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Resumo
1. Introdução
O
homem primitivo gastava boa parte possibilidades de cultivo ou armazenamento
de seu tempo tentando conseguir podiam ser muito limitadas. O homem
alimento para garantir sua subsis- desenvolveu instrumentos e elaborou estra-
tência. A obtenção da comida para satisfazer tégias para a caça, buscando obter a carne,
a fome era uma atividade constante e talvez sua principal fonte de energia. Mas o tempo
a sua principal preocupação, já que, passou e as coisas mudaram. Ele aprendeu
dependendo das condições ambientais, as a domesticar animais e desenvolveu a
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A
refeição fora de casa deixou de ser no está o novo papel que a mulher assume
uma opção de lazer e passou a ser hoje na sociedade. Para MURARO (1971),
uma questão de necessidade. É uma as mulheres não querem mais o status de
tendência inserida dentro do que se pode donas de casa. Elas buscam a independência
chamar de terceirização dos serviços econômica e a realização profissional por
familiares, acompanhada pelo surgimento de meio de um trabalho remunerado. Além
outros serviços como venda de comida disso, as pessoas, de um modo geral, exigem
congelada, entrega de pizzas a domicílio e mais tempo de lazer no dia-a-dia e a taxa de
lavanderias rápidas. São serviços que expectativa de vida está crescendo (SHOEL
surgiram recentemente e que, tradicional- & IVY, 1981). Aliados a esses fatos,
mente, dentro do lar, eram executados pelas constata-se a tendência crescente da urba-
mulheres. Por isso, no centro deste fenôme- nização e o aumento da renda per capita,
GESTÃO & PRODUÇÃO v.4, n.3, p. 321-323, dez. 1997 323
que pode ser entendido como uma melhor entrega de refeição a domicílio. Obviamente
distribuição da riqueza e potencializador dos que, para os que têm tempo disponível para
gastos individuais (MURDICK et al., 1990). preparar a refeição e o seu custo de mão-de-
São fatores que impactam fortemente na obra é zero, a mesma lógica não se aplica.
geração de demanda pelos serviços de Porém, o ritmo acelerado do trabalho
alimentação. exigido dos indivíduos inseridos economi-
O homem moderno acredita que pode camente nas sociedades capitalistas deste
exercer um controle considerável sobre o final de século, sejam eles trabalhadores
seu tempo e sabe que aproveitá-lo eficien- autônomos ou funcionários de empresas,
temente é essencial para o alcance de suas tem tornado o tempo das pessoas um recurso
metas. Ele busca alcançar algo e ser eficaz cada vez mais escasso. A ordem é comer
ao mesmo tempo (INKELES & SMITH, rápido pois, em geral, o tempo disponível
1981). Além disso, a busca pessoal por para isso é curto. Para esses, o restaurante é
maior produtividade e eficiência no trabalho uma ótima alternativa.
se tornaram importantes para a manutenção Para MUNDO NETO (1996) existe um
do emprego, uma questão de sobrevivência outro público que opta pelo restaurante
dentro de mercados de trabalho cada vez diariamente por uma questão de comodida-
mais competitivos (OFFE, 1991). Dessa de, não se interessando pela contabilidade
forma, a tendência observada nas pessoas mais vantajosa. Não querem mais lidar com
economicamente ativas que vivem nos a empregada em casa ou ter de ir ao
centros urbanos é dar menor atenção à supermercado para fazer a compra mensal,
refeição e maior atenção ao trabalho, já que ou mesmo porque precisam fazer um regime
a refeição não pode ser encarada como uma alimentar e os restaurantes self-service
atividade produtiva. geralmente ofertam uma grande variedade
Conforme PERRE (1996), do ponto de de saladas e pratos de baixa caloria. Um
vista da economia familiar, a população de outro público é o de terceira idade, que
classe média e alta começou a notar que, se come pouco e não se dispõe a fazer comida
pudesse contabilizar o tempo gasto com o em casa. Muitas vezes são pessoas sozinhas,
planejamento de compra dos alimentos, com viúvos ou viúvas, que encaram o restaurante
a compra, com organização dentro da casa, como uma ótima opção. Nos finais de
com a contratação de empregada para semana e feriados, entretanto, a refeição fora
preparar a comida, verificação do serviço, de casa tem outro sentido. As famílias vão
pagamento, etc., colocando tudo isso na ao restaurante como uma opção de lazer.
“ponta do lápis” e comparando com o preço São os dias de maior movimento nos
do restaurante, poderia ser vantajoso ter a restaurantes e por isso muitos deles ofertam
refeição fora de casa, ou mesmo em casa, já nesses dias um cardápio mais requintado,
que muitos restaurantes possuem serviço de com preços também diferenciados.
O
sistema de vendas “por quilo” foi modesta, composta apenas por arroz, feijão,
idealizado para baratear o preço uma porção de carne, três porções de salada
final ao consumidor. Segundo e dois acompanhamentos. Sempre bem
PERRE (1996) este sistema de fornecimento barato, às vezes para comer até mesmo em
aliado ao atendimento self-service nasceu pé e com sobremesa grátis. Hoje, entretanto,
com uma opção de cardápio extremamente o “por quilo” não é mais isso. Quem deseja
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4. Um Estudo de Caso
U
m estudo de caso foi conduzido em possibilitando, assim, a descoberta de
um restaurante comercial localizado novas facetas e problemáticas da organi-
na cidade de São Carlos (SP) com o zação. Além dos dois proprietários, fo-
objetivo de avaliar as questões estratégicas e ram entrevistados 14 funcionários: a
operacionais do negócio. Utilizou-se nesta nutricionista e o gerente do restaurante, o
investigação a abordagem qualitativa para o chefe da cozinha, três cozinheiros, uma
levantamento dos dados e identificação dos confeiteira, dois estoquistas, três garçons
fenômenos presentes na organização. A fase e dois ajudantes da copa;
investigatória foi conduzida por meio de b) exame do conteúdo de documentos
quatro diferentes caminhos: internos;
a) entrevista com os participantes da c) observações in loco;
organização pelo método da entrevista d) filmagens das operações normais no dia-
não-diretiva (THIOLLENT, 1981), se- a-dia, tanto das atividades de retaguarda
guindo-se um roteiro preestabelecido de (back-room) quanto das atividades de
questionamento sobre vários aspectos do “frente” (front-office) para facilitar a
trabalho, mas dando ao entrevistado análise posterior.
liberdade para que este pudesse colocar A empresa em questão foi criada em
também seus problemas e sentimentos, 1992 como um bar. Evoluiu rapidamente e
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mudou seu foco de negócio, trabalhando garçons são alocados em cada uma segundo
atualmente com serviço de buffet e restau- critérios de desempenho, já que alguns
rante self-service “por quilo”. No início das conseguem ser mais ágeis. Trabalham
atividades não havia nenhum funcionário também funcionários retirando os pratos
contratado. Os próprios sócios empreende- usados e limpando as mesas. Os funcioná-
dores faziam tudo: compravam os insumos, rios do front-office são subordinados a um
preparavam a comida, faziam a faxina, gerente (responsável direto por esta área)
pagavam as contas, etc. que trabalha diariamente acompanhando o
Com o tempo a empresa foi se expandin- desempenho dos garçons. Ele recepciona os
do e conquistando novos clientes. Opera, clientes que chegam, dando atenção ao
atualmente, com 45 pessoas contratadas e consumidor que está na fila de entrada
serve cerca de 18.000 refeições mensais. O esperando por uma mesa. Auxiliado por um
restaurante conseguiu, apesar de ter apenas funcionário, eles determinam a alocação dos
cinco anos de existência, estabelecer sólida consumidores em cada mesa, segundo o
reputação dentro do seu mercado. tamanho de cada grupo.
O sistema de fornecimento é estruturado A pesquisa de campo evidenciou que no
na divisão e especialização do trabalho. No trabalho, os funcionários apresentaram um
back-room, encontra-se o especialista em comportamento de dependência ao chefe
saladas, em carnes, em doces, em massas, o com relação a qualquer tarefa que se
estoquista, os lavadores, todos subordinados afastasse um pouco da sua rotina. De certo
a uma nutricionista. A empresa seleciona e modo, a empresa tira deles a motivação para
contrata pessoas já capacitadas para cada iniciativas próprias e encoraja-os a não
área. Em cada setor especializado, há um ou questionar. Adota-se a filosofia da recom-
mais ajudantes. Existe um bom nível de pensa e punição, no qual o elogio (quando o
capacitação individual em todos os setores resultado é o desejado) se alterna com a
com cozinheiros bastante experientes, repreensão verbal (quando o resultado é o
alguns com cursos de especialização em indesejado). Este mecanismo pode, realmen-
culinária. te, apresentar bons resultados. Entretanto,
A cozinha tem problemas de espaço em pode facilmente ser fonte de stress no
relação ao volume de alimentos processados trabalho, já que é difícil haver completa
diariamente, e os funcionários se queixam consistência na cobrança por parte dos
disso. Apesar desse fato, os equipamentos diferentes líderes. Na prática, é isto o que
utilizados são sempre substituídos por acontece.
outros mais sofisticados e específicos. Os dirigentes da empresa são naturalmen-
Existe real preocupação com a atuação te um foco das atenções dos funcionários.
tecnológica e a empresa investe continua- Possuem, por um lado, um estilo progressis-
mente em novos equipamentos. A tecnolo- ta, sempre preocupados com a melhoria do
gia é encarada como meio para o incremento fornecimento e com o acompanhamento das
da produtividade e um facilitador da garantia novas tecnologias de processamento. Por
da qualidade. outro lado, possuem um estilo demasiada-
A área do restaurante servida pelos gar- mente centralizador de trabalho. Isto faz
çons (front-office) é dividida em sete praças, com que os funcionários solicitem, mais do
sendo cada uma delas coberta por um que seria necessário, seu aval para pequenas
garçom. Como o movimento de clientes em coisas. Pôde-se verificar nos dirigentes certo
algumas praças é maior que em outras e as esgotamento causado pelas preocupações
praças não são todas do mesmo tamanho, os
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com todo tipo de problemas diários, muitos pode agir mais flexivelmente, transferindo
dos quais se repetem periodicamente. funcionários de outras áreas para o atendi-
O estudo revelou que o controle da quali- mento no front-office. A demanda não varia
dade, tanto da comida como do atendimento, apenas durante o dia. Semanalmente, verifi-
é conseguido por meio da liderança atuante. cou-se um progressivo crescimento de se-
Não existe um sistema de controle de gunda à domingo. Um considerável aumento
processos ou padrões documentados para a de 60% no número de refeições servidas.
qualidade. Os líderes, sempre presentes nas Pôde-se constatar que a gestão da capaci-
atividades do dia-a-dia, inspecionam e coor- dade tem, certamente, estreitos laços com a
denam o trabalho constantemente. Notou-se qualidade, uma característica intrínseca do
que há certa fragilidade neste mecanismo setor de serviços. O resultado da falta de
porque os próprios líderes se ressentem da capacidade nos horários de pico são as filas
falta de direcionamento sobre os objetivos que se formam. Elas certamente interferem
da qualidade em cada etapa do processo. na qualidade avaliada pelos consumidores.
Freqüentemente, diante de um problema, A fila é um fator que irrita o cliente e muita
eles próprios se sentem inseguros na tomada gente vai embora em busca de outro local
de decisão. para fazer a refeição. Além disso, a fila torna
A empresa fornece para os ingressantes o ambiente tumultuado e dificulta o trabalho
treinamento prático no próprio local. Não dos atendentes, dos garçons e o trânsito dos
existe um programa formal de treinamento, próprios clientes.
devidamente estruturado e sistematizado. A A empresa vive problemas com relação à
organização perde a oportunidade de trans- falta de profissionalização dos seus fornece-
mitir e explicitar seu entendimento e suas dores. Nesse ramo, é difícil encontrar
metas sobre os usuários, sobre o sistema e fornecedores confiáveis, não somente em
sobre a própria força de trabalho. Dessa termos de prazo de entrega como em termos
forma, contribui para a formação de um de qualidade dos produtos. Isto dificulta
conjunto de concepções individuais distintas sobremaneira o processo de compra que, na
por parte de cada empregado, acentuando a verdade, ocupa uma posição peculiar na
desuniformidade de comportamentos. estrutura da empresa.
O estudo de campo revelou as dificulda- Num processo de produção convencional
des de se gerenciar a capacidade de forneci- sob encomenda, o sistema produtivo inicia
mento. A grande variação da demanda no suas atividades baseado num planejamento
tempo é problemática para a empresa. Os prévio, que é executado sobre os pedidos
restaurantes self-service, na média, operam dos clientes. Nos restaurantes self-service a
com capacidade ociosa pois não trabalham produção não trabalha por encomenda. O
no horário do jantar e, mesmo que ofereçam cardápio, na verdade, tem de ter flexibilida-
serviço de buffet, é improvável que este de para acompanhar a oferta das matérias-
aconteça todos os dias. Entretanto, a primas. É claro que para isso existem
demanda no horário de almoço aumenta a limites. Eles são ditados pelos próprios
ponto de fazer a taxa de chegada de clientes consumidores. Ocorre que o processo de
ultrapassar a capacidade de atendimento. compras precisa trabalhar em perfeita
Observa-se então, pontualmente, falta de sincronia com o planejamento da produção.
capacidade. O principal recurso limitante Isto porque vários gêneros alimentícios
observado neste caso foi a capacidade física apresentam alta sazonalidade em termos de
instalada, já que a mão-de-obra de atendi- oferta. Em certas épocas, determinados
mento é um recurso sobre o qual a empresa produtos desaparecem do mercado ou sua
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oferta diminui bastante, elevando seus restaurante serve diariamente marmitas que
preços drasticamente. O planejamento da são montadas por alguns funcionários
produção precisa, então, adaptar-se à capacitados para isso. Apesar de não ser
disponibilidade das matérias-primas no expressivo o volume diário de marmitas
momento de confeccionar o cardápio a ser atualmente servidas, julga-se que existe uma
produzido. Neste ramo, comprar bem é vital boa porcentagem de demanda reprimida
para a viabilidade do lucro. neste segmento. A idéia parece criativa.
A capacidade de racionalização e apren- Pretende-se criar um sistema do tipo “drive
dizagem da empresa é fortemente prejudica- trought”, similar ao que existe atualmente
da pela falta de informações, sejam essas em alguns bancos, no qual os clientes
internas ou externas. A empresa conhece poderiam entrar com o carro por uma
mal a si própria e ao seu meio ambiente. Os passagem, fazer o pedido, pagar e receber as
indicadores de eficiência interna de cada marmitas sem sair do carro. Tudo muito
recurso ou área não estão disponíveis porque rápido e com preços mais atrativos que
não se criou mecanismos para isso. Os aqueles praticados no restaurante.
dados não são colhidos e processados. Não Outra idéia é a de abrir um restaurante
se conhece bem o comportamento do mais sofisticado, com mais qualidade em
mercado, sejam fornecedores, clientes ou termos dos aspectos “tangíveis” (talheres,
concorrentes. Com isso, o processo de pratos, mesas, apresentação do ambiente e
gerenciamento usualmente se baseia em dos funcionários e menu mais requintado) e
informações incompletas a respeito de no atendimento pessoal, tendo como alvo
possíveis cursos de ação e suas possíveis um público de mais alta renda. A terceira
conseqüências. O processo de decisão é opção é de atacar o ramo de comida
caótico porque explora um número muito industrial, pois a cidade de São Carlos é um
limitado de alternativas, baseando-se muitas pólo de desenvolvimento tecnológico
vezes em regras empíricas ou na intuição. atrativo às novas indústrias. Esta estratégia
Do ponto de vista da competição pode-se seria a mais ambiciosa porque exigiria
dizer que a empresa incomoda o mercado muitos investimentos em equipamentos,
concorrente muito mais do que é incomoda- capacitação de funcionários e domínio das
da por ele. Na verdade, os proprietários não tecnologias mais sofisticadas de processa-
se preocupam com a concorrência. Existe a mento de alimentos.
crença de que a empresa sempre vai estar Apesar disso, não se identifica realmente,
um passo a frente, pois acredita-se que há nos empreendedores, a motivação para
competência para isto. Os concorrentes nenhuma dessas opções estratégicas. A
(considerando os que trabalham com o empresa tem ainda muitas pendências
sistema “por quilo”), em termos de qualida- internas como problemas com o armazena-
de de atendimento e opções de cardápio, se mento dos insumos, controle do estoque,
posicionam, realmente, num patamar abaixo programação da produção e treinamento de
e estão distribuídos em outras regiões da pessoal. Também não possui um sistema de
cidade. A concorrência é muito mais custeio, nem tampouco um programa para o
“espacial”. controle e garantia da qualidade. Os
Nas entrevistas realizadas, pôde-se ob- proprietários, envolvidos no stress do dia-a-
servar que os empreendedores têm em mente dia (além do ritmo acelerado, a presença
várias alternativas para o negócio no futuro. constante no caixa é obrigatória pois não se
Uma delas é aprimorar o fornecimento de criou um mecanismo seguro para a cobran-
marmitas, que já existe atualmente. O ça) e diante do desafio das mudanças
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A
pesar do estudo ter sido conduzido além de saber articular como esta pode ser
sobre uma única empresa do ramo obtida. Centrar as intenções estratégicas na
de alimentação, crê-se que os implementação de algumas best-pratices é
pontos levantados neste caso podem implicitamente abandonar o conceito central
representar a realidade de muitas empresas da estratégia em favor de receitas genéricas
similares. Justifica-se, desse modo, as suges- de sucesso competitivo.
tões adiante apresentadas como um meio de Em uma experiência investigativa,
advertir e conscientizar os empreendedores NYQUIST et al. (1986) reportam dados
para a necessidade das mudanças internas. sobre as interações empregados/consu-
O primeiro ponto a ser levantado é com midores dentro de três categorias de
relação a falta de controle financeiro. prestação de serviços: hotéis, restaurantes e
WHITNEY (1996) lembra que não conhecer transporte aéreo, serviços que representam
os custos significa não conhecer a real um alto nível de contato entre clien-
lucratividade dos clientes, produtos e te/fornecedor. Os resultados da pesquisa
serviços. Os restaurantes comerciais são revelaram que 74% de todas as dificuldades
empresas que na sua grande maioria não vividas pelos funcionários provinham de
dispõem de sistema de custeio ou mesmo expectativas, por parte dos clientes, que
mecanismo de apropriação de custos. Este excediam a capacidade de atendimento da
desconhecimento, além de abalar economi- empresa. O restante das dificuldades dos
camente a empresa, a compromete também funcionários tinham como fatores causado-
financeiramente (em termos de fluxo de res os incidentes por alguma falha no
caixa). O desconhecimento provoca desvios sistema de prestação do serviço.
de caixa para fins não centrais ou estratégi- As conclusões de NYQUIST et al. (1986)
cos, comprometendo as oportunidades mais podem ser importantes para a empresa em
promissoras e revelando por fim, o desvio questão. Dentro dos serviços, atenção
de foco do negócio. especial deve ser dada ao entendimento de
Com relação à atual estratégia do negócio como os consumidores formam suas
declarada pelos proprietários, PISANO & expectativas, como identificar estas
HAYES (1995) lembram que a adoção de expectativas e como tratar efetivamente com
programas para o incremento das operações as expectativas desmedidas. Os empregados
— como JIT, TQM ou outra qualquer ouvidos naquela pesquisa sentiam-se des-
designação com três letras — não é uma preparados para responder às solicitações
estratégia para se obter uma vantagem excessivas ou irracionais dos clientes. A
competitiva. Num meio ambiente competiti- empresa deve preparar o funcionário para
vo e turbulento como o de hoje, as compa- ser um competente comunicador. Para isso,
nhias precisam de uma estratégia que deve ensiná-lo a antecipar-se às solicitações
especifique o tipo de vantagem competitiva dos clientes, de modo que possam propor
a ser perseguida no seu ramo de mercado, alternativas adequadas a cada situação. A
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6. Conclusões
A
respeito da metodologia de o esclarecimento convenceu os entrevistados
investigação utilizada, há de se a responderem as perguntas com franqueza.
considerar que sempre existe o Muitos deles foram além do que foi
problema da distorção que se manifesta questionado, enriquecendo mais ainda o
desde a obtenção dos dados até a interpreta- processo de investigação.
ção final (THIOLLENT, 1983). Uma É preciso evidenciar que a abordagem de
dificuldade inicial experimentada nas investigação utilizada não foi a psicanalítica,
entrevistas com os funcionários foi o a qual se propõe a escrutinar com total
sentimento de desconfiança que alguns profundidade os padrões culturais e compre-
manifestaram sobre as possíveis conseqüên- ender detalhadamente as relações sociais e
cias da entrevista, isto é, em alguns casos de poder na organização (FISCHER, 1989).
observou-se o medo de serem punidos ao Apesar disso, não havia como não identifi-
exporem suas opiniões. Tentou-se então car aspectos relativos ao clima organizacio-
explicitar o caráter sigiloso da entrevista, nal permeado pelas satisfações e as insatis-
deixando claro que o objetivo era conhecer a fações das pessoas naquele dado momento e
realidade da empresa e que a chefia não teria em relação a determinados aspectos.
acesso ao conteúdo da pesquisa. Crê-se que Entretanto, o ponto de maior preocupação
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foi a fidelidade das respostas relativas ao é preciso haver controle financeiro, saber
esquema de trabalho em si. Para isso, quanto custa cada atividade.
utilizou-se o cruzamento dos dados, isto é, O potencial de crescimento da indústria
uma vez identificado certo padrão de de restaurantes no Brasil se mostra bastante
trabalho, este ponto era checado com outros promissor, dado os novos fatores geradores
entrevistados assim como pelas observações desta demanda (citados no item 2) e da
locais e análise das filmagens. Seguindo-se tendência de terceirização, por parte das
o esquema de intervenção levantado por indústrias, dos serviços de alimentação. É
MUCCHIELLI (1978), o entrevistador sem- um tipo de trabalho que oferece muitas
pre fazia uma pergunta para obter informa- oportunidades sociais e as pessoas com
ções suplementares. Insistia sobre um grande necessidade de socialização encon-
detalhe que lhe pareceu ter sido “esquecido” tram seu espaço. Poucos negócios oferecem
pelo entrevistado, mostrava que determinado mais desafios do que este. Porém, é um
aspecto não havia sido completamente trabalho duro e as dificuldades financeiras
examinado, orientava e solicitava mais podem causar muitas frustrações.
esforço em busca de sua memória. Em conformidade com MORGAN
Com relação ao negócio de serviços de (1996), pode-se afirmar que o sistema de
alimentação, pode-se dizer que ele é de fácil fornecimento da empresa estudada é robusto
acesso e de alto risco. É um tipo de negócio para um ambiente estável, mas muito frágil
que tem potencial para ser extremamente num ambiente de mudanças. Isto pode ser
lucrativo porém, não é certo que o lucro compreendido pelas condições do meio onde
ocorra. Os investidores inexperientes podem a empresa está inserida e pelas condições do
se enganar com facilidade. Conforme seu sistema de trabalho:
GOMES & BRUNSTEIN (1995) das cerca a) existe uma tarefa contínua a ser desem-
de 430.000 empresas nacionais que se penhada
lançaram no mercado em 1992, 50% já b) o ambiente tem se mostrado suficiente-
estavam fora de seu negócio antes do mente estável para assegurar que os
primeiro ano de atividades. Esta impressio- produtos/serviços sejam os apropriados;
nante rotação indica a falta de preparo para c) os produtos são padronizados;
as decisões estratégicas por parte dos d) a precisão é a meta;
empresários. O simples conhecimento e) os funcionários são submissos e fazem
técnico das operações não significa que se apenas o que se espera que façam.
conheça o negócio. Nos serviços de Juntamente com os hotéis, os restaurantes
alimentação, em que as barreiras competiti- são modernamente categorizados como
vas são pequenas (provavelmente o capital serviços de hospitalidade, dado as caracterís-
inicial seja a maior delas), muitas empresas ticas da interação pessoal (quase servil, sob
são levadas prematuramente à falência. O certo ponto de vista) entre clien-
operador pode ter uma noção equivocada te/fornecedor. É um serviço que não pode
sobre esse tipo de negócio já que a tecnolo- ser consumido sem a proximidade física
gia de processamento é de domínio comum, entre cliente e fornecedor. Segundo a
um know how tido como quase “doméstico”, taxionomia criada por SILVESTRO et al.
e não perceber que o gerenciamento de um (1992), os restaurantes são ambientes de
sistema produtivo exige um perfeito prestação de serviços de médio contato entre
casamento entre os processos de planeja- cliente e fornecedor. Não têm as mesmas
mento e controle da produção, produção, características dos serviços profissionais
compras e estocagem. Muito mais que isso, como, por exemplo, o serviço médico ou
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334 GESTÃO & PRODUÇÃO v.4, n.3, p. 321-334, dez. 1997
Abstract
Commercial self-service restaurants have arisen as a fast-food option well adapted to the
new necessities of the Brazilian population. They constitute an industry in growth all over the
country, and have evolved in terms of both supply and service. This paper analyses the
phenomenon of “eating out” and presents the competitive and operational strategy of the
“per kilo” self-service restaurants. From a study conducted in a branch enterprise, it
identifies and analyses the process characteristics present in the “per kilo” system,
suggesting internal changes in the form of management directions.