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CPI BANCOOP - 15ª Legislatura

19/10/2010 - 17ª reunião - Dr. José Carlos Blat

ATA DA DÉCIMA SÉTIMA REUNIÃO DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO


CONSTITUIDA PELO ATO Nº 13, DE 2010, COM A FINALIDADE DE INVESTIGAR
SUPOSTAS IRREGULARIDADES E FRAUDES PRATICADAS CONTRA MUTUÁRIOS DA
COOPERATIVA HABITACIONAL DOS BANCÁRIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO -
BANCOOP, E PROPOR SOLUÇÕES PARA O CASO.

Aos dezenove dias do mês de outubro de dois mil e dez, às onze horas, inicialmente
no Plenário "Dom Pedro I" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,
realizou-se a Décima Sétima Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito
constituída pelo ato nº 13, de 2010, com a finalidade de "investigar supostas
irregularidades e fraudes praticadas contra cerca de três mil mutuários da
Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo - BANCOOP, e
propor soluções para o caso", da Quarta Sessão Legislativa, da Décima Sexta
Legislatura, sob a presidência do Deputado Samuel Moreira. Presentes os Senhores
Deputados Bruno Covas, Chico Sardelli, Roberto Morais, Vanderlei Siraque, Vicente
Cândido (efetivos) e Celso Giglio (substituto). Presente o Senhor Deputado Antonio
Mentor que integra este Colegiado na qualidade de membro substituto. Presentes,
também, durante o decorrer da reunião, os Senhores Deputados Estevam Galvão e
Ricardo Montoro. Ausente o Senhor Deputado Waldir Agnello. Havendo número
regimental, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou à
secretária a leitura da ata da reunião anterior, que foi dispensada a pedidos e
considerada aprovada. O Senhor Presidente indagou sobre a presença dos
convocados a depor. Foi informado do não comparecimento do Senhor João Vaccari
Neto e da presença do Senhor José Carlos Blat, Promotor de Justiça, a quem
convidou para tomar assento à mesa. Pela ordem, o Senhor Deputado Bruno Covas,
tendo em vista o grande número de pessoas presentes à reunião, propôs a
transferência para um plenário maior, que pudesse acomodá-los. Aceita a proposta,
a reunião foi suspensa e reiniciada no Auditório "Teotônio Vilela". Dando sequência
aos trabalhos, o Senhor Presidente convidou o Senhor Promotor de Justiça para
tomar assento à mesa dos trabalhos. Pela ordem, o Deputado Antonio Mentor
indagou sobre a tomada de compromisso. O Senhor Presidente informou que o Dr.
José Carlos Blat não comparecera na condição de testemunha, uma vez que é o
responsável pelo inquérito em tramitação na justiça. Pela ordem, o Deputado
Vanderlei Siraque solicitou que o Procurador se manifestasse sobre a questão. O Dr.
Carlos Dutra informou ter baseado suas conclusões no artigo 3°, inciso II, da Lei
11.124, de 10 de abril de 2002, que disciplina a atuação das Comissões
Parlamentares de Inquérito e afirma que a Comissão poderá "II - tomar
depoimentos, sob compromisso se assim entender necessário a Comissão;" e no
artigo 34-B, § 2º, ao final, do Regimento Interno. Indagado pelo Deputado
Vanderlei Siraque se o Dr. José Carlos Blat figuraria como parte, réu ou
testemunha, o Dr. Carlos Dutra informou que figura como autoridade, vem à CPI na
condição de Promotor de Justiça que oficia no inquérito policial e, portanto, a CPI
pode ouvi-lo na forma prevista ao final do § 2º, do artigo 34-B do Regimento
Interno: "Artigo 34-B A Comissão Parlamentar de Inquérito poderá, observada a
legislação específica: ... II - determinar diligências, ouvir indiciados, inquirir
testemunhas sob compromisso, ... tomar depoimentos e requisitar os serviços de
quaisquer autoridades, inclusive policiais;" Por esses motivos, pode a CPI dispensar
o depoente de prestar compromisso, se assim entender conveniente. O Senhor
Presidente colocou em votação a questão da dispensa do compromisso, prevista no
artigo 3° da Lei 11.124, de 10 de abril de 2002. Em votação nominal, foi aprovado
que o Promotor de Justiça fizesse suas declarações sem prestar compromisso, tendo
o Deputado Vanderlei Siraque se manifestado contrariamente, com abstenção do
Deputado Vicente Cândido. Em sua declaração, o Dr. José Carlos Blat apresentou
uma síntese da denúncia, que, de acordo com ele, contém indícios e materialidade
suficientes para dar prosseguimento às investigações na esfera judiciária. Informou
ter apresentado denúncia junto à 5ª Vara Criminal da Capital, contra vários
dirigentes da Bancoop. Após o seu depoimento, por solicitação dos Senhores
Deputados, o Dr. José Carlos Blat comprometeu-se a encaminhar a esta CPI cópia
da denúncia apresentada. O Senhor Presidente passou a palavra aos Deputados
presentes. Apresentaram questões os Senhores Deputados Antonio Mentor,
Vanderlei Siraque, Vicente Cândido, Ricardo Montoro e Chico Sardelli. Nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e deu por
encerrados os trabalhos. A presente reunião foi gravada pelo serviço de Audiofonia
e após transcrição fará parte integrante desta Ata, que eu Fátima Mônica Bragante
Dinardi, Agente Técnico Legislativo, lavrei e assino após sua Excelência. Aprovada
em reunião de 25/10/2010.

Deputado Samuel Moreira

Presidente
Fátima Mônica Bragante Dinardi
Secretária

19/10/2010 20h20 Promotor denuncia dirigentes e ex-dirigentes da Bancoop

Redação - Marcos Luiz Fernandes e Vera Boldrini

Relator, deputado Bruno Covas


O promotor de Justiça José Carlos Blat ofereceu nesta terça-feira, 19/10, denúncia à 5ª
Vara Criminal da capital contra João Vaccari Neto, ex-presidente da Cooperativa dos
Bancários do Estado de São Paulo (Bancoop), e os dirigentes e ex-dirigentes da
cooperativa Ana Maria Érnica, Tomás Edson Botelho Fraga, Letícia Antonio, Henir
Rodrigues de Oliveira e Helena Conceição Pereira. A denúncia trata dos crimes de
gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A informação foi dada por Blat durante reunião da CPI da Bancoop, criada pela
Assembleia Legislativa para apurar supostas irregularidades e fraudes que teriam sido
praticadas pela entidade contra cooperados adquirentes de imóveis.
Segundo Blat, a partir da proposta de ação penal apresentada pelo Ministério Público, o
juiz deverá ouvir a defesa preliminar dos acusados antes de decidir se acata a denúncia.
O promotor fez aos parlamentares um resumo da apuração, que, de acordo com ele,
contém indícios e materialidade suficientes para dar prosseguimento às investigações na
esfera judiciária. "A cooperativa acabou servindo a um pequeno grupo criminosos, e
não aos seus milhares de cooperados. A falta de recursos da Bancoop se deve única e
exclusivamente aos desvios fraudulentos", disse Blat. Ele disse acreditar que não há
possibilidade de reverter esse prejuízo.
José Carlos Blat disse que as investigações apontaram até mesmo o uso de recursos da
cooperativa, da ordem de R$ 100 mil, para o pagamento de despesas para que pessoas
assistissem ao Grande Prêmio de Fórmula-1, em São Paulo, em 2004 e 2005.
Ele também questionou o fato de, a partir de 2003, a Bancoop ter encerrado as contas
individuais de cada empreendimento e ter aberto duas contas pool, concentrando as
movimentações financeiras. "Isso impedia o acesso dos cooperados à movimentação dos
recursos", disse Blat. Segundo o promotor, o Laboratório de Tecnologia contra a
Lavagem de Dinheiro detectou um pico de movimentação financeira nessas contas da
ordem de R$ 40 milhões em novembro de 2004.
Empresas contratadas pela Bancoop teriam dado margem a negócios que Blat definiu
como escusos. Ele afirmou que a empreiteira Germany recebeu por trabalhos para a
cooperativa cerca de R$ 80 milhões, mas a análise da movimentação da empresa revela
que ela teria movimentado não mais que 35 milhões. Isso, segundo o promotor, indica a
criação de caixa dois. O mesmo procedimento foi apontado por Blat na contratação da
empresa Mirante Artefatos de Concreto, contratada pela Bancoop para fornecer blocos.
"O fato de a Fator Empreendimentos ter comprado um terreno por R$ 221 mil em 2001
e o revendido à Bancoop em 2002 por R$ 1,75 milhão também demonstra a cooptação
de empresas interessadas", concluiu Blat.
A investigação do Ministério Público começou em 2007, a partir informações prestadas
por um morador do empreendimento Torres da Mooca. Blat revelou que, a partir desse
período, o inquérito policial somou mais de 25 volumes.

Questionamentos dos deputados

Sendo esta a penúltima sessão da CPI, os deputados decidiram aproveitar a presença do


depoente e resumir o que foi dito por ele ao longo da sessão. Blat explicou que o
relatório do inquérito tem cerca de 40 páginas mais os anexos, e que poderá ser
acessado via eletrônica quando estiver pronto. Ele disse que a promotoria ainda se
encontra no segundo nível de aprofundamento, mas talvez tenham que ir até o terceiro
para considerar a análise completa. Para isso a promotoria de que ter a tranquilidade
suficientemente assegurada para poderem dar sequência à analise das informações que
têm nas mãos.
À pergunta de Chico Sardelli (PV) sobre qual o número efetivo de cooperados que se
consideram lesados, foi informado que são 1.132 as vítimas, e 14 os empreendimentos
inacabados.
Ricardo Montoro (PSDB) perguntou a quanto monta a dívida da Bancoop. Segundo
Blat, a cooperativa deve R$ 100 milhões, parecendo haver ainda um desvio de mais R$
70 milhões. Ele também disse que as contas da Bancoop nada apresentavam de suspeito
até 1999, quando a contabilidade era separada por empreendimento. Mas, a partir de
2003, a contabilidade foi unificada numa conta pool, o que dificulta o rastreamento e,
consequentemente, também dificulta o entendimento das contas, que passaram a ser
coordenadas desde então pelos atuais diretores da Bancoop. O parlamentar considera
muito grave a suspeição que pesaria sobre os diretores, o que levaria também ao
rastreamento de suas contas individuais.
Montoro ainda quis saber se há possibilidade de os cooperados conseguirem de volta o
capital empregado ou seus imóveis, mas foi informado que a cooperativa não pagou os
empreiteiros. E sem pagá-los, nada será construído nos empreendimentos, cujas obras se
encontram paralisadas, impossibilitando sua entrega aos donos.
O deputado Antonio Mentor (PT) perguntou se a promotoria chegou a convidar algum
funcionário da Bancoop para depor e ouviu que sim. Blat informou também que, a partir
de março deste ano, a Justiça determinou que integrantes da cooperativa seriam ouvidos
segundo uma estratégia de investigação que previa essas oitivas, sob condições jurídicas
de segurança de todos os depoentes. Antonio Mentor disse esperar que as denúncias do
promotor estejam amparadas em dados e provas concretas, porque sem provas, ninguém
pode ser incriminado.
Vicente Cândido (PT) interpreta que o relatório de Blat pode não conter informações
que pudessem incriminar João Vaccari Neto. Por isso, reitera a posição de Mentor no
sentido de esperar que o relatório de Blat realmente contenha provas contundentes de
tudo o que aqui declarou, de forma que a veracidade das suas informações fiquem
comprovadas.
Vanderlei Siraque (PT) informou que a cooperativa busca fazer um acordo com os
fornecedores, que até agora não foram pagos e com os cooperados, para que estes
possam receber seus imóveis com suas escrituras. O deputado também declarou que
"não basta ser honesto, é necessário parecer honesto", observação válida para o caso do
relatório da promotoria. E o parlamentar também espera que a posição registrada no
relatório não sofra nenhuma influência política, uma vez que os diretores da Bancoop
são filiados do PT, o país está às vésperas do segundo turno das eleições para a
Presidência da República
Segundo Siraque, é importante que todas as acusações estejam baseadas em provas
concretas, irrecusáveis. "Essas provas, que constam do relatório de Blat, ninguém senão
ele próprio chegou a ver até agora".
Como está prevista apenas mais uma reunião da CPI, a preocupação de Vicente
Cândido é conseguir uma chance de discutir esse documento, ao qual, até agora, apenas
Blat teve acesso. Além disso, o deputado petista considera suspeito o fato de apenas
agora, quase no término do prazo da CPI, a denúncia ter sido oferecida.
De acordo com Ricardo Montoro, entretanto, os 28 depoentes que foram ouvidos pela
CPI também ficaram de mandar documentos que comprovam suas declarações, mas
estes não foram mandados até agora, apesar da intenção de examiná-los antes da
conclusão do relatório final, a ser concluído até a próxima terça-feira.

A CPI da Bancoop é presidida pelo deputado Samuel Moreira (PSDB). Além dele,
participaram da reunião Celso Giglio, Bruno Covas e Ricardo Montoro, os três do
PSDB, os deputados petistas Vicente Cândido, Vanderlei Siraque e Antonio Mentor,
Roberto Morais (PPS), Estevam Galvão (DEM) e Chico Sardelli (PV).
Promotor de Justiça José Carlos Blat

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