Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPÍTULO 2
NOÇÕES GERAIS DE SOBREVIVÊNCIA
2.1. DEFINIÇÃO
a. Aspecto Social
1) A Sobrevivência Individual
O indivíduo, quando percebe que está isolado e perdido, entra em pânico. Por
isso, torna-se primordial a manutenção da calma, que pode ser obtida aplicando-se a
regra básica “ESAON”. Outro fator importante é a solidão, que às vezes leva o indivíduo
ao desespero. Uma boa maneira de se evitar os efeitos da solidão é a prática de alguma
atividade, por mais banal que ela pareça. Caso o sobrevivente esteja sozinho, não não
deve perder as esperanças, deve ser paciente e ter fé nos seus conhecimentos.
2) A Sobrevivência em Grupo
O sobrevivência em grupo atenua em grande parte os problemas da solidão e
do desespero. Mas existem algumas regras que devem ser tomadas de imediato:
a) Mantenha a calma do grupo.
b) Aplique a regra básica “ESAON”.
c) Planeje as atividades e divida as equipes. Algumas equipes, dependendo
do efetivo ou da situação, poderão ou não acumular funções, bem como se incumbir de
novas tarefas que venham a surgir. Exemplos:
(1) Equipe da água, fogo e preparação de alimentos.
(2) Equipe de caça e pesca.
(3) Equipe de primeiros socorros.
(4) Equipe de navegação, segurança e construção de abrigos.
(5) Equipe de sinalização etc.
d) Mantenha a liderança do grupo. Evite a indecisão e sempre que possível
aprecie as sugestões de seus integrantes ou do mais experiente.
e) O moral, bem como a idéia firme de se alcançar o objetivo desejado,
devem ser mantidos.
b. Aspecto Situacional
Suponhamos que um grupo se encontre realizando uma sobrevivência, seja por
exercício, numa situação de evasão / operação ou por ter sido vítima de um desastre
aéreo. Para cada situação, existem particularidades:
1) Em exercício
O moral deve estar sempre elevado, pois o indivíduo tem a certeza de que
não haverá a desnutrição do corpo. Normalmente, a sobrevivência é realizada sem
deslocamentos. Em tal situação, o combatente deve se conscientizar do valor do exercício
e aproveitar ao máximo seus ensinamentos, bem como a aplicação do mesmo.
2) Em evasão / operação
A sua particularidade está no fato de os grupos serem reduzidos e estarem,
constantemente, em situação (sobressalto e tensão). Torna-se difícil manter a calma. A
maioria dos deslocamentos são noturnos, exceção feita no caso do ambiente de selva.
Caso o inimigo realize um policiamento ou uma perseguição eficazes, deve-se
evitar rios, vias férreas, estradas etc. Deve-se conservar consigo o uniforme e procurar se
identificar com a população local quanto aos seus hábitos e costumes. Deve-se
considerar que o inimigo sempre usa cães rastreadores. Pode-se despistá-los vadeando
um rio e / ou usando alho, pimenta do reino ou substância de cheiro muito ativo, que torne
o cão anosmático por algum tempo.
3) Em acidentes (aéreos)
a) Na terra
Deve-se aproveitar todo equipamento existente na aeronave, bem como a
própria aeronave como abrigo.
NÓS SÓ ADMITIMOS OS FORTES!
(SIEsp / AMAN – Vida na Selva e Técnicas Especiais – Edição 2007 Pag 37)
b) No mar
Utilizam-se os kits de sobrevivência existentes nas aeronaves, bem como
os coletes salva-vidas. Para proteção do sol, utilizam-se toldos, pomadas contra
queimaduras e chapéus.
Os sobreviventes devem alimentar-se com o que o meio oferece.
Improvisa-se anzóis (se não dispuser desse material) com grampos dos seus distintivos e
iscas com panos coloridos. Aplaca-se a sede colhendo água da chuva e provocando a
salivação (pode ser feita chupando um botão do uniforme).
Segue-se a direção geral leste - oeste, que é o azimute de fuga para o
litoral brasileiro (SFC). Para sinalizar, utilizam-se lanternas, espelhos, painéis ou
substâncias coloridas existentes nos kits de sobrevivência.
a. Abrigos
São construções preparadas pelo combatente, com meios naturais ou artificiais,
visando à sua proteção quanto às intempéries e aos animais.
Sua construção é sempre uma das primeiras providências.
Em princípio, deverá ser localizado em terreno elevado (evitando, em parte, os
mosquitos e as enchentes), em local próximo de água e de lenha (madeira).
Não deve ser construído em terreno de inclinação acentuada, debaixo de
árvores velhas e coqueiros ou em charcos, pântanos ou rios periódicos.
Devem-se melhorar as condições do abrigo construído, utilizando peças do seu
equipamento ou do próprio meio.
Exemplos mais comuns de tipos de abrigo:
- tapiri para 1, 2, 3 a 12 homens;
- rabo de jacu;
- rabo de mutum;
- rede de selva ou rede comum com cobertura; e
- abrigos improvisados com o equipamento do combatente.
c. Alimentação
Existem duas regras básicas no que se refere à alimentação:
- comer a cauda dos animais desconhecidos; e
- comer o broto das plantas que não sejam cabeludas, amargas e/ou leitosas.
4) Obtenção de Sal
Além da água do mar e das cinzas das árvores, pode-se obter o sal também a
partir do sangue dos animais e da moela das aves.
Embora de sabor levemente adocicado, o sangue, por meio de um dos seus
compostos, o plasma, componente do sangue que contém água, sais minerais, vitaminas
e outros que poderão ser usados como tempero. Não se espera que tenha gosto salgado
semelhante ao cloreto de sódio. Ele é importante como alimento, para repor os sais
minerais gastos pelo indivíduo numa sobrevivência.
A moela das aves, depois de lavada, cortada em pequenos pedaços e posta a
ferver repetidas vezes até secar, transforma-se em uma espécie de pasta com um leve
sabor de sal, podendo ser utilizada para tempero de alimentos.
Vale a pena lembrar que um sobrevivente necessita de sal, não só para
temperar e conservar os seus alimentos, mas, principalmente, para repor ao seu
organismo. Após um dia de jornada na selva, observa-se o uniforme que, assim que secar
mostrará nas mangas, costas e logo abaixo dos joelhos, grandes manchas brancas de sal,
oriundo do suor de seu corpo. Em sobrevivência, faz-se uma reabsorção desta substância.
Cuidado! A ingestão de sal em demasia é prejudicial e poderá causar
inchaço nos membros.
5) Preparação de Alimentos
Já se sabe que todo alimento vegetal desconhecido deverá ser cozido. O
alimento animal, por sua vez, deve antes ser preparado para, a seguir, ser levado ao fogo.
Não se come carne crua. As aves deverão ser despenadas e extraídas as suas vísceras.
Os animais de pequeno e médio portes deverão ter o couro extraído e, após eviscerá-los
e carneá-los, aproveitam-se as sobras para as jornadas futuras, moqueando-as. Os
peixes deverão ser escamados e extirpados. Aproveita-se tudo o que puder da caça e
deve-se ser paciente. È importante saber empregar as peças do equipamento individual
ou da aeronave como utensílios de cozinha.
d. Obtenção da Água
A água constitui uma das necessidades mais importantes para os seres vivos.
Pode-se viver até semanas sem alimentos, mas sem água vive-se muito pouco. Mesmo
nos climas frios, o corpo necessita, normalmente, de dois litros de água por dia, para
manter sua eficiência.
e. Obtenção do Fogo
Na sobrevivência, o fogo possui várias utilidades, tais como:
- aquecimento, secagem, sinalização e segurança;
- cocção de alimentos;
- purificação da água.
Obtém-se melhor efeito do fogo para aquecimento quando se constrói um
anteparo com pedras ou madeira, ou ainda, um círculo de pequenas fogueiras.
f. Orientação e Navegação
1) Orientar-se em uma área é saber qual a melhor direção a seguir.
Normalmente, a situação do sobrevivente se agrava por ele estar desorientado. Procura-
se conhecer a região para onde irá se deslocar, seja por intermédio de cartas, fotografias
aéreas ou mesmo informações de terceiros. O fato de o indivíduo portar consigo uma
bússola não significa que ele estará orientado. Vale a pena recordar alguns meios de
fortuna que auxiliarão o sobrevivente na orientação e na navegação:
- pelo sol;
Alguns procedimentos podem e devem ser adotados antes de uma viagem, com
vistas a minimizar as dificuldades decorrentes de uma situação de sobrevivência.
a. Ao Viajar de Avião
- estudar no mapa a distância a ser percorrida, o tempo de vôo da aeronave e
quais as escalas que fará;
- verificar o(s) tipo(s) de terreno que cruzará, os principais rios da região e
quais os recursos que ela poderá oferecer, levando consigo um mapa; e
- manter-se informado sobre saídas de emergência, kits de primeiros
socorros, salva-vidas, balsas, kits de sobrevivência, tipos de rádios existentes na
aeronave e onde se localiza o depósito de alimentos (refeições/lanches).
b. Ao Viajar de Carro
- preparar um kit de sobrevivência e de primeiros socorros;
- planejar a viagem e conservar um mapa consigo;
- levar alimentos não-perecíveis e água para os ocupantes do veículo, para
um período de, no mínimo, 24 horas; e
- caso seja radioamador ou PX, não esquecer o equipamento rádio.
d. O Kit de Sobrevivência
- deve ser simples e eficiente;
- muitas vezes, torna-se a única fonte de recursos;
- na seleção do material, prioriza-se a utilidade e a portabilidade;
- conduzi-lo sempre em situações que envolvam riscos: vôos, resgates,
marchas etc.; e
- um exemplo de kit: fósforos, “fire - stater magnesium”, isca para fogo, vela,
reservatórios para água, agulhas, sal, lanterna, bússola, purificador de água, material de
pesca, gilete, cordões diversos, espelho de sinalização, outros (cartuchos de caça etc.).