionários foi o a qual se propõe a escrutinar com total
sentimento de desconfiança que alguns profundidade os padrões culturais e compre-
manifestaram sobre as possíveis conseqüên- ender detalhadamente as relações sociais e
cias da entrevista, isto é, em alguns casos de poder na organização (FISCHER, 1989).
observou-se o medo de serem punidos ao Apesar disso, não havia como não identifi-
exporem suas opiniões. Tentou-se então car aspectos relativos ao clima organizacio-
explicitar o caráter sigiloso da entrevista, nal permeado pelas satisfações e as insatis-
deixando claro que o objetivo era conhecer a fações das pessoas naquele dado momento e
realidade da empresa e que a chefia não teria em relação a determinados aspectos.
acesso ao conteúdo da pesquisa. Crê-se que Entretanto, o ponto de maior preocupação
GESTÃO & PRODUÇÃO v.4, n.3, p. 321-331, dez. 1997 331

foi a fidelidade das respostas relativas ao é preciso haver controle financeiro, saber
esquema de trabalho em si. Para isso, quanto custa cada atividade.
utilizou-se o cruzamento dos dados, isto é, O potencial de crescimento da indústria
uma vez identificado certo padrão de de restaurantes no Brasil se mostra bastante
trabalho, este ponto era checado com outros promissor, dado os novos fatores geradores
entrevistados assim como pelas observações desta demanda (citados no item 2) e da
locais e análise das filmagens. Seguindo-se tendência de terceirização, por parte das
o esquema de intervenção levantado por indústrias, dos serviços de alimentação. É
MUCCHIELLI (1978), o entrevistador sem- um tipo de trabalho que oferece muitas
pre fazia uma pergunta para obter informa- oportunidades sociais e as pessoas com
ções suplementares. Insistia sobre um grande necessidade de socialização encon-
detalhe que lhe pareceu ter sido “esquecido” tram seu espaço. Poucos negócios oferecem
pelo entrevistado, mostrava que determinado mais desafios do que este. Porém, é um
aspecto não havia sido completamente trabalho duro e as dificuldades financeiras
examinado, orientava e solicitava mais podem causar muitas frustrações.
esforço em busca de sua memória. Em conformidade com MORGAN
Com relação ao negócio de serviços de (1996), pode-se afirmar que o sistema de
alimentação, pode-se dizer que ele é de fácil fornecimento da empresa estudada é robusto
acesso e de alto risco. É um tipo de negócio para um ambiente estável, mas muito frágil
que tem potencial para ser extremamente num ambiente de mudanças. Isto pode ser
lucrativo porém, não é certo que o lucro compreendido pelas condições do meio onde
ocorra. Os investidores inexperientes podem a empresa está inserida e pelas condições do
se enganar com facilidade. Conforme seu sistema de trabalho:
GOMES & BRUNSTEIN (1995) das cerca a) existe uma tarefa contínua a ser desem-
de 430.000 empresas nacionais que se penhada
lançaram no mercado em 1992, 50% já b) o ambiente tem se mostrado suficiente-
estavam fora de seu negócio antes do mente estável para assegurar que os
primeiro ano de atividades. Esta impressio- produtos/serviços sejam os apropriados;
nante rotação indica a falta de preparo para c) os produtos são padronizados;
as decisões estratégicas por parte dos d) a precisão é a meta;
empresários. O simples conhecimento e) os funcionários são submissos e fazem
técnico das operações não significa que se apenas o que se espera que façam.
conheça o negócio. Nos serviços de Juntamente com os hotéis, os restaurantes
alimentação, em que as barreiras competiti- são modernamente categorizados como
vas são pequenas (provavelmente o capital serviços de hospitalidade, dado as caracterís-
inicial seja a maior delas), muitas empresas ticas da interação pessoal (quase servil, sob
são levadas prematuramente à falência. O certo ponto de vista) entre clien-
operador pode ter uma noção equivocada te/fornecedor. É um serviço que não pode
sobre esse tipo de negócio já que a tecnolo- ser consumido sem a proximidade física
gia de processamento é de domínio comum, entre cliente e fornecedor. Segundo a
um know how tido como quase “doméstico”, taxionomia criada por SILVESTRO et al.
e não perceber que o gerenciamento de um (1992), os restaurantes são ambientes de
sistema produtivo exige um perfeito prestação de serviços de médio contato entre
casamento entre os processos de planeja- cliente e fornecedor. Não têm as mesmas
mento e controle da produção, produção, características dos serviços profissionais
compras e estocagem. Muito mais que isso, como, por exemplo, o serviço médico ou
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consultoria (com ênfase em pessoas, alta principal executivo. A centralização tem a


personalização e autonomia), nem dos importante vantagem de assegurar que a
serviços de massa, como o transporte urbano resposta à estratégia reflita o completo
ou comunicações (com ênfase em equipa- conhecimento do núcleo operacional. Ela
mentos, baixa personalização e autonomia). favorece também a flexibilidade e a
Por isso, podem ser chamados de “loja de adaptação na resposta estratégica, uma vez
serviços”. Seus processos de fornecimento que somente uma pessoa necessita agir.
são um misto entre o trabalho humano e o Entretanto, a centralização pode causar
trabalho realizado pelos equipamentos. A confusão entre problemas estratégicos e
tecnologia está muito presente nas funções operacionais. O principal executivo pode
de retaguarda e o contato pessoal muito mais ficar tão emaranhado com os problemas
presente nas funções de “palco”. operacionais que perde a visão das questões
Atualmente a indústria de restaurantes estratégicas. Também é uma estrutura
situa-se dentro de um mercado altamente arriscada pois é totalmente dependente da
competitivo, o que exige dos empreendedo- saúde e das fantasias de um indivíduo. Um
res uma dose extra de cautela em suas ações. ataque cardíaco pode varrer para longe o
Embora a satisfação da fome e da sede principal mecanismo de coordenar a
sejam os principais atributos que cabe ao organização.
restauranteur saciar, é certo que os consu- Para GIANESI & CORRÊA (1994) é
midores desejam ter outras necessidades necessário pensar as operações de forma
atendidas. As pessoas se preocupam também estratégica. Isto quer dizer criar, desenvol-
com a sua forma física, com o seu status e ver, implantar e dar manutenção a um
com a sua situação financeira. Cabe ao padrão coerente de decisões. A estratégia de
operador descobrir quais são os componen- operações seria uma ferramenta que busca
tes econômicos e psicológicos que o organizar as operações da empresa de modo
consumidor busca ao selecionar um a desenvolver um corpo adequado de
restaurante (IGLESIAS FILHO, 1990). características de desempenho. Seu objetivo
O sucesso do sistema self-service “por principal é o aumento da competitividade da
quilo” pode ser explicado, em parte, pela organização.
flexibilidade no planejamento do produção. No caso de serviços de alimentação, a
É um sistema que não possui um cardápio estratégia de operações se torna particular-
fixo para todos os dias e trabalha buscando, mente importante, pois deixa de ser apenas
constantemente, menores custos de produ- um aspecto interno da organização do
ção. A alta velocidade de atendimento se trabalho, restrito aos funcionários. Passa a
adequa perfeitamente às necessidades da ser uma questão importante para a qualidade
demanda, ao mesmo tempo que viabiliza percebida pelos clientes, que durante todas
financeiramente o negócio. Para o cliente, a as etapas do processo de consumo, certa-
possibilidade de planejar a compra na mente estão avaliando a empresa pelos mais
medida exata da sua necessidade é excelen- variados aspectos, tangíveis e intangíveis.
te, pois não há o custo das sobras. Assim, a estratégia de operações, na medida
A indústria de restaurantes no Brasil é que estabelece o tipo e a intensidade da
composta de muitos pequenos proprietários. interação entre cliente/empresa, tem estreita
São empresas com uma estrutura gerencial relação com a qualidade final avaliada. Mais
bastante simples. Neste tipo de empresas do que isto, a estratégia de operações dita a
(MINTZBERG, 1995) as decisões são produtividade do sistema, interferindo dire-
centralizadas em conjunto nas mãos do tamente na lucratividade do negócio.
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AN ANALYSIS OF THE COMPETITIVE AND OPERATIONAL


STRATEGY OF SELF-SERVICE RESTAURANTS

Abstract

Commercial self-service restaurants have arisen as a fast-food option well adapted to the
new necessities of the Brazilian population. They constitute an industry in growth all over the
country, and have evolved in terms of both supply and service. This paper analyses the
phenomenon of “eating out” and presents the competitive and operational strategy of the
“per kilo” self-service restaurants. From a study conducted in a branch enterprise, it
identifies and analyses the process characteristics present in the “per kilo” system,
suggesting internal changes in the form of management directions.

Key words: self-service restaurant, competitive and operational strategy of self-


service restaurant, “per kilo” self-service restaurant management.

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