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EP DH Mod02 Unid 1 PDF
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Ministro da Educação
Mendonça Filho
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ESCOLA DO
PARLAMENTO
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
Unidade 1 | Direitos Humanos: sociedade, cultura e educação: tomada de posição frente aos projetos...
Introdução
Este curso propõe uma discussão sobre a construção de uma cultura de direitos humanos, a
partir de expressões da nossa realidade cotidiana.
Unidade 1 - Direitos humanos, sociedade e cultura: tomada de posição frente aos projetos
societários em disputa.
Unidade 4 - Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de forta-
lecimento da democracia participativa.
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MÓDULO 2 | Sociedade, cultura e educação
UNIDADE 1
Direitos humanos,
sociedade e cultura:
tomada de posição
frente aos projetos
societários em disputa
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Assim, tornam-se imprescindíveis ações no âmbito da educação para gerar mudanças de con-
cepções e atitudes, na perspectiva da construção de uma dinâmica e de uma estrutura social
que tenha como referência a cultura de direitos humanos.
Nesse sentido, o caminho escolhido para realizar esta tarefa desafiadora foi o de apreender as
expressões da questão social para compreender sua relação com o sistema social vigente que,
no âmbito deste texto, chamaremos de ordem burguesa, considerando algumas de suas deter-
minações. Entre estas, destacaremos aqui aquelas que se relacionam com a apropriação pri-
vada da produção de riquezas e na divulgação de interpretações sobre os fatos da vida social.
Os direitos humanos têm sido defendidos mundialmente, e de forma mais intensa a partir de
meados do século XX. No caso do Brasil, nas últimas três décadas, momento em que o termo
passou a ser veiculado por diversos meios e com diferentes perspectivas. Pessoas e grupos
utilizam o mesmo termo para dar sustentação a argumentos, muitas vezes, completamente
distintos: falam de pontos de vista diferentes e assumem argumentos diversos, embora tenham
como referência os “direitos humanos”.
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Vejamos algumas expressões reveladoras deste cenário amplo e difuso em que se encontra o
termo “direitos humanos”, em especial na sociedade brasileira:
A utilização do termo “direitos humanos” como nome ou parte do nome próprio de inúmeras e
diversas organizações da sociedade civil, organizações internacionais, grupos de estudos, pes-
quisas e extensão dentro das universidades, órgãos e seções estatais e do governo, institutos,
observatórios, organizações de caráter religioso, movimentos sociais, polícias, etc. São inúmeros
“centros”, “secretarias”, “comissões”, “fundações”, “fóruns”, “movimentos”, “comissões”, “divi-
sões”, “diretorias” de direitos humanos, espalhados pelo Brasil a fora.
A presença de disciplinas de direitos humanos – com carga horária mínima - em cursos formati-
vos das polícias militares dos Estados; como é o caso da polícia militar do Estado de São Paulo,
organização identificada como violenta e violadora de direitos humanos, que possui também
uma “Diretoria de Policiamento Comunitário e Direitos Humanos”.
Uma composição ampla e diversificada na participação em espaços que tratam da temática -,
por exemplo, no Fórum Mundial de Direitos Humanos, realizado em Brasília em dezembro de
2013, que contou com a participação de 9 mil pessoas de 74 países e cerca de 730 entidades
no comitê organizador; além de 414 atividades autogestionadas, isto é, de responsabilidade dos
idealizadores e não dos organizadores. Imaginem a quantidade de significados atribuídos ao
termo “direitos humanos”, uma vez que esses sujeitos se situam em perspectivas e instituições
diferentes. Cabe, ainda, destacar que esse Fórum não obteve a participação maciça dos movi-
mentos sociais brasileiros, que representam segmentos importantes na promoção e efetivação
dos direitos humanos.
Diante de tal quadro polissêmico há necessidade de reafirmar o significado histórico dos di-
reitos humanos e aprofundar a reflexão sobre a sua apropriação coletiva e as consequências
da vigência das diferentes perspectivas. Em primeiro lugar, vamos pensar o que é a negação
dos direitos humanos para buscar os contornos do que pode ou deveria ser o seu significado.
É comum o uso do termo “direitos humanos” com a intenção de, na verdade, apresentar uma
ideia que significa o oposto do que se quer defender. Nesses casos, ao invés de serem apostas e
defesas na perspectiva do combate às diversas formas de violações, o que encontramos é uma
afirmação de violações de direitos humanos. Vejamos alguns exemplos.
A forma mais simples e corriqueira de inversão do uso do termo “direitos humanos” é a sua
associação aos “direitos de bandidos”; ideia fortalecida pelo senso comum 1 que acredita que
“direitos humanos” aplicam-se apenas aos chamados “cidadãos de bem”. Essa defesa pode
ser exemplificada por expressões veiculadas no cotidiano, tais como: “Por que o pessoal dos
‘direitos humanos’ não fez alguma coisa pela família do PM morto pelos assaltantes?”; ou
“Onde estavam os ‘direitos humanos’ quando os bandidos mataram aquela família de
trabalhadores?”; ou ainda, “teve um arrastão no trânsito na hora do rush, mas ninguém dos
1 O “senso comum”, segundo Gramsci (1999, p. 118-19) é uma expressão ideológica, portanto ligado a um sistema de
crenças e valores que, tomados separadamente, aparentam uma visão fragmentada do real, sem qualquer coerência.
Porém, na totalidade, expressam a visão das forças dominantes nas relações sociais.
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‘direitos humanos’ falou sobre o caso”. Vejam alguns argumentos expressos nas imagens a
seguir:
A página da rede social Facebook, “Admiradores Rota”, possui aproximadamente cinco mil
curtidas; um de seus lemas é: “Direitos Humanos para polícia e para os cidadãos de bem!”.
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A concepção de direitos humanos expressa nas imagens acima pode ser chamada de reprodu-
tivista e/ ou conservadora, posto que reitera uma definição vinculada ao sistema de crenças
e valores vigentes e condizentes com determinadas relações de poder estabelecidas cultural-
mente. Desta forma, há uma despolitização do termo frente a uma definição representativa do
imaginário social que é pautada pela cultura do medo, por preconceitos, pela culpabilização
dos sujeitos envolvidos nos conflitos, pela exigência de penalidades e pela juducialização exer-
cida pela própria sociedade que, assim, dificulta o entendimento das leis vigentes.
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(...) Na medida em que o homem perde a capacidade de optar e vai sendo submeti-
do a prescrições alheias que o minimizam e as suas decisões já não são suas, porque
resulta de comandos estranhos, já não se integra. Acomoda-se, ajusta-se. O homem
integrado é o homem sujeito. A adaptação é assim um conceito passivo – a integra-
ção ou comunhão, ativa. Este aspecto passivo se revela no fato de que não seria o
homem capaz de alterar a realidade, pelo contrário, altera-se a si para adaptar-se.
A adaptação daria margem apenas a uma débil ação defensiva. Para defender-se, o
máximo que faz é adaptar-se. (FREIRE, 1983, P.42)
SAIBA MAIS
Vejamos o exemplo de uma situação exposta e comentada nas redes
sociais. A postagem realizada no Facebook (Página “Não feche nos-
sas escolas BS”) continha um vídeo do ocorrido, na integra, e trazia
a seguinte notícia:
“Denúncia: durante ato dos secundaristas na Baixada Santista, pro-
fessora é atropelada por motorista que desrespeita o bloqueio dos es-
tudantes e avança com o carro em direção aos estudantes, primeiro
derruba a bicicleta de um, na sequência acelera e sai atropelando
todos os estudantes que estavam na frente, e foge. Felizmente nenhu-
ma tragédia pior ocorreu por meio deste ato criminoso; os estudantes
não chegaram a ser machucados, somente as bicicletas destroçadas.
Porém, uma professora teve lesão no joelho e foi levada ao hospital.”
Esse cenário de violência tem relação direta com as reivindicações dos estudantes secundaris-
tas frente ao anúncio do fechamento de salas de aulas e de escolas inteiras pelo governo do
Estado de São Paulo no final de 2015. Cabe destacar que o direito à Educação, tema desses
debates, é matéria do artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente
ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profis-
sional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena
igualdade, em função do seu mérito.
No Brasil, a Educação foi reconhecida na Constituição Federal de 1988. Antes disso, o Estado
não tinha a obrigação formal de garanti-la com qualidade para toda população brasileira, o
ensino público era tratado como uma assistência, um tipo de favor àqueles que não podiam
pagar. Durante a Constituinte de 1988 as responsabilidades do Estado foram revistas e a pro-
moção da educação fundamental passou a ser seu dever. Segundo o artigo 25:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
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Segundo o jornalista Ruy Sposati, dos quase 1500 comentários realizados, a maior parte ig-
norava completamente a reivindicação dos estudantes e tratavam “essencialmente contra a
manifestação, contra os estudantes, contra os comunistas, e contra a vida da mulher atropela-
da”. Os comentários enalteciam a atitude do motorista e chegavam a, ironicamente, lamentar
o fato de ela não ter sido morta ou mais gente não ter sido atropelada. O jornalista destacou
algumas frases:
“Atropela ++++++”
“Espero que a vadia tenha morrido.”
“Parabéns ao motorista”
“ELE ATROPELOU FOI POUCO PEGADA UM CAMINHÃO GIGANTE E PASSAVA POR CIMA DE TODO MUNDO SEUS BOSTAS!!”
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PARA REFLETIR
Este é um exemplo bastante ilustrativo, pois traz um questionamento
essencial:
Por que esses internautas abrem mão da discussão prioritária, que
é a educação como direito, e revelam-se, nos comentários, irônica
ou diretamente com ferocidade agressiva contra aqueles que estão
reivindicando um direito que é de todos e de cada um?
Desse modo, cabe discutir a forma como a sociedade se estrutura e dinamiza, pois o modo
como à produção mundial se organiza traduz uma longa história de exploração do ser humano
pelo ser humano, com relações sociais em que alguns grupos humanos dominam e se utilizam
dos bens naturais e da produção da força de trabalho de outros grupos humanos. Essa realida-
de se manifestou através do escravismo, do feudalismo e, atualmente, do capitalismo. Portan-
to, há que se perguntar se essa exploração histórica do ser humano por outros seres humanos
é, de alguma forma, justificável.
Já que os seres humanos são inventores de sua própria história, porque o fazem de modo
tão desumano?
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Para os adeptos da visão conservadora, a natureza humana é egoísta, e tal visão se apoia na
ideia acima referida de que a produção de riqueza e de sobrevivência se fundamenta no indi-
víduo, e não na coletividade. Isso significa, a partir dessa visão, que não é possível superar a
sociabilidade presente no modelo de sociedade capitalista, já que homens e mulheres, essen-
cialmente individualistas e proprietários privados, não podem realizar nenhuma relação social
de superação desse modelo.
Mas o que fazer? Primeiramente, é necessário buscar, a todo o momento, questionar quais são
as reais necessidades humanas. Há que se considerar que as necessidades são elencadas pelos
diferentes grupos sociais de acordo com o significado de direitos humanos que defendem e,
por decorrência, estão vinculadas a determinados projetos societários.
2 Sobre este assunto, cabe retomar a aula inaugural do curso I, pela professora Ana Nemi
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Os projetos societários, segundo Netto (2006), são projetos de cunho coletivo, relacionados
à concepção de uma sociedade a ser construída, bem como a valores para justificá-la e meios
para implantá-la, que incorporam demandas e aspirações de acordo com as conjunturas histó-
ricas e políticas. De acordo com o autor,
os projetos societários que respondem aos interesses das classes trabalhadoras e su-
balternas sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar os projetos
das classes proprietárias e politicamente dominantes.
Essas condições desfavoráveis se manifestam, por exemplo, nas inúmeras concepções que o
próprio trabalhador endossa ao não problematizar as reais necessidades humanas. Desta for-
ma, muitas vezes, as camadas populares acabam por afirmar concepções e práticas que estão
vinculadas a projetos societários interessantes somente para as classes dominantes.
Nesse sentido, impõe-se a necessidade de reafirmar o significado histórico dos “direitos hu-
manos” e aprofundar a reflexão para a apropriação e construção coletiva de uma cultura que
tenha como referência o direito de todo ser humano à vida digna.
Cabe, portanto, romper com a dicotomia que tem sido estabelecida entre “defensores X con-
trários” aos direitos humanos, e compreender as muitas imbricações e possibilidades que po-
dem ser elaboradas na discussão sobre os conteúdos e sentidos dos direitos humanos.
Artigo 1º
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e cons-
ciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Artigo 2º
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração,
sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Não será tampouco feita qualquer distinção fundada na condição política, jurídica ou interna-
cional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território indepen-
dente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
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Artigo 3º
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Considerações finais
Conhecer, refletir e se reconhecer no debate acerca dos direitos humanos é condição indis-
pensável para assumir uma postura de partícipe na construção de uma cultura de promoção e
defesa da dignidade humana. Mas como vivenciar essa práxis (ação-reflexão-ação)?
Essa é uma construção processual, com tarefas cotidianas e perspectiva de longo prazo, pois
exige desconstruir entendimentos, posturas e ações, que emergem do senso comum, mas que
estão vinculadas ao modelo de sociedade vigente, que é “desumanizante”. Trata-se de um
modelo que é promotor de discriminação, desrespeito, desigualdade, exclusão, preconceito e
diversas outras expressões de violações à dignidade humana. Essa cultura a ser combatida, e
que precisa ser desconstruída, tem sido naturalizada e fortalecida a partir da atuação expres-
siva dos meios de comunicação de massa, e em especial das redes sociais. As disputas políticas
em torno dos significados dos direitos humanos, quando dogmatizadas ou pouco refletidas,
obscurecem o caráter histórico e social dos mesmos e dão margem ao obscurantismo, ao fun-
damentalismo, ao sexismo, e a diversas outras formas de justificativas para a violência contra
seres humanos.
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Referências bibliográficas
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Direitos Humanos (PNDH - 3) / Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
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