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INFORMATIVO esquematizado

Informativo 513 – STJ


Márcio André Lopes Cavalcante
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados de menor relevância para concursos
públicos ou aqueles decididos com base em peculiaridades do caso concreto. Caso seja de seu interesse
conferi-los, os acórdãos excluídos foram os seguintes: REsp 1.239.203-PR; AREsp 199.089-PE; AgRg no REsp
1.229.579-MG.

DIREITO ADMINISTRATIVO

Termo inicial do mandado de segurança no caso de supressão de verbas

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo?
Para o STJ, é preciso fazer a seguinte distinção:
• Supressão: ato ÚNICO (prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado tomou
ciência do ato).
• Redução: prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo para o MS renova-se mês a mês).
Comentários Imagine a seguinte situação hipotética:
Determinado servidor recebia há anos a gratificação “X”.
A Administração Pública entendeu que esta gratificação era indevida e deixou de pagá-la a
partir do mês de janeiro de 2010.
Desse modo, em janeiro, o servidor não mais recebeu a gratificação. Nos meses que se
seguiram, ele continuou sem a verba em seu contracheque.
Em outubro de 2010, o advogado do servidor impetrou um mandado de segurança contra o
administrador público, alegando que a retirada da gratificação foi um ato ilegal e
requerendo a sua reinclusão.
A Procuradoria do Estado ingressou no feito, apresentando contestação (art. 7º, I, da Lei n.
12.016/2009) e alegando, como preliminar, que houve decadência do MS porque este foi
proposto mais de 120 dias após a cessação do pagamento da verba (o que ocorreu em
janeiro de 2010).
O autor do MS já havia alegado, em sua petição inicial, que não havia decadência porque,
no caso, haveria uma prestação de trato sucessivo, de forma que o ato coator se renovaria
todos os meses. Em outras palavras, para o autor, a cada mês que a Administração deixou
de pagar a verba, reiniciou-se o prazo para impetrar mandado de segurança.

Qual das duas teses é acolhida pela jurisprudência do STJ, a do autor ou da Fazenda Pública?
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R: A tese da Fazenda Pública. Assim, houve realmente decadência no caso exposto acima.
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Vamos explicar melhor a questão.

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PRAZO PARA IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA
A Lei n. 12.016/2009 prevê um prazo para o ajuizamento do MS:
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e
vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Prazo do MS: 120 dias.


Natureza deste prazo:
A posição majoritária afirma que se trata de prazo decadencial, apesar de alguns autores
defenderem que se cuida de prazo sui generis (Leonardo da Cunha).
Sendo prazo decadencial, ele não pode ser suspenso ou interrompido.
Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo
para o mandado de segurança.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ afirma que, se o marco final do prazo do MS terminar em
sábado, domingo ou feriado, ele deverá ser prorrogado para o primeiro dia útil seguinte:
(...) 4. O termo inicial para a impetração é a data da ciência do ato, mas a contagem só tem
início no primeiro dia útil seguinte e, caso o termo final recaia em feriado forense ou dia não
útil (sábado ou domingo), prorroga-se automaticamente o término do prazo para o primeiro
dia útil que se seguir. A observância do prazo inicial e final para o exercício do direito à ação
de mandado de segurança não deve se afastar do que dispõe o artigo 184 do CPC (...)
(MS 14.828/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 08/09/2010).

A previsão de um prazo para o MS é constitucional?


SIM. Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração
de mandado de segurança.

Termo inicial do prazo:


O prazo para impetrar o MS inicia-se na data em que o prejudicado toma ciência do ato
coator praticado.
(...) Considerou, ainda, que a ofensa ao direito líquido e certo não se conta a partir da
expedição da resolução (ato impugnado no mandado de segurança), mas sim do momento
em que produzir efeitos. Tal entendimento harmoniza-se com a jurisprudência do STJ de
que o prazo decadencial no mandado de segurança tem início na data em que o interessado
teve ciência inequívoca do ato atacado. (...)
REsp 1.088.620-SP, Rel. para o acórdão Min. Castro Meira, julgado em 18/11/2008.

O ato que SUPRIME ou REDUZ vantagem de servidor é ato único ou prestação de trato sucessivo?
Quando começa o prazo para o MS no caso de a Administração Pública suprimir ou reduzir
determinada vantagem paga ao servidor?

Para o STJ é preciso fazer a seguinte distinção:

Ato que SUPRIME vantagem Ato que REDUZ vantagem


Ato único. Prestação de trato sucessivo.
O prazo para o MS é contado da data em O prazo para o MS renova-se mês a mês
que o prejudicado toma ciência do ato. (periodicamente).
O ato administrativo que suprime A redução de vencimentos sofrida por
vantagem de servidor é ato único e de servidores denota prestação de trato
efeitos permanentes, iniciando-se o prazo sucessivo, em que o prazo decadencial
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decadencial para MS no dia em que ele renova-se mês a mês.


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tem ciência da supressão.

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(...) 2. A Terceira Seção deste Superior (...) Esta Corte vem definindo que quando
Tribunal de Justiça firmou entendimento houver redução, e não supressão do valor
no sentido de que a supressão de de vantagem, fica configurada a prestação
vantagem pecuniária devida a servidor de trato sucessivo, que se renova mês a
público caracteriza-se como ato comissivo, mês, pois não equivale à negação do
único e de efeitos permanentes, não próprio fundo de direito, não havendo que
havendo, pois, que se falar em prestações se falar, portanto, em decadência do
de trato sucessivo. mandado de segurança. (...)
(AgRg no Ag 909.400/PA, Rel. Min. Maria (AgRg no REsp 1110192/CE, Rel. Min. Celso
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), Sexta
julgado em 15/04/2010) Turma, julgado em 04/05/2010)

Em síntese:
 Redução de vantagem: prestação de TRATO SUCESSIVO (prazo para o MS se renova).
 Supressão de vantagem: ato ÚNICO (prazo para o MS não se renova).

Processo Segunda Turma. RMS 34.363-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/12/2012.

DIREITO CIVIL
Nome da pessoa natural

Admite-se, excepcional e motivadamente, após apreciação judicial, a retificação de registro


civil para inclusão de patronímico paterno no final do nome do filho, ainda que em ordem
diversa daquela constante do nome do pai, se comprovado que tal retificação se faz necessária
para corresponder, adequadamente, à forma como aquele e sua família são conhecidos no
meio social em que vivem.
Comentários A situação concreta foi a seguinte:
“Francisco Célio Campos Gonçalves” ajuizou ação de retificação de registro civil com o
objetivo de acrescentar, ao final de seu nome, o patronímico (sobrenome) “Benício” de seu
pai, por meio do qual o autor já é conhecido na sociedade. Desse modo, pretendia que seu
nome fosse alterado para “Francisco Célio Campos Gonçalves Benício”.
A sentença foi julgada procedente, autorizando a retificação como pedida.

O Ministério Público recorreu, alegando que o nome “Benício” deveria ficar antes de
“Gonçalves”. Para o MP, o nome do autor deveria ficar assim: “Francisco Célio Campos
Benício Gonçalves”. O Parquet justificou sua posição pelo fato do sobrenome do pai do
autor ser “Benício Gonçalves” e não “Gonçalves Benício”.
O autor, por sua vez, argumentou que sua família e ele próprio são conhecidos socialmente
pelo patronímico “Benício”, razão pela qual este sobrenome deveria ficar por último.
Após passar pelo TJ, a questão chegou até o STJ por meio de recurso especial.

O STJ decidiu que a alteração pretendida era possível. Vejamos os principais argumentos:
A regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são
admitidas exceções. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil. Uma das
situações em que é possível alterar o nome é no caso previsto no art. 57 da Lei de Registros
Públicos (Lei n. 6.015/73):
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após
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audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o
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registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a


hipótese do art. 110 desta Lei.
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Trata-se de processo judicial de jurisdição voluntária, sendo o pedido decidido por sentença.
Vale ressaltar que é obrigatória a oitiva do Ministério Público (arts. 57 e 109 da LRP).

Exemplos de alteração do nome com base nesse art. 57:


- Alterar o prenome caso exponha seu portador ao ridículo;
- Retificar o patronímico constante do registro para obter a nacionalidade de outro país
(o STJ já reconheceu o direito de suprimir incorreções na grafia do patronímico para que
a pessoa pudesse obter a cidadania italiana. REsp 1138103/PR)
- Alterar o nome em virtude de cirurgia de retificação de sexo.

Segundo o STJ, a inclusão do patronímico “Benício” ao nome do autor enquadra-se nesta


hipótese e está motivada pela forma como ele é conhecido no meio social em que vive.
Para o Tribunal, salvo nos casos de sobrenomes compostos (exs: Pontes de Miranda, Villa
Lobos etc.), é possível que haja a inversão da ordem dos sobrenomes dos filhos em relação
aos pais, desde que haja um motivo justificado para isso. No caso concreto, a justificativa
está no fato de que o sobrenome socialmente conhecido da família é “Benício”, sendo
explicado porque deve ficar ao final.

A Lei de Registros Públicos não exige que os sobrenomes obedeçam a uma determinada
ordem no que tange aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do
indivíduo, seja por ocasião da sua posterior retificação. Também não proíbe que a ordem do
sobrenome dos filhos seja distinta daquela presente no sobrenome dos pais.
Processo Terceira Turma. REsp 1.323.677-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.

Prazo prescricional para cobrança de anuidades pela OAB


Após a entrada em vigor do CC/2002, é de 5 (CINCO) anos o prazo de
prescrição da pretensão de cobrança de anuidades pela OAB.
Comentários O art. 46, parágrafo único, da Lei n. 8.906/1994 (Estatuto da OAB) prevê que a certidão
exarada pelo Conselho da OAB de que o advogado está em débito com a anuidade constitui
título executivo extrajudicial:
Art. 46. Compete à OAB fixar e cobrar, de seus inscritos, contribuições, preços de serviços e
multas.
Parágrafo único. Constitui título executivo extrajudicial a certidão passada pela diretoria do
Conselho competente, relativa a crédito previsto neste artigo.

Assim, quando a OAB executa o advogado cobrando a anuidade em atraso, o título que
embasa a referida cobrança é um instrumento particular que veicula dívida líquida.

Por essa razão, o prazo prescricional para esta execução é de 5 anos, conforme prevê o art.
206, § 5º, I, do CC/2002:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;

Antes do CC/2002, não havia norma específica regulando a prescrição da referida


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pretensão, motivo pelo qual se aplicava o prazo geral de 20 anos previsto no CC/1916. Com
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o CC/2002 este prazo passou a ser de 5 anos (art. 206, § 5º, I).
Processo Segunda Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.267.721-PR, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 11/12/2012.

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Cláusula penal moratória cumulada com indenização por lucros cessantes
A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento nem para
substituir o adimplemento. Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora
não interfere com a responsabilidade civil. Logo, não há óbice a que se exija a cláusula penal
moratória juntamente com o valor referente aos lucros cessantes.

No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade de


requerer, cumulativamente:
a) o cumprimento da obrigação;
b) a multa contratualmente estipulada; e ainda
c) indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Exemplo: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem


direito a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal
moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não
fruição do imóvel durante o período da mora.
Comentários Cláusula penal
- É uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

Outras denominações
Também é chamada de multa convencional, multa contratual ou pena convencional.

Natureza jurídica
A cláusula penal é uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento
separado.

Finalidades da cláusula penal


A cláusula penal possui duas finalidades:
1. Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento
culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor
não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para
evitar as dificuldades que o credor teria no momento de provar o valor do prejuízo
sofrido com a inadimplência do contrato.

2. Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a


obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a
multa convencional.

Espécies de cláusula penal


a) MORATÓRIA b) COMPENSATÓRIA
(compulsória): (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor de Estipulada para servir como indenização no
incorrer em mora ou para evitar que deixe caso de total inadimplemento da obrigação
de cumprir determinada cláusula especial principal (adimplemento absoluto).
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da obrigação principal.
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É a cominação contratual de uma multa


para o caso de mora.

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Funciona como punição pelo retardamento Funciona como uma prefixação das perdas
no cumprimento da obrigação ou pelo e danos.
inadimplemento de determinada cláusula.
Ex1: em uma promessa de compra e venda Ex: em um contrato para que um cantor
de um apartamento, é estipulada multa faça um show no réveillon, é estipulada
para o caso de atraso na entrega. uma multa de 100 mil reais caso ele não se
Ex2: multa para o caso do produtor de soja apresente.
fornecer uma safra de qualidade inferior ao
tipo “X”.
A cláusula penal moratória é cumulativa, A cláusula penal compensatória não é
ou seja, o credor poderá exigir o cumulativa. Assim, haverá uma alternativa
cumprimento da obrigação principal e mais para o credor: exigir o cumprimento da
o valor da cláusula penal (poderá exigir a obrigação principal ou apenas o valor da
substituição da soja inferior e mais o valor cláusula penal.
da cláusula penal).
Art. 411. Quando se estipular a cláusula Art. 410. Quando se estipular a cláusula
penal para o caso de mora, ou em penal para o caso de total inadimplemento
segurança especial de outra cláusula da obrigação, esta converter-se-á em
determinada, terá o credor o arbítrio de alternativa a benefício do credor.
exigir a satisfação da pena cominada,
juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

Multa moratória = obrigação principal + multa


Multa compensatória = obrigação principal ou multa

Em um contrato no qual foi estipulada uma cláusula penal moratória, caso haja a mora, é
possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais os lucros cessantes que provar
ter sofrido?
SIM. A cláusula penal moratória não é estipulada para compensar o inadimplemento nem
para substituir o adimplemento.
Assim, a cominação contratual de uma multa para o caso de mora não interfere com a
responsabilidade civil correlata que já deflui naturalmente do próprio sistema.
Logo, não há óbice a que se exija a cláusula penal moratória juntamente com o valor
referente aos lucros cessantes.

No caso de mora, existindo cláusula penal moratória, concede-se ao credor a faculdade de


requerer, cumulativamente:
a) o cumprimento da obrigação;
b) a multa contratualmente estipulada; e ainda
c) indenização correspondente às perdas e danos decorrentes da mora.

Ex: o promitente comprador, no caso de atraso na entrega do imóvel adquirido, tem direito
a exigir, além do cumprimento da obrigação e do pagamento do valor da cláusula penal
moratória prevista no contrato, a indenização correspondente aos lucros cessantes pela não
fruição do imóvel durante o período da mora.
Processo Terceira Turma. REsp 1.355.554-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 6/12/2012.
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Responsabilidade civil (estado de necessidade)

O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC. No
entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima quando
esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo (art. 929).
Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá indenizar
a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou (art. 930).
Vale ressaltar, no entanto, que o o valor desta indenização deverá ser fixado com
proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores abusivos (desproporcionais) para
alguém que estava agindo de forma lícita.
Comentários O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do CC:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias
o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo.

No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a vítima
quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo. É o que
preconiza o art. 929 do CC:
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem
culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade, deverá
indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo que pagou:
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.

Repare que se trata de algo bem interessante: o autor do dano agiu de forma LÍCITA, uma
vez que estava sob o manto do estado de necessidade, no entanto, mesmo assim tem o
dever de indenizar. E qual é o fundamento jurídico para este dever?
O Min. Sanseverino (no Resp 1.278.627-SC) explica que o fundamento para essa opção
legislativa é a equidade, aplicando-se a chamada teoria do sacrifício, bem desenvolvida pelo
doutrinador português J.J. Gomes Canotilho (O problema da responsabilidade do estado por
actos lícitos. Coimbra: Almedina, 1974).

Pela teoria do sacrifício, diante de uma colisão entre os direitos da vítima e os do autor do
dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois comportamentos são lícitos), o
ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos interesses em conflito (o da
vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).

Vale ressaltar, no entanto, que o estado de necessidade, embora não exclua o dever de
indenizar, fundamenta a fixação das indenizações segundo o critério da proporcionalidade.
Em outras palavras, a pessoa que agiu em estado de necessidade deverá indenizar caso
tenha causado prejuízo à vítima que não deu causa ao perigo. No entanto, o valor desta
indenização deverá ser fixado com proporcionalidade, evitando-se a imposição de valores
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abusivos (desproporcionais) para alguém que estava agindo de forma lícita.


Processo Terceira Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

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Responsabilidade civil (dano moral)
Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará configurado o dano
moral, não sendo necessária a comprovação de dor e sofrimento.
Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
Comentários Segundo a doutrina e a jurisprudência do STJ, quando se verifica a violação de um direito
fundamental, assim eleito pela CF/88, também haverá, como consequência, uma afronta à
dignidade da pessoa humana.
Haverá, nestes casos, dano moral e a sua compensação independe da demonstração de dor
da vítima. Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
Processo Terceira Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Responsabilidade civil (Teoria da perda de uma chance)


A teoria da perda pode ser aplicada no caso de erro médico.
Segundo decidiu a 3ª Turma do STJ, a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como
critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em
que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a
falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico
Comentários O que é a teoria da perda de uma chance?
Trata-se de teoria inspirada na doutrina francesa (perte d’une chance).
Segundo esta teoria, se alguém, praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca
uma oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pelos danos causados.
Em outras palavras, o autor do ato ilícito, com a sua conduta, faz com que a vítima perca a
oportunidade de obter uma situação futura melhor.
Com base nesta teoria, indeniza-se não o dano causado, mas sim a chance perdida.

A teoria da perda de uma chance é adotada no Brasil?


SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e
CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano
potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável
(REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009).

Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione
ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada.
(AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011)

O dano resultante da aplicação da teoria da perda pode ser classificado como dano
emergente ou como lucros cessantes?
Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da perda de uma chance visa à
responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros
cessantes, mas de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da
possibilidade de se buscar posição mais vantajosa que muito provavelmente se alcançaria,
não fosse o ato ilícito praticado.
(REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 16/11/2010)

Exemplo de aplicação desta teoria:


Aplica-se a teoria da perda de uma chance ao caso de candidato a Vereador que deixa de
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ser eleito por reduzida diferença de oito votos após atingido por notícia falsa publicada por
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jornal, resultando, por isso, a obrigação de indenizar.


(REsp 821.004/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 19/08/2010)
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O simples fato de um advogado ter perdido o prazo para a contestação ou para a
interposição de um recurso enseja indenização pela aplicação desta teoria?
NÃO. Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas
como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não
experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser
solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do
processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico.
Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como no
caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática
responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance.
É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que
a parte teria de se sagrar vitoriosa.
(REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 16/11/2010)

A teoria da perda de uma chance pode ser aplicada nas relações de direito público?
SIM, existem alguns Ministros do STJ que defendem que a teoria da perda de uma chance
poderia ser aplicada também nas relações entre o Estado e o particular. Nesse sentido: Min.
Mauro Campbell Marques e Min. Eliana Calmon.

A teoria da perda pode ser aplicada no caso de erro médico?


SIM. Segundo o STJ, a teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a
apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro
tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em
razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico (REsp 1.254.141-PR).

Caso concreto julgado pelo STJ:


“R”, viúvo de “V” ajuizou ação de indenização contra “M”, médico responsável pelo
tratamento da falecida, que possuía um câncer no seio.
O autor alegou que, durante o tratamento da doença, “M” cometeu uma série de erros
médicos, entre os quais se destacam os seguintes: após o tratamento inicial da doença não
foi recomendada quimioterapia; a mastectomia realizada foi parcial (quadrantectomia),
quando seria recomendável mastectomia radical; não foi transmitida à paciente orientação
para não mais engravidar; com o desaparecimento da doença, novamente o tratamento foi
inadequado; o aparecimento de metástase foi negado pelo médico; entre outras alegações.
O laudo pericial apontou que houve, de fato, erro médico.
O réu foi condenado por danos morais e materiais, tendo sido aplicada a teoria da perda de
uma chance.

O caso chegou até o STJ, que manteve a condenação, em acórdão vazado nos seguintes termos:
1. O STJ vem enfrentando diversas hipóteses de responsabilidade civil pela perda de uma
chance em sua versão tradicional, na qual o agente frustra à vítima uma oportunidade de
ganho. Nessas situações, há certeza quanto ao causador do dano e incerteza quanto à
respectiva extensão, o que torna aplicável o critério de ponderação característico da
referida teoria para a fixação do montante da indenização a ser fixada. Precedentes.
2. Nas hipóteses em que se discute erro médico, a incerteza não está no dano
experimentado, notadamente nas situações em que a vítima vem a óbito. A incerteza está
na participação do médico nesse resultado, à medida que, em princípio, o dano é causado
por força da doença, e não pela falha de tratamento.
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3. Conquanto seja viva a controvérsia, sobretudo no direito francês, acerca da aplicabilidade


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da teoria da responsabilidade civil pela perda de uma chance nas situações de erro médico,

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é forçoso reconhecer sua aplicabilidade. Basta, nesse sentido, notar que a chance, em si,
pode ser considerado um bem autônomo, cuja violação pode dar lugar à indenização de seu
equivalente econômico, a exemplo do que se defende no direito americano. Prescinde-se,
assim, da difícil sustentação da teoria da causalidade proporcional.
4. Admitida a indenização pela chance perdida, o valor do bem deve ser calculado em uma
proporção sobre o prejuízo final experimentado pela vítima. A chance, contudo, jamais
pode alcançar o valor do bem perdido. É necessária uma redução proporcional. (...)
(REsp 1254141/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 04/12/2012)

Perda de uma chance clássica X Perda de uma chance por conta de erro médico
A aplicação da teoria da perda de uma chance no caso de erro médico possui algumas
diferenças da aplicação tradicional da teoria da perda de uma chance às demais hipóteses
(baseado nas lições da Min. Nancy Andrighi):

Teoria da perda de uma chance Teoria da perda de uma chance


CLÁSSICA (TRADICIONAL) no caso de ERRO MÉDICO
Ocorre quando o agente frustrou a Ocorre quando o médico, por conta de um
oportunidade da pessoa de auferir uma erro, fez com que a pessoa não tivesse um
vantagem. tratamento de saúde adequado que
poderia tê-la curado e evitado a sua morte.
Há sempre certeza quanto à autoria do fato Aqui, a extensão do dano já está definida (a
que frustrou a oportunidade. Existe incerteza pessoa morreu), e o que resta saber é se esse
quanto à existência/extensão dos danos. dano teve como concausa a conduta do réu.

Processo Terceira Turma. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Locação
Se a ação renovatória for julgada improcedente e, com isso, a locação comercial não for
renovada, o juiz determinará a desocupação do imóvel alugado (despejo) no prazo de 30 dias.
O termo inicial deste prazo é a data da intimação pessoal do locatário realizada por meio do
mandado de despejo.
Comentários Ponto comercial
Algo muito importante na atividade empresarial é o “ponto comercial”.
Ponto comercial é a localização do estabelecimento empresarial.
Pensando nisso, o direito protege o ponto comercial. Uma das formas de proteção ocorre
por meio da ação renovatória.

Ação renovatória
A ação renovatória garante ao locatário o direito de renovar o contrato de locação
empresarial, mesmo contra a vontade do locador, desde que presentes certos requisitos.
Desse modo, a ação renovatória tem por finalidade a renovação compulsória, obrigatória,
do contrato de locação empresarial, estando prevista na Lei n. 8.245/91 (Lei de Locações).

Requisitos da ação renovatória


Segundo o art. 51 da referida Lei, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
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locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que sejam cumpridos
os seguintes requisitos cumulativos:
Página

I - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por escrito;
II - o contrato de locação a ser renovado deve ter sido celebrado por prazo determinado;

INFORMATIVO esquematizado
III - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos contratos
escritos deve ser de cinco anos;
IV - o locatário deve estar explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e
ininterrupto de três anos.

Para garantir este direito, caso o locador não queira renovar a locação, o locatário poderá
ajuizar a ação renovatória.

Se a ação renovatória for julgada procedente: a locação é renovada.

Se a ação renovatória for julgada improcedente:


Sendo julgada improcedente a ação, a locação comercial não será renovada e o juiz
determinará a desocupação do imóvel alugado no prazo de 30 dias, desde que haja pedido
na contestação:
Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado de
despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver
pedido na contestação. (Redação dada pela Lei nº 12.112, de 2009)

A partir de quando é contado este prazo de 30 dias?


O termo inicial deste prazo é a data da intimação pessoal do locatário, realizada por meio
de mandado de despejo.

Segundo o STJ, a Lei n. 12.112/2009, que alterou o prazo previsto no art. 74 da Lei de
Locações, possui natureza processual, incidindo, portanto, sobre os processos em
andamento no estado em que se encontram quando do início da vigência da lei, ainda que
se refiram a contratos anteriores à alteração legislativa. Nesse sentido: REsp 1207161/AL,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 08/02/2011.
Súmula 370 Atenção. A Súmula 370 do STF dispunha o seguinte:
do STF “Julgada improcedente a ação renovatória da locação, terá o locatário, para desocupar o
imóvel, o prazo de seis meses, acrescido de tantos meses quantos forem os anos da
ocupação, até o limite total de dezoito meses.”

Este enunciado, apesar de não ter sido formalmente cancelado, não é mais aplicado porque
se baseava na Lei n. 1.300/1950, que foi revogada há tempos. Portanto, trata-se de súmula
completamente desatualizada e que deve ser ignorada.
Processo Terceira Turma. REsp 1.307.530-SP, Rpresel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Sidnei Beneti, julgado em 11/12/2012.

Adoção

É possível a adoção de uma criança por casal homoafetivo. É possível também a adoção
unilateral do filho biológico da companheira homoafetiva. Ex: João é filho biológico de Maria. A
criança foi fruto de uma inseminação artificial heteróloga com doador desconhecido. Maria
mantém união estável homoafetiva com Andrea, que deseja adotar o menor.
Comentários É possível a adoção de uma criança por casal homoafetivo (dois homens ou duas mulheres)?
SIM. O STF já decidiu que a união homoafetiva possui os mesmos direitos da união
heteroafetiva e está incluída no conceito de família (ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto,
Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011).
11

Assim, é plenamente possível a adoção realizada por um casal homoafetivo, nos mesmos
moldes do que ocorre com casais heteroafetivos.
Página

INFORMATIVO esquematizado
Melhor interesse da criança
A adoção (seja ela feita por homossexuais ou heterossexuais) somente será deferida
quando atender ao melhor interesse da criança, nos termos do art. 43 do ECA:
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e
fundar-se em motivos legítimos.

O juiz pode negar o pedido sob a alegação genérica de que adoção por casais homoafetivos
pode gerar problemas psicológicos na criança?
NÃO. Este argumento genérico não é acolhido pelos Tribunais Superiores porque “os
diversos e respeitados estudos especializados sobre o tema, fundados em fortes bases
científicas (realizados na Universidade de Virgínia, na Universidade de Valência, na
Academia Americana de Pediatria), não indicam qualquer inconveniente em que crianças
sejam adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do
afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga a seus cuidadores”
(REsp 889.852/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 27/04/2010).

É possível a adoção unilateral do filho biológico da companheira homoafetiva? Ex: João é


filho biológico de Maria. A criança foi fruto de uma inseminação artificial heteróloga com
doador desconhecido. Maria mantém união estável homoafetiva com Andrea, que deseja
adotar o menor. É possível?
SIM, considerando que, se esta possibilidade é prevista para os casais heteroafetivos,
também deve ser estendida aos homoafetivos. A Min. Nancy Andrighi afirma que, se
determinada situação é possível à faixa heterossexual da população brasileira, também o é
à fração homossexual, assexual ou transexual (REsp 1.281.093-SP).
Processo Terceira Turma. REsp 1.281.093-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2012.

DIREITO EMPRESARIAL

Título de crédito

Em ação monitória fundada em cheque prescrito, ajuizada em face do emitente, é dispensável


menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
O autor da ação monitória não precisa, na petição inicial, mencionar ou comprovar a relação causal
(causa debendi) que deu origem à emissão do cheque prescrito (não precisa explicar porque o réu
emitiu aquele cheque). Cabe ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do débito.
Ação Ação monitória é...
monitória - um procedimento especial previsto no CPC
- por meio do qual o credor exige do devedor
- o pagamento de soma em dinheiro,
- a entrega de coisa fungível ou
- a entrega de determinado bem móvel
- com base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo.

Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.


Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura
de conta-corrente.
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Procedimento:
Página

1. Petição inicial

INFORMATIVO esquematizado
2. Juiz poderá adotar uma das seguintes condutas:
a) Determinar que o autor emende a Inicial;
b) Indeferir a petição inicial;
c) Receber a monitória como procedimento ordinário;
d) Aceitar a monitória: reconhece verossímil a prova trazida e manda expedir um mandado
monitório para que o réu pague a dívida.

CPC/Art. 1.102-B. Estando a petição inicial devidamente instruída, o Juiz deferirá de plano a
expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias.

3. O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas:


a) Cumprir a obrigação: se o réu cumprir o mandado monitório, ele está dispensado de
pagar custas e honorários advocatícios. Trata-se de técnica de coerção indireta pelo
incentivo (“sanção premial”).

b) Ser revel: se o réu é revel em ação monitória, aquela decisão inicial proferida pelo juiz
automaticamente torna-se definitiva e aquilo que era um mandado monitório (para pagar),
transforma-se em um mandado executivo.

c) Defender-se (embargos monitórios).


A defesa na ação monitória é denominada de “embargos monitórios”.

Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos, que
suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-
se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em
mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei.
§ 1º - Cumprindo o réu o mandado, ficará isento de custas e honorários advocatícios.
§ 2º - Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos
próprios autos, pelo procedimento ordinário.
§ 3º Rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial,
intimando-se o devedor e prosseguindo-se na forma prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo
X, desta Lei.

Ação O cheque é título executivo extrajudicial (art. 585, I, do CPC).


monitória Assim, se não for pago, o portador do cheque poderá ajuizar ação de execução contra o
de cheque emitente e eventuais codevedores (endossantes, avalistas). Essa ação de execução é
prescrito conhecida como “ação cambial”.

Qual é o prazo prescricional para a execução do cheque?


R: 6 meses, contados do fim do prazo de apresentação do cheque.
Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de
apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado.

O que é prazo de apresentação do cheque?


É o prazo de que dispõe o portador do cheque para apresentá-lo ao banco sacado, a fim de
receber o valor determinado na cártula.
Ex: João passa um cheque de dois mil reais para Eduardo. O prazo de apresentação é o
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tempo que Eduardo tem para levar o cheque ao banco e receber o valor.
Página

INFORMATIVO esquematizado
De quanto é o prazo de apresentação?
30 dias 60 dias
Se o cheque é da mesma praça do Se o cheque for de praça diferente
pagamento (município onde foi assinado é (município onde foi assinado é diferente
o município da agência pagadora). do município da agência pagadora).
O prazo será de 30 dias se o local da emissão O prazo será de 60 dias se o local da
do cheque (preenchido pelo emitente) for o emissão do cheque (preenchido pelo
mesmo lugar do pagamento (local da agência emitente) for diferente do lugar do
pagadora impressa no cheque). Nesse caso, pagamento (local da agência pagadora
diz-se que o cheque é da mesma praça impressa no cheque). Nesse caso, diz-se
(mesmo município). que o cheque é de outra praça.
Ex: em um cheque de uma agência de São Ex: em um cheque de uma agência de São
Paulo (SP), o emitente datou e assinou São Paulo (SP), o emitente datou e assinou
Paulo (SP) como local da emissão. Manaus (AM) como local da emissão.

Se o beneficiário apresenta o cheque ao banco mesmo após esse prazo, haverá pagamento?
SIM, mesmo após o fim do prazo de apresentação, o cheque pode ser apresentado para
pagamento ao sacado, desde que não esteja prescrito.

Então para que serve esse prazo de apresentação?


A doutrina aponta três finalidades:
1) O fim do prazo de apresentação é o termo inicial do prazo prescricional da execução do
cheque.
2) Só é possível executar o endossante do cheque se ele foi apresentado para pagamento
dentro do prazo legal. Se ele foi apresentado após o prazo, o beneficiário perde o
direito de executar os codevedores. Poderá continuar executando o emitente do
cheque e seus avalistas.
Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não
apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.
3) O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a recusa de
pagamento perde o direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos
disponíveis durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável (art. 47, § 3º, da Lei n. 7.357/85).

Retomando: o prazo prescricional do cheque inicia-se com o fim do prazo de apresentação.


Logo, os 6 meses iniciam-se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término
do prazo de 60 dias (se de praças diferentes).

Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim é possível a sua cobrança?


SIM. Com o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque.
No entanto, ele ainda poderá cobrar esse valor.

Qual a primeira forma do beneficiário cobrar um cheque prescrito?


Por meio de uma “ação de enriquecimento sem causa” (também chamada de “ação de
locupletamento”), prevista no art. 61 da Lei do Cheque (Lei n. 7.357/85). Essa ação tem o
prazo de 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.

Se for expirado o prazo da “ação de enriquecimento” (“ação de locupletamento”), o


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beneficiário do cheque ainda tem alguma alternativa para cobrar o valor?


SIM. Permite-se que ele ajuíze uma ação monitória para cobrar do sacado o valor
Página

consignado na cártula. Veja:


Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.
INFORMATIVO esquematizado
Na ação monitória, não irá se discutir a causa debendi, ou seja, a causa que deu origem à
emissão do título de crédito (no caso, o cheque). Desse modo, segundo o STJ, na ação
monitória fundada em cheque prescrito, é desnecessária a demonstração da causa de sua
emissão, cabendo ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do débito.

Dessa forma, de acordo com a jurisprudência consolidada no STJ, o autor da ação monitória
não precisa, na petição inicial, mencionar ou comprovar a relação causal (causa debendi)
que deu origem à emissão do cheque prescrito (não precisa explicar porque o réu emitiu
aquele cheque). Isso não implica cerceamento de defesa, pois o demandado poderá, nos
embargos à monitória (nome da “defesa” na ação monitória), discutir a causa debendi.
Percebe-se assim que, na ação monitória, há inversão da iniciativa do contraditório,
cabendo ao demandado a faculdade de opor embargos à monitória, suscitando toda a
matéria de defesa, visto que recai sobre ele o ônus probatório.

Qual é o prazo máximo para ajuizar a ação monitória de cheque prescrito?


5 anos, com base no art. art. 206, § 5º, I, CC:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

O cheque prescrito é considerado um instrumento particular que representa uma obrigação


líquida. Logo, enquadra-se nesse dispositivo acima.
Repetitivo Decisão proferida sob o regime de recurso repetitivo.
Processo Segunda Seção. REsp 1.094.571-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013.

Falência (ação ajuizada pela sociedade falida)


A sociedade empresária falida não tem legitimidade para o ajuizamento de ação cujo objetivo
seja o recebimento de valor que, segundo alega, deveria ter sido exigido pela massa falida,
mas não o fora. Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais
possui personalidade jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida
Comentários Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui
personalidade jurídica e não pode postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem
mesmo em caráter extraordinário.
Os direitos e créditos que pertencem à sociedade empresária falida passam a ser de
interesse da massa falida e somente podem ser requeridos judicialmente pelo síndico
(administrador da massa falida).
A sociedade empresária falida tem o direito de fiscalizar a administração da massa falida,
mas isso não significa que possa ajuizar ações no lugar da massa falida. O máximo que a
sociedade empresária pode fazer é intervir como assistente nas ações em que a massa
falida esteja presente.
Sérgio Campinho, citado pelo Ministro Relator, explica o tema:
“o falido permanece proprietário do patrimônio arrecadado na falência. Enquanto não alienado, nos
termos da lei, tem legítimo interesse em preservá-lo. Contudo, permanece inibido de agir, como
autor, em postulações relativas às relações patrimoniais envolvidas na falência. Não tem ele a
administração de seus bens, que compete ao administrador judicial. Poderá, entretanto, intervir nos
processos em que a massa falida for parte ou interessada, requerendo o que for de seu interesse e
direito, fazendo uso, inclusive, da interposição dos recursos cabíveis (parágrafo único do artigo 103).
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(...) sofre o falido, como se percebe, uma restrição em sua capacidade processual, referente às lides
que se refiram aos direitos patrimoniais envolvidos na falência” (Falência e Recuperação de
Página

Empresa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2008, p. 315)


Processo Terceira Turma. REsp 1.330.167-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 5/2/2013.

INFORMATIVO esquematizado
Falência (extensão da falência)

É possível, no âmbito de procedimento incidental, a extensão dos efeitos da falência às


sociedades do mesmo grupo, sempre que houver evidências de utilização da personalidade
jurídica da falida com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros, e desde que:
 seja demonstrada a existência de vínculo societário no âmbito do grupo econômico; e
 seja oportunizado o contraditório à sociedade empresária a ser afetada.

Esta extensão dos efeitos da falência às sociedades integrantes do mesmo grupo da falida
encontra respaldo na teoria da desconsideração da personalidade jurídica.
Comentários No julgamento do REsp 1259018/SP (DJe 25/08/2011), a Min. Nancy Andrighi, expôs as
seguintes considerações:
 Se dois grupos econômicos, unidos em torno de um propósito comum, promovem uma
cadeia de negócios formalmente lícitos, mas com intuito de desviar patrimônio de
empresa em situação pré-falimentar, é necessário que o Poder Judiciário também inove
sua atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de reverter as manobras lesivas,
punindo e responsabilizando os envolvidos;
 Assim, é possível ao juízo estender os efeitos de sociedade falida a empresas coligadas
na hipótese em que, verificando claro conluio para prejudicar credores, há transferência
de bens para desvio patrimonial;
 A extensão da falência a sociedades coligadas pode ser feita independentemente da
instauração de processo autônomo. A verificação da existência de coligação entre
sociedades pode ser feita com base em elementos fáticos que demonstrem a efetiva
influência de um grupo societário nas decisões do outro, independentemente de se
constatar a existência de participação no capital social;
 Na hipótese de fraude para desvio de patrimônio de sociedade falida, em prejuízo da
massa de credores, perpetrada mediante a utilização de complexas formas societárias,
é possível utilizar a técnica da desconsideração da personalidade jurídica com nova
roupagem, de modo a atingir o patrimônio de todos os envolvidos.

No julgado noticiado neste informativo, foram expostas razões semelhantes às acima


indicadas.
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.229.579-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/12/2012.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Informações processuais via internet

Se ocorrer alguma OMISSÃO, ATRASO ou EQUÍVOCO na divulgação da tramitação processual no


site do Tribunal, isso constitui justa causa a ensejar a devolução do prazo processual?
 Omissão ou atraso: NÃO HÁ JUSTA CAUSA
 Equívoco: PODE CONFIGURAR JUSTA CAUSA

No caso noticiado neste Informativo, houve a indicação equivocada de determinada data no


site do Tribunal, o que fez com que a parte perdesse o prazo. A Corte Especial do STJ entendeu,
nesta hipótese, é possível reconhecer a existência de justa causa.
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Comentários É cada dia mais comum que os operadores do Direito, em especial os advogados,
acompanhem a tramitação dos processos de seu interesse por meio dos sites dos Tribunais
Página

na Internet.

INFORMATIVO esquematizado
Essa prática, no entanto, poderá se mostrar arriscada se o profissional não realiza também
o acompanhamento do processo pela Imprensa Oficial.

Existem duas grandes celeumas envolvendo a questão. Veja:

As informações processuais fornecidas pelos sites dos Tribunais ostentam caráter oficial?
NÃO. Conforme entendimento prevalecente no STJ, os dados processuais disponibilizados
via internet não possuem caráter oficial, mas meramente informativo. Essa é a posição mais
atual da Corte. Nesse sentido: AgRg no AREsp 76935/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
Quarta Turma, julgado em 18/10/2012, DJe 31/10/2012.

O que acontece se houver alguma OMISSÃO, ATRASO ou ERRO na divulgação da tramitação


processual no site do Tribunal e, com isso, a parte perder o prazo para a prática do ato?

A parte que perdeu o prazo poderá alegar que houve uma “justa causa” para isso e pedir a
sua devolução, nos termos do art. 183, caput e § 1º do CPC?
Art. 183. Decorrido o prazo, extingue-se, independentemente de declaração judicial, o direito de praticar o ato,
ficando salvo, porém, à parte provar que o não realizou por justa causa.
§ 1º Reputa-se justa causa o evento imprevisto, alheio à vontade da parte, e que a impediu de praticar o ato por
si ou por mandatário.
§ 2º Verificada a justa causa o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe assinar.

Na maioria dos julgados do STJ, é feita a seguinte diferenciação:

Em caso de OMISSÃO ou ATRASO na Em caso de ERRO (EQUÍVOCO) na


divulgação da informação no site: divulgação da informação no site:
NÃO há justa causa PODE configurar justa causa
O atraso ou omissão na divulgação sobre a Se o site do Tribunal divulgar uma
tramitação de processo no site NÃO informação processual errada (com
representa “justa causa” para fins de equívoco), neste caso, o STJ entende que a
permitir a devolução do prazo processual parte foi induzida a erro. Logo, isso
que a parte perdeu. representa “justa causa” para o ato
Segundo o STJ, a parte deveria ter adotado processual não ter sido praticado
as medidas necessárias ao tempestivamente. Deverá, portanto, ser
acompanhamento do processo pelos determinado o reinício do prazo para a
outros meios disponíveis. parte prejudicada.
A confiabilidade das informações prestadas
por meio eletrônico é essencial à
preservação da boa-fé objetiva, que deve
orientar a relação entre o poder público e
os cidadãos.

Ex: no site do Tribunal não foi divulgada a Ex: o site do Tribunal divulgou que o
data em que o mandado de intimação mandado de intimação cumprido foi juntado
cumprido foi juntado aos autos. no dia 22/03/2011, quando, na verdade, essa
juntada ocorreu em 17/03/2011.

No caso noticiado neste Informativo, houve a indicação equivocada de determinada data no


site do Tribunal, o que fez com que a parte perdesse o prazo. A Corte Especial do STJ
17

entendeu que, nesta hipótese, é possível reconhecer a existência de justa causa.


Página

INFORMATIVO esquematizado
Afirmou-se que o equívoco nas informações processuais prestadas na página eletrônica dos
tribunais configura a justa causa prevista no art. 183 do CPC, o que autoriza a prática
posterior do ato sem prejuízo da parte, uma vez que, nesse caso, o descumprimento do
prazo decorre diretamente de erro do Judiciário. Ademais, a alegação de que os dados
disponibilizados pelos Tribunais na internet são meramente informativos e não substituem
a publicação oficial não impede o reconhecimento da justa causa no descumprimento do
prazo recursal pela parte. Além disso, a confiabilidade das informações prestadas por meio
eletrônico é essencial à preservação da boa-fé objetiva, que deve orientar a relação entre o
poder público e os cidadãos.
Processo Corte Especial. REsp 1.324.432-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/12/2012.

Ação anulatória

Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença, os
efeitos deste negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação anulatória,
nos termos do art. 486 do CPC.
Se a sentença limita-se a homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da
pactuação, a forma de desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
Comentários Imagine que, em um processo judicial, autor e réu celebram uma transação. O juiz, então,
homologa a transação e extingue o processo (art. 269, III, do CPC). Posteriormente, o autor
entende que foi enganado pelo réu e deseja desfazer a transação pactuada. Qual o
instrumento jurídico deverá ser manejado pelo autor?
Ação anulatória, conforme prevê o art. 486 do CPC:
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.

Assim, os efeitos da transação podem ser afastados mediante ação anulatória sempre que
este negócio jurídico tiver sido objeto de sentença meramente homologatória.
Se a sentença não dispõe nada a respeito do conteúdo da pactuação (transação), não
avançando para além da mera homologação, a ação anulatória prevista no art. 486 do CPC é
adequada à desconstituição do acordo homologado.
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.314.900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.

Julgamento por amostragem de recursos especiais repetitivos


Será cabível agravo regimental, a ser processado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial
com fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.
O recurso cabível contra essa decisão não é o agravo de instrumento.

Se o Tribunal de origem mantém a decisão e nega seguimento ao recurso especial (com


fundamento no art. 543-C, § 7º, I, do CPC), não cabe nenhum outro recurso e também não é
possível a propositura de reclamação no STJ.
Comentários Observou-se que havia no STF e no STJ milhares de recursos que tratavam sobre os mesmos
temas jurídicos. Em outras palavras, identificou-se que existiam inúmeros recursos
“repetitivos” endereçados aos Tribunais Superiores.
Diante disso, a fim de otimizar a análise desses recursos, a Lei n. 11.672/2008 acrescentou
18

os arts. 543-B e 543-C ao CPC, prevendo uma espécie de “julgamento por amostragem” dos
recursos extraordinários e recursos especiais que tiverem sido interpostos com fundamento
Página

em idêntica controvérsia ou questão de direito.

INFORMATIVO esquematizado
Vamos estudar, agora, o julgamento por amostragem no caso dos recursos especiais
repetitivos, o que é previsto no art. 543-C do CPC:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica
questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo.

Procedimento (art. 543-C do CPC e Resolução n. 08/2008-STJ):

1) O Presidente ou Vice-Presidente do tribunal de origem (TJ ou TRF) irá identificar e separar


todos os recursos especiais interpostos que tratem sobre o mesmo assunto.
Exemplo: reunir os recursos especiais nos quais se discuta se o prazo prescricional das ações
contra a Fazenda Pública é de 3 ou 5 anos.

2) Desses recursos, o Presidente do tribunal selecionará um ou mais recursos que


representem bem a controvérsia discutida e os encaminhará ao STJ.
Serão selecionados os que contiverem maior diversidade de fundamentos no acórdão e de
argumentos no recurso especial.

Os demais recursos especiais que tratem sobre a mesma matéria e que não foram remetidos
como paradigma (modelo) ficarão suspensos no tribunal de origem até que o STJ se
pronuncie sobre o tema central.

3) Pode acontecer de o Presidente do tribunal de origem não perceber que haja essa
multiplicidade de recursos sobre o mesmo assunto e não tomar essas providências
explicadas acima. Nesse caso, o Ministro Relator do REsp, no STJ, ao identificar que sobre a
controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado,
poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais
a controvérsia esteja estabelecida.

4) Antes de decidir o Resp submetido ao regime de recurso repetitivo, o Ministro Relator


poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de 15 dias, aos tribunais federais
ou estaduais a respeito da controvérsia.

5) Se o matéria for relevante, o Ministro Relator poderá admitir manifestação de pessoas,


órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, que atuarão como amicus curiae.
6) Após as informações prestadas pelos Tribunais e pelos amici curiae (plural de amicus
curiae), o Ministério Público será ouvido no prazo de 15 dias.

7) Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais
Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial do STJ, devendo
ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e
os pedidos de habeas corpus.

8) Após todas essas providências, o STJ irá julgar o recurso especial que foi submetido ao
regime de recurso repetitivo. Essa decisão irá afetar os recursos que ficaram suspensos nos
TJ’s ou TRF’s. Veja o que diz o § 7º do art. 543-C:
§ 7º Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados
na origem:
I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a
19

orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou


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II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão


recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

INFORMATIVO esquematizado
Explicando melhor esse § 7º:
Inciso I: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que não foi aceita
pelo STJ, este recurso terá seu seguimento negado e, portanto, nem será enviado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 5 anos. A
Fazenda interpôs recurso especial alegando que esse prazo era de 3 anos. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, este recurso da Fazenda, que estava sobrestado, terá seu seguimento
negado e nem será mais apreciado pelo STJ.

Inciso II: se o recurso especial sobrestado na origem defender a tese jurídica que foi acolhida
pelo STJ, o acórdão que estava sendo impugnado será novamente analisado pelo Tribunal de
origem, que poderá modificar sua decisão para adequá-la ao entendimento firmado pelo STJ.
Exemplo: o TJ decidiu que o prazo prescricional contra a Fazenda Pública era de 3 anos. O
particular interpôs recurso especial alegando que esse prazo era quinquenal. O REsp estava
aguardando a definição do tema em sede de recurso repetitivo. O STJ decidiu que o prazo é
de 5 anos. Logo, o TJ terá a oportunidade de analisar novamente esta questão e poderá
modificar sua decisão com base na orientação firmada pelo STJ. Em outras palavras, o TJ
poderá voltar atrás e decidir que o prazo prescricional é de 5 anos realmente. Vale ressaltar,
no entanto, que nesse reexame, o Tribunal poderá manter sua decisão, considerando que o
posicionamento adotado pelo STJ não é vinculante.

9) Se o tribunal de origem mantiver a decisão divergente, irá ser realizado o exame de


admissibilidade do recurso especial para que seja encaminhado ao STJ.
Exemplo: o TJ decidiu manter seu entendimento de que o prazo prescricional é de 3 anos,
mesmo o STJ tendo afirmado que era quinquenal. Logo, o recurso especial, interposto pelo
particular será examinado e, se preencher os pressupostos de admissibilidade, será
encaminhado ao STJ para análise do mérito.

10) Voltando à hipótese do inciso I do § 7º do art. 543-C. Pode acontecer de o Presidente do


tribunal de origem negar seguimento a um recurso especial aplicando o entendimento do
STJ, e a parte recorrente não concordar com isso sob o argumento de que o caso que
envolve o seu processo é diferente do que foi examinado pelo STJ. Em outros termos, a parte
afirma que há um distinguishing.
A pergunta que surge é a seguinte:
Será possível que esta parte interponha algum recurso contra a decisão do Presidente do
tribunal de origem que negou seguimento ao recurso especial com base no inciso I do § 7º
do art. 543-C do CPC?
SIM. Será cabível agravo regimental, a ser julgado no Tribunal de origem, destinado a
impugnar decisão monocrática que nega seguimento a recurso especial com fundamento
no art. 543-C, § 7º, I, do CPC.

Vale ressaltar que um erro muito comum tanto dos candidatos em concurso público como
dos profissionais na prática forense, é imaginar que seria possível o ajuizamento de agravo
de instrumento contra essa decisão. Na verdade, é firme o entendimento do STJ de que
“não cabe agravo de instrumento contra decisão que nega seguimento a recurso especial
com base no art. 543, § 7º, inciso I, do CPC” (QO no Ag 1154599/SP, Rel. Min. Cesar Asfor
Rocha, Corte Especial, DJe 12/05/2011).
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Para o STJ, a mencionada decisão somente pode ser atacada por agravo regimental, a ser
processado e julgado no tribunal de origem.
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INFORMATIVO esquematizado
Imagine agora que o Tribunal de origem, no julgamento do agravo regimental, manteve a
decisão monocrática do Presidente (ou Vice-Presidente), ou seja, aplicando o art. 543, § 7º,
I, do CPC. Nesta hipótese, cabe algum outro recurso contra esta decisão?
NÃO.

Seria possível, então, interpor uma reclamação ao STJ?


Também NÃO. Segundo o STJ, não há previsão legal para o ajuizamento de reclamação
neste caso.
Além disso, o cabimento da reclamação impediria a realização do fim precípuo da reforma
processual introduzida pela Lei n. 11.672/2008, qual seja, o de evitar a reiterada análise de
questão idêntica, otimizando o julgamento dos incontáveis recursos que chegam ao STJ
com o intuito de discutir a mesma matéria. Em outras palavras, se fosse admitida
reclamação, o “filtro” imposto para evitar a subida de uma enorme quantidade de
processos no STJ não teria eficácia, considerando que a Corte teria que examinar inúmeras
reclamações.

Em suma, contra a decisão do Tribunal de origem que, com fulcro no art. 543-C, §7º, I, do
CPC, aplica entendimento firmado em recurso especial submetido ao procedimento dos
recursos representativos de controvérsia, não cabe nenhum recurso nem reclamação.
Processo Segunda Seção. AgRg na Rcl 10.805-RS, Rel. Min. Luiz Felipe Salomão, julgado em 4/2/2013.

Termo inicial dos juros de mora no caso de execução individual de sentença coletiva
Reconhecida a procedência do pedido em ação civil pública destinada a reparar lesão a direitos
individuais homogêneos, os juros de mora somente são devidos a partir da citação do devedor
ocorrida na fase de liquidação de sentença, e não a partir de sua citação inicial na ação coletiva.
Comentários Qual é o termo inicial dos juros de mora no caso de execução individual de sentença coletiva?
Os juros de mora somente são devidos a partir da citação do devedor na fase de liquidação
de sentença, e não a partir de sua citação inicial na ação coletiva.
Exemplo hipotético:
O Ministério Público ingressa com uma ação civil pública defendendo os direitos individuais
homogêneos de certos consumidores e pedindo a condenação do réu ao pagamento de 500
mil reais.
O réu é citado em 02/02/2002, apresenta resposta, são produzidas provas e, ao final, a
sentença é julgada procedente, havendo trânsito em julgado.
Inicia-se, então, a fase de liquidação da sentença, sendo o réu citado para tanto (em
03/03/2010). A liquidação também é julgada.
Como o requerido não paga voluntariamente o valor pelo qual foi condenado, passa-se à
fase de execução.
No cálculo do valor devido, devem ser incluídos os juros de mora. O percentual dos juros
será contado da data da citação do réu para a fase de liquidação da sentença (03/03/2010)
e não da citação da ACP (02/02/2002).

Por que os juros de mora são contados somente com a citação da fase de liquidação?
A ação coletiva que tenha por causa de pedir danos referentes a direitos individuais
homogêneos será genérica, não sendo possível especificar, na petição inicial, os nomes de
todos os lesados. Desse modo, a sentença que julgar esta demanda também será genérica,
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conforme prevê o art. 95 do CDC.


Logo, será necessária a liquidação da sentença não apenas para apuração do valor do
Página

débito (quantum debeatur), mas também para descobrir quem são os titulares do crédito
(liquidação imprópria).
INFORMATIVO esquematizado
Ora, se na petição inicial da ação coletiva e na sentença desta demanda não constam os
nomes dos beneficiários da condenação, o réu não tem como, voluntariamente, pagar
aquilo que for devido para cada um deles. Se ele não tem como pagar, não se pode dizer
que está em mora. Não estando ainda em mora, não se pode dele cobrar juros moratórios.
Liquidação Vamos tecer mais alguns comentários sobre a liquidação imprópria e a execução das
imprópria sentenças proferidas em demandas coletivas.

Nas ações coletivas para a defesa de direitos individuais homogêneos, “a condenação será
genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados” (art. 95 do CDC).

Desse modo, a sentença nas ações coletivas é genérica e não define:


a) o valor da condenação a ser paga aos consumidores lesados;
b) quem são os consumidores lesados.

Assim, constata-se claramente que essa sentença precisará ser liquidada.

Diz-se que essa liquidação nas ações que envolvem direitos individuais homogêneos possui
natureza sui generis (expressão utilizada pelo STJ), também chamada de “liquidação
imprópria” (terminologia empregada por Cândido Rangel Dinamarco). Por quê?

Porque a liquidação tradicional, no processo civil individual, só serve para definir o quantum
debeatur (o quanto devido). Já no caso do processo coletivo, essa liquidação imprópria
servirá para apurar:
a) o quantum debeatur (a quantia devida); e
b) o cui debeatur (as pessoas que têm legitimidade para receber, ou seja, os credores).

Exemplo:
O Ministério Público ajuíza uma ACP contra determinada indústria de “salgadinhos” porque
os pacotinhos eram vendidos com a informação na embalagem de que continham 100g de
peso, mas na verdade só tinham 90g. Durante a ação, o MP consegue, por meio de perícia,
provar esse fato e a indústria é condenada a indenizar os consumidores lesados.
Trata-se de demanda envolvendo direitos individuais homogêneos.
A condenação imposta na sentença foi genérica e apenas fixou a responsabilidade da ré
pelos danos causados (art. 95 do CDC), sem definir quem são os consumidores lesados e o
quanto será devido a cada um (isso vai depender do quanto cada consumidor comprou de
salgadinho). Logo, essa sentença precisará passar pela fase de liquidação.

Quem tem legitimidade para fazer a liquidação dessa sentença que envolve direitos
individuais homogêneos?
a) A vítima (ou seus sucessores), devendo promover a liquidação, por meio de advogado,
provando ter sido um dos consumidores lesados e provando ainda o montante de seu
prejuízo; ou
b) Os legitimados previstos no art. 82 do CDC, que deverão provar quais foram os
consumidores (nome, qualificação, endereço) e o valor devido a cada um deles. Essa
hipótese “b” é mais difícil de ocorrer na prática, tendo em vista que os legitimados do
art. 82 do CDC normalmente não dispõem de meios para saber quem são as vítimas.

Isso está previsto no art. 97 do CDC:


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Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o artigo 82.
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INFORMATIVO esquematizado
Tanto na hipótese “a” como na “b”, o valor da indenização será destinado a cada uma das
vítimas.

O art. 97 impõe uma gradação de preferência entre os legitimados.


Assim, quem tem preferência para liquidar e executar é a vítima e seus sucessores.
Somente se a vítima ou seus sucessores não fizerem é que os legitimados do art. 82
poderão agir. Diz-se, portanto, que a legitimidade coletiva para executar é subsidiária.
Isso ocorre porque a prioridade é ressarcir o dano pessoal sofrido pelas vítimas e o próprio
lesado tem melhores condições de demonstrar a existência do seu dano pessoal, o nexo
etiológico com o dano globalmente reconhecido, bem como o montante equivalente à sua
parcela.

No entanto, o que acontece se não aparecerem vítimas (pessoas lesadas) para liquidar a
sentença e os legitimados do art. 82 não conseguirem identificá-las?
Quando as pessoas beneficiadas pela decisão (vítimas) ficam inertes e não procuram a
Justiça para se habilitar, o Ministério Público (ou algum outro legitimado do art. 82 do CDC)
poderá liquidar e executar, de forma subsidiária, essa sentença condenatória. Tal
possibilidade está explicada no art. 100 do CDC:
Art. 100. Decorrido o prazo de 1 (um) ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do artigo 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.

Obs: esse prazo de 1 ano é contado a partir da publicação de editais convocando os


interessados em liquidar e executar a sentença.
Quem são os legitimados do art. 82?
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, Direta ou Indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este Código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código,
dispensada a autorização assemblear.

Ocorre que, se a liquidação e execução for feita com base no art. 100, o dinheiro arrecadado
não vai para as vítimas (porque elas não foram identificadas), mas sim para um Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos. Essa regra está prevista no parágrafo único do art. 100:
Art. 100 (...) Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o Fundo
criado pela Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985.

Recapitulando:
Se a liquidação e execução for feita com base no art. 97: O dinheiro vai para as vítimas
(ou seus sucessores).
Se a liquidação e execução for feita com base no art. 100: O dinheiro vai para o fundo.

E por que as pessoas beneficiadas não mostrariam interesse em liquidar e executar o valor
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que teriam direito?


Isso pode ocorrer por falta de conhecimento ou então porque, na maioria das vezes, o
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benefício individual que a pessoa obteria seria pequeno, apesar de, coletivamente, ser alto.

INFORMATIVO esquematizado
Tomando ainda como exemplo o caso da fábrica de salgadinhos:
O juiz condena a fábrica por ela ter vendido salgadinhos com peso inferior ao anunciado.
Nesse caso, o dano, se considerado de modo individual, é irrisório, assim como também é
ínfimo o quanto cada consumidor terá direito de ser ressarcido (talvez alguns centavos por
cada pacote).
Desse modo, não haverá interesse dos consumidores em contratar um advogado para
buscar a liquidação e a execução da quantia que lhes seria devida.
No entanto, se encararmos o fato de forma coletiva, trata-se de um dano elevado, que,
portanto, merece ser liquidado e executado, o que poderá ser feito pelo Ministério Público
(ou outro legitimado do art. 82) após 1 ano da condenação na hipótese (provável) de não se
habilitarem interessados em número compatível com a gravidade do dano

Fluid recovery
A execução pelo Ministério Público (ou outro legitimado do art. 82) na forma do art. 100, ou
seja, com o valor destinado ao fundo, é chamado de fluid recovery (“indenização fluida” ou
“reparação fluida”).
A fluid recovery foi criada pela jurisprudência norte-americana e incorporada em nosso
ordenamento no art. 100 do CDC.

Vale explicar mais uma vez que a decisão na ACP poderia ser individualmente executada,
mas as pessoas interessadas não mostraram interesse em liquidar e executar.

Objetivo da fluid recovery: evitar o enriquecimento sem causa do condenado:


Caso não fosse possível esse instituto da fluid recovery, haveria o risco muito elevado de
enriquecimento indevido do causador do dano, considerando que dificilmente alguém iria
buscar a reparação por conta de valor tão pequeno.

Para finalizar, vejamos lição doutrinária sobre a fluid recovery exposta pelo Min. Antonio
Herman Benjamin, um dos maiores conhecedores de direito do consumidor no Brasil:
“Esta solução é extremamente representativa do espírito do CDC e introduz entre nós o que
no direito norte-americano se conhece como fluid recovery, ou reparação fluida, pela qual,
ao mesmo tempo em que se privilegia a tutela coletiva como instrumento da reparação dos
danos causados individualmente para a massa de consumidores, na hipótese destes não a
reclamarem, na medida do seu prejuízo, permite sua conversão para um Fundo, cujo
objetivo final é reverter em favor dos interesses lesados.
Suas vantagens basicamente são duas. Primeiro, não permitir que a falta de habilitação dos
consumidores lesados termine por liberar o fornecedor que atuou ilicitamente de suportar a
reparação pelos danos causados, reforçando a função de desestímulo que a indenização
deve possuir. Por outro lado, determina a possibilidade da reparação; não sendo
diretamente reclamada pelos lesados, a indenização pode ser utilizada em iniciativas e
projetos vinculados aos direitos que a ação coletiva buscou proteger.” (Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: RT, 2010, p. 1.459)
Processo Quarta Turma. AgRg no REsp 1.348.512-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Competência

Compete à justiça estadual o julgamento de ação penal em que se apure crime de esbulho
possessório (art. 161, § 1º, II, do CP) efetuado em terra de propriedade do INCRA na hipótese
em que a conduta delitiva não tenha representado ameaça à titularidade do imóvel e em que os
únicos prejudicados tenham sido aqueles que tiveram suas residências invadidas.
Comentários O Código Penal prevê o delito de “esbulho possessório” no inciso II do § 1º do art. 161:
Art. 161. (...)
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
(...)
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.

Imagine agora a seguinte situação:


Várias famílias residiam em lotes de terra do INCRA (autarquia federal) destinados ao
assentamento rural. Desse modo, os imóveis pertenciam ao INCRA e essas pessoas eram
possuidoras da terra (detinham a posse).
Determinado dia, alguns indivíduos invadiram a área de assentamento e expulsaram essas
famílias do local.

Indaga-se:
A competência para julgar este crime será da Justiça Federal pelo fato da terra pertencer ao
INCRA (autarquia federal), nos termos do art. 109, IV, da CF/88?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, neste caso, embora se verifique que a propriedade das terras
objeto do esbulho possessório seja do INCRA, autarquia federal, observa-se que a conduta
delitiva não apresentou ameaça à sua titularidade da terra, que mesmo invadida, continuou
sendo do INCRA. Os únicos prejudicados foram as vítimas, que tiveram suas residências
invadidas e de lá foram expulsas.
Logo, para o STJ, inexiste interesse jurídico que justifique a presença da União, suas
autarquias ou empresas públicas no processo, de forma que a competência é da Justiça
comum estadual.
Processo Terceira Seção. CC 121.150-PR, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora Convocada do TJ-PE),
julgado em 4/2/2013.

Sequestro

Sequestro é uma medida cautelar, de natureza patrimonial, cabível no processo penal, por
meio da qual o juiz determina a retenção dos bens adquiridos pelo investigado ou acusado com
os proventos (lucros) do crime.
Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro sem
anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido em prol
da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se caracteriza
qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a determinação judicial,
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utilizando os instrumentos processuais previstos na lei para tanto.


Comentários Medidas cautelares
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O CPP prevê diversas medidas cautelares, que são classificadas pela doutrina da seguinte
forma (Renato Brasileiro):
INFORMATIVO esquematizado
a) Medidas cautelares de natureza probatória (ex: prova antecipada);
b) Medidas cautelares de natureza pessoal (prisão preventiva);
c) Medidas cautelares de natureza patrimonial (sequestro, hipoteca legal, arresto).

Medidas cautelares de natureza patrimonial


As medidas cautelares de natureza patrimonial (medidas assecuratórias em sentido estrito)
têm como objetivo garantir que o acusado não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se for
definitivamente condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais genéricos
da condenação, previstos no art. 91 do CP (indenização quanto aos danos causados pelo
crime e perda em favor da União dos instrumentos, produtos e proveitos do delito).
O sequestro é uma das medidas cautelares de natureza patrimonial.

Sequestro (arts. 125 a 133 do CPP)


Conceito
Sequestro é a retenção de bens adquiridos com os proventos (lucros) do crime.
Ex: apartamento adquirido pelo réu com o dinheiro obtido pela corrupção passiva.

Art. 125. Caberá o sequestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos
da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 132. Proceder-se-á ao sequestro dos bens móveis se, verificadas as condições previstas
no art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste Livro (será
cabível sequestro de bens móveis se não for caso de “busca e apreensão”).

A lei não prevê o sequestro do produto do crime (vantagem direta), uma vez que para esse
fim já prevê a busca e apreensão. Ex: ladrão de diamante. Haverá a busca e apreensão
desse diamante para servir de prova na instrução criminal. Se o meliante já tiver vendido o
produto do crime e comprado um apartamento, este bem imóvel será sequestrado.

Momento:
O juiz poderá ordenar o sequestro em qualquer fase do processo ou ainda antes de
oferecida a denúncia ou queixa (art. 127, CPP).

O juiz pode decretar o sequestro inaudita altera pars, ou seja, antes de ouvir o investigado
ou réu?
SIM. Não acarreta nulidade o deferimento de medida cautelar patrimonial de sequestro
sem anterior intimação da defesa. Na hipótese de sequestro, o contraditório será diferido
em prol da integridade do patrimônio e contra a sua eventual dissipação. Nesse caso, não se
caracteriza qualquer cerceamento à defesa, que tem a oportunidade de impugnar a
determinação judicial, utilizando os instrumentos processuais previstos na lei para tanto.

Defesa:
Após ser decretado o sequestro, o acusado poderá opor embargos (art. 130, I, do CPP).
Além disso, também são permitidos os embargos de terceiro (art. 130, II, do CPP).
Processo Sexta Turma. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Tribunal do Júri (lista de jurados)

De acordo com o § 4º do art. 426 do CPP, não pode ser incluída na lista geral de jurados a
pessoa que tenha integrado Conselho de Sentença nos doze meses que antecederem à
publicação da lista.

Assim, deve ser reconhecida a nulidade absoluta de ação penal, desde a sessão de julgamento
em Tribunal do Júri, na hipótese em que um dos jurados do Conselho de Sentença tenha
integrado o júri de outro processo nos 12 meses que antecederam à publicação da lista geral
de jurados, considerando que o placar da votação tenha sido o de quatro a três em favor da
condenação do réu, ainda que a defesa tenha deixado de consignar a insurgência na ata de
julgamento da sessão.
Comentários “Jurado profissional”
O § 4º do art. 426 do CPP estabelece o seguinte:
§ 4º O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (doze) meses que
antecederem à publicação da lista geral fica dela excluído.

O objetivo deste dispositivo, alterado pela Lei n. 11.689/2008, foi o de evitar o chamado
“jurado profissional”, ou seja, aquele indivíduo que todos os anos integrava a lista de
jurados. Isso era considerado nocivo porque acabava fazendo com que esta pessoa
adquirisse certos “vícios” e ideias pré-concebidas sobre os réus, defesa e acusação.

Desse modo, se uma pessoa tiver integrado o Conselho de Sentença (grupo de 7 jurados
que julga o caso), ela não poderá ser novamente sorteada para a lista geral de jurados pelo
período de 1 ano.

Lista geral de jurados


A lista geral de jurados é publicada anualmente, nos termos do art. 425 do CPP:
Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800
(oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um
milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor
população.

População da comarca Jurados alistados


Mais de 1 milhão de habitantes De 800 a 1.500 jurados
Mais de 100 mil e menos de 1 milhão De 300 a 700 jurados
Menos de 100 mil De 80 a 400 jurados

§ 2º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de bairro,


entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades, sindicatos,
repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que reúnam as
condições para exercer a função de jurado.

No caso julgado pelo STJ, o jurado “X” havia integrado o Conselho de Sentença de outro
processo nos 12 meses que antecederam à publicação da lista geral de jurados. Logo, ele
não poderia figurar nesta nova lista. Apesar disso, ele fez parte e foi sorteado para integrar
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o júri.
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INFORMATIVO esquematizado
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respectivas profissões, será publicada
pela imprensa até o dia 10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta
do Tribunal do Júri.

Caso concreto julgado pelo STJ


No julgamento, o réu foi condenado, tendo o placar sido de 4 x 3.

Tratando-se de nulidade absoluta, é cabível o seu reconhecimento, mesmo que o advogado


do réu não tenha feito a impugnação no momento do júri e que isso não tenha sido
registrado na ata de julgamento da sessão.

Além do mais, é evidente o prejuízo ao réu, diante de uma condenação apertada, pelo
placar de quatro a três, tendo em vista que há possibilidade de o voto do jurado impedido
ter sido decisivo na condenação.

Logo, o STJ reconheceu que houve nulidade absoluta no caso e anulou o júri realizado.
Processo Sexta Turma. HC 177.358-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2013.

Nulidade

Não é nulo o julgamento colegiado de mandado de segurança por ausência de sustentação oral
no caso em que a defesa pede seu adiamento apenas na véspera da sessão, declinando, para
tanto, a necessidade de estar presente em outro compromisso profissional do qual já tinha
conhecimento há mais de um mês.
Comentários O réu impetrou, no TRF, mandado de segurança contra uma decisão do juiz federal em um
processo criminal. Na véspera do julgamento do MS, o advogado do acusado enviou um fax
ao Tribunal pedindo o adiamento da sessão pelo fato de que teria que participar de outro
compromisso profissional. Alegou ainda que o julgamento não poderia ser realizado sem a
sua presença porque gostaria de fazer sustentação oral. O Tribunal indeferiu o adiamento e,
quanto ao mérito, julgou improcedente o MS. Contra esta decisão, o réu interpôs recurso
ordinário ao STJ (art. 105, II, b, da CF/88) arguindo a nulidade do julgamento pelo fato de
não ter sido adiado para a sustentação oral de seu advogado. O que decidiu a Corte?
O STJ entendeu que não é nulo o julgamento colegiado de mandado de segurança por
ausência de sustentação oral no caso em que a defesa pede seu adiamento apenas na
véspera da sessão, declinando, para tanto, a necessidade de estar presente em outro
compromisso profissional do qual já tinha conhecimento há mais de um mês.
Em primeiro lugar, é facultativo o deferimento do pedido de adiamento da apreciação de
processo por órgão colegiado.
Além disso, não é possível acolher o referido pedido sem que se apresente motivação
adequada, apta a demonstrar a efetiva necessidade de modificação da pauta, o que não
ocorre na hipótese em que o requerente, incidindo em clara desídia, sequer apresenta sua
motivação em tempo hábil, não diligenciando nem mesmo em prol da apreciação
tempestiva da petição pelo relator do processo.
Por fim, é de destacar que, de acordo com o art. 565 do CPP, nenhuma das partes poderá
arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha concorrido.
Processo Sexta Turma. RMS 30.172-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012.
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INFORMATIVO esquematizado
Suspensão condicional do processo

Dois julgamentos em destaque:

1) O que acontece se o Promotor de Justiça se recusa a oferecer a proposta e o juiz entender


que o acusado preenche os requisitos legais para a obtenção do benefício?

A posição majoritária é expressa na Súmula 696-STF:


Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

Neste julgado da 5ª Turma do STJ, entendeu-se que, se perceber que os fundamentos utilizados
pelo Ministério Público para negar o benefício são insubsistentes e que o acusado preenche os
requisitos especiais previstos no art. 89 da Lei n. 9.099/95, o próprio juiz deverá oferecer a
proposta de suspensão condicional do processo ao acusado.

Vale ressaltar que existem julgados do STJ também aplicando a Súmula 696-STF, sendo o
precedente divulgado neste Informativo um caso isolado. Portanto, o entendimento
majoritário, para fins de concurso, é a posição do STF.

2) O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após ter
transcorrido o prazo do período de prova?
SIM. O STF e o STJ entendem que o benefício da suspensão condicional do processo pode ser
revogado mesmo após o período de prova, desde que os fatos ensejadores da revogação
tenham ocorrido antes do término do período de prova.
Conceito Conceito
Suspensão condicional do processo é:
- um instituto despenalizador
- oferecido pelo MP ou querelante ao acusado
- que tenha sido denunciado por crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano
- e que não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
- desde que presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal)

Previsão
A suspensão condicional do processo está prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95. No
entanto, vale ressaltar que não se aplica apenas aos processos do juizado especial
(infrações de menor potencial ofensivo), mas sim em todos aqueles cuja pena mínima seja
igual ou inferior a 1 ano, podendo, portanto, a pena máxima ser superior a 2 anos.

Requisitos
Para que seja possível a proposta de suspensão condicional do processo é necessário o
preenchimento dos seguintes requisitos:
1) O réu deve estar sendo acusado por crime cuja pena mínima é igual ou inferior a 1 ano;
2) O réu não pode estar sendo processado ou ter sido condenado por outro crime;
3) Devem estar presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da
pena, previstos no art. 77 do Código Penal.
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Observações quanto ao primeiro requisito:


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 Neste cálculo da pena, incluem-se eventuais qualificadoras, privilégios, causas de

INFORMATIVO esquematizado
aumento e de diminuição;
 Súmula 723-STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo
de um sexto for superior a um ano.
 Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às
infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade
delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da
majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
 Aplica-se também nos casos em que a pena cominada for só de multa (STF HC 83.926) e
também nas hipóteses em que a pessoa for acusada da prática de contravenção penal.
 Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não é possível
suspensão condicional do processo mesmo que a pena seja igual ou inferior a 1 ano.

Período de prova
Caso o acusado aceite a proposta, o processo ficará suspenso, pelo prazo de 2 a 4 anos
(período de prova), desde que ele aceite cumprir determinadas condições.
Período de prova é, portanto, o prazo no qual o processo ficará suspenso, devendo o
acusado cumprir as condições impostas neste lapso temporal. O período de prova é
estabelecido na proposta de suspensão e varia de 2 até 4 anos.

Condições impostas ao acusado


O acusado que aceitar a proposta de suspensão condicional do processo deverá se
submeter às condições impostas pela lei e a outras que podem ser fixadas pelo juízo.

Condições legais a que o acusado deverá se submeter:


I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar
suas atividades;
V - não ser processado por outro crime ou contravenção.

Outras condições
O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado (2º do art. 89).

Recusa do membro do MP em oferecer a proposta


O que acontece se o Promotor de Justiça se recusa a oferecer a proposta e o juiz entender
que o acusado preenche os requisitos legais para a obtenção do benefício?

Posição do STF (majoritária) Julgado do STJ divulgado neste Info 513


O juiz, aplicando por analogia o art. 28 do Se perceber que os fundamentos utilizados
CPP, deverá remeter os autos ao pelo Ministério Público para negar o
Procurador-Geral de Justiça, comunicando benefício são insubsistentes e que o acusado
as razões pelas quais discorda da recusa do preenche os requisitos especiais previstos no
membro do MP em oferecer a proposta. art. 89 da Lei n. 9.099/95, o próprio juiz
O PGJ irá decidir se os motivos da recusa deverá oferecer a proposta de suspensão
são pertinentes ou não. condicional do processo ao acusado. Isso se
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Caso o PGJ entenda que o acusado não justifica porque a suspensão condicional do
tenha realmente direito ao benefício, o juiz processo representa um direito subjetivo
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nada mais poderá fazer, não podendo o do acusado na hipótese em que atendidos

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próprio magistrado formular a proposta. os requisitos previstos na Lei. Tendo em
Se entender que o acusado tem direito ao vista que a proposta de suspensão é de
benefício, o PGJ determinará que outro interesse público, ela não pode ficar ao
membro do MP ofereça a proposta. alvedrio do MP.
Súmula 696-STF: Reunidos os pressupostos STJ. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
legais permissivos da suspensão julgado em 18/12/2012.
condicional do processo, mas se recusando
o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao
Procurador-Geral, aplicando-se por
analogia o art. 28 do Código de Processo
Penal.

Vale ressaltar que existem julgados do STJ também aplicando a Súmula 696-STF, sendo o
precedente divulgado neste Informativo um caso isolado. Ademais, para a maioria, a
suspensão condicional do processo não é um direito subjetivo do acusado, mas sim um
poder-dever do Ministério Público (STJ. HC 218.785/PA). Portanto, o entendimento
majoritário, para fins de concurso, é a posição do STF.

Cumprimento das condições no período de prova


Imagine que o MP formulou a proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela
sido aceita pelo acusado. Durante o período de prova, o réu cumpriu corretamente todas as
condições impostas. O que acontecerá?
O juiz irá proferir uma sentença declarando extinta a punibilidade do acusado (§ 5º do art.
89 da Lei n. 9.099/95).

Revogação da suspensão
E o que acontece caso o réu descumpra alguma condição durante o período de prova? É
possível que o benefício seja revogado?
SIM. A Lei prevê que, em caso de descumprimento de alguma condição imposta, deverá
haver a revogação do benefício. Dependendo da condição que foi descumprida, esta
revogação pode ser obrigatória ou facultativa. Vejamos:

Revogação obrigatória Revogação facultativa


A suspensão será obrigatoriamente A suspensão poderá ser revogada pelo juiz se:
revogada se, no curso do prazo:
a) o beneficiário vier a ser processado por a) o acusado vier a ser processado, no
outro crime; ou curso do prazo, por contravenção, ou
b) não efetuar, sem motivo justificado, a b) descumprir qualquer outra condição
reparação do dano. imposta.

A suspensão condicional do processo pode ser revogada após o período de prova?


O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após ter
transcorrido o prazo do período de prova?
SIM. O STF e o STJ entendem que o benefício da suspensão condicional do processo pode
ser revogado mesmo após o período de prova, desde que os fatos ensejadores da
revogação tenham ocorrido antes do término do período de prova.
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Ex: Rafael foi denunciado pela prática do crime de descaminho (art. 334, caput, do CP).
Como a pena mínima deste delito é igual a 1 ano, o MP, na denúncia, ofereceu proposta de
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suspensão condicional do processo. O juiz recebeu a denúncia, designou audiência e neste

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ato, o denunciado, acompanhado de seu advogado, aceitou a proposta em 05/05/2005 pelo
período de prova de 2 anos (ou seja, até 05/05/2007). Em 04/05/2007, Rafael praticou uma
lesão corporal e foi denunciado apenas 2 meses depois. Indaga-se: tomando conhecimento,
em 05/06/2007, do novo crime praticado por Rafael, poderá o juiz revogar a suspensão
concedida, mesmo já tendo passado o período de prova?
R: SIM, porque o fato que motivou a revogação ocorreu antes do término do período de
prova. Logo, o processo de descaminho retomará seu curso normal.

Obs: se Rafael tivesse praticado a lesão corporal no dia 06/05/2007, não poderia ser
revogada a suspensão e haveria extinção da punibilidade quanto ao delito de descaminho.

Desse modo, o simples fato de ter expirado o prazo de prova sem revogação não significa
que, automaticamente, a punibilidade do réu será extinta. Será necessário verificar se
houve algum descumprimento das condições durante o período.
Processos Quinta Turma. HC 131.108-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 18/12/2012.
Sexta Turma. HC 208.497-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 11/12/2012.

Execução penal

Em regra, não é cabível a impetração de habeas corpus em substituição


à utilização de agravo em execução.
Excepcionalmente, pode-se admitir o habeas corpus substitutivo de agravo em execução se o
ato impugnado consistir em uma ilegalidade manifesta relacionada com matéria de direito,
cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória.
Comentários O que é o habeas corpus substitutivo?
Habeas corpus substitutivo consiste na possibilidade de o réu optar por impetrar habeas
corpus, dirigido à instância superior, ao invés de interpor o recurso próprio.
Na prática, os advogados preferem valer-se do HC substitutivo, sendo este mais simples e
rápido que o recurso.

O habeas corpus substitutivo é admitido pela jurisprudência?


STJ e 1ª Turma do STF: NÃO admitem. 2ª Turma do STF: ADMITE
Sustentam que não é possível a impetração Afirma que a eventual existência de
de habeas corpus substitutivo de recurso recurso cabível não constitui óbice à
próprio, mas que, se a ilegalidade exposta impetração de habeas corpus, desde que o
for flagrante, ou então a decisão combatida direito-fim se identifique direta ou
for teratológica, é possível que o Tribunal imediatamente com a liberdade de
conceda habeas corpus de ofício. locomoção física do paciente.

Qual é o recurso cabível contras as decisões proferidas pelo juízo das execuções penais?
R: agravo em execução (art. 197 da LEP).

Se o juízo das execuções profere uma decisão contrária ao réu, é possível que este impetre
um habeas corpus ao invés do agravo em execução? É possível o habeas corpus substitutivo
na execução penal?
NÃO. Em regra, não é cabível a impetração de habeas corpus em substituição à utilização de
agravo em execução.
Excepcionalmente, pode-se admitir o habeas corpus substitutivo de agravo em execução se
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o ato impugnado consistir em uma ilegalidade manifesta relacionada com matéria de


direito, cuja constatação seja evidente e independa de qualquer análise probatória.
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Processo Sexta Turma. HC 238.422-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 6/12/2012.

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) Consoante entendimento do STJ, a supressão, pelo poder público, de
gratificação que esteja sendo paga a servidor público configura ato comissivo, de efeitos permanentes,
e não de trato sucessivo, razão pela qual a impetração de mandado de segurança para impugnar o ato
deve ocorrer no prazo de cento e vinte dias contados da sua edição. ( )
2) (Juiz Federal TRF2 2011 – CESPE) O STJ entende que, se for estipulada cláusula penal moratória, a parte
que inadimplir o contrato não terá a obrigação de indenizar lucros cessantes. ( )
3) (Juiz TJPB 2011 – CESPE) Estipulada cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, o
credor poderá exigir cumulativamente do devedor a pena convencional e o adimplemento da
obrigação. ( )
4) (Juiz TJES 2012 – CESPE) Ainda que possível cláusula penal compensatória estipulada para o caso de a
inexecução ser insuficiente para compensar os prejuízos sofridos, não será lícito ao contratante ajuizar
ação buscando perdas e danos. ( )
5) (DPE/AM 2013 – FCC) De acordo com entendimento sumulado, reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la,
o Juiz, dissentindo, poderá propô-la de ofício. ( )
6) (Juiz Federal TRF2 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo pode ser concedida para cada
crime isoladamente, desde que para cada um deles, individualmente, a pena mínima cominada não
seja superior a um ano, mesmo que o somatório das penas ultrapasse esse limite. ( )
7) (Juiz TJDF 2012) A suspensão condicional do processo é um direito público subjetivo do acusado e não
um poder-dever do Ministério Público. ( )
8) (AGU 2012 – CESPE) De acordo com a jurisprudência do STJ, o instituto da suspensão condicional do
processo corresponde a um poder-dever do MP, não sendo, pois, direito público subjetivo do acusado. ( )
9) (OAB IX 2012 – FGV) Se, no curso da suspensão condicional do processo, o acusado vier a ser
processado por contravenção penal, o benefício poderá ser revogado pelo juiz. ( )
10) (Juiz Federal TRF2 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo poderá ser revogada se o
acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção penal. ( )
11) (DPE/TO 2013 – CESPE) A suspensão condicional do processo, após o término do período de prova, sem
revogação, enseja a automática decretação da extinção da punibilidade do acusado. ( )
12) (Juiz TJDF 2012) O benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado mesmo após o
período de prova, desde que motivado por fatos ocorridos até o seu término. ( )
13) (MP/RR 2012 – CESPE) Ao juiz impõe-se o dever de revogar o benefício da suspensão condicional do
processo caso o beneficiário seja processado pela prática de outro crime no curso da sobredita medida
processual, considerando, para tanto, o simples oferecimento da peça acusatória como marco para a
revogação obrigatória e irreversível da medida, ainda que o acusado seja absolvido no segundo feito. ( )

Questão discursiva
(Promotor MP/ES – 2005) Disserte sobre a liquidação imprópria.

Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. E 7. E 8. C 9. C 10. C
11. E 12. C 13. E (vide STJ HC 162.618/SP)
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